pode - CLUL - Universidade de Lisboa

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Pode, debe e kre
alguns modais em caboverdiano são mais iguais
do que outros
Fernanda Pratas
CLUNL-FCSH
[email protected]
Projecto ‘Eventos e subeventos em caboverdiano’
PTDC/CLE-LIN/103334/2008
Anagrama, CLUL
9 de Março de 2011
Noções básicas
 Modalidade epistémica:
confiança numa possibilidade
relativa a um conhecimento ou crença
 Modalidade deôntica:
permissão ou obrigação
exterior ao sujeito (relação com sistema normativo)
 Modalidade dinâmica:
intenção/desejo ou aptidão
da parte do próprio sujeito
Nota: designação comum em inglês para modais deônticos e dinâmicos – root modals
Verbos
modalidade
epistémica
modalidade
deôntica
modalidade
dinâmica
holandês
moegen; moeten;
kunnen; willen
moegen; moeten;
kunnen; willen
kunnen; willen
inglês
may; must (have to);
can; want
may; must (have to);
can; want
can; want
português
poder; dever (ter de);
querer
poder; dever (ter de)
(saber); querer
caboverdiano
pode; debe (ten di)
pode; debe (ten di)
(sabe); kre
pode
Leitura epistémica
(1)
Kel báka-la pode ser furtadu.1
DEM cow-LOC MOD ser roubar.PART
‘Aquela vaca pode ser roubada.’
Leitura deôntica preferida
(2)
E
pode bai ku mi.
3SG
MOD ir com 1SG
‘Ele pode ir comigo.’
1. Para uma leitura deôntica em caboverdiano, teria de ser Kel báka-la pode furtadu.
debe
Leitura epistémica preferida
(3)
E
ka
debe
sta dretu
3SG
NEG
MOD
estar bem
‘Ele não deve estar bom da cabeça.’
di kabesa.
de cabeça
Leitura deôntica preferida
(4)
Bu
debe
ruspeta bo
2SG
MOD
respeitar POSS.2SG
‘Deves respeitar o teu pai.’
pai.
pai
kre
Leitura dinâmica
(5)
E
kre bai ku mi.
3SG
MOD ir com 1SG
‘Ele quer ir comigo.’
Sintaxe/semântica: propostas (1)
 Alguns autores (Roberts 1985, Zubizarreta 1982, e. o.),
para outras línguas:
o leitura epistémica ((1) , (3)) – elevação (sem papel temático sujeito)
o leitura deôntica ((2) , (4)) – estrutura de controlo (papel temático sujeito)
Sintaxe/semântica: propostas (2)
Modais como controlo
ModP
Suj
Modais como elevação
ModP
Mod’
Mod
Inf
θ1
θ1
Mod
Inf
Suj
θ2
Inf’
θ1
PRO
Inf
Inf
θ1
Inf
….
Nota: o papel temático que o modal atribui ao infinitivo é Tema.
…..
Sintaxe/semântica: propostas (3)
 Wurmbrand (1999) (e.o.):
o Instâncias de elevação em todas as situações
(i) sujeito é o argumento do predicado mais baixo
(ii) também na leitura deôntica, o sujeito pode ser interpretado abaixo do
modal
(iii) os modais deônticos não atribuem um papel temático de sujeito
 Questão: o que nos dizem os dados do caboverdiano?
Morfemas temporais e aspectuais do caboverdiano
 Morfema zero:
(Pratas 2010) – operador que adiciona uma terminação aos
predicados atélicos e completude aos predicados télicos; é esta operação
que garante uma leitura de pretérito à grande maioria dos predicados na
sua aparente forma nua – sejam eventivos, sejam estativos que por vezes
mostram propriedades de processos/actividades.
 ta pré-verbal, que em muitos casos (grosseiramente) marca habitual
 sata pré-verbal, que marca progressivo
 -ba pós-verbal, que marca passado
 -du e -da, pós-verbais, que participam em construções passivas
Formas encaixadas em CV (1)
 Nenhuma marca morfológica de finitude
 (Pratas 2007) a natureza não finita de alguns complementos
deve ser deduzida a partir de:
(i)
restrições aos materiais que podiam ocorrer no domínio funcional
dessas orações;
e
(ii) a (in)dependência da sua interpretação temporal.
Nota: estes critérios têm vindo a ser desenvolvidos em Alexandre, Gonçalves & Pratas
(2010,…), num trabalho sobre predicados complexos em caboverdiano.
Formas encaixadas em CV(2)
 Complementos de modais deônticos:
--- Formas aparentemente não finitas
Porquê?
Porque…
(i) Os únicos materiais funcionais permitidos são:
-- -ba pós-verbal, nos casos em que existe uma leitura
contrafactual de passado (6)
-- para pode mas não para debe, a negação ka (7)
Formas encaixadas em CV (3)
-ba pós-verbal, nos casos em que existe uma leitura contrafactual de passado
(6) a.
b.
Es
mininu-li
ka
podeba bebeba lete.
DEM
menino -LOC
NEG
MOD.PST beber.PST leite
‘Este rapaz não podia ter bebido leite.’
Bu ka debeba kontaba kasi
pa
bo
2SG NEG MOD.PST contar.PST mentira PREP
teu
‘Não devias ter mentido ao teu namorado.’
mos.
namorado
Formas encaixadas em CV(4)
a negação frásica ka
(7) a.
b.
Bu
podeba ka
bai ku mi.
2SG
MOD.PST NEG
ir com 1SG
‘Tu podias não ter ido comigo.’
* Bu
2SG
debe ka
MOD
NEG
konta kasi
pa
contar mentira PREP
bo
teu
mos.
rapaz
Formas encaixadas em CV (5)
E…
(ii) A sua referência temporal depende do tempo da matriz
-- tempo prospectivo relativamente ao modal (??)
Note-se que:
 A proibição de outros morfemas temporais, tais como o progressivo sata,
e também a indisponibilidade de um tempo independente, são
propriedades atestadas para os complementos de típicos verbos de
controlo, tais como purmete ‘prometer’.
Formas encaixadas em CV(6)
 Crucialmente, leituras epistémicas dos mesmos modais:
(i) Permitem sata na encaixada.
(8) a.
b.
[Ka bu faze
raboliso pamodi] E
pode sata durmi.
NEG 2SG fazer
barulho porque 3SG
MOD PROG dormir
‘*Não faças barulho porque] Ele pode estar a dormir.’
Djon debe sata trabadja.
Djon MOD PROG ´trabalhar
‘O Djon deve estar a trabalhar.’
Nota: para uma leitura deôntica de ‘Ele pode estar a dormir.’ (como em: ‘Ele não
trabalha, pode estar a dormir até às 11.’) não temos o morfema progressivo
sata, mas sim a forma perifrástica com auxiliar, sta ta: E ka trabadja, e pode
sta ta durmi ti onzi ora.
Formas encaixadas em CV (7)
e…
(ii) exibem restrições diferentes quanto ao tempo.
(9) Kelbes pode/debe pensada
ma
bida ta biraba
midjor.
dantes MOD
pensar.PASS.PAST COMP vida TMA tornar.PST melhor
‘Naquele tempo, pode-se/deve-se ter pensado que a vida iria melhorar.’
De volta ao controlo e elevação (1)
Elevação:
Em caboverdiano, não existe de facto ‘elevação’ nas
construções com parse ‘parecer’; estas nunca exibem um
sujeito lexical na oração matriz.
(10) a.
b.
Ta parse
ma
Djon kre Maria txeu.
TMA parecer
COMP
Djon quer Maria muito
‘Parece que o Djon gosta muito da Maria.’
*Djon ta parse kre Maria txeu.
‘O Djon parece gostar muito da Maria.’
De volta ao controlo e elevação (2)
A frase em (11) é possível quando o contexto discursivo motiva a
topicalização. Por exemplo, alguém está a falar do Pedru, e de quem ele
gosta, e outra pessoa introduz o sujeito Djon, como se dissesse “quanto ao
Djon…”.
(11)
Djon, ta
parse m’-e
kre
Maria txeu.
Djon TMA
parecer COMP-3SG querer Maria muito
‘O Djon, parece que ele gosta muito da Maria.’
Note-se, no entanto, que a oração encaixada precisa mesmo assim do
complementador ma.
De volta ao controlo e elevação (3)
Apesar de esta elevação de sujeito não existir em CV…
-- parece intuitivo estabelecer que:
• pode e debe epistémicos deveriam conter uma estrutura (antes de
qualquer elevação) correspondente a ‘Pode ser que o Djon esteja a
trabalhar’
enquanto
• as suas leituras deônticas não – o que, dada a referida discussão na
literatura, as empurraria para as estruturas de controlo;
-- esta intuição sobre as leituras deônticas deve-se ao facto de, em
certos contextos, o sujeito parecer que tem uma relação temática com o
modal: em (2) é uma relação de permissão; em (4) é uma relação de
obrigação.
De volta ao controlo e elevação (4)
No entanto
-- quando aplicamos alguns dos testes diagnóstico
apresentados em (Wurmbrand 1999), ambas as leituras de
pode e debe partilham as propriedades em causa com os
verbos de ‘elevação’, não com os de ‘controlo’
 Rationale: os verbos de controlo exigem um sujeito agentivo,
os de elevação não
--- testes para isto:
-- efeitos de passivização: A. dos modais; B. sob os modais
-- C. as propriedades de escopo dos sujeitos
Efeitos de passivização (1)
A. Passivização (passivas impessoais) dos modais pode e debe:
(12) a. * Podedu…
b. * Debedu…
c. * Parsedu…
(* ‘Pareceu-se….’)
d. Tentadu badja n’es festa li.
Lit.: ‘Tentou-se dançar nesta festa.’
[elevação]
[controlo]
Efeitos de passivização (2)
Explicação:
 Em alemão – e em caboverdiano –, predicados transitivos e intransitivos
(inergativos) podem ser passivizados (13), mas os inacusativos não podem
(14).
(13) a. Es wurde getanzt…
b. Badjadu txeu n’es festa-li.
c. * It was danced a lot in this party.
[inglês: mau; alemão e CV: bom]
(14) a. * Es wurde (reichtzetig) angekommen.
b. * Txigadu sedu.
c. * It was arrived on time.’
Efeitos de passivização (3)
Explicação (cont.):
 Generalização sobre a passiva alemã, que parece aplicar-se ao CV – é
possível se o predicado tiver um argumento externo subjacente.
 Uma vez que os verbos de elevação não têm um argumento externo
subjacente, e portanto, por definição, são inacusativos, espera-se que a
passivização seja bloqueada nestes contextos de elevação.
 Logo, os modais pode e debe – mesmo na sua leitura deôntica –
comportam-se como verbos de elevação , não como verbos de controlo.
Efeitos de passivização (4)
B. Passivização do objeto encaixado:
(15) a.
b.
c.
d.
Kes bolu-li
pode kumedu.
DEM bolo-LOC
MOD comer.PASS
‘Estes bolos podem ser comidos.’
Vinhu branku
debe bebedu fresku .
vinho branco
MOD beber.PASS fresco
‘O vinho branco deve ser bebido fresco.’
Ta parse ma vinhu branku bebedu fresku.
‘Parece que o vinho branco foi bebido fresco.’
*Vinhu branku tenta bebedu fresku.
*‘O vinho branco tentou ser bebido fresco.’
*‘elevação’+
[controlo]
Nota: os exemplos em (15a,b) são com modais deônticos, uma vez que é em relação a
estes que a questão do paralelismo com a ‘elevação’ se coloca. Mas também os
complementos dos epistémicos são sujeitos a passivização, mantendo – tal como
com (15a,b) os mesmos valores de verdade que os seus equivalentes na voz ativa.
Efeitos de passivização (5)
Nota:
- Wurmbrand (1999) afirma que, em contraste com os contextos de
elevação, os “contextos de controlo *…+ bloqueiam a passivização do
objecto encaixado”, mas Aelbrecht (2010) argumenta a favor de uma
generalização diferente:
“*…+ os verbos de controlo permitem a passivização da infinitiva
encaixada mas [para isso] precisam de um sujeito animado – humano ou
não humano –, ao contrário do que sucede com os verbos de elevação.”
(Aelbrecht 2010: 23)
- em todo o caso, existe aqui um contraste relevante entre uns verbos
(elevação) e outros (controlo) que permite a comparação com os modais.
Efeitos de passivização (6)
Explicação:
 Os verbos de controlo estabelecem uma relação temática com um
argumento externo agentivo; quando o sujeito não é agentivo, esta
construção com um verbo deste tipo é agramatical.
 Quando um verbo, por outro lado, não estabelece este tipo de relação
com o sujeito (ou seja, não especifica um papel temático para o seu
argumento), esta restrição não se verifica.
 Logo, os modais pode e debe – mesmo na sua leitura deôntica –
comportam-se como verbos de elevação, não como verbos de controlo.
Propriedades de escopo (1)
C. Propriedades de escopo dos sujeitos em construções modais
(16) a. Ta parse algun algen di Praia ganha totoloto.
‘Parece que alguém da Praia ganhou o totoloto.’ [ambíguo: escopo ‘mais
alto’ ou ‘mais baixo’+
b. Algun algen di Praia tenta ganha totoloto. *só escopo ‘mais alto’+
‘Alguém da Praia tentou ganhar o totoloto.’
c. Algun algen di Praia pode / debe ganha totoloto.
‘Alguém da Praia pode/deve ganhar o totoloto.’ [ambíguo: escopo ‘mais
alto’ ou ‘mais baixo’, tanto nas leituras deôntica como epistémica]
Propriedades de escopo (2)
Explicação:
 As construções de elevação, mas não as de controlo, permitem uma
leitura em que o sujeito tem um escopo ‘estreito’ no que respeita ao
verbo matriz.
 Elevação (16a): o sujeito poderia ter um escopo ‘mais alto’, originando
uma interpretação como ‘Há alguém na Praia, e é provável que esse
alguém ganhe o totoloto’; ou, então, o sujeito poderia ter um escopo
‘mais baixo’, originando a uma interpretação como ‘É provável que alguém
(qualquer um) da Praia ganhe o totoloto’.
 Controlo (16b): aqui não temos este efeito; apenas o escopo ‘mais alto’
está disponível.
 Logo, os modais pode e debe – mesmo na sua leitura deôntica –
comportam-se como verbos de elevação, não como os de controlo (16c).
Então e a verdadeira elevação? (1)
 O que está em questão aqui é que estes verbos – verbos de ‘elevação’ e
modais, por oposição aos de controlo – não atribuem um papel temático
externo.
Problema:
Quer então dizer que não existe de facto elevação com parse
mas existe com pode e debe?
(17) a. Bu pode/debe [bu] bai ku mi.
b. E pode/debe [e] sata trabadja.
c. [*E] Ta parse m-e kre Maria.
[deôntico]
[epistémico]
*‘elevação’+
Então, e a verdadeira elevação? (2)
Proposta:
 parse ‘parecer’ selecciona um CP, encabeçado por ma
-- este nó do complemento é uma barreira ao movimento-A
Então, e a verdadeira elevação? (3)
Isto contrasta com as propriedades de seleção dos modais:
 pode deôntico seleciona um TP defetivo
-- permite a negação ka, os morfemas de passiva ou o morfema -ba (em
leituras contrafactuais) – uma vez que este -ba encaixado só pode ocorrer
quando o modal está também marcado para passado, ele é possível via
lowering a partir do T matriz
-- não permite um sujeito, morfemas pré-verbais ou uma interpretação
temporal independente.
Então, e a verdadeira elevação? (4)
 debe deôntico seleciona também um TP defetivo
-- neste caso, por razões a explorar, nem sequer permite a negação
encaixada ka
Então, e a verdadeira elevação? (5)
 pode/debe epistémicos selecionam um TP que permite o morfema préverbal sata, mas é também ele defetivo.
Nota: em fase de exploração está ainda a possibilidade de os modais serem
inseridos diretamente numa posição ModP, o que dá conta do facto de a
sua forma nua ter leitura de presente (ao contrário da maioria dos verbos
lexicais).
 Em todo o caso, com estes verbos o argumento externo do predicado mais
baixo tem de mover para a posição de sujeito da oração matriz.
Resumindo (1)
Aparentemente:
 Contraste entre:
• Leituras epistémicas, que parecem corresponder melhor às construção do
tipo de elevação (‘Pode/Deve ser que o Djon esteja a trabalhar’)
e
• Leituras deônticas, que não exibem este tipo de significado – isto poderia
conduzir-nos à hipótese do controlo para estas
Resumindo (2)
MAS
Olhando mais de perto:
 ambas as leituras partilham propriedades com as construções de
elevação, não com as de controlo (Wurmbrand 1999).
 Um sujeito mais baixo também pode ser intuitivamente percebido nas
construções deônticas: ‘Pode/Deve ser que tu vens comigo. ‘
Quanto a kre ‘querer’ … (1)
 quando não abertamente marcado para tempo, kre ‘querer’
exibe uma leitura temporal de presente, por oposição à
maioria dos verbos lexicais em caboverdiano.
---- e não é o caso de que a sua natureza estativa seja aqui a propriedade
relevante, uma vez que:
a) quase todos os estativos se comportam como os eventivos a este
respeito.
b) excepção: sabe ‘saber’ – mas já foi mostrado (Pratas 2008, 2010) que
um morfema zero também está implicado nesta forma aparentemente
nua, adicionando o significado completivo ‘eu fiquei a saber’; a
interpretação temporal disponível está ancorada no estado consequente
‘*agora+ eu sei’.
Quanto a kre ‘querer’ … (2)
 Propriedades dos complementos
(i)
Os únicos materiais permitidos na oração encaixada são:
-ba, quando temos uma leitura contrafactual no passado (18)
(18) E
kreba
serba
3SG
querer.PST SER.PST
‘Ele queria ter sido meu namorado.’
nha
POSS.3SG
mos.
namorado
(ii) A referência temporal está dependente do tempo da matriz:
-- no indicativo, o tempo é prospetivo no que respeita à matriz
Quanto a kre ‘querer’ … (3)
 Logo, kre mostra propriedades típicas dos modais.
-- leitura de presente para a sua forma nua (pode ser inserida numa
posição mais alta? – em investigação)
-- propriedades defetivas da estrutura funcional encaixada
--- seleciona um complemento VP (cf. Alexandre 2009)
Nota: kre pode também seleccionar um CP, mas com um C lexicalizado; ou
seja, é um CP encabeçado por pa; este é o caso quando o sujeito da
encaixada e o da matriz têm referência disjunta.
(as restrições a este tipo de complementos estão sob investigação)
Quanto a kre ‘querer’ … (4)
No entanto:
-
Quanto aos testes em Wurmbrand (1999), comporta-se como os verbos
de controlo, não como os de elevação (por oposição a pode/debe em
todas as situações); isto significa que estabelece uma relação temática
com um argumento externo:
A. Pode ser passivizado (19)
(19) Kreda faze tantu kuza mas ka fazedu nada.
‘Tinha-se querido fazer tanta coisa, mas não se fez nada.’
As for kre… (5)
B. Passivização do complemento:
- com um sujeito inanimado, o objeto não pode ser passivizado (20).
(20) * Vinhu branku kre bebedu fresku.
* ‘O vinho branco quer ser bebido fresco.’
- com um sujeito animado, a passivização do objeto é possível – este
contraste aponta para um argumento externo agentivo; ainda assim,
esta passivização implica uma alteração nas condições de verdade (21).
(21) a. Maria kre odja Djon.
‘A Maria quer ver o Djon.’
b. Djon kre odjadu [pa Maria].
‘O Djon quer ser visto [pela Maria+.’
As for kre… (6)
C. E quanto às propriedades de escopo do sujeito (22)
(22) Algun algen di Praia kre ganha totoloto. *só escopo ‘mais alto’+
‘Alguém da Praia quer ganhar o totoloto.’
Considerações finais

Os modais pode e debe, quer na leitura deôntica quer na epistémica, mostram um
comportamento típico de verbos de elevação, não de verbos de controlo.

kre partilha com os modais
-- o facto de a sua forma nua ter uma leitura de presente
e
-- o facto de poder seleccionar como complemento uma oração não plena (um TP
defectivo para pode/debe, um VP para kre)

kre contrasta com pode e debe, em ambas as leituras destes, quanto à relação
temática estabelecida com o argumento externo.
Isto atesta a natureza diferente desta modalidade – modalidade dinâmica

Aelbrecht (2010: 27) apresenta um exemplo do holandês com o dinâmico kunnen (competência/habilidade)
mostrando que o seu complemento pode ser passivizado mesmo com um sujeito inanimado e sem
produzir alteração nas condições de verdade; no entanto, subsiste a dúvida sobre se o kunnen na
passiva tem o mesmo valor dinâmico ou se, pelo contrário, já é deôntico: (i) Só o Hilke kan preparar
aquele prato tão difícil; (ii) Aquele prato tão difícil só kan ser preparado pelo Hilke.
Questões para o futuro
(i) Natureza dos complementos
o Serão os complementos destes modais verdadeiras formas não finitas?
---- aliás:
fará sentido considerar a distinção finito vs. não finito em caboverdiano?
Na verdade, o que é que define uma infinitiva?
(ii) Propriedades específicas dos complementos CP de kre; no
caso dos complementos não introduzidos por pa, claramente
não parecem CPs, mas sim VPs.
(iii) Descrição de outros contextos com modais (meste ‘precisar
de’; ten di ‘ter de’)
Referências
•
•
•
•
•
•
•
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Aelbrecht, Lobke. 2010. The Syntactic Licensing of Ellipsis. Amsterdam/Philadelphia: John
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Alexandre, Nélia, Anabela Gonçalves & Fernanda Pratas. 2010. Predicados complexos em
Crioulo de Cabo Verde. Paper presented at the 6º Encontro da Associação Brasileira de
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Pratas, Fernanda. 2007. Tense Features and Argument Structure in Capeverdean Predicates.
PhD dissertation, Universidade Nova de Lisboa.
Pratas, Fernanda. 2008. Temporal interpretation in Portuguese based Capeverdean Creole.
Paper presented at Going Romance 2008, Workshop on Tense and Aspect, University
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Pratas, Fernanda. 2010. States and Temporal Interpretation in Capeverdean. In BokBennema, Reineke, Brigitte Kampers-Manhe & Bart Hollebrandse (eds) Romance
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Groningen 2008. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 215-231.
Roberts, Ian. 1985. Agreement parameters and the development of English auxiliaries.
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Wurmbrand, Susi. 1999. Modal verbs must be raising verbs. WCCFL 18 Proceedings, S. Bird,
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Zubizarreta, M. L. 1982. On the relationship of the lexicon to syntax. PhD dissertation, MIT.
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