14 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto Exigências climáticas do milho em Sistema Plantio Direto Wilson Jesus da Silva 1 Luiz Marcelo Aguiar Sans? Paulo César Magalhães3 Frederico Ozanan Machado Durões" Resumo - A produtividade do milho depende do número de grãos potencialmente capa- zes de se desenvolver, e o enchimento desses grãos, dos fatores ambientais. A intensidade com que a cultura do milho expressa seu potencial genético é determinada por sua interação com o regime de radiação solar, com a temperatura, com o déficit de pressão de vapor, com a velocidade do vento e com as características físico-hídricas do solo. Aparentemente, não existe limite máximo de temperatura para a produção de milho, no entanto, a produtividade tende a diminuir com o aumento dela. As exigências térmicas do milho, da emergência à maturação fisiológica, associadas ao conhecimento da fenologia da cultura, podem definir a época de plantio, evitando as conseqüências dos veranicos, a utilização de insumos, fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas e da colheita dos grãos ou silagem. No plantio direto na palha e com a rotação de culturas é necessário manejar a época de plantio e as densidades das plantas. O consumo total de água pelas plantas de milho varia muito com o nível de manejo e com a disponibilidade de água no solo. A quantidade de água necessária à planta do milho poderá ser estimada utilizando-se dados climáticos. Palavras-chave: Zea mays. Radiação solar. Temperatura. Disponibilidade hídrica. Evapotranspiração. Coeficiente de cultura. Ecofisiologia vegetal. INTRODUÇÃO O milho, mediante seleção de genóti- dições climáticas em que a cultura é sub- todo, até região superumida, como a Ama- metida constituem zônia, onde há excessos preponderantes fato- de umidade e pos e com o aprimoramento de métodos de res de produção (FANCELLI; DOURADO temperaturas elevadas durante todo o ano. manejo, vem sendo cultivado em regiões NETO, 2000). Além da variabilidade espacial climática compreendidas entre os paralelos 58° N (Canadá e Rússia) e 40° S (Argentina), dis- O Brasil por sua enorme expansão terri- do Brasil, defronta-se ainda com a variabi- torial, o que lhe confere a característica de lidade temporal, ou seja, grandes variações tribuídas nas mais diversas altitudes, abai- país continental, tem variabilidade ambien- climáticas dentro do ano ou entre anos. xo do nível do mar (região do mar Cáspio) tal muito grande, principalmente no que se Portanto, como o requerimento de energia até as regiões com 2.500 m de altitude (re- refere às condições térmicas e hídricas. e de água pelo milho está condicionado gião dos Andes Peruano). Independente Existe desde região semi-árida como os ser- às condições ambientais, da tecnologia aplicada, o período e as con- tões nordestinos, de vai variar entre as diferentes condições 1Engº Agrº, D.Se., Pesq. EMBRAPAlEPAMIG-CTTp, uberaba.com.br quente e seca o tempo Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG Correio eletrônico: a produtivida- wilson@epamig 2Engº Florestal, D.Sc., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-M'G Correio eletrônico: [email protected] 3Engº Agrº, Ph.D., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-M'G. Correio eletrônico: [email protected] 4Engº Agrº, Pôs-Doe, Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-M'G Correio eletrônico:[email protected] Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul.lago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 15 edafoclimáticas. Deve-se, também, ressal- O meio ambiente da cultura é complexo tar a resposta diferencial da planta, devido e difícil de ser conhecido, devido ao seu menor massa vegetativa. as suas características ecofisiológicas e ao dinamismo e variações constantes. Porém, rísticas morfológicas manejo que irá receber por influenciarem seu importante papel no crescimento, de- sombreamento dentro da cultura, o que per- na eficiência do uso da energia e da água. senvolvimento mite pequeno espaçamento O milho, por ser gramínea anual, pertencente ao grupo de plantas do tipo C4, e produção dos grãos de dimento. São plantas de menor altura e Estas caracte- determinam menor entre plantas milho não permite que seja desprezado, para melhor aproveitamento de luz. Mesmo quando se quer maximizar a produção. Co- entre cultivares normais existem diferenças possui ampla adaptação climática. Con- mo em todas as culturas, o rendimento dos de densidade, conforme a arquitetura da forme o fotoperíodo, esse cereal é consi- grãos de milho está intimamente ligado a planta. Sempre que a radiação fotossinte- derado planta neutra ou de dias curtos. fatores do meio, principalmente os meteo- ticamente ativa interceptada for reduzida e rológicos. Assim, neste estudo, serão dis- houver disponibilidade hídrica e de nutri- do milho tem apresentado alta expansão, cutidos a ecofisiologia da cultura do milho entes, observa-se tornando-se e a ação da radiação, da temperatura, o uso ser aumentada para atingir o máximo rendi- Esta expansão deve-se ao crescimento da de água pela planta e, posteriormente, o mento de grãos. Verifica-se tendência de área cultivada e, principalmente, ao respal- efeito da limitação ou excesso desses ele- utilizar cada vez mais espaçamentos redu- do dado pela pesquisa no que se refere ao mentos na produção. zidos para aumentar a eficiência na utili- No estado de Minas Gerais, a cultura importante fonte de divisa. melhoramento genético, controle fitossaniEFEITOS DA RADIAÇÃO tio. Dentre os diversos fatores que afetam E EXIGÊNCIAS SOLAR TÉRMICAS a produção agrícola, os elementos meteopodem apresentar variações mais bruscas deve zação de luz solar, água, nutrientes e obter tário, manejo de solo e densidade de plan- rológicos destacam-se entre aqueles que que a densidade melhor controle de plantas daninhas, em função do fechamento rápido dos espaços disponíveis e redução do impacto das chu- Radiação solar vas e dos raios solares no solo, evitando A avaliação da intensidade da radiação erosões hídrica e solar. Já existem agricul- de ano para ano. Essas variações são fon- solar sobre os solos tropicais é importante tores usando para o milho o mesmo espaça- tes geradoras de oscilações na produção para a agricultura, passando a exigir nova mento preconizado para a soja (ARGENTA agrícola, abordagem técnica. A radiação solar pode et al., 200 1). causando expectativa sobre a produção final de grãos nos setores pro- ser identificada dutivo, de transporte, comercialização como erosão solar, capaz de colocá-Ia em plantas é uma das práticas de manejo mais evidência junto a outros fatores condi cio- importantes para otimizar o rendimento de e armazenamento. por conceito específico, A escolha adequada do arranjo de nantes da produção tropical, como aquela grãos de milho, pois afeta diretamente a de mecanização intensiva, como aração e causada pela água ou pelo vento. Não há interceptação da radiação solar, fator deter- uso de grades pesadas, tem destruído o como realizar agricultura produtiva e sus- minante da produtividade (ARGENTA et solo, expondo-o a intensas erosões hídri- tentada nos trópicos sem levar em conta a al., 2001). Cabe destacar que a densidade O emprego de métodos inadequados cas, eólica e solar, entre outros. Técnicas erosão solar. Na Europa Central (latitude ótima é aquela que apresenta área máxima eficientes de redução dessas erosões, como de 47° a 34° N), a intensidade da radiação de interceptação da radiação solar (índice plantio direto na palha, evolução no rela- solar é de 3.349 a4.l86 MJ m". Na Europa de área foliar máximo), sem provocar auto- cionamento com o solo, motivam cada vez Oriental (latitude de 41° 20' a 53° 30' N) é de sobreamento. Setter e Flannigan (1986), em mais agricultores, mas ainda são relativa- 3.349 a 5.204 MJ m-2• No Brasil (latitude de experimento onde se utilizou sombreamento mente pouco usadas. 5° N a 34° S) fica entre 5.024 e 6.699 MJ m-2, artificial durante o crescimento dos grãos, Quando há interesse em conhecer qual o comportamento da cultura em relação portanto, 50% mais forte que na Europa não observaram alterações na taxa de cres- Central (BLEY JUNIOR, 1999) cimento, mas reduções no tempo de cres- ao clima, procura-se determinar quais as A intensidade com que a cultura do mi- funções biológicas responsáveis pelo seu lho expressa seu potencial genético é de- A produtividade dos grãos de milho (Y), crescimento e desenvolvimento, que estão terminada por sua interação com o regime segundo Andrade (1992), pode ser expres- diretamente ligadas com os diferentes ele- de radiação solar, temperatura do ar, déficit sa pela seguinte equação: mentos meteorológicos. Especificamente, de pressão de vapor, velocidade do vento com o objetivo de determinar a influência e características físico-hídricas do solo. dos elementos meteorológicos na produ- Cultivares precoces, principalmente as cimento, resultando em grãos mais leves. Y = Ro . Ei . Ec . p, em que "Ro" é a radiação solar incidente; ção de grãos, torna-se necessário associar superprecoces exigem maior densidade de "Ei" é a eficiência da interceptação da radia- os estudos agroclimáticos plantio em relação às cultivares normais ou ção solar incidente; "Ec" é a eficiência de tardias, para expressarem seu máximo ren- conversão da radiação solar interceptada com as obser- vações fenológicas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14·25, jul./ago. 2006 16 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto pela biomassa vegetal e "p" é a partição de tropicais e subtropicais, é essencial repor toma o período compreendido entre 15 dias fotoassimilados os estoques de carbono (BLEY JUNIOR, antes e 15 dias após o aparecimento de interesse comercial. Acontece que a radiação solar incidente é função da localização geográfica da área 1999). inflorescência Leopold (1964) considera a intensidade masculina da extremamente crítico. Daí, a razão pela qual esta fase deva de produção (latitude, longitude e altitu- luminosa como a principal variável que ser criteriosamente planejada, com o intuito de), bem como da época de semeadura ao afeta o crescimento e o desenvolvimento de coincidir com o período estacional que apresente temperaturas favoráveis de 25°C a 300C (FRATIINI, 1975). logo do ano. A eficiência da interceptação das plantas. Para ele, a temperatura tem depende da idade da planta, da arquite- efeitos muito complexos sobre os vegetais, tura, do arranjo espacial das plantas e da interagindo com a luz e a água. A tempe- No período de enchimento dos grãos, população empregada, ao passo que a ratura é o aspecto mais expressivo da inten- a temperatura é o elemento do ambiente eficiência de conversão, dentre outros sidade da energia calorífica. De acordo com que mais afeta o seu rendimento, devido fatores, depende principalmente da tempe- Shaw (1977), as maiores produções de mi- ao efeito dela na taxa de acúmulo de massa ratura. A participação lho ocorrem onde as temperaturas nos me- seca nos grãos. Quando a acumulação de dos fotoassimila- dos é função do genótipo e das relações ses mais quentes oscilam de 21°C a 27°C. massa seca nos grãos ocorre com tempe- de fonte-dreno (FANCELLI; DOURADO Aparentemente, não existe um limite máxi- raturas em declínio, ou seja, em plantios NETO, 2(00). No plantio direto na palha e com rotação de culturas, é necessário manejar a épo- mo de temperatura para a produção de mi- muito tardios, a taxa de crescimento efetiva lho, no entanto, a produtividade é menor. A diminuição progressiva da tem- tende a diminuir com o aumento da temperatura. peratura após o pendoamento aumenta o ca de plantio e as densidades das plantas. O milho é cultura de clima quente e re- período efetivo de crescimento dos grãos, Em plantios mais cedo, é possível aumen- quer calor e umidade elevados, desde o tar a densidade de plantas, devido à maior plantio até o final da floração. Inúmeras evi- reduzindo sua taxa de crescimento e o seu peso final (MAGALHÃEs; JONES, 1990a). disponibilidade de radiação solar, em vir- dências experimentais apontam a tempe- O tempo quente não interfere na acelera- tude da maior área foliar. ratura como sendo elemento de produção ção do amadurecimento. Com base em da- mais importante e decisivo para o desenvol- dos experimentais, Fancelli e Dourado Neto vimento do milho. Em regiões cujo verão (2000) relatam que a cada grau de tempera- Temperatura As variações de temperatura no solo, apresenta temperatura média diária inferior tura média diária superior a 21,I°C, nos elemento estreitamente ligado à radiação a 19°C e noites com temperaturas médias primeiros 60 dias após a semeadura, pode solar, podem ser atenuadas por práticas cul- abaixo de l2,8°C, não são recomendadas apressar o florescimento em dois a três dias. turais agrícolas adequadas. para o cultivo de qualquer cultivar de milho A produtividade do milho pode ser redu- Em estudos realizados em Ponta Grossa (PR), em plantio convencional, a temperatura do solo a 3 em passou de 23°C, às 8 horas, para 43°C, (FANCELLI; DOURADO NETO, 2(00). zida, bem como a composição protéica do Temperaturas do solo inferiores a 10°C grão pode ser alterada, em decorrência das e superiores a 42°C prejudicam sensivel- temperaturas acima de 35°C. Tal efeito está às 14 horas. No plantio direto na palha, nos mente a germinação, ao passo que aquelas relacionado com a diminuição da atividade mesmos horários, a variação foi de 19°C a entre 25°C e 30°C proporcionam as melho- de redutase do nitrato e, conseqüentemen- 36°C. Os microorganismos do solo não re- res condições te, interfere no processo de transformação sistem mais que algumas horas a tempe- dos processos de germinação das semen- do nitrogênio raturas acima de 40°C. A morte ou parali- tes e emergência das plântulas. A tempe- NETO, 2(00). sação de suas atividades interrompe o ciclo ratura durante o período que vai desde a para o desencadeamento (FANCELLI; DOURADO Em terrenos áridos, as temperaturas de transformação dos minerais em nutri- emergência até o aparecimento das flores é extremamente altas são prejudiciais ao mi- entes para as plantas (BLEY JUNIOR, 1999). muito importante para determinar a época lho. Nessa condição, as plantas são mais da floração. Noites frias desaceleram sensíveis às altas temperaturas Temperatura elevada, na faixa de 300Ca o na época 35°C aumenta a velocidade de decompo- crescimento anterior à floração (BERGER, da floração. A combinação de altas tem- sição da matéria orgânica liberando CO2 na 1%2). peraturas e baixas umidades pode causar atmosfera. Se os agricultores continuarem Por ocasião dos períodos de floresci- morte das folhas e flores, impedindo a poli- no sistema convencional de plantio, a maté- mento e de maturação, temperaturas médias nização. Temperaturas ria orgânica dos solos tropicais tende a se diárias superiores a 26°C podem promover reduzem apreciavelmente o rendimento do milho. abaixo de 12,8°C exaurir, pois não está havendo reposição a aceleração dessas fases, da mesma forma como nos ambientes intactos. Para manter que temperaturas inferiores a 15,5°C podem a atividade biológica nos solos e, com isso, prontamente retardá-Ias (BERGER, 1962). 24°C promovem consumo energético ele- sustentar a produção agrícola em solos O requerimento de temperaturas adequadas vado, em função do incremento da respi- Informe Agropecuário, Temperaturas Belo Horizonle, noturnas v.27, n.233, p.14-25, maiores que jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 17 ração celular, ocasionando menor saldo de ca temperatura base para todo o ciclo da padrão da demanda sazonal da atmosfera, fotoassimilados, na produtividade. Da mesma maneira, tem- planta por ser mais fácil a sua aplicação (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). A a evaporação. Pode-se utilizar o coeficiente peraturas acima de 32°C reduzem sensi- cultura do milho apresenta as seguintes cultural (Kc) para verificar esse diferencial velmente a germinação do grão de pólen, exigências térmicas em graus-dia, da emer- uso de água, uma vez que esse coeficien- por ocasião de sua emissão (FANCELLI; gência à maturação fisiológica (BRUNINI te integra os efeitos das características da DOURADO NETO, 2(00). et al., 1983; BERLATO et al., 1984; GAR- cultura no campo. No Gráfico 1, observa- CIA, 1993; FANCELLI; DOURADO NETO, se que há um padrão geral de consumo de 2000): água pelas plantas. Embora os valores com conseqüente queda Segundo Wislie (1962), a temperatura mínima para o crescimento satisfatório do milho é de 10°C, sendo que a ótima varia de ou seja, dos fatores físicos que governam máximos de Kc estejam entre 1,2 e 1,4, a a) híbridos tardios: graus-dia superior 28°C a 35°C e a máxima de, aproximadamen- literatura mostra valores inferiores a 0,9 a 890; (MATZENAUER et al., 1998) e acima de 2 te, 45°C. Este autor, ainda, considera que as maiores taxas de crescimento foram alcançadas entre 29°C e 32°C. O conceito de tem- b) híbridos precoce: graus-dia superior peratura ótima deve ser revisto com cautela, c) híbridos superprecoces: pois esta temperatura varia com o estádio não é a mesma para a floração ou frutificação. Verifica-se que a maioria dos genótipos atuais não se desenvolve em temperaturas inferiores a 10°C, todavia, segundo Berlato e Sutili (1976), a temperatura basal de genótipos tardios é maior do que a dos genótipos precoces. A temperatura quantifica, em valores numéricos, o nível de energia interna, o que genética, as diferentes curvas de Kc podem ser atribuídas aos métodos de estima- graus-dia tiva da evapotranspiração inferior a 830. de referência (MATZENAUER et al., 1998;PEREIRAet de desenvolvimento da planta. Por exemplo, a temperatura ótima para a germinação (KEIROZ, 2000). Além da variabilidade a 831 e inferior a 890; As exigências térmicas do milho, da al., 2005) e ao intervalo de tempo em que emergência à maturação fisiológica, associadas ao conhecimento foi estabelecido o coeficiente. da fenologia da Há divergência de valores dos Kc de cultura, podem definir a época de plantio, região para região, o que toma difícil a re- evitando as conseqüências dos veranicos, comendação de valores desse coeficiente, a utilização de insumos, fertilizantes, inse- para estimar o consumo de água pela cultura ticidas, fungicidas e herbicidas, e a época do milho. de colheita dos grãos ou de silagem. utilizar os coeficientes estabelecidos pela Food and Agriculture EXIGÊNCIAS Como sugestão, DE ÁGUA Organization of the United Nations (FAO), uma vez que os valores possibilita trocas com o sistema e o meio, O consumo de água pelo milho é um obtidos nas diversas regiões estão relati- provocando estímulos, ativando ou desa- diferencial nas fases de crescimento e de- vamente próximos dos encontrados pela tivando funções vitais (OMETO, 1981). senvolvimento da planta, sendo função do FAO. Segundo Villa Nova et al. (1972), a quantidade de energia exigida por uma cultura Kc em diferentes tem sido expressa em graus-dia, ou unidades térmicas de desenvolvimento, épocas de plantio 1.6 ou exi- r-:- 1.4 gência térmica, ou calórica, ou unidade de calor. A base teórica para essa técnica é 1.2 que, dos processos envolvidos no desenvolvimento da cultura, todos são sensíveis à temperatura do ar. Cabe enfatizar que a ~ ~GO 0.8 --PR resposta das plantas a essa temperatura -+-sp 0.6 obedece a limites inferior e superior e é -SAF FAO 0.4 extensiva ao desenvolvimento total da cul- Média tura. I 0.2 Está comprovado que o método satisfatório, para determinar as etapas de desen- 10 20 as exigências calóricas ou térmicas. Admitese que a temperatura 30 40 50 60 70 80 90 100 120 Dias após plantio volvimento do milho, leva em consideração Gráfico 1 - Valores do coeficiente cultural (Kc) para o milho safrinha (SAF) obtido em base possa variar Minas Gerais - Sete Lagoas (SL), Janaúba (JAN); Mato Grosso do Sul (MS), em função da idade ou da fase fenológica em Goiás (GO), no Paraná (PR) e em São Paulo (SP), e de critérios da FAO da planta, mas é comum adotar uma úni- Production Yearbook (1985) Inlorme Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14·25, jul./ago. 2006 Cultivo 18 o consumo do milho no Sistema Plantio Direto de uso de água podem resultar em dife- manda da planta. À medida que o solo vai varia muito com o nível de manejo e com rentes produtividades, secando, tanto a evaporação da superfície a disponibilidade ser o único elemento definidor. trabalhos total de água pelo milho de água no solo. Nos desenvolvidos por Robins e devido à água não do solo quanto a transpiração Pelos resultados de pesquisa, pode-se da planta decrescem. Essa fase é a que Tanner (1977) Domingo (1953), Deanmead e Shaw (1960) concluir que o milho expressa elevada denominou "fase de taxa de decréscimo". e Claassen e Shaw (1970); verificou-se que potencialidade de produção, quando atin- Vale a pena ressaltar que a zona radicular aproximadamente 50 dias após o plantio ge sua máxima área foliar, com a maior dis- não seca uniformemente nem mesmo quan- há redução de 3% na produção, por dia de ponibilidade de radiação solar e não tendo estresse. No estádio de florescimento, esse déficit hídrico no solo. Daí a importância do a planta atinge o ponto de murchamento (BORG, 1980). Essa falta de uniformidade decréscimo pode atingir 13%, com média de se conhecer e quantificar os processos da extração de água pela zona radicular tor- em tomo de 6%-7%. Se o grau de fertilida- que envolvem a relação planta-clima, prin- na difícil predizer o quanto de água será de for elevado, a redução da produtivida- cipalmente as relações hídricas. Cowan extraído para uma cultivar num determi- de pode cair para 3%-4% por dia. Durante (1965) resumiu no Gráfico 2 a influência da nado tipo de solo, sob condição climática o período de enchimento do grão, a redu- umidade no solo no consumo de água pela específica. Tentaram-se várias relações di- planta e ratifica que o consumo de água retas entre transpiração e depleção de água Nas diversas regiões brasileiras, o milho depende da demanda atmosférica. No Grá- no solo. Os melhores resultados consome, em média, de 450 a 600 mm de água fico 2, as quebras de linhas representam a çados encontram-se no Gráfico 3. O que se durante todo o seu ciclo (FEPAGRO, 1996; MATZENAUER et aI., 1998; FANCELLI; DOURADO NETO, 2000), exigindo um mí- existência de algum grau de estresse e as tem feito é relacionar ETIETmax com a água diferentes linhas representam os diferen- disponível tes consumos de água com diferentes de- solo. Água disponível, como preconizado, nimo de 350 mm, para que a produção não mandas de água pela atmosfera. não viabiliza a avaliação do efeito da distri- ção média é em tomo de 4% ao dia. alcan- numa dada profundidade do afetada. Em con- Pode-se estimar o uso de água pelo mi- buição de raízes na absorção de água, por- dição de clima quente e seco, o consumo lho a partir de dados climáticos, e levando- tanto, passou a utilizar água extraível que não excede a 3 mm dia", quando a planta se em conta duas condições: quando não nada mais é que o teor de água disponí- estiver com menos de 30 em de altura e, há déficit hídrico no solo e quando o solo vel na zona radicular. O Gráfico 3 repre- entre o período de florescimento até matu- não tem água suficiente para suprir a de- senta a média dos resultados medidos e seja significativamente ração, pode atingir valores de 5 a 7 mm. Daker (1970 apud FANCELLI; DOURADO NETO, 2000), afirmam que o consumo de 6 \ água pode ser de até 10 mm dia:' em cli- SOB POTENCIAL .-- DIURNO E, mas de intenso calor e baixíssima umidade. \ .-- SOB CONSTANTE POTENCIAL E, \ \ O estresse hídrico de dois dias no período \ \ de florescimento diminui o rendimento em \ 20% e de 4 a 8 dias em 50% (RESENDE et \ ---------, 4 al.,2003). \ \ No Rio Grande do Sul, Matzenauer et aI. (1998) verificaram que, em setembro, outubro e novembro, o milho consumiu 570,572 e 541 mm de água, respectivamente. Freitas et aI. (2004) constataram uma pro- \ co 'õ E \ (2) \ .s \ \ \ uI -----\ 2 \ \ dução de 6 mil kg de milho, com uso de 370 \ \ e 436 mm de água em duas épocas na Zona \ \ da Mata de Minas Gerais. No Semi-Árido do Nordeste brasileiro, \ \ Antonino et aI. (2000) obtiveram valores de evapotranspi- \ \ o -2 ração da ordem de 507 mm com uma média -8 Potencial -16 de água (bars) diária de 4,2 mm dia", porém nesse local este valor chega a 7,42 mm dia". Foram utilizados 2 m'' de água para cada quilo de massa produzida do milho. Valores similares Gráfico 2 - Transpiração direta da cultura e potencial de água no solo com três níveis de evapotranspiração potencial FONTE: Cowan (1965). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p. 14·25, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 19 encontrados na literatura. Nesse Gráfico 3 em que: podem-se ver duas fases distintas de con- e é a depleção sumo de água: Quando as depleções são maiores de água no solo; P e I são precipitação e irrigação, res- a) fase de taxa constante: decresce linearmente, com o aumento de depleção de água. pectivamente; quando o que o ponto crítico (Bc), ETIETmax consumo de água pela planta atinge ETIETmax pode ser expressa na b) fase de taxa de decréscimo seu máximo, ou seja, é governado (8c<8< pelas condições atmosféricas. Pode- 8t) ETIETmax se calcular a evapotranspiração (ET) em que: a partir da estimativa da evapotrans- 8t é a umidade no solo na capacidade piração máxima (ETmax): de campo. e= f ET ot - f (P + I) ôt = f ETmax equação: õt - = 1- S (8c-8) em que: S é a declividade da curva que na rea- f (P + I) lidade é: S = 1/ (8 - 8c) e é determiot nada experimentalmente para uma dada cultura e solo. Assim, a ET diária pode ser encon1,2 -+___ Lvd RU trada por meio da equação: Errnax ET=------------------exp r lt ETmax te 0,8 / (8t-8c)] x '"E DeterminaCjão da I- w 0,6 evcpotronsplrcçâo ~ referência de (Elo) 0,4 É vasta a literatura relativa aos métodos de estimar a evapotranspiração de referên0,2 cia(TANNER, 1967;PEREIRAetal., 1997; ALLEN etal., 1998). o +----,----,----,---,.---,----,----,----,---,.---. 100 90 80 70 60 50 Água extraivel 40 30 20 10 (%) (Asce) fez um estudo sobre os diversos métodos e concluiu que o da FAO-Penman Gráfico 3 - Consumo de água pela cultura do milho em: Latossolo Vermelho Distrófico Informe A American Society of Civil Engineers Monteith deve ser recomendado como (LVdl, neossolo flúvico (RUl, neossolo quartzarênico (RQl, Latossolo Vermelho standard, por ser aplicável em grande quan- eutrófico (LVen, chernossolo erbânico (ME) tidade de locais e climas e em situações Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 20 Cultivo do milho no Sistema que carecem de informações a curto período. sistema radicular definitivo independe da profundidade de plantio, uma vez que a Plantio Direto estádios iniciais do crescimento tivo. Assim, temperaturas vegeta- baixas podem Quando o solo apresenta teor de água emergência da planta vai depender do po- aumentar o tempo decorrente extraível acima de 30%-40%, a evapotrans- tencial máximo de alongamento de meso- estádio e outro, alongando, assim, o ciclo piração é dependente unicamente da de- cótilo (RITCHIE; HANWAY, 1989). manda atmosférica. Quando o teor de água a sistema radicular nodal inicia-se, entre um da cultura, podendo aumentar o número total de folhas, atrasar a formação do pen- nos solos é inferior a 30%-40% da água portanto, no estádio VE, e o alongamento dão e diminuir a disponibilidade de nutrien- extraível, pode-se também determinar o das primeiras raízes inicia-se no estádio tes para a planta. Uma chuva de granizo ou consumo de água pela cultura por meio de VI, indo até o R3, após o qual muito pouco vento nesse estádio vai ter muito pouco equações, em que a variável é a evapo- crescimento ocorre (MAGALHÃES et al., ou nenhum efeito na produção final de transpiração de referência. 1994). grãos, uma vez que o ponto de crescimento ESTÁDIOSDE DESENVOLVIMENTO Estádio VE - germinação e emergência Em condições normais de campo, as sementes de milho plantadas absorvem água, incham e começam a crescer. A radícula é a primeira a se alongar, seguida pelo coleóptilo com plúmula incluída. a está- No milho não é constatada a presença estará protegido no solo. Disponibilida- de fatores inibitórios ao processo de germi- de de água nesse estádio é fundamental, nação, visto que, sob condições ótimas de por outro lado o excesso de umidade ou umidade, os grãos podem germinar ime- encharcamento, diatamente após a maturidade fisiológica, cimento ainda se encontra abaixo da super- mesmo ainda estando presos à espiga. fície do solo, pode matar a planta em poucos Em síntese, na germinação ocorre a embebição da semente, com a conseqüente digestão das substâncias de reserva, síntese de enzimas e divisão celular. dio VE é atingido pela rápida elongação do mesocótilo, o qual empurra o coleóptilo em crescimento para a superfície do solo. quando o ponto de cres- dias (ALDRICH et al., 1982; MAGALHÃES et al., 2003). a controle de plantas daninhas nessa fase é fundamental para reduzir a competição por luz, água e nutrientes. Como o Estádio V3 - três folhas desenvolvidas sistema radicular está em pleno desenvolvimento, mostrando considerável porcen- Em condições de temperatura e umidade a estádio de três folhas completamente adequadas, a planta emerge dentro de qua- desenvolvidas ocorre com, aproximada- tro a cinco dias, porém, em condições de mente, duas semanas após o plantio. Nes- cultivo (profundas ou próximas à planta) baixa temperatura e pouca umidade, a ger- se estádio, o ponto de crescimento ainda poderão afetar a densidade e distribuição minação pode demorar até duas semanas se encontra abaixo da superfície do solo e de raízes com conseqüente redução na pro- ou mais. Assim que a emergência ocorre e a planta possui pouco caule formado. dutividade. Portanto, recomenda-se cautela a planta expõe a extremidade do coleóptilo, o mesocótilo pára de crescer. a sistema radicular seminal, que são as raízes oriundas diretamente da semente, tem o seu crescimento nesta fase e a profundidade onde elas se encontram depende da profundidade do plantio. a crescimento Pêlos radiculares do sistema radicular nodal estão agora em crescimento e o desenvolvimento das raízes seminais é paralisado (MAGALHÃES etal., 1994). Todas as folhas e espigas que a planta eventualmente tagem de pêlos absorventes e ramificações diferenciadas, operações inadequadas de no cultivo. Estádio V6 - seis folhas desenvolvidas Neste estádio, o ponto de crescimento irá produzir estão sendo e o pendão estão acima do nível do solo, o formadas no V3. Pode-se dizer, portanto, colmo está iniciando o período de alonga- como que o estabelecimento do número máximo mento acelerado. sistema radicular temporário, diminui após de grãos ou a produção potencial estão (fasciculado) está em pleno funcionamen- o estádio VE e é praticamente não existente sendo definidos nesse estádio. No estádio to e em crescimento. no estádio V3. V5 (cinco folhas completamente desenvol- Pode ocorrer o aparecimento de even- a ponto de crescimento da planta de vidas), tanto a iniciação das folhas como tuais perfilhos, os quais se encontram dire- milho, nesse estádio, está localizado cerca das espigas vai estar completa e a iniciação tamente ligados à base genética da culti- dessas raízes, também conhecido a sistema radicular nodal de 2,5 a 4,0 em abaixo da superfície do solo do pendão já pode ser vista microscopi- var, ao estado nutricional e encontra-se logo acima do mesocótilo. camente na extremidade de formação do espaçamento Essa profundidade, onde se acha o ponto caule, logo abaixo da superfície do solo gas e às alterações bruscas de temperatura de crescimento, é também a profundidade (MAGALHÃEs et al., 1994, 1995). (baixa ou alta). No entanto, existem pou- a ponto da planta, ao adotado, ao ataque de pra- de crescimento, que se encon- cas evidências experimentais que demons- nitivo do milho, conhecido como raízes tra abaixo da superfície do solo, é bastante tram a sua influência negativa na produção nodais ou fasciculadas. A profundidade do afetado pela temperatura (MAGALHÃES etal., 1995,2002). onde vai originar o sistema radicular defi- do solo nesses Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p,14·25, jul.lago, 2006 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 21 No estádio V8, inicia-se a queda das se. O alongamento do caule ocorre através redução na produção de grãos. Porém, a primeiras folhas e o número de fileiras dos entrenós. Após o estádio VlO, o tempo maior redução na produção poderá ocorrer de grãos é definido. Durante este estádio de aparição entre um estádio foliar e outro com déficit hídrico na emissão dos estilos- constata-se a máxima tolerância ao excesso vai encurtar, geralmente isso ocorre a cada estigmas (início de RI). Isso é verdadeiro de chuvas. No entanto, encharcamento por dois ou três dias (MAGALHÃES períodos 1994,1999). maiores que cinco dias poderão acarretar prejuízos consideráveis e irre- versíveis. Estresse hídrico nessa fase pode afetar o comprimento de intemódios, provavel- et al., Próximo ao estádio V 1O,a planta de milho ou granizo. O período de quatro semanas inicia rápido e contínuo crescimento com em tomo do florescimento é o mais impor- acumulação de nutrientes e massa seca, que tante para irrigação (MAGALHÃES et al., continuarão até os estádios reprodutivos. 2003). mente pela inibição da elongação das célu- Há grande demanda no suprimento de água las em desenvolvimento, concorrendo des- e nutrientes para satisfazer as necessidades se modo para a diminuição da capacidade da planta (MAGALHÃES; JONES, 1990b). de armazenagem de açúcares no colmo. O déficit de água também vai resultar em também para outros tipos de estresse como deficiência de nutrientes, alta temperatura Estádio V12 Estádio V18 É possível observar que os "cabelos" ou estilos-estigmas dos óvulos basais alongamse primeiro em relação aos "cabelos" dos colmos mais finos, plantas de menor porte O número de óvulos (grãos em poten- óvulos da extremidade da espiga. Raízes e menor área foliar (MAGALHÃES et al., cial) em cada espiga, assim como o tamanho aéreas, oriundas dos nós acima do solo, da espiga, é definido em V12, quando ocor- estão em crescimento neste estádio. Essas Evidências experimentais demonstram re perda de duas a quatro folhas basais. raízes contribuem na absorção de água e nutrientes. 1998). que a distribuição total das folhas expos- Pode-se considerar que nesta fase inicia- tas nesse período, mediante ocorrência de se o período mais crítico para a produção, Em V18, a planta do milho encontra-se granizo, geada, ataque severo de pragas e doenças, além de outros agentes, acar- o qual estende-se até a polinização. O número de fileiras de grãos na espiga retará quedas na produção da ordem de já foi estabelecido, a uma semana do florescirnento e o desenvolvimento da espiga continua em ritmo acelerado. 10% a 25% (FANCELLI; NETO, 2(0). rá definida cerca de uma semana antes afetar mais o desenvolvimento do florescimento, em tomo do estádio V 17 espiga que o do pendão. Com esse atraso (MAGALHÃESetal.,1994). no desenvolvimento DOURADO Períodos secos aliados à conformação da planta, característica dessa fase (co- no entanto, a deter- minação do número de grãos/fileira só se- Estresse hídrico nesse período pode do óvulo e da espiga pode ha- Em V12, a planta atinge cerca de 85% a ver problemas na sincronia entre emissão à cultura do milho elevada suscetibili- 90% da área foliar, e observa-se o início de de pólen e recepção pela espiga. Caso o dade ao ataque da lagarta-do-cartucho desenvolvimento estresse seja severo, ele pode atrasar a (Spodopterajrugiperda), (esporões). nhecida como fase do cartucho), conferem o que exige cons- das raízes adventícias emissão do "cabelo" até a liberação do pólen terminar, ou seja, os óvulos que por- tante vigilância. Do V6 até o estádio V8 deverá ser aplicada a adubação nitogenada em cobertura (RITCHIE; HANW AY, 1989; ALDRlCHetal.,1982). Estádio V9 Estádio V15 ventura emitir o "cabelo" após a emissão Este estádio representa a continuação seguinte, não contribuirão para o desenvolvimento mento (MAGALHÃES et al., 1994, 1995, da planta, em termos de fixação do rendimento. Desse ponto em Neste estádio, muitas espigas são fa- do pólen não serão fertilizados e, por con- do período mais importante e crucial para o rendi- 1999,2002). diante, o novo estádio foliar ocorre a ca- cilmente visíveis, se for feita a dissecação da um ou dois dias. Os estilos-estigmas da planta. Todo nó da planta tem potencial iniciam os seus crescimentos nas espigas para produzir uma espiga, exceto os últimos (MAGALHÃEs et al., 2002). Pendoamento, VT Este estádio inicia-se quando o último ramo do pendão está completamente visível seis a oito nós abaixo do pendão. Assim, a Por volta do estádio V17, as espigas e os "cabelos" não tenham ainda emergi- planta de milho teria potencial para produzir atingem crescimento tal que suas extremi- do. A emissão da inflorescência masculina várias espigas, porém, apenas uma ou duas dades já são visíveis no caule, assim como antecede de dois a quatro dias a exposição (caráter prolífico) espigas conseguem com- a extremidade do pendão já pode também dos estilos-estigmas, pletar o crescimento. serobservada(MAGALHÃESetal.,1994). espigas devem apresentar no entanto, 75% das seus estilos- Ocorre alta taxa de desenvolvimento de Estresse de água, que ocorre no período estigmas expostos, após o período de 10- órgãos florais, o pendão inicia rápido desen- de duas semanas antes, até duas semanas 12 dias posterior ao aparecimento do pen- volvimento e o caule continua alongando- após o florescimento, dão. O tempo decorrente entre VT e RI pode Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 vai causar grande 22 Cultivo do milho no Sistema variar consideravelmente dependendo do Plantio Direto é de dois a três dias. um fluido, cuja composição são açúcares. híbrido e das condições ambientais. A per- Os "cabelos" da espiga crescem cerca de Embora o embrião esteja ainda desenvol- da de sincronismo 2,5 a 4,0 em por dia e continuam a se alon- vendo vagarosamente entre a emissão dos serem polinizados nesse estádio, a grãos de pólen e a receptividade dos estilos- gar até serem fertilizados (MAGALHÃES radícula, o coleóptilo e a primeira folha estigmas da espiga concorre para o aumen- et al., 1994). embrionária já estão formados. Assim, den- to da porcentagem de espigas sem grãos O número de óvulos que será fertiliza- tro do embrião em desenvolvimento já se nas extremidades. Em condições de campo, do é determinado nesse estádio. Óvulos encontra uma planta de milho em miniatura. a liberação do pólen geralmente ocorre nos não fertilizados evidentemente não produ- finais das manhãs e início das noites. Nes- zirão grãos. A espiga está próxima de atingir seu tamanho máximo. te estádio, a planta atinge o máximo desen- Estresse ambiental nesta fase, especial- Os estilos-estigmas tendo completa- volvimento e crescimento. Estresse hídrico mente o hídrico, causa baixa polinização do sua função e temperaturas elevadas (acima de 35°C) e baixa granação da espiga, uma vez que agora escurecidos a produ- sob seca tanto os "cabelos" como os grãos (MAGALHÃEs et al., 1994,2002). ção. Um pendão de tamanho médio chega de pólen tendem à dissecação. Insetos co- podem reduzir drasticamente no florescimento A acumulação e começando estão a secar de amido está-se ini- a ter 2,5 milhões de grãos de pólen, o que mo a lagarta-da-espiga, que se alimenta dos ciando, passando pela fase anterior à sua equivale dizer que a espiga em condições "cabelos" devem ser combatidos caso haja formação que é a de açúcares, fluido claro normais dificilmente deixará de ser poli- necessidade. A absorção de potássio (K) presente nos grãos. Esses grãos estão ini- nizada pela falta de pólen, uma vez que o nessa fase está completa, enquanto nitro- ciando o período de rápida acumulação de número de óvulos está em tomo de 750 a gênio (N) e fósforo (P) continuam sendo massa seca; esse rápido desenvolvimento 1.000 (MAGALHÃES et al., 1994, 1999; absorvidos. continuará até próximo ao estádio R6. N e P FANCELLI; DOURADO NETO, 2(00). A planta apresenta alta sensibilidade A liberação do grão de pólen pode iniciar ao amanhecer, estendendo-se até o continuam sendo absorvidos e a real ocação desses nutrientes das partes vegeta- meio-dia, no entanto, esse processo rara- tivas para a espiga tem início nesse estádio .. de água pode contribuir inclusive com a mente exige mais de quatro horas para sua A umidade de 85% nos grãos nessa fase, inviabilidade dos grãos de pólen. ao encharcamento nessa fase, o excesso complementação. Ainda sob condições fa- começa a diminuir Nos estádios de VT a RI, a planta de voráveis, o grão de pólen pode permanecer colheita (MAGALHÃES; JONES, 1990ab; milho é mais vulnerável às intempéries da viável por até 24 horas. Sua longevidade, MAGALHÃES etal., 1994). natureza que qualquer outro período, de- entretanto, pode ser reduzida quando sub- vido ao pendão e a todas as folhas estarem metido à baixa umidade e a altas temperaturas (MAGALHÃES etal., 1994). completamente expostas. Remoção de fo- gradualmente até a Estádio R3 - grão leitoso Esta fase é iniciada normalmente 12 a do contato direto 15 dias após a polinização. O grão apresenta- entre o grão de pólen e os pêlos viscosos do estigma estimula a germinação do primei- se com aparência amarela e no seu interior contém um fluido de cor leitosa, o qual O período de liberação do pólen estende- ro' dando origem a uma estrutura denomi- representa o início da transformação se por uma a duas semanas. Durante esse tempo, cada "cabelo" individual deve emergir nada tubo polínico, que é responsável pela açúcares em amido, contribuindo fecundação do óvulo inserido na espiga. para o incremento de massa seca. Tal incre- e ser polinizado para resultar em um grão. A fertilização ocorre de 12 a 36 horas após mento ocorre, devido à translocação a polinização, fotoassimilados lha neste estádio por certo resultará em perdas na colheita (FANCELLI; DOURADO NETO, 2(00). Estádio Rl - embonecamento O estabelecimento período esse variável em dos assim dos presentes nas folhas e no processo, tais como teor de água, tempe- colmo para a espiga e grãos em formação. A eficiência dessa translocação, além de Este estádio inicia-se quando os estilos- ratura, ponto de contato e comprimento do ser importante para a produção, é extrema- estigmas estão visíveis, ou seja, para fora estilo-estigma (MAGALHÃEs et al., 1994; mente dependente de água (MAGALHÃEs; FANCELLI; DOURADO NETO, 2(00). JONES, 1990a; MAGALHÃES et al., 1998). e polinização das espigas. A polinização ocorre quando função de alguns fatores envolvidos no o grão de pólen liberado é capturado por um dos estilos-estigmas. O grão de pólen, em contato com o Embora nesse estádio o crescimento do Estádio R2 - grão bolha d'água embrião ainda seja considerado lento, ele Os grãos neste estádio apresentam-se já pode ser visto, caso haja dissecação. Esse "cabelo", demora cerca de 24 horas para brancos na aparência externa e com aspec- estádio é conhecido como aquele em que percorrer o tubo polínico e fertilizar o óvu- tos de uma bolha d'água. O endosperma, ocorre a definição da densidade dos grãos lo, geralmente o período requerido para portanto, está com coloração clara, assim (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI; todos os estilos-estigmas como o seu conteúdo, que é basicamente DOURADO NETO, 2(00). em uma espiga Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006 Cultivo do milho no Sistema 23 Plantio Direto acentuada, Os grãos nesta fase apresentam rápi- caracterizando da acumulação de massa seca, com cerca exclusivamente destinado antecipar o aparecimento da formação da um período ao ganho de camada preta, indicadora da maturidade fisiológica. A redução na produção estaria de 80% de umidade, e as divisões celula- peso por parte do grão. Em condições de res dentro do endosperma apresentam-se campo, tal etapa do desenvolvimento é relacionada com o peso dos grãos e não essencialmente completas. O crescimento, prontamente reconhecida, pois, quando os com o número de grãos. Os grãos neste a partir desse momento, é devido à expan- grãos presentes são submetidos à pressão estádio apresentam-se com cerca de 55% são e enchimento imposta pelos dedos, mostram-se relativa- de umidade (MAGALHÃES et al., 1994). das células do endos- mente consistentes, embora ainda possam perma com amido. apresentar O rendimento final depende do número pequena quantidade de sóli- Materiais destinados à silagem devem ser colhidos nesse estádio. O milho colhido e do tama- dos solúveis, cuja presença em abundân- nessa fase apresenta nho final que eles alcançarão. Um estresse cia caracteriza o estádio R3 (grão leitoso) tagens: significativo hídrico nesta fase, embora menos crítico (MAGALHÃES et al., 1994). ção de massa seca por área; decréscimo de grãos em desenvolvimento as seguintes van- aumento na produ- que na fase anterior, pode afetar a produ- Os grãos encontram-se com cerca de nas perdas de armazenamento pela diminui- ção. Com o processo de maturação dos 70% de umidade em R4 e com a metade ção do efluente e aumento significativo no grãos, o potencial de redução na produção do peso que eles atingirão na maturidade. consumo voluntário da silagem produzida final de grãos, devido ao estresse hídrico, A ocorrência de adversidades climáticas, (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). vai diminuindo. Embora, nesse período, a sobretudo falta de água, resultará numa planta deva apresentar considerável teor maior porcentagem de sólidos solúveis prontamente quenos, o que comprometeria dispo- níveis, objetivando a evolução do processo de formação de grãos, a fotos síntese mostra-se imprescindível. Em termos gerais, considera-se como importante caráter de grãos leves e pedefinitiva- Estádio R6 - maturidade fisiológica Este é o estádio em que todos os grãos mente a produção. na espiga alcançam o máximo de acumulaEstádio R5 - formação de dente ção de massa seca e vigor, ocorre cerca de Este período é caracterizado pelo apa- 50 a 60 dias após a polinização. A linha do condicionador de produção a extensão da recimento de uma concavidade na parte amido já avançou até a espiga e a camada área foliar que permanece fisiologicamente superior do grão, comumente designada preta já está formada. Essa camada preta ativa após a emergência da espiga. Perío- "dente", coincide normalmente com o 36º ocorre dos nublados ou de reduzida intensidade dia após o princípio da polinização. espiga para a base. Nesse estádio, além da progressivamente da ponta da luminosa acarretarão, nessa fase, a redu- Nessa etapa, os grãos encontram-se em paralisação total do acúmulo de massa seca ção da fotossíntese e aumento do nível de fase de transição do estado pastoso para o nos grãos, acontece também o início do estresse da planta, implicando na redu- farináceo. A divisão desses estádios é feita processo de senescência ção da taxa de acúmulo de massa seca do pela chamada linha divisória do amido ou lhas das plantas, as quais gradativamente na linha do leite. Essa linha aparece logo após começam a perder a sua coloração verde produção final de grãos, além de favore- a formação do dente e, com a maturação, característica (MAGALHÃES et al., 1994; vem avançando em direção à base do grão. FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). grão e, conseqüentemente, cer a incidência redução de doenças do colmo (MAGALHÃES et al., 1998,2002). Ainda nesse estádio, evidencia-se a natural das fo- Devido à acumulação do amido, acima da O ponto de maturidade fisiológica ca- linha é duro e abaixo, macio. Nesse estádio, racteriza o momento ideal para a colheita translocação efetiva de N e P para os grãos o embrião continua se desenvolvendo, e, ou ponto de máxima produção, com 30%- emforrnação (MAGALHÃES; JONES, 1990b; além do acentuado acréscimo de volume 38% de umidade, podendo variar entre FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). Estádio R4 - grão pastoso Este estádio é alcançado com cerca de experimentado pelo endosperma, mediante híbridos. No entanto, o grão não está ainda aumento das células, observa-se também a em condições de ser colhido e armazenado completa diferenciação da radícula e das com segurança, uma vez que deveria estar folhas embrionárias no interior dos grãos com 13% a 15% de umidade, para evitar 20 a 25 dias após a emissão dos estilos- (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI; problemas com a armazenagem. Com cer- estigmas, os grãos continuam se desenvol- DOURADO NETO, 2000). ca de 18% a 25% de umidade, a colheita já amido. Alguns genótipos do tipo "duro" não pode acontecer, desde que o produto colhi- O fluido interno dos grãos passa do esta- formam dente, o que toma esse estádio, nos do seja submetido a uma secagem artificial do leitoso para uma consistência pastosa, referidos materiais, mais difícil de ser nota- antes de ser armazenado. e as estruturas embriônicas de dentro dos do, podendo estar apenas relacionado com A qualidade dos grãos produzidos po- grãos encontram-se o aumento gradativo da dureza dos grãos. de ser avaliada pela porcentagem de grãos ardidos, que interfere notadamente na des- vendo rapidamente, acumulando totalmente diferen- ciadas. A deposição de amido é bastante Informe Agropecuário, Belo Horizonte, Estresse v.27, n.233, p.14·25, jul./ago. ambiental 2006 nessa fase pode Cultivo do milho no Sistema 24 tinação do milho em qualquer segmento da REFERÊNCIAS cadeia de consumo. A ocorrência de grãos ALDRlCH, S. R.; SCOTT, W. O.; LENG, E. 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