SURDOCEGUEIRA: PROCESSO SISTEMATIZADO DE INTERVENÇÃO E AVALIAÇÃO Elaine Samora Carvalho e França Antunes Mariane Della Coletta Savioli Garzotti de Araujo Márcia Aparecida Húngaro Duarte Faria Secretária Municipal de Araçatuba Eixo: 21 Surdocegueira Comunicação oral RESUMO: Apesar de a educação do surdocego existir no Brasil há mais de quarenta anos, a realidade nacional é de um grande número de pessoas surdocegas com atendimento inadequado devido à falta de informação; à ausência de serviços de saúde e educação e à falta de professores especializados. O presente estudo tem por objetivo descrever a realização de um processo sistematizado de intervenção junto a aluno surdocego e identificar estratégias para organizar e mediar situações de aprendizagem e autonomia deste aluno. O processo metodológico que envolveu duas professoras (ensino comum e especial) e um aluno surdocego da educação infantil, foi desenvolvido em desenvolvido em três etapas, a saber: uma avaliação inicial do repertório do aluno tendo em vista a comunicação e conhecimentos relacionados à pré-escola; segundo: a intervenção planejada, tendo em vista a avaliação inicial e uma avaliação final, após a realização da intervenção. De acordo com os resultados constatamos que a utilização de recursos pedagógicos e alternativos de comunicação contribui no desenvolvimento de áreas acadêmicas e de comunicação do aluno surdocego. A partir do planejamento sistematizado das atividades, identificamos estratégias que podem atender as necessidades deste aluno, em relação ao acesso ao conhecimento acadêmico e desenvolvimento social. Palavras chaves: surdocegueira, avaliação, intervenção INTRODUÇÃO Concebe-se a educação como uma prática social necessária à existência e manutenção do funcionamento das sociedades humanas na medida em que organiza as formas de transmissão das culturas humanas para as futuras gerações, garantindo a sua continuidade. Ao nascer, o ser humano é lançado em um mundo contendo todas as informações que foram construídas ao longo da existência da humanidade e que vão ser encontradas nas relações interpessoais em que ele se envolver, na linguagem, no pensamento, nos objetos e no seu uso etc. Dessa forma, a sua existência individual será desenvolvida a partir do mundo social que o modifica e no qual ele também deixará a sua marca. Assim, o indivíduo modifica a herança recebida ao abrir espaço para a crítica e a inovação. Frente aos desafios incessantes, a humanidade sempre se renova, encontrando novas saídas e, consequentemente, construindo novas aprendizagens que possibilitam sua evolução ao longo do tempo. Os indivíduos não aprendem de forma isolada, mas em conjunto com os seus semelhantes, vinculados à sua época e ao seu tempo histórico. Nessa perspectiva, os seres humanos são compreendidos enquanto seres históricos e sociais que têm como características principais a capacidade de aprender e se desenvolver de forma interdependente no grupo social. Nesse direcionamento a educação inclusiva está relacionada a uma concepção e a práticas da escola comum que mudam a lógica do processo de escolarização, a sua organização e o estatuto dos saberes que são objeto do ensino formal. Tendo em vista tais apontamentos a Educação Especial é entendida como um modalidade que não substitui a escolarização do aluno com deficiência. Com este novo conceito e está nova prática de Educação Especial, o município pesquisado, por meio de sua Secretaria Municipal de Educação, aderiu a Política Nacional de Educação Especial, instituindo o Atendimento Educacional Especializado (AEE) nas escolas de Ensino Infantil e Ensino Fundamental, ocasionando mudanças e transformações das práticas e ações pedagógicas para viabilizar a inclusão escolar. Exigindo novas elaborações no âmbito de projetos escolares, desencadeando ações e intervenções para que a escola se torne um espaço de aprendizagem. Dentre o público participante das intervenções do AEE, está o aluno com surdocegueira. De acordo com McInnes (1999) a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a este aluno um sistema individual para lhe dar suporte na aprendizagem. O Grupo Brasil define surdocegueira como: Uma deficiência que apresenta perda auditiva e visual concomitantemente em diferentes graus, levando a pessoa surdocega a desenvolver várias formas de comunicação para entender e interagir com as pessoas e o meio ambiente, de forma a ter acesso às informações, vida social com qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho (GRUPO BRASIL, 2003, p. 01). Apesar de a educação do surdocego existir no Brasil há mais de quarenta anos, a realidade nacional é de um grande número de pessoas surdocegas com atendimento inadequado devido à falta de informação; à ausência de serviços de saúde e educação e à falta de professores especializados. Estudar o processo escolar das pessoas com surdocegueira nos reporta não só a questões referentes aos seus limites e possibilidades, como também aos preconceitos existentes nas atitudes da sociedade para com elas. Essas pessoas enfrentam inúmeros entraves para participarem da educação escolar, decorrentes da especificidade do limite que a perda da visão e audição provoca e da forma como se estruturam as propostas educacionais das escolas. Muitos alunos surdocego são prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial cognitivo, sócio-afetivo, linguístico e políticocultural e ter perdas consideráveis no desenvolvimento da aprendizagem, ficando aquém dos demais colegas de escola. Por meio de estudos de diversos autores/pesquisadores contemporâneos, pontualmente realizados na última década do século XX e início do século XXI, pudemos encontrar algumas contribuições à educação escolar de alunos com surdocegueira na escola comum. Verificamos ainda que existem, também, estudos que se posicionam contrários à escola inclusiva para alunos com surdocegueira, em decorrência da compreensão das formas de representação, bem como das propostas que são desenvolvidas para atendê-los, na escola comum. OBJETIVOS Descrever a realização de um processo sistematizado de intervenção junto a aluno surdocego e identificar estratégias para organizar e mediar situações de aprendizagem e autonomia deste aluno. METODOLOGIA Esse processo foi consubstanciado pela abordagem qualitativa (BOGDAN E BIKIEN, 1994), desenvolvido em três etapas, a saber: Primeiro: A avaliação inicial do repertório do aluno tendo em vista a comunicação e conhecimentos relacionados à pré-escola; Segundo: a intervenção planejada, tendo em vista a avaliação inicial e Terceiro: a avaliação final, após a realização da intervenção. A pesquisa foi realizada em uma escola de um município no noroeste do estado de São Paulo. Tendo como participantes duas profissionais da educação (uma professora de educação especial e uma professora de sala regular) e um aluno surdocego matriculado na educação infantil. Os participantes e os pais do aluno assinaram o Termo de Livre Consentimento Esclarecido. O período de realização desta pesquisa foram de 13 meses (de março de 2011 à abril de 2012). As técnicas utilizadas ao longo desse processo foram: entrevista semiestruturada com os pais do aluno e a observação participativa junto as professoras do aluno. A entrevista semi-estruturada traz como uma de suas características a elaboração prévia de um roteiro (Manzini, 2003). O roteiro de acordo com autor tem a função de auxiliar o pesquisador a conduzir a entrevista para o objetivo pretendido. O roteiro poderá ter outras funções, tais como: ser um elemento que auxilia o pesquisador a se organizar antes e no momento da entrevista e ser um elemento que auxilia, indiretamente, o entrevistado a fornecer a informação de forma mais precisa e com maior facilidade. O autor acrescenta que o roteiro poderá garantir, por meio das perguntas a serem feitas na entrevista, a abrangência total dos conceitos a serem estudados e que este pode auxiliar, parcialmente, na organização da interação social no momento da entrevista. Para Fujisawa et al. (2009) a observação permite a descrição do fenômeno em foco do contexto (ambiente físico e social), e das circunstâncias. Assim, as observações realizadas durante o desenvolvimento das etapas ocorrerão de forma participativas relacionadas à ação colaborativa desenvolvida pela pesquisadora e as professoras participantes. Buscando capturar o máximo das interações (gestos e diálogos) entre os observados (alunos e professores) no seu contexto. Ainda sobre esta técnica Moreira e Caleffe (2008) explicam esta possibilita e proporciona a melhor maneira de obter uma imagem válida da realidade social. Os autores acrescentam que esta ação, proporciona estudos mais aprofundados e podem gerar novas ideias e visões em relação ao tema investigado, compreendendo o que os professores e alunos dizem e fazem, para descobrir os fatores que determinam e influenciam as experiências destes sujeitos no contexto investigado. Portanto, para garantir a descrição do períodos observados as ações serão transcritas no instrumento Diário de Campo, compreendendo de acordo com Bogdan e Bikien (1994) que a parte descritiva das anotações de campo, de longe a mais extensa, representa o melhor esforço do investigador para registrar objetivamente os detalhes do que ocorreu no campo. Sendo assim a opção por utilizar um instrumento tem como propósito prever uma organização dos dados ainda em processo de coleta. RESULTADOS E DISCUSSÃO O aluno participante desta pesquisa é surdocego, encontra-se no processo pré-linguístico, é do sexo masculino, com idade cronológica de quatro anos. O seu comprometimento auditivo e visual foi decorrente da Síndrome Amaurose Congênita de Leber (ACL) com caráter hereditário, sendo a cegueira severa, possuindo “nistágmo” e estrabismo. Ele apenas enxerga vultos e feixes de luz (tendo em vista o diagnóstico do oftalmologista o aluno poderá perder futuramente este resquício visual). Quanto à surdez é bilateral, sendo profunda do lado esquerdo e severa do lado direito. As atividades realizadas durante as três etapas foram desenvolvidas nos seguintes espaços: sala de recursos multifuncionais; zoológico, Parque Lagoa das Flores, entre outros. Nas áreas externas a escola, contamos com a presença da cuidadora. A partir de materiais recicláveis e materiais escolares (tecidos, material emborrachado, botões de camisa na cor preta, papel cartão preto nas dimensões de 17 X 10 cm), os recursos pedagógicos (fichas com alfabeto texturizado para a escrita do nome; fichas tridimensionais da rotina-diária com objetos de referência colados nelas) foram confeccionados e organizados em conjunto pelas professoras de sala comum e da professora de educação especial, e foram utilizados em atividades planejadas de acordo com necessidade de cada situação de aprendizagem (alfabetização em Braille, reconhecimento de formas geométricas, noções espaciais, entre outros). Outros recursos confeccionados foram: Caixas de memória (com caixas de sapatos). Estas foram identificadas com as suas respectivas representações. Dentro das caixas foram colocados os objetos e materiais referentes às atividades programadas e Cartões tridimensionais de identificação de ambiente. A base destes cartões foi feita em papel cartão preto nas dimensões de 22 X 17cm. Em cima desta base foram coladas miniaturas de objetos que faziam referência à atividade desenvolvida no interior da sala. Primeira Etapa: Avaliação inicial Primeiramente foi realizada uma avaliação, a qual consistiu na realização de uma entrevista com os pais do aluno; análise de exames clínicos; realização de uma anamnese com aluno, respeitando as características individuais de sua aprendizagem (com base no mês anterior). Ainda nesta etapa buscamos avaliar os seguintes aspectos do desenvolvimento: a realização das atividades de vida diária (independência), coordenação motora; orientação espaço-temporal e mobilidade; linguagem, socialização e cognição, esquema corporal (conhece e registra as partes do próprio corpo), estimulação auditiva (percebe, localiza, discrimina sons? Quais?), leitura (reconhece letras, palavras em códigos diferentes?), escrita (realiza escrita espontânea, faz uso de pseudoletras ou letras?) e matemática (conhece os algarismos? quantifica?). Os aspectos e áreas mencionadas nos possibilitaram avaliar os recursos de comunicação receptiva e expressiva utilizados pelo aluno. Observamos durante as atividades propostas para esta avaliação como o aluno manipulava os objetos, ou seja, se o fazia ao acaso, se os utilizava inadequadamente, não distinguindo nem analisando como são; se utilizava os objetos de maneira funcional; se os manipulava de forma criativa e simbólica; se brincava com os objetos reinventando coisas do mundo. Todas as atividades foram apresentadas para o aluno por meio dos seguintes recursos de comunicação: sinal, gesto, fala, expressão facial e corporal, contração ou relaxamento da musculatura, objetos de referência, escrita impressa e em textura, e em muitas vezes foi necessário demonstrar o que estava sendo solicitado. Segunda Etapa: Intervenção Após a análise do desempenho e das habilidades do aluno durante a avaliação inicial, escolhemos para a realização das intervenções as seguintes áreas do desenvolvimento acadêmico: linguagem (exposição a vários meios de comunicação alternativa), socialização (ampliação dos contatos com ambientes e pessoas), psicomotricidade (esquema corporal, orientação espacial, temporal e mobilidade); leitura; escrita e matemática. Outras habilidades trabalhadas foram aspectos de AVD; treino de visão subnormal (TVS) e treino auditivo com base na integralização dos conteúdos. Vale destacar que durante todo o processo, foi aproveitado o resíduo visual (percebe somente sombras) do aluno. Para o planejamento das intervenções o método da estimulação multisensorial (EMS) foi utilizado durante as atividades buscando articular os conteúdos acadêmicos e habilidades presentes em uma tarefa a ser realizada pelo aluno. De forma que fosse previsto uma apresentação diferenciada da mesma informação através da ação, do pensar e do fazer associados ao conteúdo emocional e motivacional (BRUNER, 1976). Neste processo, tivemos o cuidado de reconhecer e determinar a via de sentido mais eficiente para o aluno (via tátil-cinestésica ). Para tanto, estabeleceu uma rotina de trabalho que teve por objetivo situar o aluno num espaço e num tempo definido e concreto como orienta Cader e Costa, 2000. As atividades tiveram em comum os seguintes procedimentos: a) demonstração contextual por meio da representação corporal do conteúdo; segmentação de uma palavra (sinal) geradora presente na representação; repetição da representação com ênfase na palavra (sinal); apresentação do registro alfabético em escrita do nome em relevo associado a letras avulsas; fixação escrita no plano vertical e, depois no horizontal, conforme Séguin (1846 apud Costa, 1994); representação sóciocultural do significado; generalização e aplicação da aprendizagem. Em relação ao ensino de palavras, as atividades tiveram em comum os seguintes procedimentos: a) demonstração contextual por meio de representação corporal total da situação (CADER, 1997). Durante a intervenção pegávamos a bolsa e avisávamos que ia sair, andar etc. No caminho, há o encontro de amigos, ao encontrá-lo, inicia-se os cumprimentos /Oi/ (fala acompanhada de movimentos e expressões corporais), dando dois beijos na face da mesma. Esta cena se repetia várias vezes, alternando os participantes, até que o aluno conseguisse compreender o significado social e cultural da referida expressão. Neste exemplo, têm-se: movimento, ação global; fala; representação cultural e social do ato (beijos na face, de acordo com o costume local); b) repetição da brincadeira, usada no item 1 encontro casual (no caso de dois amigos); c) apresentação do registro do nome da criança em escrita ampliada e em autorrelevo associado a letras avulsas; d) fixação do registro escrito da palavra no plano vertical (lousa), depois no horizontal; e) representação contextual, social e cultural do significado durante o recreio; f) fixação do registro escrito no plano horizontal, mediante diferentes formas de ditado: - ditado tátil (a professora apontava para o aluno e o mesmo realizava a leitura tátil do seu nome). Caso houvesse alguma correção, o aluno era orientado a realizar a comparação entre o modelo correto e o próprio registro. g) generalização e aplicação da aprendizagem. No exemplo citado da palavra "Oi", a professora estimulava o aluno a cumprimentar pessoas conhecidas na escola. Para isto, juntos, durante o recreio, a professora do AEE cumprimentava as pessoas de forma que o aluno conseguisse acompanhar a expressão corporal. Depois o aluno era estimulado a repetir a ação, através dos seguintes passos: realizava o sinal no espaço, tendo a mão do aluno sobreposta à mão da professora; tocava com o dedo indicador a parte inferior dos lábios do aluno, impulsionando-o para frente, para lembrá-la da emissão da palavra. Os procedimentos realizados priorizaram a ação (movimento e representação), estimulou à síntese visual (gráfica), a síntese oro-tátil (vibração da emissão verbal). Além disto, incentivou a utilização de diferentes formas de registro (soletração dactilológica, fonológica, gráfica, letras avulsas), representação em Libras, aplicação e generalização do significado contextual, social e cultural da palavra. Buscamos também manter uma rotina de trabalho marcada pela regularidade e frequência destes procedimentos, com vistas a ampliar e diversificar o vocabulário. A título de exemplo descrevemos outras atividades que fizeram parte da rotina. As atividades de orientação espacial, tiveram por objetivos: explorar as relações entre os objetos no espaço; locomover-se; quantificar as portas existentes a partir de um referencial; identificar o espaço através dos indícios táteis e cinestésicos associados à via visual durante a locomoção, conforme orienta Huebner et al. (1995). O aluno foi estimulado e orientado a respeito das pistas táteis presentes na parede e no piso da escola, bem como quantificar as portas. Assim, com a mão fechada e tendo a mão da professora abarcando a mão do aluno, liberavase para cada porta um dedo da mão do aluno e os demais permaneciam na posição original. No início, esta atividade foi realizada de maneira co-ativa, com ajuda total, depois com ajuda parcial, por fim a realização era independente. Outra atividade consistiu no uso de objetos de referência para identificar as salas da escola segundo a modalidade de serviço oferecido. Esta, teve o objetivo de proporcionar ao aluno à oportunidade de comparar os objetos, identificar a mudança do espaço físico e orientar-se em relação à sequência de atividades e a modalidade do atendimento, bem como se deslocar de uma sala para outra de forma autônoma. Deste modo, ele era estimulado a encontrar as salas, ou ainda, a levar ou buscar material em salas diferentes. A Roda de Conversa teve por objetivo ampliar o vocabulário em sinais, e expressões mediante a alternância de turnos de conversação. Inicialmente, estes momentos se restringiram a perguntas realizadas pela professora com indução das respostas. A utilização do Calendário teve por objetivo possibilitar ao aluno condições para se situar em relação a: atividade (começo, meio e fim); sucessão das situações de aprendizagem em espaços distintos e com outros profissionais. Enfatizou-se um tempo dinâmico, envolvendo relações de passado, presente e futuro dos acontecimentos. Para tanto, utilizaram-se os seguintes materiais: ficha tridimensional: rotina diária e do tempo. Esta atividade foi dividida em duas partes: tempo; organização da caixa de memória. O item referente ao tempo foi explorado em seis etapas1: pegar as fichas tempo; ir para o pátio; retornar à sala de aula; guardar as fichas. Inicialmente realizávamos orientações, ao final o aluno as realizavam sem ajuda; Chamada: esta atividade era realizada com fichas e teve por objetivo trabalhar a escrita do nome despertando o interesse pelo próprio nome, reconhecendo-o enquanto uma identidade pessoal e intransferível. A chamada constituiu-se em uma estratégia de ensino para conteúdos específicos, entre eles: reconhecer as letras do alfabeto ampliadas e texturizadas; comparar as letras no próprio nome; identificar a letra inicial e final; realizar o registro espontâneo do nome. Vale destacar que o procedimento consistia na 1 No final do primeiro semestre estas fichas passaram a orientar a organização das caixas de memória, só depois desta organização que as fichas (rotina diária) eram guardadas no quadro de pregas apresentação de uma ficha por vez. Porém às vezes as fichas eram apresentadas na mesa, outras vezes realizamos atividade em pé, no mesmo plano do aluno. Após a identificação e registro as fichas eram colocadas no quadro de pregas. Bombom de leite em pó, para estímulo tátil e gustativo; aquisição de conceito para esquema corporal com bonecos, material em madeira, contornos e massinha de modelar. Desenvolvimento de autonomia e independência para a alimentação, ingestão de líquidos, para a observação e estímulo da sensibilidade (quente e frio), estímulo olfativo. Orientação e mobilidade. Foi ensinado o uso do banheiro e forma de comunicação por meio de objetos de referência para que a criança pudesse expressar a suas necessidades. Terceira Etapa: Avaliação final Após a realização da etapa de intervenção, foi realizada uma avaliação final com um grau de dificuldades superior da avaliação inicial. Em relação aos aspectos psicomotores e tendo em vista o esquema corporal, foi proposto ao aluno montar um quebra cabeça do corpo humano, tendo como orientação sentir cada parte do corpo no professor e depois procurá-la nas peças sobre a mesa. Quanto à leitura foram disponibilizadas várias letras (em vários alfabetos de texturas e tamanhos diferentes) com as letras somente do seu nome. Avaliamos também a capacidade do aluno em reconhecer, decodificar e conceituar o seu nome. Em matemática avaliamos a distinção dos numerais de letras, relação entre quantidade e sua representação numérica, organização da sequência de 1 a 5 na ordem crescente, participação em jogos respeitando as regras dos mesmos. Percebemos que por meio da realização da intervenção junto ao aluno com surdocegueira foi possível uma aproximação do trabalho realizado pela professora da sala comum e a professora de educação especial. No qual houve um trabalho colaborativo e compartilhado para garantir a aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades deste aluno. Durante este processo, identificamos que a participação da família é essencial, pois são orientados a criar oportunidades de vivências e de experiências para favorecer expansão e conhecimento do mundo, além do auxilio no restabelecimento da auto-estima e da confiança em outros ambientes sociais. Outro fator importante é o atendimento desde a mais tenra idade e com os subsídios necessários para orientação da família do aluno surdocego e pré-linguístico com comprometimentos na comunicação, favorece sua inclusão social. CONCLUSÃO Esta pesquisa nos permitiu constatar que a falta de informação na área é uma das barreiras, porém a utilização de recursos pedagógicos e alternativos de comunicação, como LIBRAS nas mãos contribui no desenvolvimento de áreas acadêmicas e de comunicação do aluno surdocego. Evidenciamos que o planejamento sistematizado das atividades sensoriais, nos possibilitou identificar as estratégias que são mais eficazes e atendem as necessidades deste aluno, em relação ao acesso ao conhecimento acadêmico e desenvolvimento social, propiciando sua independência e autonomia. Constatamos ainda que o ambiente escolar, o trabalho colaborativo entre a professora de educação especial e de sala regular, foi outro fator imprescindível no avanço alcançado pelo aluno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, I. A educação de estudantes portadores de surdocegueira. In: MASINI, E. A. f. S. (Org.), Dos sentidos, pelos sentidos, para os sentidos. São Paulo: Vetor. 2002. AMARAL, I.; DUARTE, F.; GONÇALVES, A.; NUNES, C.; SARAMAGO, A. Avaliação e Intervenção em Multi-deficiência. Centro de Recursos para a Multideficiência. Ministério da Educação. Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular. Bogdan, R., Biklen, S., (1994). 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