DESAFIOS NA GESTÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA SAÚDE CHALLENGES IN MANAGING THE BOLSA FAMÍLIA PROGRAM IN HEALTH Wellington Wagner da Silva Licenciado em Geografia, Assistente Social e Especialista em MBA em Gestão para Administração Pública´UNINTER Silvano Alves Alcântara Professor, Advogado, Doutorando em Direito, Orientador do TCC de pós-graduação do curso de MBA em Gestão para Administração Pública - UNINTER RESUMO O Programa Bolsa Família na Saúde permite a inserção das famílias beneficiárias aos serviços de saúde, fator que contribui com a redução das taxas de desnutrição e mortalidade materna e infantil. Só no segundo semestre de 2010 mais de sete milhões de famílias foram acompanhadas na saúde de forma detalhada. Porém essa melhoria no aumento das famílias acompanhadas não é suficiente, pois, muitas famílias ainda não têm acesso a uma alimentação adequada, com qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente. Dentro dessa problemática surgem vários desafios para a gestão do Programa Bolsa Família na Saúde, principalmente o de materializar o direito dessas famílias aos serviços de saúde preventivos, envolvendo ações de alimentação, nutrição e vacinação. Nesse sentido, pretende-se analisar as principais características do programa bem como os desafios a ele impostos. Assim o artigo se desenvolveu dentro de uma pesquisa bibliográfica. Nota-se no decorrer do trabalho que muitos desafios precisam ser vencidos para que o programa cumpra com o objetivo para o qual foi criado, compreende-se que é uma tarefa que requer a intersetorialidade e interdisciplinaridade para garantia de êxito. Palavras-Chave: Programa Bolsa Família na Saúde. Gestão. Famílias Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 8 ABSTRACT The Bolsa Família Program in Health allow the inclusion of beneficiary households to health services, factor contributing to the reduction of rates of malnutrition and infant and maternal mortality. Only in the second half of 2010 over seven million families were accompanied on health in detail. But this improvement in the increase of families accompanied is not enough, because many families still lack access to adequate food, quality, in sufficient quantity so permanent. Inside this problematic arise several challenges for the management of the Bolsa Família Program in Health, Mainly to materialize the right of families to preventive health, involving actions of food, nutrition and vaccination. This sense, it is intended to analyze the main features of the program well as the challenges imposed on it. So the article was developed within a literature search. It is noted in this work that many challenges must be overcome so that the program fulfills with the purpose for which it was created, one understands that it is a task that requires the intersectoriality and interdisciplinary approach to guarantee of success. Key-words: Bolsa Família Program in Health. Management. Families. Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 9 INTRODUÇÃO Um dos grandes desafios do Brasil é acabar com a fome e a miséria, é nesse cenário social que as pessoas passam a lutar por melhores condições de vida. À medida que a fome e a desnutrição atingem as camadas mais pobres e os mais favorecidos socialmente se voltam para os mais oprimidos, inicia-se uma discussão sobre as condições básicas de sobrevivência e humanidade. Os direitos nascem destas mazelas mais marcantes. O Programa Bolsa Família foi criado para apoiar as famílias mais pobres e garantir o direito aos serviços sociais básicos. Para isso o Governo Federal transfere renda de forma direta para as famílias, o saque é feito mensalmente, além de promover o acesso à saúde, educação e assistência social. O Programa Bolsa Família na Saúde visa primordialmente viabilizar o direito dessas famílias aos serviços de saúde considerados preventivos tais como: a alimentação adequada e saudável, vacinação e pré-natal, consideradas atividades básicas e preventivas no auxílio a uma boa saúde física e psicossocial. Nesse aspecto surgem os desafios na Gestão do Programa Bolsa Família na Saúde. Atuar na garantia de tais direitos é desafiador, uma vez que há dificuldades com a capacitação dos profissionais de saúde para tal, e nas próprias famílias beneficiárias que por vários motivos não são acompanhadas por estes profissionais, dificultando o trabalho da equipe de saúde, não sendo localizados ou não se dispondo a serem acompanhados pela equipe. Isso gera um grande problema para a gestão, pois, o próprio sistema de gestão de condicionalidades do Programa deixa de ser alimentado, o Ministério da Saúde deixa de ter acesso a dados importantes que são usados para traçar o perfil nutricional dessas pessoas, avaliando a condição de saúde da população para a promoção de políticas de saúde. Este artigo tem por objetivo abordar as principais características e desafios enfrentados na gestão do Programa Bolsa Família na Saúde, com a missão de contribuir para o despertamento do pensamento crítico e reflexivo, sobre a questão dos direitos relativos à saúde, costurados as metas do Programa garantidos de forma especial a essa Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 10 parcela da população brasileira, bem como a implementação desses direitos sob uma ótica gestora. Desta forma buscou-se fundamentar o artigo através da pesquisa bibliográfica, ele discorre sobre as principais formas de atuação, dificuldades e desafios da Gestão do Programa Bolsa Família na Saúde analisados até o presente momento, sob uma perspectiva de mudança para superar problemas e gerir de forma a alcançar metas preconizadas pelo Ministério da Saúde através do Programa Bolsa Família na Saúde. Assim o presente trabalho mostra tais desafios no sentido de superá-los através do desenvolvimento do pensamento crítico – analítico, mantendo o foco reflexivo sobre esse atenuante processo societário. GARANTIA LEGAL O direito social é a constituição de um produto histórico, formado pelas lutas da classe trabalhadora, no conjunto das relações de institucionalidade da sociedade de mercado, com vistas ao atendimento das necessidades sociais da vida cotidiana. O direito social é uma criação da sociedade capitalista, pois se realiza a partir do reconhecimento das dificuldades sociais geradas dentro da lógica desta sociedade, motivando o sujeito a atuar na sociedade de uma forma mais igualitária (SCHERER, 2010, p. 10). Para Scherer (2010, p.11) Os direitos sociais devem ser materializados por meio de ações práticas que tenham impacto na vida concreta dos sujeitos, para serem de fato constituídos. Deste modo, os direitos sociais têm a materialidade através de Políticas Sociais, que pelas ações práticas serão concretizadas, sendo estes garantia social. Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, feita em 1948 e assinada por povos do mundo inteiro, todo ser humano tem direito à alimentação e nutrição adequadas. Este é um direito humano, assim, todos os indivíduos devem ter acesso à alimentação adequada, seja por seus próprios recursos, de preferência, ou com o auxílio do governo. Ter “Direito à Alimentação Adequada” significa ter uma alimentação saudável e estar livre da fome e da má nutrição (MS, 2010, p. 9). Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 11 De acordo com Jacques (2011, p.120) as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM) sustentam oito pontos, porém destacam-se três dos quais estão relacionados com a alimentação e a nutrição que são os seguintes: erradicar a extrema pobreza e a fome; reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna. A abordagem de direitos humanos incorpora à discussão, ao planejamento e à implementação de ações, as dimensões de promoção da dignidade; a redução de desigualdades de raça/etnia, urbano/rural, econômica e social e a alimentação adequada para a qualidade de vida humana. É sabido que parte significativa dos problemas pelos quais passam a grande parcela da população mundial está relacionada diretamente com questões alimentares e nutricionais, sejam pela má qualidade de alimentação ou por condições de vida e saúde que impedem o aproveitamento adequado do alimento que têm ao seu dispor. O acesso à alimentação é um direito humano em si mesmo, na medida em que a alimentação é constituída no próprio direito à vida. Negar esse direito é, antes de tudo, negar a primeira condição para o exercício da cidadania (Ministério das Relações Exteriores do Brasil, 1996, apud JACQUES, 2011, p. 119). Atualmente uma grande conquista foi alcançada, a inserção da alimentação como direito social dos brasileiros. Em 03 de janeiro de 2010 foi aprovado em segundo turno, pelo plenário da Câmara dos Deputados, com 376 votos favoráveis, duas abstenções e nenhum contrário, a garantia da alimentação como um dos direitos sociais, fixados no artigo 6º da Constituição Federal do Brasil (JACQUES, 2011, p. 127). Não se pode desligar a política de alimentação da política de saúde ambas caminham juntas, por isso, a saúde também se encontra como um direito básico, de acordo com a carta constitucional do Brasil, a saúde é um direito universal e dever do estado, isso quer dizer que as pessoas não necessitam contribuir para ter acesso aos seus serviços, o sistema é não contributivo (CF, 1988). A Política de Promoção da saúde, segundo o Ministério da Saúde, representa um modo de pensar e de operar articulado às demais políticas e tecnologias desenvolvidas no sistema de saúde do brasileiro, construindo ações que possibilitem responder às necessidades sócias em saúde (SCHERER, 2010, p. 14). Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 12 Segundo Curralero e Alonso (2011) as políticas de enfrentamento à pobreza elegem como foco de ação as famílias consideradas pobres, tornando-se fundamental assegurar seus direitos, viabilizando ações e políticas integradas nas áreas de educação, saúde, bem-estar, trabalho e renda, habitação, acesso à cultura e ao lazer para universalização da cidadania. SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL As primeiras referências ao conceito de segurança alimentar no Brasil, em nível documental, surgem no Ministério da agricultura, no fim de 1985, em meio ao crescimento da mobilização da sociedade. Nesse período foi elaborada uma proposta de “Política Nacional de Segurança Alimentar” para atender às necessidades alimentares da população incluindo a criação do CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar (JACQUES, 2011, p.121). Em 1993, paralelamente à criação do CONSEA e em sintonia com as demandas da sociedade civil, o governo federal, de forma inédita na história do país, reconheceu o círculo vicioso formado pela fome, miséria e violência definindo seu enfrentamento como prioridade de governo. Um desafio posto ao país é a efetiva implantação do monitoramento integrado da situação de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) da população, podendo ser entendida como: A realização do direito humano a uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, respeitando as diversidades culturais e sendo sustentável do ponto de vista socioeconômico e agroecológico (CONSEA, 2004, apud JACQUES, 2011, p.122). Nesse sentido cabe às Secretarias Municipais de Saúde ofertar as ações de alimentação, nutrição, pré-natal e vacinação, acompanhando o estado nutricional da criança e da gestante. Essas ações fazem parte da atenção Básica a Saúde e devem ser Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 13 rotineiramente ofertadas pelo município a toda a população coberta pelo SUS (MS, 2010, p.13). As atividades educativas são de extrema importância, podendo-se abortar vários assuntos sobre saúde e nutrição como orientar as famílias para adquirirem alimentos mais saudáveis. A Coordenação-Geral da política de Alimentação e Nutrição – CGPAN do Ministério da Saúde disponibiliza publicações de apoio aos profissionais que trabalham junto às famílias cadastradas no Programa Bolsa Família (MS, 2010, p.13). DAS POLÍTICAS AO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA As Políticas Sociais referem-se à reprodução da força de trabalho através de serviços e benefícios financiados por fundos destinados a eles. A estruturação desta reprodução pelo Estado capitalista é um mecanismo distributivo de renda e riqueza em forma de proteção e serviços, sem afetar as relações de produção (FALEIROS, 2000, p.43). Segundo Scherer (2010, p.11) as Políticas Sociais são o resultado das relações que se estabelecem historicamente no desenvolvimento das contradições entre capital e trabalho. São mediadas pela a ação do Estado e envolvem alguns atores, como, por exemplo, a burocracia estatal, a burguesia industrial e os trabalhadores urbanos. É uma relação social que vincula o cidadão ao Estado e traduz direitos numa concepção de cidadania. É, uma relação entre o Estado e as classes sociais em relação à reprodução das classes dominadas. Dentro desta lógica de exploração do sistema capitalista, muitas pessoas são excluídas desse processo de produção, sendo “descartadas” pelo sistema. Em vista disso entra em cena a Política Nacional de Assistência Social, sendo uma política pública de caráter não contributivo, garantida a todos que dela necessitam. Conforme a Secretaria Nacional de Assistência Social, a Política de Assistência Social tem uma visão social inovadora, dando continuidade ao inaugurado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Orgânica da Assistência Social de 1993, pautada na dimensão ética de incluir “os invisíveis”, visando criar uma visão social de proteção, o que supõe conhecer os riscos, a Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 14 vulnerabilidades sociais a que estão submetidos, bem como os recursos com que conta para enfrentar situações com menor dano pessoal e social possível, captando as diferenças sociais e entendendo que as circunstâncias e os requisitos sociais existentes na vida do indivíduo e sua família, são determinantes para sua proteção e autonomia. Esta visão social em que está implicada a Política de Assistência Social que visa não apenas a questão das necessidades, mais também possibilidades ou capacidades que devem e podem ser desenvolvidas (SCHERER, 2010, p. 12). Adicionalmente o Governo Federal, por meio do ministério da saúde, quando elaborou a Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN, parte integrante da Política Nacional de Saúde, reafirmou que a Alimentação Adequada é um Direito Humano. A garantia desse direito é fundamental, pois, a alimentação e nutrição adequadas são ingredientes básicos para o desenvolvimento do ser humano, garantindo a ele a realização de sua capacidade de produção, de sua cidadania e do seu bem-estar (MS, 2010, p.8). O Programa Bolsa Família está conectado às seguintes políticas: Política Nacional de Saúde e Política Nacional de Assistência Social, entre outras. O Programa Bolsa Família é um programa de combate à pobreza, que apresenta três eixos principais de atuação: alívio imediato da pobreza, que atua por meio da transferência de renda; reforço ao exercício de direitos sociais básicos, por meio do acompanhamento das condicionalidades; e articulação de oportunidades de desenvolvimento de capacidades para as famílias, por meio da oferta coordenada de programas complementares (CURRALERO; ALONSO, 2011). Nessa perspectiva, a transferência de renda permite o suprimento das necessidades mais básicas das famílias, como o acesso a alimentos; o acompanhamento das condicionalidades contribui para assegurar o acesso aos direitos sociais nas áreas de educação, saúde e assistência social, concorrendo dessa forma para o rompimento do ciclo de transmissão intergeracional da pobreza; e os programas complementares visam ao desenvolvimento das capacidades das famílias, aumentando o potencial de mobilidade social dos beneficiários (CURRALERO; ALONSO, 2011). Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 15 FUNCIONAMENTO DA GESTÃO DO BOLSA FAMÍLIA NA SAÚDE O Programa Bolsa Família foi instituído pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e regulamentado pelo Decreto nº 5.2009, de 17 de setembro de 2004. A portaria Interministerial nº 2.509, de 18 de novembro de 2004, por sua vez, dispõe sobre as atribuições e normas para a oferta e o monitoramento das ações de saúde relativas ao comprimento das condicionalidades das famílias beneficiárias e a portaria nº 321, de 29 de setembro de 2008 regulamenta a gestão das condicionalidades (MS, 2010, p.7). As famílias beneficiárias que possuem crianças menores de 07 anos e mulheres em idade de 14 a 44 anos deverão ser assistidas por uma Equipe de Saúde da Família ou por uma unidade Básica de Saúde. É fundamental que a equipe de saúde esclareça à família sobre a sua participação no cumprimento das ações que compõem as condicionalidades do Programa Bola Família, deixando-a ciente de suas responsabilidades na melhoria de suas condições de saúde e nutrição (MS, 2010, p.8). O acompanhamento das ações de saúde e nutrição dessas famílias na atenção básica do Sistema Único da Saúde – SUS foi assumido pelos estados e municípios por meio do Pacto pela Vida conforme descrito em portaria Ministerial GM 325 de 21 de fevereiro de 2008 e revogada na portaria 2669 de 03 de novembro de 2009, ao incluir o Indicador obre Percentual de famílias com perfil de saúde beneficiárias do Programa Bolsa Família acompanhadas pela Atenção Básica. Portanto, cada vez mais destaca-se o importante papel que o SUS tem na melhoria da qualidade de vida de todos, especialmente, desses cidadãos que se encontram dentro da linha de pobreza do país (MS, 2010, p.8). A equipe de saúde deve identificar se uma família tem garantido todas as condições de acesso aos alimentos básicos seguros e de qualidade, em quantidade suficiente, atendendo aos requisitos nutricionais, de modo permanente e sem comprometer outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna, colaborando para o desenvolvimento integral dos indivíduos, que são princípios de Segurança Alimentar e Nutricional (MS, 2010, p.8). Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 16 Para isso, é importante que a equipe de saúde local, responsável pela atenção básica à saúde firmemente apoiada pela estratégia Saúde da Família e pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde conheça a situação de saúde e da alimentação e nutrição na comunidade e nas famílias em que atua e auxilie na busca de possibilidades de melhorá-la, principalmente naquelas famílias mais necessitadas (MS, 2010, p.8). Uma importante vantagem de se melhorar as condições de alimentação, nutrição e segurança alimentar da comunidade é a seguinte: quanto melhores forem essas condições, melhor será a condição de saúde como um todo da população, menos as pessoas vão ficar doentes, menos vão precisar de cuidados com a saúde e menos vai ser exigido dos serviços de saúde, podendo até melhorar o atendimento, pois, os serviços estarão menos sobrecarregados (MS, 2010, p. 10). SISTEMA DE GESTÃO DE CONDICIONALIDADES O Sistema de Gestão do Programa Bolsa Família é disponibilizado via internet pelo Ministério da Saúde no endereço: (Http://bolsafamilia.datasus.gov.br), específico para acompanhar as famílias e registrar as condicionalidades das crianças e gestantes do Programa Bolsa Família. As informações devem ser registradas no Mapa de acompanhamento do Bolsa Família, uma vez por semestre, no período de cada vigência (1º e 2º) do Programa. Os dados transmitidos pelos municípios são consolidados pelo Ministério da Saúde e encaminhados periodicamente ao Ministério Desenvolvimento Social e Combate a Fome, gestor federal do Programa (MS, 2010, p. 17). O Mapa de Acompanhamento do Bolsa Família é o formulário proposto pelo Ministério da Saúde para o registro do acompanhamento dos beneficiários do Programa Bolsa Família, para posterior inclusão das informações no Sistema de Gestão do Programa Bolsa Família na Saúde. Para que esse processo aconteça recomenda-se as seguintes etapas: Capacitar à equipe de saúde quanto ao preenchimento correto do formulário; Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 17 Garantir a distribuição do Mapa, com a relação dos beneficiários para cada unidade de saúde e/ou equipe da saúde da família para acompanhamento das famílias; Orientar a equipe de saúde para que anote, no Mapa de Acompanhamento, os dados de todas as crianças menores de sete anos e de todas as mulheres entre 14 e 44 anos (idade fértil) informando se estas estão gestantes ou não; Solicitar que, ao final do dia ou do mês ou do prazo estipulado como rotina, as equipes de saúde encaminhem regularmente os dados a Coordenação Municipal no Programa Bolsa Família na Saúde (MS, 2010, p. 17). O SUS é responsável pelo acompanhamento das famílias beneficiárias na saúde. As famílias em situação de pobreza e extrema pobreza podem ter maior dificuldade de acesso e de frequência aos serviços de saúde. Por este motivo, o objeto das condicionalidades do Programa é garantir a oferta das ações básicas (saúde, educação e assistência social), potencializando a melhoria da qualidade de vida das famílias e contribuindo para a inclusão social (MS, 2010, p.11). São condicionalidades da saúde: Quadro 1: Condicionalidades da Saúde. Gestantes e Nutrizes Responsáveis pelas crianças menores de 7 anos - Fazer a inscrição no pré-natal e comparecer às consultas na Unidade de Saúde, com o cartão da gestante, de acordo com o calendário mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde; - Participar de atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre aleitamento materno e promoção da alimentação saudável. - Manter em dia o calendário de vacinação, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde; - Realizar o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil por meio a vigilância alimentar e nutricional, conforme o calendário mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde; - Participar de atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre promoção da alimentação saudável. Fonte: MS, (2010, p.12). Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 18 As famílias em situação de descumprimento das condicionalidades estão sujeitas a efeitos gradativos ou repercussões sobre o benefício financeiro do PBF, as quais são realizadas após cada de período de acompanhamento. A aplicação gradativa tem o objetivo de sinalizar à família e ao poder público, dificuldades de acesso, conferindo tempo para que providências sejam tomadas. Esses efeitos vão desde a advertência, passando pelo bloqueio, duas suspensões e cancelamento do benefício (SANTOS; LICIO, 2011). O objetivo dos efeitos no benefício não é punir a família, mais identificar os motivos do descumprimento e direcioná-la a ações sociais que contribuam para reduzir o grau de vulnerabilidade social identificando e estimulá-la a superar, por meio de estratégias de acompanhamento familiar realizadas pelos municípios. Esta ação torna-se importante para inclusão social destas famílias. Estas medidas devem ser realizadas de forma intersetorial buscando a superação das vulnerabilidades sociais que impedem ou dificultam o cumprimento dos compromissos previstos no Programa pelas famílias (MS, 2010, p. 34) O acompanhamento das condicionalidades visa a reforçar o acesso da população mais pobre aos serviços de saúde, educação e assistência social, por meio da explicitação de situações de vulnerabilidades das famílias e inadequação da oferta dos serviços. Além da materialização de um direito, o cumprimento das condicionalidades por parte das famílias beneficiárias contribui para redução da pobreza entre gerações. No caso do poder público elas estimulam a ampliação da oferta de serviços e monitoram as políticas públicas executadas, de modo a identificar as famílias em situação de maior vulnerabilidade e risco social para que a elas sejam dirigidas ações específicas (SANTOS; LICIO, 2011). AVALIAÇÃO E DESAFIOS DA GESTÃO DE CONDICIONALIDADES Segundo Santos e Licio (2011) analisando o período que vai do 1º semestre de 2005 até o 2º semestre de 2010, verifica-se um aumento na cobertura de registro das informações. O percentual de acompanhamento das famílias beneficiárias com perfil de Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 19 saúde (com mulheres em idade de 14 a 44 anos de e crianças de 0 a 7 anos) foi de apenas 6,5% para 68,4%, o que corresponde a cerca de 7,3 milhões de famílias. Se consideradas apenas as crianças, o registro saltou de 7% para 69,3%, ou cerca de 4,3 milhões de crianças com informações do calendário vacinal disponibilizadas. Das famílias acompanhadas, 99,5% cumpriram as condicionalidades. Tais dados estão resumidos na tabela e no gráfico a seguir: Tabela 1 - Acompanhamento das Condicionalidades da Saúde Acompanhamento das Condicionalidades da Saúde – 2º semestre, 2010 Famílias com crianças menores de 7 anos ou Publico: mulheres em idade fértil – 14 a 44 anos Acompanhadas 7,3 milhões 68,4% Parcialmente acompanhadas 70 mil 0,7% Não visitadas 2,7 milhões 25,9% Não localizadas 499 mil 4,7% Descumprimento 33 mil 0,45% Localizadas não acompanhadas 32 mil 0,3% Total 10,6 milhões 100% Fonte: SANTOS; LICIO (2011). Gráfico 1 – Brasil – Condicionalidades de Saúde (BFA) Fonte: Sistema de Gestão do Programa Família na Saúde MS/SAS/DAB/CGPAN, apud SANTOS; LICIO, (2011). Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 20 Conforme Santos; Licio (2011) as condicionalidades de saúde possuem um percentual de acompanhamento consideravelmente inferior à educação. Embora se verifique um aumento gradual nesse percentual desde 2006, o grande desafio permanece, visto estar aquém do nível esperado frente ao amadurecimento da relação entre o Programa Bolsa Família e a política de saúde decorrente da definição de procedimentos, responsabilidades dos atores, sistemas de informação, capacitação etc. Dessa forma, faz-se necessário reforçar a diversificação de processos do acompanhamento das famílias Programa Bolsa Família na saúde para além da ESF – Equipe de Saúde da Família. Via de regra, o atendimento primário da saúde é realizado em contextos diferentes dos processos de verificação das condicionalidades. A vacinação das crianças e as consultas e exames do pré-natal, por exemplo, são realizadas em unidades de saúde, ao passo que o registro das condicionalidades é feito, prioritariamente, por equipes de saúde da família. Avalia-se que há necessidade de melhor qualificação dos dados registrados no Sistema Bolsa Família na Saúde, de modo que o atendimento realizado para o pré-natal ou para vacinação em uma unidade de saúde já deveria ser registrado como cumprimento das condicionalidades. Essa prática eliminaria uma segunda rodada de coleta de informações, a qual tende a se tornar um processo burocrático de registro (SANTOS; LICIO, 2011). Diferentemente do acompanhamento feito pela educação, que registra os motivos da baixa freqüência, o acompanhamento da saúde não revela as vulnerabilidades que podem estar por trás da falta de vacinação das crianças, do acompanhamento do pré-natal e do acompanhamento e desenvolvimento destes menores. (SANTOS; LICIO, 2011). METODOLOGIA O trabalho desenvolvido foi estruturado na revisão bibliográfica, para tal foram utilizadas consultas literárias de dados obtidos por meio de livros, artigos, periódicos científicos, sites, como base da pesquisa, o uso desses recursos auxiliaram na construção Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 21 das discussões que foram desenvolvidas ao longo do artigo para análise temática e objetivos reflexivos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Programa Bolsa Família na Saúde foi criado com o objetivo de assegurar os direitos sociais básicos garantidos na Constituição Federal, na expectativa de viabilizar as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família o acesso a ações de alimentação, nutrição e vacinação, integrado a própria transferência de renda do programa. Os últimos estudos sobre o tema revelam uma considerável melhoria da gestão de condicionalidades do programa, isso significa que mais famílias estão sendo acompanhadas pela equipe de saúde, fator que resulta na melhoria da saúde destas pessoas. Porém, convém considerar as dificuldades na gestão, que de acordo com o tema exposto, são resultantes de múltiplos fatores, entre eles estão aqueles que transpõem a equipe gestora, pois envolve diretamente as famílias beneficiárias. Observou-se que o registro das informações na saúde reflete a complexidade do acompanhamento das condicionalidades de saúde, o qual depende da atualização das informações cadastrais de endereço da família, de um significativo esforço de busca ativa dessas famílias e de sistemas de informação capazes de identificar e registrar os atendimentos realizados. Diante dos problemas e desafios apresentados no trabalho, fica evidente que a gestão do Programa deve, portanto estar preparada para fomentar o que fora preconizado pelo Ministério da Saúde, para as condicionalidades do Programa Bolsa Família na Saúde, com o trabalho final de informar dados sobre o cumprimento destas por parte dos beneficiários no sistema de gestão de condicionalidades. Conclui-se que os desafios precisam ser analisados pela gestão, devendo para tanto, se lançar mão de estratégias para o enfrentamento dos problemas apresentados, sempre na busca de qualificar os serviços prestados aos usuários. O combate a fome e a má nutrição devem ser cabalmente levadas a sério pelos profissionais integrantes do Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 22 sistema de gestão. Nesse sentido, há a necessidade de avançar no compromisso da gestão do Programa Bolsa Família na Saúde na promoção da saúde e da cidadania. Existe ainda, uma escassez na literatura sobre a Gestão do Programa Bolsa Família na Saúde, o que limita a utilização de informações mais amplas sobre o tema, assim, sugere-se a ampliação e o aprofundamento da visão destacada neste artigo. Espera-se por meio deste artigo contribuir para o desenvolvimento de uma consciência crítica, com a proposição do aprimoramento do tema. Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 23 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado,1998. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Alimentação e Nutrição para as Famílias do Programa Bolsa Família. Manual para os Agentes Comunitários de Saúde. Brasília – DF, 2010. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Orientações Sobre O Bolsa Família na Saúde. 3ª Edição. Brasília – DF, 2010. CURRALERO, C. R. B; ALONSO, A. F. O Índice de Gestão Descentralizada (IGD) e o Sistema de Condicionalidades (SICON) Como Ferramentas de Gestão Intersetorial do Programa Bolsa Família. IV Congresso CONSAD de Gestão Pública. Brasília – DF, 2011. Disponível em: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2011-06/painel_37-130_131_132.pdf> Acesso em: out de 2012. FALEIROS, V. P. Natureza e Desenvolvimento das Políticas Sociais no Brasil. Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo 3. Brasília: Unb,CEAD, 2000. JACQUES, I. T. O. A segurança Alimentar na Política Social. Políticas Sociais Específicas. ULBRA. Canoas, 2011. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES – MRE. Relatório Nacional Brasileiro – Cúpula Mundial da Alimentação. Roma, 2002. SANTOS, R. L. A; LICIO, E. C. Resultados e Desafios do Acompanhamento das Condicionalidades do Programa Bolsa Família. IV Congresso CONSAD de Gestão Pública. Brasília – DF, 2011. Disponível em: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/201106/painel_37-130_131_132.pdf> Acesso em: out de 2012. Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 24 SCHERER, G. A. Políticas, Programas e Projetos Sociais: a materialização de direitos. Gestão De Políticas, Programas e Projetos Sociais. ULBRA. Canoas, 2010. Caderno Gestão Pública | ano.1 n.1 | jul - dez 2012 25