A Marvada Carne: uma leitura de Geografia Agrária Natacha Soares Ribeiro, Júlio César Suzuki Departamento de Geografia / FFLCH / USP Introdução O filme A Marvada Carne (1985), de André Klotzel, está inserido no movimento do “Novo Cinema Paulista”. De acordo com Ramos, “O conjunto destes filmes não possui traços estéticos marcadamente comuns, mas constitui um grupo coeso, se examinarmos o conjunto da produção” (RAMOS, 1992, p. 10). O filme demonstra o modo de vida e a cultura da população que vive no campo brasileiro, sendo possível identificar alguns desses aspectos ao longo do filme. Objetivo Por meio da análise do filme, procura-se identificar elementos do campo brasileiro na perspectiva da Geografia Agrária, com base nos constituintes da produção camponesa, bem como o misticismo que se relaciona a alguns aspectos da cultura brasileira que se vive no campo, como a crença em mitos folclóricos, as histórias fantasiosas e a religiosidade, representada pela fé em Santo Antônio e o medo da figura do Diabo. Metodologia Para a realização deste trabalho, inicialmente, foi escolhido o filme que se relacione com o tema da Geografia Agrária, seguindo-se a sua segmentação em grandes atos, a partir dos seguintes critérios: espaço, tempo, marcas de pontuação (cortes), coerência e lógica narrativa; sendo que cada ato gira em torno de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos ligados uns aos outros (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ, 1994). Após esta divisão, analisaram-se os elementos do cotidiano do campesinato brasileiro e o misticismo encontrados na obra. Resultados As marcas de pontuação são marcadas por cenas curtas, em espaços distintos, em grande parte do filme, o personagem principal, Nhô Quim, sai de onde morava inicialmente, depois aparece na caminhada para um novo local, depois dormindo no caminho e chegando ao novo local. O tempo no espaço do campesinato é diferente do tempo no espaço da cidade, a começar pelo trabalho que não apresenta um horário fixo. Os personagens trabalham cada um em seu ritmo, em horários flexíveis, muitas vezes ficam sem trabalho por certo momento e em outras tem trabalho em excesso, necessitando da ajuda de outros camponeses, o que marca a proximidade entre eles. Os elementos da produção camponesa encontrados no filme foram: força de trabalho familiar, ajuda mútua, socialização do camponês, propriedade da terra, propriedade dos meios de produção e jornada de trabalho diferente dos trabalhadores do meio urbano. Para isto, foram utilizados conceitos encontrados na obra de Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1991), que teve como base José Vicente Tavares, para identificar os elementos estruturais da produção camponesa. Considerações finais Embora o filme seja uma história fictícia, a análise foi possível devido às referências encontradas, que se relacionam com o cotidiano, com o trabalho, com a cultura, ou seja, com a vida do camponês no Brasil, deste modo, compreendemos existir uma Geografia no filme, por meio dos elementos estruturais da produção camponesa. Referências OLIVEIRA, A. U. de. A agricultura camponesa no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991. ORTIZ, Claudia e RAMOS, Fernão. Marvada Carne. São Paulo: Fundação para o desenvolvimento da educação, 1992. VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1994. Pesquisa realizada com apoio da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo, junto ao projeto “Geografia e Cinema”.