. Início Panorama Bíblico Aula 4 Êxodo O livro de Êxodo é a continuação do livro de Gênesis, com sua narrativa se iniciando no Egito, para onde os filhos de Jacó foram, levados por José que se tornara governador do Egito. Este livro conta o início de Israel como povo,1 uma vez que após a morte de José e Jacó passam-se séculos e a família se multiplica enormemente no Egito a ponto de se tornar um povo, o povo de Israel. É justamente o crescimento numérico que leva os egípcios a verem os israelitas como uma ameaça, implementando primeiro a escravidão e depois o controle de natalidade relatado em Êx 1. É justamente neste contexto que nasce o líder que Deus vai usar no resgate de seu povo: Moisés. Poupado por sua mãe, Moisés acaba sendo adotado pela filha de Faraó. Moisés torna-se um homem homem dividido entre sua criação egípcia e sua procedência hebréia, o que o leva ao assassinato de um egípcio e seu exílio no deserto (Êx 2). No deserto, Deus encontra Moisés e o leva para o Egito para ser o principal instrumento de libertação dos israelitas, guiando o povo ao longo da saída do Egito, na peregrinação do deserto e finalmente no pacto do Sinai. Portanto, o livro do Êxodo pode ser compreendido a partir de sua progressão geográfica: Israel cativo no Egito, Israel livre no deserto e Israel em aliança no Sinai.2 Salvação, Graça e Lei Em Êxodo vemos o mais importante ato salvífico de Deus em todo o AT, de maneira que a saída do Egito, seguido da Aliança no Sinai, são os eventos que nos dão a macroestrutura para compreender três importantes temas do livro e de toda a Bíblia: salvação, graça e lei. O povo está no Egito, cativo sob grande opressão. Então o Senhor levanta um homem, o leva ao Egito, inicia uma série de sinais por meio de Moisés e começa a derrubar os deuses do Egito um a um. As chamadas “pragas” culminam na morte dos primogênitos e na instauração da Páscoa, o evento que acaba levando Faraó a libertar os hebreus. O povo sai do Egito e depois atravessa o mar a seco para ver os cavaleiros e soldados de Faraó perecerem sob as águas (Êx 12-14). A saída do Egito e a passagem pelo mar são a realização da salvação do Senhor fecham o primeiro ciclo do livro para dar início ao segundo: a peregrinação pelo deserto até Sinai, que evidenciou que mesmo tendo visto os atos de salvação de Deus o povo tinha seu coração endurecido e cheio de ingratidão e incredulidade. A chegada ao Sinai é o grande fechamento de Êxodo e aponta para uma dupla realidade da aliança: graça e lei. A graça é clara na aliança, uma vez que Deus livremente decidiu ir até o Egito e salvar seu povo. De fato, Deus estava agindo por amor da aliança com Abraão, mas a verdade é que foi a livre graça do Senhor que redimiu o povo do Egito. Mas para que os havia redimido? Com que finalidade? O Sinai é a resposta a essa pergunta: “Vocês serão o meu povo de propriedade particular entre todos os povos!” (Êx 19.5). O povo passaria a ser o povo de Deus, e precisava agora aprender a viver como tal, por isso o Senhor entrega a lei, as Dez Palavras a todo o povo. A graça só tem sentido por causa da lei, e a lei é a forma mais evidente que a graça toma em nossas vidas. Somos salvos pela graça para viver a vontade de Deus. Viver a vontade de Deus é o resultado mais óbvio da graça em nossas vidas. Na verdade, no Sinai Deus deu ao povo três bênçãos: a aliança, a lei moral e todo um sistema de sacrifícios expiatórios,3 uma vez que em parte o papel da lei era também conscientizar o povo da gravidade do pecado e da necessidade de um Mediador. Os eventos do Sinai ao intercalados pela adoração ao bezerro de ouro, que era a evidência mais clara da gravidade do problema do pecado, bem como nos adianta o tema da idolatria de Israel. As lições do Êxodo O Êxodo traz lições preciosas, tantas que se torna difícil elencar apenas algumas. No entanto, a visão geral do livro nos ensina claramente sobre a salvação poderosa de Deus, realizada pela graça e com o propósito de nos fazer seu povo, seu sacerdócio. Em Êxodo e em toda a Bíblia, não há qualquer descontinuidade entre graça e lei. Isso nos ajuda a rejeitar conscientemente qualquer tipo de legalismo que pretende comprar a salvação com obediência, mas nos leva a abandonar semelhantemente a graça barata que não se evidencia no discipulado, como diria Dietrich Bonhoeffer. Quando somos salvos pela graça em Cristo e libertos de nossa escravidão do pecado por meio do sangue do cordeiro que morreu em nosso lugar, desejamos viver ardentemente como discípulos obedientes à lei do amor. 1 ARNOLD, Bill T. ; BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento: Uma perspectiva cristã. São Paulo: Cultura Cristão, 2001, p.104 Idem, p.104 3 STOTT, John.Entenda a Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p.70 2 1