Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS DA RAIVA ISOLADOS DE BOVINOS E EQÜÍNOS NO PERÍODO DE 1997-2002 EM ÁREA EPIDÊMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria do Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde, para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública Orientador: Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky São Paulo 2009 Pedro Carnieli Junior CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS DA RAIVA ISOLADOS DE BOVINOS E EQÜÍNOS NO PERÍODO DE 1997-2002 EM ÁREA EPIDÊMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria do Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde, para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública Orientador: Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky São Paulo 2009 Folha de Avaliação Nome do autor: Carnieli Jr, Pedro Título: Caracterização genética do vírus da raiva isolados de bovinos e eqüínos no período de 1997-2002 em uma área epidêmica do Estado de São Paulo, Brasil Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria do Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde, para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Data: 19 de dezembro de 2009 Banca Examinadora Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky (Orientador) Prof. Dr. Luis Fernando de Macedo Brígido – PPG – CCD (Memória) Prof. Dr. Edson Durigon – USP Profa. Dra. Silvana Regina Favoretto – IP – USP rof. Dr. Fumio Homa Ito – USP (Memória) DEDICATÓRIA _____________________________________________________________ Aos meus pais Pedro e Leontina (in memoriam) Às minhas filhas Candida e Carolina e às minhas netas Sofia e Alice À minha orientadora Profa. Dra. Maria do Carmo Sampaio Tavares Timenetsky Agradecimentos Agradeço ao Intituto Pasteur, em nome da sua Diretora Neide Yumie Takaoka, por oferecer todas as condições necessárias para o desenvolvimento desta Tese. Aos colegas Profa. Dra. Juliana Galera Castilho, Willian de Oliveira Fahl e Nazle Mendonça Collaço Véras pela participação no desenvolvimento deste trabalho. Aos colegas Pesquisadores da Biologia Molecular Carla Isabel Macedo, Rafael de Novaes Oliveira, Ekaterina Durymanova Ono e Keila Iamamoto Nogi. Agradeço ao Prof. Dr. Murilo Gomes por ceder diversas imagens utilizadas neste trabalho. Ao Prof. Dr. Wilson Uieda e ao Dr. João José de Freitas Ferrari por cederem imagens fotográficas relacionadas ao Desmodus rotundus. Ao Dr. Nilton Fidalgo Perez por permitir utilizar dados epidemiológicos gerados durante sua Dissertação de Mestrado. À Pesquisadora Científica Karin Corrêa Scheffer Ferreira pela orientação na dissertação referente ao Desmodus rotundus. À Pesquisadora Graciane Maria Medeiros Caporale por disponibilizar a imagem comprobatória do peso molecular da Nucleoproteína. A todos os funcionários do Instituto Pasteur, que de forma direta ou indireta me auxiliaram. Aos Professores do Programa de Pós-Graduação que participaram da minha formação científica. Resumo A história biogeográfica da raiva pode ser reconstruída utilizando dados moleculares. Este trabalho descreve a caracterização do Vírus da Raiva (RABV) que circula na população do morcego hematófago Desmodus rotundus em uma área epidêmica do Estado de São Paulo e que é transmitido para herbívoros de interesse econômico como, por exemplo, os bovinos e eqüínos. Os genes N e G dos vírus foram seqüenciados e as árvores filogenéticas geradas são topologicamente concordantes. Três agrupamentos filogenéticos (clusters) foram identificados na área epidêmica e foram designados como RD1, RD2 e RD3. Os resultados mostram que a origem dos clusters RD1 e RD2 são diferentes e que a epidemia da área RD3 é o resultado da expansão da área RD2. As seqüências genéticas dos dois genes analisados neste estudo foram comparadas entre si e com seqüências obtidas no GenBank apresentando alta identidade (> 98%), mantidas no tempo e espaço. Os resultados sugerem que as linhagens do RABV que circulam em D. rotundus na costa atlântica da América do Sul são altamente conservadas. Palavras-chave: Lyssavirus; Vírus Epidemiologia molecular; Filogenia. da raiva; Quirópteros; Bovinos; Abstract The biogeographical history of rabies can be reconstructed using molecular data. This work describes the genetic characterization of the Rabies virus lineages that circulates in the Desmodus rotundus (vampire bat) population in an epidemic area and is transmitted to herbivorous livestock. The N and G genes of this virus were sequenced, and the phylogenetic trees generated were topologically concordant. Three genetic clusters were identified in the epidemic area and were designated RD1, RD2 and RD3. The results show that the origins of the epidemic in areas RD1 and RD2 were different and that the epizootic in area RD3 was the result of expansion of that in area RD2. The two genes analyzed are conserved, and their identities, which are greater than 98%, were maintained over time and space. The genetic sequences in this study were compared with others retrieved from GenBank, and the high identity of the N and G genes was also shown to be maintained over time and space. The results suggest that the D. rotundus lineages of the Rabies virus from the Atlantic coast of South America are highly conserved. Key words: Lyssavirus; Rabies Virus; Chiropters; Bovines; Molecular epidemiology; Phylogeny. Abreviaturas e Símbolos A= adenina aa= amino ácido AcN= anticorpo neutralizante AgV= variante antigênica CD44= glicoproteína de superfície celular, envolvida com a interação entre as células e sua migração CD99= glicoproteína de superfície celular, envolvida com a migração de leucócitos, transporte de proteínas através de membranas, interação com o citoesqueleto, entre outros CG= Complexo de Golgi C-terminal= região carboxi-terminal das proteínas Da= Dalton ERA= amostras fixa Evelyn-Rokitnicki-Albelseth ECTO= ectodominio extra-celular de G ED= endodominio intra-celular de G G= glicoproteína G G= guanosina Gs= forma solúvel de G HEP-Flury= amostras fixa High Egg Passage-Flury ICTV= International Committee on Taxonomy of Viruses kDa= quilo Dalton L= proteína RNA polimerase RNA dependente L Le= promotor líder (”leader”) M= proteína matriz M MAb= anticorpo monoclonal mRNA= RNA mensageiro N= nucleoproteína N nAChR= receptor nicotínico de acetilcolina NCAM= molécula de adesão de neurônios nm= nanômetro nt= nucleotídeo(s) N-terminal= região amino-terminal das proteínas OPAS/OMS= Organização Panamericana de Saúde/Organização Mundial de Saúde ORF= “open reading frame” P= fosfoproteína P p75NTR= receptor de neurotrofina de baixa afinidade pH= potencial hidrogeniônico poli (U)= códon de parada (sitio de poliadenilação) PV= Pasteur Virus RABV= Vírus da Raiva RE= retículo endoplasmático RNA-Le= RNA líder RNP= ribonucleocapsídeo SNC= Sistema Nervoso Central SP= peptídeo sinal de G SVS/MS= Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil Tc= Linfócitos T cititóxicos CD8+ Th= Linfócitos T auxiliares CD4+ TM= domínio trans-membrana de G Tr= promotor “trailer” U= uracila VSV= Vírus da Estomatite Vesicular WHO= World Health Organization Lista de Tabelas 01 Espécies reconhecidas e espécies propostas do Gênero Lyssavirus, Família Rhabdoviridae. (Childs e Real, 2007)..................................... 31 02 Número de casos de raiva, por espécie animal na Europa no período 1990-2008. O número de casos de raiva em raposas e raccoon-dog são mostrados separadamente, mas pertencem ao grupo de silvestres Fonte: Rabies Bulletin Europe............................. 62 Número de casos de raiva em cães e gatos na Europa. 1990-2003. Fonte: Rabies Bulletin Europe.......................................... 63 03 04 Número de casos de raiva em alguns países europeus com diferentes “status” de vigilância epidemiológica (1977-2008). Fonte: Rabies Bulletin Europe........................................................................ 63 05 Histórico dos últimos 10 anos mostrando o número de casos de raiva humana por país da América Latina. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br.............................................................. 69 06 Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva em animais e sua distribuição. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br....... 69 07 Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva em bovinos. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br.................................... 70 08 Número de casos de raiva por espécie no Brasil no ano de 2009. Dados parciais até 23 de julho. Fonte: SVS/MS.................................. 81 09 Ocorrência de raiva em herbívoros, confirmação pela rede de laboratórios de diagnóstico do Estado de São Paulo. Fonte: Peres, 2009..................................................................................................... 97 10 Número de morcegos Desmodus rotundus capturados e tratados com Warfarina e refúgios trabalhados no Estado de São Paulo, 1997–2007. Fonte: Peres, 2009......................................................... 99 11 Número de herbívoros existentes e herbívoros vacinados, na área de vacinação obrigatória da raiva, no Estado de São Paulo, 2001– 2006. Fonte: Peres, 2009.................................................................... 100 12 Números de casos de raiva no Estado de São Paulo em relação aos mapas Kernel da Figuras 29 e 30, no período 1997-2003. Fonte: Gomes, 2008....................................................................................... 106 13 Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do gene N. A Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras, ano e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur, as espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos a que pertencem.................................................................................. 110 14 Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do gene G. A Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras, ano e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur, as espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos a que pertencem.................................................................................. 113 15 Número de herbívoros positivos para a raiva nas áreas RD1, RD2 e RD3 e o total de herbívoros positivos no Estado de São Paulo no período de 1996-2003; B- Distribuição cronológica de bovinos e eqüinos positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e RD3 que tiveram o gene N tipificado no estudo; C- Distribuição cronológica de bovinos e eqüinos positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e RD3 que tiveram o gene G tipificado no estudo. Fonte: Comissão Estadual de Controle da Raiva (www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao)............... 117 16 Números de acesso do GenBank de seqüências utilizadas para gerar a seqüência consenso do gene N RABV AgV3 (A) e para o gene G (B) e, também, utilizadas nas análises filogenéticas. A Tabela mostra as espécies das quais o RABV foi isolado, o Estado de origem, o ano de isolamento e as referências bibliográficas relacionadas às seqüências................................................................ 118 17 Nomenclatura, abreviatura, símbolos e polaridade dos 20 aminoácidos traduzidos a partir do código genético. Fonte: Lodish et al. (2005).............................................................................................. 135 Lista de Figuras 01 Esquema da composição estrutural do Vírus da Raiva. Fonte: www.sciencephoto.com.br............................................................. 33 02 Micrografias do RABV corados negativamente. A- x70000, Bx40000 e C- x200000, respectivamente e aproximadamente....... 34 03 Representação esquemática da organização genômica das amostras fixas PV e ERA do RABV proposto por Tordo et al. (1986) (acima) e a representação esquemática da organização genômica da amostras fixa HEP-Flury (abaixo) do RABV proposto por Morimoto, Ohkubo, Kawai, (1989), mostrando a integração da região não-codificante G-L dentro do gene que codifica para a glicoproteína do vírus. Fonte: Morimoto, Ohkubo, Kawai, (1989)................................................................................ 37 04 Reação de imunofluorescência positiva para a pesquisa do antígeno rábico em impressões de tecido nervoso de animal infectado. Observar Corpúsculos de Negri (estruturas circulares) Fonte: Instituto Pasteur (www.pasteur.saude.sp.gov.br)............... 45 05 Micrografia eletrônica corada negativamente de Corpúsculo de Negri (estrutura central circular). Observar partículas do RABV ao redor do Corpúsculo de Negri. X64000. Fonte: www.news.bbc/diseases/img/rabies.............................................. 46 06 Representação esquemática do ciclo de replicação do vírus da raiva, evidenciando-se os processos de ligação, entrada, replicação, maturação e saída de novas partículas virais infectantes. Fonte: Piere (2003).................................................... 48 07 Eletroforese em gel de poliacrilamida mostrando o peso molecular da nucleoproteína N do RABV. PM= peso molecular, MC= meio de cultura, LC= lisado celular e RNPs= nucleoproteína N com 57KDa. Imagem cedida por Caporale, GMM.............................................................................................. 49 08 Mapa da Europa mostrando os 703 casos de raiva em bovinos nos diferentes países no ano de 2008. Os casos de raiva são indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies Bulletin Europe........................................................................................... 64 09 Mapa da Europa mostrando os 5106 casos de raiva em raposas (Vulpes vulpes) nos diferentes países no ano de 2008. Os casos de raiva são indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies Bulletin Europe............................................................................. 64 10 Distribuição de casos de raiva nas Américas, 2006. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br........................................................ 70 11 Casos de raiva em cães no Brasil no ano de 2008. Fonte: SVS/MS......................................................................................... 74 12 Casos de raiva em bovinos no Brasil no ano de 2008. Fonte: SVS/MS......................................................................................... 75 13 Casos de raiva em equinos no Brasil no ano de 2008. Fonte: SVS/MS......................................................................................... 75 14 Casos em animais e humanos no Brasil, 2008. Fonte: SVS/MS.. 15 Série histórica de casos de raiva em humanos por Estados do Brasil, 1986-2008. Fonte: SVS/MS ............................................... 78 16 Série histórica de animais transmissores de casos de raiva humana no Brasil, 1986-2007. Fonte: SVS/MS............................. 79 17 Imagens de diferentes fenótipos de Desmodus rotundus. As duas imagens superiores mostram a pelagem castanha, comum e, abaixo, alaranjada e albina, raras. Fotos: W. Uieda.................. 86 18 Imagens de abrigos artificiais de Desmodus rotundus. Fotos: J.J. Ferrari..................................................................................... 89 19 Imagens de abrigo artificial (mina abandonada) de Desmodus rotundus e outros morcegos. Foto: J.J. Ferrari............................. 90 20 Imagem de cavalo sendo atacado pelo Desmodus rotundus. Observar morcego e ferimento causado pela espoliação no pescoço do cavalo. Foto: J.J. Ferrari............................................ 91 21 Detalhe da Figura 20 (cavalo sendo atacado pelo Desmodus rotundus). Observar morcego e ferimento causado pela espoliação no pescoço do cavalo. Foto: J.J. Ferrari..................... 92 22 Mapa mostrando os Departamentos de Saúde do Estado de São Paulo. Fonte: www.saude.sp.gov.br/content/geral................. 97 77 23 Mapa do Estado de São Paulo (SP), Sudeste, Brasil, e as áreas epidêmicas RD1, RD2 e RD3. A localização da capital do Estado, cidade de São Paulo, e a região endêmica estão indicadas no mapa. A localização do Estado de São Paulo é mostrada em cinza no mapa do Brasil no canto direito da Figura. Os Estados brasileiros Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), da região Centro-Oeste, Estado de Tocantins (TO), na região Norte, além de Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ), os quais como São Paulo, situam-se na região Sudeste, são também mostrados na Figura. Abaixo, o mapa do Brasil mostrando o relevo do país e ao lado, o Estado de São Paulo mostrando seu relevo em maiores detalhes. Fonte: Miranda (2009)............................................................................................ 98 24 Gráficos e tabelas com os números de bovinos e eqüinos positivos para a raiva no Estado de São Paulo (imagem superior), como também nas áreas RD1, RD2 e RD3 (imagem inferior) Fonte: (www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao)......... 100 25 Aspectos do relevo do Estado de São Paulo (imagem superior) e divisão geomorfológica paulista (imagem inferior). Imagens geradas a partir de dados provenientes do SRTM (“Shuttle Radar Topography Mission”). Fonte: Gomes, 2008...................... 102 26 Pluviosidade média anual do Estado de São Paulo (imagem superior) e temperatura média anual do Estado de São Paulo (imagem inferior). Imagens geradas a partir de dados provenientes do SRTM (“Shuttle Radar Topography Mission”). Fonte: Gomes, 2008...................................................................... 103 27 Mapa parcial da América do Sul mostrando seu relevo. Observar a área destacada com um retângulo em preto que delimita, aproximadamente, a área da epidemia 1997-2002 estudada. Fonte: www.geografiaparatodos.com.br....................... 104 28 Posicionamento dos principais rios e represas existentes nas áreas RD1, RD2 e RD3. Fonte: Gomes, 2008.............................. 104 29 Mapas Kernel para cada ano da série histórica 1992-2003 sobrepostos à divisão geomorfológica paulista. Os “valores “baixos e altos” são relativos ao número de casos de raiva diagnosticados no ano analisado. Fonte: Gomes, 2008............... 105 30 Função Kernel elaborado com a somatória dos diagnósticos laboratorialmente positivos de raiva bovina (1992-2003) nas áreas RD1, RD2 e RD3. O epicentro da Figura, em vermelho, se refere à área RD2 analisada neste trabalho. Os valores relativos “baixos e altos” referem-se ao número de casos de raiva diagnosticados no período 1992-2003. Fonte: Gomes, 2008....... 106 31 Função Kernel da cobertura vegetal das áreas RD1, RD2 e RD3 no ano de 1997. Observar os dois focos de raiva (círculos brancos e pretos) na área RD1. Comparar com a Figura 29, ano de 1997 Fonte: Gomes, 2008........................................................ 107 32 Transições (x s) e transversões (∆ v) versus gráfico de divergência das seqüências genéticas do Gene G da glicoproteina (A) e do Gene N da nucleoproteína (B)................... 121 33 Árvore filogenética do gene N do RABV, gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de referência AgV3 RABV e linhagens do gene N AgV3 RABV isoladas de bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A seqüência de referência Duvenhage foi utilizada como outgroup. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap. As linhagens numeradas são descritas na Tabela 13........................................................... 123 34 Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências do Estado do Rio de Janeiro, Vale do Paraíba (SP) e linhagens representativas da epidemia 1997-2002. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap............................................ 126 35 Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de linhagens representativas da epidemia 19972002 (caixa alta) e dos anos de 2007 e 2008 (caixa baixa) isoladas na mesma área epizoótica. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap........................................................................................ 127 36 Árvore filogenética do gene G do RABV, gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de referência AgV3 RABV e linhagens do gene G AgV3 RABV isoladas de bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A seqüência de referência Duvenhage foi utilizada como outgroup. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap............................................ 128 37 Média da distância genética entre as linhagens RABV AgV3 isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intrapopulação) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como também entre o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intrapopulação) baseado no gene N da nucleoproteína. B. Diversidade do gene N entre as linhagens RABV AgV3 isoladas em bovinos no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C. Divergência do gene N entre as linhagens do RABV AgV3 isoladas no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001 e a linhagem da amostra fixa PV e entre as linhagens do Consenso Brasileiro RABV AgV3................................................................... 130 38 A. Média da distância genética entre as linhagens RABV AgV3 isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intrapopulação) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como também entre o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intrapopulação) baseado no gene G da glicoproteina. B. Diversidade do gene G entre as linhagens RABV AgV3 isoladas em bovinos no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C. Divergência do gene G entre as linhagens do RABV AgV3 isoladas no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001 e a linhagem da amostra fixa PV e entre as linhagens do Consenso Brasileiro RABV AgV3.............................................................................................. 131 39 Entropia do gene N (acima) e da nucleoproteína N (abaixo). H= Grau de entropia (incerteza) e x= número de seqüências analisadas..................................................................................... 136 40 Entropia do gene G (acima) e da glicoproteína G (abaixo). H= Grau de entropia (incerteza) e x= número de seqüências analisadas..................................................................................... 137 41 Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da N da nucleoproteína das linhagens do RABV AgV3 estudada. Os amino ácidos das colunas em tom cinza são aqueles encontrados em todas as linhagens e, portanto, são assinaturas genéticas. A seqüência Consenso BR está em vermelho. O nome das seqüências da área RD1 é mostrado em cor verde e os amino ácidos que caracterizam estas seqüências, as assinaturas da área RD1, estão circundados também em verde. A numeração da primeira linha da figura se refere ao número da posição do amino ácido em relação à amostra fixa Pasteur Virus.............................................................................................. 195 42 Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da Glicoproteína G das linhagens do RABV AgV3 estudadas. Os amino ácidos das colunas em tom cinza são aqueles encontrados em todas as linhagens e, portanto, são assinaturas genéticas. A seqüência Consenso BR está em vermelho. A numeração da primeira linha da figura se refere ao número da posição do amino ácido em relação à amostra fixa Pasteur Virus.............................................................................................. 198 Índice 1.Introdução......................................................................................... 25 1.1.A Raiva............................................................................................ 25 1.2.História da Raiva............................................................................. 25 1.3.Classificação do RABV.................................................................... 29 1.4.O RABV.......................................................................................... 32 1.4.1.Morfologia do RABV..................................................................... 32 1.4.2.Organização genômica do RABV................................................. 34 1.4.3.Transcrição e Tradução do RABV................................................ 37 1.4.3.1.Os transcritos mRNA do RABV................................................. 38 1.4.4.Replicação do RABV................................................................... 39 1.4.5.Variação genotípica do RABV..................................................... 40 1.4.6.O ciclo de infecção do RABV...................................................... 42 1.4.6.1.Morfogênese e gemação do RABV........................................... 44 1.4.7.As proteínas e os genes do RABV............................................... 47 1.4.7.1.A Nucleoproteína N................................................................... 47 1.4.7.2.O gene N................................................................................... 50 1.4.7.3.A Glicoproteína G...................................................................... 50 1.4.7.4.O gene G................................................................................... 53 1.4.7.5.A Fosfoproteína P..................................................................... 53 1.4.7.6.Proteína matriz M...................................................................... 54 1.4.7.7.RNA polimerase-RNA-dependente L........................................ 55 1.4.8.O RABV e a patogenia da raiva.................................................. 57 1.5.A Epidemiologia da Raiva............................................................... 59 1.5.1.A raiva na na África...................................................................... 59 1.5.2.A raiva na Ásia............................................................................. 60 1.5.3.A raiva na Europa......................................................................... 60 1.5.4.A raiva na América do Norte........................................................ 65 1.5.5.A raiva na América Central e do Sul............................................ 67 1.5.5.1.As variantes antigênicas e genéticas do RABV na América Latina espanhola................................................................................... 72 1.5.6.A raiva no Brasil........................................................................... 74 1.5.6.1.As variantes antigênicas e genéticas do RABV no Brasil......... 82 1.5.7.O Desmodus rotundus e a raiva em bovinos............................... 85 1.5.7.1.A biologia do Desmodus rotundus............................................. 85 1.5.8.A dinâmica da raiva em bovinos................................................... 93 1.5.9.A epidemia de raiva 1997-2002 no Estado de São Paulo............ 95 2.Objetivos........................................................................................... 108 3.Material e Métodos.......................................................................... 109 3.1.Amostras........................................................................................ 109 3.2.Transcrição reversa seguida da Reação em cadeia pela polimerase (RT-PCR) e Seqüenciamento do DNA............................... 112 3.3.Análise filogenética......................................................................... 114 3.4.Seqüências de consenso............................................................... 115 3.5.Análise de Distância Genética........................................................ 116 3.6.Análise de polimorfismos................................................................ 116 3.7.Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G.......................... 116 4.Resultados....................................................................................... 120 4.1. RT-PCR e Seqüênciamento........................................................... 120 4.2. Análise Filogenética....................................................................... 120 4.3.Análise de Distância Genética........................................................ 129 4.4.Análise do Polimorfismo dos genes N e G..................................... 129 4.5.Análise das Regiões com Atividade Biológica da Nucleoproteína N e da Glicoproteína G.......................................................................... 133 4.6.Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G.......................... 135 5.Discussão.......................................................................................... 138 6.Conclusões.................................................................................... 160 Referências....................................................................................... 161 Anexos............................................................................................... 188 Seqüências putativas da nucleoproteína N e da glicoproteína G do RABV..................................................................................................... 188 Protocolos das Reações de Material e Métodos................................... 199 1.Introdução 1.1.A Raiva A raiva é uma doença infecciosa aguda e progressiva do sistema nervoso central (SNC) de mamíferos, causada pelo Vírus da Raiva (RABV). O vírus é presente na saliva de animais infectados e, assim, a transmissão ocorre, em geral, através de mordedura (Acha e Szyfres, 2003). A doença é um grave problema de saúde pública, apesar de ser uma doença que pode ser prevenida por meio de vacina (Briggs e Hanlon, 2007). A Organização Mundial da Saúde (OMS), estima a morte de 55.000 pessoas por ano, principalmente na Ásia e na África, onde se calcula haver, aproximadamente, 31000 casos/ano e 24000 casos/ano, respectivamente (WHO, 2005). A raiva é a décima primeira causa de morte humana entre as doenças infecciosas (WHO, 2000). A doença mata mais pessoas que febre amarela, dengue e encefalite japonesa, pois uma pessoa morre de raiva a cada 15 minutos e, no mesmo intervalo de tempo, outras 300 são expostas ao vírus (Rupprecht, Hanlon, Hemachuda, 2002). A importância da raiva para a saúde pública não se limita apenas ao número de casos, mas também pela alta letalidade, que alcança 100% dos enfermos. Também é necessário considerar o caráter econômico da doença (WHO, 2005), pois aproximadamente dez milhões de pessoas/ano são submetidas à profilaxia pós-exposição (Plotkin, 2000; Rupprecht, Hanlon, Hemachuda, 2002). Além dos problemas anteriormente citados, é necessário o contínuo desenvolvimento de procedimentos diagnósticos e análises epidemiológicas. Em humanos, doenças infecciosas como tétano, malária cerebral, doenças causadas por rickettsias, febre tifóide e outras não infecciosas, como a síndrome de Guillain-Barré, intoxicação por produtos químicos e encefalomielite alérgica vacinal, se confundem com a raiva (Hemachudha, Laothamatas, Ruprecht, 2002). Em animais de interesse econômico, como o gado, as meningoencefalites, principalmente virais, como a pseudo-raiva, a rinotraqueíte infecciosa e a febre catarral maligna, também são confundidas clinicamente com a raiva (Heuschele, 1987). 1.2.História da Raiva A raiva é bem documentada, pois é uma das doenças mais antigas conhecidas pelo homem. Foi sempre motivo de temor para a população devido às peculiaridades de sua transmissão, das manifestações clínicas no 25 doente e o curso invariavelmente fatal, comprovando-se tal fato na extensa e interessante história da raiva registrada na literatura (Steele e Fernandez, 1991). A palavra raiva deriva do latim “Rabies”, e significa “fúria e delírio”. Do sânscrito a palavra “Rabhas” significa “loucura e demência” (Steele e Fernandez, 1991). Os gregos a chamavam de “Lyssa” ou “Lyta”, que também significam loucura (Wilkinson, 2002). No código de “Eshnunna”, escrito cerca de 2.000 anos a.C. na Mesopotâmia, foram registrados os primeiros relatos de morte humana devido a mordeduras por cães raivosos (Wilkinson, 2002). Era considerada por povos Assírios, Egípcios e Caldeus como uma doença de origem religiosa, enquanto que Chineses e Hindus acreditavam que o desequilíbrio entre os quatro elementos que constituíam o corpo humano favorecia o aparecimento da doença (Barata, 1985). Há várias citações sobre a doença na mitologia grega e nela encontramos os deuses Aristeu, que era invocado na proteção contra este mal e Artemis, que era cultuado como a divindade com poderes para sua cura (Barata, 1985). Homero, em A Ilíada, relacionava problemas da saúde humana e canina com o aparecimento da estrela “Sirius”, a estrela do cão na constelação de “Orion”, que surge no firmamento da região do Mediterrâneo no mês de Agosto. Ainda hoje persiste a crença popular que relaciona o mês de Agosto como o “mês do cachorro louco” (Schneider e Santos-Burgoa, 1994). Demócritus, em 500 a.C., foi o primeiro a descrever o quadro clínico da raiva canina e Aristóteles, no século IV a.C., escreveu no livro História Natural dos Animais que os cães com raiva ficavam irritados e os animais mordidos por aqueles cães também adquiriam raiva. Aristóteles, no entanto, acreditava que o ser humano não era acometido pela raiva animal. O filósofo Plínio não concordava com esta afirmação e dizia que a raiva animal também poderia ser transmitida aos humanos (Villasenõr, 1974; Baer, 2007). Vários autores da antigüidade, como Xenofontes, Virgílio, Horácio e Ovídio, relataram em suas obras aspectos sobre a raiva, como a importância do cão na transmissão da doença ao homem, e a infectividade da saliva dos cães raivosos. Naquela época, acreditava-se que havia um “veneno”, em latim “virus”, na saliva dos animais com raiva que era o responsável pela doença (Wilkinson, 2002). Celsius, no século I d.C., estudou vários aspectos da raiva, enfatizando a importância da saliva dos animais com raiva na transmissão 26 da doença ao homem. Considerou que outros animais como gatos, macacos, além do cão, poderiam transmitir a doença. Quanto aos cuidados com os ferimentos causados por animais com raiva, recomendava o uso de ventosas para a sucção do veneno inoculado e, posteriormente, a cauterização das feridas com substâncias cáusticas corrosivas ou ferro em brasa. Celsius explicava ainda que (para combater a hidrofobia) ”quando a doença aparece, o único remédio é colocar o doente inesperadamente dentro de um tanque, fazendo com que ele possa beber água, desaparecendo ao mesmo tempo a sede e o medo da água”. Estes procedimentos foram usados até o fim do século XIX (Dean, Baer, Thompson, 1963). Só no ano de 900 d.C. a raiva silvestre foi descrita na Europa, quando um urso com raiva saiu de um bosque, perto do porto de Lyon, na França, e atacou vinte lenhadores que tentaram matá-lo a pauladas. Em conseqüência das mordeduras seis lenhadores desenvolveram raiva e foram mortos por sufocamento, que era um dos procedimentos com que “piedosamente” se resolviam os casos de raiva humana naquela época (Bravo, 1978). A primeira grande epidemia descrita da doença data de 1271, quando lobos com raiva invadiram cidades e vilarejos da França, atacando o rebanho e as pessoas. Sabe-se que 30 pessoas morreram devido aos ataques. Em 1500, a Espanha foi assolada pela raiva canina. Em 1604, espalha-se por Paris e por toda a Europa Central. Na Inglaterra, o reconhecimento da doença se deu em 1735 (Wilkinson, 2002) e no século XIX, a doença volta a ganhar grandes proporções na Europa, principalmente na França, Inglaterra e Alemanha (Baer, Belli, Fishbein, 1990). Nas Américas, a primeira referencia feita a raiva foi escrita em 1514 pelo capitão Fernandez de Oviedo, durante a conquista espanhola da península mexicana de Yucatan. Fernandez de Oviedo relacionou a raiva com a morte de vários soldados, após estes serem mordidos por morcegos (primeira e única descrição da raiva transmitida por morcegos até o século XX) e, ao mesmo tempo, ficou intrigado pelo desconhecimento dos nativos em relação à doença em cães, comum no Velho Mundo (Baer, 2007). Apesar dos conhecimentos sobre a raiva se avolumarem, crenças supersticiosas e mágicas eram mantidas para explicá-la. Isto favoreceu a adoção de condutas exóticas e sem nenhum embasamento científico, e que muitas vezes submetiam o doente a um sofrimento adicional inútil. Estes fatos levaram a comunidade científica do século XVII a posicionar-se frente a esta situação, e em declaração feita a 10 de junho de 1671, em reunião na Sorbonne, foram condenadas todas as práticas supersticiosas para o tratamento da raiva (Steele e Fernandez, 1991). 27 Em 1804, na Alemanha, Zinke fez a primeira abordagem científica, inoculando saliva de cães com raiva em cães sadios, induzindo-os a contrair a raiva. Zinke pincelou saliva de um animal com raiva na pata ferida de outro cachorro e observou que, após 17 dias, em média, começaram os sintomas da doença e, no vigésimo dia o animal tinha a raiva de forma aparente. Nos seus ensinamentos sobre a doença, Zinke alertou para o cuidado de não ser contaminado pela saliva de pessoas com raiva, como também ao tocar com as mãos desprotegidas objetos que estiveram em contacto com a boca dos doentes (Baer et al., 1990). Galtier, em 1879, inoculando extrato de tecido nervoso de coelhos com raiva em cabras e carneiros, visando induzir proteção imunológica em animais de laboratório, exerceu influência sobre Louis Pasteur nas suas pesquisas com a raiva (Wilkinson, 2002). Em 1881, Pasteur publica seu primeiro estudo sobre a raiva, concluindo que “o sistema nervoso central, especialmente o bulbo, é particularmente ativo no desenvolvimento da doença”. Provou, ainda, que a fonte da doença não era somente a saliva, pois reproduziu a doença em animais através de injeções de material coletado do SNC e fluido espinhal. Posteriormente, Pasteur e col. cultivaram o vírus, inoculando-o sucessivamente em animais, observando que o período de incubação, antes variável, encurtava e se estabilizava. Esta nova amostra viral, obtida experimentalmente, foi chamada de “atenuada”. Desta adaptação do vírus da raiva originou-se o vírus “fixo”, cuja virulência é constante e reprodutível para a espécie na qual foi adaptado, ao contrário do vírus “de rua”, isolado de animais infectados naturalmente (Baer, 2007). Pasteur, em 1884, utilizando medulas de coelhos, inoculadas com vírus “fixos” e dessecadas com potassa (NaOH) a 22 °C, inoculou durante nove dias, intracerebralmente, o macerado deste material em cães, e estes não adquiriram raiva. Posteriormente, observou que animais inoculados diariamente com este material, por via subcutânea, também se tornavam imunes. A partir dessas observações Pasteur produziu a primeira vacina para a raiva (Baer, 2007). Pasteur e col. tinham todos os resultados muitos bem estabelecidos e favoráveis para começar a testar as vacinas em humanos, mas Pasteur declara, em carta escrita ao então Imperador brasileiro Dom Pedro II, datada de 22 de setembro de 1884, “Nada ousei até aqui no homem, apesar de minha confiança nos resultados e das numerosas oportunidades que tive depois de meu último comunicado à Academia de Ciências. Mas, apesar de ter múltiplos exemplos de profilaxia de raiva em cães, parece que minha mão tremeria quando fosse passá-la à espécie humana”. Mais adiante, na 28 mesma carta, Pasteur faz uma insinuação de que “se fosse imperador de um grande país (no caso o Brasil), obrigaria condenados à morte a serem alvo de experimentação das vacinas”. Em troca, se a vacina funcionasse, o condenado ganharia a liberdade. Dom Pedro II, muito elegantemente e em carta resposta a Pasteur, negou a proposta do amigo, dizendo que, no Brasil, a pena de morte nunca chegava a se concretizar e que nenhum condenado arriscaria entrar em um experimento que pudesse o levar a morte. E diz, ainda, que se Pasteur quisesse, poderia vir ao Brasil para realizar pesquisas com vacinação da febre amarela, que era um problema muito maior no país (Vieira e Hossne, 1998). Nesse tempo, chega até Pasteur o garoto Joseph Meister, de nove anos, que havia sido mordido severamente por um cachorro com raiva. O menino foi examinado por médicos que consideraram inevitável o aparecimento da doença. Motivado pelas suplicas da mãe de Joseph, Pasteur decidiu usar o método que havia sido um sucesso em cachorros no tratamento do garoto. Assim foi feito e, após 60 horas dos ferimentos, foi inoculado na criança metade do volume de uma seringa de medula de um coelho infectado com o RABV, preservado por 15 dias. Após essa primeira injeção, seguiram-se mais 13 inoculações diárias, e a doença não se manifestou (Wilkinson, 2002). Em 1886, Pasteur registrou os resultados do tratamento de mais 350 casos, conseguindo estabelecer a profilaxia da raiva, faltando apenas um centro para a vacinação contra a doença (Wilkinson, 2002). A Academia de Ciências de Paris propõe uma comissão para executar a proposta de Pasteur e, assim, foi criado o primeiro Instituto Pasteur na França. Dez anos depois havia vários Institutos Pasteur por todo o mundo, se responsabilizando pela pesquisa e tratamento da raiva. No final de 1886, mais de 2000 pessoas estavam sendo tratadas e a mortalidade da doença diminuía (Wilkinson, 2002). A partir de então teve início uma nova etapa na história da raiva, tornando viável e seguro o tratamento de indivíduos expostos ao RABV. 1.3.Classificação do RABV O RABV, como outros vírus da Ordem Mononegavirales (Fauquet et al., 2007), possuem genoma constituído de RNA fita simples, nãosegmentado e com sentido negativo (-ssRNA). Outros representantes desta Ordem de vírus são, por exemplo, os vírus Ebola (Filoviridade) e os vírus do sarampo (Paramyxoviridae). 29 O RABV pertence à Família Rhabdoviridade, uma das quatro Famílias da Ordem Mononegavirales. A família Rhabdoviridae (do grego “rhabdos”, que significa “roda”) possui cinco Gêneros: 1. Cytorhabdovirus: infectam plantas e são transmitidos por artrópodes. 2. Nucleorhabdovirus: infectam plantas. 3. Vesiculovirus: infectam mamíferos, peixes e insetos. 4. Ephemerovirus: infectam mamíferos e são transmitidos por insetos hematófagos. 5. Lyssavirus: infectam mamíferos. O RABV pertence ao Gênero Lyssavirus, que possui sete espécies, também designadas por Genótipos. A Tabela 01 sumariza as espécies reconhecidas e as espécies propostas do Gênero Lyssavirus. O RABV é o vírus protótipo do Gênero Lyssavirus, designado como genótipo 1 e é o único do Gênero que causa a raiva. Os genótipos 2 até 7 são chamados de vírus aparentados ao RABV (“rabies-like”) (Fauquet et al., 2007). Os genótipos 2 até 7 apresentam sintomatologia clínica semelhante e algumas vezes indistinguível da raiva clássica e, por isto, todos os membros do Gênero Lyssavirus são atualmente citados como causadores de lissaviroses (Hanlon et al., 2005). A classificação inicial do Gênero Lyssavirus utilizava o termo sorotipo, devido às suas características antigênicas, identificadas por meio de estudos de reações cruzadas com soros. Em 1994, especialistas em raiva propuseram a denominação de "genótipos" em substituição aos "sorotipos", até então utilizados para designar os diferentes membros do gênero Lyssavirus (Gould et al., 2005). Portanto os genótipos 1 a 4 podem também ser designados por sorotipos 1 a 4, respectivamente. Badrane et al. (2001a), estudando a homologia genética dos sete membros do Gênero Lyssavirus os agrupou em dois grupos distintos. O primeiro grupo, designado por Filogrupo I, é composto pelos genótipos 1, 4, 5, 6 e 7, enquanto que o Filogrupo II, é composto pelos genótipos 2 e 3. Novos Lyssavirus, isolados recentemente na Rússia e Ásia Central, ainda estão em estudo, mas muitos estudiosos já os consideram novas espécies do Gênero (Kusmin et al., 2003; Kusmin et al., 2008). 30 Tabela 01: Espécies reconhecidas e espécies propostas do Gênero Lyssavirus, Família Rhabdoviridae. (Childs e Real, 2007). Espécie Sorotipo/Genótipo/ Abreviação ICTV a Espécies relacionadas na manutenção Mortes Distribuição humanas Referência anual Mundial, com exceção da Rabies Virus (ST 1/GT 1) Cães, carnívoros silvestres, Austrália, Antarctica e países RABV morcegos designados como “rabies-free” ~55000 Shope, 1982 (Japão e os da Grã-Bretanha) Morcegos - Lagos bat (ST 2/GT 2) LBV Megachiroptera; Eidolon África: República Africana, helvum, Micropterus Etiópia, Nigéria, Senegal, pusillus, Epomophourus África do Sul Não descrito 1958. wahlbergi Shrew - Insectivora; Mokola (ST 3/GT 3) MOKV Crocidura spp; Rodentia; Lopyhromys sikapusi Bougler e Porterfield, África: Cameron Central, República Africana, Etiópia, Nigéria, África do Sul, Ocasional Shope et al., 1970. Zimbábue Morcegos Duvenhage (ST 4/G 4) DUVV Microchiroptera; Miniopterus schreibersii, Nycteris gambiensis, N. África: África do Sul, Guiné, Zimbábue Meredith, Ocasional Rossouw e Van Pragg.,1971. hebaica European bat Lyssavirus 1 (GT 5) EBLV- 1 Morcegos Microchiroptera; Myotis Morcegos - Microhiroptera; (GT 6) EBLV-2 Eptesicus serotinus (GT 7) ABLV Aravan virus b ARAV Khujand vírus b KHUV Irkut virus b IRKV Ocasional Europa Ocasional dasycneme, M. daubentonii European bat Lyssavirus 2 Australian bat Lyssavirus Europa Morcegos - Austrália, 1996; possivelmente Megachiroptera; Pteropus e ocasionalmente Sudeste do alecto, P. scapulatus continente asiático Morcegos - Microhiroptera; Myotis blythi Morcegos - Microhiroptera; Myotis mystacinus Morcegos -Microhiroptera; Murina leucogaster West Caucasian bat virus b Morcegos - Microhiroptera; WCBV Miniopterus schreibersi Ocasional Quirquistão, 1991 Não descrito Tajiquistão, 2001 Não descrito Sibéria Oriental, 2002 Não descrito Montanhas do Cáucaso, 2003 Não descrito Bourhy, Kissi eTordo, 1993. Bourhy, Kissi e Tordo, 1993. Speare et al., 1997. Arai et al., 2003. Kuzmin et al., 2003. Kuzmin et al., 2003. Botvinkin, 2003. a- ICTV=International Committee on Taxonomy of Viruses (Fauquet et al., 2007). b- Novos Lyssavirus ainda não classificados (WHO, 2004). 31 1.4.O RABV 1.4.1.Morfologia do RABV O RABV é baciliforme, com 100 a 250 nanômetros (nm) de comprimento e 75 nm de diâmetro, em média, com uma extremidade semicircular e a outra plana (Sokol, 1975). Possui envoltório externo (envelope) formado por lipídios da célula hospedeira, com espículas de 5 a 10 nm de comprimento, cerca de 3 nm de espessura, distanciadas em 5 nm, formadas por trímeros da glicoproteína G (G) (Gaudin et al., 1992). Madore e England (1977) calcularam haver 450 espículas de G triméricas por virion (partícula viral). No envelope também são encontradas algumas proteínas da célula hospedeira, como por exemplo, calnexin, proteínas do citoesqueleto e os receptores glicoprotéicos CD44 e CD99 (Gupta et al., 2000). A constituição do envelope é semelhante ao da membrana celular da célula infectada pelo vírus e, normalmente, são detectados fosfolipídios, lipídeos neutros e gligolípideos (Wunner, 1991). Abaixo do envelope encontra-se uma camada matriz formada por proteínas matriz M (M), que une o envelope do vírus à ribonucleoproteína (RNP) interna. A RNP é helicoidal, possuindo 30 a 35 giros, com 50 nm de espessura por 170 nm de comprimento, em média, e é composta pelo RNA genômico de fita simples, sentido negativo, não segmentado, associado às proteínas RNA polimerase RNA dependente L, fosfoproteína P, nucleoproteína N, além de proteínas M. Formando a RNP há, aproximadamente, 1800 moléculas de N, 950 de P e 30 a 60 L. Devido a presença de L a transcrição e a replicação são autônomas e independentes da célula hospedeira (Wunner, 2002; Van Regenmortel et al., 2000) (Figura 1, Figura 2). O peso seco do virion é composto por 67–74 % de proteínas; 2-3 % de RNA; 3 % de carboidratos e 15-25 % de lipídios, sendo que deste percentual 55-60 % é fosfolipídio e 35-40 % glicolipídio. O RABV tem peso molecular entre 500 a 700 x 106 Da, densidade em CsCl de 1,19 a 1,20 g/cm3 e densidade em sucrose de 1,17 a 1,19 g/cm3. A infectividade do vírus é estável entre pH 5,0 e pH 10,0 e é rapidamente inativado a 50°C; por irradiação ultravioleta ou raio-X; exposição a solventes lipídicos ou agentes oxidantes (Gaudin et al., 1992). 32 Envelope Ribonucleocapsídeo Legenda Figura 1: Esquema da composição estrutural do Vírus da Raiva. Fonte: www.sciencephoto.com.br. 33 A Fonte: www.utmb.edu/images/Rabies_virus.jpg B Fonte: www.ncbi.nlm.nih.gov/Rabies_virus_fox.jpe C Fonte: www.cdc.gov/kidsrabies/images/rabvir1.gif Figura 2: Micrografias do RABV corados negativamente. A- x70000, B- x40000 e C- x200000, respectivamente e aproximadamente. 1.4.2.Organização genômica do RABV O genoma do RABV, na amostra fixa Pasteur Virus (PV), contém 11932 nucleotídeos (nt). O RNA genômico é linear e policistrônico, com sentido negativo, codificando do extremo 3’ (região amino-terminal) para 5’ (carboxi-terminal), com o final 5’ trifosfatado e não poliadenilado. Possui 34 cinco genes dispostos nesta ordem: gene da nucleoproteína N (1350 nt), gene da fosfoproteína P (M1ou NS) (891 nt), gene da proteína matriz M (M2) (606 nt), gene da glicoproteína G (1572 nt) e gene da RNA polimerase RNA dependente L (6426 nt). Possui 5 ORF (“open reading frame”), transcrevendo as proteínas estruturais com as mesmas designações dos seus respectivos genes (Tordo et al., 1986). Um promotor multifuncional, designado por ”leader” (Le), que atua de forma “cis-acting” (inserido e atuando no genoma), para polimerização, é reconhecido pela transcriptase (somente L) ou pelo complexo polimerase (L mais P). O promotor Le se situa na extremidade 3’ e transcreve um pequeno mRNA, o RNA líder (RNA-Le), não traduzido, com 58 nt de comprimento, correspondente ao trecho de nt do extremo 3’ do genoma precedendo o gene N. O RNA-Le não é poli (U), ou seja, poliadenilado, e indiretamente, controla a mudança (“switch”) da transcrição para a replicação do genoma do vírus. A mudança do modo de transcrição para replicação pode estar associado à capsidização destes RNA-Le por N (Yang et al., 1998, 1999). Além destas funções, o RNA-Le parece funcionar como um sinalizador para que a N se ligue ao RNA genômico (Yang et al., 1998). Há evidências que os aa 298 a 352 de N, região altamente conservada, parece ser o sitio de ligação para a região compreendida entre os nt 20 a 30 do RNA-Le (Kouznetzoff, Buckle e Tordo, 1998). No extremo 5', no final do genoma, há uma seqüência de 69 nt, designado por “trailer” (Tr), que é o promotor para a síntese do antigenoma, de sentido positivo, necessário para a replicação do genoma com sentido negativo (Tordo e Kouknetzoff, 1993; Conzelmann e Schnell, 1994; Whelan e Wertz, 1999). As regiões Le e Tr são ricas em resíduos uracila (U) e adenina (A) entre os nt 7 a 40, em todos os Lyssavirus. As áreas entre os nt 10 e 20 das regiões Le e Tr, possuem uma perfeita complementaridade quando comparadas, indicando ser uma área com iguais funções durante a transcrição e replicação (Tordo e Kouknetzoff, 1993). Essas áreas podem corresponder ao sinal de reconhecimento do complexo polimerase L na transcrição e na replicação. Também existe uma perfeita complementaridade entre os 11 primeiros nt das extremidades 3’ e 5’. Esta complementaridade é encontrada em todos os vírus RNA não segmentados de sentido negativo e pode representar a conservação de sinais entre o genoma e o antigenoma, sinalização esta fundamental para a replicação (Tordo, 1996). Como o extremo 3’ do genoma possui um promotor para a acomodação de L, o antigenoma também necessita o ter para a replicação (Finke e Conzelmann, 35 1997). Assim, a conservação das extremidades 3' e 5', do genoma (e antigenoma) são fundamentais para a transcrição e replicação (Wunner, 2002). Os sinais genômicos internos de início e parada da transcrição do RABV flanqueiam os genes. São compostos por nove nt de uma seqüência de consenso entre os Rhabdoviridae (Tordo, 1996). No final de cada gene há uma seqüência poli (U) (códon de parada) que poliadenila as regiões finais dos mRNA, de sentido positivo. Nos genes M e G de algumas amostras do RABV há códons de terminação alternativa, pois existem dois códons de parada em cada um dos genes (Tordo e Poch, 1988). As seqüências intergênicas do genoma variam em composição e tamanho e, em alguns casos, a região 5’ do mRNA transcrito se sobrepõe à região 3’ do gene seguinte. A região entre os genes N e P tem os nt GA; a região entre os genes P e M tem GUCCG; a região entre os genes M e G tem GAUAA e a região intergênica entre os genes G e L [chamada psi (Ψ) ou G-L] tem, em média, 423 nt (Tordo, 1996; Finke, Cox e Conzelmann, 2000). A região intergênica G-L, a mais extensa, possui 423 nt na amostra fixa PV (Tordo et al., 1986). Esta região é um dos alvos para o estudo da evolução molecular do RABV, pois é susceptível a mutações, mesmo quando livre de pressões seletivas e, assim, é pouco conservada (Sacramento, Bourhy e Tordo, 1991). Segundo Tordo et al. (1986), esta região representa um gene remanescente, um pseudogene, uma vez que é longa o suficiente para sintetizar um peptídeo e apresenta os sinais clássicos de início e parada de transcrição do vírus. No entanto, até a presente data não há registro de isolamento de nenhuma proteína derivada desta região. Em outros Rhabdoviridae, como os Vesiculovirus, nesta região há um sexto gene (Tordo, 1996). Morimoto, Ohkubo e Kawai (1989), estudando as amostras fixas HEPFlury (High Egg Passage-Flury) e ERA (Evelyn-Rokitnicki-Albelseth), encontraram uma organização genômica diferente na região G-L daquela descrita por Tordo et al. (1986). Os autores demonstraram que a amostra HEP-Flury não apresenta o sinal de parada de transcrição (poli A) entre a extremidade 5’ do gene G e a 3’ da região não-codificante G-L, considerando, portanto, que esta região esteja integrada ao gene G, podendo ser transcrita como parte deste gene. Na amostra ERA, verificaram a mesma organização genômica de PV sugerida por Tordo et al. (1986), porém mostraram, através do isolamento de glicoproteínas de tamanhos diferentes, que a transcrição do gene da glicoproteína pode terminar em dois 36 pontos distintos: na posição +10 a partir da extremidade 5’ do gene ou na extremidade 5' da região G-L (sinal de poliadenilação). Resumindo e em relação ao gene G, no genoma das amostras vacinais PV e ERA, há dois sinais de poliadenilação (ou códon de parada), enquanto que em outras amostras vacinais há somente um. O primeiro códon de parada das amostras vacinais PV e ERA são localizados no final do gene G, enquanto que o segundo se localiza no final da região intergênica G-L (Figura 3). Figura 3: Representação esquemática da organização genômica das amostras fixas PV e ERA do RABV proposto por Tordo et al. (1986) (acima) e a representação esquemática da organização genômica da amostras fixa HEP-Flury (abaixo) do RABV proposto por Morimoto, Ohkubo, Kawai (1989), mostrando a integração da região não-codificante G-L dentro do gene que codifica para a glicoproteína do vírus. Fonte: Morimoto, Ohkubo, Kawai (1989). 1.4.3.Transcrição e Tradução do RABV A transcrição inicia-se pela extremidade 3’ do genoma e segue formando os cinco tipos de mRNA com “cap” (adição de metil-guanosina) na região 5’ e poliadenilados na região 3’. A transcrição é iniciada no momento em que L reconhece o sinal “cis acting” Le. Primeiramente é transcrito o RNA-Le, sem “cap” ou poliadenilado, relativo à região Le, que não é traduzido. O transcrito Le interage com os promotores (“start codon”) situados no início de cada gene, permitindo que a transcrição dos mesmos ocorra. A interação de Le com os promotores é necessária para que L “se apóie” em Le e inicie a transcrição (Yang et al., 1999). 37 1.4.3.1.Os transcritos mRNA do RABV Os transcritos mRNA possuem sentido positivo e são monocistrônicos. A seqüência invariável 3'-UUGU-5' do genoma (5'-AACA-3' em cada transcrito complementar ao genoma) identifica o sinal de inicio da transcrição (“start codon”). Durante a síntese dos mRNA nascentes L adiciona ao nt final 5’ uma metilguanosina (5'-m7Gppp) (“cap”) (Testa, Chanda, Banerjee, 1980). No RABV, a seqüência 3'-AC(U)7-8-5', na região final 5' de cada gene (“upstream” em relação as seqüências intergênicas), é a região-sinal de parada (códon de parada) para a poliadenilação dos mRNA (5'-UGAAAAAAA-3' no final 3' de cada mRNA complementar). O último mRNA é a ORF do gene G mais a seqüência intergênica G-L (em algumas amostras, como discutido anteriormente). Quando L opera no modo de transcrição, ao alcançar a região com 7 ou 8 uracilas no genoma, ela pára e, repetidamente, copia esta área. Este processo gera a cauda poli-A (com mais de 200 'A's) no final 3' do mRNA. O novo mRNA é liberado e a transcriptase, após “saltar” a próxima região intergênica e reconhecer o próximo “start codon” já ligado à Le, inicia a transcrição do mRNA do próximo gene (Tordo e Kouknetzoff, 1993; Gould et al., 1998). A produção dos cinco diferentes mRNA não é igual em número. Ocorre um gradiente decrescente na produção dos mRNA (e das proteínas traduzidas) nesta ordem: N > P > M > G > L. O que determina esta molaridade decrescente dos produtos gênicos é a progressão seqüencial de L. Nem todas L que transcreveram o gene anterior iniciam a transcrição do próximo. O tamanho da região intergênica G-L (423 nt, em média) causa uma grave diminuição na transcrição do gene L (Finke, Cox, Conzelmann, 2000). Portanto, a localização de um gene influencia diretamente sua taxa de transcrição, indicando que o controle da expressão gênica está relacionado com a localização do gene no genoma (Banerjee e Barik, 1992). Pensa-se que L dissocia-se do genoma após a leitura de cada sinal de parada, antes de reconhecer o próximo sinal de início do gene seguinte. Como as regiões intergênicas, não transcritas, são muito curtas (dois ou cinco nt e com exceção da região G-L), o grande complexo polimerase tem dificuldade em unir-se ao próximo sinal de início. Este mecanismo explicaria o grande número de produtos do primeiro gene e pouquíssimos do último (1800 e 60 respectiva e aproximadamente) (Banerjee e Barik, 1992; Finke, Cox, Conzelmann, 2000). Esta característica não é restrita ao RABV, pois está presente em todos os representantes da Ordem Mononegavirales, onde os genes das proteínas estruturais se posicionam na região 3`, enquanto o gene da polimerase, necessária em pequenas concentrações, se encontra na posição 5` (Tordo et al., 1992). 38 A tradução dos cinco mRNA (ver item 1.4.6. O ciclo de infecção do RABV) inicia-se com o códon de iniciação AUG (metionina) na região 5' e termina na posição 3', com os códons de parada: UAA ou UGA (Wunner, 2002). 1.4.4.Replicação do RABV A replicação do genoma ocorre após a tradução, com a formação de vários RNAs intermediários com sentido positivo, os antigenomas, que são moldes para a síntese do RNA genômico de sentido negativo (Tordo, 1996; Wunner et al., 2002). Os antigenomas são sintetizados no sentido positivo e de modo policistrônico, pois L deixa de reconhecer os sinais de início e parada dos genes. Logo que o antigenoma e o genoma são produzidos eles são recobertos (capsidados) por proteína N. Tanto o genoma quanto o antigenoma, para serem funcionais, devem estar revestidos por proteína N e, portanto, a replicação é dependente da síntese desta proteína (Banerjee e Barik, 1992; Tordo e Kouknetzoff, 1993). O início da síntese do antigenoma e, posteriormente, o genoma, é produto de alguns eventos. Inicialmente ocorre a cobertura dos RNA-Le pelas proteínas N recémproduzidas, inativando-as. Este fenômeno impede que L inicie a transcrição dos mRNA monocistrônicos de cada um dos genes, pois a união de L aos promotores de transcrição é dependente da presença de RNA-Le (Yang et al., 1998, 1999). Outro evento necessário para que ocorra a replicação do genoma do RABV é a união de proteína N ao RNA genômico. Assim que N recém produzida se une ao RNA genômico L não reconheçe os sinais de início e parada, respeitados na transcrição. Enquanto a quantidade de proteína N unida ao genoma for pequena, L reconhece os sinais de poliadenilação (“stop códon”), se solta do RNA genômico e reconhece os sinais de início dos genes seguintes, produzindo novos mRNA. Portanto, havendo quantidade suficiente de N sobre o RNA genômico, os sinais internos não são respeitados e a polimerase segue a leitura do genoma ininterruptamente (Wertz, Davis e Patton, 1987; Banerjee e Barik, 1992). Nas fases iniciais da infecção, como a presença de N ainda é pequena, a replicação viral é praticamente inexistente, no entanto, após a síntese de grandes quantidades de N, inicia-se a replicação do genoma do RABV. Assim, N é a responsável pela mudança (“switch”) entre transcrição e 39 replicação (Tordo, 1996; Wertz, Davis, Patton, 1987; Banerjee e Barik, 1992). Como resultado, ocorre à transcrição do RNA genômico com sentido positivo, o antigenoma, que servirá de molde para a produção do genoma com sentido negativo do RABV (Wunner, 2007). 1.4.5.Variação genotípica do RABV Como outros vírus RNA, o RABV apresenta pouca fidelidade durante a replicação pela falta de reparo (“proofreading”) e correção dos erros após a replicação. Isto ocorre porque L não tem atividade exonucleásica, que retira nt adicionados incorretamente. Isto causa a incorporação de mutações e, portanto, inicia a formação de distintos genomas de mesma origem que o ambiente selecionará (Kissi et al., 1999). Apesar deste aumento progressivo de variação genotípica, uma linhagem do RABV pode evoluir e expressar mutações características que determinam fenótipos que são expressos nas relações vírus-hospedeiro (Morimoto et al., 1998). As mutações no RABV ocorrem com freqüência média de 10-4 - 10-5/nt por ciclo de replicação, alterando a freqüência genômica da população viral. Assim, as novas linhagens do vírus que incorporam novas mutações, na tentativa de se adaptarem, são selecionadas. Este fenômeno forma subpopulações designadas como “quasispecies” (Tsimring, Levine, Kessler, 1996). As diferenças encontradas entre amostras de vírus de diversas regiões, em diferentes momentos, podem ser analisadas através deste modelo genético (Morimoto et al., 1998; Kissi et al., 1999). O ambiente de um vírus RNA é fechado, porém possui componentes que afetam sua adaptação. Áreas do citoplasma das células infectadas, individualidade dos hospedeiros e o próprio ambiente ecológico habitado pelo hospedeiro, modulam a resposta adaptativa dos vírus RNA (Domingo e Holland, 1997). Populações com altas taxas de mutações, como os vírus RNA, possuem uma significante proporção de mutantes deletérios. Além disto, mutações individuais podem ser perdidas por deriva genética e também por estrangulamento populacional (“bottlenecks”), permitindo que características de alta ou baixa adaptação ambiental possam se tornar prevalentes no hospedeiro (Clarke et al., 1993). A baixa taxa de mutação de um genoma diminui a possibilidade de variações adaptativas selecionáveis (Muller, 1964). Em grandes populações, 40 como as de vírus, uma mutação benéfica pode ocorrer durante o crescimento populacional. Assim, a probabilidade de características com grande valor adaptativo ser transferida para um novo hospedeiro é alta (Clarke et al., 1993). A falta de diferenciação de variações ambientais induz competição entre os componentes de uma dada população (Hardin, 1960), porém as altas taxas de mutações dos vírus RNA podem causar coexistência de varias linhagens geneticamente distintas. A coexistência é possível porque elas utilizam o ambiente de forma diferente e em taxas diferentes, diretamente proporcionais ao tamanho de cada linhagem (Miralles et al., 1999). Nas linhagens de vírus, as mutações com alto valor adaptativo tendem a se fixar no conjunto delas quando estão agrupadas. Os vírus se adaptam pelo aparecimento e fixação de mutações com alto valor adaptativo (Clarke et al., 1993). Esta situação tem limites. Havendo aumento na adaptação das linhagens mais elas crescem, chegando a um ponto que o ambiente cria resistência, como por exemplo, pela falta de matéria prima (nt e aa), espaço, morte prematura da célula, ativação de sistemas SOS do metabolismo celular, entre outros (Miralles et al., 1999). A diversidade e abundância de nt e aa são fatores que afetam sobremaneira a sobrevivência das linhagens dos vírus. Os sinais de início e parada de transcrição são pontos conservados, onde as taxas de mutações são pequenas. Alterações nestas áreas alteram a produção dos ácidos nucléicos (e cosequentemente proteínas), fazendo com que ocorra a abundância de certos nt ou aa e a falta de outros. A ocorrência de mutações que favoreçam a replicação de uma linhagem de vírus, com seqüência nucleotídica diferenciada, determina o maior uso de certos nt ou aa, levandoos à escassez, enquanto há a abundância de outros. Inserções sinônimas podem produzir o mesmo efeito, como também a presença de partículas defectivas (Bracho, Moya, Barrio, 1998). O conceito de “quasispecies” (Eigen e Schuster, 1977) afirma que o alvo da seleção ambiental não é um simples genótipo, mas um conjunto de genótipos mutantes distribuídos ao redor do mais freqüente. Ou seja, “quasispecies” é uma classe de mutantes dentro das probabilidades de mutações. A classe de uma “quasispecies” que replicar mais rapidamente será selecionada positivamente. Assim, a seqüência individual não é selecionável e sim o conjunto de “quasispecies”. Dentro do ponto de vista da genética de populações os vírus são variadas populações mutantes dispersas, e não um conjunto proveniente de uma seqüência selvagem original, como as “quasispecies” (Eigen, 1996). 41 Para a genética populacional, as populações de vírus possuem uma extrema variabilidade genética. Estas populações são derivadas de “replicons”, originados através de mutações, e selecionados de forma simples através de adaptações ambientais. A genética de população não se baseia no indivíduo ou nos conjuntos de indivíduos, e sim em um grupo semelhante com variação genética (Miralles, Moya, Elena, 1997). Os autores que moldaram o conceito “quasispecies” afirmam que a genética de populações é uma boa teoria para populações de reprodução sexuada, onde mutação é um evento raro e a seleção de genótipos é a principal força atuante, gerando populações homogêneas, pois adiciona e fixa possíveis variações neutras por deriva genética (Felsenstein, 1971; Haigh, 1978). Miralles, Moya, Elena (1997), analisando e comparando os dois modelos de estudo, genética de população e “quasispecies”, concluem que um pesquisador deve e pode optar pelo modelo o qual estiver mais familiarizado, pois os resultados da análise, principalmente em relação aos vírus RNA, serão os mesmos. 1.4.6.O ciclo de infecção do RABV Os eventos no ciclo de replicação do RABV, na célula hospedeira, são semelhantes aos de muitos outros vírus, ou seja: adsorção, penetração, transcrição, tradução, replicação, maturação e liberação por brotamento (gemação) (Fauquet et al., 2007). Todas as fases intracelulares ocorrem no citoplasma celular, motivo pelo qual o genoma do vírus possui o gene L. No que diz respeito aos genes estruturais do vírus estes apresentam diferentes funções, de acordo com o estágio da infecção (Wunner, 2007). O vírus liga-se a receptores celulares (proteínas de membrana) por meio das espículas, formadas por trímeros da glicoproteína G encontradas sobre a superfície do envelope do vírus (Lafon, 2005). A adsorção não é dependente de temperatura, mas de pH, sendo o pH 6,3 o mais favorável, pois este pH determina pequenas mudanças conformacionais em G. As espículas, em pH ácido, mudam de conformação, tornando-se mais compridas e irregulares. Esta mudança é reversível e, de novo em pH 7, retomam a sua conformação original. Portanto, a conformação de G é dependente de pH (Gaudin et al., 1995). O reconhecimento dos receptores celulares depende da topografia das espículas. O sítio antigênico III, que possui o aa arginina na posição 42 333, que determina a neurovirulência do RABV, é preservado na configuração ácida (Gaudin et al., 1995). Em relação ao neurotropismo, é provável que o vírus reconheça receptores de membrana, como o receptor nicotínico de acetilcolina (nAChR) encontrado nas junções neuromusculares, os prováveis locais de entrada do vírus no Sistema Nervoso (SN) (Lentz et al., 1982). Lentz et al., (1984) verificaram uma grande semelhança estrutural entre os aa 189 a 214 de G com a neurotoxina extraída de serpentes venenosas, um forte ligante do nAChR. Porém nem todas as células susceptíveis a infecção pelo RABV possuem nAChR (Lafay et al., 1991). Há indícios que componentes das membranas celulares com fosfolípidios e glicolípidios estimulam o neurotropismo do RABV. Em neurônios e fibroblastos, componentes de membrana como o ácido siálico e gangliosídeos, podem estar envolvidos (Lentz et al., 1986). Outros dois receptores descritos como importantes para a entrada do vírus na célula hospedeira são a molécula de adesão de neurônios CD56 (“neural cell adhesion molecule”) (NCAM) (Thoulouze et al., 1998) e o receptor de neurotrofina de baixa afinidade (“low-affinity neurotrophin receptor”) (p75NTR) (Tuffereau et al., 1998). Após o RABV se ligar ao receptor celular ocorre a invasão da célula hospedeira, normalmente pela fusão do envelope com a membrana celular (Superti, Derer, Tsiang, 1984). A penetração do vírus é dependente de temperatura, sendo 37°C o ponto ótimo. A endocitose (pinocitose) é a hipótese aceita para explicar a entrada do vírus na célula. Cada uma das vesículas endocíticas incorpora vários (dois até cinco) virions (Tsiang, 1993; Gaudin et al., 1993). No interior da célula ocorre a decapdização do virion, ou seja, a liberação da ribonucleoproteína (RNP) no citoplasma. O baixo pH interno do vacúolo digestivo, formado pela união do endossomo mais lisossomo celular, faz com que a membrana do vacúolo una-se à membrana do envelope do vírus. Esta união membranosa aumenta a pressão interna do virion, ejetando a RNP diretamente no citoplasma. Desta forma, o genoma não é lesado pelo suco digestivo dos lisossomos e também pelas nucleases e proteases celulares, pois são protegidos pelo próprio endossomo (Gosztonyi, 1994; Wunner, 2007). Uma vez a RNP livre no citoplasma, ela desespiraliza para que a transcrição e a replicação possam ocorrer (Iseni et al., 1998). Nesta situação, imediatamente se inicia a transcrição dos cinco mRNA, sua tradução e, logo em seguida e concomitantemente, a replicação (Marsh e Helenius, 1989; Whitt et al., 1991; Gaudin et al., 1992). 43 A transcrição é realizada pelo complexo polimerase, L mais a proteína P que age como cofator. Este complexo age sobre os sinais de início (“start códon”) produzindo os cinco mRNA monocistrônicos (Flamand e Delagneau, 1978). Em cada junção intergênica o complexo polimerase pausa e uma estimada porcentagem deles (20% a 30%) se dissociam e, conseqüentemente, há uma atenuação da transcrição em direção a região 5’ (“downstream”) (Finke, Cox, Conzelmann, 2000). Todas as proteínas virais são transcritas e traduzidas simultaneamente. As proteínas N, P, M e L são traduzidas nos ribossomos livres do citoplasma, enquanto que G o é nos ribossomos ligados a membrana do retículo endoplasmático rugoso (ergastoplasma) (RER) (Gaudin et al., 1992). Após a síntese de G, esta é transportada para o lúmen do RER, onde é iniciado seu processamento. No interior do RER, pontes dissulfídicas são adicionadas em G, além das dobras realizadas por enzimas e “chaperones” celulares. Além disto, o monômero de G sofre modificações e é glicosilada. Alguns dos seus aa asparagina são glicosilados pelo processo N-glycan (oligossacarídeos ligados a cadeia lateral do aa asparagina). Em seguida, o pós-processamento dos monômeros de G é finalizado no complexo de Golgi (CG), onde G são agrupadas, três a três, formando os trímeros das espículas do vírus. São as espículas que possuem atividade biológica (Shakin-Eshleman et al., 1992; Whitt et al., 1991; Gaudin et al., 1992; Gaudin, 1997a). Após a transcrição das proteínas, principalmente N, a replicação se torna o evento dominante (Finke e Conzelmann, 1997). 1.4.6.1.Morfogênese e gemação do RABV Havendo suficiente número das cinco diferentes proteínas e, também, RNA genômico, ocorre a montagem do vírus (morfogênese). Concomitantemente à formação da RNP (a união de N, P e L ao RNA), as proteínas M e G se deslocam em direção a membrana celular para que, em seguida, ocorra a gemação do virion (Wunner, 2007). Estes eventos ocorrem enquanto a célula se mantém metabolicamente competente. A morfogênese viral está associada à formação de uma matriz intracitoplasmática, conhecida como corpúsculos de Negri ou de inclusão, que antecede a formação dos novos virions (Matsumoto, 1962). Lahaye et al. (2009) obtiveram evidências que o corpúsculo de Negri pode ser o local de replicação e transcrição do RABV (Figura 4 e Figura 5). 44 No citoplasma da célula infectada, as proteínas N e P recémformadas formam complexos homólogos (N-N ou P-P) ou heterólogos (N-P) (Gigant et al., 2000). Em seguida, ocorre a associação de P com N, na proporção de 2N para 1P. A razão 2N:1P é encontrada nos virions (Mavrakis et al., 2003). Supõe-se que esta razão permita a capsidização específica dos genomas dos vírus RNA negativos, e não de outros RNA celulares (Banerjee e Barik, 1992). Liu et al. (2004), acreditam que P impede a fosforilação imediata de N, determinando que esta se ligue mais fortemente ao RNA do RABV, além de impedir a capsidização de RNA celular. A seguir ocorre a capsidização do RNA, ou seja, a cobertura do genoma do RABV pelas proteínas N e P e, conseqüentemente, a formação da RNP. Figura 4: Reação de imunofluorescência positiva para a pesquisa de antígeno rábico em impressões de tecido nervoso de animal infectado. Observar corpúsculos de inclusão (estruturas circulares) Fonte: Instituto Pasteur (www.pasteur.saude.sp.gov.br). 45 Figura 5: Micrografia eletrônica corada negativamente de Corpúsculo de Negri (estrutura central circular). Observar partículas do RABV ao redor do Corpúsculo de Negri. X64000. Fonte: www.news.bbc/diseases/img/rabies. Pouco se conhece do modo pelo qual L se liga ao RNA. Do estudo de outros vírus RNA negativos, acredita-se que P auxilie L a se ligar no RNA (Buchholz et al., 1994). Estudos recentes com o RABV descrevem estruturas em forma de anel que parecem definir as relações bioquímicas e biofísicas para a montagem da RNP. Porém, a função dos aa ou dos “motifs” destes anéis necessitam ser elucidados (Albertini et al., 2006). Proteínas M são multifuncionais e seguem dois caminhos. Uma parte se une a RNP, condensando-a, fazendo cessar a transcrição e replicação, além de dar o formato característico do RABV (Finke, Mueller-Waldeck, Conzelmann, 2003) e, também, inicia o “enovelamento” da RNP, conferindolhe o formato de “mola” que caracteriza a disposição helicoidal da RNP (Batista, Franco, Roehe, 2007). Outra parte se une a membrana da célula hospedeira, preparando-a para a liberação dos virions. Outra função atribuída a M é a supressão de L durante o processo de gemação do virion (Ito et al., 1996). A proteína M é reconhecida tanto por G como também pelas proteínas P e N. A presença de M na membrana celular desencadeia a migração da RNP em direção as regiões da membrana onde se encontra G, e são nestas regiões que ocorre a gemação do virion pelas vias normais de secreção celular (Mebatsion, Weiland, Conzelmann, 1999). 46 Nos estágios finais da morfogênese a pressão exercida pela RNP, nos locais onde G e M estão presentes, faz com que ocorra o revestimento do virion pela membrana da célula hospedeira, formando desta forma o envelope do RABV e, finalmente, liberando novas partículas infectantes (Gaudin et al., 1993) (Figura 6). Todas as atividades, diretas e indiretas, relacionadas anteriormente tornam a proteína M de fundamental importância na morfogênese do vírus (Wunner, 2002). Porém, G também tem um papel crítico na liberação e biogênese do RABV. Primeiramente, esta proteína agrega-se em regiões basolaterais da membrana celular, direcionada, provavelmente, por enzimas presentes no citoesqueleto celular. O domínio citoplasmático de G, com carga negativa, parece dirigir a reunião da RNP, revestida por M, à membrana celular (Gaudin et al., 1992; Gaudin et al., 1993). Durante o ciclo de vida do RABV no interior da célula ocorre a inibição, mesmo que pequena, da síntese de RNA, DNA e proteínas celulares. Os dois principais fatores destas inibições, provavelmente, são os RNA-Le, formados no início da transcrição, e a proteína M do vírus, pois ambos são encontrados no núcleo das células infectadas e, provavelmente, devem ter alguma ação sobre a expressão gênica celular (Remenick, Kenny, McGowan, 1988). Após a saída dos virions das células hospedeiras, em direção aos espaços intercelulares, eles podem infectar outras células vizinhas, mesmo na presença de anticorpos neutralizantes (AcN). Porém, se a distância for maior a presença de AcN inativa o virion, bloqueando sua união aos receptores celulares (Dietzschold et al., 1985). In vivo e no SN o RABV é infectante mesmo a distâncias consideráveis (Kucera et al., 1985). 1.4.7.As proteínas e os genes do RABV 1.4.7.1.A Nucleoproteína N A nucleoproteína N possui 450 aa e é muito conservada durante o processo evolutivo do RABV (Ertl et al., 1989). A conservação genética de N ao longo do tempo ocorre, provavelmente, pelos seguintes fatos: interage com o RNA capsidando-o; é a mais abundante proteína do capsídeo; protege o genoma contra nucleases celulares; regula a replicação; modula a transcrição e interage com a fosfoproteína P durante a replicação e tradução (Wunner, 2002). A proteína N também é a mais conservada 47 antigenicamente, e por estas razões é a mais utilizada em diagnósticos e estudos das relações evolutivas e epidemiológicas (Tordo e Kouknetzoff, 1993) (Figura 7). Brotamento Receptor Viral Fusão Endocitose Montagem do capsideo M, N e L G Fusão Replicação Transcrição RNA Síntese de glicoproteína Núcleo Citoplasma Figura 6: Representação esquemática do ciclo de replicação do vírus da raiva, evidenciando-se os processos de ligação, entrada, replicação, maturação e saída de novas partículas virais infectantes. Fonte: Piere (2003). A interação da nucleoproteína N com o RNA genômico ocorre no trecho compreendido entre os aa 298-352 (Kouznetzoff, Buckle, Tordo, 1998). Uma N é encontrada a cada nove nt do RNA (Iseni et al., 1998; Luo et al., 2007). Acredita-se que após o genoma RNA do RABV ser capsidado por N, este sofre alterações estruturais que permitem a fosforilação da sua serina 389 (Kawai et al., 1999). Esta fosforilação de N é necessária para a ação da polimerase L durante a transcrição e replicação (Wu et al., 2002), como também para a interação de N com P na RNP (Toriumi e Kawai, 48 2004). A interação de P com N ocorre próximo a serina 389 fosforilada (Albertini et al., 2006; Luo et al., 2007). Há um grande interesse na função imunológica de N. Epítopos para células B e T foram mapeados e encontrados nesta proteína em todos Lyssavirus (Lafon e Wiktor, 1985; Ertl et al., 1989). Também possui três epítopos antigênicos lineares no sítio antigênico I (aa 358-367) e mais três epítopos antigênicos lineares no sitio IV (em duas regiões: aa 359-366 e aa 375-383) (Goto et al., 2000). Os epítopos encontrados entre os aa 359-366 fazem parte dos sítios antigênicos I e IV e refletem diferentes estados conformacionais de N. Os epítopos encontrados entre os sítios I e IV também são conservados em todos Lyssavirus. Epítopos dependentes de conformação também formam os sítios antigênicos II e III (Goto et al., 2000; Wunner, 2002). A proteína N é o principal antígeno para células T auxiliares CD4+ (Th). Vários epítopos para células Th foram localizados entre os aa 404-418 (Ertl et al., 1989). Esta proteína não induz a produção de AcN, porém induz o aumento da produção de AcN dirigidos à G (Fu et al., 1991). Os epítopos de N são imunodominantes, pois após ser inoculada perifericamente em diversas espécies animais, infectadas com amostras do RABV “de rua” e selvagens, os protegeu (Dietzschold et al., 1987). Esta proteína é o antígeno alvo das células Th em diferentes variantes antigênicas do RABV e, também, entre os diferentes genótipos do gênero Lyssavirus (Lafon et al., 1992). A nucleoproteína N, associada ao RNP, é considerada um superantígeno, pois potencializa a ativação periférica de linfócitos sanguíneos na utilização de várias vacinas humanas. Também estimula a produção de Eletroforese – concentração de nucleoproteínas (N) células T Vβ8 CD4+ e liga-se a antígeno MHC classe II, expressos nas superfícies das células (Lafon et al., 1992). PM MC LC RNPs 101Kda 56Kda N Figura 7: Eletroforese em gel de poliacrilamida mostrando o peso molecular da nucleoproteína N do RABV. PM= peso molecular, MC= meio de cultura, LC= lisado celular e RNPs= nucleoproteína N com 57KDa. Imagem cedida por Caporale, GMM. 49 1.4.7.2.O gene N O gene N possui 1350 nt na amostra vacinal PV e, apesar de ser conservado, há uma relativa variação entre as amostras estudadas (Kuzmin et al., 2005). A escolha do gene N como alvo para amplificação através de RT-PCR ocorre por dois aspectos principais: a) é a região gênica do RABV mais conservada (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995); b) o gene situa-se no extremo 3’ do genoma, e assim sua transcrição é favorecida, pois ocorre perda de eficiência da transcrição na direção 5’ do genoma (“downstream”) (Finke, Cox, Conzelmann, 2000). Principalmente por estas razões o gene N é muito utilizado nos estudos das relações filogenéticas do vírus (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995; Holmes et al., 2002). Kissi, Tordo, Bourhy (1995) estudando o polimorfismo genético do gene N, em amostras de RABV obtidas de vários continentes, demonstraram que a região central do gene é conservada e seus extremos são pouco conservados. Há baixa similaridade entre os nt 99-405 e 1080-1278. A menor similaridade encontrada situa-se entre os nt 30-300, enquanto que há grande similaridade entre os nt 500-900, ocorrendo maior similaridade entre os nt 750-850. A porcentagem mínima de similaridade nucleotídica foi de 83.3% nt, e 92.2 % em relação aos aa que formam a proteína N, portanto muitas mutações sinônimas são encontradas. Provavelmente não há seleção dominante no gene N, e sim seleção estabilizadora. Esta seleção atua estabilizando o fenótipo ótimo no ambiente, mas pode ocorrer acúmulo de mutações neutras em populações de vírus separadas geograficamente. Este fato pode ocasionar divergências genotípicas, pois não há acúmulo de mutações não sinônimas (Holmes et al., 2002). 1.4.7.3.A Glicoproteína G A Glicoproteína G é a única proteína do RABV capaz de induzir a formação e reagir com os AcN produzidos pelo hospedeiro do vírus. Esta glicoproteína tem 524 aa, deduzidos da clonagem de genes G de várias amostras do RABV, possuindo a mesma equivalência em nt no mRNA que a traduz. Pós-processada no RER, G contém 505 aa, pois ocorre uma clivagem retirando 19 aa da região N-terminal ainda no RER (Benmansour et al., 1992). A função deste segmento de G, com 19 aa, é dirigir a proteína 50 recém-traduzida em direção ao RER para que possa ser processada. Este fragmento de G recebe o nome de peptídeo sinal (SP) (Gaudin et al., 1992). Pós-processada G é dividida em três regiões (domínios). O ectodominio (ED), externo ao vírus e com 439 aa (1 a 439) da região Nterminal, o domínio transmembrana (TM), com 22 aa (440 a 461) e o endodomínio (ENDO), com 44 aa (462 a 505) da região C-terminal e situado no interior do vírus (Wunner, 2007). Em células infectadas ocorre a produção de duas formas de G. Uma delas é semelhante à encontrada no envelope do RABV (pós-processada), que forma as espículas do vírus, com 505 aa. A outra, designada como a forma solúvel de G (Gs), possui com 447 aa, referente ao domínio externo ED e somente é encontrada no citoplasma celular. O gene G possui terminação alternativa, determinando a formação de G com os dois tamanhos descritos (Tordo, 1996). O domínio TM é conservado, provavelmente por estar imerso no envelope do vírus, formado pela membrana plasmática dos diferentes hospedeiros. Esta conservação pode representar uma adaptação das linhagens do RABV adquirida durante o processo evolutivo vírus/hospedeiro (Wunner, 2007). O domínio TM é “ancorado” na membrana celular e no envelope do vírus pelo segmento de aa 439 a 461 após a palmitilação de G (Gaudin et al., 1992). O processo de palmitilação ocorre durante o processamento de G no RER. Neste processo é adicionado um ácido palmítico no aa cisteina 461, que determina a “ancoragem”, pois estabiliza o domínio TM de G no envelope do vírus (Gaudin et al., 1991). O sítio de palmitilação na cisteina 461 é conservado em todos Lyssavirus. Este sitio, provavelmente, também influencia no processo de gemação, pois este sítio também interage com a proteína matriz M (Wunner, 2007). O domínio ENDO é o mais conservado, pois a identidade protéica aferida em linhagens do RABV isoladas em diferentes continentes permanece grande (Benmansour et al., 1992). A conservação deste domínio é justificada pelo fato de ENDO estar no interior do virion e ser a área de G responsável pela migração da RNP em direção a membrana celular, direcionada pelo citoesqueleto celular (veja morfogênese) (Wunner, 2007). O domínio extracelular ED de G é o menos conservado, provavelmente pela pressão seletiva exercida pelo ambiente externo nesta área do vírus. A região ED é a mais imunogênica, estimulando tanto linfócitos B quanto linfócitos Th e T citotóxicos (Tc) (Dietzschold et al., 1990; Kawai e Morimoto, 1994). 51 A glicosilação de G no RER ocorre pela adição de oligossacarídeos no aa asparagina (N) no sequon (seqüência) NXS/T (S/T= serina ou treonina), onde X é qualquer aa diferente de prolina (P). A glicosilação é importante para a expressão e função de G, ou seja, determina suas atividades biológicas, como, por exemplo, estabilidade e antigenicidade (Shakin-Eshleman et al., 1992). Até o momento, três potenciais sítios de glicosilação foram encontrados nas linhagens do RABV. Estes sítios estão posicionados nos aa 26 (sequon NNS) (Carnieli et al., 2009), aa 37 (sequon NLS) e aa 319 (sequon NKT) (Wunner, 2007). O aa alanina (A) 319 é conservado em todos Lyssavirus e é essencial para o correto e completo dobramento (“folding”) de G recém-processada, necessário para o subseqüente transporte à superfície celular (Bourhy, Kissi, Tordo, 1993; Wojczyk et al., 2005). A região entre os aa 189-214 de G interage o com receptor celular nAChR, o receptor celular preferencial do RABV em muitos tipos de células (Tsiang et al., 1986), enquanto que a região entre os aa 318-352 é, provavelmente, o sitio de ligação que reconhece e interage com o receptor celular p75NTR em neurônios (Lanvegin e Tuffereau, 2002). Acredita-se que o domínio protéico de G relacionado à interação da membrana do endossomo com os lisossomos, no interior da célula infectada e para que ocorra a ejeção da RNP do RABV no citoplasma, se situa entre os aa 102 e 179 (Gaudin, 1997b; Kankanamge et al., 2003). Apesar de não se saber o motivo, as cisteinas (C) de G são conservadas no RABV, como também o é em todos os outros Lyssavirus (Badrane e Tordo, 2001). O aa arginina (R) ou lisina (K), na posição 333, desencadeiam a neurovirulência do RABV, principalmente pelo fato de permitir que ocorra o transporte das RNP através dos axônios e sinapses dos neurônios (Lafon, 2005). Epítopos estimuladores de linfócitos B e T (Th e Tc) foram localizados em G (Celis et al., 1988). Oito sítios antigênicos (I-VI, “a” e G1) foram mapeados em ENDO. Os sítios antigênicos I, III, VI e “a” situam-se entre os aa 231, 330-338, 264 e 342, respectivamente. O sitio II é descontínuo e localizado entre os aa 34-42 e 198-200. Os sítios VI e G1 são lineares ou conformacionais (Wunner, 2007). 52 Para uma melhor análise da glicoproteína G é necessário sua cristalização, que até hoje é difícil, pela existência de dobras estruturais e que são perdidas durante o processo de cristalização (Wunner, 2002). É provável que as variações de aa nas proteínas G permitam adaptações a novos hospedeiros e possibilitem a emergência de novos Lyssavirus no ambiente (Badrane et al., 2001). 1.4.7.4.O gene G O gene G é de grande interesse para os estudos filogenéticos do RABV. Os principais motivos destes estudos são: importância na resposta imunológica; relação entre hospedeiros suscetíveis e patogênese da raiva (Badrane et al., 2001). Foram detectadas regiões de elevada diversidade no gene G. As regiões com elevada diversidade relacionam-se com o reconhecimento de receptores neuronais e estimulação do sistema imune. Estas características podem facilitar a disseminação do vírus dentro de uma mesma espécie ou, ainda, entre espécies diferentes, o que pode alterar a epidemiologia da infecção (Benmansour et al., 1992; Morimoto et al., 1998; Badrane e Tordo, 2001). A razão de substituições sinônimas e não sinônimas no gene G é maior que 01, sugerindo seleção positiva neste gene (Badrane et al., 2001). 1.4.7.5.A Fosfoproteína P A fosfoproteína P é formada por 297 aa, é multifuncional e é a menos conservada entre as outras proteínas do RABV (Wu et al., 2007). Existem duas formas de P, uma menor (37 kDa) e outra maior (40 kDa), devido a existência de dois códons de início (“start” códon) (AUG) em “frame” no mRNA (Toriumi e Kawai, 2004). Esta proteína é fosforilada na região N-terminal por quinases celulares, que podem ser encontradas nos virions do RABV (Gupta et al., 2000). Dois domínios protéicos de P interagem com N. Um encontrado na região C-terminal (entre os aa 267 e 297) e, outro, na região N-terminal (entre os aa 69 e 177) (Chenik et al., 1994). Depois que P se liga ao RNP em formação (RNA mais N) ela auxilia a ligação de L ao RNP. A interação de P com L ocorrem nos seus primeiros 19 aa (Chenik et al., 1998; Gerard et al., 2009). 53 Interagindo com N, a proteína P regula a ação da polimerase L na replicação e transcrição. É um “chaperone”, pois é uma proteína que age em ligações não covalentes de outras moléculas durante a formação ou quebra das suas estruturas, mas não está presente no substrato ao término da sua ação. Atua sobre N recém sintetizadas, impedindo sua polimerização ou sua união com RNA que não seja o do RABV (Mavrakis et al., 2003), como também direciona a capsidização do RNA por N (Gigant et al., 2000). Como subunidade de L, P tem um papel duplo, pois é um co-fator não-catalítico, necessário para a transcrição dos genes e, também, para a replicação do genoma, estabilizando L e posicionando o complexo polimerase (L mais P) sobre o molde (“template”) RNA (Fu et al., 1994). Outras interações que envolvem P estão relacionadas ao tropismo do RABV, a propagação do vírus célula a célula e a inibição da resposta imune inata que interfere ou cessa a replicação dos vírus (Wunner, 2007). A proteína citoplasmática LC8 (“dynein light chain”), envolvida no transporte intracelular de organelas, interage fortemente com o domínio de P localizado entre os aa 138 e 172 (Raux, Flamand, Blondel, 2000; Gerard et al., 2009). A proteína LC8 parece estar envolvida com o transporte do RABV através dos neurônios, pois ela faz parte do complexo miosina V. Nos neurônios do cérebro, o complexo miosina V é a estrutura que forma os microtúbulos relacionados com o complexo actina das vesículas do RE (Jacob et al., 2000). Assim, o transporte da RNP ao longo dos dendritos em direção ao próximo neurônio, pode ser mediado pelo complexo P-dineina LC8, transportando a RNP pelo sistema de microtúbulos da célula (Ceccaldi, Gillet, Tsiang, 1989). A proteína P também é responsável por inibir o fator de ativação IRF3, que é necessário para o início da resposta imune pelo interferon (IFN), portanto, P é necessária para inibir a resposta do INF nas células infectadas pelo RABV (Wunner, 2007). 1.4.7.6.Proteína matriz M A proteína M é a menor do RABV e contém 202 aa (24 kDa) (Conzelmann, Cox, Schneider, 1990). Há duas forma de M, uma menor, com 23 kDa (25-30% do total no virion) e outra maior, com 24 kDa (70-75% do total nos virions) (Ameyama et al., 2003). Aproximadamente 1200-1500 proteínas M se ligam ao RNP, condensando-a e formando o arcabouço do virion. O tropismo da RNP pela 54 membrana celular é determinado por esta proteína, possibilitando sua gemação (Mebatsion, Weiland, Conzelmann, 1999). Um “motif” rico em prolina (PPPY ou PY) (P= prolina; Y= tirosina), localizado nos aa 35-38, na região N-terminal altamente conservada, parece estar associado à gemação (Harty et al., 1999, 2001). O “motif” PY é similar em outras proteínas relacionadas à função de M em diferentes vírus (Wills et al., 1994). Apesar da presença de M ligada na RNP ser responsável pela gemação do vírus, a interação desta proteína com G, presente nas membranas celulares, estimula fortemente o processo (Mebatsion, Weiland, Conzelmann, 1999). 1.4.7.7.RNA polimerase-RNA-dependente L Na amostra vacinal PV, a polimerase L possui 2142 aa e o gene L ocupa, aproximadamente, 54% do genoma do RABV (Wunner, 2007). A polimerase L é o componente catalítico do complexo polimerase que, juntamente com o cofator P, é responsável pela maioria das atividades enzimáticas que ocorrem tanto na transcrição quanto na replicação do genoma do RABV. Muitas das atividades deste complexo advêm de estudos com o Vírus da Estomatite Vesicular (VSV), o vírus protótipo da Família Rhabdoviridae. Além das atividades enzimáticas necessárias para a transcrição e replicação, L é responsável pelas modificações cotranscricionais dos mRNA, como por exemplo: 5'-capping, metilação e 3'poliadenilação (Banerjee e Chattopadhyay, 1990). Muitos pesquisadores dos vírus RNA com sentido negativo auxiliaram a determinar áreas do gene L com o objetivo de localizar seqüencias genéticas do gene responsáveis pelas atividades enzimáticas da polimerase L (Tordo et al., 1986; Barik et al., 1990; Poch et al., 1990). Uma das principais características de L é a existência de agrupamentos de aa conservados em blocos ao longo da proteína e nomeados com os números romanos I até VI (Poch et al., 1990). Nestes seis blocos alguns aa formam domínios conservados, enquanto outros não o são (Tordo e Poch, 1988; Banerjee e Chattopadhyay, 1990; Poch et al., 1990). No bloco III, por exemplo, o domínio catalítico, entre os aa 530 e 1177, possui quatro “motifs” (A, B, C e D), e representa a região com o maior grau de conservação (Tordo e Poch, 1988; Poch et al, 1989). Estes “motifs”, que são considerados os módulos polimerase de L, mantém o mesmo arranjo linear e localização nas RNA polimerase e nas DNA polimerase (Barik et al., 1990; Delarue et al., 1990; Poch et al., 1990). 55 Entre as seqüências conservadas dos quatro “motifs” A, B, C e D, a seqüência GDN (glicina, ácido aspártico e asparagina), no “motif” C, é muito conservada em todos os vírus RNA com sentido negativo e não segmentados, sugerindo ser uma função catalítica da atividade polimerase (Poch et al., 1989). Não só a seqüência GDN, mas também alguns aa específicos, “downstream” da seqüência GDN, são fundamentais pela manutenção da atividade polimerase que polimeriza nt (Schnell e Conzelmann, 1995). Duas outras seqüências, entre os aa 754 a 778 e 1332 a 1351, na polimerase L do VSV, foram definidos como sítios de consenso para a ligação e utilização de Trifosfato de Adenosina (ATP), similar as encontradas nas quinases celulares, isto é, as fosfotransferases, pois catalisam a transferência de um grupo fosfato do ATP alterando moléculas orgânicas (Barik et al., 1990; Canter, Jackson, Perrault, 1993). Três atividades essenciais realizadas por L necessitam de utilização do ATP: 1- a atividade transcricional requer ligação com o substrato ribonucleosídeo-trifosfato; 2poliadenilação e, 3- a atividade quinase para a fosforilação de P necessária para a ativação da transcrição (Sánchez e Banergee, 1985; Banerjee e Chattopadhyay, 1990). Outras funções da polimerase L, que necessariamente devem existir, incluem: mRNA “capping” (adição de 7-metilguanosina (m7G) no final 5’, metilação (adição de grupo metila no RNA) e poliadenilação (formação da cauda poli-A) (Schnell e Conzelmann, 1995). Qanungo et al. (2004) propuseram uma nova abordagem para a atividade da polimerase L durante a transcrição e a replicação. A RNA polimerase L, segundo os autores, existe em duas configurações, uma designada por replicase e a outra por transcriptase e ambas são complexos multienzimáticos (holoenzimas). A replicase, relacionada à replicação, é formada pelas proteínas L, P e N, enquanto que a transcriptase, relacionada à transcrição, é formada pelas proteínas L, P e mais três moléculas celulares. Estas moléculas são: “translation elongation factor 1α”, o chaperone “heat-shock protein 60” e o “mRNA-cap guanylyltransferase”. A transcriptase sintetiza os cinco mRNA “capped” e monocistrônicos, transcritos a partir dos cinco genes do RABV. A replicase, por sua vez, inicia a sua atividade no primeiro nt da região 3’ do genoma. A replicase e a transcriptase reconhecem códons de iniciação (“start códon”) diferentes. Enquanto a transcriptase reconhece a seqüência-sinal de consenso dos Mononegavirales, para “cap”, inclusa no códon de iniciação, a replicase não o reconhece (reconhece a seqüência de nt da extremidade 3’ do genoma). Estas descobertas realizadas por Qanungo et al. (2004), abrem novas 56 perspectivas para a compreensão efetiva dos processos de transcrição e replicação dos Mononegavirales, entre eles o RABV, até hoje pouco compreendidas. 1.4.8.O RABV e a patogenia da raiva Dietzschold et al. (2009), escreveram uma revisão sobre a patogenia da raiva e a sintetizaram em cinco tópicos principais, que apresentamos a seguir. 1. RAIVA E A BIOLOGIA DO RABV a) A raiva é uma encefalomielite aguda causada pelo RABV. b) O RABV pode infectar quase todos os mamíferos, inclusive o homem. c) Cães, morcegos e carnívoros silvestres são os reservatórios naturais do RABV. d) O RABV é um vírus RNA de sentido negativo que pertence à família Rhabdoviridae. e) Neuroinvasividade, neurotropismo e neurovirulência são as principais características do RABV. f) O RABV é, normalmente, transmitido por mordidas de mamíferos em um sitio periférico do SNC. g) Após entrar em axônios terminais o vírus é transportado em direção retrógrada ao SNC. h) RABV de “rua” (selvagens) e outros adaptados a culturas celulares (atenuados) diferem significativamente uns dos outros em relação a sua capacidade de invadir o SNC. i) Considerando que as linhagens de RABV adaptados às culturas celulares têm (ou não) capacidade limitada de invadir o SNC a partir de um local periférico, RABV de “rua” são altamente neuroinvasivos. 2. FATORES QUE DETERMINAM A VIRULÊNCIA DO RABV. a) Os principais fatores que determinam a virulência do RABV são: captação pela célula hospedeira, propagação célula-a-célula, sua taxa de replicação e expressão de glicoproteína G. 57 b) A patogenicidade correlaciona diretamente com a cinética de absorção e propagação do vírus, mas inversamente com a taxa de replicação viral e do nível de expressão da glicoproteína G. 3. ELEMENTOS DO VÍRUS QUE CONTROLAM A PATOGENICIDADE DE RABV. a) A patogenicidade do RABV é uma característica multigênica, envolvendo diferentes proteínas do RABV, além de outros elementos celulares. b) A glicoproteína G é o principal determinante da patogenia da raiva. c) A glicoproteína G facilita a rápida entrada do vírus na célula e sua rápida propagação trans-sináptica e, também, regula a taxa de replicação do vírus em conjunto com outros elementos virais. 4. O PAPEL DA APOPTOSE NA PATOGENIA DA RAIVA. a) A patogenicidade do RABV se correlaciona inversamente com a sua capacidade de induzir apoptose neuronal. b) Existe uma correlação direta entre o nível de expressão da glicoproteína G com o da apoptose. c) Em contraste com a patogenicidade de RABV atenuado, o vírus de “rua” expressa níveis muito limitados da proteína G e não induzem apoptose ou necrose. 5. O PAPEL DE FATORES DE INDUÇÃO DA CÉLULA HOSPEDEIRA NA PATOGÊNESE DA RAIVA. a) A infecção com uma linhagem não patogênica do RABV causa mais fortemente a ativação das vias de síntese de fatores nucleares (NF)κB (fator nuclear kappa B) do que a infecção com RABV patogênicos. b) O NF-κB é um fator de transcrição e é envolvido com a resposta celular a estímulos e desempenha papel fundamental na regulação da resposta imune. c) A forte ativação de genes relacionados com as vias NF-κB desencadeia uma forte resposta imune que, provavelmente, limita a replicação de linhagens de RABV não patogênico no sítio primário de infecção e, eventualmente, eliminam a infecção. d) A fraca ativação de genes relacionados com as vias NF-κB pelas linhagens patogênicas induz uma resposta imune mais fraca e, conseqüentemente, pode permitir a propagação do vírus no SNC. 58 1.5.A Epidemiologia da Raiva O RABV é mantido em diferentes ciclos epidemiológicos envolvendo diversas espécies de mamíferos, principalmente das Ordens Carnivora e Chiroptera. As espécies de hospedeiros do RABV são distribuídas geograficamente de acordo com suas histórias naturais. Assim, as variantes e linhagens do RABV circulam ao longo de um determinado território, o que permite suas identificações, pois elas estão adaptadas e são mantidas pelas diferentes espécies animais distribuídas regionalmente. Esta distribuição pode ser alterada se ocorrer a transmissão do vírus de um hospedeiro primário para um secundário (“spillover”) e, se esta nova população infectada mantiver a infecção ao longo do tempo, a área de distribuição do vírus é alterada, podendo ser ampliada (Childs e Real, 2007). A partir do exposto acima é conveniente analisar a epidemiologia da raiva regionalmente e, portanto, a seção Epidemiologia da Raiva deste trabalho, está subdividida em relação às grandes regiões geográficas, isto é, os continentes. 1.5.1.A raiva na África O cão (Canis familiares) é o principal reservatório do RABV no continente africano, é o responsável por milhares de casos de raiva humana e um sério problema para os mamíferos silvestres. Em 2005, foram confirmados 28823 casos de raiva humana; 17937 casos na área rural e 5886 casos na área urbana (WHO, 2005). Além do imenso problema da raiva humana, os cães são responsáveis pela transmissão do vírus aos animais silvestres. Um caso extremo é a contaminação de canídeos raros, como o lobo etíope (Canis simensis) e o cão-silvestre-africano (Lycaon pictus). A infecção nas pequenas e raras populações destes animais atingiu tal ponto que se acredita ser irreversível seu processo de extinção. Em algumas populações de chacais (Canis adustus e C. mesomelas) e raposas (Otocyon megalotis) o RABV típico de cão circula endemicamente (WHO, 2005). Além dos canídeos silvestres africanos são relatados esporadicamente casos de raiva em leões, leopardos, camelos, hipopótamos, girafas, primatas e muitas outras espécies de mamíferos terrestres (Hanlon, Niezgoda, Rupprecht, 2007). 59 1.5.2.A raiva na Ásia Como na África, o cão é o principal reservatório do RABV na Ásia, com exceção da Rússia asiática, onde o principal reservatório do vírus é a raposa vermelha. Pouco é conhecido de espécies silvestres com raiva neste continente, mesmo que casos esporádicos sejam relatados. Entretanto, a raiva humana transmitida por cães é o grande problema. Em 2005 foram relatados 30828 casos, assim distribuídos: Índia com 19259 casos (1058 na área urbana e 18201 na rural), China com 2581 casos (1324 na área urbana e 1257 na rural) e nos outros países asiáticos 8988 (853 na área urbana e 8135 na rural) (WHO, 2005). 1.5.3.A raiva na Europa A Europa possui uma excelente documentação histórica sobre a raiva. Este histórico, inserido dentro da própria História do continente, demonstra que o controle desta zoonose é diretamente ligado às condições políticas e econômicas de uma região (WHO, 2005). A raiva canina na Europa é conhecida desde a Antiguidade, mas por volta de 1940, teve suas características epidemiológicas alteradas. Desde esta época a raiva é mantida pela raposa vermelha (Vulpes vulpes), em contraste com o início do século XX, quando os cães (Canis familiaris) eram os principais transmissores do RABV. Portanto, ocorreu a mudança do ciclo urbano, típico do início do século XX, para o ciclo silvestre, predominante até hoje (Baer, 2007). Em um período mais recente, outra população de hospedeiros primários foi determinada, os “raccoon-dogs” (Nyctereutes procyonoides), sendo hoje a segunda espécie em importância para a raiva no continente europeu. Esta espécie foi introduzida na Europa a partir da Rússia Oriental, no continente asiático, para a produção de casacos de pele (WHO, 2005). Várias outras espécies de animais silvestres são diagnosticadas com raiva no continente europeu; são casos esporádicos e sem importância epidemiológica. Os casos, provavelmente, são infecções que ocorrem durante o relacionamento ecológico presa-predador, principalmente envolvendo raposas (Kusmin et al., 2004). Na Europa, quatro espécies são reconhecidamente capazes de manter seu próprio ciclo epidemiológico: a raposa vermelha, o cão, a raposa ártica (Alopex lagopus) e os “raccoon-dogs”. Outra espécie silvestre que gera preocupações em algumas áreas (como a Ucrânia) é o lobo (Canis 60 lupus), principalmente por já ter sido um eficiente vetor do RABV. Os casos de raiva envolvendo esta espécie haviam diminuído, juntamente com os cães, e agora alguns focos reapareceram (Bourhy et al., 1999). A Turquia é o único país europeu onde o cão mantém o ciclo epidemiológico local, pois raramente é diagnosticado raiva em animais silvestres. Em uma região entre a Ucrânia e a Federação Russa são encontrados cães e raposas com raiva, mas cada uma das espécies é infectada com amostras de vírus típicas de suas espécies (Rabies Bulletin Europe, 2009). Existem poucos dados que certifiquem a raposa do ártico como reservatório do RABV no continente europeu (diferentemente do Alasca). Pesquisadores russos afirmam que ao norte da Federação Russa existem focos de raiva mantidos por esta espécie (Botvinkin et al., 2006). A análise filogenética do RABV que circula na Europa mostra que existem distintos filogrupos do RABV associados a determinadas áreas geográficas separadas por barreiras geográficas; os rios Vístula e Danúbio e as montanhas da Boêmia e Cárpatos. Quatro áreas geográficas podem ser observadas com distintos filogrupos do RABV e são designados por WE (Europa Ocidental), CE (Europa Central), EE (Europa Oriental) e NEE (Norte Oriental – Polônia, Estônia, Lituânia e Finlândia). Na região NEE é onde se encontra o filogrupo mais divergente filogeneticamente e é característico das raposas do ártico. O grande filogrupo Vulpes vulpes é encontrado nas quatro áreas geográficas. Os filogrupos Vulpes vulpes e “raccoon-dog” são típicos da área geográfica NEE (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995; Bourhy et al., 1999; Badrane et al., 2001). Atualmente a estratégia para o controle da raiva, na grande maioria dos países europeus, é a vacinação parenteral para cães e gatos e vacinação oral de raposas por meio de iscas imunogênicas (um polímero de extratos vegetais e animais revestindo uma cápsula com Glicoproteína). Com este esquema vacinal a raiva canina e vulpina desapareceu da Europa ocidental, com exceção da Turquia Européia e da região Europa Oriental (Rabies Bulletin Europe, 2009). A Tabela 2 sumariza a epidemiologia da raiva na Europa. 61 Tabela 2: Número de casos de raiva, por espécie animal na Europa no período 1990-2008. O número de casos de raiva em raposas e raccoondog são mostrados separadamente, mas pertencem ao grupo de silvestres Fonte: Rabies Bulletin Europe. Raccoondogs Total 12833 148 21049 27 10637 226 16505 2705 15 7318 302 11080 6976 2381 10 6197 290 9385 6644 2160 11 5966 183 8823 1995 5843 2274 16 5294 162 8140 1996 5379 2677 15 4814 181 8087 1997 3413 1626 18 3019 176 5082 1998 3901 2313 4 3380 264 6250 1999 4227 2318 5 3630 345 6592 2000 5837 2276 9 4896 622 8155 2001 6847 3537 12 5724 683 10435 2002 6052 3967 7 4795 874 10051 2003 7093 3952 6 5460 1163 11085 2004 3243 2150 13 2521 500 5453 2005 5806 3980 13 4379 1009 9831 2006 6174 3003 2 4352 1399 9215 2007 5230 4378 9 4537 364 9643 2008 5707 3953 14 5106 359 9707 Ano Silvestres Cães e gatos Humanos Raposas 1990 15484 5503 22 1991 12269 4194 1992 8346 1993 1994 A primeira observação relevante na Tabela 2 é a relação animais silvestres/domésticos, mostrando a importância do ciclo silvestre e da raiva vulpina na Europa. É possível também observar o decréscimo da raiva vulpina, a partir de 1990, quando o protocolo de imunização por meio de iscas foi estabelecido. O aumento no número geral de casos de raiva observado a partir de 2001 ocorreu devido à constante integração de vários países do Leste Europeu na Comunidade Européia. A segunda observação importante é o aumento de casos entre “raccoon-dogs”, a partir de 1990 e até 2005 e, atualmente, os dados indicam que o número de casos está estabilizado. Os casos envolvendo “raccoon-dogs” ocorrem, principalmente, na Polônia e Estados Bálticos, e isto pode refletir a densidade populacional da espécie nestas regiões. Ainda hoje a raiva continua um problema de saúde pública e animal em algumas regiões européias. A análise espacial de casos mostra agrupamentos nos Estados Bálticos, Federação Russa, Estados Balcânicos 62 e Polônia. As diferenças encontradas dentro destas áreas refletem diferentes “status” de estudo e de vigilância epidemiológica. A partir de 2005 a Europa Oriental também adotou o uso de vacinação oral e, em um futuro próximo será possível avaliar esta nova situação da região no controle da raiva (Rabies Bulletin Europe, 2009). Os casos de raiva em cães e gatos podem ser observados na Tabela 3. Tabela 3: Número de casos de raiva em cães e gatos na Europa. 1990-2003. Fonte: Rabies Bulletin Europe. Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Cães 1282 1099 780 736 609 605 905 602 777 781 779 1012 1099 1437 739 1378 1105 1415 1694 Gatos 1182 847 622 593 572 589 593 419 577 519 593 1134 1037 1202 699 1230 950 1421 1343 Gado Ovinos/Caprinos 2014 2014 1348 1348 919 919 760 760 752 752 890 890 890 890 521 521 774 111 787 94 783 52 1211 89 1520 216 1098 90 592 54 1134 123 793 79 1304 129 703 100 Tabela 4: Número de casos de raiva em alguns países europeus com diferentes “status” de vigilância epidemiológica (1977-2008). Fonte: Rabies Bulletin Europe. França Alemanha Polônia Russia Espanha Itália Hungria Áustria Turquia Portugal Estônia 1977 1668 6738 1287 6 97 736 3058 1205 0 0 1981 2341 7327 449 170 1 367 1002 779 2260 0 13 1986 2465 6830 1087 0 10 29 1264 1387 1266 0 1 1991 2166 3599 2287 1387 8 4 881 2460 428 0 209 1996 20 153 2526 1785 1 1 1357 14 125 0 99 2000 5 192 2211 1239 7 0 514 2 297 0 129 2008 3 1 26 3353 2 9 7 0 301 0 3 63 Figura 8: Mapa da Europa mostrando os 703 casos de raiva em bovinos nos diferentes países no ano de 2008. Os casos de raiva são indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies Bulletin Europe. Figura 9: Mapa da Europa mostrando os 5106 casos de raiva em raposas (Vulpes vulpes) nos diferentes países no ano de 2008. Os casos de raiva são indicados por pontos vermelhos. Fonte: Rabies Bulletin Europe. 64 1.5.4.A raiva na América do Norte No Canadá, a raiva tem sido um problema persistente desde 1940, quando surtos de raiva em raposas moveram-se do Sul do Ártico (Alasca) para as províncias canadenses. A epidemia tornou-se estável na população de raposas vermelhas (Vulpes vulpes) no Sul de Ontário. A raiva também se estendeu do sul do Ártico para a população de coiotes (Canis latrans) em Alberta e se fixou no Sul de Ontário. Poucos anos mais tarde, as províncias das pradarias foram invadidas por uma epidemia em cangambás (Mephitis mephitis) (Nadin-Davis, Casey, Wandeler, 1993). Em 1999, o primeiro caso de raiva causado pela linhagem do RABV associado a “raccoons” (Procyon lotor) foi diagnosticado em “raccoons” em Ontário, na divisa com Nova York. No período de 2000 a 2003, 120 casos de raiva foram diagnosticados nesta espécie animal (Nadin-Davis et al., 1999). Recentemente e no mesmo país, os casos de animais silvestres com raiva foram identificados com maior freqüência em cangambás (gêneros Mephitis, Spilogale e Putorius) (40,6%) e morcegos (35,3%). No Canadá, morcegos “big brown” (Eptesicus fuscus) é a espécie de morcego mais comumente diagnosticada, seguindo-se várias espécies de Myotis, “silverhaired bat “ (Lasionycteris noctivagans) e membros do gênero Lasiurus, especialmente L. cinereus e L. borealis (Nunan et al., 2002). Poucos casos de raiva ocorrem em cães e gatos, pois são vacinados periodicamente, mas centenas de casos em herbívoros de criação (principalmente bovinos) são diagnosticados. Estes casos de raiva são em sua maioria transmitidos pelos animais silvestres terrestres (Nunan et al., 2002). Nos Estados Unidos da América (EUA), atualmente, espécies silvestres de animais são responsáveis por 93 % dos casos de raiva diagnosticados neste país, enquanto que espécies domésticas foram responsáveis por 7%. A maior parte destes casos domésticos ocorre em bovinos, mas um número significante é diagnosticado em gatos (Krebs, Wheeling, Childs, 2003). A maioria dos casos de raiva relatados em animais silvestres nos EUA ocorre em “raccoons” (Procyon lotor), cangambás (gêneros Mephitis, Spilogale e Putorius), raposas (gêneros Vulpes, Urocyon e Alopex) e uma diversidade de espécies de quirópteros, sobretudo insetívoros. Estes são grupos de animais com distribuição e importância nacionais e são 65 considerados como hospedeiros primários de variantes específicas do RABV (Krebs et al., 2003). “Raccoons” e cangambás (skunks) são espécies sinantrópicas que vêm merecendo destaque na epidemiologia da raiva nos EUA. Desde 1981, uma epidemia de raiva em “raccoons” espalhou-se pelo leste dos EUA, com um aumento concomitante da freqüência de raiva em cangambás. A raiva em “raccoons” afeta todos os Estados costeiros do Leste, em uma área estimada de um milhão de quilômetros quadrado. Em 2005 foram diagnosticados mais de seis mil casos nestes animais. Já a raiva em cangambás afeta uma área de mais de 3,5 milhões de quilômetros quadrados e mais de mil casos/ano são diagnosticados (Rupprecht, Hanlon, Hemachudha, 2002; Hanlon, Niezgoda, Rupprecht, 2007). No Sul do Estado do Texas e em Porto Rico (país associado aos EUA), coiotes (Canis latrans) e mangustos (Herpestes javanicus), respectivamente, são espécies silvestres de carnívoros de importância na manutenção regional da raiva. No Alasca, raposas vermelhas (Vulpes vulpes) e raposas do ártico (Alopex lagopus) são espécies implicadas na manutenção do RABV e, em menor grau, nos Estados de Nova York, Vermont, New Hampshire e Maine (Krebs et al., 2003; Kelly e Sleeman, 2003). Outros mamíferos carnívoros, ainda que menos encontrados como positivos para a raiva nos EUA, podem ser fontes de infecção para cães e gatos e humanos, como, por exemplo, lobos (Canis lupus), linces (Lynx rufus) e coiotes (Canis latrans) (Kelly e Sleeman, 2003). A raiva em quirópteros é largamente distribuída nos EUA, com casos relatados nos 48 Estados contíguos e relacionados a 17,2% de todos os casos de raiva em animais em 2001. Os morcegos “big brown bat” (Eptesicus fuscus), foi a espécie mais freqüentemente detectada com o RABV, com 47,1% dos casos, seguido por Tadarida brasiliensis (28,3%), Lasiurus cinereus (5,5%), Lasiurus borealis (4,3%), Myotis lucifugus (3,7), Lasionycteris noctivagans (3%), Myotis yumanenis (1,7%), Pipistrellus hesperus (1,7%) e Pipistrellus subflavus (1,2%); espécies não identificadas do gênero Myotis (3.0%) e outras espécies (< 3,5%) foram responsáveis pelos casos restantes (Rupprecht, Hanlon, Hemachudha, 2002). Através de análises filogenéticas aliadas à vigilância epidemiológica e a um eficiente trabalho de zoologia, diversas linhagens do RABV puderam ser associadas a espécies de animais silvestres e a regiões específicas. Por exemplo, em relação ao morcego Epitesicus fuscus, há duas linhagens de RABV exclusivas desta espécie, uma que ocorre em populações do 66 Sudoeste e outra em populações do Leste e do Norte dos EUA. Em cangambás, são encontradas duas linhagens do RABV, uma associada aos Estados do Centro-Norte e outra aos Estados do Centro-Sul (Rupprecht, Hanlon, Hemachudha, 2002). No México, a raiva humana foi reduzida na ultima década. Em 1960, foram relatadas 60 mortes humanas envolvendo transmissão por cães, contrastando com somente um caso em 2003. Essa redução é conseqüência de um decréscimo significativo de raiva em cães, de 8706 casos em 1990 para 261 casos em 2003, resultado de uma massiva campanha de vacinação em cães. Quanto aos casos de raiva em animais de criação a situação é semelhante a do Brasil. Centenas de casos transmitidos pelo D. rotundus são diagnosticados em bovinos e eqüinos (Mattos et al., 1999). A raiva no México é caracterizada pelo envolvimento da vida selvagem que mantém ciclos estáveis de transmissão em áreas geográficas particulares. A maioria dos casos ocorre em cangambás (gêneros Spilogale e Conepatus) e raposas (gênero Urocyon). Estes grupos de animais são considerados hospedeiros primários do RABV. Uma variante antigênica, a AgV7, foi isolada primeiramente no México de duas raposas cinzas (Urocyon cineroargenteus), o reservatório natural dessa variante. Essa mesma variante foi também isolada em linces (Felis rufus) e coiotes (Canis latrans). Variantes isoladas de linces foram isoladas em raposas cinza do Arizona, nos EUA, indicando uma ampla distribuição dessa variante (Vellasco-Villa et al., 2005). A análise de amostras de morcegos hematófagos D. rotundus mostra que existem no mínimo duas variantes antigênicas, AgV3 e AgV11, na população deste animal no México. Em relação aos morcegos frugívoros, existem duas variantes do RABV, AgV4 e AgV9, estabelecidas na população de Tadarida brasiliensis mexicana (Vellasco-Villa et al., 2002, 2006). 1.5.5.A raiva na América Central e do Sul A epidemiologia da raiva nos países da América Latina é muito semelhante. Segundo a Organização Pan-americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (SIRVERA, 2009), ainda hoje, o cão é o principal transmissor da raiva humana, mas pelo aumento do controle da raiva canina os morcegos hematófagos D. rotundus estão se tornando o principal transmissor (Scheneider et al., 2009). Além deste fato, D. rotundus é o principal transmissor da raiva aos herbívoros (silvestres e de interesse econômico), infectando milhares de animais anualmente. 67 A importância do D. rotundus na América Latina se deve ao fato deste mamífero ser encontrado somente nesta região, do sul do México ao norte da Argentina. Como a população de D. rotundus não é passível de uma campanha de vacinação em massa, apesar de alguns estudos preliminares se desenvolverem nesta direção (Sétien et al, 1998; Almeida et al., 2008), esta importância epidemiológica, provavelmente, será mantida. Atualmente, além do cão e de D. rotundus, um número cada vez maior de morcegos insetívoros, de várias espécies, são diagnosticados com raiva (Kotait et al., 2007), porém, atualmente não está totalmente estabelecida a importância destas espécies na epidemiologia da raiva humana e animal. Quanto aos animais silvestres, na América Latina e com exceção dos morcegos, somente após o atual estágio do controle da raiva canina é que estão sendo definitivamente estudados (Carnieli et al., 2009). A seguir são apresentadas e comentadas algumas tabelas obtidas a partir do endereço eletrônico do Sistema Regional de Vigilância da Raiva nas Américas (SIRVERA, 2009). Após a apresentação das tabelas é apresentado um levantamento dos principais trabalhos relacionados aos estudos das tipificações antigênicas e genéticas de isolados do RABV na América Latina. Finalizando, dados da epidemiologia da raiva do Brasil e dos estudos antigênicos e genéticos de isolados do país são também apresentados. Na Tabela 5 são apresentados os 517 casos de raiva humana no continente americano, entre 1999-2008. Em 1999 ocorreram 71 casos e em 2008 quatro casos. Este decréscimo está diretamente ligado ao sucesso no controle da raiva canina. O maior número de casos observados no Brasil, na Tabela 5, é ligado a sua extensão territorial, número de habitantes e, conseqüentemente, maior número de cães. Nos anos de 2004 e 2005, no Brasil, ocorreram respectivamente 30 e 44 casos e no Peru, em 2007, 24 casos. Praticamente a totalidade destes casos foi transmitida por D. rotundus em áreas da Região Amazônica, onde alguns agrupamentos humanos são constantemente agredidos por estes morcegos. A Tabela 6 apresenta o número de casos de raiva em animais infectados pelo RABV e diagnosticados laboratorialmente nas Américas, no período de 1999-2008. Os números referem-se às diferentes regiões nomeadas pela OPAS/OMS e os países que as compõe estão descritos na Tabela 7. 68 Tabela 5: Histórico dos últimos 10 anos mostrando o número de casos de raiva humana por país da América Latina. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Bolívia 10 9 7 2 2 4 9 4 2 ... Colômbia 3 1 0 0 1 14 3 2 3 0 Equador 5 3 3 0 0 0 2 0 0 0 Peru 9 4 2 1 2 8 8 3 24 0 Venezuela 2 1 1 0 2 5 0 1 1 0 Paraguai 4 1 0 5 0 1 0 0 0 0 Brasil 25 26 22 10 17 30 44 9 1 1 El Salvador 0 1 4 6 5 3 1 2 2 1 Guatemala 2 6 1 0 0 0 1 1 1 2 Honduras 0 1 0 0 0 0 0 0 0 ... Nicaragua 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Panamá 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 México 9 4 7 3 1 0 8 1 4 0 Cuba 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 Haiti 3 1 9 5 3 5 1 11 5 ... Porto Rico 0 0 0 0 1 0 ... ... ... ... Rep. Dominicana 0 0 0 2 1 1 0 1 0 0 Guiana 0 0 1 ... ... 0 0 0 ... ... Canadá 0 1 0 0 1 0 0 0 ... ... Estados Unidos 0 5 1 3 2 8 1 3 ... ... ´´´´ Sem informação Tabela 6: Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva em animais e sua distribuição. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 A. do Norte 7.492 7.949 7.779 8.223 7.414 7.090 6.664 7.169 0 0 Canadá 500 665 441 343 264 254 248 229 0 0 EUA 6.992 7.284 7.338 7.880 7.150 6.836 6.416 6.940 0 0 A. Latina 6.644 6.135 4.880 3.895 4.476 4.384 4.255 3.556 2.748 1.340 Am. Central 406 278 336 273 410 314 248 329 189 131 Área Andina 719 784 854 571 529 846 1.322 1.117 600 154 Brasil 4.059 3.910 2.830 2.233 2.530 2.354 1.638 1.367 1.255 596 Caribe Latino 374 331 299 315 270 240 120 146 157 245 Cone Sul 600 272 257 213 319 184 241 316 259 89 México 486 560 304 290 418 446 686 281 288 125 Caribe 35 88 46 5 1 76 1 0 0 0 Total 14.171 14.172 12.705 12.123 11.891 11.550 10.920 10.725 2.748 1.340 69 É importante comentar que a maioria absoluta dos casos apresentados na Tabela 6 e relativos à América do Norte refere-se a animais silvestres. Os números de casos apresentados pelo Brasil e México, em sua maioria absoluta, são casos de cães infectados. Neste ponto é necessário alertar que os dados contabilizados pela OPS/OMS e relativos à América Latina possuem sub-notificações e, em relação a alguns países, são altas (SIRVERA, 2009). A Tabela 7 apresenta os casos de bovinos com raiva, diagnosticados e notificados. Como esperado, estes animais são os mais acometidos pela raiva devido ao seu maior número e, conseqüentemente, exposição ao ataque de D. rotundus, com exceção da América do Norte. Tabela 7: Histórico dos últimos 10 anos mostrando os casos de raiva em bovinos. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br. 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 América Latina 3225 3327 2322 1869 2465 2591 2012 1689 1549 727 Área Andina 140 169 197 251 247 249 255 294 270 125 Bolívia 41 36 35 59 80 55 44 60 26 ... Colômbia 0 22 54 47 63 65 82 95 84 82 Equador 20 14 22 16 7 10 17 5 22 21 Peru 49 97 86 110 86 102 106 127 120 4 Venezuela 30 0 0 19 11 17 6 7 18 18 Cone Sul 126 129 136 92 66 68 89 192 153 40 Argentina 31 32 25 13 3 12 10 136 51 ... Chile 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Paraguai 95 97 111 79 63 56 79 56 76 14 Uruguai 0 0 0 0 0 0 0 0 26 26 Brasil 2628 2660 1759 1321 1816 1863 1127 961 864 433 América Central 209 79 72 41 49 37 52 58 33 30 Belice 6 0 1 ... 2 6 6 1 ... ... Costa Rica 2 0 2 ... 4 6 5 2 1 0 El Salvador 5 7 13 19 5 21 29 34 18 3 Guatemala 3 7 3 11 10 0 7 5 11 15 Honduras 6 3 9 0 0 1 1 0 0 ... Nicarágua 3 2 3 2 1 1 0 6 0 0 Panamá 184 60 41 9 27 2 4 10 3 12 México 108 271 148 154 275 363 479 181 227 94 Caribe Latino 14 19 10 10 12 11 10 3 2 5 Cuba 7 14 5 6 9 5 5 1 1 3 Haití 1 1 0 0 0 0 0 0 0 ... Porto Rico 0 1 2 1 0 2 ... ... ... ... República Dominicana 6 3 3 3 3 4 5 2 1 2 Caribe 34 88 46 5 1 76 1 0 0 0 Anguila 0 ... ... ... 0 0 ... ... ... ... Antigua e Barbuda 0 ... ... ... 0 0 ... ... ... ... Antilhas Holandesas 0 ... ... ... ... 0 0 0 ... ... Aruba 0 ... 0 ... ... 0 0 0 ... ... 70 Bahamas ... ... ... ... 0 ... ... ... ... ... Barbados ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ... Dominica ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ... Granada ... ... ... ... 0 0 0 0 ... ... Guadalupe ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Guiana 30 49 45 ... ... 76 0 0 ... ... Guiana Francesa ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Ilhas Caiman ... 0 ... ... ... ... ... ... ... ... Ilhas Turks e Caicos ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Ilhas Virgens ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Jamaica ... 0 ... 0 0 0 0 ... ... ... Martinica ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Montserrat 0 ... ... ... 0 0 0 ... ... ... Santa Lucia ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ... S.Vicente e Granadinas ... ... ... ... 0 0 0 ... ... St. Kitts e Nevis ... ... ... ... 0 0 0 ... ... ... Suriname ... 15 0 5 0 0 0 0 ... ... Trinidad e Tobago 4 24 1 0 1 0 1 0 ... ... América do Norte 174 118 102 127 108 130 109 108 0 0 Bermuda ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Canadá 39 36 22 12 10 15 16 26 ... Estados Unidos 135 82 80 115 98 115 93 82 ... ... Total 3433 3533 2470 2001 2574 2797 2122 1797 1549 727 Figura 10: Gráfico de distribuição de casos de raiva nas Américas, 2006. Fonte: http://sirvera.panaftosa.org.br. A Figura 10 mostra graficamente a distribuição da raiva nas diferentes regiões e relativos aos diferentes grupos de animais (silvestres, ADIE= de importância econômica e de companhia) e resume o escrito anteriormente. Este gráfico se refere aos dados de 2006, isto porque os dados relativos ao ano de 2008 da América do Norte não foram disponibilizados para a OPAS/OIE. Porém, comparando os gráficos de distribuição dos anos de 71 2006 e 2008 (não apresentado) é observado uma variação mínima no aumento de casos de silvestres e um menor número de casos em animais de companhia. 1.5.5.1.As variantes antigênicas e genéticas do RABV na América Latina espanhola Para dar inicio a esta seção é necessário esclarecer que, apesar do termo “variante” ser utilizado indistintamente por vários autores para tipificação antigênica e genética, aqui será utilizado o termo “variante” exclusivamente para tipificação antigênica, enquanto que para tipificação genética será usado o termo “linhagem”, que melhor caracteriza os agrupamentos genéticos do RABV de uma mesma variante antigênica (AgV), como expresso em Velasco-Villa et al. (2008). Antes de se fazer uma análise das tipificações antigênicas e genéticas realizadas na América Latina, também é necessário informar que as tipificações antigênicas realizadas nas Américas se baseiam em um painel de anticorpos monoclonais produzido pelo Center of Disease Control (CDC) e distribuído pela OPAS/OMS. Quanto à tipificação genética, infelizmente, não há regras seguidas pelos pesquisadores do RABV. O número de nucleotídeos seqüenciados pode variar de uma centena a mais de um milhar e, também, as áreas seqüenciadas são muito variáveis. Uma única característica destes seqüenciamentos é que, felizmente, grande parte deles utiliza como alvo o gene N do RABV. Na Colômbia, a caracterização genética determinou oito linhagens, três delas são associadas a cães e pertencem a variante antigênica AgV1. Outra linhagem genética é composta pelas variantes antigênicas AgV3, associada a D. rotundus. Duas linhagens genéticas são associadas a AgV4, típica do morcego insetívoro colonial Tadarida brasiliensis. Duas outras linhagens genéticas, composta por morcegos insetívoros solitários, não puderam ser tipificadas pelo painel de MAbs distribuído pela OPAS/OMS, fato comum entre morcegos insetívoros (Paez et al., 2007). Em relação aos canídeos silvestres na Colômbia, Paez et al. (2005) tipificaram geneticamente e antigenicamente raposas cinzas (Urocyon cinereoargentatus) como AgV2, típica de cão. Na Bolívia, a tipificação genética e antigênica do RABV identificou quatro variantes antigênicas: AgV1 e 2, típicas de cão, e AgV3 e 5, típicas de D. rotundus. A identificação genética foi concordante com a antigênica, 72 demonstrando haver três agrupamentos genéticos do RABV no país (Favi et al., 2003). No Chile, de Mattos et al. (2000), caracterizaram o morcego insetívoro Tadarida brasiliensis como o hospedeiro do RABV mais importante na epidemiologia da raiva no país. Em 1996, no mesmo país, ocorreu um caso de raiva em humano, fato que não ocorria desde 1972. A análise desta amostra humana caracterizou o RABV isolado como linhagem genética e variante antigênica AgV4, de T. brasiliensis (Favi et al., 2002). Yung, Favi, Fernándes (2002) tipificaram geneticamente e antigenicamente isolados do RABV e identificaram as variantes AgV3 (D. rotundus), AgV4 (T. brasiliensis) e AgV6, típica do morcego insetívoro Lasiurus cinereus. Neste estudo, as tipificações genéticas e antigênicas foram concordantes. Recentemente, Favi et al, (2008) fizeram um estudo retrospectivo com isolados do RABV, também no Chile, e identificaram as variantes antigênicas AgV1, AgV3, AgV4 e AgV6. Além de reconfirmarem a importância de T. brasiliensis na epidemiologia da raiva no Chile também reconfirmaram que alguns isolados não puderam ser tipificados com o painel de MAbs distribuído pela OPAS/OMS. Na Venezuela, de Mattos et al. (1996) identificaram antigenicamente as variantes AgV1, 3 e 5. A tipificação genética destas variantes foi concordante com as genéticas. Delpietro et al. (1997), na Argentina, tipificaram isolados do RABV e descreveram três variantes antigênicas, AgV2, 3 e 4, além de outras não determinadas e pertencentes a morcegos insetívoros. No mesmo, país Cisterna et al. (2005) tipificaram genética e antigenicamente isolados do vírus e identificaram as variantes antigênicas AgV 2, 3, 4 e 6, concordantes com a tipificação genética. Finalizando o estudo das tipificações genéticas e antigênicas na América Latina (com exceção do Brasil), é necessário escrever sobre a variante do RABV isolada em mangustos (Herpestes auropunctatus), encontrados em várias ilhas do Caribe, como por exemplo, Cuba e República Dominicana. Estes animais foram importados da Índia, no início do século XX, para o combate de cobras peçonhentas encontradas em grande número nos canaviais destas ilhas. Além de causar sérios distúrbios ambientais, devido à falta de predadores naturais, a população de mangustos cresceu demasiadamente e mostrou ser altamente susceptível ao RABV e, com o tempo, iniciou uma epidemia de raiva, com uma variante típica, provavelmente, originada de “raccons”. Hoje, os mangustos são os 73 transmissores do RABV mais importante desta região americana (Blanton et al., 2006). 1.5.6.A raiva no Brasil Em 2004, o Brasil gastou US$28 milhões (dólares americanos) na prevenção da raiva (Childs e Real, 2007). Este valor se refere aos gastos com vacinas para humanos e cães e gatos, imunoglobulinas, diagnósticos laboratoriais, treinamento de pessoal envolvido com a campanha anual de vacinação de cães e gatos, médicos e veterinários. A seguir, são apresentadas e comentadas algumas imagens e tabelas da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil (SVS/MS), que resumem a situação da raiva no Brasil. Posteriormente, são apresentados dados relativos aos estudos antigênicos e genéticos dos principais vetores e hospedeiros do RABV do Brasil. Figura 11: Casos de raiva em cães no Brasil no ano de 2008. Fonte: SVS/MS. 74 Figura 12: Casos de raiva em bovinos no Brasil no ano de 2008. Fonte: SVS/MS. Figura 13: Casos de raiva em equinos no Brasil no ano de 2008. Fonte: SVS/MS. Analisando a Figura 11 é observado que a raiva canina, hoje, é um problema das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde as campanhas anuais de vacinação de cães e gatos não atingiram uma situação 75 satisfatória. O foco no Estado do Mato Grosso do Sul é de origem boliviana. É importante salientar que as campanhas anuais de vacinação de cães e gatos na Região Sul do Brasil, a partir da década de 1990, por decisões de autoridades estaduais, não é realizada. Schneider et al. (1996), analisando os casos de raiva canina no Brasil e no período 1980-1990, citam um decréscimo de 90% de casos, determinados pela vacinação anual de cães e gatos que, naquela década, atingiu mais de nove milhões de animais/ano. Em 2007, a mesma campanha, que teve uma cobertura vacinal de 94% da população estimada de cães e gatos, vacinou 23.256.155 de cães e gatos (SVS/MS). O decréscimo da raiva canina é uma grande conquista e para que se possa compreender o fato alguns trabalhos são citados. da Silva et al. (2004), analisaram 1984 amostras de cães do Noroeste do Estado de São Paulo, no período 1993-1997, sendo que 351 foram diagnosticados positivamente. Queiroz et al. (2009), descreveram a situação da raiva no período de 1993-2007, também na região Noroeste do Estado de São Paulo, onde foram diagnosticadas 10579 amostras de animais provenientes de 42 municípios. Do total, 4,9% (518) foram positivas para a raiva, assim distribuídas: 67% cães (346), 16% bovinos (84) e 9% morcegos (50). Para que se possa ter uma idéia da dimensão da campanha anual de vacinação contra a raiva de cães e gatos do Brasil, a análise dos números publicados por Andrade et al. (2008) também é esclarecedora. Os autores estimaram a população canina na região de Araçatuba, no Noroeste do Estado de São Paulo, para cada 10 habitantes, em 1,7 (ano de 1994); 2,0 (ano de 1999) e 1,8 (ano de 2004). Da análise das Figuras 12 e 13 (Casos de raiva em bovinos no Brasil no ano de 2008 e Casos de raiva em equinos no Brasil no ano de 2008) fica nítido que a raiva em animais de importância econômica, transmitida pelo D. rotundus, é disseminado por todo o Brasil. O pequeno número de casos na Região Norte do país é diretamente relacionado à vigilância epidemiológica nesta região, ainda de difícil acesso e baixa densidade demográfica. A Figura 14, que mostra os Casos de raiva em humanos e animais no Brasil, no ano de 2008, reafirma o escrito anteriormente, porém são necessários dois comentários. O maior número de casos de raiva em morcegos não-hematófagos, no Estado de São Paulo, se deve a vigilância epidemiológica ativa em relação a estes animais no Estado. Quanto aos casos de raiva em primatas e canídeos silvestres, exclusivamente na Região Nordeste, será discutido em maiores detalhes no tópico relativo as tipificações antigênicas e genéticas do RABV no Brasil. 76 77 78 79 Em relação aos casos de raiva em morcegos não-hematófagos no Estado de São Paulo, três trabalhos citam dados que demonstram o conhecimeto epidemiológico atual. Albas et al. (2005) descreveram o diagnóstico do RABV efetuado em 4950 amostras animais, entre 1996 e 2003, na região oeste do Estado de São Paulo e, do total, 74 foram positivas, 58 destas amostras (78.4%) são de morcegos não hematófagos e 16 (21.6%) de bovinos, animal costumeiramente infectado pelo D. rotundus. Scheffer et al. (2007), que identificaram morfologicamente as espécies de animais infectados pelo RABV, descreveram o resultado do diagnóstico de 4395 amostras de morcegos, no período de abril de 2002 a novembro de 2003, de diversas regiões do mesmo Estado, e a positividade alcançou 1,9% (84 casos). Deste valor, não houve a descrição de casos em D. rotundus, apesar de 10 Gêneros de morcegos serem descritos, predominantemente insetívoros. Cunha et al. (2006), entre 1997 e 2002, diagnosticaram para a raiva 7393 morcegos do norte e noroeste do Estado de São Paulo. Entre todos, 1,3% foram positivos para a raiva, que também foram identificados morfologicamente, constatando que os animais eram predominantemente insetívoros, mas alguns frugívoros também o foram. A análise da Figura 15 (Série histórica de casos de raiva em humanos por Estado no Brasil, 1986-2008) permite que se afirme que, ano após ano, a situação da raiva no Brasil tem melhorado. Quanto aos anos de 2004 e 2005, quando houve um aumento surpreendente nos casos de raiva humana, é necessário esclerecer que os casos ocorreram em áreas da Amazônia, nos Estados do Pará e Maranhão e foram transmitidos por D. rotundus. Este tipo de surto, que ocorre esporádicamente, é basicamente relacionado a deficiência dos serviços de saúde locais e fatores sócioculturais. A Figura 16, que mostra a Série histórica de animais transmissores de raiva humana no Brasil, 1986-2007, complementa a Tabela 15, comentada anteriormente. Contudo, é notável o decréscimo no número de casos relacionados a cães e gatos e aos casos onde o transmissor foi indeterminado (ignorado). O decréscimo no números de “ignorados” se deve basicamente a melhora da vigilância epidemiológica e a disponibilidade de métodos moleculares para a identificação do vírus. Para complementar a análise é apresentada a Tabela 8, que mostra o número de casos de raiva por espécie no Brasil no ano de 2009 (dados parciais até 23 de julho). 80 Para finalizar este tópico, sobre a epidemiologia da raiva no Brasil, é fundamental citar alguns dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil (SVS/MS). Em 1998 foram diagnosticados 1746 casos em cães e em 2006, 67 casos. Esta redução é produto do Programa Nacional para o Controle da Raiva em Cães e gatos. Entre 1986 e 2006, um total de 758 casos de raiva humana foi diagnosticado. Os cães foram responsáveis por 524 destes casos (69.1%), gatos por 30 (4%), morcegos por 130 (17.1%), primatas nãohumanos por 14 (1.9%) e canídeos silvestres por 13 (1.7%). A efetiva vigilância epidemiológica relacionada a animais silvestres aumentou por volta do ano de 2000, e hoje, se encontra em ascensão (Kotait et al., 2007). Utilizando dados da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil (SVS/MS) é possível comprovar a plenitude da vigilância epidemiológica dirigida aos animais silvestres. O número de ataques de animais silvestres a humanos notificados em 1999 e 2005 foram, respectivamente, 35 e 16334. Nos mesmos anos os morcegos foram responsáveis, respectivamente, por 29 e 11811 ataques, primatas nãohumanos por 05 e 3360 e canídeos silvestres e outras espécies de menor importância epidemiológica, como gambás e guaxinins, 01 e 1163 ataques, respectivamente. É importante salientar que associada à vigilância epidemiológica o esforço governamental direcionado a educação foi de grande importância. Tabela 8: Número de casos de raiva por espécie no Brasil no ano de 2009. Dados parciais até 23 de julho. Fonte: SVS/MS. Espécie Número de casos Cão Gato Bovino Eqüino Morcego hematófago Morcego não-hematófago Primata não humano Canídeos silvestres Outros animais Humano Total no Brasil 6 1 362 40 12 61 0 5 9 1 497 81 1.5.6.1.As variantes antigênicas e linhagens genéticas do RABV no Brasil A primeira tipificação antigênica do RABV no Brasil foi publicada em 2001 (Favoretto et al., 2001) e é a única tipificação antigênica e genética de isolados do RABV de primatas no mundo. Supõe-se que o reservatório desta linhagem do RABV é o sagüi de tufo branco (Callithrix jacchus). Apesar de poucos casos conhecidos e relatados, os isolados são todos da região Nordeste do país, a maioria deles do Estado do Ceará. Esta variante antigênica não possui relação com outros reservatórios e não havia sido prevista durante a produção do painel de MAbs distribuído pela OPAS e, por isto, não possui, ainda hoje, uma nomenclatura oficial estabelecida. Favoretto et al., (2002) tipificaram 330 isolados do vírus de várias espécies e foram estabelecidas as quatro variantes antigênicas circulantes no Brasil: AgV2 (cão), AgV3 (D. rotundus), AgV4 (Tadarida brasiliensis) e AgV6 (Lasiurus cinereus). Além destas quatro variantes, outra variante antigênica, AgV5 (morcego hematófago da Venezuela), também foi identificada, porém não é comumente encontrada no país. Além das quatro variantes acima mencionadas, outros seis perfis antigênicos não determinados foram descritos. Os herbívoros de interesse econômico (bovinos, eqüinos, ovinos, etc.), foram tipificados como AgV3. No oeste do Estado de São Paulo, foram tipificados antigenicamente isolados do RABV de morcegos não hematófagos e foram detectadas, circulando na população dos animais as variantes antigênicas AgV3 e AgV4, típicas de D. rotundus e T. brasilensis, respectivamente (Albas et al., 2009). Em Portel e Viseu, cidades do Estado do Pará, 21 pessoas morreram de raiva em 2004. As amostras isoladas em humanos, coletadas após o falecimento das vítimas, foram tipificadas antigenicamente e geneticamente como AgV3, típica de D. rotundus (da Rosa et al., 2006). Schaefer et al. (2005), utilizando um painel de MAbs produzidos no Estado do Rio Grande do Sul e, portanto, não aquele distribuído pela OPAS e regularmente utilizado nas Américas, tipificaram antigenicamente isolados do RABV de várias espécies animais de várias regiões do Brasil. Os autores descreveram dois agrupamentos principais, cães e D. rotundus, que foi concordante com a tipificação genética também descrita no trabalho. Ao analisar os morcegos insetívoros os autores descreveram “espécieespecificidade”, pois houve a formação de agrupamentos por espécie. A caracterização genética do RABV no Brasil e em todos os outros países, se faz, principalmente, pelo seqüenciamento do gene N, mas um 82 número expressivo de trabalhos analisaram o gene G e, secundariamente, a região intergênica G-L. Quanto ao tamanho das seqüências geradas é variável, alguns autores utilizam os genes inteiros, outros, pequenas regiões, tanto da região amino-terminal como, também, da carboxi-terminal. O primeiro trabalho publicado relacionado à tipificação genética do RABV no Brasil foi o de Ito et al. (2001), onde os autores seqüenciaram 203 nt do gene N e determinaram as duas principais linhagens do vírus no país, cães e D. rotundus. Os autores também descreveram que a identidade genética dos isolados de cães utilizados no trabalho foi maior que 99%, enquanto que em D. rotundus maior que 96,6%. A partir deste trabalho pioneiro, a caracterização genética do RABV mostrou a real diversidade do vírus no país e outros se seguiram, mas uma clara dicotomia foi estabelecida, o estudo genético do RABV isolado em canídeos e em morcegos, com exceção ao de Favoretto et al. (2001), discutido durante as citações relacionadas as tipificações antigênicas, no qual os autores descrevem o RABV isolado do primata sagüi de tufo branco (Callithrix jacchus). Quanto aos canídeos, os trabalhos de Carnieli et al. (2006, 2008, 2009), que estudaram toda a região codante dos genes N e G e parte da região intergênica G-L do RABV, estabeleceram um novo biotipo (reservatório) da raiva na região Nordeste do Brasil, o cachorro do mato Cerdocyon thous. Os autores identificaram linhagens regionais do vírus que circulam em C. thous e em cães e identificaram geneticamente o hospedeiro pela análise de DNA mitocondrial. Além do citado anteriormente, os autores sugeriram que as linhagens do RABV circulam entre C. thous e cães, podendo ser transmitidas entre os dois animais sem perder suas identidades genéticas, pois mantém as assinaturas genéticas (marcadores genéticos) das linhagens do vírus, que são específicas para as duas espécies de canídeos. No mesmo contexto, os trabalhos de Bernardi et al. (2005), Sato et al. (2006) e Kobayashi et al. (2007), que estudaram geneticamente o RABV de várias espécies de animais das regiões Norte e Nordeste do Brasil, também estudaram canídeos silvestres do Estado da Paraíba, porém os identificaram como Pseudalopex vetulus (raposinha do campo). Schaefer et al. (2005) e Favoretto et al. (2006), que também estudaram geneticamente o RABV isolado de várias espécies de animais, citam o canídeo silvestre C. thous como aquele encontrado na região Nordeste do Brasil. 83 Dos trabalhos citados nos dois parágrafos anteriores e relacionados a canídeos, suas análises de maneira global indicam que o RABV isolado de canídeos possui uma identidade média divergente das linhagens de D. rotundus, calculada em 10%. Porém, entre as linhagens do RABV isoladas de canídeos há uma evidente regionalização. No caso dos cães, esta divergência, provavelmente, é determinada pelo deslocamento humano e seus cães e gatos (Carnieli et al., 2008). A tipificação genética do RABV isolado de morcegos iniciada por Ito et al. (2001) se diversificou para outras espécies de quirópteros, além do D. rotundus. Kobayashi et al. (2005), analisando amostras do RABV isoladas de espécies frugívoras, insetívoras e de D. rotundus, relataram linhagens associadas a morcegos Artibeus spp (frugívoro), D. rotundus e morcegos insetívoros, sugerindo haver linhagens espécies-específicas. Kobayashi et al. (2007), continuando a pesquisa anterior, obteve uma linhagem associada aos morcegos insetívoros do Gênero Lasiurus. Oliveira (2009), em estudo com diferentes espécies de morcegos, relatou diferentes linhagens do RABV associadas a diferentes espécies de morcegos insetívoros, sugerindo haver, linhagens espécies-específicas e Gênero-específicas. O estudo das linhagens do RABV que infectam os animais de interesse econômico são, em sua maioria absoluta, transmitidas pelo D. rotundus. Apesar do grande número de animais de interesse econômico infectados pelo RABV ser diagnosticado é pequeno o número de D. rotundus encontrados infectados. Por este motivo o estudo das linhagens do RABV que circulam entre estes morcegos são estudadas indiretamente, isto é, pelo uso de isolados do vírus de bovinos e eqüinos. Romijn et al. (2003), analisando parcialmente o gene N do RABV isolados de bovinos no Estado do Rio de Janeiro, obteve agrupamentos regionais do vírus. Bordignon et al. (2005), no Estado de Santa Catarina e também analisando parcialmente o gene N do RABV, obteve um agrupamento de linhagens típicas do Estado de Santa Catarina. Sato et al. (2006), analisando 599 nt do gene G de isolados do RABV de várias espécies dos Estados do Maranhão, Pará e Tocantins, identificaram linhagens do vírus associadas a canídeos e D.rotundus. Kobayashi et al. (2006), analisando parcialmente o gene N do RABV isolados de bovinos, de vários Estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, sugerem a existência de linhagens regionais formadas pelo isolamento geográfico determinado por montanhas e rios. Kobayashi et al. (2008), continuando o trabalho anterior, agora com 593 isolados do RABV de um maior número de Estados e seqüenciando 202 nt do gene N, descreveram 24 linhagens regionais do vírus, originadas por isolamento geográfico. 84 1.5.7.O Desmodus rotundus e a raiva em bovinos A raiva bovina é um problema econômico e de saúde pública e veterinária. Germano et al. (1992), associa o aumento populacional de bovinos, ao longo da história, com o aumento da população do transmissor do RABV para esta espécie, o morcego hematófago Desmodus rotundus (Figura 17). Sendo assim, o estudo deste morcego é de fundamental importância para a compreensão da raiva em bovinos e, também, em outros herbívoros da América Latina. Carini (1911) foi o primeiro a associar a raiva em herbívoros aos morcegos, pesquisando a morte de, aproximadamente, 5000 animais no Estado de Santa Catarina. Além deste fato, é importante salientar que Carini foi o primeiro a associar a raiva a morcegos e, por isto foi severamente combatido em sua época. Carneiro e Freitas Lima (1927) descreveram a mesma situação no Estado do Paraná, mas a aceitação de que os morcegos são também transmissores da raiva somente ocorreu na década de 1930 com a publicação de estudos semelhantes aos de Carini, na Ilha de Trinidad (Pawan, 1936). 1.5.7.1.A biologia do Desmodus rotundus D. rotundus é um quiróptero excepcionalmente ágil e furtivo na natureza e é considerado um dos morcegos mais evoluídos em relação ao Sistema Nervoso (Bhatnagar, 2007). A Ordem Chiroptera é dividida em duas subordens, Megachiroptera e Microchiroptera. Entre os microquirópteros existem 17 famílias e, no Brasil, existem nove famílias desta subordem. Os morcegos hematófagos, como o D. rotundus, pertencem à família Phyllostomidae, subfamília Desmodontinae da subordem Microchiroptera (Reis et al., 2007). A subfamília Desmodontinae é composta por três espécies e possuem o hábito alimentar hematófago (Gardner, 1977) Entre as três espécies de hábito hematófago D. rotundus é a espécie de maior ocorrência e é muito estudada por ser associada à transmissão do RABV aos herbívoros na América Latina. Esta espécie alimenta-se preferencialmente de sangue de mamíferos (Taddei, 1983). Diphylla ecaudata é considerada a segunda espécie em importância, seguida por Diaemus youngi, e ambas possuem preferência por sangue de aves (Uieda, 1992). 85 Figura 17: Imagens de diferentes fenótipos de Desmodus rotundus. As duas imagens superiores mostram a pelagem castanha, comum e, abaixo, alaranjada e albina, raras. Fotos: W. Uieda. Como todas as espécies da subfamília Desmodontinae, D.rotundus não possui cauda, apresenta redução do apêndice nasal e da dentição, com incisivos e caninos extremamente afiados (Greenhall, 1988). Sua coloração, geralmente, é pardo-ferruginoso na parte dorsal do corpo e cinza claro na parte ventral. O comprimento total varia de 69 a 90 mm; antebraço de 52 a 63 mm. Seu peso varia entre 25 e 40 gramas, sendo que as fêmeas são maiores que os machos (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983). D. rotundus ocorrem desde Sonora, Nuevo León e Tamaulipas, no México, Ilha Margarita, na Venezuela, Trinidad, Bolívia, norte do Chile, Brasil, Paraguai, Uruguai até o norte da Argentina (Peracchi et al., 2006). Esta espécie não tolera climas frios, não ocorrendo em locais que possuam temperatura média inferior a 10ºC no mês mais frio do ano (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983). D. rotundus não hibernam, porém o consumo alimentar e a atividade muscular aumentam quando ficam expostos a baixas temperaturas (Wimsatt e Guerriere, 1962). Estes morcegos têm capacidade termo regulatória imprevisível, quando a temperatura ambiental diminui, a temperatura corporal é normalmente mantida entre 33 e 37ºC pelo aumento da atividade motora. Se a temperatura corporal chegar a 20ºC os D. rotundus não são capazes de se aquecerem novamente (Wimsatt e Guerriere, 1962). São 86 também muito sensíveis a altas temperaturas, pois quando expostos entre 37 e 38ºC podem morrer (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983). D. rotundus são noctívagos, normalmente se abrigam em refúgios escuros e úmidos (Taddei, 1983), vivem em colônias com aproximadamente 10 a 200 indivíduos, refugiando-se em locais de difícil acesso; utilizam muitos tipos de abrigos e podem dividir esse espaço com outras espécies de morcegos (Arellano-Sota, 1988; Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983). Suas colônias geralmente são pequenas, porém já foram registradas aglomerações com até 2000 morcegos (Wilkinson, 1988). As colônias, geralmente, ocorrem em regiões de serra com muitas cavernas, onde o serviço de vigilância e controle da agricultura tem dificuldade de acesso aos seus abrigos (Uieda, 1996). Os abrigos são muito importantes para esses animais, pois são locais onde passam a maior parte do seu ciclo de vida. Nesses locais ocorre repouso, interações sociais e reprodutivas, de proteção contra predadores e más condições ambientais, como chuva e vento (Uieda, 1996). Há uma grande variedade de tipos de abrigos que são utilizados pelo D. rotundus. Originalmente são encontrados, principalmente, em cavernas, matacões (afloramento de grandes pedras), oco de árvores, entre outros de origem natural. Todavia, abrigos artificiais como túneis, bueiros, casas abandonadas, cisternas, minas abandonadas, entre outros, podem perfeitamente albergar colônias (Gonçalves et al., 1996) (Figuras 18 e 19). Como comumente encontrado em mamíferos gregários, os D. rotundus apresentam uma estrutura social caracterizada por hierarquia de dominância, baseada na formação de um harém, onde um macho dominante protege um grupo de fêmeas e seus filhotes. O macho dominante fica no alto do abrigo, rodeado pelas fêmeas, e os outros machos ficam em localizações periféricas na própria colônia ou são expulsos dos abrigos quando atingem a idade entre 12 e 18 meses. Os filhotes machos e solteiros podem permanecer próximos do harém à espera de uma oportunidade para ocuparem o posto de dominância ou sair à procura de outros locais para constituir o seu próprio harém ou, ainda, formar agrupamentos de machos, geralmente a uma distância mínima de 3 km daquela de onde nasceram (Wilkinson, 1988; Bredt et al., 1998). O tempo de gestação da espécie é de sete meses e os nascimentos, em geral, estão concentrados na estação chuvosa (Lord, 1992). As fêmeas possuem maior fidelidade aos abrigos e aos membros da colônia as quais pertencem (Gomes, Uieda, Latorre, 2005). Tal fidelidade pode ser exemplificada pelos comportamentos de limpeza mútua e regurgitação 87 recíproca de alimento entre as fêmeas e entre mães e filhotes (Wilkinson, 1988). O macho dominante, além de possuir maior acesso às fêmeas, também se alimenta em localidades mais próximas do abrigo, já os machos periféricos percorrem grandes distâncias para se alimentarem, podendo desta forma sobrepor a sua área de alimentação com as de outras colônias (Wilkinson, 1988). Os morcegos hematófagos, normalmente, se alimentam em uma área de 5 a 8 km ao redor dos abrigos diurnos (Crespo et. al., 1961). Em condições ambientais favoráveis, sua atividade alimentar pode se iniciar por volta de uma a duas horas após o pôr-do-sol e terminar por volta de uma hora antes do alvorecer (Uieda, 1992). No verão, contudo, foi verificado que os morcegos deixam os abrigos após as 21 horas e no inverno após as 22 horas (Villa, 1966). Isto confirma que estes morcegos só saem para se alimentar quando a escuridão é completa, podendo fazer um vôo preliminar para checar a luz da lua (Crespo et. al., 1961). Comportamentos agonísticos, inserção de novos indivíduos nas colônias, limpeza mútua, troca de regurgitado, deslocamentos dos indivíduos entre abrigos e reorganização de colônias podem ser considerados, entre outros eventos, como a base da transmissão e da dinâmica da raiva entre morcegos que, certamente, reflete na dinâmica da enfermidade em bovinos (Lord, 1992; Gomes, Uieda, Latorre, 2005). Geralmente, um conjunto de colônias é composto por uma colônia principal, na qual está o maior número de indivíduos, e ao seu redor há as denominadas colônias satélites e/ou agrupamentos de machos que ainda não formaram seu harém (Wilkinson, 1988). Os morcegos desse conjunto de abrigos/colônias transitam entre si segundo seus comportamentos de interação, possibilitando que o RABV seja transmitido de forma intraespecífica e, conseqüentemente, aos bovinos atacados por morcegos infectados (Wilkinson, 1988). Outros motivos podem incrementar o deslocamento de morcegos entre abrigos, como a divisão do clima em épocas chuvosas e secas, a inundação de abrigos e seca extrema (Taddei et al., 1991). Segundo Flores-Crespo e Arellano-Sota (1991), a espécie D. rotundus usualmente utiliza um território de ação de aproximadamente 10 a 20 km2. 88 Figura 18: Imagens de abrigos artificiais de Desmodus rotundus. Fotos: J.J. Ferrari. 89 Figura 19: Imagens de abrigo artificial (mina abandonada) de Desmodus rotundus e outros morcegos. Foto: J.J. Ferrari. Estudos da atividade de morcegos hematófagos em currais indicam que o período no qual os morcegos se alimentam, está relacionado à ausência de luar (Crespo et. al., 1972). Antes de se alimentar, D. rotundus faz um “vôo de reconhecimento” ao redor do animal em locais abertos (Greenhall, Schmidit, López-Forment, 1971). Acredita-se que esses vôos sejam um comportamento de ambientação, no qual os morcegos examinam e escolhem suas presas (Sazima, 1978). A aproximação do D. rotundus às suas presas pode ser feita de duas maneiras: pouso direto no corpo da presa ou pelo chão (Uieda, 1996). A reação dos animais à aproximação dos morcegos geralmente ocorre quando estes pousam em seu corpo, movimentando a cabeça, cauda e a musculatura da pele (Greenhall, Schmidit, López-Forment, 1971). Durante a aproximação da presa, os D. rotundus ficam cautelosos a qualquer reação da vítima. A qualquer sinal de perigo ele se afasta do local até que o perigo cesse ou abandona este animal e sai à procura de outra presa mais acessível (Uieda, 1996). Após a aproximação, os morcegos escolhem um local apropriado para morder sua presa (Figuras 20 e 21). D. rotundus pode gastar cerca de 40 minutos para escolher um local no corpo para morder (Greenhall, 1972). 90 Figura 20: Cavalo sendo atacado pelo Desmodus rotundus. Observar morcego e ferimento causado pela espoliação no pescoço do cavalo. Foto: J.J. Ferrari. 91 Figura 21: Detalhe da Figura 20 (cavalo sendo atacado pelo Desmodus rotundus). Observar morcego e ferimento causado pela espoliação no pescoço do cavalo. Foto: J.J. Ferrari. Ao alimentar-se, D. rotundus prefere extremidades do corpo, tais como orelhas, pescoço, região anal, vulva, mamilos, focinho e cauda, entre outros. A presa é perfurada com os dentes incisivos afiados deixando um ferimento característico. Sua saliva possui enzimas que evitam a coagulação do sangue e dois canais, um de cada lado da língua, lhes permitem sugar o sangue (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983). Um morcego pode ingerir entre 15 e 25 mL de sangue em uma presa e um animal pode ser visitado por vários morcegos na mesma noite (Constantine, 1979). O tempo necessário para a alimentação dos morcegos hematófagos depende das reações da vítima durante a refeição, geralmente D. rotundus gasta em torno de 30 minutos, podendo eventualmente chegar à uma hora (Uieda, 1996). Enquanto o morcego se alimenta foi observado eliminação de urina, que pode ser uma forma de esvaziar mais rapidamente o estômago, possibilitando maior consumo de alimento ou maior facilidade em alçar vôo durante a alimentação, se for necessário (Uieda, 1996). 92 Após a alimentação o morcego hematófago pode usar um abrigo noturno ou temporário que serve como local de descanso e ambientação. Esses abrigos estão situados próximos às fontes de alimento e podem ser casas de máquina, estábulo, paiol, porão ou mesmo vegetação próxima (Sazima, 1978). D. rotundus podem reabrir ferimentos feitos em noites anteriores, pois a reabertura é feita em poucos minutos, o que diminui seu tempo a eventuais riscos que podem ocorrer durante sua alimentação, como coices ou mordidas (Greenhall, Joermann, Schmidt, 1983). Pelo fato de ter o hábito alimentar exclusivamente hematófago, D. rotundus é um potencial transmissor do vírus da raiva e os prejuízos causados pela raiva em herbívoros transmitida por este morcego são notáveis (Mayen, 2003). Ainda, um aumento surpreendente no número de casos de raiva humana, transmitidos por D. rotundus ocorreu no Brasil nesta última década. Entre os anos de 2004 e 2005, dezenas de pessoas contraíram raiva transmitida por estes animais na Região Amazônica brasileira (da Rosa et al., 2006) e outros relatos similares de raiva humana na Região Amazônica já haviam sido documentados (Warner et al., 1999). Na América Latina, do ponto de vista epidemiológico, D. rotundus constituem o principal reservatório silvestre do RABV, mas outros quirópteros não hematófagos também têm papel na transmissão do vírus (Favi et al., 2002). 1.5.8.A dinâmica da raiva em bovinos No Estado de São Paulo, na década de 1980, houve uma epidemia, estudada por Taddei et al. (1991), que se propagou a uma velocidade média de 20 km/mês pelas principais bacias hidrográficas paulistas, como as dos rios Tietê, Ribeira, do Peixe, entre outras. Os mesmos pesquisadores também sugerem que áreas montanhosas, com presença de floresta, alto índice pluviométrico e com presença de criação bovina de subsistência, possuem maior probabilidade de ocorrência da doença, pois estas características ecológicas são apropriadas para o D. rotundus. Taddei et al. (1991), no Estado de São Paulo, sugerem que o inverno seco determina o deslocamento do D. rotundus para locais mais úmidos, como ao longo de bacias hidrográficas, desencadeando surtos de raiva. 93 Lord (1988) sugere que as características ecológicas, topográficas e geológicas de uma área determinam a distribuição dos abrigos de D. rotundus e, conseqüentemente a epidemia de raiva nas diferentes regiões. Gomes, Uieda e Latorre (2005) relacionam a existência de D. rotundus com a sua fonte de alimento, o gado, fazendo com que as epidemias em bovinos se propaguem difusamente e não ao longo de bacias hidrográficas, como sugerido por Taddei et al. (1991). Aspectos relacionados à raiva, ao D. rotundus, aos ecossistemas pecuários e, também, aspectos relacionados ao clima, relevo e tipo de manejo dos animais, devem ser considerados na análise da raiva bovina (Gomes, 2008). Delpietro, Marchevsky e Simonetti (1992), na Argentina, sugerem que D. rotundus tem preferência por ecossistemas pecuários aos naturais. Desta forma, o animal demonstra preferência ao alimento do que ao seu próprio ambiente natural. O Estado de São Paulo possui diferentes regiões em relação à criação de bovinos. A região do Vale do Paraíba possui gado de corte, mas é predominantemente leiteira; o Vale do Ribeira apresenta pecuária de subsistência; nas regiões noroeste e norte, apesar de apresentarem gado de corte e leite, o de corte é predominante; e o oeste paulista continua sendo a principal área de produção de carne do Estado (Gomes, 2008). Esta regionalização é importante de ser analisada, pois, em teoria, quanto maior for a relação comercial homem-animal, como no oeste paulista, maiores serão os cuidados profiláticos. Um dos motivos da presença da raiva em bovinos em certas áreas é a deficiências de cuidados de controle e profilaxia da raiva (Brass, 1994). Taddei et al. (1991) consideram que as diferenças entre o leste e o oeste da pecuária paulista favorecem o aumento da raiva na região leste, que possui criação de gado de subsistência e de caráter familiar, além de áreas montanhosas com trechos de floresta natural e índice pluviométrico mais elevados que a região oeste. Havendo aumento da população de morcegos há o aumento concomitante de raiva entre eles e, assim, há aumento da probabilidade de transmissão da doença aos bovinos. Devido ao constante deslocamento do D. rotundus, as epidemias de raiva se caracterizam pelo seu deslocamento e sazonalidade (Brass, 1994). 94 1.5.9.A epidemia de raiva 1997-2002 no Estado de São Paulo Estima-se que milhares de casos de raiva ocorram anualmente em bovinos e eqüinos no Brasil, apesar de não haver concordância quanto a estes números. Em 2007, SIRVERA (2008) cita 1255 casos diagnosticados laboratorialmente, enquanto que SVS/MS (2008) cita 905 casos. O RABV transmitido por D. rotundus faz dos grandes rebanhos de bovinos suas vítimas preferenciais. Os milhões de bovinos no Brasil, calculados, aproximadamante, em 200 milhões (IBGE, 2008), passivamente fazem parte do ciclo silvestre da raiva como hospedeiros terminais. Apesar dos bovinos serem hospedeiros terminais, um caso de raiva humana transmitida por bovino é documentado (Ferreira, 2007). Ainda, mesmo que até o momento não haja documentação da transmissão do RABV entre bovinos ou outros herbívoros de criação, esta possibilidade existe, principalmente pelo contacto oral (saliva contaminada) entre mucosas, como descrito em Kudus (Tragelaphus strepsiceros) na África (Mansfield et al., 2006). Recentemente foi descrito o mesmo tipo de transmissão entre cangambás (skunks) (www.rabiescontrol.net) (2009). Se, o gado é a fonte de alimento preferencial para D. rotundus (Del Pietro e Russo, 1996; Romijn et al., 2003) e permitem o aumento populacional destes morcegos (Uieda , 1996), pode-se afirmar que, de forma indireta, auxiliam a manutenção do RABV no ciclo silvestre. Os herbívoros de criação, principalmente bovinos, desencadeando o aumento da população de D. rotundus, permitem que o RABV circule no ciclo silvestre de forma facilitada, possibilitando o início de epidemias. É possível sugerir que os bovinos atuam como indicadores ecológicos da raiva no meio silvestre, isto porque o número de D. rotundus identificados com raiva é pequeno em relação ao número dos casos da doença identificados entre herbívoros de criação. Em 2007, o Ministério da Saúde do Brasil (SVS/MS) identificou 905 casos de raiva em bovinos, 104 em eqüinos e somente 27 em D. rotundus. No Brasil, Kotait et al. (2007) citam 36 espécies de morcegos nãohematófagos diagnosticados com raiva, principalmente insetívoros. No período 2005-2007 o Laboratório do Instituto Pasteur do Estado de São Paulo, Brasil, analisou 10472 morcegos e entre estes foram identificados 10123 não-hematófagos e 349 hematófagos. O RABV foi identificado em 173 morcegos não-hematófagos, enquanto que somente dois D. rotundus foram identificados positivamente. A importância da raiva entre os * Dados cedidos pela Seção de Diagnóstico do Instituto Pasteur, São Paulo, Brasil. 95 herbívoros de criação transmitida pelos morcegos não-hematófagos ainda hoje é desconhecida. O Estado de São Paulo (SP) localiza-se na Região Sudeste do Brasil, possui 248898 Km2, cerca de 2,91% do território brasileiro e possui mais de 40 milhões de habitantes. É o Estado do Brasil mais industrializado e é responsável por aproximadamente 30% do seu PIB. Sua capital é São Paulo e junto com as cidades periféricas formam uma metrópole, a Grande São Paulo, com cerca de 18 milhões de habitantes (IBGE, 2008). O Estado possui uma região endêmica de raiva bovina na sua região Leste, no Vale do Paraíba (Taddei et al., 1991). Esta região endêmica em SP se estende pelos Estados brasileiros de Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ), vizinhos de SP. Entre os anos de 1997 e 2002 houve uma epidemia de raiva no Estado de São Paulo envolvendo bovinos e eqüinos (Tabela 9). Naquela ocasião, o Estado era oficialmente dividido pela Secretaria de Saúde em 25 Diretorias Regionais (DIR). A epidemia foi inicialmente detectada na DIR-3 (Mogi das Cruzes), vizinha à região endêmica de São Paulo, posteriormente notificada na DIR-12 (Campinas) e em seguida na DIR-20 (São João da Boa Vista). Devido à nova reestruturação da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (decreto DOE nº51433 de 28 de dezembro de 2006), as antigas Diretorias Regionais de Saúde (DIR) foram substituídas pelos Departamentos de Saúde. Assim sendo, as antigas DIR-3 (Mogi das Cruzes), DIR-12 (Campinas) e DIR-20 (São João da Boa Vista) tem, hoje, suas áreas de abrangência equivalentes aos Departamentos de Saúde I (Grande São Paulo), VII (Campinas) e XIV (São João da Boa Vista), respectivamente (Figura 22). Deste ponto em diante as DIR 3, 12 e 20, citadas anteriormente, serão designadas por RD1, RD2 e RD3, respectivamente, e a epidemia estudada por “epidemia 1997-2002” (Figura 23). 96 Figura 22: Departamentos de Saúde do Estado de São Paulo. Fonte: www.saude.sp.gov.br/content/geral_estrutura_regionais_de_saude.mmp. Tabela 9: Ocorrência de raiva em herbívoros, confirmação pela rede de laboratórios de diagnóstico do Estado de São Paulo. Fonte: Peres, 2009. Espécie/Ano 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Total Bovina 149 188 431 624 413 148 89 50 55 56 40 2.243 Bubalina 0 1 3 0 0 1 1 1 0 0 1 8 Eqüina 23 35 103 260 130 86 42 27 11 12 11 740 Muar 0 0 1 6 3 2 5 2 0 0 0 19 Asinina 1 0 1 1 0 3 1 0 0 0 0 7 Ovina 2 1 1 8 5 1 0 0 0 0 0 18 Caprina 1 0 2 0 1 0 1 1 0 0 0 6 Total 176 225 542 899 552 241 139 81 66 68 51 3041 97 N Região 1 Região 2 Região 3 Região endêmica MT MS TO MG RJ São Paulo - Capital 470 Km Figura 23: Mapa do Estado de São Paulo (SP), Sudeste, Brasil, e as áreas epidêmicas RD1, RD2 e RD3. A localização da capital do Estado, cidade de São Paulo, e a região endêmica estão indicadas no mapa. A localização do Estado de São Paulo é mostrada em cinza no mapa do Brasil no canto direito da Figura. Os Estados brasileiros Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), da região Centro-Oeste, Estado de Tocantins (TO), na região Norte, além de Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ), os quais como São Paulo, situam-se na região Sudeste, são também mostrados na Figura. Abaixo, o mapa do Brasil mostrando o relevo do país e ao lado, o mapa do Estado de São Paulo e seu relevo em maiores detalhes. Fonte: Miranda (2009). Em 2002, os órgãos oficiais ligados à pecuária instituíram vacinação obrigatória na área epidemica e endêmica, além de realizarem o controle populacional de D. rotundus à base de Warfarina, já iniciado anteriormente, fazendo cessar a epidemia (Tabelas 10 e 11). Detalhes deste controle, além de abrangentes dados epidemiológicos relativos à raiva em herbívoros no Estado de São Paulo no período de 1997-2007, são 98 encontrados em Peres (2009). É importante esclarecer que em todo o Estado de São Paulo, como em todo o Brasil, casos de raiva em bovinos e outros herbívoros de criação, foram diagnosticados antes e após os anos da epidemia 1997-2002. Também é apresentada a Figura 24, gerada a partir de dados da Comissão Estadual de Controle da Raiva, que mostram o número total de bovinos e eqüinos positivos para a raiva no Estado de São Paulo, no período de 1996 a 2003 e o número total de herbívoros positivos para a raiva no Estado de São Paulo, no período de 1996 a 2003, além dos números de animais positivos nas áreas RD1, RD2 e RD3. Tabela 10: Número de morcegos Desmodus rotundus capturados e tratados com Warfarina e refúgios trabalhados no Estado de São Paulo, 1997–2007. Fonte: Peres, 2009 Ano Hematófagos capturados e tratados com Warfarina Refúgios trabalhados 1997 sem informação sem informação 1998 sem informação sem informação 1999 3.951 1.421 2000 5.217 892 2001 6.367 1.803 2002 16.071 2.438 2003 11.687 sem informação 2004 9.371 sem informação 2005 6.417 sem informação 2006 12.919 sem informação 2007 10.117 6.554 TOTAL 82.117 A epidemia 1997-2002 ocorreu em uma área montanhosa, densamente povoada e com um índice econômico privilegiado dentro do Brasil. As três áreas estudadas, áreas RD1, RD2 e RD3, possuem altitudes médias entre 800 e 1600 metros, temperaturas médias anuais de 18°C, pluviosidade média anual superior a 1300 mm e, portanto, com condições ecológicas propícias para D. rotundus (Wilkinson, 1988). Atualmente, a vegetação original do Estado encontra-se alterada, pois foi o maior produtor de café durante os séculos XIX e XX. Poucas áreas da Mata Atlântica, situada nas regiões serranas de difícil acesso, a leste do Estado, encontram-se parcialmente conservadas, mas sujeitas a grande especulação imobiliária. Partes das áreas epidemicas estudadas situam-se nestas regiões serranas (Figuras 25, 26 e 27). 99 Tabela 11: Número de herbívoros existentes e herbívoros vacinados, na área de vacinação obrigatória da raiva, no Estado de São Paulo, 2001– 2006. Fonte: Peres, 2009. Ano Herbívoros existentes Herbívoros vacinados 2001 2.921.893 2.740.887 2002 3.214.133 3.090.793 2003 3.461.303 3.413.369 2004 3.625.938 3.568.119 2005 2.870.286 2.830.852 2006 2.944.762 2.915.819 1996 1997 1998 1999 2000 2002 2003 Bovino 78 149 189 434 623 148 90 Eqüino 12 24 35 106 238 92 48 Estado de São Paulo RD 1 RD 2 RD 3 1996 6 5 1 90 1997 82 5 6 173 1998 34 49 7 224 1999 31 349 56 540 2000 44 469 227 861 2001 19 259 277 625 2002 - - - 240 2003 - - - 138 Figura 24: Gráficos e tabelas com os números de bovinos e eqüinos positivos para a raiva no Estado de São Paulo (imagem superior), como também nas áreas RD1, RD2 e RD3 (imagem inferior) Fonte: (www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao). 100 Atualmente, grande número de pesquisadores da raiva sugere que, além da presença de montanhas, os rios e represas também são fatores que determinam a diversificação genética do RABV (Carnieli et al., 2009). A Figura 28 mostra a posição dos principais rios e represas das áreas RD1, RD2 e RD3. Outro trabalho recente, com metodologia inédita e dados abrangentes, que estudou a raiva em bovinos no Estado de São Paulo, no período entre 1992 e 2003, é o de Gomes (2008). O autor, utilizando uma abordagem ecológica, estudou os padrões espaciais da raiva bovina e seus determinantes, partindo da premissa que a paisagem físico-territorial e o ambiente pecuário do Estado, que se transformam ao longo do tempo, influenciam a expansão da raiva. O autor sugere que a análise dos tipos de uso e classes de cobertura da terra permite a identificação de fatores relacionados à epidemia e de sua progressão pelo território, no espaço e no tempo. A epidemia ou as epidemias de raiva em herbívoros, segundo o autor, progrediram principalmente pelos Vales do Paraíba e Ribeira, do sentido da divisa de Minas Gerais até o eixo entre os municípios de São Paulo e Campinas e depressão periférica (ver Figura 25). As Figuras 29 e 30, cedidas gentilmente por Gomes, permitem uma melhor caracterização e visualização da epidemia 1997-2002. Porém, para que possamos interpretar corretamente estas figuras, se faz necessário analisar os dados presentes na Tabela 12, que mostra os números de casos de raiva no Estado de São Paulo em relação aos mapas Kernel da Figuras 29 e 30, no período 1997-2003. A Figura 31 mostra a função Kernel da cobertura vegetal das áreas RD1, RD2 e RD3 no ano de 1997. 101 0m 2700 m Divisão Geomorfológica Planalto Atlântico e Província Costeira Depressão Periférica Cuestas Basálticas Planalto Ocidental Figura 25: Aspectos do relevo do Estado de São Paulo (imagem superior) e divisão geomorfológica paulista (imagem inferior). Imagens geradas a partir de dados provenientes do SRTM (“Shuttle Radar Topography Mission”). Fonte: Gomes, 2008. 102 1100 mm 11°C 3850 mm 25°C Figura 26: Pluviosidade média anual do Estado de São Paulo (imagem superior) e temperatura média anual do Estado de São Paulo (imagem inferior). Imagens geradas a partir de dados provenientes do SRTM (“Shuttle Radar Topography Mission”). Fonte: Gomes, 2008. 103 Figura 27: Mapa parcial da América do Sul mostrando seu relevo. Observar a área destacada com um retângulo em preto que delimita, aproximadamente, a área da epidemia 1997-2002 estudada. Fonte: www.geografiaparatodos.com.br. Figura 28: Posicionamento dos principais rios e represas existentes nas áreas RD1, RD2 e RD3. Fonte: Gomes, 2008. 104 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Baixo Alto Figura 29: Mapas Kernel para cada ano da série histórica 1992-2003 sobrepostos à divisão geomorfológica paulista. Os “valores “baixos e altos” são relativos ao número de casos de raiva diagnosticados no ano analisado. Fonte: Gomes, 2008. 105 BAIXA ALTA Figura 30: Função Kernel elaborado com a somatória dos diagnósticos laboratorialmente positivos de raiva bovina (1992-2003) nas áreas RD1, RD2 e RD3. O epicentro da Figura, em vermelho, se refere à área RD2 analisada neste trabalho. Os valores relativos “baixos e altos” referem-se ao número de casos de raiva diagnosticados no período 19922003. Fonte: Gomes, 2008. Tabela 12: Números de casos de raiva no Estado de São Paulo em relação aos mapas Kernel da Figuras 29 e 30, no período 1997-2003. Fonte: Gomes, 2008. Ano Nº de casos Valor Baixo Valor Médio Valor Alto (azul-verde) (amarelo) (laranja-vermelho) 1997 1 a 10 11 a 25 26 a 57 1998 1a5 6 a 15 15 a 25 1999 10 a 30 31 a 60 61 a 91 2000 1 a 30 31 a 50 51 a 84 2001 1 a 15 16 a 35 38 a 41 2002 1 a 10 11 a 25 26 a 29 2003 1a5 6 a 12 13 a 17 106 Vegetação rasteira Floresta tropical Reflorestamento Corpos de água e rios de maior ordem Urbana Lavoura Cana-de-açúcar Outros Figura 31: Função Kernel da cobertura vegetal das áreas RD1, RD2 e RD3 no ano de 1997. Observar os dois focos de raiva (círculos brancos e pretos) na área RD1. Comparar com a Figura 29, ano de 1997 Fonte: Gomes, 2008. 107 2.Objetivos 1. Caracterizar geneticamente as linhagens AgV3 do RABV isoladas durante a epidemia de raiva em bovinos e equinos de 1997-2002 no Estado de São Paulo, seqüenciando toda a região codante do gene N e parcialmente o gene G. 2. Associar os dados filogenéticos a dados epidemiológicos. 3. Comparar a identidade genética entre as linhagens AgV3 tipificadas e, também, as comparar com linhagens AgV3 de outras áreas geográficas do Brasil para sugerir um modelo de expansão da epidemia 1997-2002. 108 3. Material e Métodos 3.1. Amostras Para o estudo dos genes N da nucleoproteína N e G da glicoproteína das linhagens do RABV, típicas de D. rotundus e designadas como Variante 3 (AgV3), isoladas de bovinos (Bos taurus) e eqüinos (Equus caballus) durante a epidemia 1997-2002, um total de 144 amostras de cérebro positivas para a raiva foram utilizadas (bovinos n= 130 e eqüinos n= 14). Entre as 144 amostras de cérebro utilizadas para o estudo do gene N foram utilizadas 62 delas para o estudo do gene G (bovinos n= 57 e eqüinos n= 5). As amostras foram coletadas entre janeiro de 1997 e dezembro de 2001 na área da epidemia 1997-2002, em diferentes cidades do Estado de São Paulo, Brasil, (áreas RD1, RD2 e RD3) (Tabelas 13, 14 e 15). Como controle positivo para as reações dos métodos utilizados foi utilizado a amostra fixa do RABV CVS-31 (Challenger Virus Standard). Todas as amostras utilizadas foram cedidas pelo Instituto Pasteur, São Paulo, Brasil, e, portanto, já diagnosticadas positivamente para a raiva por imunofluorescência direta e isolamento do vírus em camundongos albinos suiços inoculados intracerebralmente. A identificação das amostras é a mesma utilizada pelo Instituto Pasteur. A escolha das amostras utilizadas foi realizada aleatoriamente em grupos mensais para contemplar todos os meses dos anos da epidemia estudada. Foi evitado o acúmulo de amostras de uma única cidade e, neste caso, a amostra sorteada de uma cidade com número excessivo de amostras não foi adicionada ao grupo sorteado e, em seguida, foi realizado novo sorteio. Seqüências genéticas, de vários Estados brasileiros, recuperadas do GenBank foram utilizadas para a comparação e avaliação das seqüências genéticas geradas neste trabalho (Tabela 16). As abreviações dos nomes dos Estados brasileiros e citados no texto se referem aos estados de Goiás (GO) e Mato Grosso (MT), na Região CentroOeste do Brasil; Tocantins (TO) na região Norte; e os Estados de São Paulo (SP), Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ) na Região Sudeste. Além das seqüências apresentadas na Tabela 16 também foram utilizadas as seqüências recuperadas do GenBank M13215 e DQ42212 referentes as amostras fixas PV e CVS, respectivamente. 109 Tabela 13: Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do gene N. A Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras, ano e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur, as espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos a que pertencem descritos em Resultados.. N° 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 N° GeneBank FJ649104 FJ649137 FJ649102 FJ649109 FJ649143 FJ649087 FJ649116 FJ649106 FJ649120 FJ649073 FJ649177 FJ649099 FJ649093 FJ649128 FJ649160 FJ649146 FJ649154 FJ649153 FJ649134 FJ649098 FJ649178 FJ649129 FJ649119 FJ649180 FJ649091 FJ649092 FJ649107 FJ649114 FJ649101 FJ649122 FJ649124 FJ649152 FJ649140 FJ649168 FJ649069 FJ649082 FJ649063 FJ649071 FJ649076 FJ649130 FJ649135 FJ649150 FJ649125 FJ649078 FJ649176 FJ649136 FJ649105 FJ649132 FJ649112 FJ649080 FJ649085 FJ649162 FJ649167 FJ649123 FJ649182 Ano 1999 2000 1999 2000 2000 1999 2000 2000 2000 1998 1999 1999 1999 2000 2001 2000 2000 2000 2000 1999 1999 2000 2000 2000 1999 1999 2000 2000 1999 2000 2000 2000 2000 2001 1998 1999 1998 1998 1999 2000 2000 2000 2000 1999 1998 2000 2000 2000 2000 1999 1999 2001 2001 2000 2000 Cidade Bragança Paulista Bragança Paulista Vargem Bragança Paulista Pinhalzinho Piracaia Vargem Bragança Paulista Nazaré Paulista Bragança Paulista Vargem Bragança Paulista Socorro Bragança Paulista Morungaba Bragança Paulista Bragança Paulista Bragança Paulista Pinhalzinho Joanópolis Vargem Bragança Paulista Tuiuti Vargem Bragança Paulista Piracaia Bragança Paulista Piracaia Nazaré Paulista Pedra Bela Atibaia Itatiba Vargem Valinhos Joanópolis Extrema Cambuí Joanópolis Piracaia Atibaia Morungaba Morungaba Bom Jesus dos Perdões Piracaia Piracaia Nazaré Paulista Atibaia Jarinu Atibaia Joanópolis Joanópolis Amparo Campinas Bom Jesus dos Perdões Sta. Izabel Amostra IP5708 IP4545 IP5369 IP196 IP5151 IP3602 IP788 IP150 IP1292 IP5114 IP2787 IP4705 IP4067 IP2685 IP272 IP5347 IP6867 IP6866 IP3141 IP4680 IP5767 IP2731 IP1283 IP555 IP4023 IP4026 IP153 IP776 IP5367 IP1559 IP1958 IP6261 IP4631 IP5458 IP4307 IP2417 IP1495 IP4849 IP1328 IP2824 IP3251 IP6093 IP1959 IP1929 IP4568 IP3299 IP81 IP2983 IP568 IP2193 IP2566 IP1064 IP1501 IP1947 IP1333 Espécie Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Subclados e Grupos RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 110 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 FJ649147 FJ649170 FJ649108 FJ649117 FJ649149 FJ649175 FJ649088 FJ649142 FJ649084 FJ649138 FJ649095 FJ649077 FJ649083 FJ649089 FJ649094 FJ649097 FJ649131 FJ649179 FJ649113 FJ649111 FJ649121 FJ649183 FJ649164 FJ649067 FJ649096 FJ649141 FJ649103 FJ649133 FJ649118 FJ649126 FJ649068 FJ649156 FJ649159 FJ649172 FJ649100 FJ649166 FJ649157 FJ649165 FJ649161 FJ649186 FJ649144 FJ649171 FJ649127 FJ649158 FJ649169 FJ649181 FJ649163 FJ649185 FJ649148 FJ649145 FJ649155 FJ649151 FJ649081 FJ649090 FJ649115 FJ649110 FJ649049 FJ649047 FJ649055 FJ649086 FJ649174 FJ649056 FJ649173 FJ649053 2000 2001 2000 2000 2000 1998 1999 2000 1999 2000 1999 1999 1999 1999 1999 1999 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2001 1998 1999 2000 1999 2000 2000 2000 1998 2000 2001 2001 1999 2001 2001 2001 2001 2001 2000 2001 2000 2001 2001 2000 2001 2001 2000 2000 2000 2000 1999 1999 2000 2000 1997 1997 1997 1999 1997 1997 1997 1997 Bragança Paulista Espírito Sto. do Pinhal Bueno Brandão Bueno Brandão Bueno Brandão Socorro Socorro Lindóia Águas de Lindóia Socorro Pedra Bela Socorro Socorro Socorro Socorro Socorro Lindóia Monte Sião Monte Sião Pedra bela Bueno Brandão Vargem Pedra Bela Socorro Pedra Bela Monte Sião Socorro Monte Alegre do Sul Socorro Lindóia Socorro Caconde Caconde Mococa Vargem Jarinu Itapira Monte Sião S. Sebastião da Grama Itatiba Pedra Bela Atibaia Amparo Campinas Itatiba Vargem Ibiraci Itatiba Pedra Bela Caconde Caconde Tapiratiba Caconde Caconde Caconde S. Sebastião da Grama Mogi das Cruzes Salesópolis Salesópolis Arujá Caçapava Guararema Biritiba Mirim Mogi das cruzes IP5402 IP7518 IP178 IP889 IP5572 IP4850 IP3780 IP4998 IP2552 IP4553 IP4124 IP1797 IP2541 IP3951 IP4114 IP4672 IP2885 IP210 IP756 IP312 IP1471 IP1948 IP1395 IP2956 IP4533 IP4812 IP5599 IP2986 IP1040 IP2617 IP3826 IP7018 IP159 IP7792 IP4750 IP1500 IP40 IP1433 IP910 IP4693 IP5285 IP7590 IP2626 IP142 IP7343 IP655 IP1195 IP1422 IP5475 IP5301 IP7016 IP6195 IP2394 IP3966 IP778 IP232 IP1284 IP719 IP3044 IP2690 IP870 IP3919 IP455 IP2439 Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Equino Bovino RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 111 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 FJ649045 FJ649048 FJ649052 FJ649057 FJ649070 FJ649061 FJ649058 FJ649184 FJ649139 FJ649051 FJ649054 FJ649060 FJ649050 FJ649062 FJ649064 FJ649043 FJ649044 FJ649065 FJ649079 FJ649059 FJ649075 FJ649074 FJ649046 FJ649066 FJ649072 1997 1997 1997 1997 1998 1998 1998 2000 2000 1997 1997 1998 1997 1998 1998 1997 1997 1998 1999 1998 1998 1998 1997 1998 1998 Salesópolis Salesópolis Santa Branca Suzano Salesópolis Salesópolis Suzano Aruja Aruja Salesópolis Salesópolis Mogi das Cruzes Salesópolis Jaguariúna Santa Izabel Morungaba Morungaba Socorro Socorro Caconde Cajuru Pontal Jaboticabal Socorro S. João Boa Vista IP426 IP988 IP2166 IP4030 IP4375 IP815 IP144 IP2821 IP4597 IP2127 IP3011 IP366 IP1286 IP1192 IP2028 IP214 IP248 IP2119 IP1989 IP272 IP5331 IP5300 IP633 IP2478 IP4992 Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Bovino Bovino Ovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 RD1 “Antigas” “Antigas” “Antigas” “Antigas” “Antigas” “Antigas” “Antigas” “Antigas” “Antigas” “Antigas” 3.2. Transcrição reversa seguida da Reação em cadeia pela polimerase (RT-PCR) e Seqüenciamento do DNA O RNA total das amostras de cérebro foi extraído com Trizol® (Invitrogen) de acordo com as instruções do fabricante. O RT-PCR foi realizado como descrito previamente por Carnieli, Ventura, Durigon (2006), com pequenas modificações. Dois amplicons foram produzidos por RT-PCR usando dois conjuntos de iniciadores (primers), um conjunto de primers para o gene N [senso-21G (A T G T A A C A C C T C T A C A A T G) e antisenso304 (T T G A C G A A G A T C T T G C T C A T)] (Orciari et al., 2001) e outro conjunto para o gene G [senso-GA (C G C T G C A T T T T R T C A R A G T) e antisenso-GB (G G A G G G C A C C A T T T G G T M T C)] (Sato et al., 2004). O amplicon produzido pelo par de primers 2IG/304, com 1393 nucleotídeos (nt) de extensão, corresponde ao trecho entre os nt 89 e 1482 do gene N do genoma da amostra fixa PV (Pasteur Virus). O amplicon produzido pelo par de primers GA/GB, com 917 nt de extensão, corresponde ao trecho entre os nt 3222 e 4139 do gene G do genoma da amostra fixa PV. 112 Tabela 14: Amostras de RABV AgVG3 utilizadas para o estudo do gene G. A Tabela mostra o número de acesso do GenBank das amostras, ano e cidade do isolamento, o número de registro do Instituto Pasteur, as espécies nas quais o vírus foi isolado e os Subclados ou Grupos a que pertencem descritos em Resultados. N° 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 Nº GenBank FJ648981 FJ648982 FJ648986 FJ648993 FJ648984 FJ649002 FJ648985 FJ649009 FJ649027 FJ649028 FJ649019 FJ649021 FJ649024 FJ649026 FJ649032 FJ649034 FJ648984 FJ648998 FJ649004 FJ649023 FJ649020 FJ649025 FJ649013 FJ649018 FJ649010 FJ649022 FJ649011 FJ649035 FJ649033 FJ649031 FJ649008 FJ649015 FJ649012 FJ648992 FJ648996 FJ648997 FJ649000 FJ649005 FJ649006 FJ648991 FJ648983 FJ649042 FJ649038 FJ649040 FJ649041 FJ649039 FJ649003 FJ649007 FJ649017 FJ649016 FJ649036 FJ649029 FJ649037 FJ649014 FJ649030 Ano 1997 1997 1998 1998 1998 1999 1998 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2001 2001 1998 1999 1999 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2001 2001 2001 2000 2000 2000 1998 1998 1999 1999 1999 1999 1998 1997 2001 1998 2000 2000 1999 1999 1999 2000 2000 2001 2000 2001 2000 2000 Cidade Salesópolis Salesópolis Salesópolis Salesópolis Suzano Arujá Mogi das Cruzes Bragança Paulista Bragança Paulista Bragança Paulista Bragança Paulista Nazaré Paulista Vargem Bragança Paulista Campinas Amparo Joanópolis Piracaia Joanópolis Socorro Pinhalzinho Pedra Bela Piracaia Bom Jesus dos Perdões Bragança Paulista Bragança Paulista Pedra Bela Campinas Morungaba Itapira Atibaia Vargem Monte Sião Joanópolis Bragança Paulista Piracaia Joanópolis Piracaia Pedra Bela Socorro Socorro Itatiba Piracaia Monte Sião Vargem Vargem Socorro Nazaré Paulista Bueno Brandão Socorro Espírito Sto. Pinhal Caconde Mococa Caconde Caconde Amostra IP719 IP988 IP815 IP4375 IP144 IP2690 IP366 IP153 IP5402 IP6867 IP2685 IP3299 IP4631 IP5347 IP142 IP1064 IP4849 IP1929 IP3960 IP4553 IP3141 IP5285 IP776 IP1947 IP196 IP4545 IP312 IP1501 IP272 IP40 IP81 IP788 IP756 IP4307 IP5114 IP1328 IP2193 IP4026 IP4533 IP3826 IP3044 IP4693 IP4568 IP210 IP555 IP5767 IP3951 IP5367 IP1471 IP1040 IP7518 IP7016 IP7792 IP778 IP7018 Espécie Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Equino Equino Equino Equino Equino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Subclados e Grupo Subclado RD1 Subclado RD1 Subclado RD1 Subclado RD1 Subclado RD1 Subclado RD1 Subclado RD1 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD2 RD3 RD3 RD3 RD3 RD3 113 56 57 58 59 60 61 62 63 FJ649001 FJ648989 FJ648987 FJ648999 FJ648990 FJ648995 FJ648980 FJ648988 1999 1998 1998 1999 1998 1998 1997 1998 Caconde Socorro Taquaritinga Socorro Socorro S. João da Boa Vista Morungaba Araçatuba IP2394 IP2119 IP1192 IP1989 IP2478 IP4992 IP248 IP1411 Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino Bovino RD3 Subclado “Antigas” Subclado “Antigas” Subclado “Antigas” Subclado “Antigas” Subclado “Antigas” Subclado “Antigas” Subclado “Antigas” Os dois amplicons N e G obtidos e amplificados separadamente por RT-PCR foram purificados com GFX PCR DNA e Gel Band Purification Kit (Amersham BiosciencesTM) e submetidos a reação de seqüenciamento utilizando os conjuntos de primers senso e antisenso 2IG/304 e GA/GB, sendo a seguir submetidos a reação de seqüenciamento utilizando BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit (Amersham BiosciencesTM) de acordo com as instruções do fabricante. O seqüenciamento foi realizado em seqüenciador automatizado Applied Biosystems 3130 DNA automated sequencer. Após a edição das seqüências dos genes N e G, uma seqüência final com 1320 nt, correspondente aos amino ácidos (aa) 10 a 450 da nucleoproteína N e, outra com 800 nt, correspondente aos 19 aa do peptídeo-sinal e aa 01 a 269 da região N-terminal do endodomínio da glicoproteina G do RABV, foram obtidos. 3.3. Análise filogenética Foram analisadas, separadamente, duas regiões genômicas do RABV isolado de bovinos e eqüinos: o gene N e o gene G. As seqüências do RABV foram alinhadas juntamente com outras recuperadas do GenBank utilizando o software Clustal W (Thompson et al., 1994). Posteriormente foram editadas manualmente de acordo com suas respectivas regiões codantes e utilizando o software BioEdit (Hall, 1999). A taxa de saturação de substituição nucleotídica foi estimada utilizando o software DAMBE (Xia and Xie, 2001), quantificando o número de transições e transversões versus um gráfico de divergência, para avaliar o sinal filogenético. Seqüências genéticas são ditas saturadas quando a similaridade entre elas pode ser somente resultado de probabilidade e não de homologia. Comparando o número de transições e transversões Transições são mutações nas quais uma pirimidina é trocada por outra pirimidina ou uma purina é trocada por outra purina. Transversão são mutações nas quais uma pirimidina é trocada por uma purina ou viceversa. 114 versus a distância genética, para cada posição de nucleotídeos ao longo de uma seqüência genética, as transições e transversões devem aumentar linearmente com a distância genética, porém, as transições sempre devem ser maiores que as transversões (Salemi and Vandamme, 2003). A análise filogenética Neighbor-joining (NJ) foi realizada por meio do software PAUP*4.0b10 (Swofford et al.,1996) utilizando o modelo de substituição selecionado pelo software Modeltest 3.6 (Posada and Krandall, 1998). A confiabilidade das árvores filogenéticas NJ foi avaliada pela análise de 1000 repetições de bootstrap. As árvores filogenéticas foram construídas utilizando o software TreeView 1.4 (Page, 1996). 3.4. Seqüências de consenso Foi gerada uma seqüência de consenso do gene N do RABV utilizando linhagens genéticas RABV AgV3 do Brasil a partir de seqüências recuperadas do GenBank e com os seguintes números de acesso (accession number): AB083802, AB083803, AB083804, AB083805, AB083806, AB083807, AB083808, AB083809, AB083810, AB083811, AB083812, AB083813, AB083814, AB083815, AB083816, AB083817, AB083818, AB117970, AB117971, AB117972, AB201803, AB201804, AB201805, AB201810, AB201817, AB201819, AB201820, AB297633, AB297634 e AB297636. As 30 linhagens do RABV AgV3 recuperadas do GenBank para gerar a seqüência consenso do gene N foram isoladas em herbívoros de criação (12 linhagens), D. rotundus (11 linhagens), morcegos frugívoros (3 linhagens), morcegos insetívoros (duas linhagens) e duas em espécies desconhecidas; nos Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Rio de Janeiro, no período de 1989 a 2001. Também foi gerada uma seqüência de consenso do gene G do RABV utilizando linhagens genéticas RABV AgV3 do Brasil a partir de seqüências recuperadas do GenBank e com os seguintes números de acesso (accession number): AB247423, AB247426, AB247427, AB247429, AB110663, AB110666, AB110667, AB110668, AB110669, AB110662 e AB110664. As 11 linhagens do RABV AgV3 recuperadas do Gen Bank para gerar a seqüência consenso do gene G foram isoladas em bovinos (5 linhagens), D. rotundus (5 linhagens) e uma linhagem em eqüinos, nos Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Rio de Janeiro, no período de 1989 a 2001. As seqüências consenso foram obtidas utilizando o software BioEdit (Hall, 1999) e foram geradas incluindo o nt mais freqüente em cada posição das seqüências que deram origem a seqüência consenso. O limiar de freqüência para a inclusão de um dado nt em cada posição do genoma foi estipulado 115 em 51%. “Gaps” (lacunas) nas seqüências foram considerados como um quinto tipo de nt. 3.5. Análise de Distância Genética A Distância Genética das seqüências dos genes N e G aqui geradas, das linhagens RABV AgV3, foram estimadas de forma global (análise global) e por ano de isolamento (análise cronológica). A média da Distância Genética de cada um dos grupos filogenéticos formados durante as análises e, também, entre os grupos formados, além do desvio padrão das médias, foram obtidos utilizando o software Mega versão 4.0 (Tamura et al., 2007). As Distâncias Genéticas foram estimadas pelo modelo maximum composite likelihood, incluindo o modelo de distribuição Gamma (α), de acordo com o cálculo realizado pelo software Modeltest 3.06 (Posada and Krandall, 1998). O desvio padrão das médias foi estimado utilizando 1000 repetições de bootstrap. 3.6. Análise de polimorfismos As seqüências de aa da nucleoproteína N e da glicoproteina G do RABV AgV3, das linhagens aqui estudadas, foram deduzidas utilizando-se o software BioEdit e a presença de polimorfismo foi avaliada de acordo com a seqüência da amostra fixa PV e dos consensos brasileiros N e G. 3.7. Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G Foi utilizado o software BioEdit (Hall, 1999) para calcular a Entropia (grau de incerteza) dos genes N e G e da nucleoproteína N e da glicoproteína G para se obter a visão panorâmica das áreas conservadas e não conservadas dos genes e proteínas deduzidos a partir das seqüências genéticas estudadas. 116 Tabela 15: A- Número de herbívoros positivos para a raiva nas áreas RD1, RD2 e RD3 e o total de herbívoros positivos no Estado de São Paulo no período de 1996-2003; B- Distribuição cronológica de bovinos e eqüinos positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e RD3 que tiveram o gene N tipificado no estudo; C- Distribuição cronológica de bovinos e eqüinos positivos para a raiva das áreas RD1, RD2 e RD3 que tiveram o gene G tipificado no estudo. As amostras de Minas Gerais foram enviadas e diagnosticadas no Instituto Pasteur e são provenientes de cidades vizinhas das áreas RD2 e RD3. Fonte: Comissão Estadual de Controle da Raiva (www.pasteur.saude.sp.gov.br/coordenacao/coordenacao). A Número total de amostras positivas 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 RD 1 6 82 34 31 44 19 - - RD 2 5 5 49 349 469 259 - - RD 3 1 6 7 56 227 277 - - Est. de São Paulo 90 173 224 540 861 625 240 138 B Área/ano 1997 1998 1999 2000 2001 Total RD1 14 6 1 3 0 24 RD2 3 10 28 49 13 103 RD3 0 4 2 6 5 17 Total Eqüinos= 14 Amostras de Minas Gerais= 10 17 20 31 58 18 144 Área/ano 1997 1998 1999 2000 2001 Total RD1 3 4 0 0 0 7 RD2 1 7 10 22 6 46 RD3 0 3 1 3 2 9 Total Eqüinos= 5 Amostras de Minas Gerais=3 4 14 11 25 8 62 C 117 Tabela 16: Números de acesso do GenBank de seqüências utilizadas para gerar a seqüência consenso do gene N RABV AgV3 (A) e para o gene G (B) e, também, utilizadas nas análises filogenéticas. A Tabela mostra as espécies das quais o RABV foi isolado, o Estado de origem, o ano de isolamento e as referências bibliográficas relacionadas às seqüências. Nº GenBank AB201802 AB201803 AB201804 AB201805 AB201806 AB201807 AB201808 AB201809 AB201810 AB201811 AB201812 AB201813 AB201814 AB201815 AB201816 AB201817 AB201818 AB201819 AB201820 AB083792 AB083793 AB083794 AB083795 AB083796 AB083797 AB083798 AB083799 AB083800 AB083801 AB083802 AB083803 AB083804 AB083805 AB083806 AB083807 AB083808 AB083809 AB083810 AB083811 AB083812 AB083813 AB083814 AB083815 A) – Seqüências gene N Espécies Origem Ano A. lituratus SP 2002 D .rotundus SP 2000 D. rotundus SP 2000 D.rotundus SP 2001 N. laticaudatus SP 1998 N. laticaudatus SP 1998 N. laticaudatus SP 2001 E. auripendulus SP 1998 E. auripendulus SP unknown E. furinalis SP unknown E. furinalis SP 2001 E. furinalis SP 2001 E. furinalis SP 2002 M.molossus SP 1999 M.molossus SP 2002 E. auripendulus SP unknown M. abrasus SP 2000 Unknown SP 2000 Unknown GO unknown Cão GO 1999 Felino GO 1998 Felino GO 1998 Humano GO 1999 Cão MG 1987 Cão MG 1989 Cão GO 1999 Bovino MG 1999 Humano GO 1999 Humano GO 1999 Suíno GO 1998 Bovino GO 1999 Eqüino GO 1999 Bovino SP 1994 D. rotundus SP unknown D. rotundus SP 1998 Ovino SP 1992 Bovino TO 1998 Bovino TO 1998 Bovino TO 1999 D. rotundus unknown Bovino MT 1999 Bovino MT 1999 D. rotundus unknown Referências Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 118 AB083816 AB083817 AB083818 AB117969 AB117970 AB117971 AB117972 AB297633 AB297634 AB297636 Nº GenBank AB070449 AB110659 AB110662 AB110663 AB110664 AB110666 AB110667 AB110668 AB110669 AB247423 AB247426 AB247427 AB247429 D. rotundus Bovino Bovino A. lituratus A. lituratus A. lituratus A. planirostris D. rotundus D. rotundus D. rotundus SP MT SP SP SP SP RJ RJ SP unknown 1989 1999 1998 1998 1998 1998 1998 1997 2000 B) – Seqüência gene G Espécies Origem Ano D.rotundus unknown Cão SP 1989 Eqüino GO 1998 Bovino SP 1994 D.rotundus SP unknown Bovino TO 1999 Bovino MT 1999 Bovino SP 1989 Bovino GO 1999 D.rotundus SP 2001 D.rotundus RJ 1998 D.rotundus RJ 1997 D.rotundus SP 2000 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Ito M, 2003 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Kobayashi et al., 2007 Referências Kobayashi et al., 2007 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 Sato G, 2006 119 4. Resultados 4.1. RT-PCR e Seqüenciamento Genético Todas as amostras escolhidas para o estudo foram positivas pelo RTPCR. Quanto aos seqüenciamentos dos genes N e G do RABV todas as amostras utilizadas puderam ser seqüenciadas. 4.2. Análise Filogenética Foi observado que tanto transições como transversões aumentam de acordo com a distância genética dos genes N e G do RABV e mesmo em altos valores de distância genética, as transversões não superam as das transições (Figura 32). Os resultados obtidos com o uso do software DAMBE e utilizando o modelo de substituição F84 se fez lançando os valores de transições e transversões versus distância genética e comparando o alinhamento de nucleotídeos do conjunto de seqüências de cada um dos dois genes. Portanto, o sinal filogenético das seqüências genéticas estudadas é informativo em relação ao processo evolucionário que as gerou. A árvore filogenética do gene N, gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), baseado no princípio de evolução mínima (Figura 33), foi construída com o modelo de substituição GTR, incluindo o parâmetro de distribuição Gamma e com sítios invariáveis, de acordo com o modelo de substituição selecionado pelo software Modeltest 3.6. Nesta análise filogenética, dois grandes agrupamentos de linhagens genéticas (Clusters) foram observados, o Cluster Cão (AgV2) e Cluster Morcegos Brasileiros, sendo que este último Cluster é subdividido em dois Clados: Clado D. rotundus (AgV3) e Clado Morcegos Insetívoros (AgV4 e AgV6). O Clado D. rotundus (AgV3), objeto deste estudo, pôde ser dividido em três Sub-clados. Um deles é designado por Sub-clado RD1 (formado pelas linhagens da área RD1), outro por Sub-clado “Antigas” (formado basicamente por linhagens anteriores a 1998 e das áreas RD1 e RD2) e o terceiro por Sub-clado RD2/RD3, formado por linhagens das áreas RD2 e RD1. A 120 B Figura 32: Transições (x s) e transversões (∆ v) versus gráfico de divergência das seqüências genéticas do Gene G da glicoproteina (A) e do Gene N da nucleoproteína (B). O Sub-clado RD2/RD3, por sua vez, pôde ser dividido em dois Grupos, Grupo RD2 e Grupo “Novas RD2/RD3”. O Grupo RD2 é formado exclusivamente por linhagens da área RD2, enquanto que o Grupo “Novas 121 RD2/RD3” é formado por linhagens das áreas RD2 e RD3, porém todas elas posteriores ao ano de 1999. Valores de bootstrap significativos (superiores a 70%) foram obtidos nesta árvore filogenética NJ do gene N. Seqüências de nucleotídeo recuperadas do GenBank e de diferentes Regiões geográficas brasileiras foram utilizadas como seqüências de referência (Tabela 16) e uma seqüência do Lyssavirus Duvenhage (Genótipo 4) foi utilizada como grupo externo (outgroup). Em relação às linhagens do RABV AB201803 e AB201804, recuperadas do GenBank e utilizadas como seqüências de referência, da cidade Águas de Lindóia, situada na área RD2, segregaram no Clado D. rotundus, no Grupo RD2. Posicionadas entre o Grupo “Novas RD2/RD3” e o Sub-clado RD1 segregaram as linhagens AB083804 e AB083803 do Estado de Goiás e a linhagem AB201802 (morcego frugívoro), de Dracena, cidade de SP a oeste da área RD3, também recuperadas do GenBank e utilizadas como seqüências de referência. No Subclado RD1 encontramos linhagens dos Estados de Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro e de São Paulo. A identificação de seqüências de linhagens de São Paulo, neste Subclado, não surpreende, pois são de cidades da área endêmica do Estado de São Paulo, vizinhas à área RD1. Quanto à identificação de seqüências de linhagens do Rio de Janeiro também é compreensível, pois este Estado é vizinho a área endêmica paulista, mas a presença de linhagens dos Estados de Goiás e Tocantins surpreende, porém indica que as linhagens AgV3 do Brasil possuem grande identidade entre si. No Subclado “Antigas”, com exceção da linhagem AB083818 (Estado de Goiás), todas as outras são de cidades do interior de São Paulo que não fazem parte das áreas RD1, RD2 e RD3. Entre estas linhagens recuperadas do GenBank encontramos algumas do Gênero Artibeus (morcego frugívoro), indicando que este gênero é infectado pelo RABV AgV3 e, possivelmente, transmitido por D. rotundus. Duas outras linhagens recuperadas do GenBank (AB201810 e AB201817) são dos Gêneros Eumops e Molossus e, portanto, indicam que morcegos insetívoros também podem ser infectados pelo RABV AgV3 transmitido por D. rotundus. 122 Grupo RD2 Sub-clado RD2/RD3 Grupo “Novas” RD2/RD3 100 100 99 99 100 95 AB083815 AB201805 AB083817 AB117970 AB117972 AB117971 AB201819 AB083805 136135 AB117969 AB201810 AB201817 AB083818 137138 139 140141 142 143 73 144 AB083813 AB083814 AB201807 AB201811 100 AB201809 AB201812 AB201815 100 AB201816 100 AB201806 AB083792 AB201808 AB083801 AB083800 AB083802 AB083798 100 AB083799 EF152264 EF152263 EF152258 96 EF152260 EF152261 EF152247 EF152242 EF152236 EF152239 EF152236 CVS PV Clado Desmodus rotundus Sub-clado RD1 Sub-clado “Antigas” Clado Morcegos Insetívoros Cluster Cão Duvenhage 0.1 123 Cluster Morcegos 0.1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 3938 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 52 51 53 54 55 56 57 58 5960 61 62 6463 65 6667 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80AB201803 AB201804 81 8382 84 85 86 87 88 8990 91 9293 94 95 96 9798 100 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108109 110 111AB083804 AB083803 AB201802 113112 114115 116 117 118 119 120121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 AB083806 AB083807 132AB297633 85 AB297634 134133 AB083808 AB083810 AB083811 AB201820 AB083812 AF070449AB083816 Figura 33: Árvore filogenética do gene N do RABV, gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de referência AgV3 RABV e linhagens do gene N AgV3 RABV isoladas de bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A seqüência de referência Duvenhage foi utilizada como outgroup. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap. As linhagens numeradas são descritas na Tabela 13. Duas outras árvores filogenéticas do gene N utilizando linhagens do RABV AgV3 foram geradas (Figuras 34 e 35). Uma destas duas árvores filogenéticas é apresentada na Figura 34 e foi construída utilizando seqüências com 513 nt de extensão e da região Nterminal do gene N do RABV, correspondente a região situada entre os nt 189 a 701 da amostra fixa PV Nesta árvore filogenética foram utilizas 48 linhagens representativas das áreas RD1, RD2 e RD3 e mais outras 63 linhagens. Entre estas 63 linhagens, 30 são da região endêmica e do Sul do Estado de São Paulo e isoladas entre os anos de 1988 e 1999 e recuperadas do GenBank (AF357285 a AF357316). As outras 33 linhagens, do grupo de 63, também recuperadas do GenBank (DQ652193; DQ661008 a DQ661018 e DQ835591 a DQ835611) são do Estado do Rio de Janeiro (vizinho da área endêmica de São Paulo), isoladas de bovinos entre os anos de 1999 e 2004. Para gerar a árvore filogenética da Figura 34, foi utilizado o método Neighbor-joining (NJ) para a reconstrução filogenética e utilizando o modelo Maximum Composite Likelihood. Nesta árvore filogenética houve um “mixing" entre as 63 linhagens recuperadas do GenBank, da área endêmica e do Sul do Estado de São Paulo, do Estado do Rio de Janeiro, porém, 42 delas agruparam-se com as linhagens isoladas na área RD1, formando o Clado RD1/RJ/Vale do Paraíba, enquanto que as 21 restantes agruparam-se no Clado “Antigas” da área RD2. Este resultado permite sugerir duas hipóteses. A primeira hipótese indica que a área RD1 pode ser uma área de expansão da região endêmica de SP (Vale do Paraíba). A segunda hipótese indica que as linhagens anteriores à epidemia 1997-2002 que circulavam em todo o Estado de São Paulo, inclusive em sua área endêmica e no Estado do Rio de Janeiro, possuíam grande identidade entre si e, posteriormente, grande parte delas foi substituída pelas linhagens características da epidemia 1997-2002 das áreas RD2 e RD3. Para gerar a árvore filogenética apresentada na Figura 35 também foi utilizado o método Neighbor-joining (NJ) para a reconstrução filogenética e o 124 modêlo Maximum Composite Likelihood e foi construída a partir de 70 linhagens representativas das aqui estudadas e outras 30 linhagens do ano de 2007 e 2008 (gentilmente cedidas pela Pesquisadora Científica do Instituto Pasteur, Carla Isabel Macedo). Entre estas 30 linhagens, quatro são de cidades do Estado de Minas Gerais, enquanto que as 26 restantes são do Estado de São Paulo, das áreas RD2, RD3 e, também, de outras áreas do Estado de São Paulo. As 30 linhagens isoladas no ano de 2007 e 2008 possuem 800 nt de extensão da região N-terminal do gene N do RABV e correspondente a região situada entre os nt 01 e 800 da amostra fixa PV. As 30 linhagens do gene N do RABV de 2007-2008 segregaram dentro do Clado RD2/RD3, sugerindo que não houve mudança significativa nas linhagens AgV3 isoladas de bovinos e transmitidas pelo D. rotundus após a epidemia 1997-2002. A árvore filogenética do gene G, gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), baseado no princípio de evolução mínima (Figura 36), foi construída com o modelo de substituição TVM, incluindo o parâmetro de distribuição Gamma com sítios invariáveis, de acordo com o modelo de substituição selecionado pelo software Modeltest 3.6 (Posada and Krandall, 1998). Nesta árvore filogenética do gene G, dois Clados principais foram observados, o Clado D. rotundus e o Clado Cão. O Clado D. rotundus é semelhante ao Clado D. rotundus da árvore filogenética do gene N e pôde ser subdivido em três Sub-clados: o Sub-clado “Antigas”, o Sub-clado RD1 e o Sub-clado RD2/RD3. No Sub-clado RD1 observa-se três linhagens recuperadas do GenBank, AB110664, AB247426 e AB247427. A primeira delas é da área endêmica de SP e as duas últimas do RJ, vizinho à área endêmica de SP. No Sub-clado RD2 e RD3 observa-se um pequeno agrupamento RD3, com tamanho relativo ao número de linhagens desta área utilizadas para a construção da árvore filogenética do gene G (Tabela 14). No Sub-clado “Antigas”, as linhagens recuperadas do GenBank são do interior de SP, de áreas geográficas diferentes de RD1, RD2 e RD3 e uma única exceção é encontrada, a linhagem AB110669, de Goiás. Seqüências de nucleotídeos obtidas de diferentes regiões geográficas brasileiras foram utilizadas como seqüências de referência (Tabela 16) e como grupo externo (outgroup) foi utilizada o Genótipo 4 dos Lyssavirus, o vírus Duvenhage. 125 99 DQ835595LVC67 98SALESOPOLIS815 B AF357305B8 AF357288B12 98MOGIDASCRUZES366B AF357294B18 DQ835610LVC156 DQ835591LVC53 97SALESOPOLIS2127B AF357300B3 97MOGIDASCRUZES2439B AF357316B1 DQ661015LVC46 DQ835594LVC62 AF357297B20 AF357289B13 DQ661018LVC149 DQ661013LVC39 AF357299B22 AF357301B4 DQ835603LVC131 DQ835604LVC135 DQ835592LVC57 DQ661008LVC06 AF357296B2 AF357291B15 AF357298B21 AF357295B19 DQ661016LVC47 97STABRANCA2166B 00ARUJA2821E AF357313VB5 AF357304B7 97SALESOPOLIS1286B AF357293B17 AF357302B5 Clado RD1/RJ/Vale do Paraíba DQ835611LVC157 DQ835609LVC154 DQ835606LVC144 DQ835598LVC88 98STAIZABEL2028B DQ835597LVC85 DQ661011LVC24 DQ661010LVC14 82 98SUZANO144B 99ARUJA2690B DQ835605LVC139 DQ835602LVC116 AF357290B14 DQ661012LVC32 DQ652193LVC04 DQ661009LVC12 AF357303B6 98CACONDE272B AF357306B9 64 98SOCORRO2478B AF357287B11 AF357315VB7 AF357310VB2 DQ661017LVC51 98CAJURU5331B DQ835600LVC100 DQ835601LVC113 DQ835607LVC145 AF357312VB4 97MORUNGABA214B 78 DQ835596LVC77 AF357314VB6 DQ835608LVC150 AF357309VB1 AF357286B10 AF357311VB3 DQ835599LVC92 00SSEBASTIAODAGRAMA232B 01JARINU1500B 01SSEBASTIAODAGRAMA910B 01ITAPIRA40B 01MONTESIAO1433B 00BUENOBRANDAO5572B 100 99VARGEM2787E 00ITATIBA6261B 01ESTOPINHAL7518B 00BRAGANCAPTA6866B 00BRAGANCAPTA150B 98PIRACAIA4568E 99JOANOPOLIS4680B 00PINHALZINHO3141B 01VALINHOS5458B 62 98CAMBUI1495B 98JOANOPOLIS4307B 99EXTREMA2417B 00CACONDE7018B 99CACONDE3966B 98SOCORRO3826B 01CAMPINAS142B 00MONTESIAO4812B 99AGUASDELINDOIAB 99SOCORRO1797B 01ITATIBA7343B 00MONTEALEGREDOSUL2986B 50 99PEDRABELA4533B 00AMPARO2626B 99SOCORRO5599B 00SOCORRO4553B 00BUENOBRANDAO1471B 0,005 00MONTESIAO210E Clado “Antigas” Clado RD2/RD3 Figura 34: Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências do Estado do Rio de Janeiro, Vale do Paraíba (SP) e linhagens representativas da epidemia 1997-2002. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap. 126 99 95 0.002 99VARGEM2787E 01VALINHOS5458B 00BRAGANCAPTA150B 00BJPERDOES1959B 99VARGEM5767E 98BRAGANCAPTA5114B 99PIRACAIA4026B 99JOANOPOLIS4680B 00ITATIBA6261B 98CAMBUI1495B 00BRAGANCAPTA6866B 00PINHALZINHO3141B 00BRAGANCAPTA6867B 99VARGEM5369B 98JOANOPOLIS4849B 00MORUNGABA3251B 00ATIBAIA81B 99BRAGANCAPTA4705B 99BRAGANCAPTA4023B 01MORUNGABA272B 98PIRACAIA4568E 99SOCORRO4067B 98JOANOPOLIS4307B 99JOANOPOLIS 3960B 99EXTREMA2417B 00BUENOBRANDAO5572B 00BUENOBRANDAO178B 08JoanopolisSP3357E 08ExtremaMG3500B 08SerraNegraSP11445B 07PedraBelaSP2957B 08LindoiaSP191B 08LindoiaSP1599B 07SocorroSP4548B 01ESTOPINHAL7518B 08PedregulhoSP180B 07ItirapuaSP831B 07PatrocinioPtaSP1594B 99VARGEM4750B 00CACONDE7018B 01JARINU1500B 01ITAPIRA40B 01MONTESIAO1433B 00AMPARO2626B 01ITATIBA7343B 01CAMPINAS142B 98SOCORRO3826B 00MONTESIAO4812B 99PEDRABELA4533B 00BUENOBRANDAO1471B 99SOCORRO1797B 84 99AGUASDELINDOIAB 99SOCORRO3951B 00MONTESIAO210E 00MONTEALEGREDOSUL2986B 99SOCORRO5599B 99SOCORRO3780B 00SOCORRO4553B 00VARGEM1948E 08VargemSP1696E 08PedraBelaSP3829E 8VargemSP4671B 8TresCoracoesMG1049B 8PiracaiaSP8163B 08VargemSP3395B 01SSEBASTIAODAGRAMA910B 08PiracaiaSP8164B 08SJBoaVistaSP10411B 08CacondeSP5037E 00CACONDE778B 99CACONDE3966B 99CACONDE2394B 08DivinolandiaSP10038B 08EspSPinhalSP5881B 90 08SSebGramaSP6049B 08SSebGramaSP5790E 08SSebGramaSP5045B 08AndradasMG3355B 07AndradasMG1139B 08BragancaPtaSP1038E 08SocorroSP8677B 00SSEBASTIAODAGRAMA232B 08SocorroSP1600B 08ExtremaMG366B 07ItapevaSP4756B 99SOCORRO1989B 97MORUNGABA214B 98CACONDE272B 98STAIZABEL2028B 97JABOTICABAL633B 98CAJURU5331B 98SOCORRO2478B 97SALESOPOLIS1286B 97STABRANCA2166B 98SUZANO144B 99 98SALESOPOLIS815B 97SUZANO4030B 66 00ARUJA2821E 97MOGIDASCRUZES2439B 97SALESOPOLIS2127B 98MOGIDASCRUZES366B 99ARUJA2690B Clado RD2/RD3_2007_2008 Clado “Antigas” Clado RD1 Figura 35: Árvore filogenética do gene N do RABV AgV3 gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de linhagens representativas da epidemia 1997-2002 (caixa alta) e dos anos de 2007 e 2008 (caixa baixa) isoladas na mesma área epizoótica. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap. 127 00BragancaPta153B 00Piracaia776B 99Piracaia1929B 00BragancaPta5402B 00BragancaPta6867B 00BragancaPta2685B 01Campinas142B 01Amparo1064B 00BragancaPta5347B 01Itatiba4693E 98Piracaia4568E 00Vargem4631B 00NazarePta3299B 99NazarePta5367B 00BJesusPerdoes1947B 01Morungaba272B 98Joanopolis4849B 99Joanopolis3960B 01Campinas1501B 00Vargem555E 00Vargem788B 98BragancaPta5114B 99Joanopolis2193B 99Piracaia4026B 99Vargem5767E 00Atibaia81B 99Piracaia1328B 98Joanopolis4307B 00BragancaPta196B 00BragancaPta4545B 00Pinhalzinho3141B 97Socorro3044B 99Socorro3951B 00BuenoBrandao1471B 00PedraBela5285B 01Itapira40B 00Socorro4553B 00Vargem1040B 00PedraBela312B 00MonteSiao756B 99PedraBela4533B 98Socorro3826B 01EspStoPinhal7518B 00MonteSiao210E 01Mococa7792B AB110662 00Caconde7016B 00Caconde778B 00Caconde7018B 99Caconde2394B 98MogiDasCruzes366B AB110664 98Suzano144B 97Salesopolis719B 97Salesopolis988B 98Salesopolis815B 98Salesopolis4375B 99Aruja2690B AB247426 AB247427 98Socorro2478B 98SJoãoBoaVista4992B 98Socorro2119B AB110666 AB110667 AB247423 AB247429 AB110663 AB110669 AB110668 97Morungaba248B 98Ara ç atuba1411B 99Socorro1989B 98Taquaritinga1192B Grupo RD2 Subclado RD2/RD3 Clado Desmodus rotundus Grupo RD3 71 80 79 Subclado RD1 Subclado “Antigas” 99 99 // 0.1 AB276310 AB276309 AB276308 AB276307 AB110659 AB276311 PV Clado Cão Duvenhage Figura 36: Árvore filogenética do gene G do RABV, gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ), incluindo seqüências de referência AgV3 RABV e linhagens do gene G AgV3 RABV isoladas de bovinos do Estado de São Paulo, Brasil. A seqüência de referência Duvenhage foi utilizada como outgroup. Os números próximos aos nós dos ramos da árvore filogenética representam os valores de bootstrap. 128 4.3. Análise de Distância Genética Em relação ao gene N, o resultado dos cálculos de diversidade genética das linhagens RABV AgV3 ( variabilidade intra-grupo) foi de 1,31% ± 0,18% (distância ± desvio padrão). A divergência genética entre as linhagens AgV3 caracterizadas neste estudo e a linhagem da amostra fixa PV (AgV2) foi 21,08% ± 2,14%, enquanto que a divergência entre as linhagens analisadas neste trabalho e o Consenso RABV AgV3 brasileiro foi 1,85% ± 0,35%. Analisando a diversidade genética das linhagens RABV AgV3 de 1997 a 2001, separadamente, foi observado que a diversidade intra-grupo das linhagens isoladas em 1998 (1,75% ± 0,26%) foi, aproximadamente, duas vezes maior que as descritas para os outros anos. Entretanto, a divergência genética entre as linhagens investigadas neste estudo e a linhagem da amostra fixa PV e o Consenso RABV AgV3 brasileiro basicamente se manteve constante através dos anos, mesmo que um pequeno aumento foi observado (Figura 37). Em relação ao gene G, o resultado dos cálculos da diversidade genética das linhagens RABV AgV3 (variabilidade intra-grupo) foi de 1,16% ± 0,21%. A divergência genética entre as linhagens AgV3 caracterizadas neste estudo e a linhagem da amostra fixa PV (AgV2) foi 24,97% ± 3,71% enquanto que a divergência entre as linhagens analisadas e o Consenso RABV AgV3 brasileiro foi 1,43% ± 0,33% e ambos resultados foram semelhantes aos descritos em relação ao gene N. Entretanto, foi observado um decréscimo constante da diversidade genética de 1997 (1,96% ± 0,41%) a 2000 (0,51 ± 0,14%); e um pequeno aumento de 2000 a 2001 (0,63% ± 0,18%). A divergência genética entre as linhagens investigadas neste estudo e a linhagem da amostra fixa PV (AgV2) e o Consenso RABV AgV3 brasileiro se manteve basicamente constante através dos anos (Figura 38). 4.4. Análise do Polimorfismo dos genes N e G Da tradução putativa das seqüências de nucleotídeos das linhagens RABV AgV3 para amino ácidos foram encontrados os resultados descritos a seguir (Figuras 39 e 40). Dezesseis substituições de amino ácidos (aa) foram identificadas em todas as linhagens do gene N AgV3 quando comparadas com a linhagem PV e todas estas substituições também foram observadas no Consenso 129 25 A Distância Genética (%) 20 15 Diversidade SD 10 1.31 0.18 5 Divergência SD 21.08 2.14 1.85 0.35 0 PV Diversidade Consenso BR Divergência PV Consenso BR B 2.0 Distância Genética (%) 1.8 1.6 Diversidade SD 1997 0.78 0.13 1998 1.75 0.26 1999 0.69 0.10 2000 0.51 0.08 2001 0.57 0.12 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0 1997 1998 25 1999 PV 2000 2001 C Consenso BR PV Distância Genética (%) 20 Consenso BR 15 1997 20.43 1.28 BR 10 1998 20.66 1.37 1999 21.19 1.97 2000 21.18 1.98 2001 21.61 2.26 5 0 1997 1998 1999 2000 2001 Figura 37: A. Média da distância genética entre as linhagens RABV AgV3 isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intrapopulação) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como também entre o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intra-população) baseado no gene N da nucleoproteína. B. Diversidade do gene N entre as linhagens RABV AgV3 isoladas em bovinos no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C. Divergência do gene N entre as linhagens do RABV AgV3 isoladas no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001 e a linhagem da amostra fixa PV e entre as linhagens do Consenso Brasileiro RABV AgV3. 130 25 A 20 B 15 Diversidade SD 1.16 0.21 10 5 (%) Distância Genética (%) 30 0 PV Diversidade Consenso BR Divergência Divergência SD PV 24.97 3.71 Consenso BR 1.43 0.33 B Distância Genética (%) 2.5 SD 1997 1.96 0.41 1998 1.65 0.31 1999 0.91 0.19 2000 0.51 0.14 2001 0.63 0.19 1.5 1.0 0.5 0 1997 1998 30 G Distância Genética (%) Diversidade 2.0 1999 2000 PV Consenso BR 2001 C PV 25 20 15 10 Consenso BR 1997 25.97 1.68 1998 25.44 1.58 1999 24.79 1.42 2000 24.63 1.34 2001 24.96 1.34 5 0 1997 1998 1999 2000 2001 Figura 38: A. Média da distância genética entre as linhagens RABV AgV3 isoladas de bovinos no Estado de São Paulo (diversidade intrapopulação) e entre estas linhagens e a amostra fixa PV como também entre o Consenso Brasileiro AgV3 (divergência intra-população) baseado no gene G da glicoproteina. B. Diversidade do gene G entre as linhagens RABV AgV3 isoladas em bovinos no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001. C. Divergência do gene G entre as linhagens do RABV AgV3 isoladas no Estado de São Paulo entre 1997 a 2001 e a linhagem da amostra fixa PV e entre as linhagens do Consenso Brasileiro RABV AgV3. 131 Brasileiro RABV AgV3: C40S, V51G, C59G, S61N, V95L, E110D, K112R, P135S, S157N, V179A, I257L, A332T, T377A, D378E, V379S, G397S e I410M (observar Tabela 17 para determinar os símbolos de amino ácidos). A substituição de aa N10H foi identificada em 97.22% das linhagens AgV3 analisadas neste estudo, mas não encontrada no Consenso RABV AgV3 brasileiro. Três substituições de aa em mais que 90% das linhagens analisadas e também presentes no Consenso Brasileiro RABV AgV3: T84S (98.61%), E110D (95.83%) e A143T (99.30%). A prevalência da substituição N50H aumentou através dos anos, estando presente em 100% das linhagens de 2001 e ausente nas linhagens de 1997. Entretanto, o oposto é descrito para a substituição F80Y, a qual foi identificada em 82.33% das linhagens de 1997 e ausente nas de 2001. Em relação ao gene G vinte e uma substituições de aa foram identificadas nas linhagens do RABV AgV3 analisadas quando comparadas ao gene da linhagem da amostra fixa PV e todas elas também foram observadas no Consenso Brasileiro RABV AgV3: P3L, V13I, F14S, P15S, M75V, T109I, H132Q, V152I, R161K, N177K, S179L, V181I, A182T, N201E, M206T, N213S, R215K, R218K, S223G, A261S e M262I. Três substituições foram identificadas em mais que 80% das linhagens analisadas e também presentes no Consenso Brasileiro RABV AgV3: F18L (93.65%), E224K (87.30%) e E267D (88.89%). Finalizando, a prevalência da substituição N266D aumentou através dos anos, estando presente em 35.71% das linhagens de 1998 e 80% das linhagens de 2001. Pelas análises e resultados mostrados acima se conclui que não houve pressão seletiva positiva sobre as linhagens RABV AgV3 estudadas. O padrão de substituição de aa ao longo dos genes N e G claramente mostraram um excesso de substituições de nucleotídeos sinônimas (dS) sobre as não sinônimas (dN) e, portanto ambos genes (N e G) encontravamse, no período analisado, sob as mesmas restrições seletivas. Pela análise das 144 seqüências de amino ácidos da nucleoproteína N das linhagens AgV3 aqui estudadas, foi identificado um sítio informativo que caracteriza as linhagens isoladas na área RD1 daquelas isoladas nas áreas RD2 e RD3, ou seja, enquanto na posição 80 há Tirosina nas linhagens RD1 em todas as outras, inclusive no Consenso brasileiro, há Fenilalanina. Também foi identificado um sítio informativo que caracteriza as linhagens isoladas na área RD2 e RD3, pois na posição 50 das linhagens RD2/RD3 há Histidina enquanto que nas linhagens RD1 e no Consenso brasileiro há Asparagina (Figura 39). Porém, analisando as mesmas seqüências na forma de nucleotídeos são observados 35 sítios informativos que diferenciam as linhagens RD1 das RD2/RD3 e são eles e quando 132 comparadas ao gene da linhagem da amostra fixa PV: G98A, T104C, T104C, T122C, C125T, A207C, A230G, A254C, G290A, A2997, C362T, T374C, C491A, T518C, A554C, T570C, G605A, G624T, C717T, G725A, A833G, G863A, C896T, C902T, T905C, C914T, G956T, G1142A, G1151A, G1202A, T1250C, A1259G, A1307G e G1434A. Quanto às seqüências da glicoproteína G e do gene G não foram encontrados sítios informativos de amino ácidos ou nucleotídeos que pudessem caracterizar as linhagens isoladas nas áreas RD1, RD2 e RD3. 4.5.Análise das Regiões com Atividade Biológica da Nucleoproteína N e da Glicoproteína G Para descrever as áreas com função biológica da nucleoproteína N e da glicoproteína G e caracterizadas nas linhagens RABV AgV3 aqui estudadas, foi escolhida a amostra fixa PV para comparação, isto porque a grande maioria das vacinas produzidas no Brasil utilizam este vírus fixo. As descrições abaixo, relacionadas às regiões com atividade biológica da nucleoproteína N e da glicoproteína G são baseadas nas descrições das duas proteínas apresentadas na Introdução desta Tese. A área de interação da nucleoproteína N com o RNA do RABV é localizada entre os aa 298 a 352. Nesta análise foi identificada a mutação A332T, enquanto que em PV há Alanina (apolar) nas linhagens AgV3 estudadas há Treonina (polar). O aa Serina, na posição 389 da Nucleoproteína N, que após sua união com o RNA viral é fosforilada, é conservada nas linhagens deste trabalho. A Nucleoproteína N possui três epítopos antigênicos lineares no sítio antigênico I (aa 358 a 367) e mais três epítopos antigênicos lineares no sitio IV (aa 359 a 366 e aa 375 a 383). Em relação às áreas 358-367 e 359-366 elas são conservadas, porém na área 375-383 três mutações, em relação a PV, foram identificadas. Enquanto que em PV encontramos os aa TDV (Treonina, Ácido Aspártico e Valina), nas posições 377, 378 e 379, em todas as linhagens analisadas foram identificados os aa AET (Alanina, Ácido Glutâmico e Treonina). Além dos sítios antigênicos I e IV, vários epítopos imunodominantes para células T auxiliares estão presentes e localizados entre os aa 404 a 418 e nesta área encontramos a mutação I410M, isto é, enquanto que em PV na posição 410 há Isoleucina, nas linhagens analisadas há Metionina, ambos não-polares. 133 As linhagens analisadas da nucleoproteína são 100% conservadas quanto aos resíduos carregados positivamente que interagem com os grupos fosfatos das cavidades do RNA genômico do RABV e são concordantes com a descrição de Luo et al. (2007). A Glicoproteína G do RABV traduzida possui 524 aa e, posteriormente, perde os 19 aa da região N-terminal durante seu processamento. Estes primeiros 19 aa é o Peptídeo Sinal (SP); necessário para o ingresso da Glicoproteína G pré-processada no Reticulo Endoplasmático Rugoso. A Glicoproteína G processada, com 505 aa, é dividida em três regiões: o Ectodomínio (ED) com 439 aa (1 a 439) na região N-terminal, a região Transmembrana (TM) com 22 aa (440 a 461) e o endodomínio (ENDO) com 44 aa (462 a 505) na região C-terminal. No presente trabalho, após edição, foram obtidas seqüências da Glicoproteína G processada, relativas aos primeiros 250 aa do Ecotodomínio (ED). A glicosilação da Glicoproteína G, no CG, ocorre pela adição de oligossacarídeos no resíduo Asparagina (N) no “sequon” NXS/T (S/T= Serina ou Treonina), onde X é qualquer aa diferentes de Prolina (P). A glicosilação é importante para a expressão e função da Glicoproteína G, ou seja, para obter suas atividades biológicas, como, por exemplo, estabilidade e antigenicidade. Um potencial sítio de glicosilação, o “sequon” NLS, na posição 36-37-38, foi observado nas linhagens analisadas e, também, encontradas na seqüência PV. O primeiro estágio da internalização do RABV na célula hospedeira ocorre quando a região semelhante à neurotoxina (neurotoxin-like region), entre os aa 189 a 214, interage com o receptor celular nicotínico de acetilcolina (nAChR) o qual é, provavelmente, o receptor preferencial do RABV em muitos tipos de células. Quatro mutações foram encontradas em todas as linhagens AgV3 estudadas e em relação a seqüência PV, N194S, R196K, S204G e E205K. Acredita-se que o domínio de fusão em baixo pH (low pH-induced fusion domain) da Glicoproteína G se situa entre os aa 102 e 179. Este domínio protéico da Glicoproteína G é relacionado à interação (fusão) com a membrana do endossomo no interior da célula para que ocorra a ejeção da ribonucleoproteína do RABV no citoplasma, desencadeando o ciclo de vida e infecção do RABV. Foram identificadas em 100% das linhagens deste trabalho sete mutações nesta área e em relação a PV: H113Q, V133I, R147K, N158K, S160L, V162I e A182T. A conservação das Cisteínas da Glicoproteína G dos Lyssavirus foi confirmada nas seqüências de Glicoproteína G estudadas. 134 A análise das seqüências da Glicoproteína G mostrou os seguintes resultados em relação a alguns sítios antigênicos e quando comparadas a seqüência PV. O sitio antigênico I (amino acido 231) possui 100% de identidade em relação a PV. Quanto ao sitio antigênico II [que é um sitio descontinuo (amino ácidos 34 a 42 e 198 a 200)] temos a seguinte situação: na área 34-42 foi identificada a mutação N37K em quatro linhagens das áreas RD2 e RD3, enquanto na área do sitio antigênico II e entre os aa 198200 foi identificada a mutação R199K em todas as linhagens estudadas. Nome Abreviação Símbolo Polaridade Glicina Gly G Não polar Alanina Ala A Não polar Leucina Leu L Não polar Valina Val V Não polar Isoleucina Ile I Não polar Prolina Pro P Não polar Fenilalanina Phe F Não polar Triptofano Trp W Não polar Metionina Met M Não polar Serina Ser S Polar Treonina Thr T Polar Cisteina Cys C Polar Tirosina Tyr Y Polar Asparagina Asn N Polar Glutamina Gln Q Polar Aspartato ou Ácido aspártico Asp D Ácido (Polar) Glutamato ou Ácido glutâmico Glu E Ácido (Polar) Arginina Arg R Básico (Polar) Lisina Lys K Básico (Polar) Histidina His H Básico (Polar) Tabela 17: Nomenclatura, abreviatura, símbolos e polaridade dos 20 aminoácidos traduzidos a partir do código genético. Fonte: Lodish et al. (2005). 4.6. Entropia dos genes N e G e das proteínas N e G As imagens das Figuras 41 e 42 foram geradas por meio do software Bioedit e após o alinhamento das seqüências estudadas. As Figuras permitem uma visão panorâmica dos resultados das Figuras 39 e 40, como também possibilita identificar as áreas mais homogêneas (conservadas) e heterogêneas (não conservadas) na composição de nucleotídeos dos genes N e G, como também na composição de amino ácidos inferidos através do seqüenciamento dos mesmos genes. As duas imagens foram geradas utilizando dados de entropia (incerteza) dos alinhamentos das seqüências 135 genéticas. Quanto maior a variação de nucleotídeos ou aminoácidos em uma das posições das seqüências alinhadas menor é a pressão seletiva e, portanto, menos conservadas são estas áreas, pois o grau de entropia (Hx) expressa a falta de conteúdo informativo em uma coluna do alinhamento, onde o limite máximo total de incerteza é definido pelo número máximo de caracteres diferentes encontrados na coluna. A Entropy (Hx) Plot Alignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Gene N.bio 0,75 0,7 0,65 0,6 0,55 Entropy (Hx) 0,5 0,45 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Alignment Position (residue number) 900 1.000 1.100 1.200 1.300 B Entropy (Hx) Plot Alignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Nucleoproteína N.bio 0,5 0,45 0,4 Entropy (Hx) 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 Alignment Position (residue number) 300 320 340 360 380 400 420 440 Figura 39: Entropia do gene N (A) e da nucleoproteína N (B). H= Grau de entropia (incerteza) e x= número de seqüências analisadas. 136 A Entropy (Hx) Plot Alignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Gene G.bio 0,65 0,6 0,55 0,5 Entropy (Hx) 0,45 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Alignment Position (residue number) 550 600 650 700 750 800 B Entropy (Hx) Plot Alignment: C:\Documents and Settings\Usuário\Desktop\Glicoproteína G.bio 0,65 0,6 0,55 0,5 Entropy (Hx) 0,45 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 Alignment Position (residue number) Figura 40: Entropia do gene G (A) e da glicoproteína G (B). H= Grau de entropia (incerteza) e x= número de seqüências analisadas. 137 5. Discussão A raiva é uma encefalite com 100% de letalidade, sem tratamento específico, mas permite tratamento vacinal em regime de pré ou pósexposição. É uma zoonose cosmopolita que acomete o SNC dos mamíferos e é considerada a 11ª causa de mortalidade humana entre as doenças infecciosas (WHO, 2000). Na América Latina, a raiva continua a ser um grave problema de saúde pública e veterinária, pois é responsável pela morte de seres humanos e um grande número de animais. Esta encefalite tem alto custo social e econômico e o controle de seu agente causal, o Vírus da Raiva (RABV), pode ser realizado por meio de intervenção em seu ciclo urbano pela vacinação em massa de animais de estimação, como o cão, o principal transmissor da raiva humana. A inoculação da saliva contaminada de um animal com raiva por mordidas, e com raras exceções por arranhaduras e lambeduras, é a forma pela qual o vírus se perpetua. Por aspectos ecológicos, sociais e econômicos a raiva em algumas regiões geográficas é epidêmica. Aproximadamente metade da população humana vive em áreas endêmicas da raiva (WHO, 2004), como por exemplo, o Brasil. Diversos programas governamentais têm demonstrado que a prevalência de raiva humana tende a diminuir quando um eficiente programa de controle da doença de cães e gatos é implementado (Briggs et al., 1998), uma vez que a epidemiologia da raiva humana é geralmente associada com os reservatórios regionais do RABV (Childs, 2002). Além dos programas governamentais para a vacinação em massa de cães e gatos associada à vigilância epidemiológica, também é necessária a tipificação molecular do RABV para que a dinâmica da manutenção do vírus na natureza seja conhecida e possibilite estabelecer suas relações filo geográficas (WHO, 2004). A compreensão dos padrões da emergência das doenças infecciosas necessita de um número considerável de seqüências genéticas tipificadas, representativas de toda uma área geográfica estudada (Smith, 2002) e isto foi realizado neste trabalho como um dos objetivos propostos. A tipificação molecular deve estar associada à análise geográfica da região onde se deram os isolamentos do vírus (Real et al., 2005), isto porque a emergência de doenças infecciosas é influenciada simultaneamente por fatores genéticos e ecológicos (Grenfell et al., 2004). Como a dinâmica de uma epidemia reflete-se nas subpopulações do vírus da área epidêmica, a caracterização destas subpopulações permite estabelecer vínculos espaciais e temporais entre elas (Real et al., 2005). 138 Neste trabalho foram identificadas subpopulações do RABV (Clados, Subclados e Grupos filogenéticos), dentro de uma área geográfica (áreas RD1, RD2 e RD3), analisando fatores ecológicos abióticos (relevo, temperatura e pluviosidade) e cobertura vegetal, circunscritos em um período de tempo determinado (1997-2002). Atualmente, o número de casos de raiva em cães vem diminuindo rapidamente no Brasil em virtude da instituição da campanha anual de vacinação de cães e gatos. Como conseqüência do controle parcial da raiva canina a raiva no ciclo silvestre adquiriu grande importância, como o transmitido pelo D. rotundus, hoje o principal transmissor da raiva no país, inclusive a raiva humana. Um dos objetivos realizados neste trabalho foi estudar linhagens do RABV que circulam em populações de D. rotundus demonstrando que, mesmo em uma área epidêmica, há diferentes linhagens do vírus circulando. No Brasil, a contínua expansão das áreas agrícolas promove o contato do homem com os hospedeiros silvestres da raiva. Paralelamente ao aumento deste contato, a conscientização adquirida através das campanhas educativas associadas à raiva promoveu o aumento no número de casos de raiva diagnosticados em animais silvestres, antes subnotificados, como também o aumento no número de notificações de agressões de animais silvestres a humanos (Carnieli et al., 2008). Vetor ou espécie hospedeira são termos que designam espécies que fazem parte do ciclo de uma doença numa determinada área geográfica durante um período específico de tempo. O vetor necessita ser suscetível ao vírus e capaz de transmiti-lo aos membros da mesma e ou outras espécies. Espécies com essas características são capazes de sustentar os seus ciclos epidemiológicos (Müller, 2000) e D. rotundus as possue. Haydon et al. (2002) sugerem que patógenos (no presente caso o RABV) infectando mais que uma espécie são encontrados em diferentes populações animais e, algumas delas, podem ser reservatórios. Os mesmos autores sugerem a seguinte definição para reservatório: uma (ou mais de uma) população conectada, na qual o patógeno pode ser permanentemente mantido e da qual a infecção é transmitida à populaçãoalvo. Assumindo esta definição, tanto o cão como D. rotundus, são reservatórios no Brasil, o primeiro urbano e o segundo silvestre. Esta situação se deve ao fato que a raiva é regularmente identificada nas duas espécies, isto é, é persistente ao longo do tempo. A persistência de uma infecção é contínua se ocorre em grandes populações (metapopulações) 139 (Bingham, 2005; Russel et al., 2006) e D. rotundus e cães pertencem a distintas metapopulações. Outra forma para definir o papel e a importância de D. rotundus na epidemiologia da raiva, pela sua importância como transmissor e sua forma eficaz de transmissão do RABV, é pensando na história evolutiva do RABV no continente americano, mas há grande controvérsia em relação a esta história (Badrane e Tordo, 2001; David et al., 2007; Davis, Bourhy, Holmes, 2006). Todavia, é impossível negar a interação ecológica de quirópteros com outros potenciais hospedeiros do RABV, como canídeos, em séculos passados. Não há motivo que possa excluir a possibilidade da existência da raiva nas Américas em épocas pré-colombianas (Rupprechet, Hanlon, Hemachuda, 2002). Assim, não é possível afirmar que o RABV foi introduzido nas Américas na época da sua colonização e, dispersando-se, infectou a população de, principalmente, canídeos, determinando que as linhagens do RABV neste continente possuam origem européia, como é concluído pela análise de dados epidemiológicos (David et al., 2007). Porém, os mesmos autores afirmam que as linhagens genéticas atuais do RABV que circulam entre morcegos hematófagos são as mais antigas do ponto de vista filogenético e, provavelmente, são as ancestrais putativas de todas as linhagens mundiais contemporâneas. A descrição de fósseis de morcegos hematófagos como, por exemplo, a espécie extinta Desmodus draculae, junto aos de canídeos em alguns sítios arqueológicos (Guidon, 1984); o isolamento de somente o genótipo 01 dos Lyssavirus nas Américas (Rupprechet, Hanlon, Hemachuda, 2002); a presença de morcegos hematófagos, também, somente na América Latina; a presença de fósseis de morcegos hematófagos datados a partir do Período Pleistoceno somente nas Américas (Arellano-Sota, 1988), além dos relatos históricos do século XVI descrevendo morcegos como causadores de doenças semelhantes à raiva (Wilkinson, 2002), são dados que permitem reivindicar a existência do RABV no continente americano antes do século XVI e, desta forma, o dissociar da origem européia. A infecção causada pelo RABV de D. rotundus em outros animais, ou seja, transmissão de vírus a partir de um reservatório para animais susceptíveis (“spillover”), principalmente canídeos, pode ter ocorrido repetidamente ao longo da História e ainda ocorre, por exemplo, “spillover” de D. rotundus para carnívoros é calculado ter ocorrido entre 888 a 1459 anos atrás (Badrane e Tordo, 2001), ou seja, antes da descoberta das Américas. Em contrapartida, David et al. (2007) acreditam que, no estágio atual da virologia molecular, não é possível calcular datas de “spillover”. 140 Sato et al. (2004) comparando o gene G e o pseudogene G-L de amostras do RABV isolados de carnívoros terrestres e morcegos hematófagos relatam que é difícil fazer afirmações em relação à história evolutiva do RABV através da comparação de isolados obtidos de quirópteros e carnívoros do Brasil. Delpietro et al. (1997), na Argentina, tipificaram antigenicamente o RABV em duas amostras de cachorro do mato (Cerdocyon thous). Uma foi caracterizada como variante de cão e a outra como variante de D. rotundus, demonstrando que o RABV pode ser introduzido em uma população de canídeos silvestres via morcegos. Casos de “spillover” entre espécies que exploram diferentes nichos ecológicos, como canídeos e quirópteros, são relatados com freqüência nas Américas (Velasco-Villa et al., 2006; Velasco-Villa et al., 2005). A emergência da raiva epidêmica requer mudanças genéticas na linhagem do vírus original para que esta se adapte ao novo hospedeiro preferencial (Rupprechet, Hanlon, Hemachuda, 2002). O conceito de quasiespécies aplicado aos vírus RNA e a ação de seleção ambiental possibilitam que determinado genótipo selecionado se adapte a um novo hospedeiro (Solé et al., 1999). A origem de epidemias de raiva pode emergir inesperadamente e, ocasionalmente, uma espécie susceptível ao RABV, que não mantêm um ciclo da raiva, pode transmitir a infecção a outro integrante de sua população e, através do tempo e se as condições forem favoráveis, estabelecer uma nova epidemia (Bingham, 2005). Diante das circunstâncias citadas anteriormente, os atuais reservatórios mundiais (biotipos) do RABV podem abrigar linhagens do vírus com acentuada diversidade genética cujo ancestral é uma linhagem pioneira que se estabeleceu em morcegos hematófagos. Sendo assim, esta possibilidade aumenta a importância de análises de linhagens que circulam atualmente em D. rotundus. Somado ao fato da origem do RABV, Delpietro et al. (2009) encontraram evidências que epidemias de raiva transmitidas pelo D. rotundus são um risco potencial para os animais silvestres. Os resultados apresentados neste estudo correlacionam a divergência genotípica das linhagens do RABV, isoladas nas populações de bovinos (população-alvo) durante a epidemia 1997-2002 no Estado de São Paulo, com a distância geográfica existente entre os grupos regionais do vírus e estabelece vínculos espaciais e temporais, como também estabelece a dinâmica da circulação do vírus no reservatório (biotipo) da raiva D. rotundus e na população-alvo. 141 A correlação entre a distância geográfica e a caracterização genética das linhagens encontradas nas subpopulações de vírus (como as encontradas em RD1, RD2 e RD3) permite a caracterização de uma epidemia (Domingo, Webster, Holland, 1999). A tendência que as linhagens do RABV possuem em se agrupar geograficamente, provavelmente, está relacionada ao fato de que a disseminação das linhagens do RABV está submetida à biologia do hospedeiro, principalmente em relação à sua área de atuação e na interação entre as diferentes populações dos hospedeiros (Nadin-Davis, 2007). O fato de D. rotundus ser colonial e se deslocar por áreas de aproximadamente 20 Km2 (Flores-Crespo e Arellano-Sota, 1991) podem explicar a origem e identidade das linhagens caracterizadas no estudo. Este trabalho é o primeiro a estudar a raiva transmitida pelo D. rotundus para bovinos e eqüinos durante uma epidemia por meio de métodos moleculares associados a dados epidemiológicos. Os resultados apresentados são de interesse para a Saúde Pública e Veterinária e podem ser utilizados durante o planejamento do controle da doença, por demonstrar a existência da alta identidade genética existente entre as linhagens do RABV que circulam em D. rotundus. As infecções de animais silvestres, como D. rotundus, com limitada possibilidade de interferência, permite que estudos da doença sejam feitos, como por exemplo, a reconstrução da historia biogeográfica da infecção a partir de dados moleculares, e neste sentido, os vírus RNA, como o RABV, são ótimos exemplos, principalmente por exibirem dinâmica evolutiva e ecológica na mesma escala temporal (Biek et al., 2007). Neste trabalho é sugerido um modelo da história biogeográfica da epidemia 1997-2002 e o estabelecimento das relações filogenéticas do RABV na área estudada permitiu esta reconstrução histórica. Epidemias de raiva entre bovinos e eqüinos são conhecidas desde o inicio do século XX no Brasil. Carini (1911) propôs pela primeira vez a transmissão da raiva por morcegos observando, no Sul do Brasil, morcegos atacando bovinos e eqüinos durante o dia. Nesta antiga epidemia aproximadamente 4000 bovinos e 1000 eqüinos foram infectados pelo RABV, em uma época na qual a população dos animais de criação era muito menor que a atual. Desde a época de Carini muitos estudos foram realizados, porém, uma análise genética associada a dados epidemiológicos, ecológicos, circunscrita a um espaço geográfico e em um determinado intervalo de 142 tempo com características únicas, como uma epidemia, não havia sido realizada até o momento, como a apresentada neste estudo. No Brasil, a população da espécie D. rotundus pode ser considerada uma metapopulação, dada à extensão da sua área de abrangência. Como uma metapopulação é o conjunto de várias populações de uma mesma espécie em uma grande área e que mantém fluxo de indivíduos entre elas, basta haver casos de infecção em uma destas populações para que ocorra a persistência de uma infecção como a raiva, determinada, principalmente, pelo fluxo migratório (Grenfell e Harwood, 1997; Russel et al., 2006). As populações de D. rotundus, separadas em subpopulações, mantendo fluxo migratório entre elas, formam uma metapopulação e este fato é o que pode explicar a persistência da raiva nesta espécie, como também em outras populações que possuam estes atributos (Bingham, 2005). Este fluxo migratório pode ser uma possível explicação para a duração da epidemia 1997-2002, pois a manutenção e o tempo de transmissão de uma infecção em uma população são freqüentemente instáveis, podendo após algum tempo se extinguir, enquanto que em uma metapopulação a persistência de uma infecção é continua (Bingham, 2005). No Brasil, a epidemiologia molecular da raiva em morcegos sempre atraiu atenção. Vários estudos foram realizados com estes reservatórios silvestres do RABV, como por exemplo, Ito et al. (2001); Shoji et al. (2004); Sato et al. (2004); Kobayashi et al. (2005); Bernardi et al. (2005) e Kobayashi et al. (2006). Entretanto, nos estudos de epidemiologia molecular da raiva em morcegos, quando há algum tipo de análise geográfica dos isolados do RABV, que são designados somente pelo local do isolamento, não se estabelece nenhum vínculo ecológico ou temporal, como realizado neste estudo. O estudo da epidemia 1997-2002 além de estabelecer a associação regional do RABV com as características ambientais, estabeleu a dinâmica temporal da epidemia por meio de dados epidemiológicos oficiais. Foi determinado que os Subclados e Grupos filogenéticos do Clado Desmodus rotundus, apresentados na Figura 33, estão situados nas áreas RD1, RD2 e RD3, formando agrupamentos regionais basicamente dentro de um único relevo, as montanhas do sul da Serra da Mantiqueira, com características ecológicas definidas, como por exemplo, as mostradas nas Figuras 23, 24, 25, 26 27 e 28. Este fato permite caracterizar os grupos regionais do RABV estudados como agrupamentos de linhagens regionais, segundo os critérios expostos em Real et al. (2005), mas com sobreposição dos agrupamentos filogenéticos. 143 Desta forma é factível afirmar que as linhagens estudadas que circulam entre D. rotundus, divergem como conseqüência do seu posicionamento em áreas de um mesmo ecossistema, não caracterizando uma adaptação ecológica dos animais, e sim pelo distanciamento geográfico e temporal, como relatado em Real et al. (2005). Os agrupamentos filogenéticos das linhagens do RABV estudados não podem ser interpretados como subdivisão ecológica da população do vírus, pois são de um único bioma, mas com diferentes coberturas vegetais formadas por ação antrópica, como mostra a Figura 31. Os agrupamentos do RABV apresentados foram determinados por meio de inferências filogenéticas, obtida através do agrupamento de pares semelhantes (“pair-wise clustering”), com o método Neighbor-joining (NJ). Com este método é possível analisar a diversidade do RABV (Smith, 2002). O método NJ é uma versão simplificada do método ME (evolução mínima), que utiliza distância genética. A distância evolutiva entre um par de seqüências, geralmente, é medido pelo número de nt (ou aa) substituídos em cada uma delas e é fundamental para o estudo de evolução molecular, além de ser útil para reconstruções filogenéticas e a estimativa da divergência entre linhagens genéticas (Saitou e Nei, 1987). A formação dos agrupamentos regionais RD1, RD2 e RD3 corrobora a variação intragenotípica do RABV e, em conseqüência, a diversidade dos genes N e G do vírus, já determinada por outros pesquisadores como, por exemplo, Velasco-Villa et al. (2005) no México. Apesar da grande identidade apresentada pelas linhagens do RABV isoladas na epidemia 1997-2002 e mostrada nas Figuras 37 e 38, foi identificada, como esperado, maior variabilidade genética do gene G, quando comparado com o gene N. Interessante é notar que nas Figuras 37 e 38 observa-se uma homogeneização constante entre os anos de 1997 e 2002. No início há maior variabilidade que no final do período. Este resultado sugere que a homogeneização do RABV pode ter ocorrido pelo grande contacto entre os indivíduos da população de D. rotundus, provavelmente pela maior proximidade entre os animais, possibilitando que poucas linhagens fossem propagadas entre os indivíduos de diferentes colônias. Outro fator que pode ter determinado esta homogeneização do vírus foi a introdução ou a formação por mutação de uma linhagem do RABV com alto valor adaptativo, como as encontradas ainda hoje nas áreas RD2 e RD3. O comportamento territorialista e colonial de D. rotundus pode ser uma das causas de incremento da homogeneização das linhagens do 144 RABV. O contato físico mais íntimo pode aumentar a infecção intraespecífica. Johnson et al. (2003), estudando canídeos na Turquia, sugeriram que a transmissão do RABV entre as espécies é facilitada durante o acasalamento, quando disputas territoriais são mais intensas. Esta situação aumenta as chances de transmissão intra-específica de um patógeno. Além da necessidade de deslocamento do D. rotundus em procurar sua presa para se alimentar de sangue, que algumas vezes pode atingir dezenas de quilômetros (Flores-Crespo e Arellano-Sota, 1991), em épocas de seca os animais se deslocam a procura de água e comida, como sugerido por Taddei et al. (1991). Os deslocamentos de morcegos ocorrem facilmente por sua capacidade de vôo. Em contrapartida a maior distância entre as populações de D. rotundus minimiza a homogeneização das linhagens do RABV destes hospedeiros; isto porque a distância geográfica diminui a possibilidade de contacto entre os indivíduos das subpopulações do animal. Este fato pode explicar a origem dos três agrupamentos filogenéticos principais: RD1, RD2 e RD3. A maior identidade existente entre os agrupamentos RD2 e RD3 se deve ao fato de RD3 ser produto da expansão de RD2, constatado pela alta identidade genética do RABV encontrada nas duas áreas. Porém, as linhagens das áreas RD2/RD3 podem ter se originado de uma mutação das linhagens RD1 ou estar isolada em uma colônia de D. rotundus, que entrando em contacto com outras foi propagada ou, ainda, pode ter sido deslocada pela migração do hospedeiro de outra região não estudada O deslocamento da epidemia de RD2 para RD3 pode ser conseqüência da topografia das duas regiões. As áreas que dividem RD1 de RD2 são mais elevadas que aquelas que dividem RD2 de RD3, como mostrado na Figura 25. Somado a este fato, a existência de áreas de floresta nativa (Mata Atlântica), como mostra a Figura 31, também pode ter tido influência, pois o deslocamento de D. rotundus neste tipo de área é dificultado. Estes dois fatores ecológicos podem ter determinado a menor homogeneização das linhagens do RABV das áreas RD1 e RD2, além do fato de que gado é encontrado em pequeno número em áreas de topografia elevada e com cobertura vegetal nativa. A epidemiologia molecular do RABV possui um problema. Para que se faça um estudo geral e amplo devem ser seguidos alguns critérios de ordem prática como, por exemplo, em relação ao tamanho das seqüências a serem analisadas, que devem ter o mesmo tamanho. Entretanto, os pesquisadores da biologia molecular do RABV determinam individualmente suas áreas de estudo e a seqüenciam sem se preocupar com possíveis 145 estudos futuros. Neste contexto, Velasco-Villa et al. (2005) argumenta e afirma “não há sequer uma área do genoma do vírus escolhida como alvo global” e a falta deste alvo não permite que muitas comparações sejam realizadas. Wu et al. (2007) analisando os genes do RABV propõe que algumas áreas do gene L da polimerase, devido sua conservação, possam ser “alvo” de uso global. O trabalho desenvolvido utilizou praticamente toda a região codante do gene N (1320 nt) e toda a área amino-terminal do gene G (800 nt). Smith (2002) enfatiza que seqüências genéticas de um gene com pequeno tamanho, freqüentemente, contêm um número insuficiente de caracteres informativos, não são estatiscamente significativas e não permitem a precisa reconstrução das relações evolutivas entre clados. Ciclos do RABV sobrepostos, como os apresentados, formados pela mesma espécie de hospedeiros do vírus e com o mesmo nicho ecológico, provavelmente, não poderiam ser identificados se muitas seqüências de pequeno tamanho estudadas por outros autores e disponíveis no GenBank fossem utilizadas, pois ou eram muito curtas ou não analisavam a mesma área analisada neste trabalho. Felizmente, outros pesquisadores, estudiosos da genética do RABV do Brasil já haviam produzido outras seqüências similares as nossas e as depositado no GenBank, ô que facilitou e auxiliou sobremaneira o estudo desenvolvido. Um exemplo deste fato foi a Seqüência de Consenso gerada com as seqüências do gene N e G de linhagens AgV3 apresentadas na Tabela 16. A origem da epidemia 1997-2002, ainda hoje, é motivo de estudo. Entretanto, uma nova epidemia de raiva pode emergir inesperadamente, pois ocasionalmente uma espécie susceptível ao RABV se infecta e pode transmitir a infecção a outro integrante de sua população e, através do tempo e se as condições forem favoráveis, estabelecer um ciclo contínuo (Bingham, 2005) e restrito a uma área. O RABV é mantido regionalmente pelas espécies de animais que ocorrem na região, normalmente com altas densidades populacionais e bem adaptadas aos biomas geográficos (Kusmin et al., 2004). Estas espécies se comportam como reservatórios regionais do RABV e, por esta razão, podem ser chamadas de espécies-ecotipo da raiva (Rohde et al., 1997). D. rotundus é uma espécie bem adaptada as condições ecológicas da área geográfica aqui analisada. Nas espécies-ecotipo são encontrados os geo-filogrupos do RABV, os agrupamentos regionais do vírus que, em última análise, expressam a evolução molecular local do vírus (WHO, 2004). 146 A origem destes geo-filogrupos se dá por pressões seletivas locais ou por isolamento geográfico. Nestas circunstâncias, os geo-filogrupos do RABV se mantêm e ficam circunscritos (Bourhy et al., 1999). As linhagens genéticas do RABV são responsáveis por ciclos epidêmicos da raiva e estes agrupamentos de linhagens representam subdivisões da população do vírus em habitats distintos (Real et al., 2005). Nadim-Davis et al. (1999) sugerem que o deslocamento das linhagens nas subpopulações de hospedeiros determina as relações filo-geográficas do vírus. Kusmin et al. (2004) sugerem que diferenças regionais do RABV, encontrados em espécies-ecotipo, são determinadas pela adaptação destas espécies aos biomas geográficos e outras espécies, que não sejam o hospedeiro preferencial da raiva na área geográfica, normalmente, são hospedeiros terminais, como os bovinos e todos os outros herbívoros. Aceitando as condições expostas anteriormente, podemos afirmar que D. rotundus é uma espécie-ecotipo na América Latina, com uma característica, é adaptados a diferentes tipos de Biomas, pois é encontrada em áreas xerofíticas, como a caatinga e cerrado, como também em hidrofílicas, como a Mata Atlântica, Floresta Amazônica e Pantanal, tomando como exemplo o Brasil. No Brasil, estudos com os genes da nucleoproteína (N) e glicoproteína (G) apontam para a existência de dois filogrupos do RABV, caracterizando dois ciclos: o urbano e o silvestre (Ito et al., 2001). A principal espécie responsável pelo ciclo urbano é o cão, designado por Johnson et al. (2004) como biotipo cão, sendo identificado antigenicamente no Brasil como variante 2 (AgV2) (Diaz et al., 1994; Favoretto et al., 2002). O ciclo silvestre é predominantemente composto pelo biotipo D. rotundus, identificado antigenicamente como variante 3 (AgV3) (Diaz et al., 1994; Favoretto et al., 2002). Os ciclos urbano e silvestre se sobrepõem em várias áreas (Ito et al., 2003), ô que aumenta a complexidade da epidemiologia da raiva. Na Europa, casos de raiva entre animais susceptíveis, como os de criação e domésticos ou mesmo silvestres, parecem estar condicionados, principalmente, ao ataque ou inspeção destes às raposas moribundas em fase terminal da doença e, portanto, condicionados espacialmente e temporalmente a proximidade da principal espécie hospedeira infectada pelo RABV, as raposas (WHO, 2005). No presente caso estudado, a raiva em bovinos transmitida pelo D. rotundus, a situação é diferente, isto porque a necessidade para se alimentar do sangue de suas vítimas é o que determina que D. rotundus infecte herbívoros, sobretudo o gado. 147 A formação dos grupos regionais do RABV nas áreas RD1, RD2 e RD3, determinadas na área epidêmicas 1997-2002, expressa diversidade de linhagens, sugerindo coexistência ou coemergência de novas linhagens separadas espacialmente, como determinado por Velasco-Villa et al., 2005, e este fato pode ter determinado e possibilitado a identificação e a origem do Grupo filogenético “Novas RD2/RD3”, mostrado na árvore filogenética da Figura 33, em detrimento do Subclado “Antigas”, também identificado nas árvores filogenéticas das Figuras 33, 34 e 35. Porém, o número de amostras do ano de 1997, que compõe o subclado “Antigas”, é inferior aos dos anos 1998, 1999 e 2000, como mostrado na Tabela 15 e este fato pode ter influenciado na formação do Grupo filogenético “Novas RD2/RD3” e do Subclado “Antigas”. As linhagens genéticas do RABV, domésticas e silvestres, podem disseminar-se entre outras espécies susceptíveis encontradas na mesma área, ampliando a área de abrangência do vírus pelo contínuo deslocamento dos animais reservatórios (Krebs et al., 2003; Kusmin et al., 2004). Este motivo também pode ter sido um fator pelo qual houve a substitução das seqüências do Sub-clado “Antigas” pelas do Grupo “Novas RD2/RD3”. Assim sendo, linhagens de alto valor adaptativo, como encontrado em “Novas RD2/RD3”, migraram e substituíram outras de menor valor adaptativo como, por exemplo, as “Antigas”. Os valores de similaridade de seqüências homologas obtidos por meio de matriz de substituição e expressos nas Figuras 37 e 38, permitem estimar a probabilidade (“likelihood”) de um resíduo de nt ou aa ser substituído por outro durante a seleção natural. Algoritmos baseados em métodos de distância, como o NJ, permitem a obtenção de agrupamentos filogenéticos e caracterizam a topologia das árvores filogenéticas que representam uma população subdividida em uma área geográfica (mesmo que subdividida artificialmente como realizado neste trabalho) na área estudada (Smith, 2002). Valores de bootstrap superiores a 70% são considerados grupos filogenéticos (Hillis e Bull, 1993) e todas as subdivisões do Clado Desmodus rotundus estudado, possuem valores de bootstrap superiores a 70%, fato que dá segurança em relatar os agrupamentos descritos. A polimerase L não possui um sistema que permita a edição ou a correção do genoma do vírus (“proofreading and post-replication error correction”) durante a replicação do vírus (Domingo e Holland, 1994). Esta característica, associada aos mecanismos evolutivos que geram variabilidade genética dentro da população, como deriva genética, gargalo evolutivo (“bottleneck”) e seleção ambiental, possibilitam a formação das 148 linhagens genéticas do RABV (Kissi et al., 1999; Smith, 2002), que são preferencialmente encontradas nas espécies-ecotipo, ecologicamente e espacialmente distribuídas. Bourhy et al. (1999) discutindo a regionalidade do RABV na Europa reconheceu pequenos agrupamentos dentro dos principais agrupamentos filogenéticos e sugeriu que há, no mínimo, algum grau de isolamento entre eles. Real et al. (2005) sugerem que a organização espacial das linhagens é explicada como conseqüência da evolução neutra aliada a dispersão local das linhagens e que os agrupamentos destas seqüências indicam subdivisões da população do vírus. Morimoto et al. (1998) hipotetizaram que as divergências encontradas entre as linhagens do RABV, permitem que o vírus se adapte ao ambiente e é um reflexo da interação hospedeiro/vírus. O RABV, tal como com outros vírus RNA de sentido negativo, mostra pouca fidelidade durante a replicação e isto determina que a freqüência genética da população viral seja alterada continuamente, fazendo com que haja a criação de linhagens genéticas que formam subpopulações virais (quasispecies) (Kissi et al., 1999; Morimoto et al., 1998; Nowak, 1992). Estas subpopulações podem ser introduzidas aleatoriamente em um novo hospedeiro (Elena et al., 1997), permitindo que a variabilidade genética seja mantida. A variabilidade genética do RABV em populações de hospedeiros é determinada durante o tempo, e estas mudanças ocorrem independentemente em diferentes áreas geográficas (Bourhy et al., 1999), gerando as linhagens características das espécies hospedeiras. Um exemplo deste fato é a menor identidade genética encontrada nas linhagens isoladas em bovinos e eqüínos e transmitidas pelo D. rotundus nas áreas RD1 quando comparadas com as das áreas RD2 e RD3, que provavelmente tem origem diferente, seja pela introdução de um vetor (o D. rotundus) de colônia diferente e de outra área, ou mesmo, como produto de mutação, como discutido anteriormente. Entretanto, a Figura 39 evidencia pontos da nucleoproteína N, inferida pelo sequenciamento do gene N, que são assinaturas específicas das áreas RD1 e RD2/RD3 e isto representa seleção positiva (mutação não-sinônima), o que leva a acreditar que as linhagens estudadas, tanto das áreas RD1 como das RD2 e RD3 possuem diferentes ancestrais. Os dois pontos de mutação no gene N, responsáveis pelas duas mutações são: Timina122Citosina (Asparagina na área RD1 e consenso brasileiro e Histidina na área RD2) e Adenina207Citosina (Tirosina na área RD1 e Fenilananina na área RD2 e consenso braileiro). 149 A pequena diversidade genética do RABV pode ser determinada por recente “bottleneck” ou a pequena variedade de espécies hospedeiras (ou indivíduos) na região epidêmica (Smith, 2002). Este não é o caso da área da epidemia 1997-2002, pois a raiva é endêmica na região há tempos como relatado no trabalho de Gomes (2008), excluindo a possibilidade de recente “bottleneck”. O grande número de indivíduos é diretamente proporcional ao grande número de colônias identificadas de D. rotundus nas áreas estudadas, como mostra a Tabela 10. Este fator permite a manutenção da variação genotípica do vírus. Aliado a estes fatos um mesmo hospedeiro pode possuir, e conseqüentemente inocular, várias linhagens, representadas pelas quasiespécies (Kissi et al., 1999), aumentando assim a probabilidade de conservação da variação genotípica do RABV. Como as linhagens são perpetuadas por espécies que atuam como reservatório regional do vírus (Rupprechet, Hanlon, Hemachuda, 2002) a homologia entre as linhagens permanece estável, possibilitando o estudo dos padrões genéticos da infecção (Nadim-Davis, Muldoon, Wandeler, 2006). Por exemplo, a seleção negativa estabiliza o gene N pelo aumento da taxa de mutações neutras (sinônimas) em populações geograficamente distintas do vírus e o acúmulo de mutações silenciosas (sinônimas) é, provavelmente, a fonte de divergência genotípica encontrada nas populações do vírus (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995). Porém, técnicas moleculares não são suficientemente precisas para compreender a raiva epidêmica e, neste caso, as evidências epidemiológicas são necessárias (Bingham et al., 1999), e estas foram apresentadas no estudo. Com o objetivo de esclarecer a epidemiologia da raiva entre os bovinos e outros animais de interesse econômico, o presente estudo comparou a identidade genética do gene N e da área amino terminal do gene G de isolados do RABV. Os valores de identidade genética obtidos indicam que há grande identidade entre as populações do RABV isolados de gado e típicos de D. rotundus, mesmo entre as das áreas RD1 e RD2/RD3. Tomando por base diferentes observações encontradas em NadinDavis (2007), alguns pontos do trabalho são discutidos para justificar os resultados. A identificação de assinaturas específicas entre as linhagens estudadas demonstra que a análise molecular apresentada é consistente e, assim, os marcadores específicos do RABV de cada linhagem podem ser usados para distinguir as populações do RABV das áreas RD1 e RD2/RD3. A utilização de toda região codante do gene N e mais da metade da do gene G determina grande robustez à análise das linhagens. Quanto maior a seqüência maior o número de sítios informativos e dá maior respaldo para a 150 árvore filogenética gerada pelo método de Distância Neighbor-joining (NJ) e construída com o modelo de substituição GTR (para o gene N) e o modelo de substituição TVM (para o gene G), incluindo o parâmetro de distribuição Gamma com sítios invariáveis, de acordo com o modelo de substituição selecionado pelo software Modeltest 3.6 e, também, pelos testes estatísticos de confiabilidade (expressos pelo bootstrap). Quanto à seleção de amostras utilizadas, que para análises de epidemiologia molecular devem permitir comparações em relação ao tempo e espaço, deve-se evitar a escolha de amostras provenientes de vigilância passiva, como as analizadas, pois podem gerar tendências na análise filogenética. Amostras provenientes de vigilância passiva são, normalmente, relacionadas a um evento no tempo e espaço e não representam a realidade ecológica do RABV na área estudada. Apesar das nossas amostras serem provenientes de vigilância passiva, elas se distribuem dentro de uma grande área, como também foram escolhidas aleatoriamente dentro do conjunto total de amostras. As características precedentes fazem com que a tendência de representar uma única situação dentro da epidemiologia da raiva na região estudada diminua. Quanto ao período analisado (1997-2002), não foi aleatório, é diretamente relacionado à disponibilidade de um número significativo de amostras e que é diretamente relacionado ao período da epidemia 1997-2002. A pesquisa molecular do RABV, realizada pelo estudo dos genes N e G utilizando métodos de análise filogenética baseados em distância e associado a dados epidemiológicos, pode resolver uma análise de identidade genética ou evolutiva de forma tão eficiente como os métodos de máxima parcimônia e máxima verossimilhança, com a vantagem de ser um método computacionalmente rápido (Smith, 2002). Além destes fatos, a escolha do método de distância NJ se deve ao fato de ter sido analisado um número de seqüências volumoso como, por exemplo, o encontrado na árvore filogenética do gene N apresentada na Figura 33, que possui incorporada 198 seqüências com 1320 nt de extensão, impossibilitando que inferências realizadas pelo método de verossimilhança fossem realizados. O uso do software DAMBE (Xia e Xie, 2001), utilizado para análise de dados obtidos em biologia molecular e evolução, assegurou que o sinal filogenético das seqüências genéticas geradas neste trabalho é informativo em relação ao processo evolucionário que as gerou. O uso de DAMBE neste trabalho se baseou no lançamento dos valores de transições e transversões versus distância genética. O uso do software foi importante porque exibe graficamente transições e transversões e calcula a divergência. Foi utilizado na geração deste resultado o modelo de evolução molecular F84 (Felsenstein, 1993), que possui dois parâmetros (transição e 151 transversão) e é baseado em distância. Com o Modelo F84 tornou-se possível combinar as diferenças nas taxas de transição e transversão, representado pela freqüência de pirimidinas e purinas (Xia e Xie, 2001), e frequência desigual de bases em uma única estatística, ô que permite o estudo de um modelo de evolução mais realístico para as seqüências de DNA. Hanada, Suzuki e Gojobori (2004) e David et al. (2007) fizeram uso do software DAMBE obtendo resultados concordantes com os dados epidemiológicos associados as suas pesquisas. Os primeiros estudaram os vírus RNA de maneira geral e os segundos o RABV. A análise do gene N, quer com base no seu seqüenciamento parcial ou total, permite os mais significativos agrupamentos de linhagens semelhantes e, portanto, é o mais adequado para uma abordagem de epidemiologia molecular da raiva, além do fato de ser o mais conservado evolutivamente (Smith, 2002). É consenso que o estudo do gene G é necessário, devido a sua direta relação com as atividades biológicas do vírus, como resposta imune do hospedeiro e reconhecimento dos receptores celulares, entre tantas outras. Badrane et al. (2001), indo além, relaciona as variações de aa da Glicoproteína G com a emergência de novos Lyssavirus no ambiente, pois podem permitir adaptações a novos hospedeiros. Os resultados apresentados da tipificação genética do RABV isolados de bovinos e eqüinos nas áreas RD1, RD2 e RD3 do Estado de São Paulo, são concordantes com trabalhos de outros autores, como por exemplo, Ito et al. (2003), Shoji et al. (2004) e Kobayashi et al. (2005), mesmo que as interpretações dos dados não sejam totalmente concordantes. Quanto a análise do gene N da nucleoproteína N das linhagens AgV3 do RABV, os trabalhos de Ito et al. (2003), Shoji et al. (2004), Kobayashi et al. (2005) e Kobayashi et al. (2007), que estudaram toda região codante do gene N de linhagens de diferentes áreas do Brasil, inclusive de São Paulo, obtiveram agrupamentos regionais, como as das áreas RD1, RD2 e RD3. Analisando detalhadamente os dados dos trabalhos citados acima, se constata a grande identidade entre as linhagens estudadas. Estas identidades das linhagens AgV3 são semelhantes às apresentadas neste trabalho, isto é, raramente ultrapassam 2% de divergência. Nos mesmos trabalhos, os resultados relacionados aos morcegos do gênero Artibeus e, também, em relação aos morcegos insetívoros, também foram semelhantes aos apresentados. As linhagens AgV3 isoladas no gênero Artibeus possuem a mesma identidade das de D. rotundus e bovinos. Quanto às linhagens isoladas em morcegos insetívoros, elas são divergentes em 152 relação às linhagens AgV3, porém algumas linhagens recuperadas do GenBank de morcegos insetívoros e também utilizadas neste estudo, segregaram entre as linhagens AgV3 isoladas nos bovinos e eqüínos estudados. Este resultado indica que morcegos insetívoros podem ser infectados por D. rotundus. Os estudos da área N-terminal do gene N de Ito et al. (2001), Kobayashi et al. (2006) e Kobayashi et al. (2008) também são concordantes com os estudos realizados. Apesar de não haver concordância quanto aos valores de identidade (os nossos são superiores) é bom recordar que as extremidades N-terminal e C-terminal do gene N possui maior variabilidade genética que a região central (Kissi, Tordo, Bourhy, 1995; Delmas et al., 2008). No mesmo contexto se situa o trabalho de Velasco-Villa et al. (2006), que analisa a região C-terminal do gene N de RABV isolados de bovinos e D. rotundus e outros animais no México. Apesar de duas variantes antigênicas (AgV3 e AgV11) do RABV circularem na população de D. rotundus e bovinos no México, é nítido que a identidade do RABV AgV3 daquele país também é alta, como as identidades encontradas no Brasil. O motivo pelo qual as identidades entre as linhagens AgV3 estudadas se mostraram tão altas é conseqüência da sua origem epidêmica. Porém, as identidades destas linhagens AgV3 são concordantes com os autores anteriormente citados e que estudaram linhagens de diversos Estados brasileiros (e do México). No trabalho de Heinemann et al. (2002), que estudaram a área Nterminal do gene N de linhagens AgV3 isoladas em grande parte de bovinos, na área epidêmica e do sul do Estado de São Paulo (Figura 34), foram obtidos os resultados mais próximos dos apresentados. Heinemann et al. (2002) concluem que as divergências existentes ("nucleotide variabiliy”) entre as linhagens RABV AgV3 é produto de deriva genética, ou seja, ao acaso. Outro fator, raramente mencionado e que pode gerar divergências entre linhagens genéticas, é o viés ou tendência que ocorre durante a geração, edição e análise de seqüências genéticas. Guarino et al. (2008) analisando parcialmente o gene N de linhagens AgV3 do Uruguai, isoladas de bovinos e eqüinos em 2007 e 2008, obtiveram 100% de identidade entre elas e quando comparadas com linhagens do Norte do Brasil foi obtido 98,4% de identidade. Bordignon et al. (2005), analisando o gene N de linhagens AgV3 do RABV isoladas de bovinos no Sul do Brasil, e Cisterna et al. (2005), realizando o mesmo tipo de análise na Argentina e utilizando linhagens isoladas entre os anos de 153 1999 e 2001, obtiveram resultados semelhantes aos apresentados neste trabalho. Estes resultados sugerem que o gene N das linhagens AgV3 da área Atlântica da América do Sul é muito conservado, indicando que as linhagens do RABV circulantes entre D. rotundus são adaptadas e selecionadas em elevado grau por esta espécie; É provável que a manutenção desta alta identidade do gene N em linhagens AgV3 ocorra a longo tempo. Holmes et al. (2002) afirmam que o gene N do RABV evolui sob um modelo de seleção purificadora, isto é, mantendo a identidade ao longo do tempo, pois as funções da nucleoproteína N o mantém restringido (“constrained”). Para a comparação dos resultados obtidos em relação ao gene G da glicoproteína G são utilizados dois trabalhos de Sato et al. (2004 e 2006). O primeiro, estuda toda região codante do gene G de linhagens AgV3 isoladas nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Tocantins e Goiás. O segundo, estuda a mesma área do gene G analisada neste trabalho (os primers para o gene G aqui utilizados são os publicados em Sato et al, 2006) e são analizadas linhagens AgV3 isoladas em vários Estados do Brasil das regiões Sudoeste, Centro-Oeste e também do Nordeste. Os resultados de Sato et al. (2004 e 2006) apresentaram resultados semelhantes aos do presente trabalho, isto é, as amostras AgV3 permanecem com identidade acima de 98% e formando agrupamentos regionais. Estes resultados relacionados ao gene G da glicoproteína chamam a atenção pelo fato do gene G também se mostrar conservado, porém menos que o gene N, como pode ser observado nas figuras 37 e 38. Em Wu et al. (2007), que reafirmam a menor conservação do gene G em relação ao gene N, é discutido o valor dos genes N e G em análises filogenéticas. Os autores afirmam que a taxa de substituição de nt dos genes N e G são semelhantes e, sendo assim, ambos (como também os outros genes) tem, provavelmente, o mesmo valor para análises filogenéticas. Neste contexto é interessante comentar o trabalho de Kobayashi et al. (2007), que estudando os genes P e M do RABV, também obtiveram agrupamento de linhagens AgV3, isoladas de D. rotundus e do gênero Artibeus, com grande identidade entre si, indicando que mesmo estes dois genes, pelo menos entre as linhagens AgV3, também são muito conservados. Analisando os artigos relativos a estudos moleculares do RABV no Brasil, percebe-se que todos sugerem o isolamento geográfico de populações do vírus, por cadeias de montanhas ou rios, como fator 154 determinante para a diversificação das linhagens AgV3. Sem eliminar a importância destas barreiras geográficas para a diversificação genética do RABV, pois é consenso geral, os resultados deste trabalho não permitem que se concorde com esta origem de diversificação, pelo menos em relação à área epidemica estudada (e nela encontramos rios e montanhas). Inicialmente, quirópteros voam e este fato permite que distâncias e barreiras geográficas sejam facilmente superadas, o que para outras espécies, como canídeos, pode ser difícil. D. rotundus pode se deslocar diariamente dezenas de quilômetros para se alimentar, sua área de ação (“home-range”) é de 10-20 km2 (Arellano-Sota, 1988). Montanhas com pouco mais de 2000 m de altura não são obstáculos para morcegos e nem rios. No Brasil, a Serra da Mantiqueira é a mais alta, e suas maiores altitudes raramente ultrapassam 2000 m. É nesta região que as linhagens do RABV estudadas foram isoladas. As áreas RD2 e RD3 do Estado de São Paulo, vizinhas ao Estado de Minas Gerais, é uma região alta da Serra da Mantiqueira e o RABV circulou facilmente e com uma velocidade maior daquelas citadas em artigos clássicos sobre o assunto, como os de Delpietro e Russo (1996) e Fornes et al. (1974). Algumas linhagens estudadas são de cidades de Minas Gerais (ver Tabela 15), “do outro lado da serra”, vizinhas das áreas RD2 e RD3 e a identidade destas linhagens é similar às de São Paulo, motivo pelo qual estas linhagens pertencem aos mesmos agrupamentos filogenéticos das áreas RD2 e RD3. Este resultado sugere que o RABV circulou entre os dois Estados. Os mesmos resultados também foram obtidos em relação aos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Quanto a isolamentos geográficos do RABV AgV3 determinados por rios é difícil concordar, pois o Brasil possui a maior rede fluvial do planeta, formada por grandes rios, e encontramos o RABV que circula na população de D. rotundus em todo o país (ver Figuras 12 e 13), demonstrando que, pelo menos para quirópteros, rios não são barreiras geográficas. Em verdade, na América do Sul, somente é encontrada uma barreira geográfica que impede eficientemente a dispersão do RABV, a Cordilheira dos Andes. Uma afirmação expressa em Kobayashi et al. (2006) e Kobayashi et al. (2008), a qual os resultados obtidos também não permitem concordância, é que a raiva transmitida pelo D. rotundus se propaga através e em direção às terras de baixa altitude (e lembramos que são nestas áreas onde há as melhores pastagens devido à umidade). As regiões RD2 e RD3 são áreas de serra, como também o é boa parte da 155 área RD1, e a epidemia 1997-2002 analisada ficou circunscrita às áreas de elevada altitude, não se propagando para as áreas vizinhas, de baixa altitude e encontradas na maior parte do Estado de São Paulo. Os artigos de Cunha et al. (2006) e Albas et al. (2005) provam que a epidemia 1997-2002 ficou circunscrita as áreas serranas e que não houve falta de vigilância epidemiológica da raiva no Estado de São Paulo. Cunha et al. (2006) diagnosticaram 7.393 morcegos provenientes de 235 municípios do norte e noroeste do Estado de São Paulo, no período de 1997 a 2002. Os autores encontraram 1,3% de positividade (98 animais positivos) e não foi encontrado nenhum D. rotundus positivo. Albas et al. (2005) diagnosticaram 4950 amostras de diferentes animais, coletadas entre 1996 e 2003 na região oeste do Estado de São Paulo e, entre o total, identificaram o RABV em 74 amostras, sendo 58 (78,4%) em morcegos não-hematófagos e 16 (21,6%) em bovinos. Ou seja, nas grandes áreas do Estado de São Paulo analisadas pelos autores no mesmo período da epidemia 1997-2002 não houve surto epidemico. Outro trabalho que confirma a área de abrangência da epidemia 1997-2002 é o de Gomes et al. (2007), que utilizando dados georeferenciados e dados da Coordenadoria de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (órgão responsável pelo controle populacional do D. rotundus) afirmam que a distribuição espacial dos abrigos dos morcegos é difuso e uma epidemia pode tomar caminhos difusos, como a epidemia que se desenvolveu na região da Serra da Mantiqueira. Observação: a epidemia da Serra da Mantiqueira, a qual se refere os autores, é a mesma das áreas estudadas neste trabalho. No mesmo artigo os autores concluem que o deslocamento do D. rotundus se faz em direção à sua fonte de alimento, isto é, o gado, como também é proposto por Delpietro e Russo, (1996). Silva et al. (2001) sugerem o uso da terra como determinante da distribuição da raiva bovina em Minas Gerais, Brasil. Gomes (2008) vai além e sugere que a raiva bovina para São Paulo se estrutura em torno de quatro grupos: (1) o relêvo e geomorfologia; (2) as características relacionadas ao efetivo bovino no contexto do sistema de produção pecuário; (3) as características dinâmicas do mosaico da paisagem identificadas a partir da evolução dos tipos de uso e classes de cobertura da terra e (4) ainda, os elementos relacionados a hidrografia e são as interrelações entre os elementos em cada um destes grupos que estão participando na história natural da enfermidade e determinando as mudanças observadas nos padrões espaciais das epidemias. O mesmo autor ainda cita áreas com grande propensão a epidemias, entre elas a 156 estudada neste trabalho e são elas: a divisa estadual de São Paulo com o estado de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, as regiões das encostas no interior e os Vales do Paraíba e Ribeira. Delpietro e Russo (1996) afirmam que a duração de uma epidemia, em geral, dura 18 meses. Os mesmos autores afirmam que epidemias de raiva entre bovinos são dependentes do número de D. rotundus infectados e ativos, o que é muito lógico. A população destes animais diminuindo, pela infecção do RABV, cessa a epidemia; a população de D. rotundus aumentando, no interstício entre epidemias, desencadeia o início de nova epidemia. O que chama a atenção é que a epidemia 1997-2002 permaneceu durante cinco anos e somente o deslocamento geográfico da intensidade foi variável. A epidemia estudada neste trabalho não seguiu o padrão de ondas proposto por Delpietro e Russo (1996). Uma constatação, que há comum acordo entre os pesquisadores da raiva em bovinos, é o fato de que o comportamento de D. rotundus pode explicar a abrangência da raiva propagada por esta espécie, porém pouco é conhecido da etologia deste animal em relação à raiva. Equipes multidisciplinares poderão elucidar muitas dúvidas após um período adequado de estudo, em relação aos quirópteros e, também, a outros animais silvestres. Romijn et al. (2003) sugere que somente monitorar casos de raiva de uma região não auxilia muito a epidemiologia da doença ou seu controle, pois também é necessário relacionar estudos de dispersão e dinâmica da doença, rotas do D. rotundus, seus abrigos e presença de alimento. Atualmente, muito se fala das alterações ambientais como uma das causas mais prováveis da existência da raiva em bovinos transmitida por D. rotundus (Mayen, 2003), porém, as áreas aqui estudadas estão se urbanizando desde o final do século XIX, principalmente devido ao cultivo do café. Carini (1911) estudou a raiva entre animais de interesse econômico no Estado de Santa Catarina e naquela época o meio ambiente estava praticamente inalterado pela ação humana. Halpin et al. (2007), observam que o estudo das infecções, como por exemplo, a raiva em morcegos, associadas à ecologia, encontra-se na sua fase infantil. Silva et al. (2001), analisando a raiva em Minas Gerais, escrevem “...a raiva bovina é mais associada às lavouras permanentes e temporárias, às pastagens naturais e plantadas e ao efetivo bovino, e menos associada às matas naturais e plantadas, às lavouras em descanso e às terras produtivas não utilizadas...as transformações antrópicas no espaço agrário, especialmente no uso da terra, influenciaram de modo determinante a 157 distribuição espacial e temporal da raiva bovina em Minas Gerais”... Em Minas Gerais, a concentração de bovinos associado à substituição de matas naturais, em especial à de cerrado, por grandes extensões de pastagens, propicia alimentação abundante e de fácil acesso às colônias de morcegos hematófagos, conseqüentemente favorecendo a transmissão da raiva entre as diversas espécies de quirópteros... A substituição das matas naturais por lavouras e pastagens e a construção de uma grande diversidade de estruturas como habitações, túneis, minas, fornos para carvão, pontes e bueiros sob rodovias, que são proporcionadas, também, pelos projetos de desenvolvimento agropecuário, imprimem profundas mudanças ecológicas e sócio-econômicas”. A vacinação entre bovinos no Brasil não é regular e é pequena e este fato pode ter sido a origem da epidemia 1997-2002. Nogueira (2003), cita que no Estado de São Paulo 210 mil animais foram vacinados em 1999, 400 mil em 2000, 2 milhões e setecentos mil em 2001 e 3 milhões e 900 mil em 2002. Peres (2009), após minuciosa análise dos dados epidemiológicos relacionados aos casos de raiva no Estado de São Paulo no período de 1997-2007, afirma que o controle da epidemia 1997-2002 obteve êxito após a vacinação dos bovinos e eqüinos da área epidêmica e o concomitante contrôle populacional de D. rotundus. Um fato que chama atenção é o descrito por Menezes et al. (2008). Os autores estudando a situação epidemiológica do Estado de Minas Gerais descrevem uma redução constante nos casos de raiva e municípios com casos positivos no Estado, entre 1998 e 2006, inclusive nos municípios vizinhos as áreas RD1, RD2 e RD3. Em 1998, 1999, 2000, 2001 e 2002 o Estado contabilizou 586, 476, 443, 246 e 306 casos de raiva em 180, 167, 150, 90 e 118 municípios, respectivamente. Esta descrição é intrigante, pois no momento em que os casos de raiva diminuíam em Minas Gerais, em São Paulo aumentavam. A relação filogenética entre as linhagens da área epidemica de São Paulo com as de Minas Gerais ainda é indeterminada e devem ser a próxima etapa para entender a relação filogeográfica do RABV nestes dois estados brasileiros. A epidemia estudada contraria muitas afirmações correntes, como por exemplo, “a emergência e duração de raiva entre bovinos de uma região dura, em média, 18 meses e cessa repentinamente”; “estas epidemias se caracterizam por perturbação ecológica seguida da introdução de bovinos”. Estes dados como outros apontados anteriormente, devem ser reavaliados, pois os resultados deste estudo sugerem outras hipóteses. 158 No Brasil a raiva entre D. rotundus é endêmica. A população deste animal necessita ser controlada por meios ecológicos eficientes e novos métodos de vacinação, como o sugerido por Almeida et al. (2008), devem ser continuamente pesquisados. A vacinação dos herbívoros de criação deve ser realizada amplamente e o Estado brasileiro deve estimulá-la através de campanhas educativas. 159 6.Conclusões As análises dos resultados deste trabalho permitem expressar, pelo menos sete conclusões: 1- A área RD1 é produto da expansão da área endêmica do Estado de São Paulo. 2- A menor identidade encontrada entre as linhagens da área RD1 quando comparada com as linhagens das áreas RD2 e RD3 indica que, provavelmente, as epidemias destas áreas tiveram origens distintas. 3- A área RD3 é uma expansão da área RD2. 4- As análises das linhagens do RABV AgV3 estudadas permite afirmar que um conjunto de linhagens AgV3 (Subclado “Antigas”), semelhantes às linhagens de RD1, circulavam em São Paulo anteriormente ao ano de 1998 e foram substituídas, a partir deste ano, pelas linhagens das áreas RD2 e RD3. 5- A origem das linhagens RD2/RD3 é indeterminada. 6- A epidemia 1997-2002 foi decorrente da falta de vacinação dos animais envolvidos, pois com o incremento de vacinação a epidemia cessou. 7- A conclusão geral e mais importante dos resultados deste trabalho é afirmar que as linhagens AgV3 que circulam entre D. rotundus no Brasil são muito conservadas em relação ao tempo e ao espaço. 160 Referências Acha PN, Szyfres B. 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..........................L..........................................................................T.....I.. ..........................L..........................................................................T........ 192 PV Consenso BR 00BR6866B 00BR6867B 00BU1471B 00BU178B 00BU5572B 00BU889B 00CC5301B 00CC7016B 00CC7018B 00CC778B 00IT6261B 00JR2983B 00LI2617B 00LI2885B 00LI4998B 00MO210E 00MO4812B 00MO756B 00MR3251B 00MR6093B 00MT2986B 00NA1292B 00NA3299B 00PE1559B 00PE312B 00PE5285B 00PE5475B 00PI776B 00PN3141B 00PN5151B 00SI1333E 00SO4553B 00SS232B 00TA6195B 00TU1283B 00VA1040B 00VA1948E 00VA4631B 00VA555E 00VA655E 00VA788B 01AM1064B 01AT7590B 01CA142B 01CA1501B 01CC159B 01ES7518B 01IB1195B 01IP40B 01IT1422E 01IT4693EQ 01IT7343B 01JR1500B 01MC7792B 01MO1433B 01MR272B 01PE1395B 01SS910B 01VL5458B 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 ....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....| TAYEDCSGLVSFTGFIKQINLTAREAILYFFHKNFEEEIRRMFEPGQETAVPHSYFIHFRSLGLSGKSPYSSNAVGHVFNLIHFVGCYMGQVRSLNATVIAACAPHEMSV ..........................L..........................................................................T........ ..........................L..........................................................................T........ ..........................L..........................................................................T........ ..........................L..........................................................................T........ ..........................L..........................................................................T........ ..........................L..........................................................................T........ ..........................L..........................................................................T........ ..........................L..........................................................................T........ 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Figura 41: Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da N da nucleoproteína das linhagens do RABV AgV3 estudada. Os amino ácidos das colunas em tom cinza são aqueles encontrados em todas as linhagens e, portanto, são assinaturas genéticas. A seqüência Consenso BR está em vermelho. O nome das seqüências da área RD1 é mostrado em cor verde e os amino ácidos que caracterizam estas seqüências, as assinaturas da área RD1, estão circundados também em verde. A numeração da primeira linha da figura se refere ao número da posição do amino ácido em relação à amostra fixa Pasteur Virus. 195 PV Consenso BR 97MR248B 97SA3044B 97SA719B 97SA988B 98AC1411B 98BR5114B 98JA1192B 98JO4307B 98JO4849B 98MG366B 98PI4568E 98SA4375B 98SA815B 98SJ4992B 98SO2119B 98SO2478B 98SO3826B 98SU144B 99AR2690B 99CC2394B 99JO2193B 99JO3960B 99NA5367B 99PE4533B 99PI1328B 99PI1929B 99PI4026B 99SO1989B 99SO3951B 99VA5767E 00AT81B 00BJ1947B 00BR153B 00BR196B 00BR2685B 00BR4545B 00BR5347B 00BR5402B 00BR6867B 00CC7016B 00CC7018B 00CC778B 00MO1471B 00MO210E 00MO756B 00NA3299B 00PE312B 00PE5285B 00PI776B 00PN3141B 00SO4553B 00VA1040B 00VA4631B 00VA555E 00VA788B 01AM1064B 01CA142B 01CA1501B 01ES7518B 01IP40B 01IT4693E 01MC7792B 01MR272B 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 ....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....| MVPQALLFVPLLVFPLCFGKFPIYTIPDKLGPWSPIDIHHLSCPNNLVVEDEGCTNLSGFSYMELKVGYISAIKMNGFTCTGVVTEAETYTNFVGYVTTT 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.IL.........ISS..L.....................................K..................V......................... 196 PV Consenso BR 97MR248B 97SA3044B 97SA719B 97SA988B 98AC1411B 98BR5114B 98JA1192B 98JO4307B 98JO4849B 98MG366B 98PI4568E 98SA4375B 98SA815B 98SJ4992B 98SO2119B 98SO2478B 98SO3826B 98SU144B 99AR2690B 99CC2394B 99JO2193B 99JO3960B 99NA5367B 99PE4533B 99PI1328B 99PI1929B 99PI4026B 99SO1989B 99SO3951B 99VA5767E 00AT81B 00BJ1947B 00BR153B 00BR196B 00BR2685B 00BR4545B 00BR5347B 00BR5402B 00BR6867B 00CC7016B 00CC7018B 00CC778B 00MO1471B 00MO210E 00MO756B 00NA3299B 00PE312B 00PE5285B 00PI776B 00PN3141B 00SO4553B 00VA1040B 00VA4631B 00VA555E 00VA788B 01AM1064B 01CA142B 01CA1501B 01ES7518B 01IP40B 01IT4693E 01MC7792B 01MR272B 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 ....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....| FKRKHFRPTPDACRAAYNWKMAGDPRYEESLHNPYPDYHWLRTVKTTKESLVIISPSVADLDPYDRSLHSRVFPGGNCSGVAVSSTYCSTNHDYTIWMPE ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. ........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. 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........I......................Q...................I.............K..........K.L.IT.................. 197 PV Consenso BR 97MR248B 97SA3044B 97SA719B 97SA988B 98AC1411B 98BR5114B 98JA1192B 98JO4307B 98JO4849B 98MG366B 98PI4568E 98SA4375B 98SA815B 98SJ4992B 98SO2119B 98SO2478B 98SO3826B 98SU144B 99AR2690B 99CC2394B 99JO2193B 99JO3960B 99NA5367B 99PE4533B 99PI1328B 99PI1929B 99PI4026B 99SO1989B 99SO3951B 99VA5767E 00AT81B 00BJ1947B 00BR153B 00BR196B 00BR2685B 00BR4545B 00BR5347B 00BR5402B 00BR6867B 00CC7016B 00CC7018B 00CC778B 00MO1471B 00MO210E 00MO756B 00NA3299B 00PE312B 00PE5285B 00PI776B 00PN3141B 00SO4553B 00VA1040B 00VA4631B 00VA555E 00VA788B 01AM1064B 01CA142B 01CA1501B 01ES7518B 01IP40B 01IT4693E 01MC7792B 01MR272B 210 220 230 240 250 260 ....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|... NPRLGMSCDIFTNSRGKRASKGSETCGFVDERGLYKSLKGACKLKLCGVLGLRLMDGTWVAMQTSNET E....T......S.K..K....GK....................................XI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DN. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GR....................................SI....D. E....T......S.K..K....GR....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DN. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GR....................................SI...... E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GR....................................SI....D. E....T......S.K..K....GR....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...D.. E....T......S.K..K....GR....................................SI....D. E....T......S.K..K....GR....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...... E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...... E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...... E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GR....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI....D. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK............................K.......SI...DD. E....T......S.K..K....GK............................K.......SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. E....T......S.K..K....GK....................................SI...DD. Figura 42: Comparação das seqüências de amino ácidos alinhados e deduzidos a partir das seqüências genéticas do gene da Glicoproteína G das linhagens do RABV AgV3 estudadas. Os amino ácidos das colunas em tom cinza são aqueles encontrados em todas as linhagens e, portanto, são assinaturas genéticas. A seqüência Consenso BR está em vermelho. A numeração da primeira linha da figura se refere ao número da posição do amino ácido em relação à amostra fixa Pasteur Virus. 198 Protocolos das Reações de Material e Métodos CUIDADOS: fazer uso de cabines de fluxo laminar e utilizar controles positivo e negativo. Para todas as reações utilizar tubos e ponteiras com filtro RNase e DNase free. Extração de RNA Insumos: Trizol® (Invitrogen), clorofórmio, álcool isopropil, etanol 75%, água ultra pura DNAse, RNAse free. Aplicação da Técnica Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. 1. Macerar e picotar o material do qual se deseja extrair o RNA com bisturi estéril e descartável. 2. Após a maceração colocar a amostra em tubos de 1,5mL, acrescentando 1mL de Trizol®. 3. Agitar vigorasamente por aproximadamente 20 segundos e deixar à temperatura ambiente por 05 minutos. 4. Acrescentar 200µL de clorofórmio. 5. Agitar vigorasamente. 6. Centrifugar por 15 minutos a 12000g na temperatura de 4°C. 7. Após esta centrifugação passar a fase aquosa para outro tubo de 1,5mL. 8. Acrescentar álcool isopropil, no mesmo volume da fase aquosa. 9. Agitar vigorasamente e deixar a temperatura ambiente por 10 minutos. 10. Centrifugar por 10 minutos a 12000g/4°C. 11. Após a centrifugação remover o sobrenadante. 12. Após a remoção do sobrenadante, acrescentar 1mL de etanol a 75%. 13. Agitar vigorasamente e centrifugar por 10 minutos a 7000g/4°C. 199 14. Após a centrifugação descartar o etanol e secar o conteúdo. 15. Após a secagem ressuspender o RNA final em 25µL de água DNAse/RNAse free e deixar em banho Maria seco por 10 minutos à 56°C. 16. “Spin” e guardar a -80°C até o momento do uso. Transcrição Reversa (RT) Insumos: 5X First Strand Buffer, oligonucleotídeos (dNTP 10Mm), 1,4Dithiothreitol (DTT), SuperScript II Reverse Transcriptase, primers senso e antisenso, água RNase e DNase free, RNaseOUT, todos da marca INVITROGEN. Aplicação da Técnica Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. Identificar os tubos de 0,5mL para cada amostra a ser testada. Descongelar todos os reagentes em gelo. Agitar vigorasamente e dar spin em cada um dos reagentes. Fazer um mix de todos os reagentes utilizados na reação para um total de amostras testadas, seguindo o quadro abaixo: Reagente Volume em µL por amostra 5x First Strand Buffer 8 dNTPs 10 mM 6 DTT 4 Transcriptase reversa 1 Primer senso 5 Primer antisenso 5 Água 12 RNaseOUT 1 Total de MIX 42 RNA 5 Distribuir 42µL do mix de reagente em cada tubo de amostra a ser testada e em seguida acrescentar 5µL do RNA extraído de cada amostra. 200 Dar spin em cada tubo e levar ao termociclador submetendo a uma ciclagem de 42ºC por 1 hora. Em seguida utilizar o cDNA produzido para o PCR ou guardar as reações a 4ºC até o momento de uso. Reação em cadeia pela polimerase (PCR) Insumos: dNTPs à 1,25 mmolar, água ultra pura DNAse/RNAse free, primers senso e anti-senso, Taq DNA-polimerase (INVITROGEN), 10x PCR Buffer e cloreto de magnésio (MgCl2). Aplicação da Técnica Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. Identificar os tubos de 0,5mL para cada amostra a ser testada. Descongelar todos os reagentes em gelo. Agitar vigorasamente e dar spin em cada um dos reagentes utilizados na reação de PCR. Fazer um mix de todos os reagentes utilizadas na reação para um total de amostras testadas, seguindo o quadro abaixo: Reagente Volume em µL 10x PCR Buffer 10 dNTPs 1,25 mM 16 Primer senso 5 Primer anti-senso 5 MgCl2 5 Taq DNA-polimerase 0,5 Água ultra-pura 50,5 Total de MIX 92 cDNA 10 Distribuir 92µL do mix de reagente em cada tubo de amostra a ser testada e em seguida acrescentar 10µL do cDNA de cada amostra. Levar ao termociclador programado com os seguintes ciclos: 201 Ciclo Denaturação Amplificação – 35x Extensão final Conservação Temperatura/Tempo 95ºC/ 5 min 94ºC/ 45 seg - denaturação 55ºC/ 45 seg - anelamento 72ºC/ 2 min - extensão 72ºC/ 10 min 10ºC Após a termociclagem, manter a -20ºC até o uso. Eletroforese Insumos: Agarose (INVITROGEN); Brometo de etídio (INVITROGEN); Tampão Tris-Borato EDTA (TBE); Água DNase e RNase free; Peso molecular (MW) 100 pares de bases (PB) (INVITROGEN); 10X Blue Juice Gel Loading Buffer (INVITROGEN). Referência: Sambrook J, Fritsch EF, Maniatis T. Molecular cloning: a Laboratory Manual, 2nd edition, Cold Spring Harbor Laboratory, New York, 1989. Gel de agarose Pesar 1g de agarose e adicionar em 100mL de TBE (gel de agarose a 1%), aquecer a mistura até dissolver a agarose. Adicionar a mistura na forma com espaçadores da cuba eletrorética e deixar em temperatura ambiente até a solidificação da agarose. Preencher a cuba eletroforética com tampão TBE e dissolver 20µL de Brometo de etídio no tampão da cuba. Colocar a forma com o gel solidificado dentro da cuba. Pipetar 08µL do produto do PCR descongelado mais 2 µL de 10X Blue Juice Gel Loading Buffer e adicionar no poço do gel de agarose. Adicionar 5µL de peso molecular 100pb em um dos poços. Ligar os fios da cuba eletroforética até a fonte eletroforética programada para corrida de 1 hora a 110 Volts. Após este tempo observar o resultado da corrida eletroforética em transluminador de UV. 202 CUIDADOS: O brometo de etídio é carcinogênico e seu uso e descarte devem seguir as normas adequadas. Toda a técnica tem que ser realizada somente na sala de eletroforese, evitando contaminações com produtos do PCR. Purificação direto do produto do PCR utilizando o kit GFXTM PCR DNA and GEL Band Purification Kit Insumos: Tampão de captura (capture Buffer), tampão de lavagem (Wash Buffer) e tampão de eluição (Elution Buffer – EB) presentes no kit GFXTM PCR DNA and Gel Band Purification Kit (General Motors Healthcare). Aplicação da Técnica: Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. Descongelar o produto de PCR. Adicionar no máximo 100µL do produto de PCR em tubo de 1,5µL e adicionar 500µL de Capture Buffer, misturar com a ponteira de 4 a 6 vezes. Transferir a mistura para coluna (presente no kit) já dentro do tubo coletor (também presentes no kit). Centrifugar por 30 segundos a 14000g. Descartar o material do tubo coletor (cuidado para não encostar o liquido na parte final da coluna interna), voltar a coluna para o tubo coletor e acrescentar 500µL de Wash Buffer. Centrifugar por 30 segundos a 14000g. Descartar o tubo coletor e colocar a coluna no tubo de 1,5mL novo com identificação da amostra. Para eluir o DNA da coluna, acrescentar de 50 a 10µL de Elution Buffer - EB (quantidade depende da concentração de DNA na amostra e é subjetivo- bandas fortes mais EB, bandas fracas menos EB), manter por 1minuto a temperatura ambiente e centrifugar por 1minuto a 14000g. Descartar a coluna e fechar o tubo contendo o DNA purificado. 203 CUIDADOS: Toda a técnica tem que ser realizada somente na sala de eletroforese. Purificação do produto do PCR à partir do gel utilizando o kit GFXTM PCR DNA and GEL Band Purification Kit *Utilizar em caso de identificação de banda espúria no produto de PCR. Insumos: Tampão de captura (capture Buffer), tampão de lavagem (Wash Buffer), tampão de eluição (Elution Buffer - EB) presentes no kit GFXTM PCR DNA and Gel Band Purification Kit ((General Motors Healthcare); agarose; tampão tris-borato EDTA (TBE); água DNase e RNase free; peso molecular 100 pares de base (pb); low DNA mass ladder; 10X Blue Juice gel loading buffer. Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. Purificação Pesar tubos para micro centrífuga de 1.5mL de capacidade e anotar seu peso. Recortar o pedaço do gel de agarose contendo a banda a ser purificada e colocá-los nos tubos para microcentrífuga de 1.5mL já pesados e identificados. Pesar os tubos novamente para obter o peso do pedaço de gel recortado. Acrescentar o tampão de captura em cada tubo, na proporção de 10µL para cada 10mg de gel. Fechar o tubo e agitar vigorosamente. Incubar a 60°C, em banho seco em bloco até a agarose se dissolver por completo (5-15 minutos). Durante a incubação, acondicionar a coluna (presente no kit) no tubo coletor (também presente no kit), com a identificação da amostra a ser utilizada. Após a completa dissolução da agarose, centrifugar o tubo rapidamente em microcentrífuga e transferir a amostra do tubo para a coluna, já dentro do tubo coletor. Incubar a temperatura ambiente por 1 minuto. Centrifugar por 30 segundos a 14000g. 204 Descartar o material do tubo coletor (cuidado para não encostar o líquido na parte final da coluna), voltar a coluna para o tubo coletor e acrescentar 500µL de Wash Buffer . Centrifugar por 30 segundos a 14000g. Descartar o tubo coletor e colocar a coluna em um novo tubo de 1.5mL identificado. Para eluir o DNA da coluna, acrescentar de 50 a 10µL de tampão EB (depende da concentração de DNA na amostra), deixar por 1 minuto a temperatura ambiente e centrifugar por 1minuto a 14000g. Descartar a coluna e fechar o tubo contendo o DNA purificado. CUIDADOS: Toda a técnica tem que ser realizada na sala de eletroforese, para evitar contaminação por DNA. O brometo de etídio é carcinogênico. Quantificação do DNA purificado realizado através do uso de Low DNA mass ladder Insumos: Agarose; tampão tris-borato EDTA (TBE); água DNase e RNase free; low DNA mass ladder (INVITROGEN); 10X Blue Juice gel loading buffer. Aplicação da Técnica Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. Pesar 1 grama de agarose e adicionar em 50 mililitros de TBE (gel de agarose a 2%), aquecer a mistura até dissolver a agarose. Adicionar a mistura na forma com espaçadores da cuba eletrorética e deixar em temperatura ambiente até a solidificação da agarose. Preencher a cuba eletroforética com tampão TBE e dissolver 20µL de Brometo de Etídio no tampão da cuba. Colocar a forma com o gel solidificado dentro da cuba. Com ponteiras de 10µL pipetar 4µL do DNA purificado juntamente com 1µL de 10X Blue Juice gel loading buffer e adicionar no poço do gel de agarose. Adicionar 4µL de low DNA mass ladder em um dos poços. 205 Ligar os fios da cuba eletroforética até a fonte eletroforética programada para corrida de 1 hora a 110 Volts. Após este tempo observar o resultado da corrida eletroforética em transluminador de UV. Observar a intensidade da banda de cada amostra e comparar com a intensidade dos tamanhos de fragmentos de DNA do low DNA mass ladder, a qual para cada tamanho de fragmento de DNA é fornecido o volume em ng de DNA da amostra em tabela anexa ao produto. Em seguida manter a amostra a -20ºC até o momento da técnica de reação de seqüenciamento. CUIDADOS: Toda a técnica deve ser realizada na sala de eletroforese para contaminação por DNA. O brometo de etídio é carcinogênico. Reação de Seqüenciamento Insumos: água ultra pura DNA/RNAse free; primers senso anti-senso à 3,2 mmolar; BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit (Amersham Biosciences™). Todas as etapas a seguir devem ser realizadas em ambiente pouco iluminado. Aplicação da Técnica Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. Identificar os tubos de 0,2mL para cada amostra a ser seqüenciada. Descongelar todos os reagentes em gelo. Agitar vigorasamente e dar spin em cada um dos reagentes utilizados na reação de PCR. Não agitar vigorasamente o BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit. Fazer um mix de todos os reagentes utilizados na reação para um total de amostras testadas, seguindo o quadro a seguir: 206 MIX BigDye Primer 3,2uM PCR H2O Total µL 4 1 Definir pelo resultado de quantificação de DNA Definir completando até 10 µL 10 µL A quantidade de água e produto de PCR depende da quantificação do DNA. Quanto mais concentrado o DNA menos produto será utilizado. Seguir a tabela abaixo em relação ao tamanho do amplicon: Produto de PCR Quantidade 100-200bp 1-3ng 200-500bp 3-10ng 500-1000bp 5-20ng 1000-2000bp 10-40ng >2000bp 40-100ng Levar ao termociclador programado com os seguintes ciclos: 96°C 96°C 50°C 60°C 10°C 1 min 10 seg 5 seg 35 ciclos 4 min Conservação Assim que terminar a ciclagem, manter a reação a 4ºC para a purificação da reação de seqüenciamento. O controle da reação se faz com a amostra pGEM que faz parte do BigDye Terminator v3.1 Cycle Sequencing Kit (Amersham Biosciences™). A reação de controle se faz como especificado na tabela abaixo: MIX µL BigDye 4 Primer 0,8uM 4 pGEM 200ng/uL 1 H2O 1 Total 10 207 Purificação da Reação de Seqüenciamento e Preparo da Placa de Sequenciamento Insumos: Gelo em raspas; água ultra pura DNA/RNAse free; isopropanol 66%; etanol 70 %; formamida HiDi (Applied Biosystems). Aplicação da Técnica Aplicar a técnica de acordo com as instruções do fabricante. Adicionar 90 µL de isopropanol 66% a cada tubo da reação de seqüenciamento. Spin na reação de seqüenciamento e adicionar 10 µL em cada tubo com isopropanol 66%. Agite manualmente os tubos para homogeneizar seguido spin. Manter os tubos à temperatura ambiente por 20 minutos. Centrifugar os tubos à temperatura ambiente em microcentrífuga por 25 minutos a 14000 g. Remova o sobrenadante por aspiração. Adicione 170uL de Etanol 70% para lavar o pellet. Centrifugar os tubos à temperatura ambiente em microcentrífuga por 10 minutos a 14000 g. Remova o sobrenadante por aspiração e deixe o pellet secar ao ar por cerca de 30-40 minutos. Ressuspender o pellet em 10uL de Formamida Hi-Di. Agitar vigorasamente e manter a 4ºC protegido da luz. Caso as reações não sejam corridas logo em seguida, secar as reações e estocar a placa ou os tubos vedados (envoltos por alumínio) à -20ºC até levar para seqüenciar, sem ressuspender na formamida Hi-Di. Ressuspender em 10uL de formamida Hi-Di, agitar vigorasamente e dar spin. Caso as amostras tenham sido estocadas secas, retirar do freezer e após chegar a temperatura ambiente ressuspender em 10uL de formamida Hi-Di, agitar vigorasamente e dar spin. Transferir as amostras para a placa de sequenciamento e dar spin. 208 Denaturar a placa por 95ºC durante 5 min e colocar imediatamente em gelo por aproximadamente 5 min. Em seguida dar spin novamente na placa e colocar no gelo imediatamente. Deixar no gelo até o momento da corrida eletroforética no seqüenciador. Após a corrida eletroforética no seqüenciador extrair os dados gerados (eletroferogramo) para uso com softwares de bioinformática relacionados aos ácidos nucléicos. 209