Arte e geografia: uma experiência com o conceito de paisagem

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Departamento de Geociências
Laboratório de Pesquisas Urbanas e Regionais
Simpósio Nacional sobre Geografia, Percepção e Cognição do Meio Ambiente
HOMENAGEANDO LÍVIA DE OLIVEIRA
|Londrina 2005|
Arte e geografia: uma experiência com o conceito de
paisagem junto à alunos de 6ª série
Jacqueline Myanaki
Doutoranda em Geografia, FFLCH, Universidade de São Paulo.
[email protected]
RESUMO
A prática didática com características interdisciplinares ou multidisciplinares pode proporcionar mais
dinamismo, despertar maior interesse, estímulo e envolvimento dos alunos para a situação de ensinoaprendizagem, resultando em ganho de aprendizado. Com o intuito de atingir esse objetivo, uma proposta
didática alternativa envolvendo Arte e Geografia foi elaborada e testada junto a um grupo de alunos de 6ª
série. Por se tratar de um conceito polissêmico que permite uma abordagem conjunta de várias áreas do
conhecimento, a paisagem foi o tema escolhido para articular conteúdos de Arte e Geografia no estudo de
sua noção a partir de atividades didáticas organizadas num roteiro que envolveu o estudo e a apreciação
de quadros de paisagens de artistas brasileiros combinando com a análise da paisagem geográfica. Uma
das etapas desse roteiro de atividades foi a avaliação diagnóstica do conceito de paisagem trazido pelos
alunos. Esta avaliação é o cerne do trabalho ora apresentado. Trata-se de um excerto da dissertação de
mestrado “A Paisagem no Ensino de Geografia: Uma Estratégia Didática a partir da Arte”. Serão
apresentadas as noções atribuídas à paisagem, elementos gráficos e afetivos que os alunos registraram
durante as atividades do experimento bem como alguns dos resultados obtidos após a aplicação do
mesmo.
INTRODUÇÃO
Este trabalho é um excerto da Dissertação de Mestrado “A Paisagem no Ensino de
Geografia: Uma Estratégia Didática a partir da Arte” que teve como intuito verificar como
a prática didática com características interdisciplinares ou multidisciplinares envolvendo
arte e geografia pode proporcionar mais dinamismo, despertar maior interesse, estímulo
e envolvimento dos alunos para a situação ensino-aprendizagem. Para tanto, elaborou e
testou uma proposta didática alternativa composta de um conjunto de atividades
aplicadas junto a alunos de 6ª série.
O roteiro de atividades foi elaborado a fim de encontrar um caminho comum para
a geografia e a arte no estudo da noção de paisagem geográfica e sua percepção,
constituindo-se num modelo alternativo de ensino aprendizagem praticado nas escolas.
-2-
Neste trabalho será abordada a avaliação diagnóstica do conceito de paisagem
dos alunos envolvidos anterior à experiência proposta. Serão apresentadas as noções
atribuídas à paisagem, alguns elementos gráficos e afetivos registrados pelos alunos
durante uma parcela das atividades do experimento bem como alguns resultados obtidos
após a aplicação do mesmo. Trata-se de uma experiência com a noção de paisagem
geográfica envolvendo 148 alunos, 10 professores com diferentes formações
pertencentes a 7 instituições – escolas públicas, privadas e ONGs.
JUSTIFICATIVA
Apesar de paisagem não ser uma categoria universal do pensamento (CLAVAL,
2000, p. 57, In: ROSENDAHL & CORRÊA, 2001), trata-se de um conceito polissêmico
que permite uma abordagem conjunta de várias áreas do conhecimento incluindo arte e
geografia. No caso da pesquisa que deu origem a este trabalho, a arte limita-se a uma
seleção de quadros de artistas brasileiros, ou seja, uma abordagem da paisagem em
duas dimensões e a geografia propõe uma ampliação dessa abordagem inserindo a
percepção e o estudo da terceira dimensão da paisagem.
Colocar os alunos diante de representações de paisagens de pintores brasileiros é
proporcionar a eles a oportunidade de experimentar o olhar do pintor sobre a
espacialidade de determinado lugar em determinado tempo, no caso, a cidade de São
Paulo foi o lugar escolhido. O confronto entre o olhar do pintor e o olhar do aluno,
amplia as possibilidades de percepção e leitura dessa espacialidade. Dar ao aluno a
oportunidade de desenhar e pintar essa paisagem faz com que ele exercite ao mesmo
tempo seu olhar redutor e seu olhar criativo. Se tomarmos como verdade o fato de que a
expressão através das imagens, apesar de limitada, é menos tomada de estereótipos do
que a linguagem verbal, então, o exercício do desenhar/ pintar e o trabalho de
apreciação de quadros pode ser um excelente caminho para a aprendizagem.
Desta feita, a paisagem representada numa pintura expressa as formas de se
olhar o mundo a partir das condições históricas, culturais, políticas, éticas,
estéticas, técnicas e tecnológicas que o pintor e o público estavam inseridos. Tal
fato, portanto, permite-nos colher noções que, mesmo que a pintura não
expresse a realidade em sua inteireza, auxilia a uma melhor compreensão da
visão que os indivíduos e a sociedade possuíam de sua espacialidade em
determinada época e lugar. (FERRAZ, 2001, p. 154)
A importância do estudo da paisagem, reside no fato de que “se, de um lado, as
formas visíveis da paisagem podem dirigir as transformações sociais ou limitar as
alternativas de organização do território, de outro lado, as modificações da estrutura
social criam sempre novas necessidades, sugerem novas formas e redefinem os valores
da paisagem visível” (LEITE, 1994, p.51). Um processo educativo que deseje transformar
seus educandos em cidadãos conscientes, atuantes, questionadores e agentes da
construção da paisagem, deve empreender esforços na direção do conhecimento e
apreensão da mesma.
Il faut apprendre à chercher les paysages, il faut même apprendre à les dessiner
pour saisir leur architecture, mais aussi comprendre pourquoi tel paysage est
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-3jugé beau et pourquoi il a été choisi par les media, comprendre aussi, devant un
film ou une photo, comment tel cinéaste, tel photographe l’a cadre. Il faut savoirpenser les paysages. Tout cela, c’est aussi raisonner en géographe.
Entre les géographes, les écrivains, les poètes et les peintres, il y a, en vérité, plus
des accointances et c’est pourquoi les géographes ont aussi des choses à dire sur
la peinture, sur le cinema comme sur l’ouvre d’un grand écrivain, surtout s’il
parle des paysages. (LACOSTE, 1987, p.7)1
Considerando as diferenças entre a abordagem da ciência geográfica e o
conteúdo de geografia desenvolvido nas salas de aula do ensino fundamental, a
paisagem pode ser melhor apreendida se sua pesquisa for interdisciplinar, pois “[...] our
response to nature is depleted when it is detached from aesthetic considerations”2
(FULLER, 1988, p. 13). Para isso é necessário esclarecer a polissemia do conceito de
paisagem, no intuito de identificar a diferença da paisagem geográfica da paisagem
como gênero da pintura.
A proposta da pesquisa é intervir na construção da noção de paisagem geográfica
a partir da arte e não pela arte. É uma proposta que envolve conteúdos de arte mas não
os toma como simples ferramenta. São conteúdos desenvolvidos conjuntamente com os
conteúdos de geografia visando o estímulo da percepção da paisagem e a ampliação do
conhecimento e o esclarecimento sobre a polissemia do conceito de paisagem.
ETAPA EXPERIMENTAL DA PESQUISA
Para a aplicação prática foi elaborado um roteiro de atividades que alterna
momentos de composição e apreciação em arte com momentos de observação e análise
da paisagem representada, percebida e vivida. Para o desenvolvimento das atividades
foram selecionados três quadros de dois pintores brasileiros de formação e épocas
diferentes: Antônio Gomide (1895-1967) – pintor paulista, estudioso de técnicas,
materiais e gêneros – e Agostinho Batista de Freitas (1927-1997) – pintor paulista,
autodidata, mestre popular, naïf.
1
“È necessário aprender a pesquisar as paisagens, é preciso aprender a desenhá-las para entender sua
arquitetura, mas também compreender porque tal paisagem é considerada bonita e porque foi escolhida
pela mídia, compreender ainda, à frente de um filme ou uma fotografia, como tal cineasta, tal fotógrafo a
enquadrou. É necessário saber pensar as paisagens. Tudo isso, é também a argumentação de um
geógrafo.
Entre os geógrafos, os escritores, os poetas e os pintores, há, na verdade, muita familiaridade e é por isso
que os geógrafos também tem o que dizer sobre a pintura, sobre o cinema como sobre a obra de um
grande escritor, sobretudo se ele fala de paisagens.” (tradução nossa)
2
“...nossa resposta à natureza é vazia quando está separada das considerações estéticas.” (tradução nossa)
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Figura 1 – Aspectos de São Paulo, 1942 – Antônio Gomide – Aquarela
sobre Papel – s/ inf.
Fonte: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso: 02 nov 2001, 15h09
Figura 2 – Paisagem com Animais, s.d. – Antônio
Gomide – Óleo sobre Tela, s/ ass. – 45,0 x 30,5 cm
Fonte: Catálogo de Exposição: Antônio Gomide –
Quatro Décadas de Modernidade
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Figura 3 – Teatro Municipal, 1985 – Agostinho Batista de Freitas –
Óleo sobre Tela – 80 x 140 cm
Fonte: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso em: 13 abr. 2002, 16h18
As figuras 1 e 3 foram selecionadas para serem a base do estudo de paisagem
urbana, pois representam a cidade de São Paulo em datas diferentes e permitem uma
comparação das transformações da paisagem da cidade, mudanças na forma, na
estrutura e na função. A figura 2 foi inserida no conjunto de atividades a partir da
necessidade dos alunos na investigação sobre a função dos elementos da paisagem e da
caracterização da paisagem rural em contraponto com a paisagem urbana.
O quadro 1 a seguir mostra uma síntese das atividades que constituem o roteiro
final, adaptado durante a primeira etapa de experimentos em sala de aula.
Os experimentos em sala de aula foram divididos em duas etapas. Na primeira
etapa, a aplicação das atividades didáticas foi realizada pessoalmente por esta
pesquisadora em três escolas: escola 1 (6ª série noturno, turma de suplência, escola
municipal), escola 2 (6ª série, escola particular) e escola 3 (6ª série, escola municipal).
Na segunda etapa, o roteiro de atividades foi minuciosamente apresentado e explicado a
um grupo de 38 professores durante uma Oficina. Dentre esses professores, um grupo de
sete, pertencentes a cinco instituições (escola 4, 5 e 6 –sendo todas escolas públicas - e
ONG 1 e 2) desenvolveu o roteiro de atividades proposto.
Este trabalho está baseado principalmente nos resultados da atividade B “Diagnóstico de paisagem e seus elementos” e na atividade I - “avaliação final”. Além
da tabulação dos resultados dessas atividades, este trabalho apresentará algumas
reproduções dos alunos realizadas em outros momentos do experimento que ilustram as
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noções de paisagem, relações afetivas e mudanças no olhar e enquadramento da
paisagem.
Atividades
A – Desenhando e pintando a vista
da janela
B – Diagnóstico de paisagem e seus
elementos
C – O que é paisagem?
Procedimentos
Desenho de observação da vista da janela.
Alunos respondem individualmente a 5 questões sobre paisagem.
Discussão dirigida e apresentação de três reproduções de paisagens,
duas urbanas e uma rural.
Confecção de overlays sobre quadros 2 e 3.
D – Paisagem e uso do solo: leitura
gráfica
E – Paisagem e uso do solo: urbano
Discussão dirigida e interpretação dos overlays, com ênfase na
e rural
diferença entre rural e urbano.
F – Por que a paisagem muda?
Exercícios escritos em grupos com observação dos quadros 1 e 2.
G – Novo olhar sobre o desenho e
Exposição sobre gêneros na pintura e procedimentos para o desenho
a pintura
de paisagem.
H – Novo olhar sobre a paisagem
Desenho de observação sobre a paisagem da janela.
I – Avaliação Final
Alunos avaliam individualmente, por escrito, o conjunto de atividades.
Quadro 1– Síntese das Atividades do Roteiro Final
A atividade B constava das seguintes questões escritas: 1) Você acha que o que
você viu e pintou é uma paisagem? Por que? (refere-se à atividade A realizada
anteriormente); 2) O que é uma paisagem para você?; 3) Descreva o que você viu pela
janela, fazendo uma lista com tudo que se lembrar; 4) Que tipo de sentimento ou
sensação você tem em relação ao que se vê da janela?; 5) Você acha que aquilo que
você viu e pintou tem alguma coisa a ver com você? Por que?; 6) Se você fosse um
grande desenhista e pintor o que você faria de diferente no seu desenho?
A pergunta 1 foi realizada com o intuito de avaliar se os alunos entendiam que a
vista da janela da escola e o desenho realizado por eles é uma paisagem e o que os faz
pensar assim, já orientando-os para a resposta da questão 2, que também é uma forma
de avaliação. Já era previsto, pela experiência acumulada em sala de aula e pela
pesquisa em bibliografia consultada3, que possivelmente uma parcela dos alunos viesse
com o conceito equivocado de que paisagem tem que ter elementos naturais ou “que
tenha natureza ao redor”4 (Karina, 25 anos, 6ª A da escola 1) e “para formar uma
paisagem tem que ter muitas coisas bonitas” (Jhonatan, 12 anos, 6ª série da escola 3),
daí o intuito dessas questões.
3
Principalmente CARDOSO, 1999 e CAVALCANTI, 1996.
Todas as frases de alunos e professores citadas nessa dissertação foram transcritas como estão nos
documentos originais, preservando-se as construções e pontuações dos autores.
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A descrição dos elementos da paisagem na questão 3 objetivou subsidiar a etapa
seguinte das atividades, quando os alunos deveriam refletir sobre as funções das
paisagens a partir de seus componentes.
A quarta questão buscou mapear sentimentos relativos à paisagem da janela para
avaliar posteriormente, em comparação com o exercício final, se é possível modificá-los a
partir do trabalho realizado em sala de aula e também tinha o intuito de investigar, ainda
que superficialmente, aspectos relacionados à topofilia – “elo afetivo entre a pessoa e o
lugar ou ambiente físico” (TUAN, 1974, p 5)
As imagens da topofilia são derivadas da realidade circundante. As pessoas
atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram respeito ou
lhes prometem sustento e satisfação no contexto das finalidades de suas vidas.
As imagens mudam à medida que as pessoas adquirem novos interesses e
poder, mas continuam a surgir do meio ambiente: as facetas do meio ambiente,
previamente negligenciadas são vistas agora com toda claridade. (TUAN, 1974,
p. 137)
Apesar de Tuan referir-se ao conceito de meio ambiente e não de paisagem, o
que pretende-se destacar é a mudança na percepção conforme as mudanças nos valores.
Esse processo que interfere nos valores, nas atitudes, nos sentimentos em relação ao meio
ambiente também pode ser transferido para a paisagem e é parte do que se buscou
atingir com o conjunto de atividades propostas, por isso foi feita uma avaliação inicial na
atividade B e a questão foi repetida no final dos trabalhos.
A questão 5 foi dirigida com o mesmo objetivo anterior, a fim de compreender se
havia um sentimento de pertencimento entre os alunos e a paisagem e qual o
entendimento que eles têm de que são agentes e não só observadores dessa paisagem.
A última questão pretendeu avaliar como os alunos entendiam a expressão através
do desenho e da pintura. Se havia a preocupação com a realização de um desenho que
fosse cópia do real e o quanto esse desejo e a visão idealizada do desenho e da pintura
perfeitos interferiu na expressão desses jovens. Pretendeu avaliar também quanto à
dificuldade ou o não domínio de técnicas de desenho limitou a expressão dos alunos
segundo a avaliação dos mesmos.
A outra atividade em que se baseia este trabalho é a atividade I “Avaliação Final”.
Essa avaliação final continha as seguintes questões: 1) O que você achou mais cansativo
durante essas atividades?; 2) O que você achou mais interessante durante essas
atividades?; 3) O que é paisagem pra você?; 4) O que você acha da paisagem que se vê
da janela?; 5) O que você aprendeu com essas atividades?
Para este trabalho, interessa-nos, principalmente, o conjunto de respostas obtidas
para as questões 3, 4 e 5. O intuito de perguntar novamente o que é paisagem foi
verificar se as atividades influenciaram de alguma forma a expressão escrita e a
compreensão da noção de paisagem.
A quarta questão foi uma retomada da topofilia e na comparação com a atividade
B, buscou verificar se alguma mudança ocorreu, mesmo num curto intervalo de tempo e
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reduzida vivência. E a pergunta final, número 5, foi acrescida a fim de identificar como os
alunos apreenderam os objetivos do conjunto de atividades.
A PAISAGEM: EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE 6ª SÉRIE
A avaliação do conceito de paisagem que os alunos já tinham antes de iniciar as
atividades propostas (Gráfico 1), demonstrou que, no total geral, a maioria, ou seja, 66%
entendiam paisagem como um conceito ligado à arte, à beleza e à natureza. Os
conceitos desses alunos estavam ligados à idéia de que paisagem “é um desenho em
forma de arte” (William, 13 anos, escola 3), paisagem “é um lugar bonito cheio de
arvore muito legal” (Fátima, 16 anos, escola 1) ou ainda a idéia de que paisagem é
“tudo que está ligado a natureza” (Wagner, 20 anos, ONG 2) ou “é a natureza” (William
Aparecido, 19 anos, ONG 2).
conceitos
variados
15%
Paisagem
é beleza
e
natureza
66%
Paisagem
é tudo
19%
Gráfico 1 – Conceito de Paisagem Anterior às Atividades
A idéia de paisagem relacionada à natureza ou como sinônimo de natureza é
constante e repete-se quando os alunos são questionados sobre a paisagem que
observaram e desenharam. Os alunos afirmam terem observado uma paisagem “porque
tem árvore” (Angela, 15 anos, escola 3) ou afirmam não terem observado uma paisagem
“porque paisagem para mim é a natureza por exemplo, montanhas, lagos e o céu azul e
limpo, e aqui a zona urbana é só poluição e casas e edificios então isso para mim não é
uma paisagem” (Diego, 15 anos, escola 2).
Outros 19% dos alunos afirmam que paisagem é “tudo que a gente vê” (Josimar,
14 anos, escola 5). O conceito de paisagem desses alunos aproxima-se bastante da
definição presente nos dicionários: “extensão de território que se abrange num lance de
vista; panorama, vista.”5 Alguns acrescentam ao conceito o ponto de vista do qual
observam: “Uma paisagem e um lugar muito grande com que eu só possa ver de um
lugar alto” (Cléber, 17 anos, escola 1).
5
Grande Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999.
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Os 15% restante dos alunos, apresentam conceitos variados relacionados à
paisagem como cenário, com relação a movimento, “Paisagem para mim é movimentos,
etc...” (Joseane, 16 anos, escola 1), “é algo que nós vemos que não se meche e quando
nós queremos vê nós vemos” (Maitê, 11 anos, escola 6) ou então o aluno simplesmente
apresentou uma lista de elementos como definição de paisagem: “aonde tem casas,
arvore, etc” (Railton, 15 anos, escola 5).
Dentre esses 15%, alguns alunos ainda apresentaram uma aproximação do
conceito à geografia, inserindo referências ao lugar, ao espaço, à região e à ação do
homem: “Conjunto de característica natural artificial que compõe determinado local”
(William Araújo, 18 anos, ONG 1), “Para mim uma paisagem é um retrato, uma image
que você faz por ver uma região ou um lugar.” (Kevin, 12 anos, escola 2).
Esses dados demonstraram que há uma tendência à homogeneidade quanto à
concepção de paisagem no grupo pesquisado. Apesar do grupo total de indivíduos ser
heterogêneo no que se refere à faixa etária, serem de municípios distintos e origens
diversas, não houve diferença significativa de respostas para o conceito de paisagem
entre os diferentes grupos, pois o mesmo padrão de respostas foi encontrado nas diversas
instituições.
Nota-se que, para esses alunos, paisagem é um conceito com sentido estético,
mais relacionado à arte, ao gênero da pintura do que à geografia. É raro identificar
alunos se referindo à paisagem geográfica. Como eles não conhecem a distinção
polissêmica do termo, o que se verifica é uma associação de paisagem e natureza, que
demonstra não só a fragilidade do conceito de paisagem desses alunos, mas também a
fragilidade (ou total desconhecimento) do conceito de natureza e da diferença entre estes.
É comum a utilização de termos vagos, como tudo, uma coisa, um lugar, para
definir paisagem. É comum também a colocação de conceitos equivocados como “um
lugar que o homem não tocou, onde não tem nada feito pelo homem” (Guilherme, 11
anos, escola 6), qualificações sem sentido como “paisagem modificada” ou ainda a visão
idealizada de paisagem, “a paisagem pra mim e uma visão de uma floresta, ou o rio no
meio dela com uma casa ou sem casa tanto faz” (Reginaldo, 19 anos, ONG 2).
A partir desse diagnóstico instalou-se um desafio que não pôde ser concluído
completamente com o conjunto das atividades desenvolvidas. Diante de um quadro tão
sedimentado de conceitos desordenados e equivocados, paralelamente à ação para
construção da noção de paisagem geográfica e ampliação da percepção sobre a mesma
a partir da arte, ampliou-se a necessidade de desconstruir e organizar idéias préconcebidas dos alunos que estabelece quais são, a organização e a disposição dos
elementos da paisagem.
Os mesmos dados ainda reforçam a idéia de que o conceito de paisagem
geográfica não foi trabalhado corretamente com esses alunos ou então sequer foi
mencionado anteriormente, uma vez que a maioria dos alunos pertencia à 6ª série ou
séries mais adiantadas (no caso das ONGs havia alunos de 7ª e 8ª séries nos grupos),
num momento em que o conceito já deveria ter sido introduzido.
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Apesar dos equívocos ou da desorganização nos conceitos de paisagem somente
9% dos alunos afirmaram não ter observado uma paisagem durante a atividade de
observação e desenho da vista da janela da escola. A justificativa dada por esses alunos
é quase sempre a de que não viram elementos da natureza e sim poluição e prédios.
A maior incidência dentre esses 9% concentrou-se nas escolas 1, 2 e 3 da primeira
etapa dos experimentos, quando houve uma preocupação em não utilizar a palavra
paisagem durante a realização das atividades iniciais de observação e desenho. As
respostas de alguns alunos revelam que alguns professores que desenvolveram as
atividades na etapa 2 não tiveram o cuidado de omitir a palavra paisagem, embora
tivessem recebido essa recomendação durante a Oficina onde foram orientados sobre a
aplicação das atividades.
Foi possível identificar ainda, que na escola 6, as atividades não foram
desenvolvidas na seqüência proposta. A atividade onde os alunos responderam à
pergunta sobre a paisagem observada foi realizada após a apresentação dos quadros de
paisagem, o que provavelmente interferiu na avaliação dos alunos sobre a paisagem
observada.
A mesma natureza que estes 9% não identificaram na paisagem observada serviu
para justificar a resposta de uma parcela dos outros 91% de alunos: é paisagem “por que
é uma árvore que é linda” (Fabiana, 12 anos, escola 3), “porque tem muitas árvores”
(Camila, 12 anos, escola 6), “sim Tenho a serteza que eu estava desenhando uma
Paisagem atras da casa que eu desenhei tinha uma paisagem éra uma mata” (Anderson,
16 anos, ONG 2). Para esses 91% uma única árvore ou uma porção de arbustos num
plano mais afastado por trás de algumas casas já conferia um caráter de paisagem à
vista observada.
A avaliação dos sentimentos e sensações associadas à paisagem observada
revelou que em torno de 27% dos alunos alimenta um sentimento negativo ou indiferença
em relação à paisagem observada e praticamente o mesmo índice, 28%, não se
identificam com a paisagem observada e pintada. A justificativa freqüente é a de que não
gostam da paisagem pois ela está poluída ou há marcas de pobreza. A distribuição
desses valores também foi regular entre as diferentes instituições.
Entretanto, a grande maioria dos alunos mantém uma relação de afetividade com
a paisagem e se identifica com ela mesmo passando dificuldades no cotidiano,
provavelmente porque não associam à paisagem os problemas sociais e as dificuldades
da qualidade de vida. Isso pode ser um indício de que o conceito de paisagem é ideal e
não cultural.
Com relação a esses índices é interessante destacar que, no caso da escola 3, os
alunos realizaram a atividade inicial de observação e desenho da vista da janela
observando uma paisagem repleta de residências edificadas em regime de
autoconstrução, trechos de favela e casas mal acabadas e construídas em grande declive
(fotos 1, 2 e 3). O trabalho de observação e desenho foi realizado numa área coberta,
porém aberta, com vistas para a rua em três ângulos diferentes, pois a sala de aula não
tinha janela com vistas para a rua.
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Fotos 1, 2 e 3 – As três possibilidades de vista dos alunos da escola 3
Apesar da paisagem vista pelos alunos da escola 3, do ponto de vista sócioeconômico, não ser um exemplo de qualidade de vida, os alunos apontaram a presença
dos amigos, das árvores e da vida como aspectos que os relacionavam àquela paisagem,
além de mais de 80% dos alunos dessa escola terem manifestado sentimentos de
felicidade e alegria quando questionados sobre sua relação com aquela paisagem.
A mesma relação de pertencimento aparece nos desenhos, pois muitos alunos
inseriram nas representações o lugar onde estavam, incluindo-se nos desenhos, como na
figura 1, do aluno da escola 1 que incluiu a passarela no desenho, sendo que a
passarela foi o lugar de onde todos os alunos avistaram a paisagem desenhada.
Figura 4 – Desenho da Aluna Vanessa, 20 anos, Escola 1
O inventário dos elementos da paisagem observada revelou que a maior parte dos
alunos não está preparada para observar a paisagem além da sua aparência mais
externa. Os elementos mais citados são as construções, edificações, árvores e veículos.
Em seguida vêm as pessoas, os postes, orelhões e as vias de circulação. Raríssimas vezes
houve referências ao relevo, ao solo, aos elementos do clima, aos sons, ao céu ou aos
problemas sociais e às relações que se estabelecem na paisagem.
A presença do morro foi citada unicamente pelos alunos da escola 6, uma escola
de São Vicente/SP, cuja presença da Serra do Mar é bastante significativa (figura 5). No
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caso dos alunos da escola 3, a inclinação do relevo da área onde está a escola e na
paisagem observada pelos alunos, também era bastante significativo, mas não chamou a
atenção de nenhum aluno, ao contrário de uma árvore mal tratada com galhos secos e
poucas folhas localizada em primeiro plano de uma das vistas (foto 4), que foi o
elemento principal de alguns desenhos (figura 6).
Figura 5 – Desenho da Aluna Jéssica. 11 anos da Escola 6
Figura 6 – Desenho de Jhonatan, 12 anos
da Escola 3
Foto 4 – Árvore desenhada por Jhonatan
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A dificuldade em identificar os elementos da paisagem, além da aparência mais
exterior, vai ao extremo de alguns alunos apontarem a presença de rio onde havia um
lago, outro aluno identificou um sítio onde era um parque. Isso denota a fragilidade do
repertório desses alunos no conteúdo básico da geografia e também a superficialidade
do olhar dos mesmos.
As questões da Atividade B permitiram avaliar também que uma parcela dos
alunos não entende o desenho e a pintura como expressão, mas sim como ferramenta
para reprodução da realidade. Como nem sempre possuem o domínio da técnica do
desenho, demonstram insatisfação com o resultado. Essa insatisfação com o próprio
desenho é freqüente e a palavra “tudo” aparece em torno de 17 vezes nas respostas dos
alunos para representar o que eles mudariam em seus desenhos. Alguns afirmam que
desenhariam uma paisagem ideal, com cachoeiras, rios, floresta, ainda que esses
elementos não fizessem parte da paisagem observada. Outros alunos reafirmaram o
desejo de imitar a paisagem observada nos detalhes. Pouquíssimos alunos demonstraram
satisfação com o próprio desenho.
Dos oito grupos de alunos (parte 1 e 2 dos experimentos) somente o grupo de
alunos da escola 2 (uma escola particular) demonstraram maior preparo e melhor
argumentação. Os alunos dessa escola apresentaram maior intimidade com a linguagem
dos quadros, já conheciam técnicas de perspectiva e também evidenciaram ter estudado
o tema da paisagem anteriormente. Entretanto, o desempenho deles não se distanciou
dos alunos das outras escolas, pois não se lembraram de usar a perspectiva na hora de
desenhar e suas respostas escritas foram muito semelhantes às dos outros grupos.
No que diz respeito à faixa etária, os grupos de alunos mais velhos, das ONGs 1
e 2 se destacaram dos demais somente no maior número de referências a problemas
sociais nas suas respostas, em diferentes momentos, embora não tenha sido um número
grande. Quanto aos adultos da escola 1, por se tratar de um grupo de alunos de ensino
supletivo, eles apresentaram muita dificuldade na expressão escrita, mas um enorme
empenho e dedicação apesar de se equipararem aos outros no resultado geral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando-se que a maior parte das atividades propostas aos alunos,
solicitaram desses, muito mais reflexões superficiais e estímulos sensoriais do que
acúmulo de informações objetivas, então é compreensível que, ao final de uma breve
experiência realizada num curto período de tempo, os alunos apresentem dificuldade em
articular coerentemente na linguagem escrita esse conjunto de experiências. Nas palavras
de Tuan, “[...] é difícil articular boa parte da experiência humana, e estamos longe de
encontrar artefatos que meçam satisfatoriamente a qualidade de um sentimento ou a
resposta estética.” (1977, p. 222)
Essa mesma dificuldade apresentou-se no momento de tabular os resultados das
atividades. A forma de avaliação contínua e mais sustentada na observação, não permite
a precisão dos números. Por outro lado, a avaliação escrita realizada pelos alunos
também não garante a precisão dos resultados, uma vez que pudemos detectar falhas
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evidentes na comunicação escrita e na interpretação dos alunos quanto ao que foi
solicitado.
Dessa forma, a avaliação dos resultados da experiência apresenta-se
freqüentemente mesclado das observações realizadas durante os experimentos, uma vez
que toda a avaliação escrita foi realizada na forma de questões abertas.
Ao final das atividades, em torno de 61% dos alunos afirmaram categoricamente
que não mudaram de opinião quanto ao conceito de paisagem. Eles afirmam que
continuam acreditando no mesmo conceito do início das atividades e alguns repetem as
mesmas palavras do conceito dado anteriormente.
Os outros 39%, em parte, não afirmam nada, apenas dão um conceito vago
(algumas vezes repetição do anterior) ou, afirmam que a opinião mudou e apontam o
novo aspecto do conceito que apreenderam.
Ao mesmo tempo em que é possível identificar que alguns alunos conseguiram
delimitar melhor o conceito e ultrapassar a idéia de beleza e obrigatoriedade da presença
de elementos naturais como condições para se ter uma paisagem, alguns incorporaram a
idéia vaga de que paisagem é tudo. Eles passaram do conceito restritivo para um
conceito completamente aberto: “Tudo o que vemos. Sim, pois eu pensava que paisagem
era só florestas tipo uma paisagem natural.” (Tatiane, 18 anos, ONG 2); “Paisagem é
tudo. Mudou, antes eu achava que paisagem eram só aquilo que era bonito.” (Patrícia,
12 anos, escola 2); “Eu acho que uma visão que nos temos de um lugar. minha opinião
mudou, porque eu achava que era tudo.” (Isabela, 12 anos, escola 2).
Por outro lado, apesar de uma parcela menor admitir uma mudança no conceito
de paisagem, 98% dos alunos afirmam ter aprendido “coisas” com as atividades. Desses,
40% relacionam o aprendizado à noção e ao sentido de paisagem, outros se referem às
questões relacionadas à natureza, à capacidade de observação e olhar, à capacidade de
expressão e o relacionamento com os colegas, à pintura, à arte, sobre as transformações
na cidade de São Paulo, ou ainda respostas vagas como “muitas coisas” e “de tudo um
pouco”.
Foi possível avaliar positivamente a articulação entre arte e geografia no intuito de
modificar a percepção sobre a paisagem, o resultado apurado junto aos alunos
identificou uma maioria de respostas e atitudes positivas em relação à percepção da
paisagem, como no comentário de Fátima (16 anos, escola 1): “...quanto mais a gente
olha para a paisagem mais fica bonita”.
O ato de olhar para a paisagem é sempre uma forma de enquadramento. É
impossível capturar a paisagem sem selecionar através do olhar um recorte, um conjunto
de elementos. Portanto, olhar várias vezes e cada vez com intenções diferentes, soma na
percepção dessa paisagem. Daí crer na necessidade de fazer esse exercício do olhar
muitas vezes, pois a cada vez há um acréscimo na construção do conceito.
Apesar de nem sempre saber identificar com precisão o que aprenderam ou o que
modificou no modo de pensar, a maior parte dos alunos que participaram desses
experimentos acredita que houve um acréscimo na sua formação, que aprenderam
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“coisas” sobre a paisagem e o que é melhor, todas as respostas vem associadas a
observações positivas como: “foi bom”, “importante”, “muito interessante” e ”legal”.
Esses comentários associados à observação do comportamento e demonstração
de interesse dos alunos durante as atividades, permitem concluir que houve uma
interferência no processo cognitivo desses alunos e também no que se refere à
percepção. No que diz respeito à geografia, as diferenças entre rural e urbano foram
amplamente apontadas nas respostas dos alunos como sendo um aprendizado realizado.
Também no que se refere à questão da beleza e da natureza como elementos necessários
à paisagem, muitos alunos compreenderam e fixaram um novo conceito de paisagem
geográfica que exclui a necessidade desses itens.
Pode-se considerar que a utilização de imagens e do desenho na percepção da
paisagem geográfica, no mínimo, habilita e/ou treina para a leitura de imagens mais
elaboradas no estudo posterior da geografia, como as cartas, mapas, perfis, croquis,
plantas baixas em escalas diversas e etc.
A repetição do desenho da paisagem ao final das atividades demonstrou que a
generalização, ou seja, o caráter estrutural da paisagem que é percebido inicialmente,
adquire uma sofisticação, mais detalhes vão sendo incorporados à representação plástica
mesmo sem um avanço considerável na qualidade técnica do desenho (figuras 7 e 8).
Pode-se supor que essa mesma incrementação da percepção dos detalhes ocorre no nível
cognitivo e com maiores detalhamentos ainda, uma vez que a evolução da habilidade
plástica na expressão tem um ritmo mais lento.
Figuras 7 e 8 – Desenhos 1 e 2 do aluno Cláudio, 37 anos da Escola 1
O trabalho pedagógico com reproduções de quadros de pintores brasileiros é
uma forma de divulgar a produção plástica brasileira, mas também uma forma de
contribuir na desaceleração do olhar e da percepção para a arte (nesse trabalho restrita à
pintura) promovendo uma relação estética entre o indivíduo e a paisagem do entorno,
nesse caso a paisagem urbana.
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Trabalhar com a paisagem geográfica a partir da arte é uma forma de desvendar
a dinâmica de formação e transformação dessa paisagem e também construir um novo
olhar e percepção sobre a paisagem, a fim de que o indivíduo se torne sensível à mesma.
Para Tuan (1977), conhecer e experienciar, pode ocorrer de diversas formas: de
forma direta, íntima, de forma indireta e ainda de forma conceitual. A vivência direta,
íntima e indireta com o objeto ou lugar proporciona uma situação de aprendizagem tanto
quanto a experiência conceitual mediada por símbolos.
Um objeto ou lugar atinge realidade concreta quando nossa experiência com ele
é total, isto é, através de todos os sentidos, como também com a mente ativa e
reflexiva. Quando residimos por muito tempo em determinado lugar, podemos
conhecê-lo intimamente, porém, a sua imagem pode não ser nítida, a menos
que possamos também vê-lo de fora e pensemos em nossa experiência. A outro
lugar pode faltar o peso da realidade porque o conhecemos apenas de fora –
através dos olhos de turistas e de leitura de um guia turístico. É uma
característica da espécie humana, produtora de símbolos, que seus membros
possam apegar-se apaixonadamente a lugares de grande tamanho, como a
nação-estado, dos quais eles só podem ter uma experiência direta limitada.
(TUAN, 1977, p. 20)
Quanto maior for a capacidade de extrair essas informações tanto maior o
repertório e portanto amplia-se também a potencialidade de capacidade de relacionar e
pensar criticamente sobre a paisagem. Segundo FORGUS (1966, p. 3), “[...] à medida
que o conjunto perceptivo vai sendo ampliado, tornando-se mais complexo e rico de
padrões, através da experiência, mais capaz se torna o indivíduo de extrair informação do
ambiente.” Se entendermos o ambiente como o conjunto de informações potencialmente
disponíveis, incluindo-se aí a paisagem geográfica e as paisagens representadas só resta
oferecermos aos alunos instrumentos que os auxiliem a extrair essas informações e
ampliar suas percepções sobre as paisagens.
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Implicações para o Ensino de Geografia. Dissertação (Mestrado) – Departamento de
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FORGUS, Ronald H. Percepção: O Processo Básico do Desenvolvimento Cognitivo.
Tradução de Nilce P. Mejias. São Paulo: Editora Herder/Editora Universidade de
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FULLER, Peter. The Geography of Mother Nature. In: The Iconography of Landscape.
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LACOSTE, Yves. Paysages en Action. Hérodote: Revue de Géographie et de Géopolitique,
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LEITE, Maria Ângela Faggin Pereira. Destruição ou Desconstrução? Questões da
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ROSENDAHL, Zeny & CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Matrizes da Geografia Cultural.
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Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel/Difusão Editorial S. A., 1980. (Título
original: Topophilia: A Study of Environmental Perception, Attitudes, and Values, by
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TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: A Perspectiva da Experiência. Tradução de Lívia de
Oliveira. São Paulo: DIFEL Difusão Editorial S. A., 1983. (Título original: Space and
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