DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ÍNDICE Editorial Pág. 3 Conselho de Fonoaudiologia Pág. 4 Fonoaudiologia UFRGS Pág. 5 Fadem Pág. 6 Crefito 5 Pág. 7 Kinder Pág. 8 Cuidado o Coração Pág. 9 IPA Pág. 10 Células-tronco contra doenças neurológicas Pág. 11 Educação x necessidades especiais Pág. 12 Arte e educação especial Pág. 13 Longevidade Pág. 14 Nutrição no CEREPAL Pág. 15 Relato de Denise Cezimbra Pág. 16 ANO 6 - SETEMBRO - 2010 Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência (PCD) Dilceu Junior* Dias 11 e, 12 de agosto no Centro de Eventos Casa do Gaúcho, o Conselho Municipal das Pessoas Com Deficiência de Porto Alegre, promoveu a 3ª Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas Com Deficiência. Segundo Dilceu Jr. Presidente do COMDEPA estiveram reunidas, 260 pessoas que interagiram com o tema: Inclusão Com Qualidade de Vida. Os conferencistas discutiram a Capacitação dos Profissionais das diversas áreas da saúde para atender com qualidade as pessoas com deficiência para tanto, sugeriram que o COMDEPA interaja com as universidades para incluir na grade curricular dos cursos técnicos, profissionalizantes assim como, de graduação e, pós-graduação disciplina que atenda esta proposta. Dilceu Jr enfatizou que os conferencistas questionaram o gestor público municipal em razão da não implantação da Portaria 154/2008 uma Equipe Interprofissional nas comunidades, que atuariam na prevenção de eventuais patologias. Foi discutida a proposta de implantação de um Centro de Reabilitação que atenda situações de média e alta complexidade que poderia ser instalado PASC (Cruzeiro do Sul), no Postão do IAPI ou, no Centro de Reabilitação localizado à Av. Bento Gonçalves 827. A conferência foi transmitida em tempo real pela Internet, por intermédio da PROCEMPA. Pessoas com deficiência visual receberam materiais especiais facilitadores da leitura, em corpo 48 e em braile. Para os surdos, houve tradução simultânea em Libras, a Língua Brasileira de Sinais. A 3ª Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Porto Alegre recebeu a inscrição de 260 pessoas pela Internet e um total de 339, somados os inscritos no local. O evento foi uma realização do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Porto Alegre (Comdepa) e da Prefeitura, por meio da Secretaria Especial de Acessibilidade e Inclusão Social (Seacis).” *Presidente do COMDEPA Aos amigos cúmplices da utopia, Homero Negrello, Rejane Guariglia, Sergio Bicca e Karim Aquere Jr. um forte abraço. A gente se vê! [email protected] Página 2 www.aappad.com.br [email protected] Rua do Comércio,567-Bairro Estação-Portão-RS-Cep: 93180-000 Telefone: (51) 3562.2012 Qualidade de vida para os portadores de Ataxia A AAPPAD tem como missão auxiliar portadores de todos os tipos de ataxias e está sempre um busca de uma melhor qualidade de vida para os portadores, bem como de seus cuidadores e familiares. Assim, buscou orientações com a Terapeuta Ocupacional do Hospital de Clinicas de Porto Alegre, Renata da Silva, a respeito de como devemos proceder na rotina do dia a dia dos portadores. O caminhar atáxico: O paciente não consegue seguir uma trajetória em linha reta “Ataxia é uma doença, até então incurável, que pode ser herdada ou adquirida. Lesões no cerebelo ou em suas conexões levam a uma condição chamada “Ataxia”, que causa um conjunto de desordens neurológicas, degenerativas e progressivas. Estas doenças afetam a coordenação motora, o equilíbrio, a fala e, em alguns casos, a visão, a audição e o funcionamento cardíaco”. Manual da rotina diária para pacientes com Ataxia Alimentação • Procure comer devagar, sem conversar; • Se necessário, utilize prato fundo ou com borda adaptada para facilitar a colocação do alimento no talher; • Uso de colher pode facilitar pegar a comida do prato; • Evite copo plástico e não coloque muito líquido dentro; Tente segurar o copo ou xícara com as duas mãos; • Se necessário, corte a carne antes de servir o restante do prato; • Corte pedaços pequenos; • Use tecido antiderrapante embaixo do prato; • Para servir líquido procure apoiar a garrafa na borda do copo ou xícara. Vestuário • Procure vestir-se sentado; • Coloque um banquinho para apoiar os pés e colocar os sapatos e meias; • Organize seu guarda roupa para que as roupas que mais utilize fiquem no seu alcance. Higiene • Barras de apoio no seu banheiro evitam quedas; você pode colocá-las próximo ao vaso e ao box; • Tenha no box um banco ou cadeira para, se necessário, sentar durante o banho; • Deixe sabonete, shampoo, etc... ao seu alcance e evite colocá-los no alto; • Para facilitar o banho, você pode utilizar sabonete líquido ou fazer um furo em uma esponja e deixar o sabonete dentro. Lembre-se: Na sua rotina diária evite cansar, descanse sempre que sentir necessidade; Organize sua rotina para não realizar muitas atividades no mesmo dia; Seja prudente. Quando não tiver segurança, deixe para realizar atividades depois, ou peça ajuda; o importante é não correr riscos. Renata Cristina Rocha da Silva Terapeuta ocupacional CREFITO – 5018 Saiba mais sobre ataxia: www.aappad.com.br - [email protected] PORTO ALEGRE - SETEMBRO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 2 EDITORIAL Porto Alegre, não possui de um Centro de Referência em Reabilitação / Habilitação, que interaja com situações de Alta e, Média Complexidade. As pessoas com deficiência assim como, operários e, vitimas da violência urbana não dispõem de um serviço público que as atenda em conformidade com a Portaria 818/2001 do Ministério da Saúde. De sublinhar, que esta Portaria prevê ações em Alta Complexidade e, pressupõe um Centro de Referência em Reabilitação adequado para esta finalidade, intrinsecamente ligado a Universidades. Interessante que pontuemos, que existem duas universidades federais em Porto Alegre e, dispõem de cursos que formam profissionais tipo: fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, pedagogas, fonoaudiólogas, educador físico, assistente sociais enfim, a equipe interdisciplinar que deve atender o reabilitando. Em 2005, a Procuradoria Geral do Trabalho publicou anúncio institucional referindo que no Brasil, anualmente, morrem 3.000 operários e, 15.000 ficam incapacitados para atividades laborais concomitante, o IBGE na Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar preconiza que no Brasil, coexistimos com 14,5% da população, ou seja, pouco mais de vinte e cinco milhões de pessoas com deficiência. Em Porto Alegre somamos cento e noventa e oito mil pessoas. Interessante que questionemos; quais os serviços públicos ou, conveniados que as pessoas com deficiência assim como, os operários vitimas de acidentes de trabalho podem interagir na busca de sua reabilitação ou, nova habilitação? Onde estão localizados? Estes serviços desenvolvem procedimentos previstos na Portaria 818/ 2001 ou, nas Portarias 303 ou 304 todas do Ministério da Saúde ? Importante que questionemos a não implementação da Portaria 154/2005 do Ministério da Saúde que coloca nas comunidades uma Equipe Interprofissional cujo objetivo é interagir com a prevenção de eventuais patologias. O gestor público municipal omite-se ante, há um grave problema social. Os pacientes em reabilitação são tratados enquanto objetos de clínicas conveniadas cujas práticas estão na rota de colisão com a ciência. Em Porto Alegre dispomos de um espaço físico para instalarmos um Centro de Reabilitação.. Trata-se um próprio federal localizado na Avenida Bento Gonçalves 827- Bairro Stº Antônio – Porto Alegre. . O prédio dispõe de uma área construída de 8.000 metros quadrados. Sua arquitetura dialoga com acessibilidade. Atualmente, no primeiro andar funcionam duas Agências de Benefícios do INSS contudo, o segundo andar está vazio e, o Ginásio Esportes estão vazios e, sucateados. É necessário vontade política. Concomitante, gastaremos quatrocentos milhões de reais para recebermos 3 ou, 4 jogos da Copa do Mundo de 2014. Em tese nada contra o futebol, a FIFA ter conquistado obras que o Orçamento Participativo vem reivindicando há anos mas, a nossa cidadania, a participação popular. [email protected] Dia 9 de setembro fui paciente de uma cirurgia complicada e, delicada por esta razão desejo externar meu agradecimento à Equipe do Cirurgião Fabio Zel constituidas pelos cirurgiões Gabriel Madene e, Eduardo Pilla. Um forte abraço. A gente não se vê! A Saúde em 2030 Natan Estivallet* Muito se discute hoje, 2010, sobre a saúde na próxima geração, ou seja, 2030. E a Organização Mundial da Saúde (OMS) traz dados e projeções muito interessantes, que combinadas à mudança do perfil epidemiológico do Brasil permite identificar questões e começar a abordá-las desde já. A primeira estimativa cita que em 2030 aumentarão como causas de morte as doenças crônico-degenerativas e os acidentes. As doenças do coração (que se originam na maior parte das vezes da hipertensão!) que hoje já matam mais de 10 milhões de pessoas por ano no mundo passarão para 18 milhões de mortes por ano. Entre os acidentes destacam-se os de trânsito, dobrando neste período de tempo. E porque colocar um ponto de exclamação quando se fala em hipertensão? Porque devemos retornar à mesma “tecla”: verificar a pressão regularmente, tomar as medicações indicadas, evitar o sal, emagrecer, exercitar-se, alimentar-se de forma balanceada e saudável (preferindo vegetais, fibras e frutas) e não fumar. Não quero ser repetitivo, mas não quero confirmar essa estatística, e nem quero que você a confirme! Um dado triste entre os estudos da OMS é que no continente africano doenças como HIV, tuberculose e malária matarão tanto quanto todas as causas somadas dos países de alta renda! Temos que prestar atenção nisto para o Brasil, em que a incidência de HIV é alta e a tuberculose continua em níveis endêmicos. Outro dado divulgado é o número de anos convivendo com a doença. Isto é importante porque fala diretamente da qualidade de vida. Muitos anos que os brasileiros tem ganhado como expectativa de vida serão anos doentes. Para 2030 prevê-se que a depressão será a doença mais frequente causando essa incapacidade para as pessoas. Portanto, além dos hábitos saudáveis, cultive amizades e uma boa vida familiar, harmônica, evite estresse e discussões. A vida próxima à natureza também ajuda, bem como a paz espiritual. *Médico de Família Professor de Medicina - PUCRS EXPEDIENTE CADERNO DE REABILITAÇÃO: Objetivos: Disponibilizar para comunidades informações pertinentes a Politícas Públicas de Reabilitação / Habilitação - Telefone 3387.1172 - Coordenador Geral Valter Castilhos - Colaboraram nesta Edição: Marlene Canarim Danesi - Presidente do CREFONO - Silvio Miguel Coelho Dutra Presidente do SINTRAVERS - Dr. Alexandre Doval da Costa Presidente do CREFITO - Diretor Acessobr Dr. Carlos Lenuzza - Empresário Getúlio Fortuna - Agradecimento Especial Dª Chininha e, Zumbi dos Palmares - Inspiração adolescente Nathalia Werlang - Sugestões e Críticas: [email protected] - Jornalista: Denise Rodrigues DRT 8222 - Diagramação: João C. Martimbianco, [email protected] - Impressão: Correio do Povo - Agradecimento Especial: Dr. Júlio César Diretor Presidente da GUARIDA Imóveis, amigos Dody&Cicão, Skippy e, Roque. Os artigos assinados são de inteira responsbilidade dos seus autores. PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 3 O uso da comunicação suplementar alternativa (CSA) Cristina Martins Bastos Schneider CREFONO7 7604 Conforme a American Speech and Hearing Association (ASHA), CSA é qualquer meio de comunicação que compense e facilite, temporária ou permanentemente, fala e/ou escrita, se estes estiverem comprometidos. É o uso integrado de componentes manuais ou gráficos, incluindo símbolos, gestos, recursos, enfim, estratégias utilizadas na comunicação. Geralmente é indicada a pacientes com paralisia cerebral, síndromes e /ou doenças degenerativas que comprometam a fala. Todos os sistemas gráficos com função comunicativa poderiam ser qualificados como linguagem, se esta for vista como um sistema de símbolos (sinais manuais, palavras escritas, etc) e regras de combinação que podem ser usadas para uma função comunicativa (expressar sentimentos, transferir informações, etc.). O CSA utiliza-se de recursos de baixa e alta tecnologia, sendo os de baixa, as pranchas de comunicação, mesas, pranchas, avental, cartões, cadernos de comunicação e álbuns de fotografias. Dentre os sistemas de CSA de alta tecnologia é o interessante PCS (Picture Communication Symbols). O software BOARDMAKER versão 5 oferece 3500 palavras em português pelo sistema PCS. Está dividido em categorias: social, verbos, pessoas, miscelânea, substantivos. É possível escrever frases, até mesmo histórias inteiras. Podem-se mudar personagens e suas características, e, ainda, incluir voz nas figuras. Todos os alunos e pacientes que demonstram intencionalidade comunicativa podem beneficiar-se deste recurso, basta que possuam o cognitivo suficientemente preservado para esta tarefa. Mesmo os que nada ou pouco falam. Também pacientes com questões motoras importantes de membros superiores podem utilizá-lo através de um mouse adaptado. A literatura relata que o CSA tem servido de estímulo para esses pacientes, pois é um lugar de fala, o que facilita os processos dialógicos entre eles e as pessoas de seu convívio. Além disso, proporciona oportunidades efetivas de desenvolvimento acadêmico, intelectual e sócio-afetivo. Este é um trabalho multi e interdisciplinar: fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, pedagogos. O trabalho deve ser levado às salas de aula, através de oficinas ministradas aos professores em conjunto com a equipe de informática, bem como dar orientação aos pais e responsáveis. O enfoque do trabalho fonoaudiológico é o da comunicação, não o da fala por si, só. Aliás, um trabalho meramente articulatório em pacientes com necessidades especiais, costuma cair no vazio. Se o objetivo for a fala, corre-se o risco de cair-se em uma “cegueira” terapêutica, onde somente enxerga-se o indivíduo como uma boca e não como um sujeito que deve ser inserido na sociedade. *Conselheira CREFONO7 Fonoaudióloga Escola de Educação Especial Nazareth – APAE/ Porto Alegre Fonoaudióloga deciBel – Soluções em Fonoaudiologia Pós-graduação em Fonoaudiologia Hospitalar – São Camilo Pós-graduação em Audiologia - IMEC PORTO ALEGRE - SETEMBRO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 4 Faculdade de Fonoaudiologia/UFRGS Saúde coletiva e Fonoaudiologia O Sistema Único de Saúde, conhecido como SUS, é a maneira como o Estado brasileiro definiu o funcionamento a assistência à saúde em nosso país. Descrito na Constituição Federal de 1988 (artigos 196 a 200) e com princípios estabelecidos pelas leis orgânicas da saúde (n. 8080 e n. 8142), de 1990, o funcionamento deste sistema vem sendo aprimorado a partir da publicação de inúmeros documentos, portarias, cartilhas, disponibilizadas pelo Ministério da Saúde. Como princípios doutrinários, tem a universalidade, que é o fato de atender a todos, sem distinção, gratuitamente; a integralidade, ao olhar as pessoas como um todo, não fragmentados pelas especialidades, considerando também a sua inserção na comunidade; a equidade, que visa o oferecimento de mais recursos para as pessoas que necessitam de maior cuidado para a manutenção de sua saúde e qualidade de vida. Atualmente, cerca de 80% da população tem o SUS como único recurso para o cuidado à sua saúde. Os demais utilizam plano/seguro de saúde privado ou subsidiam atendimento particular. Mesmo quem busca atendimento junto ao sistema privado, está sujeito às diretrizes do SUS, por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que regulamenta o funcionamento dos contratos, determina quais procedimentos devem ser contemplados, entre outros. Em Porto Alegre, cerca de um milhão de habitantes necessitam dos serviços do SUS! Para o Brasil, são aproximadamente 150.000.000 de pessoas... De qualquer forma, todo e qualquer brasileiro está sujeito às ações da Vigilância Sanitária, que fiscaliza a higiene dos consultórios de profis- Estudantes do curso de Fonoaudiologia da UFRGS (primeira turma - ingressantes 2008), no estágio de Saúde Coletiva – Colégio de Aplicação, realizado no primeiro semestre de 2010. sionais da saúde e estabelecimentos que comercializam alimentos, como supermercados, restaurantes, lanchonetes. Assim como à Vigilância Epidemiológica, que recebe notificações sobre tuberculose, HIV/AIDS e outras doenças e agravos, transmissíveis ou não. Desde o nascimento, as pessoas recebem a visita do SUS, com a vacinação, teste do pezinho e a declaração de nascidos vivos, utilizada para o registro de nascimento. Além disso, é preciso considerar que planos/seguros de saúde, em geral, se restringem ao atendimento médico ambulatorial e realização de exames laboratoriais. Apenas recentemente foram incluídos procedimentos para terapias nutricionais, psicoterápicas, fisioterápicas, de terapia ocupacional e fonoaudiologia, e ainda assim, com restrições: é necessário o encaminhamento de um médico e o número de atendimentos é limitado. Estudantes do curso de Fonoaudiologia da UFRGS (terceira turma - ingressantes 2010), que cursaram a disciplina de Saúde Coletiva no primeiro semestre de 2010. O atendimento em atenção básica, internacionalmente denominado atenção primária à saúde, responsável pela prevenção de agravos e promoção de saúde, é uma atribuição importante dos serviços públicos. Da mesma forma, os atendimentos de alta complexidade, como a quimioterapia e transplantes, que são oferecidos com exclusividade pelo SUS. Desde a criação do SUS se tem percebido a necessidade de reorientação da formação dos profissionais que atuarão nesse sistema. Assim, os Ministérios da Saúde e Educação, em parceria, decidiram, no ano de 2002, modificar a estrutura curricular dos cursos da saúde, a fim de que as diretrizes pudessem preparar melhor os estudantes para o exercício profissional mais condizente com a realidade de saúde encontrada. O curso de Fonoaudiologia da UFRGS, além de disciplinas teóricas e estágio curricular em unidades de saúde em diferentes locais do município de Porto Alegre e está envolvido com o Programa de Educação para o Trabalho – o PET-Saúde, Saúde da Família e Vigilância em Saúde, oferecendo aos alunos a oportunidade de vivência de atividades nos serviços, com o intuito de prepará-los para uma atuação profissional mais adequada às necessidades de saúde da população. PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 5 Fadem A ética com o paciente implica formação continuada FADEM - Fundação de Atendimento de Deficiência Múltipla Fone: (51) 3328-6780 Email: [email protected] Rua Frei Henrique Golland Trindade, 445 CEP: 90480-140 / Porto Alegre - RS Dani Laura Peruzzolo* A FADEM, desde sua origem, tem se caracterizado por oferecer atendimento clínico às crianças e adolescentes que apresentam patologias neurológicas cujas seqüelas são tão severas que acabam comprometendo vários órgãos ou funções além de interferir diretamente na constituição psíquica destes sujeitos. Atualmente outras instituições também estão acolhendo pacientes com múltiplas deficiências. Instituições e equipes que se qualificaram para atenderem crianças com problemas motores e também com déficit visual, por exemplo. Com isso muitos pacientes e seus familiares, que aguardavam em listas de espera por atendimentos especializados, estão sendo atendidos. A FADEM passou então da qualidade de uma das únicas instituições não governamental a atender pessoas diagnosticadas como deficientes múltiplas com ênfase nas psicoses infantis associadas a deficiências motoras, à instituição com experiência para formação de outras equipes. Nos últimos cinco anos a FADEM vem investindo na oferta de formação para profissionais da área. Mantendo a idéia de que um paciente com múltiplas deficiências precisa ser acolhido por profissionais cuja equipe construa um percurso interdisciplinar, na perspectiva de não sobrecarregar o paciente com especialistas, mas que ele tenha para seu tratamento, o olhar e as abordagens necessárias para seu desenvolvimento e para sua constituição. Cada vez mais, pelos avançados estudos, fica claro o quanto as questões PORTO ALEGRE - SETEMBRO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 6 emocionais (psíquicas) interferem na aquisição de um movimento, de uma função. Ou o quanto as questões sensoriais são a porta de entrada do corpo da criança para suas leituras sobre o mundo (condição tanto cognitiva quanto psíquica). Muitas destas discussões não foram feitas dentro da academia, no período de formação. Por isso a defesa de que a ética com o paciente implica também formação continuada dos profissionais. Acreditando nisso, a FADEM tem oferecido supervisão, grupos de estudos e cursos para qualificar o profissional que compreende a necessidade de manter-se atualizado e articulado com outros grupos de trabalho. *Terapeuta Ocupacional Conselho Deliberativo da FADEM A Terapia Ocupacional na inclusão de Pessoas com Deficiência no Trabalho Esp. Luciana Wertheimer Esp. Priscila Mallmann Bordignon A Terapia Ocupacional é uma profissão com diferentes possibilidades de intervenção, seja na esfera da saúde, da educação e na esfera social. Tem como objetivo, perceber o sujeito em seus fazeres cotidianos. Com relação ao estudo do desempenho ocupacional, a terapia ocupacional atua nas seguintes áreas de ocupacionais: trabalho, lazer, participação social, ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA, ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIÁRIA, e mais recentemente, estudo do sono. Atualmente, uma das áreas de crescimento da profissão, está relacionada ao processo de inclusão das pessoas com deficiência no Mercado de Trabalho. Assim, o terapeuta ocupacional tem como objeto de trabalho, a promoção da saúde, a inclusão, construindo com estes sujeitos possibilidades de desempenhar de forma satisfatória seus papéis nos diversos contextos em que convivem. Os diversos instrumentos, técnicas e possibilidades que o terapeuta ocupacional propõe, têm por objetivo desenvolver uma maior autonomia e independência funcional àquele sujeito que, por qualquer motivo, está impossibilitado de participar ativamente na sociedade. Com o surgimento em 1991, da Lei das Cotas, que exige das empresas a participação de pessoas com deficiências em seu quadro de funcionários (Lei nº 8.213/91), os espaços laborais tiveram de ser reorganizados, para estarem aptos a recebê-las. Para atender o que sugere a Leis das Cotas, são necessárias adequações tanto no que se refere à capacitação profissional das pessoas com deficiências para atender as demandas das vagas disponibilizadas, quanto nas próprias organizações que contratam tais pessoas. É neste processo, que a intervenção do terapeuta ocupacional, torna-se necessária, dialogando com seus potenciais para a ajuda na promoção de possibilidades de uma maior autonomia funcional para o ingresso e/ou reingresso e permanência das pessoas na área de desempenho ocupacional do trabalho. No âmbito da inclusão da PcD no mercado de trabalho, entre as funções deste profissional, estão: realizar avaliação funcional do trabalhador; adaptar o posto de trabalho quando necessário; elaborar e/ou indicar tecnologias assistivas; participar do processo preventivo de educação em saúde, sob o aspecto da saúde do trabalhador; preparar junto à equipe técnica interdisciplinar a pessoa com deficiência para sua inclusão efetiva na atividade laboral e supervisionar este processo inclusivo no local de trabalho. Este campo de atuação do Terapeuta Ocupacional, tem se destacado no Estado do Rio Grande do Sul, onde as políticas de inclusão no Mercado de Trabalho são efetivamente fiscalizadas pela Delegacia Regional do Trabalho e onde os terapeutas ocupacionais estão atuando efetivamente neste processo de inclusão, onde o discurso das impossibilidades transforma-se a cada dia, num discurso das possibilidades. PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 7 Entidade Filantrópica com Registro no Conselho Nacional de Assistência Social e de Utilidade Pública Federal, Estadual, Municipal - Rua Marcone, 421 - Partenon - Porto Alegre - RS Brasil - 91.530-160 - Fone: (51) 3322-0522 E-mail: [email protected] Site: www.kindernet.org.br Comunicação alternativa na Kinder Bruna Sampaio Vellinho, Filipe Carbone Geyer, Márcia Borda Ferreira, Rejane Gonçalves Conceição e Sandra Lima Duarte * A comunicação alternativa compõe um dos recursos da tecnologia assistiva. É uma área de prática clínica, educacional e de pesquisa, para terapeutas que tentam compensar e facilitar, temporária ou permanentemente, os prejuízos e incapacidades dos indivíduos com severos distúrbios de compreensão e ou de expressão, podendo ser necessária, para indivíduos que demonstram prejuízos nos modos de comunicação gestual, oral e ou escrita. Este termo é usado para definir outras formas de comunicação com o uso de gestos, língua de sinais, expressões faciais, ou uso de pranchas do alfabeto ou símbolos pictográficos, até o uso de sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada. Significa qualquer meio de comunicação, que suplemente ou substitua os meios usuais de fala ou escrita, onde eles estiveram comprometidos. Em outubro de 2009, implantou-se na Kinder o projeto “Comunique-se”, com duração de 1 ano. Este tem como objetivo geral, oportunizar aos alunos e pacientes da Instituição, instrumentos e recursos de comunicação alternativa, para que possam interagir de maneira significativa com o meio social, elevando a sua qualidade de vida, aprendizado e reabilitação. Atualmente, o projeto beneficia 20 crianças/adolescentes, visando ampliar em breve para um maior número de indivíduos. As áreas responsáveis pela prática deste recurso, são a fonoaudiologia que visa explorar a iniciativa comunicativa, simbólica e funcional; e a terapia ocupacional que executa adaptações que permitem o uso deste recurso aos usuários que apresentam limitações motoras de grau leve à grave. Desde então, tem sido observado os benefícios que estes usuários têm adquirido em seu meio escolar, reabilitador, domiciliar e social, melhorando de forma significativa a sua comunicação, auto-estima e qualidade de vida. Neste ano de 2010 iniciamos também um grupo de estudos com a participação das áreas de fonoaudiologia e pedagogia, sobre o assunto de tecnologias assistivas e comunicação alternativa na escola, visando uma maior integração e conseqüente desenvolvimento e ampliação do projeto. Com os avanços encontrados, salienta-se a necessidade da Instituição estar ampliando os recursos de tecnologia assistiva com a finalidade de PORTO ALEGRE - SETEMBRO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 8 conseguir contemplar atendimentos a todas as mais de 300 crianças e adolescentes da Kinder. Entretanto, para que seja possível dar continuidade ao trabalho desenvolvido, há necessidade de parceiros que colaborem com a Instituição. Assim conseguiremos proporcionar melhor qualidade de vida para nossas crianças e famílias. * Equipe da Reabilitação responsável pelo projeto Cuidados Pertinentes ao Coração Dr. Fabrício Michalski Velho* CRM 27934 As doenças cardiovasculares possuem alta incidência na população em geral e são, hoje em dia, responsáveis por altos índices de mortalidade. Quando não se manifestam de forma fatal, podem trazer uma série de conseqüências desastrosas ao paciente, prejudicando, sobretudo, a sua qualidade de vida, bem como levando a uma diminuição significativa da sobrevida esperada. Não há dúvida, portanto, que é extremamente importante tomarmos alguns cuidados simples e que podem levar a uma redução desse quadro. Controle de peso – deve-se manter o índice de massa corporal menor que 25 kg/m² e a cintura abdominal menor que 102 cm para os homens e 88 cm para as mulheres. É fundamental o acompanhamento médico e nutricional para a manutenção desses índices. Dieta saudável – priorizar uma dieta rica em frutas, hortaliças, fibras, minerais e lacticínios com baixos teores de gordura. Deve-se evitar à adição de sal aos alimentos preconizando-se o máximo de 2g de sódio por dia. Ter atenção ao consumo de doces ou bebidas com açúcar. Atividade física – recomenda-se a prática de atividade física aeróbica por pelo menos 5 vezes na semana com duração mínima de 30 minutos. É fundamental uma consulta com o Cardiologista antes de se iniciar um programa de exercícios físicos. Abandono ao tabagismo – cada vez mais se tem obtido sucesso nas medidas para a cessação do hábito de fumar. Recomenda-se o acompanhamento com o Pneumologista. Evitar o uso excessivo de bebidas alcoólicas – o uso em demasia de bebidas alcoólicas está associado ao aumento da pressão arterial e que, portanto, deve ser desencorajado. Realizar atividades de lazer – sabemos que o estresse também é fator contribuinte para o surgimento de doenças cardiovasculares. A realização de atividades prazerosas deve ser fortemente recomendada. Medir a pressão arterial – a hipertensão arterial é um grande fator de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares. Na maioria das vezes não causa sintoma o que pode atrasar o seu diagnóstico. Recomenda-se, com isso, a medida da pressão pelo menos uma vez ao ano para os indivíduos com pressão normal. Admite-se como valor normal até 140/90 mmHg, buscando-se idealmente níveis próximos a 120/80 mmHg. Dosar o colesterol e glicose – sabe-se também que o aumento do colesterol e suas frações bem como da glicose (diabete mellito) estão associados à ocorrência de doenças cardiovasculares de forma bastante significativa. Deve-se realizar a dosagem no sangue destes elementos para o diagnóstico precoce e instituição de terapêutica apropriada quando indicada. Além destes cuidados básicos que devem ser encora- jados, não podemos esquecer que a visita ao Cardiologista é sempre recomendada para que este realize um exame clínico adequado e, se necessário, solicite exames específicos do coração(eletrocardiograma, teste ergométrico, ecocardiograma, etc). É importante salientar ainda, que indivíduos com história familiar precoce de doença arterial coronariana bem como de acidente vascular cerebral(derrame) devem ter um cuidado ainda maior, necessitando de acompanhamento médico mais próximo, em função de que estes fatores genéticos trazem um aumento no risco de desenvolvimento de doenças no coração. *Cardiologista do Hospital São Lucas da PUCRS e do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Ecocardiografista do Hospital São Lucas da PUCRS e Mãe de Deus Center. [email protected] PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 9 IPA Atividades paradesportivas Marcelo Sant’Anna* Nas últimas três décadas ocorreu em nossa sociedade uma atenção maior aos direitos e reconhecimento da pessoa com deficiência como cidadão. Neste período ocorreram vários movimentos mundiais de pessoas com deficiência, incluindo a participação de brasileiros em diferentes atividades paradesportivas (esportes adaptados). Esta participação tem recebido atenção crescente, oferecendo às pessoas a oportunidade de experimentarem sensações e movimentos que freqüentemente são impossibilitados pelas barreiras físicas, ambientais e sociais. O desenvolvimento do esporte adaptado tem sua origem após a II Guerra Mundial, particularmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, com a necessidade de reabilitação e de reinserção na sociedade de pessoas vítimas da guerra. Em 1944, o neurologista e neurocirurgião alemão Ludwig Guttamann acreditava que o esporte possuía a fórmula para motivar e diminuir o tédio da vida desocupada de um deficiente físico, mas acabou descobrindo muito mais. Fez com que o mundo se organizasse, mostrando que todas as pessoas com algum tipo de deficiência poderiam praticar atividades físicas e esportivas. A intenção do médico era a de introduzir a atividade esportiva como incentivo à reabilitação dos deficientes. Os resultados foram positivos e a atividade física adaptada logo evoluiu para um nível de competição. Assim, em 1948 foram realizados os primeiros jogos para deficientes, evento paralelo às Olimpíadas que eram realizadas em Londres. Este evento ficou conhecido depois como Stoke Mandeville Games, e tornou-se um festival esportivo anual na cidade inglesa de Aylesbury. As primeiras paraolimpíadas vieram a ocorrer em 1960, em Roma, e contava com a participação de 23 países e 400 atletas. E, em sua última edição, nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, houve a participação de 145 países e 4000 atletas. Os números mostram que entre a primeira e a última versão dos Jogos houve uma grande evolução, o esporte para pessoas com deficiência abandonou o caráter estritamente de lazer e de reabilitação, passando a buscar também o rendimento esportivo. Sob vários aspectos, acredito que o esporte como ciência e disciplina constitui-se numa verdadeira “ferramenta” a ser usada no esforço para a inserção social do indivíduo excluído. Além de promover adaptações fisiológicas e morfológicas relevantes à saúde física e psicológica, o esporte também pode ser utilizado para ensinar a viver em sociedade; educar para viver junto; perceber a importância de aceitar os desiguais; fazer aprender a ganhar e a perder; reconhecer o melhor e o mais apto; e ainda mostrar ser necessário respeitar o mais fraco e o inábil. No paradesporto, o espírito competitivo existente no participante é geralmente alto, tanto pela própria vontade de vencer quanto de mostrar-se capaz. Por este motivo o enfoque esportivo, através de suas PORTO ALEGRE - SETEMBRO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 10 características, talvez seja a ferramenta mais adequada para o trabalho de inserção social da pessoa com deficiência. As mudanças vivenciadas pela pessoa com deficiência envolvida em programas esportivos suscitam sentimentos e vontade de melhorar o seu mundo, provando para si mesmo e para a sociedade que são capazes de terem soluções para suas maiores dificuldades. *Mini Curriculum Marcelo Morganti Sant’Anna, professor de educação física, com especialização em Musculação e Treinamento Funcional pela Universidade Veiga de Almeida, Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Escola de Educação Física da UFRGS. Sócio-diretor da empresa Fortius, Professor da Rede Metodista de Educação do Sul nos cursos de Educação Física e Fisioterapia e Coordenador do Programa Paradesporto da Rede Metodista. Avanços nas pesquisas com células-tronco para o tratamento de doenças neurológicas Simone de Paula, Jaderson Costa da Costa* As células-tronco podem ser encontradas em diversas fontes, como em embriões, no cordão umbilical e em tecidos adultos, como o sangue e a medula óssea, por exemplo. Ao contrário das demais células do organismo, as células-tronco são consideradas imaturas e, portanto, possuem grande capacidade de transformação (diferenciação) celular em diferentes tecidos do organismo, incluindo o tecido cerebral. Considerando essas características biológicas, vários estudos em animais de laboratório pesquisam sobre o uso da terapia celular (com células-tronco) em doenças neurológicas, demonstrando resultados promissores deste tratamento na maioria dos achados científicos. No Brasil, pesquisadores do Instituto do Cérebro da PUC-RS (Figura 1) estudam o uso dessa nova abordagem de tratamento em animais acometidos por graves doenças que comprometem o sistema nervoso, tais como, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson, epilepsia, e seqüelas neurológicas de traumatismo raquimedular e anóxia neonatal. Utilizando o conhecimento adquirido nestes estudos em laboratório, alguns grupos de pesquisa já iniciaram os testes clínicos (em pacientes) em tipos específicos de doenças neurológicas. Recentemente na mesma instituição gaúcha, iniciou-se a pesquisa clínica em um estudo pioneiro para avaliar a segurança da terapêutica do transplante de células-tronco em pacientes com epilepsia do lobo temporal, que afeta principalmente a região cerebral responsável pela memória. Apesar do objetivo principal do estudo ter sido avaliar a segurança da terapia celular, dados preliminares seis meses após o início do tratamento mostraram resultados animadores relacionados à redução das crises epilépticas, sugerindo um novo horizonte para o tratamento deste distúrbio. O método de tratamento com células-tronco em doenças neurológicas é relativamente simples: as células-tronco são retiradas da medula óssea do paciente e injetadas (transplantadas) através de alguma veia ou artéria no próprio paciente doador (Figura 2). Através da circulação sistêmica as células administradas tendem a migrar para os locais de lesão cerebral atraídas por estímulos específicos, tais como focos de inflamação resultantes de crises convulsivas ou isquemias cerebrais, por exemplo. Levando em consideração a necessidade da presença de fatores que sinalizam as células-tronco, tem-se observado que o transplante agudo de células-tronco (logo após a lesão) demonstra resultados mais significativos quando comparados a tratamentos tardios. Outra pesquisa recentemente desenvolvida na instituição é o uso de células-tronco na esclerose lateral amiotrófica, doença que atinge os neurônios da medula espinhal. Atualmente não há cura para esta enfermidade, considerada grave e progressiva. Apesar de considerados preliminares, dados de estudos experimentais já evidenciam que a terapia celular pode aumentar a sobrevida e os movimentos dos animais acometidos. Na área da terapia celular em lesões neurológicas por falta de oxigenação (anóxia) cerebral em crianças, resultados pré-clínicos (em animais) iniciais demonstraram que o tratamento não resultou em melhora neurológica. No entanto, quando uma quantidade maior de células foi transplantada nos animais em estudo os resultados foram satisfatórios. Em crianças, a abordagem de tratamento é similar a dos adultos. No entanto, existe uma maior praticidade do uso de células-tronco de cordão umbilical evitando, assim, a punção da medula em crianças pequenas. Atualmente, diversos locais no mundo estão estudando essa nova terapia em animais com lesões decorrentes da anóxia cerebral. No entanto, esta abordagem de tratamento ainda não está disponível na prática clínica, pois depende de estudos pré-clínicos e clínicos mais consistentes. Até o presente momento se desconhece como as células-tronco agem no organismo. Os dados positivos para estas pesquisas levantam a hipótese de que as células-tronco possam agir através de duas estratégias principais. A primeira delas é de que as células-tronco transplantadas possam se transformar (diferenciar) em tipos celulares específicos e, assim, repor os neurônios perdidos após lesões cerebrais. A segunda delas surgiu mais recentemente em decorrência de estudos em animais e sugere um mecanismo de ação indireto das células-tronco. Estes estudos demonstraram que a melhora dos animais ocorreu mesmo na presença mínima de células-tronco diferenciadas em neurônios, sugerindo que, possivelmente, as células-tronco são capazes de estimular a liberação de fatores de crescimento capazes de induzir a formação de novos neurônios no tecido lesado. Ressalta-se que os estudos pré-clínicos constituem o primeiro passo no desenvolvimento de novas terapias. No entanto, apesar dos resultados animadores, muitas questões sobre a terapia celular ainda necessitam ser respondidas. A pesquisa científica necessita passar por diversas fases antes do uso na população em geral. Em decorrência disso, atual- mente, a maioria dos estudos ainda são realizados em nível experimental, em animais de laboratório. Aspectos ainda pouco elucidados tais como, a quantidade de células, o local mais adequado para o transplante e o tipo celular a ser utilizado são variáveis importantes que poderão influenciar significativamente os resultados. Após estes esclarecimentos científicos, é possível que, em breve, as pesquisas clínicas iniciarão, ou seja, começarão a ser realizados mais estudos científicos sobre o uso das células-tronco em seres humanos. Inicialmente, o uso terapêutico das células-tronco em pacientes com doenças incapacitantes ainda será realizado apenas através da pesquisa científica em grupos específicos de pessoas, seguindo critérios de inclusão para cada estudo. Além disso, é importante considerar que a participação dos pacientes na pesquisa deve ser voluntária e gratuita. Para garantir a segurança dos participantes, estes estudos deverão ser realizados em instituições reconhecidas pela comunidade científica e passarão pela aprovação de Comitês de Ética em Pesquisa. Com base nos resultados recentes, as perspectivas futuras para o uso das células-tronco em neurologia são promissoras. No entanto, ainda não se sabe quando essa abordagem terapêutica será incorporada à prática médica. Ainda é necessário consolidar os conhecimentos adquiridos nos experimentos científicos em animais de laboratório, garantindo assim, segurança, ética e respeito aos portadores de doenças neurológicas. O que sabemos é que ainda existe um longo caminho a percorrer. *Pesquisadores do Instituto do Cérebro – PUCRS PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 11 Educação x necessidades especiais: Uma questão política e discursiva Rejane Guariglia da Silva* A inclusão como direito se apresenta hoje como inquestionável. A formulação de políticas, leis e documentos nacionais e internacionais constituem os meios de assegurar esse direito, que, no entanto, continua distante de ser alcançado no plano da implementação efetiva e concreta. Enquanto as políticas de educação inclusiva prescrevem ações tendentes ao atendimento das necessidades de todos os alunos, os sistemas educacionais mantêm inalterados seus traços fundamentais: altamente seletivo e discriminador. A rigidez dos tempos, a necessidade de que os indivíduos e grupos avancem de forma homogênea, sem grandes variações, de acordo com os recursos materiais e humanos disponíveis e de maneira coerente com os modos de organização do ensino, cuja lógica acompanha a economia da instituição mais do que as necessidades dos indivíduos, colidem com as metas inclusivas de atender a todos os alunos. A noção de educação é formulada por meio de termos como: “pleno desenvolvimento”, “preparo para o exercício da cidadania” e “qualificação para o trabalho”, as “necessidades especiais” devem ser “atendidas”. Isso chama a atenção para a não coincidência entre a idéia de educação e a de atendimento de necessidades. Principalmente, quando se pensa nas características do sistema de ensino, com as suas exigências em termos de aquisições e avaliações, as palavras fazem diferença porque ao privilegiar certos sentidos conduzem à atividade humana para certas direções e não para outras. No caso aqui considerado parece evidente que o preparo e a qualificação dos alunos para o exercício de diferentes funções no âmbito social, comunitário, político e do trabalho, requerem um conjunto de conteúdos e ações que não necessariamente esta- rão centrados nas necessidades dos alunos, mas ao contrário, exigirão destes, um movimento que leve à apropriação ativa dos conhecimentos necessários para um desempenho eficaz. As idéias que prevalecem nos documentos oficiais estão relacionadas ao desenvolvimento, ao preparo para a vida adulta e à cidadania, o que conduz à conclusão de que o conceito de educação não tem um vínculo forte com o atendimento de necessidades. Isso pode ser constatado tanto no plano discursivo, nos documentos citados, como no cotidiano escolar. Por outro lado, a idéia de que a educação deve centrar-se no atendimento das necessidades dos alunos, tem sido abordada de maneira crescente por autores em diversos contextos. Entendemos que essas elaborações contribuem para expandir a reflexão sobre a questão e iluminam a penumbra em que permanecem as explicações para o pouco sucesso das práticas inclusivas. A dificuldade de planejar uma política que atenda às necessidades dos alunos decorre do fato de que o sistema, apesar dos discursos, funciona de acordo com uma dinâmica própria que atende às suas próprias necessidades. A não-coincidência entre as necessidades do sistema e as necessidades dos alunos deixa um espaço reduzido para o atendimento das últimas. Essas questões levam à discussão das ‘políticas da diferença’, que defendem o reconhecimento das diferenças estruturais que marcam pontos de partida distintos para certos grupos de pessoas na competição pelos deveres e benefícios que a cooperação social supõe. Desse ponto de vista, a insistência numa política de oportunidades de acesso igual que não reconheça a diferença, tende a manter a desigualdade. Por isso, é necessário abordar a desigualdade por meio de uma política da diferença e prover genuína igualdade de oportunidades e acesso, a partir do reconhecimento da diferença. Parte das difi culdades na implementação de políticas inclusivas se deve a que, apesar das premissas e prescrições que proclamam a necessidade de atender as necessidades educacionais de todos os alunos, a lógica do sistema educacional é pouco compatível com essa filosofia, principalmente no nível das práticas e dos modos de funcionamento, ou seja, nosso sistema educacional regular, já em colapso, passa a ser um engodo para clientela PNE. *Psicopedagoga FOTOS DE MÁRCIA WANDER PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 12 Arte e educação especial: concepções e novas atitudes Prof. Ângela M. Aranguez* Seria ideal que todo educador pudesse conduzir o ensinamento numa atmosfera inovadora e dinâmica, que não se fragmentasse em disciplinas. Ao professor cabe a atitude de ir além, afinal ensinar é sempre um desafio, visto que cada aluno irá desenvolver certa predileção, habilidade e/ou apresentar alguma dificuldade. O reconhecimento das diferenças individuais é o que articula e justifica todo um planejamento que envolve a oferta de atividades multi, inter e transdisciplinares. As artes, no contexto da educação especial, assumem um papel importante, pois a partir do conjunto de atitudes possibilitados pela dança e música, pelo teatro e artes plásticas e outras ações educativas como essas, é que se observa uma transformação real, na qual o aluno, mais que ler e escrever, se apropria de instrumentos que lhe permitam compreender o mundo em que vivem, com aporte para enfrentar a diversidade. Todo projeto educativo que puder ser desenvolvido tendo as artes como pano de fundo, em se tratando da pessoa com necessidades especiais, tem muitas chances de êxito, pois é bem sabido que uma grande parte dessa população pode ficar alheia a essas possibilidades em nossa educação formal. Apesar da Escola Especial carregar um rotulo de segregação, o desenvolvimento de propostas e projetos nos quais as artes exercem influencia, mostram o contrário. Ações educativas compostas pelas artes promovem um universo de opções em se tratando de educação inclusiva. O “saber-fazer” por meio das artes tem comprovado a força na mudança de atitudes e comportamentos, principalmente na conscientização da inclusão. Mudanças de atitudes no sentido de motivar o aluno e desenvolver a auto-estima, favorecem o potencial criativo das pessoas com deficiência, favorecendo, dessa forma, conquistas na área social. E não falo somente de aprendizagens no âmbito social, estende-se esse processo, porque ele se comunica também com outros campos do saber: com o conhecimento lógico matemático, com a aquisição do código escrito, com a literatura, com noções de espaço, com a assimilação dos tempos, do compasso, do ritmo... Fora o fato que hoje existem propostas que exploram outros sentidos: propostas de atividades que envolvem o corpo e o movimento, onde podem ser tocadas, cheiradas, ouvidas... A expressão corporal, a expressão vocal e instrumental, a expressão coreográfica, a expressão plástica são permeáveis uma à outra, se provocam, se somam. É incontestável o potencial das artes e o alcance amplo que possui. O trabalho com arte, ou arte educação representa o desenvolvimento de inúmeras competências em alunos com necessidades educacionais especiais, contribuindo na ampliação da percepção do seu universo cultural, sua compreensão lingüística e estética; a compreensão da sua expressividade corporal e musical; a construção de autonomia, participação social e conseqüentemente sua inclusão na sociedade, mediante a arte. O caminho que a Arte traça é de encorajamento e nele, nós professores educadores especiais e arte-educadores, enxergamos e valorizamos a superação e as potencialidades. *Educadora Especial - UFSM Psicopedagoga - PUC Psicóloga - ULBRA Especialista em Arte corpo e Educação - UFRGS PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 13 Longevidade e funcionalidade na atividade humana Lenise Hetzel* A cada ano cresce o índice populacional do idoso em nosso país, o que pode estar associado aos avanços da medicina preventiva. Porém, é sabido, também, que a sociedade ainda não está preparada ou conscientizada quanto a esta perspectiva, principalmente nos aspectos da acessibilidade e no que se refere a inclusão social respeitando-se sua plenitude e não a forma discriminada como se observa nos dias de hoje. Várias ações públicas já se encontram voltadas para esta causa. Mesmo assim, ainda existe uma série de políticas a serem discutidas e implementadas.Podemos notar no nosso próprio contexto familiar, a necessidade de estarmos preparados para com a longevidade, no sentido de garantir, com melhor conhecimento, menores limitações e maior qualidade de vida para o idoso.Para isto, como conscientização de uma vida mais saudável, nesta perspectiva, podemos pensar nas melhorias ambientais ao nosso alcance através das AVDs (Atividades da vida diária), AVPs (atividades da vida prática),AVTs (atividades de Trabalho), aVLs (atividades de lazer) como por ex.: o banheiro com barras, assento elevado e com apoio, banco ou cadeira de banho no Box e com tapete anti-derrapante, salas e dormitórios sem tapetes , sapatos e chinelos fáceis de serem calçados e com solado anti-derrapante, interruptores luminosos, cadeiras firmes e com apoios laterais, preferencialmente mesas e balcões com quinas arredondados, torneiras e chuveiros adaptados e funcionais, de acordo com as potencialidades de movimentos e força; os objetos de uso diário precisam estar ao fácil alcance do idoso, evitando qualquer tipo de incidente desnecessário. É importante ter em vista a possibilidade de utilização de todos os recursos que possam garantir a realização de ati- vidades do cotidiano que garantam a manutenção da autonomia e independência. Entretanto, um dia, nós também estaremos alcançando essa plenitude de vida- esperamos que seja com saúde, e iremos precisar estarmos conscientes de que de acordo com nossas necessidades e vivências pessoais ou, se necessário, procurarmos auxílio para planejar nossas atividades de vida diária, de trabalho, de lazer, enfim, do nosso cotidiano, para uma readequação laboral assim como para uma nova projeção de nossa vida pós uma aposentadoria, com o objetivo de nos sentimos produtivos, gratificados, e assim inseridos numa vida social e de lazer, como verdadeiros cidadãos. Portanto, não basta só envelhecermos se não pudermos usufruir de autonomia, auto-estima e satisfação em ocuparmos o espaço com cidadania e dignidade humana. A atividade humana sempre foi e é a forma de nos constituir enquanto sujeito. Para isto, precisaremos não só de uma assistência preventiva e eficaz envolvendo novas tecnologias, que nos darão condições de maior sobrevida, ao leque de necessidades especificas para vida de um idoso. Sabemos que o Estatuto do Idoso prevê enquanto diretos, o atenção preferencial em todas as instancias, mas talvez não esteja muito claro para o profissional de saúde, que o sua intervenção atenda as necessidades especificas e inerentes à condição de ser idoso e programe às atividades e adequações para manter ou adquirir o máximo de autonomia nas atividades de vida diária, práticas , de trabalho e de lazer, conforme suas potencialidades e singularidades. Precisamos o mais breve possível nos apropriar e conhecer nossa consciência de longevidade e funcionalidade para sermos “idosos-jovens” saudáveis. Getúlio Fortuna, criatividade e, irreverência. Getúlio Fortuna é um empresário cuja capacidade de criar é ímpar. Enfrenta crises com audácia, irreverência e, sobretudo com um largo sorriso. Ama o que faz. Por vezes, s torna-se introspectivo, eqüidistante, contudo, silenciosamente, planeja ações que oxigenam sua administração. Tem consciência, que do seu dinamismo depende a mobilização dos seus colaboradores Persevera, no sentido de proporcionar atendimento /acolhimento de qualidade a centenas de clientes que transformou em amigos. Para aumentar as vendas necessita qualificar sua Equipe de Colaboradores para tanto, dialoga com Plano de Carreira, interage com a qualificação profissional, eficiência e, comprometimento da Equipe nas metas por estes discutidas. Interessante, que as metas de 2010 foram construídas pelo coletivo do quadro funcional, portanto, todos são responsáveis pela sua execução por esta razão, periodicamente reúne o pessoal e, avaliam os eventuais problemas assim como, planejam as metas de aperfeiçoamento. Coerente com o pensamento, que para a Empresa crescer precisa da participação efetiva do quadro de colaboradores firmou convênio com a ABMF que proporcionará a todos: Colônia de Férias e, clube social com piscinas. Getúlio está construindo um site e, instituiu o tele-entrega. Nos dias de hoje, essencial para ganhar tempo. Está construindo um depósito proporcional ao crescimento da madeireira neste, uma empilhadeira auxiliará os colaboradores que desenvolvem suas atividades laborais. Getúlio denomina-se Amigo do Empreiteiro pensando nisso, buscou parceria com a Caixa Econômica Federal. Incentivou os Empreiteiros que prestam serviços à Madeireira ingressarem no Programa para Micro-Empresários da Caixa Econômica Federal neste, tiveram acesso às linhas de créditos especiais e, passaram a contribuir com a Previdência Social. Getúlio concentra sua atenção na Madeireira contudo, encontra tempo para dialogar com as questões sociais. Há oitos anos apóia decisivamente minha luta por políticas públicas para as pessoas com deficiência, como escreveu Bertold Brecht “ os homens que lutam todos os dias são imprescindíveis ...” *Terapeuta Ocupacional CREFITO-1960-TO PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 14 cerepal Rua Brig. Oliveira Nery, 100 e 115 | Bairro Passo D’Areia Porto Alegre/RS – CEP 90520-260 Fones: (51) 3342-9753, 3343-7586 | FAX 3337-2045 CNPJ nº 92.902.303/0001-18 e-mail: [email protected] | site: www.cerepal.org.br Daniela Ribeiro da Silva* O Centro de Reabilitação de Porto Alegre – CEREPAL é uma entidade filantrópica que presta atendimento para pessoas com deficiência, entre crianças, adolescentes e adultos de Porto Alegre, Grande POÁ e interior do estado do RS. Conta com o serviço de nutrição como área de apoio sob a responsabilidade de uma nutricionista. Esse serviço é dividido em duas áreas: clínica e produção. A área clínica funciona como um trabalho de prevenção e auxílio no tratamento para melhor qualidade de vida dos pacientes, dos familiares e dos funcionários do CEREPAL, auxiliando pacientes com baixo peso, sobrepeso, obesidade ou apenas para reeducação alimentar. A área de produção abrange o refeitório, onde são servidas três refeições diárias (lanche da manhã, almoço e lanche da tarde), num total de aproximadamente 105 refeições diárias ofertadas gratuitamente. A maioria dos beneficiados são alunos de nossa escola de educação especial, mas também pacientes das áreas de reabilitação. Nutrição no CEREPAL *Nutricionista responsável CRN2 7074P Associação de Mães Rita Yasmin A Associação de Mães Rita Yasmin, foi fundada há cinco anos com a finalidade de lutar pelos direitos das crianças com deficiência. Direitos esse, que na maioria das vezes não são cumpridos. As crianças ficam na fila de espera para atendimento, fisioterapia, transporte social e, muitas vezes chegam a óbito antes de serem atendidas. A Associação de Mães Rita Yasmin retoma suas atividades com muitos projetos. A Diretoria, dispõe de muita garra , força de vontade e, perseverança para transformar projetos em realidade. O primeiro objetivo é, a construção da sede para que possamos dar inicio ao acolhimento às crianças especiais. Neste as crianças receberão atendimento para seus pais e, responsáveis possam trabalhar, estudar enfim, reestrurar suas vidas, tendo um lugar especial onde seus filhos serão tratados com todo carinho e respeito que merecem, para terem uma melhor qualidade de vida. Antonia Pinheiro, Carmen Brandão e Diretoria PORTO ALEGRE - MAIO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 15 Caderno de Reabilitação OUTUBRO/2008 Como começar a falar sobre algo que dói demais, mas vamos lá. Denise Cezimbra Foram dez anos de muita luta esperanças, lágrimas enfim, um verdadeiro terremoto em nossas vidas. Meu destino, ligado á lutas começou aos cinco anos, com o nascimento de meu irmão, que por uma fatalidade teve uma lesão cerebral na hora do parto irreversível. Seguiram-se muitos anos de internações, sonhos frustrados, pois meu pai queria muito um filho homem para ser um grande atleta. E, esta vontade foi transferida para mim. Resolveu tornar-se pai de Miss, sim, pois foi através dele, que comecei a participar de concursos. Ao longo dos anos, convivi com uma família, que lutava cotidianamente com gastos absurdos, para poder manter o tratamento do meu irmão. Fomos morar em São Paulo, onde ele freqüentou a AACD. Quando voltamos, meus pais mais um grupo de amigos fundaram O CEREPAL, para poder terem um tratamento especializado para seus filhos. O tempo passou, casei, tive duas filhas maravilhosas, me divorciei, e passados alguns anos reconstruí minha vida, casando novamente. Estava muito feliz, pois realmente sempre achei a vida á dois, um presente de Deus. Um mês de casada ocorreu mais um terremoto em minha vida. Meu pai descobre que tem uma doença crônica e que perderá a visão, como de fato veio acontecer. Minha mãe tem um AVC, que a incapacitou totalmente, vivendo completamente debilitada. Meu marido descobre que perdeu o funcionamento dos rins, passando por terríveis sessões de Hemodiálise. Enfim, tudo aconteceu concomitante. Nesta época eu trabalhava, em uma grande empresa de cosméticos, tendo um cargo de confiança, que me exigia uma permanência constante. Foram dez anos de muita luta, tive que vender patrimônio, me dividir em hospitais, pois tinha momentos que, estavam em internados juntos mas, sempre eu tinha um sorriso no rosto, e quando chorava era escondida. Não desisti em nenhum momento. Parecia uma leoa, perdida na selva. Tentando salvar seus filhotes. Sim, pois de filha, esposa, e irmã, virei mãe de todos. Vários Natais, Ano Novo, enfim passei com cada um em uma cama, mesmos hospitalizados, proporcionei á eles um clima de Festa. Fiz trabalhos para a Santa Casa, no Projeto Cuidar de quem Cuida onde recebi uma linda homenagem, enfim ali estava a sobrevivência do meu marido. Veio a primeira perda, meu pai veio a falecer em meus braços, pedindo que eu não deixá-lo morrer, nem mesmo os médicos conseguiam arrancá-lo de mim. Tive que mudar para uma casa adaptada para duas cadeiras de rodas, para minha mãe e meu irmão, e coexistia com meu marido definhando a cada dia, pois sete anos de hemodiálise , é muito. Fui para exames queria ser doadora, passei e quando tudo estava certo, apareceu à constatação que o mesmo tinha uma doença pulmonar irreversível, não aguentaria o transplante. Perdi o chão naquele momento. Mas ergui a cabeça PORTO ALEGRE - SETEMBRO/2010 - CADERNO DE REABILITAÇÃO - 16 e fiz a cada dia o melhor dia de nossas vidas. Em minha casa, quem chegasse parecia ter uma festa, todas as refeições eram feitas com carinho como se realmente houvesse uma comemoração. Meu amor infinito não me permitia perder mais um, como se a responsabilidade fosse minha total, me sentia com tanta determinação, que por mais que os médicos falassem eu não ouvia. Nossa casa ficou linda, minha mãe voltou a falar um pouco, meu irmão estava feliz, minhas filhas, sempre me ajudando, maravilhosas, e meu marido realizado. Aos poucos, ia passando para a querida companheira de luta da família de nome Santa, que me ajuda até hoje, como ela deveria cuidar de mim quando ele partisse. Claro que eu não sabia... Minha mãe, por ironia do destino, também veio a falecer em meus braços, em um domingo ensolarado, enquanto eu lhe dava banho e, por mais absurdo ainda, dias depois de meu marido ter falecido. Neste meio tempo, minha única tia, irmã de minha mãe, aquela que todos os dias me ligava para me falar algo positivo me dar um pouco de amor, veio falecer quase junto. Amigos, hoje, fazem três anos de tudo, estou novamente vivendo com limitações, depois de uma depressão, um apagão mas a certeza do dever realizado e com muito amor. Não me considero perdedora, pois na batalha da vida, meu amor prolongou a vida deles de forma especial, com muita qualidade. Hoje, luto por meu irmão, agradeço por tê-lo, tão especial, tão afetuoso, e alegre. Minhas filhas que não consigo descrever o que representam em minha vida, e não poderia faltar meus queridos amigos, de tantos anos que a vida me devolveu, e Se para muitas pessoas a idéia de ter participado de concursos de beleza, representem futilidades, saibam que me realizei por ter dado esta alegria a meu pai, e por ter feito amigos de verdade trinta e cinco anos. Obrigado e, quero terminar pedindo que sempre que tiverem uma missão pela frente, pense em um dia de cada vez, e coloquem o coração junto. Um beijo á todos!