D O W N L O A D - Centro Islâmico Brasileiro

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Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Apresentação
Louvado seja Deus, o Único, o Absoluto, Que não teve esposa nem filho, e ninguém
se compara a Ele. Que a paz e a graça de Deus esteja com o Seu Mensageiro, Mohammad,
que disse: "Eu sou o mais próximo das pessoas a Jesus, filho de Maria." Que a graça de Deus
esteja com todos os mensageiros, com os que os seguem devidamente, até o Dia do Juízo
Final.
Li o livro "A Unicidade de Deus e Mohammad (L\ paz esteja com ele ),na Bíblia
Sagrada", da autoria do Cheikh Amin Karam, Imame da mesquita de Lages e achei que foi um
esforço louvável, em que reuniu estudos e análises das profecias da Bíblia Sagrada, que
indicam que a crença monoteísta é o princípio básico na mensagem dos profetas (que a paz
esteja com eles) que profetizaram o advento do Profeta Mohammad (Deus o abençoe e lhe dê
paz) com a lei islâmica.
Utilizar os textos da Bíblia Sagrada como testemunha é coisa rara devido a uma série
de considerações, algumas das quais são: A Bíblia Sagrada não constitui uma fonte islâmica
devido à crença dos muçulmanos quanto às alterações desses textos, denunciados no Alcorão.
Os livros da sunna nos informam que o Profeta (SAAS) encontrou, uma vez, uma folha da
Tora na mão de Ômar Ibn AI Khattab, contendo as características de Mohammad e o anúncio
de Moisés de seu advento. Quando Ômar quis utilizar aquilo como argumento da
autenticidade do Profeta Mohamad, sinais de zanga apareceram no rosto do Profeta (SAAS),
que disse: "Deixa a folha de lado, ó Ômar. Não vos trouxe a mensagem cristalina? Por Deus,
se Moisés estivesse vivo, não teria outra coisa além de me seguir." Por isso. os muçulmanos
se afastaram de analisar a Bíblia Sagrada, satisfazendo-se em crer em sua versão original (a
Tora, o Evangelho e os Salmos). A crença na versão original dos Livros Sagrados é
uma condição do Islam. Milhares de orientalistas europeus, porém, judeus e cristãos, se
puseram a estudar o Alcorão Sagrado e seus significados durante os séculos passados,
esperando encontrar nele falhas com as quais pudessem colocar dúvidas na cabeça dos
muçulmanos a respeito de seu Livro. O resultado, porém, foi a conversão de muitos deles, que
se tornaram pregadores islâmicos, porque o Alcorão Sagrado como o Livro Final dentre os
Livros revelados, ajudou-os a entenderem a versão original da Bíblia. O Alcorão abrange as
palavras de Deus, Altíssimo, e é a principal fonte islâmica. Foi revelado para esclarecer às
pessoas quanto lhes havia sido revelado antes. O Alcorão assumiu essa tarefa ao dirigir-se aos
Povos do Livro, discutindo com eles o conteúdo da Tora e do Evangelho. Ele condenou a
discriminação dos judeus, pois dizem "Somos os filhos queridos de Deus". O Alcorão, na
maioria de suas suratas, confirma que a mensagem de Jesus, filho de Maria (a paz esteja com
ambos) foi quanto à adoração ao Deus Único, que a crença na "Trindade" foi introduzida no
cristianismo, que Jesus anunciou a vinda de um Profeta, que viria depois dele, de nome
Ahmad. O Alcorão também elogiou os discípulos de Jesus por terem sido monoteístas, ou
seja, muçulmanos. O texto alcorânico possui um estilo claro e eloquente, desafiando a todos
os seres humanos.
As inúmeras versões da Bíblia, e a rejeição do Vaticano a algumas delas, o aparecimento de
várias seitas modernas dentro da Igreja tem como causa o exagero na compreensão dos Povos
do Livro a seu Livro Sagrado. Enquanto pesquisadores em história das religiões trataram das
cismas com estudos, análises e conclusões, em milhares de livros, publicados a esse respeito,
em várias línguas, livros esses utilizadas nas universidades européias como fontes, os
muçulmanos só se puseram a analisar a Bíblia depois que a Europa adotou a cruz como
símbolo para invadir os lares dos muçulmanos, seis séculos atrás. A Europa se unificou para
isso, utilizando de todos os seus meios para ocuparem as costas sírias, uma parte do Egito, e
invadiu Jerusalém, com guerras destruidoras, matando milhares de muçulmanos, não
poupando mulheres crianças e idosos. Tudo isso,
foi praticado em nome da cruz e o fenômeno de a Europa tornar a matança a invasão e a
ocupação um ato religioso, em nome do cristianismo. Cabia aos árabes e muçulmanos
corrigirem os erros europeus quanto à compreensão da Bíblia, confirmando-lhe que Je¬sus (a
paz esteja com ele) não a ordenou a invasão, a inimizade, a ocupação, a promoção as guerras
e a consequente matança de quem acreditava em Deus, pois a mensagem de Jesus se restringia
em convocar as pessoas para a adoração do Deus Único. Assumiu essa tarefa de
esclarecimento o cheikh Ahmad Ibn Taimiya, em seu livro:
"A Verdade Sobre Quem Modificou a Religião Cristã" . Finalmente, o herói, Salahiddin AI
Aiubi (Saladino) libertou Jerusalém dos invasores europeus, libertando, consequentemente, as
costas sírias.
Na época moderna, quando a invasão européia aos lares árabes e muçulmanos se
renovou, sob o símbolo do colonialismo, e perante a frase do comandante francês, que invadiu
Damasco, depois da batalha de Maisalun, ao colocar o pé sobre o túmulo de Salahiddin, e
dizer: "Levanta, ó Saladino; agora as guerras das Cruzadas terminaram!" E perante o
fenômeno da colonização sionista em Jerusalém, todos se aperceberam que a chama de dar
cunho religioso às invasões européias ou de dar cunho político à religião contra o Islam
continua acesa. Por isso, muitos escritores muçulmanos se propuseram explicar, novamente,
que a origem do cristianismo é uma mensagem divina que convoca as pessoas para o
monoteísmo,
A harmonia entre as pessoas, com o espírito do amor, do perdão e da utilizando os textos
autênticos da Bíblia.
Portanto, a terra dos árabes é o berço dos Livros Sagrados e das .eligiões celestiais, e
eles, mais que ninguém, conhecem a sua exegese :: explicação para as pessoas.
Vivem na Europa, América e Austrália milhões de árabes e muçulmanos, emigrantes,
a maioria dos quais sente-se frustrada perante a onda da politização da religião ou de dar
cunho religioso à à agressão contra os árabes e muçulmanos, em nome da religião.
Em algumas igrejas, quando o padre, em seu sermão, afirma que a Palestina é a terra
prometida dos israelitas, o árabe cristão ou
muçulmano, fica com o pensamento sombrio, preocupado com sua pátria-mãe e com o Mundo
Árabe. Perante esse fenômeno que domina a maior parte dos templos eram necessários livros
que explicassem, com a língua de cada povo, aos filhos da comunidade, que a origem das
religiões celestiais é uma só, cujo objetivo é vincular a criatura com o Criador, adotar a crença
monoteísta, o apego aos valores e ensinamentos altruísticos, trazidos pelos mensageiros de
Deus, que proibiram a discriminação, a matança ilegal; que elas são complementos umas das
outras, tendo como testemunhos os textos da Bíblia, para que os membros da nossa
comunidade e os seguidores da Igreja possam fazer uma comparação entre dois pensamentos
ou duas interpretações de um só Livro: a Bíblia Sagrada. O livro do meu colega, Cheikh Amin
Karam, veio preencher essa lacuna. A tradução para a língua portuguesa coube ao pro f. Samir
EI Hayek que já traduziu vários livros islâmicos, sendo que o mais importante de tudo foi a
tradução fiel do Alcorão Sagrado, adotada por todos os muçulmanos, já há mais de um quarto
de século.
Finalizamos, dando louvores a Deus, Senhor do Universo.
Londrina, 27 de Rajab, 1419 H.
Ahmad Saleh Mahairi
Imam da Mesquita de Londrina
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Introdução
Louvado seja Deus, a Quem rendemos graças, de quem solicitamos ajuda, orientação e
perdão. Pedimos refúgio em Deus contra as maldades das nossas almas e os malefícios das
nossas ações. A quem Deus orientar, estará orientado, e a quem desorientar, não encontrará
protetor nem orientador. Prestamos testemunho de que não há outra dividade além de Deus,
Único, sem parceiros, e prestamos testemunho de que Mohammad é Seu servo e Mensageiro,
o destacado dentre Suas criaturas e o escolhido dentre Seus servos: Deus o enviou como
misericórdia para a humanidade. Que a paz e a graça de Deus estejam com ele, com seus
familiares, seus companheiros e seus seguidores, até ao Dia do Juízo.
Ó crentes, temei a Deus como deve ser temido, e não morrais senão como
muçulmanos" (3:102).
Ó crentes, temei a Deus e falai apropriadamente.
Ele emendará as vossas ações e vos absolverá dos vossos pecados; e quem obedecer a
Deus e ao Seu Mensageiro terá logrado um magnífico benefício" (33:70).
Deus, Exaltado e glorificado seja, diz: "A religião para Deus é o Islam" (2: 103). E
diz ainda: "E quem quer que almeje (impingir) outra religião, que não seja o Islam,
(aquela) jamais será aceita" (3:85).
Se estivermos conscientes de que essas palavras são autênticas, se a lógica nos diz que
Deus é Singular, é impossível que haja várias religiões. Pode ser que haja diferenças nas leis e
nos preceitos, de um povo para outro, de um tempo para outro, de acordo com a determinação
de Deus para aquelas leis, pois é levada em consideração a situação social das pessoas, a
variedade das épocas em questão e o local. Porém, a crença permanece a mesma e permanece
imutável. Todos os profetas enviados por Deus ordenaram seus povos a adorarem e se
submeterem somente a Ele. Diz Deus: "Jamais enviamos mensageiro algum, antes de ti,
sem que lhe tivéssemos revelado que: Não há outra divindade além de Mim. Adora-Me,
e serve-Me!" (21 :25).
Foi pela misericórdia de Deus para com os Seus servos e pela Sua sabedoria, que Ele
revelou Livros para alguns de Seus mensageiros, tornando esses Livros escrituras destinadas
aos seus povos, que se orientam por ela e, seguem seus preceitos. Porém, os povos antigos
não conservaram a pureza desses livros. O que foi deixado pelos ancestrais, os descendentes
adulteram, apagando, com suas mãos, a luz divina que existia nesses livros. A revelação,
então, é deturpada, tornando-se incapaz de consertar os desvios e instituir o direito e a justiça,
de iluminar os corações com a verdadeira crença. A situação perdurou até que a sapiência de
Deus fez enviar um novo profeta para restituir o direito, renovando a luz da revelação,
conduzindo os povos para o caminho da salvação. Ele fortalece a crença dos corações, elimina
as
inverdades, as dúvidas, as deturpações introduzidas nos princípios religiosos e na crença
monoteísta, restituindo a adoração ao Deus Único, seguindo a Sua orientação.
A situação assim perdurou até que Deus, glorificado seja, estendeu Suas benesses
sobre toda a humanidade, enviando Mohammad (Deus o abençoe e lhe dê paz) como Seu
Mensageiro. Foi o derradeiro mensageiro e o postremo dos profetas. Deus lhe revelou o Seu
Livro, o Alcorão Sagrado, abrangendo Suas palavras, e garantiu a sua conservação para toda a
humanidade, até ao Dia do Juízo Final.
Isso foi atestado pelos Livros Sagrados, a Tora, o Evangelho e o Alcorão.
Será que os adeptos da Tora e do Evangelho crêem no que neles foi revelado por
Deus? Seguiram, acaso, os conselhos de seus profetas, atestados pelo Alcorão, a revelação
final quanto à crença em Deus, Único, à sinceridade na adoração a Ele, eao ato de não Lhe
atribuírem parceiros? Acreditaram eles, acaso, em todos DS profetas e mensageiros, sem
distinção, desde Adão até :\lohammad (a paz esteja com eles todos)?
Utilizando-nos do raciocínio lógico, somos obrigados J. acreditar em todos os profetas,
e a considerar todas as mensagens verdadeiras; porém, nossa crença deve estar :Jicerçada em
dois princípios:
Primeiro: o raciocínio lógico, a pesquisa e o estudo para se conhecer a verdade.
Segundo: a sucessão das informações sobre esses ;rofetas e mensageiros, deve ser
prova para todas as pessoas.
Como não tivemos a felicidade de ver esses profetas, e não tivemos o destino de ser
seus contemporâneos, não podemos crer em alguns e descrer em outros.
Foi o que nos levou a escrevermos este livro que se dedica aos adeptos da Tora e do
Evangelho, e que irá res¬ponder a certas perguntas. O leitor, com a anuência de Deus,
encontrará exemplos e provas que mostrarão a verdade para quem desejar encontrá-la,
levando-o para o caminho da orientação.
Temos ciência de que um grande número de sábios e pesquisadores escreveram livros
geniais e abrangentes, tratando do mesmo tema. Por mais que nos esforcemos, não vamos
conseguir alcançar seus sucessos. Porém, observamos que muitos desses livros estão restritos
a uma pequena parcela de pesquisadores e especialistas; poucos resultados chegam às mãos
do leitor comum. Por isso, achamos por bem escrever este livro, usando expressões simples,
fáceis para o leitor, de forma sucinta, de forma imparcial, quer na citação de textos já
existentes, quer nas conclusões tiradas, preenchendo as necessidades do leitor. Se
alcançarmos o nosso objetivo, será pela graça de Deus; e se falharmos, será falta nossa.
Pedimos perdão a Deus, tendo a consciência de ter-nos esforçado ao máximo na nossa
tarefa.
"O meu êxito só depende de Deus, em Quem confio e a Quem retornarei,
contrito" (11:88).
Amin Bin Abdel Rahman Karam
Capítulo I
A Unicidade de Deus, nos Três Livros Sagrados
Entre a Crença e a Descrença
Há muitas opiniões antagônicas e diferentes, a ponto de se constituírem em críticas a
respeito da crença em Deus, do s princípios da realidade da religião e da credulidade, e
daimportância da profecia e das mensagens para a vida humana. Há aqueles que negam a
existência de Deus, que são ateus, oponentes a tudo que se relaciona com a crença n’Ele, em
Suas Mensagens e em Seus profetas, renegadores da ressurreição, da congregação, do
Julgamento e do castigo. Há aqueles que crêem na unicidade de Deus, seguem os
ensinamentos dos profetas, acreditam nas nas mensagens divinas, têm certeza da Ressurreição
e do Dia do Juízo Final, que são paciente, de consciência tranquila e pensamentos claros.
Entre ambas as categorias há muitos outros tipos e posições quanto à pureza da crença e
dasalutariedade, quanto à perfeição ou a imperfeição dela. Quanto à proteção da autenticidade
da crença ou a sua mistura com muitas idolatrias, advinhações e politeísmo, manifesto ou
oculto, há também muita discrepância.
Como crente em Deus, na Sua Mensagem e no Dia do Juízo Final, em outras palavras,
como muçulmano, não me importo com os da primeira categoria, que declararam a sua
descrença em e sua negação a tudo que diz respeito a Deus, Sua Mensagem e ao
incognoscível, coisas em que os crentes acreditam. Pessoas desse tipo são mais fáceis de ser
acatadas e mais propensas a ocupar os pensamentos do leitor, em fazer valer o seu ateísmo,
seus pensamentos e sua descrença. Apresento este meu livro aos crentes em Deus, dentre os
adeptos dos Livros Sagrados, mesmo que variem em suas configurações, suas seitas e suas
leis. Pois a base desta nossa pesquisa faz parte de suas escrituras, ou seja, a crença na
unicidade de Deus, nas mensagens divinas e no Dia do Juízo Final.
Todos nós temos ciência de que o ateísmo não se fundamenta em nada, não possui
nenhm sustentáculo, nem tem o apoio de mentalidades lógicas, não tem texto específico, nem
é corroborado pelas mensagens divinas. Pois ele é antagônico à natureza humana, à criação, à
organização cósmica, aos portentos visíveis, à harmonia existente entre os mundos do
universo, de que faz parte a terra, os céus, as nebulosas, os astros e as galáxias, etc ..
O ateu, que descrê na criação de Deus, que descrê no incognoscível, é, do ponto de
vista dos crentes, incapaz, deficiente mental, mais ignorante do que aquele beduíno rústico
que, ao ser questionado quanto à sua crença em Deus, respondeu:
"Se o esterco do camelo é sinal da existência do camelo, se as pegadas são sinais da
passagem de alguém, será que as noites escuras e o firmamento repleto de estrelas não são
sinais do Oniouvinte, Onividente?"
Aqueles que cortaram suas relações com Deus, tiveram seus pensamentos atrofiados,
seus espíritos morreram, mesmo estando vivos, o materialismo encobriu seus sentimentos; são
os descritos pelo Alcorão: "Temos criado para o inferno numerosos gênios e humanos
com corações com os quais não compreendem, olhos com os quais não vêem, e ouvidos
com os quais não ouvem . São como as bestas, quiçá piores, porque são displicentes. Os
mais sublimes atributos pertencem a Allah; invocai-O, pois, e evitai aqueles que
profanam os Seus atributos, porque serão castigados pelo que tiverem cometido" (7:179180).
São também os descritos por Jesus: "Tendo olhos, não vedes? e, tendo ouvidos, não
ouvis? e não vos lembrais?" (Marcos, 8: 18).
O que nos importa aqui é o argumento da crença em Deus - na Sua Unicidade, na
aceitação de todos os Seus mensageiros, sem distinção entre eles -, por parte dos adeptos do
Livro, judeus e cristãos. Em tudo o que foi inferido a essa questão primordial, essas
invenções, adulterando sua pureza, anulando sua influência nas almas, modificando seus
preceitos morais, deteriorando o comportamento, diferenciando pesos e medidas; eis que os
pensamentos se confundiram. Isso é o que foi introduzido nas crenças quanto ao paganismo,
obscurantismo, ocultismo, às advinhações, afastando enormemente da sua religião os povos
do Livro, afastando-os dos mandamentos divinos, e da crença na unicidade de Deus, no Dia
do Juízo Final, quanto ao temor e ao castigo, modificando-lhes a excelência de caráter e o
comportamento.
Mais grave ainda é a descrença deles em alguns profetas e algumas mensagens. Os
judeus descrêem em Jesus e
Mohammad (A paz esteja com eles); os cristãos, com a sua divinização a Jesus e descrença
em Mohammad e na sua mensagem. Isso agravou os desentendimentos, gerando a inveja e a
inimizade, ateando o fogo das guerras devastadoras, entre adeptos de religiões cuja origem
está no grande patriarca e pai dos profetas, Abraão (que a paz esteja com ele), o pregador do
monoteísmo e da submissão à vontade do Deus Unico. Ele anunciou a religião que todas as
mensagens divinas, todos os profetas e todos os livros sagrados, sem excessão, anunciaram,
como mostraremos ao abordarmos esse tema, se Deus quiser.
O homem de comportamento reto, de mente sã, que tem pensamentos sadios e
raciocínio lógico é quem respeita o direito, o argumento e a lógica. Isso só é alcançado se ele
esquecer de seus interesses pessoais, seus lucros materiais, de certas heranças ideológicas e
religiosas, que utiliza o pensamento e o coração no que vê e ouve, de apelos, alegações,
ideologias e crenças, chegará, sem dúvida, com a orientação de Deus, a uma só resposta,
coesa, compro¬vada, ou seja, que a verdade é uma só, em todas as religiões, determinada pelo
mesmo e único Ente, que é Deus. Todas as religiões pregam a crença n'Ele, em todos os Seus
anjos, todos os Seus mensageiros e profetas, em todos os Seus Livros e Suas revelações, sem
fazer distinção entre eles. É isso que a crença islâmica prega, através dos textos alcorânicos e
das tradições do Profeta Mohammad (Que a paz e a graça de Deus estejam com ele).
Deus, na Crença Islâmica
Algumas pessoas não muçulmanas, levadas pela ignorância ou pelo ódio, tentam
configurar o Deus dos
muçulmanos uma lenda, inventada por Mohammad, que deu-lhe o nome de "Allah"; que esse
Deus, na imaginação desses incrédulos, difere do Deus verdadeiro, em que acreditam os
adeptos das duas outras religiões e que é citado na Bíblia Sagrada.
É perda de tempo citarmos aqui as alegações dessas pessoas. Se os sacerdotes e os
rabinos quisessem conhecer a verdade sobre os seus livros sagrados, revelados orginalmente
em hebraico, e não nas línguas em que foram traduzidos, como fazem os muçulmanos que
lêem o Alcorão em árabe, veriam que a palavra "Allah" é o mesmo termo sublime e antigo
que designa o Criador, Que Se revelou e falou com Adão e com Moisés, e inspirou a todos os
profetas posteriores. Allah é o Criador, o Ser Único, Que existe por Si, é o Poderoso, o
Onisciente, Que abrange todos os seres e todas as coisas. É o originador da vida e da morte,
de todo o conhecimento, e o fornecedor do poder; é o Criador por excelência, o Organizador,
o Maestro de todo o Universo. A essência da Divindade da Sua natureza está além da
compreensão humana. Por isso, toda tentativa de assemelhar e encorporar Deus, não será
apenas em vão, mas também a negação de Seus atributos e, certamente, nos levará para o
extravio e o erro.
Muitos filósofos e ideólogos antigos e modernos, pesquisadores nesse campo,
tentaram conhecer a essência divina, porém seu esforço foi em vão, e não chegaram a
resultado algum, retornando sempre ao ponto em que começaram. Muitos ficaram em dúvida,
e outros se refugiaram no ateísmo. A seita cristã, que acredita na
trindade, durante dezessete séculos esgotou os pensamentos de seus sacerdotes e filósosfos, à
procura do conhecimento da essência divina. O que concluíram? Tudo que impuseram Sto
Agostinho e São Tomas de Aquino aos cristãos, acerca da maldição eterna, foi para que
cressem que Deus é trino. Deus, para esclarecer esse ponto, diz, no Alcorão Sagrado:
"São blasfemos aqueles que dizem: Allah é um da Trindade! porquanto não
existe divindade alguma além do Allah Único. Se não desistirem de tudo quanto
afirmam, um doloroso castigo açoitará os incrédulos entre eles" (5:73).
Por isso,os sábios muçulmanos se absterem de querer explicar a essência de Deus é
que essa essência está aquém das palavras que possam descrevê-Lo. Deus possui inúmeros
atributos que não passam de descrições derivadas de Sua essência, nas Suas diferentes
manifestações neste universo que Ele criou sem o auxílio de ninguém.
Por isso, vemos que Deus, Glorificado seja, afirma isso nas seguintes palavras: "Nada
se assemelha a Ele, e é o Oniouvinte, o Onividente" (42:11).
Para os muçulmanos, Deus possui noventa e nove atributos, todos eles descritos com
adjetivos de perfeição e majestade para mostrá-Lo a nós. Por isso, nenhum ser, durante
quatorze séculos, conseguiu acusar os muçulmanos de adorarem mais do que um Deus, ou
que esses atributos demonstrem um grande número de deuses. O mais simples dos
muçulmanos tem plena consciência de que Deus é Um só. A mais curta Surata do Alcorão
atesta a unicidade, a
eternidade e o absolutismo de Deus. A Surata da Unicidade diz:
"Diz: Deus é Único, Deus é Absoluto, não gerou nem foi gerado, e ninguém se
assemelha a Ele" (112: 1-3).
O velho Testamento e os Evangelhos qualificam Deus como sendo Pai, porque é o
Criador dos Seus servos, ama ::os crentes e protege os Seus preferidos. Porém, as igrejas mal
usaram essa qualificação e alegaram a filiação de Jesus a Deus. Talvez seja por isso que o
Alcorão nega utilizar - se dessa qualificação. Tanto o Velho Testamento como o Alcorão
Sagrado condenam a crença na Trindade. O Novo Testamento não a atesta claramente. Porém,
mesmo que contenha algumas alusões sobre a Trindade, isso não é prova suficiente, porque
Jesus não o escreveu nem o atestou, nem tampouco as suas palavras ilustram algo sobre a
Trindade, como mostraremos adiante, se Deus quiser.
Os atributos de Deus não podem ser considerados entidade existentes por si só, ou
separados da existência de Deus. Se assim fosse, não teríamos uma Trindade, mas dezenas
delas. Uma vez que ao homem falta a capacidade de compreender a Identidade de Deus, não
consegue conhecer devidamente a seu Criador, a não ser através de Seus atributos que
descrevem a Sua identidade, os Seus feitos, e liga o Universo a Ele, designando a relação
d'Ele com as Suas criaturas. Por isso, os três Livros Sagrados se negaram a descrever a
identidade de Deus, Sua realidade e Sua essência. Satisfizeram-se em citar os Seus atributos, a
Sua relação, os Seus feitos, as palavras que descrevem a Sua Magnificência, Sua Sublimidade,
o Seu merecimento
de ser adorado e louvado por todas as Suas criaturas.
Dentre os atributos de Deus, glorificado e exaltado seja, contidos no Alcorão Sagrado,
citamos:
"Ele é Allah; não há mais divindade além d'Ele, Soberano, Augusto, Pacífico,
Salvador, Zeloso, Poderoso, Compulsor, Supremo. Glorificado seja Allah, de tudo
quanto (Lhe) associam! Ele é Allah, Criador, Onifeitor, Formador. Seus são os mais
sublimes atributos. Tudo quanto existe nos céus e na terra glorifica-O, porque é o
Poderoso, o Prudentíssimo" (59:23-24).
Podemos afirmar uma importante verdade aos adeptos da Tora e do Evangelho: que a
concepção islâmica de Deus, os Seus nomes e atributos é mais abrangente, mais vasta e mais
clara do que a concepção dos judeus e dos cristãos quanto à identidade sagrada de Deus. Eis
que os noventa e nove sublimes atributos de Deus, que nós conhecemos na religião islâmica,
nos fornece um quadro mais claro, mais completo e mais sagrado de Deus. Ele, Glorificado
seja, é o Criador e Senhor do Universo.
"Vosso Senhor é Allah, Que criou os céus e a terra em seis dias, logo assumiu o
Trono para reger todas as coisas. Junto a Ele ninguém poderá interceder, sem Sua
permissão. Tal é Allah, vosso Senhor! Adorai-O, pois! Não meditais?" (10:3).
Ele, Glorificado seja, é Deus e Senhor de todos os povos e de todas as nações. Todos
para Ele são iguais. Não há distinção entre eles, a não ser pelo temor a Ele.
“Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de ma¬cho e fêmea e vos dividimos
em povos e tribos, para
reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Deus, é o mais
temente. Sabei que Allahé Sapientíssimo e está bem inteirado" (49: 13).
Ele não é o Deus nacionalista, descrito pela Bíblia Sagrada, como "somente Deus de
Israel".
Não desejamos alongar-nos neste assunto, pois haveria necessidade de um livro
específico para tratar dele. Porém, a verdade é que o Deus que os muçulmanos adoram é o
mesmo Deus que enviou Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus e Mohammad (que a paz de Deus
esteja com todos eles); é o mesmo Deus em Quem os judeus e os cristãos acreditam, como é
mencionado na Bíblia Sagrada; é o mesmo Deus que os ingleses chamam de God, os alemães,
de Got, os italianos, de Dio, e assim por diante. É suficiente que o Alcorão Sagrado cite essa
verdade, sobre a qual nenhuma discussão é esclarecedora. O Alcroão diz:
"E não disputeis com os adeptos do Livro, senão da melhor forma, exceto com os
iníquos, dentre eles. Dizeí¬lhes: Cremos no que nos foi revelado, assim como no que vos
foi revelado antes; nosso Allahe o vosso são Um e a Ele nos submetemos" (29:46).
Não acreditamos que, depois dessa exposição, restou alguma dúvida quanto à questão
da uinicidade de Deus, à Sua adoração e à submissão a Ele por parte dos muçulmanos. A
minha intenção não é provar essa disputa importante ao leitor muçulmano, porque é uma
questão evidente. O não muçulmano, porém, judeu ou cristão, deve ter conhecimento disso a
respeito do Islam. Não estou acusando os leitores não muçulmanos de ignorância, mas
citei isso à guisa de pesquisa, para comentar o texto da Bíblia Sagrada a respeito do assunto,
quanto às provas da unicidade de Deus, de ser o Único Criador, de ser o único a merecer a
adoração, para dar a oportunidade aos leitor esde fazerem uma comparação entre os textos da
Bíblia e os textos que ouvem dos sacerdotes e rabinos nas igrejas e sinagogas. Então eles
formarão um juízo, baseados no discernimento e na consciência, a respeito do que vêem e
ouvem. O leitor, se Deus quiser, descobrirá, neste capítulo e nos seguintes, que a questão da
unicidade de Deus e da crença no Profeta Mohammad (que a paz e a graça de Deus estejam
com ele) é fundamentada no que afirmam as religiões e os livros, sendo que isso era do
conhecimento de todos, entre os israelitas, cujos mais importantes profetas foram Moisés e
Jesus (que a paz esteja com eles). A aberração e a adulteração quanto à unicidade de Deus, à
aceitação de Seus mensageiros, só aconteceu quando as mãos humanas se estenderam para os
textos e os adulteraram, guardando para os donos deles o monopólio do conhecimento das
leis, escondendo-as aos olhos das pessoas em geral, como foi o caso, na época de Jesus (a paz
esteja com ele), sob a liderança dos escribas, dos fariseus e dos rabinos, na adminstração do
templo e das liturgias de adoração, especializando-se na manipulação dos pensamentos do
povo, para encherem seus bolsos do dinheiro que era oferecido ao templo. Talvez a prova
mais patente que aparece no Evangelho a esse respeito, são as palavras de Jesus (a paz esteja
com ele), que dizem:
"E os ensinava, dizendo: Não está escrito - 'A minha casa será chamada, por todas as
nações, casa de oração?
Mas vós a tendes feito covil de ladrões'. E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo
ouvido isto, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam, porque toda a multidão
estava admirada acerca da sua doutrina"
(Marcos, 11:17-18).
A Unicidade de Deus na Bíblia
Todos os capítulos do Velho Testamento atestam - por intermédio das palavras dos
profetas, das revelações divinas a esses profetas, através das palavras de Jesus Cristo (a paz
esteja com ele), conservadas nos quatro Evangelhos do Novo Testamento - a uinicidade,
glorificação, sacraticidade de Deus, a adoração a Ele, negando o politeísmo e a semelhança de
alguém com Deus. Esses consideram o politeísmo e a idolatria como um dos maiores pecados
que o homem pode cometer quanto ao seu Criador e Senhor. Todos os capítulos também
ameaçam o politeísta de maldição e de estar afeito à ira de Deus, bem como ao castigo,
terreno e Futuro.
Na realidade, os textos que falam sobre a unicidade, negando o politeísmo e a
adoração a outro ser além de Deus, são muitos na Bíblia Sagrada. Não temos espaço
suficiente, neste livro, para citar a todos. Porém, citaremos algumas passagens, como provas
patentes e inequívocas.
1 - A primeira é para os israelitas, e diz:
"Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras,
que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as intimarás aos teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te"
(Deuterenômio, 6:4-7).
2 - Há também a seguinte exortação:
"Agora, pois, ó Israel, que é o que o Senhor, teu Deus, pede de ti, senão que temas o
Senhor, teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor, teu
Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma. Para guardares os mandamentos do
Senhor, e os seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem?" (Deuterenômio, 10: 12-13).
3 - Há ainda a seguinte magnificência e majestade dedicadas ao Deus Único, Senhor
dos senhores, Que não possui semelhantes, no seguinte texto:
"Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus
Grande, poderoso e terrível, que não faz distinção de pessoas, nem aceita recompensas; que
faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestido. Pelo que, amareis
o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. Ao Senhor, teu Deus, temerás; a ele
servirás, e a ele te chegarás, e pelo seu nome jurarás" (Deuterenômio, 10: 17-20).
4 - O seguinte texto explica que Deus, Glorificado e Exaltado seja, não pode ser visto
por humano algum, nem pode ser imaginado, nem ser incorporado numa determinada figura
de homem ou qualquer outro ser dentre as criaturas de Deus. Ele diz:
"Guardai, pois, com diligência as vossas almas, porque semelhança nenhuma vistes no dia em
que o Senhor vosso
Deus, em Horeb, falou convosco no meio do fogo; para que não vos corrompais, e vos façais
alguma escultura, semelhança de imagem, figura de macho ou de fêmea; figura de algum
animal que haja na terra; figura de alguma ave alígera que voa pelos céus; figura de algum
animal que anda de rastros sobre a terra; figura de algum peixe que esteja nas águas debaixo
da terra; e não levantes os teus olhos aos céus e vejas o sol, e a lua, e as estrelas, todo o
exército dos céus, e sejas impelido a que te inclines perante eles, e sirvas àqueles que o
Senhor, teu Deus, :"epartiu a todos os povos debaixo de todos os céus"
Deuterenômio,4: 15-19).
5 - Deus, glorificado seja, é um Deus cioso que não aceita parceiro nem semelhante
algum. Por isso, Ele é o único Senhor e não há outro além d'Ele. Isto é informado pelo
seguinte texto:
"Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão; não
terás outros deuses diante de mim; não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança
alguma, do que há em cima no céu, nem em baixo na terra nem nas águas debaixo da terra:
Não te encurvarás a elas, nem as servirás: porque Eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso,
que visito a maldade dos pais sobre os filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que me
aborrecem" (Deuterenômio, 5:6-9).
6 - É necessário que o coração esteja sempre repleto da lembrança de Deus,
engrandecendo-O, porque é o Criador dos céus e da terra e abrange todas as coisas.
"Pelo que hoje saberás, e refletirás no teu coração, que
só o Senhor é Deus em cima do céu e em baixo da terra; nenhum outro há" (Deuterenômio,
4:39).
"A ti te foi mostrado, para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão
Ele. Desde o céu te fez ouvir a Sua voz para te ensinar, e sobre a terra te mostrou o seu grande
fogo, e ouviste as suas palavras do meio do fogo" (Deuterenômio, 4:35-36).
7 - No seguimento da crença monoteísta e na adoração a Deus há benefícios, bênçãos e
salvação; na negação disso e no politeísmo há maldição e extravio:
"Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição: A bênção, quando
ouvirdes os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos mando; porém a maldição, se
não ouvirdes os mandamentos do Senhor, vosso Deus, e vos desviardes do caminho que hoje
vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes" (Deuterenômio, 11: 26- 28).
No texto há uma clara alusão de que o Deus que deve ser seguido e adorado é o Deus
único, o Compulsor, o Poderoso, que os israelitas conheciam e adoravam, como lhes foi
ensinado por seus profetas e mensageiros. Porque qualquer deus diferente do que conheciam
sobre o Deus verdadeiro não seria Deus e não seriam obrigados a seguir e adorar. Onde está a
pretensão sobre a Trindade inventada pelos cristãos, uma vez que Jesus era um israelita, e
adorou o Deus que eles adoravam, falou sobre o Deus que eles conheciam? Se ele tivesse
falado coisas que ferissem a idéia do monoteísmo, teria que ser excomungado pela maldição
da Tora.
8 - Allah é o Deus Primeiro e Último, Criador de tudo, Altíssimo, louvado e
glorificado seja, Quem dá a vida e a morte para a todos os seres vivos, e todo ser vivo está
submetido a Ele; adoremo-Lo, pois, e nos prostremos perante Ele!
"Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de eternidade em eternidade; ora
bendigam o nome de tua glória, que está levantado sobre toda a bênção e louvor. Tu só és
Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército; a terra e tudo quanto há nela; os
mares e tudo quanto neles há; e tu os guardas em vida a todos; e o exército dos céus te adora"
(Neemias, 9:5-6).
Esse engrandecimento e essa magnificação de Deus, glorificado seja, a Sua unicidade
e a firmação de ser unicamente Ele o Criador, a prostração de todos perante Ele, a submissão
dos céus e da terra, e o que há neles, ao Senhor único, está plenamente de acordo com as
profecias quanto à crença única e à servidão a Deus. Onde estava filho "Jesus" alegado pela
Igreja? O Alcorão Sagrado atesta o significado do texto e afirma que Ele é o Criador das
criaturas sem ter nem filho, nem esposa. O Alcorão diz:
"Oríginador dos céus e da terra! Como poderia ter prole, quando nunca teve
esposa, e foi Ele Que criou tudo o que existe, e é Onisciente? Tal é Allah, vosso Senhor!
Não há mais divindade além d'Ele, Criador de tudo! Adorai-O, pois, porque é o
Guardião de todas as coisas" (6: 101-102).
9 - Quanto aos Evangelhos, vemos nesse preceito, com as palavras do próprio Jesus,
uma resposta à pergunta de um dos escribas:
"Aproximou dele um dos escribas, que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes
tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? E Jesus
respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve Israel, o Senhor, nosso Deus, é
o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Não há outro
mandamento maior que estes. E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade
disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele" (Marcos 12:28-32).
Verificamos nessa alocução que o formulador da pergunta é um sábio dentre os
escribas, e não é uma pessoa qualquer. Ele conhecia os madamentos e os ensinamentos que os
profetas tinham transmitido para os israelitas. Por isso, a resposta de Jesus tinha de ser
verdadeira, sem invenções. Ele o elucidou a respeito da unicidade de Deus, da necessidade de
O amarmos e da sinceridade para com Ele. Então enunciou o segundo mandamento que versa
sobre o amor ao próximo e o tratamento com benevolência aos parentes. Isso está plenamente
de acordo com os ensinamentos dos profetas, como é descrito pelo Alcorão Sagrado, com o
mesmo significado; ele diz: "O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele; que
sejais indulgentes com vossos pais ... " (17:23).
Não vemos, nesse mandamento, nenhuma alusão à questão da Trindade, levada em
consideração pela Igreja
católica e protestante como sendo o ponto mais importante da crença cristã - o pilar de sua
religião e o mais sagrado dos mistérios da Igreja.
.
Não podemos imaginar que Jesus (que a paz esteja com ele) estivesse com medo de
declarar a verdade, ao formulador da pergunta, quanto ao fato de ele ser Deus ou Filho de
Deus, porque os seus ensinamentos para seus apóstolos não poderiam temer nenhuma
censura, por seguirem-no ou crerem nele. Como poderia ele contrariar a si próprio naquilo
que ele pediu de seus apóstolos?
Por outro lado, se considerarmos que Jesus veio para declarar às gentes sobre a
segunda pessoa, que não conheciam, e que veio para dar-lhes a conhecer Deus com suas três
pessoas, como poderemos acreditar que ele cumpriu com o seu dever, e transmitiu a
mensagem de seu pai - a primeira pessoa -, escondendo isso, quando era nececessário
esclarecer?
Porém, a confirmação da unicidade de Deus e a negação do politeísmo, como o texto
procedente afirma, aconteceu de ambas as partes, o questionado e o questionador. O
questionador diz, avaliando a resposta: "Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há
um só Deus, e que não há outro além dele". Quando Jesus viu que havia no homem um
vislumbre de crença, e que ele veio à procura da verdade, ele lhe anunciou a entrada no Reino
dos céus:
"E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de
Deus" (Marcos, 12:34).
10 - E num contexto de longa confidência de Jesus (que a paz esteja com ele) a seu
Senhor, suplicando-Lhe que
protegesse seus seguidores e apóstolos, fixasse neles as palavras e revelações dele, para que
não retrocedessem, ele confirma, com essa confidência, que a missão que lhe foi designada
por Deus, havia sido preenchida, e já era tempo de partir da vida terrena. Ele diz:
"E a vida eterna é esta; que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a
fazer" (João, 17:3-4).
Ele, então se dirige, no final da confidência, ao seu Senhor, o Justo, o Misericordioso
para com Seus servos, dizendo:
"Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me
enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor
com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja" (João, 17:25-26).
Isto não é suficiente para confirmar a missão com que Jesus foi enviado, ou seja,
ensinar aquela geração extraviada, cujo coração foi petrificado pelo materialismo, cuja visão
foi empanada pelo brilho do ouro, apresentá-la ao seu Senhor, seu Criador, citando o nome de
Deus nos templos e entre as pessoas; Ele é o verdadeiro Deus. Crer n'Ele é obrigatório, seguir
o Seu profeta, Jesus, e crer em seus ensinamentos está incluído nessa crença. Essa é a missão
cumprida por Jesus; é a mesma missão dos outros profetas e mensageiros, que convocaram
toda a humanidade para ela, lutaram para fixá-la nos corações e nas almas das pessoas,
extirpando todo desvio ou adulteração.
No final deste capítulo, deveremos confirmar uma importante verdade: a de como nos
foi esclarecido pelos textos e exemplos citados quanto à unicidade de Deus, quanto aos Seus
sublimes atributos, que está de acordo com os ensinamentos dos profetas; deveremos rejeitar
todo e qualquer texto, na Bíblia Sagrada, que contrarie essa verdade? É preciso peneirarmos
esses textos para distinguirmos entre a verdade e o erro, no tocante à unicidade de Deus, à Sua
perfeição e Majestade. Se não fizermos isso, o leitor desses textos ficará sempre em dúvida,
sem encontrar um caminho que o oriente na sua crença, em seu comportamento e em seu
caráter, em tudo que está ligado às questões da sua vida e sua morte. O caminho mais curto e
seguro é traduzirmos os textos da Bíblia e joeirarmo-los sob o ponto de vista islâmico e do
puro monoteísmo.
Capítulo Dois
Exame da Bíblia Sagrada
O Nascimento de Jesus - Entre o Milagre e a Divinização
Os capítulos do Velho Testamento, com seus textos, se reportam ao rigor, à ameaça ao
Deus verdadeiro (Deus de Israel), ao desvio do "povo preferido", preocupando-se sempre em
citar as dádivas e as generosidades divinas para com os israelitas e suas tribos, relatando-lhes
a sua saída do Egito, o seu livramento da humilhação e da escravidão perante o povo egípcio e
seus faraós. Tratam do afogamento do Faraó e seu exército, então o favor divino para com
esse povo incrédulo, no Deserto de Sinai, a preparação do maná e das codornizes para eles, a
vitória e o apoio que lhes foi concedido sobre os outros povos idólatras da terra da Palestina,
de heteus, cananeus, jebuseus, e outros, depois o cumprimento do pacto que Deus lhes fez,
por intermédio de Abraão, Issac e Jacó. Tudo isso é lembrado para lhes ser pedido que
adorem somente a Deus, rejeitando a idolatria e a adoração aos deuses dos outros povos
idólatras. Deus os faz lembrar de todas as dádivas, ordenando-lhes que cumpram as leis de
Moisés, na íntegra, apesar do seu rigor, ameaçando-os com
castigos rigorosos, com morte e a maldição a quem profanar as leis. Uma vez que esse povo
era duro e de "pescoços grossos", como são descritos pela Tora, eles violavam os seus pactos
com Deus, retrocediam e contrariavam os Seus mandamentos, atribuindo-Lhe semelhantes,
uma vez após outra, principalmente quanto à questão da unicidade de Deus, da adoração a
Ele, do agradecimento pelas dádivas concedidas a eles, caindo na incredulidade, no politeísmo
e na idolatria. Isso causava a ira e a abominação de Deus para com eles, fazendo-os serem
dominados pelos inimigos, toda vez que violavam o pacto com Deus, traindo a confiança,
contrariando Suas ordens e a crença monoteísta. Apesar de tudo isso, Deus, glorificado seja,
os cobria com a sua misericórdia, enviando-lhes mensageiros e profetas, de tempos em
tempos, para fazer o povo abandonar o extravio e a incredulidade, avaliando-lhes os desvios e
reparando o que haviam corrompido.
A situação permaneceu assim até que Deus lhes enviou um mensageiro, Jesus, filho de
Maria, o último Profeta do povo de Israel. Enviou com ele o Evangelho, corroborando Tora
de Moisés e suas leis, amainando a rigidez de algumas leis, para recolocar a espiritualidade
verdadeira àquela religião.
Foi a sabedoria de Deus, glorificado e exaltado seja, que fez do nascimento desse
profeta um milagre, da forma como se deu, como foi também o caso com seu primo, João,
filho de Zacarias (que a paz esteja com ambos), pois era seu contemporâneo e seu aliado.
Na realidade, o nascimento de uma criança de pais idosos, estéreis, não é menos
milagroso do que o nascimento de alguém sem o concurso do pai, sem o relacionamento
sexual animal. Em ambos os casos, para Deus, não são milagres. Porém, para as mentes
humanas incapazes, o segundo caso é mais milagroso do que o primeiro. O milagre aqui é
uma questão relacionada com o ser humano apenas.
Se examinarmos as duas questões, verificaremos que o milagre não está oculto na
formação orgânica e química do corpo humano, nem na relação fisiológica por intermédio da
qual a criação do homem e o seu nascimento se completam. Mas o milagre se oculta no
segredo desta vida e a sua criação do nada, na alma que, ao ser ligada ao corpo inerte, dá-lhe a
vida, com os sentidos, sentimentos, pensamentos e discernimentos.
Por isso, vemos que o Alcorão expõe a questão da criação de Jesus para a sua base
milagrosa quanto à questão de dar a vida, não quanto à criação do corpo, a sua evolução,
formação orgânica e física. Diz Deus, glorificado e exaltado seja: "O exemplo de Jesus, ante
Allah, é idêntico ao de Adão, que Ele criou do pó; então lhe disse: Seja! e foi" (3:59).
As mentes retrógradas e os corações duros e empedernidos dos judeus, naquele tempo,
não podiam aceitar essa verdade, atribuindo o fato ao poder de Deus Que, com Sua anuência e
ordem, pronuncia a palavra "seja", quando deseja criar algo, "e é". Eles foram levados pela
sua soberbia, arrogância, seus corações endurecidos
Segunda: nada é impossível para Deus criar. A criação de ser vivente ou de qualquer
coisa está relacionada à Sua vontade. Ele é capaz de criar das pedras seres vivos. Porque
estranham o nascimento do locutor citado e o nascimento de seu primo, Jesus, filho de Maria?
Terceira: deve-se levar em conta o esclarecimento quanto à derradeira missão - entre os filhos
de Israel - entregue a Jesus, à sua natureza, considerado como o último mensageiro, antes do
advento do Profeta Mohammad (que a paz esteja com todos).
A verdade é que esses judeus que alegaram por longo tempo terem por pai Abraão, e,
portanto, terem mais direito à sua herança religiosa, o direito de empunhar a bandeira da
crença monoteísta e da adoração de Deus, não mais serviam para erguer essa bandeira,
protegê-la, defendê-la, divulgá-la entre toda a humanidade e orientar as pessoas para ela, pois
a mera descendência consangüínea com Abraão não é suficiente para receberem a sua herança
religiosa, ou terem o mesmo caráter dele. A sua descrença em Jesus foi uma prova disso,
senão não encontraríamos essa censura quanto à sua alegação de descenderem de Abraão,
feita por João, filho de Zacarias (que a paz esteja com ambos).
Por outro lado, vemos o Alcorão Sagrado confirmar essa verdade, negando a alegação
dos judeus. Ele diz: "Abraão jamais foi judeu ou cristão; foi, outrossim, monoteísta,
muçulmano, e nunca se contou entre os idólatras. Os mais achegados a Abraão foram
aqueles que o seguiram, assim corno (o são) este Profeta e os que creram; e Allah é
Protetor dos crentes" (3:67-68).
Com isso, a questão do nascimento milagroso de Jesus é esclarecido, ou seja, que ele é
o derradeiro profeta dos isrelitas, pois ele anunciou a vinda do Profeta árabe, Mohammad (que
a paz esteja com ele), que iria pregar a unicidade de Deus e a adoração a Ele, como é
manifestado pelos Evangelhos. Foi da vontade de Deus, na Sua infinita sabedoria, passar a
confiança da profecia, dos israelitas para um outro povo, também descendente de Abraão,
capaz de restituir a retidão e a clareza à família de Abraão (que a paz esteja com ele),
representada pelo monoteísmo, pela submissão à vontade de Deus, que é o significado exato
da palavra "Islam". Mais adiante, se Deus quiser, esclareceremos essas afirmações.
A Mensagem de Jesus (a paz esteja com ele) e sua Posição Entre as Outras
Mensagens
Eis aqui a situação histórica e temporária da Mensagem de Jesus, e a necessidade que
exigiu o seu envio como mensageiro de Deus aos israelitas. O Evangelho que ele anunciou era
uma outra mensagem divina final para os israelitas, complementando as mensagens anteriores
a ela, ou a mensagem de Moisés, facilitando algumas leis rígidas que eles suportaram durante
séculos. A sua função, também, era restituir a retidão à crença monoteísta, e ser uma
admoestação final para a volta dos extraviados, dentre os israelitas, ao círculo da crença e da
moral. Os Evangelhos nos transmitiram muitos textos que confirmam essas verdades; sem
deixar sombra de dúvida, esse foi o objetivo principal da mensagem final por intermédio de
seu Profeta, Jesus, filho de Maria (que a paz esteja com ele).
Um de seus exemplos deixados para os seus discípulos nos diz que ele veio para
complementar as leis de Moisés, as mensagens dos outros profetas, e não para criticá-las ou
modificá-las. Ele disse: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar,
mas cumprir. Porque, em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota
ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes
mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino
dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar, será chamado grande no reino dos céus"
(Mateus, 5:17-19).
Dentre os ensinamentos da lei e dos profetas, que Jesus veio para completar, há muitas
orientações espalhadas pelos Evangelhos, com suas próprias palavras: "Guardai-vos de fazer a
vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles" (Mateus, 6:1).
E: " ... quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé,
nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens" (Mateus, 6:5).
E mais: " ... quando jejuardes, não vos mostreis contristados, como os hipócritas;
porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam" (Mateus, 6: 16).
E ainda: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e
onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a
ferrugem consomem" (Mateus, 6: 19-20).
O evangelista Mateus nos confirma que a missão de Jesus era apenas para os filhos de
Israel. Não tinha a incumbência de convocar outros povos, pois sua missão era restrita a um
tempo e lugar e a um povo em particular. Ele diz: "E, partindo Jesus dali, foi para as partes de
Tiro e de Sidon. E eis que uma mulher cananéia que saíra daquelas cercanias, clamou,
dizendo: Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim, que minha filha está
miseravelmente endemonhada. Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos,
chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós! E ele,
respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mateus,
15:21-24).
Nós, os muçulmanos, apegados a esse acontecimento, corno foi relatado pelo
Evangelho de Mateus quanto ao comportamento de Jesus em relação à mulher cananéia,
confirmamos a verdade declarada por ele: "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da
casa de Israel". Isso confirma, de fato, a missão de Jesus e a sua limitada ação de tempo e
lugar.
Pelos textos aqui citados e outros não citados torna-se claro que os ensinamentos de
Jesus estavam de acordo com os ensinamentos dos profetas, e que a religião é uma só, a lei é
uma só, e que os profetas formam uma só corrente.
Porém, essa afirmativa não agrada às Igrejas trinitárias e seus sacerdotes. Desde o
surgimento da trindade, por intermédio dos ensinamentos de São Paulo, tentam universalizar a
mensagem de Jesus e fazê-la ultrapassar
os limites do tempo para o qual foi enviado. Eles procuram dar a Jesus e à sua mensagem,
alcance, natureza e dimensão diferentes do que ele próprio afirmou a seu respeito e a respeito
de sua mensagem, como foi citado acima. Não apenas tentam isso, mas contrariam os
ensinamentos dele, e inventam coisas, a seu bel prazer. São Paulo, que alegou ser Apóstolo de
Jesus, se dá ao direito de contrariar a seu mestre e mensageiro! Ele corrige a lei que Jesus veio
para cumprir, como aconteceu com todos os profetas, como faz na Epístola aos Gálatas, onde
diz: "Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos
aproveitará. E de novo protesto a todo homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a
guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós, os que vos justificais pela lei; da graça
tendes caído. Porque nós, pelo espírito da fé, aguardamos a esperança da justiça. Porque, em
Jesus Cristo, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma; mas, sim, a fé que
opera por amor" (Epístola aos Gálatas, 5:2-6).
Quando vemos Paulo reduzir a importância da circuncisão, por ser a marca do pacto
entre os judeus, e uma parte da lei de Abraão e Moisés, constatamos os Evangelhos a nos
confirmar que Jesus, oito dias depois de seu nascimento, foi circundidado, como o é todo
judeu, de acordo com a lei (ver Lucas, 2:21).
Em outra parte da Epístola aos Gálatas (3:21-25), Paulo afirma que, com a vinda de
Jesus, já era tempo de os crentes se livrarem da lei e dos seus ensinamentos, porque a lei era
imposta para educar as pessoas até à vinda de Deus,
na figura de Jesus, o filho. Ele diz: "Logo, a lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma
sorte; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar a justiça, na verdade teria sido pela
lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa, pela fé em Jesus
Cristo, fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da
lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de
aio para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados; mas, depois que a fé
veio, já não estamos debaixo do aio" (Gálatas, 3:21-25).
Como vimos, São Paulo está a confirmar que a Lei serviu de aio, até ao advento de
Jesus, para que, pela fé, fossem todos justificados; mas depois que a fé veio, já não havia mais
necessidade de ficarem na dependência do aio. Os mandamentos do Velho Testamento,
porém, confirmados por Jesus, como citamos acima, amaldiçoam todo aquele que contraria a
lei: "Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo
dirá: Amém" (Deuterenômio, 27:26).
Uma pergunta se faz necessária aqui; quem é mais digno de ser acreditado: os
mandamentos de Jesus, que confirmam os preceitos do Velho Testamento, ou os
ensinamentos de Paulo, que vieram para criticar os ensinamentos da lei, principalmente, a
questão da unicidade, a adoração a Deus e a não atribuição de parceiros a Ele, seguindo os
mandamentos e a Lei d' Ele?
Esta é uma questão que a Igreja deve solucionar. Porém, não acreditamos que ela o
faça, porque ela não segue os ensinamentos de Jesus, mas os de Paulo.
Uma vez que a função de Paulo se resumia na questão da divinização de Jesus, em
contrariar o monoteísmo e os ensinamentos da lei e da revelação, então ele tinha de esquecer a
questão da unicidade de Deus, dentre os mandamentos confirmados por Jesus (a paz esteja
com ele), no seu conselho a um dos saduceus: "Aproximou-se dele um dos escribas, que os
tinha ouvido disputar, e sabendo o que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe:
Qual é o primeiro de todos os mandamentos? E Jesus respondeu-lhe: 'O primeiro de todos os
mandamento é: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, ao
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e
de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que este"
(Marcos: 12:28-31).
Paulo contrariou esse mandamento, negando completamente o primeiro mandamento,
ao afirmar: "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo,
como a ti mesmo" (Epístola aos Gálatas, 5:14).
Não podemos acreditar que Paulo se tivesse esquecido do primeiro, confirmante ao
amor a Deus, e à Sua unicidade, citando apenas o segundo, pois ele não era uma pessoa
comum, nem ignorante; era advogado, culto, um dos líderes dos judeus, além de ser o
apóstolo de Jesus, como ele alegou e a Igreja confirmou, posteriormente. Por isso, não se pode
acreditar que ele se tivesse esquecido, pois era o divulgador da revelação!
Como, na realidade, ele não era mensageiro nem divulgador da revelação, a omissão
do mandamento do seu mestre, quanto à unicidade, foi um plano premeditado para alcançar o
seu objetivo que consistia em modificar a linha do monoteísmo e da crença nos profetas à
qual Jesus pertencia.
As igrejas, desde muito tempo atrás, insistiram em os quatro Evangelhos e seus
apêndices de Novo Testamento". A escolha não foi por acaso; foi resultado de astúcia, malícia
e engodo, pois essa denominação dá uma falsa idéia ao leitor ou ao ouvinte, que a mensagem
de Jesus é nova, e não parte complementar ias anteriores; que os ensinamentos e
mandamentos do Velho Testamento, que Deus impôs aos israelitas quanto à unicidade, à
adoração, à rejeição da idolatria, à crença nas mensagens dos profetas, tudo isso muda com o
advento de Jesus e os seus ensinamentos, transformando-se em “Novo Testamento", cujo pilar
é a crença em Jesus como Deus ou como filho de Deus, salvador da humanidade e redentor do
pecado original, etc .. É o que pretendem as palavras de Paulo, acima citadas. Assim, os
ensinamentos ia Velho Testamento deixaram de ser monoteístas, e se transformaram em
politeísmo e em trindadismo; a verdadeira fé e os atos, como condições para a sua aceitação,
transformaram-se em negligência a tudo, pelo princípio da crucificação e da redenção dos
pecados. A profecia - de revelação divina - se transformou na encarnação de Deus em homem
e a divinização desse homem. Da mesma forma, a santificação do sábado tomou-
se a santificação do domingo, a circuncisão em incircuncisão, a simplicidade dos
ensinamentos do monoteísmo em sacerdócio e mistério, cujo conhecimento se restringe a
poucas pessoas, tendo o resto de segui-las cegamente.
Voltamos a afirmar que os ensinamentos da Igreja, com seu sacerdócio e mistério não
fazem parte dos ensinamentos de Jesus, nem das suas palavras nem dos seus atos. O que
demonstram é urna total distorção da mensagem e da natureza dele corno humano e profeta. O
que os Evangelhos contêm não é confiável, nem pode ser considerado revelação divina, sob
hipótese alguma. É necessário que se os deixe de lado, e se volte para os ensinamentos
revelados, nos quais foram instruídos os profetas e os mensageiros, principalmente para a
mensagem do derradeiro dos profetas, Mohammad (Que Deus o agracie e lhe dê paz), pois
sua religião é a religião dos profetas anteriores a ele, a religião do Islam.
Nós sabemos que os líderes da Igreja têm conciência dessas verdades, mas não as
declaram para seus seguidores devido os seus interesses e lucros materiais, que temem perder,
se seguirem a religião do Islam.
Capítulo Três
A Veracidade da Bíblia
Uma Análise Histórica
É dever dos muçulmanos acreditarem na Tora revelada a Moisés, nos Salmos
inspirados por Deus a Davi e no Evangelho inspirado por Deus a Jesus e este o transmitiu aos
apóstolos, no Alcorão Sagrado, o derradeiro dos livros divinos, revelado a Mohammad (que a
paz esteja com ele), o profeta derradeiro. A crença nos originais desses livros ': uma das
condições da fé islâmica. Uma pergunta se faz necessária: Será que a Tora, os Salmos e o
Evangelho são as traduções que temos em mãos, escritos por autores e designados por seus
nomes, ou os originais foram perdidos? É o que veremos em seguida.
Há consenso, entre os historiadores das religiões, de que as cópias originais do Velho e
do Novo Testamentos estão perdidas; de que qualquer capítulo do Velho Testamento, de que
aquilo que a tradução da cópia atual contém não pode ser considerado, sob hipótese alguma,
como obra de seus alegados autores, nem foram escritos por eles, nem eles ditaram seus
conteúdos, e de que não se pode afirmar que sua autoria seja de algum discípulos de Jesus.
Podemos
afirmar, sem sombra de dúvida, que o que foi escrito pelos profetas e mensageiros israelitas se é que escreveram algo -, ou o que seus discípulos e apóstolos escreveram no tocante às
profecias ou revelações que eles ouviram de seus mestres, não mais existe. Isso é reconhecido
pelos pesquisadores de ambas as religiões, judaica e cristã.
Quanto aos acontecimentos históricos, narrados pelos capítulos do Velho Testamento,
referentes à destruição da cidade santa de Jerusalém e dos lares dos judeus, quanto à matança,
exílio e escravidão do povo de Israel, séculos antes de Cristo, por intermédio do rei babilônico
Nobucodonosor, dizem que tudo isso causou a destruição desses livros, ou o desaparecimento
deles, uma vez que a maioria desses escritos eram guardados pelos rabinos judeus no Templo
do Senhor, em Jerusalém.
Os historiadores citam que um dos sábios judeus, de nome Azra, durante a época da
escravidão dos judeus na Babilônia, reescreveu o Velho Testamento e o colocou novamente
no Templo, depois da libertação dos judeus do cativeiro, e da fundação de seu império, em
Jerusalém, no tempo de Zorobabel. Porém, a destruição da cidade sagrada aconteceu
novamente, setenta anos depois de Cristo aproximadamente, pelas mãos dos idólatras
romanos, sendo que os Evangelhos citam as profecias dessa destruição.
Os agressores romanos, devido à sua idolatria, começaram perseguir os seguidores da
nova religião, os discípulos de Jesus, que pregavam o Evangelho e a crença monoteísta e os
ensinamentos de Jesus (a paz esteja com
ele). Essa perseguição causou a morte de muitos deles. Outros ocultaram sua crença, com
medo da perseguição, da morte ou da prisão. O próprio Paulo era um dos mais acirrados
perseguidores dos seguidores de Jesus, pois era um dos líderes dos judeus que fizeram pacto
com os adeptos da idolatria romana, para exterminarem os monoteístas, seguidores de Jesus.
(Ver Atos dos Apóstolos, 8:3.)
A situação continuou assim durante três séculos, aproximadamente, após Cristo, até à
ascenção de Constantino I, o Grande, ao Trono do império romano, cuja mãe era cristã. Ele se
converteu, crente de que Jesus era divino, por ser filho de Deus, de acordo com algumas
igrejas que seguiam os ensinamentos de Paulo e dos seus discípulos. O Imperador, vendo a
similaridade entre a crença na filiação de Jesus e as heranças idólatras e politeístas dos
romanos, aceitou o cristianismo.
A idolatria e a cultura romanas conseguiram dominar a religião cristã, através do
Imperador cristianizado, que convocou o Concílio Ecumênico de Nicéia, no ano de 325, para
decidir que formulação estava mais próxima da verdade sobre Jesus e sua natureza.
Pretendiam proclamar a divindade de Jesus, como filho de Deus, ou como a segunda pessoa
da Trindade. O Concílio confirmou a divindade de Jesus, apesar da controvérsia entre
Anastácio e Ario, dois teólogos de Alexandria. Ambos tinham concepções diferentes acerca
da natureza de Cristo. Enquanto Anastácio defendia que o Verbo, Palavra de Deus, que tomou
carne em Jesus, era eterno e não criado, e estava com Deus desde o princípio, Ario defendia
que o Verbo de Deus não era eterno, mas criatura. Segundo Ario,
o que tomou carne em Jesus não foi o Verbo Eterno, incriado, mas uma criatura. Ario e seu
grupo defenderam a idéia da unicidade de Deus e da situação de Jesus como Profeta e
humano. Eles foram expulsos, amaldiçoados e perseguidos pelos trinitários, com a bênção do
Imperador romano. Assim, Ario e o seu grupo se tornaram o "bode expiatório" da crença do
monoteísmo. Todos os documentos, livros e a riqueza científica que eles tinham em seu
poder, e que corroboravam a unicidade de Deus e os verdadeiros ensinamentos de Jesus,
desapareceram.
Esses acontecimentos fizeram com que um grande número de historiadores,
especialistas no cristianismo, afirmassem que Roma não se cristianizou, mas a Igreja
romanizou-se, ou seja, a Igreja sofreu as influências da idolatria romana, mais do que as
influências que ela causou quanto à divulgação da unicidade e dos ensinamentos de Jesus (a
paz esteja com ele) na sociedade romana.
Não queremos apresentar, neste livro, a história da Igreja e das suas seitas. Muitos
sábios já fizeram isso. A minha intenção foi citar um pequeno resumo da história da Igreja e o
aparecimento da trindade, por sua importância e relação com o assunto da nossa pesquisa.
Esses acontecimentos históricos tiveram um papel preponderante na perturbação da harmonia
quanto à veracidade dos Evangelhos, no ato de se confiar neles em questão de revelação ou de
crença, ou ao menos de se afirmar a sua origem divina.
Podemos avaliar a gravidade dessa questão se compreendermos que a aceitação de um
dos Evangelhos ou dos capítulos do Novo Testamento dependia da vontade dos homens da
Igreja, quanto à sua aceitação ou rejeição,
de acordo com as suas paixões, e não dependia da origem daquelas Escrituras como
revelações ou inspirações divinas. Se considerarmos as sentenças da Igreja e as opiniões de
seus homens como revelações ou inspirações divinas, como a Igreja alega, a questão da
revelação tornarse-á um chiste, ou um brinquedo do qual as pessoas dispõrão como suas
paixões e interesses lhes ditarem.
Por isso, a rejeição do Alcorão a esse tipo de procedimento é patente, pois ele diz: "Ai
daqueles que copiam o Livro, (alterando-o) com as suas mãos, e então dizem: Isto emana
de Allah, para negociá-lo a vil preço. Ai deles, pelo que as suas mãos escreveram! E ai
deles, pelo que lucraram!" (2:79)
As cópias mais antigas dos Evangelhos atuais remontam a três séculos depois de
Cristo aproximadamente. Naquela época, a idéia de Trindade não se tinha cristalizado ainda,
nem tinha sido divulgada totalmente entre os adeptos de Cristo. A idéia não era clara, nem
tinha força suficiente que a tomasse uma opinião geral ou que tivesse concenso entre os
líderes da Igreja. Muitos líderes das igrejas daquela época pregavam o monoteísmo que Jesus
pregava. Eles ccnsideravam Jesus um profeta, como ele próprio afirmou: "Na verdade, na
verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que
aquele L1ue o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois Se as fizerdes" (João,
13:16-17).
É preciso que saibamos que o terceiro elemento "o Espírito Santo", não fazia parte da
Trindade, nem era reconhecido pela Igreja, antes do Concílio de Nicéia em
325, e que o seu total reconhecimento e acréscimo como terceiro elemento da Trindade só se
deu no Concílio de 386, ou seja, no quarto século.1
Esse fato nos faz formular a seguinte pergunta: "Será que os milhares de cristãos,
durante quatro séculos, não eram crentes, nem sabiam que seu Deus era trino? Como podemos
confiar nos princípios dessa religião? Como pode a Igreja afirmar que a crença na Trindade é
condição sine qua non para a crença e a sinceridade?
Podemos Confiar nas Traduções da Bíblia Sagrada?
Já citamos, acima, que a cópia original da Bíblia foi perdida. Ninguém duvida dessa
afirmativa, entre os teólogos e historiadores.
É necessário sabermos que os autores dos capítulos da Bíblia, principalmente do Novo
Testamento, ou que levam os nomes dos autores que por ventura tenham sido profetas ou
discípulos, falavam uma só língua dentre as várias línguas semíticas: hebraica, aramaica e
árabe. Por isso, o que eles escreveram só podia estar numa das três línguas, que eram
semelhantes, por terem sido as línguas nacionais correntes naquele tempo, na Síria, entre os
dois rios (Tigre e Eufrates) e na Península Arábica, localidades do envio dos profetas de
Israel, de Jesus e de seus discípulos.
Aquele que examina as várias traduções da Bíblia verifica que todas se baseiam em
originais, mas são escritas
1
Ver o livro "Mohammadfil Kitab Ai Mukaddas" (Mohammad na Bíblia Sagrada) pág.216.
em idiomas não falados pelos autores originais, ou seja, em línguas não semíticas: grega,
romana, latina. Nenhum teólogo pode afirmar que exista uma só cópia original que possa ser
consultada, para se examinar as traduções gregas e latinas em que foram escritos os dois
Testamentos. Como, então, podemos verificar a sua autenticidade?
Essa é uma questão vital que nos faz olhar com desconfiança os Livros da Bíblia, para
nos basearmos em seus textos, e suas narrativas sobre acontecimentos e profecias, sem exame,
comprovação, nem comparação, pois em tal situação estaremos sujeitos às interpolações e
falsificações do tradutor, de acordo com suas paixões e seus interesses, principalmente se
soubermos que não havia, naquela época, acordo dogmático, sectário ou sacerdotal entre as
várias comunidades, cujas divergências continuam até hoje. Qualquer pessoa culta percebe
que confiar nesses livros, para transmitir uma mensagem divina ou uma religião verdadeira, é
um risco muito grande e uma especulação perdedora, uma blasfêmia para com Deus e a
inspiração divina, e uma falsa afirmação do que os profetas disseram.
Jesus preveniu quanto àqueles que torcem as palavras ia revelação, dizendo: "E todo
aquele que disser uma Jalavra contra o filho do homem, ser-lhe-á perdoada, mas .io que
blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado" (Lucas, 12: 10).
das traduções que estão em nossas mãos, porque foram traduzidas do grego
e do latim para o aramaico e o hebraico. Isso não é motivo de inquietação, porque já temos em
nossas mãos novas cópias, fiéis ao original da Bíblia Sagrada!
Porém, a questão não é tão fácil como parece. A questão é muito melindrosa e depõe
contra os assuntos de crença, de Lei, de profecia, porque estamos cientes que os originais dos
dois Testamentos, Antigo e Novo, possuíam muitas terminologias, leis, nomes de
personalidades, de lugares, etc., relacionados com a profecia sobre o aparecimento de um
profeta em particular, ou acontecimentos específicos, que deveriam ser guardados na sua
originalidade, para serem transmitidos com confiança, como estavam no original, para que o
significado não fosse deturpado, para que não fosse explicado de forma distante do
significado certo, desaparecendo, assim, o significado real. Isso aconteceu, de fato, em muitas
profecias, cujas traduções foram deturpadas, e que trocaram os nomes das pessoas a
elas relacionadas.
Por exemplo, como conseguiremos chegar à pronúncia e ao nome pronunciado por
Jesus, em aramaico, quando profetizou a vinda do Paraclito? Como conseguiremos conhecer
esse personagem citado pela profecia? (João, 15:26). Esse nome, encontrado na tradução
grega, não é, certamente, o mesmo nome pronunciado por Jesus.
A explicação sacerdotal dos mentores da Igreja não é de grande valia para
conhecermos a verdade, porque a questão persiste: onde está aquele Evangelho que cita
fielmente as palavras de Jesus com as quais admoestou os concílios?
Acrescente-se a isso o fato de que, indubitavelmente, a tradução perde a beleza e a
coesão existentes no original. 54
Em tais situações, ela adquire uma nova forma, totalmente diferente da do original,
quanto à formação das frases, além da forma cultural que o tradutor acrescenta geralmente à
tradução que, muitas vezes difere da cultura do idioma primitivo. Isso acontece com qualquer
livro. Que diria, da Bíblia Sagrada, que ela abrange a revelação e a Lei de Deus?
Como muçulmano que somos, não podemos denominar "Alcorão" a qualquer uma de
suas várias traduções, nem lar a mesma consideração - que damos ao Alcorão em árabe - a
eles, por mais precisas e eloqüentes que sejam.
Outro exemplo que damos ao leitor que não conhece a .língua árabe: se déssemos a um
tradutor francês habilidoso as obras de Shakespeare, traduzidas para a sua língua, e
pedíssermos a ele que as vertesse novamente para a língua original, a inglesa, sem consultar a
cópia inglesa original, seria ele capaz de restituir a beleza, a coesão e a eloqüência.
Do original? .
Nsou tradutor, mas desafio qualquer pessoa a fazê-lo. Se isso é impossível de ser feito
com os livros humanos, ~ orno pode ser feito com os livros divinos?
Desejo, aqui, me colocar, juntamente com o leitor, perante algumas perguntas
formuladas por um teólogo cristão:
"É possível que Jesus e seus apóstolos não tenham deixado o verdadeiro Evangelho no
idioma em que foi revelado? Se houve um Evangelho verdadeiro, que aconteceu a ele? Quem
o perdeu? Será que foi destruído? Se foi destruído, quem e quando o destruiu? Foi ele
traduzido apenas para o grego, ou o foi para outra língua
estrangeira? Por que a Igreja não possui a cópia original do verdadeiro Evangelho ou da sua
tradução? Se todas essas perguntas não têm respostas, formularemos outra série de perguntas
importantes: Por que os apóstolos judeus e os evangelistas não escreveram em seu idioma
original, mas escreveram em grego? Onde o pescador Simão Pedro, o João, o Lucas e o
Mateus aprenderam o idioma grego para poderem escrever uma série de livros sagrados?
Quem disser que o Espírito Santo os inspirou, estar-se-á sujeitando a ser alvo de chacotas. O
Espírito Santo não é professor de gramática, nem de línguas. A questão exige uma outra
elucidação para explicar o motivo que fez o Espírito Santo fazer a revelação na língua judaica
a um judeu, em Jerusalém, e esta revelação ser destruída; então, ele ensinou a alguns judeus o
grego, para que cada um escrevesse com seu estilo particular, uma parte de tal revelação. Se
for dito que os Evangelhos e as epístolas foram escritos para o benefício dos judeus
desgarrados, que conheciam o grego, perguntamos: qual foi o benefício que tiraram os judeus
desgarrados do Novo Testamento? Por que não foi feita uma cópia para os judeus da Palestina
em seu idioma, levando-se em consideração que Jerusalém era o centro da nova religião? É
perda de tempo tentarmos conseguir o texto de uma lei ou de uma só revelação, ou duma só
epístola da autoria de Jesus, em seu próprio idioma. O Concílio de Nicéia ficará responsável,
para sempre, pelo crime da perda do Evangelho Sagrado original no idioma aramaico. É uma
perda irreparável. O motivo que me leva a insistir na necessidade premente de se ter a
mensagem de Deus revelada é claro, pois ela seria a fonte
fidedigna adotada por todos. A tradução, por mais fiel que seja, não possui a força da precisão
e o significado verdadeiro, como as palavras, as frases e as expressões que o original
possuem. Por outro lado, toda tradução estará sempre sujeita às críticas e aos desafios."1
Peço desculpas ao leitor de ter copiado um texto tão extenso das palavras do Professor.
Porém, a posição que o autor ocupa é devida ao seu conhecimento no campo das famosas
traduções, antigas e modernas, da Bíblia, coisa que imprime importância especial à sua crítica.
Uma Análise Crítica
É do conhecimento geral, no mundo dos escritores, que o autor de uma obra se
preocupa, na maioria das vezes, de realçar a sua personalidade através de seus escritos. Ele se
intitula o autor das idéias e das opiniões contidas no livro, e coloca o seu nome
manifestamente, não permitindo o plágio ou a omissão do nome, a não ser que haja uma causa
para usar um pseudônimo. Caso contrário, quando o que está escrito é de sua autoria e de seu
esforço pessoal, ele faz questão de que o livro leve o seu nome. Porém, se estiver copiando
outro livro, ou alegar que está escrevendo revelações divinas, neste caso deve ser totalmente
honesto, quer no que ele está copiando ou quanto à revelação que ele está recebendo. Não terá
desculpa se permitir que sua própria opinião seja interpolada na que ele está copinado, pois
com isso perde a sua credibilidade.
1
Ver o livro "Mohammad fil Kitab Ai Mukaddas" (Mohammad na Bíblia Sagrada), pág. 149.
Se fizermos um exame crítico dos Livros da Bíblia, verificaremos uma série de
observações que atestam que o Livro não é revelação divina, nem foi escrito durante a vida
dos profetas, nem foi ditado por eles. Os seus autores não desfrutavam da condição de
"sagrados" e da infalibilidade que Deus normalmente concede aos profetas, para que sejam
exemplos para os outros, tenham credibilidade e transmitam fielmente as ordens de Deus.
Podemos citar as seguintes observações:
1 - Verificamos, em alguns textos, algumas expressões e sentenças em que foram
utilizados demonstrativos ou pronomes ocultos que a estória informa sobre citações ou
acontecimentos que se deram no passado. Muitas frases desse tipo são repetidas no Velho
Testamento, como: "O Senhor disse a Moisés", "Moisés disse ao Senhor", "O Senhor falou a
Moisés e a Aarão". Outros tipos de frases são: "Estas são as jornadas dos filhos de Israel, que
saíram da terra do Egito, segundo os seus exércitos, pela mão de Moisés e Aarão. E escreveu
Moisés as suas saídas ... " (Números, 33: 1-2). Não podemos aqui afirmar que o autor das
frases tenha sido Moisés ou um dos sacerdotes que receberam esta revelação de Moisés,
porque, se considerarmos essas frases, que muito se repetem nos livros da Tora, como
palavras do próprio Moisés, ou como revelação divina para ele, o texto seria o seguinte:
"Disse ao Senhor", "O Senhor me disse" , E escrevi as suas saídas". Porém, as sentenças
aparecem no primeiro estilo para informarem que o autor é uma outra pessoa, e não Moisés ou
Aarão.
O texto seguinte não deixa margem a dúvidas nesta questão; ele nos confirma que o
autor desses livros os escreveu muito tempo depois da morte de Moisés: "Assim, morreu ali
Moisés, servo do Senhor, na terra de Moab, conforme ao dito do Senhor. E o sepultou num
vale, na terra de Moab, defronte de Beth-peor; e ninguém tem sabido até hoje a sua sepultura"
(Deuterenômio, 34:5-6). Quem é que nos narra sobre a morte e sobre o local de sepultamento,
principalmente quando a última sentença informa que quando morreu ninguém estava com
ele, e ningém conhece o local de sua sepultura!?
Certamente, o autor dos livros não foi um dos discípulos de Moisés, nem seu servo
"Josué". Certamente, foram escritos muito tempo depois da sua morte, que pode chegar a
centenas de anos, como entendemos dos últimos versículos do livro de Deuterenômio: "E
nunca mais se levantou, em Israel, profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera
cara a cara; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para
fazer na terra do Egito, ao Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra"
(Deuterenômio, 34:10-11).
A frase "e nunca mais se levantou, em Israel, profeta algum como Moisés" informa
que o autor, que viveu, sem dúvida, séculos depois de Moisés, não ouviu falar nem conheceu
profeta algum como Moisés, em Israel! Este não é um caso isolado, pois se repetiu no final do
Livro de Josué quando da morte deste, onde diz: "E depois destas coisas, sucedeu que Josué,
filho de Nun, o servo do Senhor, faleceu, sendo da idade de cento e dez anos. E sepultaram-no
termo da sua herdade, em Timnath-sera, que está no
monte de Efraim, para o norte do monte de Gaas. Serviu, pois, Israel, ao Senhor, todos os dias
de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda viveram muito depois de Josué, e sabiam toda
a obra que o Senhor tinha feito a Israel" (Josué, 24:29-31). A última frase confirma que o
tempo entre a morte de Josué e do autor do livro era muito longo, pois conseguiu, através da
leitura e de ouvir as notícias de Israel, por todo aquele tempo, saber se Israel serviu ao Senhor
durante aquele período!
A pergunta que se faz aqui é: quem guardou as informações a respeito da revelação
durante todo aquele período?
Observação 2 - Em alguns desses livros verificamos que o autor nos economizou o
trabalho de pesquisa, declarando isso na introdução de seu livro, com suas próprias palavras.
Apesar disso, a dúvida a respeito do autor prevalece, pois os originais estão perdidos, e só
temos em mãos as traduções. Nesta situação, não podemos afirmar que eles foram de fato os
autores desses livros.
Ao analisarmos a introdução de Lucas a seu Evangelho, tiramos à seguinte conclusão:
Primeiro: Lucas confirma, no início de seu Evangelho:
"Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se
cumpriram, segundo nos transmitiram os mensageiros que os presenciaram, desde o princípio,
e foram ministros da palavra, pareceu-me, também, a mim, conveniente descrevê-los a ti, ó
excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado, minuciosamente, de tudo, desde
o princípio" (Lucas, 1-3), que um grande número de pessoas
interessadas na vida de Jesus, pela sua história e pelos seus ensinamentos empreenderam
"escrever" e não copiar o Evangelho de Jesus, que ele lia nas reuniões e entre as pessoas.
Esses autores escreveram muitos livros que são estórias e não evangelhos. Os autores,
também, foram muitos, e não apenas os quatro canonizados pela Igreja, que rejeita todos os
outros.
Segundo: O livro não foi escrito durante a vida de Jesus, nem durante a vida dos seus
discípulos, mas foi escrito depois de uma época suficientemente afastada para que muitos
interessados escrevessem estórias sobre a vida de Jesus, e seus livros fossem divulgados por
toda parte.
Terceiro: Ao dizer, Lucas, "segundo nos transmitiram os mensageiros que os
presenciaram, desde o princípio, e foram ministros da palavra", ele nos informa que se
baseou, na sua escrita, no que transmitiram os mensageiros que presenciaram os
acontecimentos, ou ouviram falar deles, ç não que os Evangelhos, como alega a Igreja, foram
guiados pela revelação ou inspiração, ou pelo Espírito Santo.
Quarto: O próprio Lucas reconhece que ele só escreveu o seu Evangelho depois de terse informado minuciosamente de tudo, desde o princípio. Ele não afirma que o seu livro foi
inspirado, nem é revelação infalível, mas fruto da sua opinião. Ele, depois de revisar e corrigir
o que leu, rejeitando o que achou falso ou inconveniente, aceitou o que achou verdadeiro e
conveniente.
Por isso, achamos que o evangelista Lucas rejeitou a estória dos três reis magos, que
vieram guiados pela estrela que lhes indicou o local do nascimento de Jesus, em Belém, onde
se prostraram perante ele e lhe ofereceram presentes,
etc., como foi narrado por Mateus, em 2:1-12. A Igreja construiu ao redor disso muita
mistificação e lhe deu uma extraordinária importância em sua liturgia.
3 - Nós, os muçulmanos, lemos em nosso Livro, o Alcorão, os versículos que nos
confirmam a veracidade dele e que ele é a revelação de Deus e não é de autoria humana,
citando exemplos lógicos, informando-nos que, o que os humanos escrevem nunca estão
isentos de falhas e contradições, porque isso é da natureza imperfeita do ser humano. Quanto
mais a pessoa aumenta o seu conhecimento, seus erros e contradições tornam-se menores,
pois a perfeição para os humanos é uma questão proporcional. Porém, a verdadeira perfeição
só pertence a Deus, Glorificado e Exaltado seja. Por isso, as Revelações de Deus estão isentas
de falhas e contradições. O Alcorão diz: "Não meditam, acaso, no Alcorão? Se fosse de outra
origem, que não de Allah, haveria nele muitas discrepâncias" (4:82).
Será verdade que a Bíblia está livre de contradições?
Eram os autores dos livros da Bíblia infalíveis?
Um exame cuidadoso dos Livros da Bíblia é suficiente para respondermos a essas
perguntas. Eis alguns exemplos:
Primeiro exemplo:
Em Deuterenômio, 21:15-17, lemos o seguinte mandamento quanto ao direito do
primogênito na herança do pai e a substituição do pai na liderança, mesmo que o filho seja
proveniente da mulher que o aborrece: "Quando um homem tiver duas mulheres, uma a quem
ama e outra a quem aborrece, e a amada e a aborrecida lhe derem filhos,
e o filho primogênito for da aborrecida, será que, no dia em que fizer herdar a seus filhos o
que tiver, não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, adiante do filho da aborrecida
que é o primogênito. Mas ao filho da aborrecioda reconhecerá como primogênito, dando-lhe
dobrada porção de tudo quanto tiver; porquanto aquele é o princípio da sua força; o direito da
primogenitura seu é.
Esta é a justiça que pedimos aos pais quanto aos filhos: que não haja distinção entre o
filho amado, da mulher amada, e o filho aborrecido, da mulher aborrecida. Ao verificarmos,
nós humanos, esse mandamento divino prescrito para os homens, constatamos que a Bíblia
apoia o que contraria esse mandamento. Ela prefere o filho da mulher amada ao filho da
mulher aborrecida, além de dar o direito da primogenitura ao não primogênito dos filho e
netos, mesmo que sejam filhos de uma só mulher!
Com toda simplicidade, o direito de Ismael à primogenitura de Abraão (a paz esteja
com eles), foi-lhe tirada e entregue a Isaac, e Abraão faz o pacto com Deus: "E disse Abraão a
Deus: Oxalá que viva Ismael diante do teu rosto! E disse Deus: Na verdade, Sara, tua mulher,
te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaac, e com ele estabelecerás o meu concerto, por
concerto perpétuo para 1 sua semente depois dele" (Gênesis, 17: 18-19).
Vemos uma outra contradição, na mesma estória, quando 30 acatamento da ordem de
Deus para o sacrifício do filho de Abraão. A Bíblia diz: "E aconteceu, depois destas coisas,
que tentou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse:
Eis-me aqui. E disse: Toma agora, o teu filho, o teu único filho, Isaac, a quem amas, e vai-te à
terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto, sobre uma das montanhas que eu te direi"
(Gênesis, 22: 1-2).
Como se pode aceitar as palavras "teu único filho, a quem amas", quando Isaac não era
o único? Pelo contrário, quando Deus ordenou a Abraão sacrificar o filho, o único era Ismael!
Porém, o autor de Gênesis, acostumado que estava com esse tipo de falsificação, colocou o
nome do Isaac em lugar do de Ismael. Da mesma forma, ele tirou o direito da primogenitura
de Esaú e deu para Jacó, os dois filhos de Isaac! Isso está claro na estória em que Jacó
enganou o pai, Isaac, para poder obter a sua bênção antes de sua morte, obtendo, assim, o
pacto com o pai em lugar de Esaú. (Ver Gênesis, 48:17-20.)
Aqui perguntamos: Como podemos conciliar entre essas estórias e aquele texto
bíblico, citado acima, que ordena se dar e respeitar o direito de primogenitura ao filho
primogênito, mesmo que seja filho da mulher aborrecida?
O muçulmano não aceita esse tipo de estórias sobre os profetas de Deus e Seus
mensageiros preferidos.
Segundo exemplo:
Vemos, na primeira página do Evangelho de Mateus, a corrente de ascendência de
Jesus Cristo, partindo de que José, o carpinteiro, era o marido de sua mãe, Maria. Com essa
suposição, José passa a ser seu pai. Essa corrente, no Evangelho de Mateus, 1: 1-16, abrange
vinte e sete gerações, de José a David. No Terceiro Evangelho, porém,
Evangelho de Lucas, ele cita uma outra corrente da mesma ascendência totalmente diferente
da corrente do primeiro Evangelho (de Mateus). Esta corrente abrange quarenta e duas
gerações, de José a David, também. Em ambas as correntes é impossível encontrarmos dois
nomes coincidentes na mesma geração, além do quê a segunda corrente (em Lucas) é quinze
gerações maior do que a de Mateus.
Será possível que ambas as divergentes correntes sejam .nspirações do Espírito Santo
para ambas as pessoas, autores dos Evangelhos? Qual delas é a mais precisa? Se ambas forem
corretas, que podemos dizer a respeito desse “Espírito Santo", que inspirou a duas pessoas
com duas correntes divergentes? Podemos considerá-lo infalível? Ou podemos considerar
infalíveis os autores dos Evangelhos?
A acusação é muito grave, porque a Igreja afirma que esses autores são infalíveis, que
os Evangelhos são revelações divinas para os discípulos de Jesus, através do Espírito Santo!
Eis as duas correntes:
Corrente de Mateus
1 - Jesus, filho de
2 - José
3 - Jacó
4 – Mattan
5 - Eleazar Eliúd
6 - Eliúde
Corrente de Lucas
1 - Jesus, filho de
2 - José
3 - Heli
4 - Matat
5 - Levi
6 - Melqui
Corrente de Mateus ( cont.)
7 - Aquim
8 - Sadoc
9 -Azor
10 - Eliaquim
11 - Abiúd
12 - Zorobabel
13 - Salatiel
14 - Jeconias
15 - Josias
16 - Amon
17 - Manásses
18 - Ezequia
19 - Acaz
20 - Joatão
21 - Ozias
22 - Jorão
23 - Josafat
24 -Asa
25 - Abia
26 - Roboão
27 - Salomão
28 - David
Corrente de Lucas (cont.)
7 - Joana
8 - José
9 - Matatias
10 -Amós
11- Naúm
12 - Essi
13 - Nagai
14 - Maath
15 - Matatias
16 - Semei
17 - José
18 - Judá
19 - Joana
20 - Resa
21 - Zorobabel
22 - Salatiel
23 - Neri
24 - Melqui
25 - Adi
26 - Cozam
27 - Elmodam
28 -Er
29 - José
30 - Eliezer
31- Jorim
32 - Matat
33 - Levi
34 - Simeob
35 - Judá
36 - José
37 - Jonan
38 - Eliaquim
39 - Melea
40 - Mainan
41 - Matata
42 - Natan
43 - David
Quão surpreso fiquei quando ouvi um pastor responder, num debate, quando lhe foi
endereçada a pergunta a respeito da conciliação entre ambas as correntes. Ele disse:
"Uma delas relaciona a ascendência de Jesus pelo lado da mãe e a outra pelo lado do
pai, José."
Não sei de onde o pastor tirou a sua resposta, pois ambas as correntes começam com a
ascendência do lado de José!
Terceiro exemplo:
Nos três Evangelhos sinóticos a respeito de desolações, destruições, mudanças na
ordem cósmica - "O sol escurecerá, a lua não reflitirá a luz" (Mateus, 24:15-35), Marcos,
13:7-31), (Lucas, 21:25-33) -, Jesus fala aos seus discípulos sobre o surgimento de falsos
cristos e falsos profetas que falarão em seu nome. Ele os previne contra eles e lhes diz para
esperarem a sua volta, etc .. Ele finaliza o seu sermão, dizendo: "Assim, também, vós, quando
virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto. Em verdade vos digo que
não passará esta geração, até que tudo aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas
palavras não hão de passar" (Lucas, 21 :31- 3).
Aconteceu, por acaso, o que Jesus informou que iria acontecer quanto à mudança da
ordem cósmica, do acontecimento da Hora, da volta do Filho do homem, numa nuvem, com
poder e grande glória? A geração de Jesus já desapareceu, e muitas gerações depois dele, e até
os dias de hoje, aconteceu, acaso, o que ele disse? Não aconteceu, nem isto nem aquilo.
Nós, como muçulmanos, cremos que Jesus (a paz esteja com ele) profetizou muitos
acontecimentos, como a vinda de um profeta, depois dele, que nele acreditará e transmitirá a
seus seguidores e a toda a humanidade a verdade, bem como falará sobre o aparecimento de
falsos cristos e falsos profetas, sobre o predomínio de um império sobre outro, sobre a
destruição do Templo e de Jerusalém - que de fato aconteceu no primeiro século da era cristã,
etc .. Porém, os autores dos Evangelhos sinóticos, quando viram que algumas dessas profecias
estavam acontecendo, acharam que aquilo era o prenúncio da mudança da ordem cósmica
citada por Jesus quando do acontecimento da Hora. Eles, então, acrescentaram a frase "não
passará esta geração, até que tudo aconteça", pensando que com isso corroborariam a profecia
do seu mestre.
Se nós examinarmos o texto, veremos que a frase quanto à geração está em
contradição com o que vem em seguida quanto à sua profecia, pois ele disse: "Passará o céu e
a terra, mas as minhas palavras não passarão. Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os
anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai" (Marcos, 13:31-32).
O próprio Jesus confirmava que essas profecias aconteceriam, sem dúvida, porque
Deus o informou disso; porém ele não sabia quando, pois é somente do conhecimento de
Deus; nem os anjos, nem Jesus sabiam. Como podemos, então, afirmar que Jesus informou os
seus discípulos que aquelas coisas aconteceriam antes do término de sua geração?
Por isso, o autor do quarto Evangelho (João) omitiu totalmente essa profecia. No
contexto em que era preciso
citar esses acontecimentos e profecias, em comparação com o contexto citado nos Evangelhos
sinóticos, onde é citada a profecia em questão, vemos que João cita outra profecia, omitida
pelos evangelistas sinóticos, e que diz respeito ao advento do Paraclito, o Espírito da verdade,
que falará o que procede de Deus (ver João, 15: 1-16). O motivo que levou João, filho de
Zebedeu, a fazer isso é que ele escreveu o seu Evangelho posteriormente - se foi ele que o
escreveu -, pois nada daquilo aconteceu na geração de Jesus, e viu que seria melhor omitir
aquela profecia.
Isso não é mera especulação, pois os historiadores afirmam que o Evangelho de João
não era conhecido nos três primeiros séculos da Era Cristã, e que a Igreja não o conheceu
antes do Concílio de Nicéia (325 d.C.).
Isso é uma gota d' água num oceano de contrariedades que a Bíblia contém, de estórias
estranhas, além do que citamos neste Capítulo quanto à situação das traduções, da época
histórica, dos exemplos e das provas que nos fazem afirmar que a percentagem dos livros da
Bíblia, em relação à revelação divina, é arriscada e imprudente; isso é especulação com a
revelação, a profecia e a religião, coisa imperdoável, porque a mentira e a blasfêmia quanto a
Deus e ao Espirito Santo - Gabriel, o mensageiro da revelação - são pecados capitais que Deus
não perdoa. Jesus confirmou isso ao advertir quanto à mentira e à blasfêmia, pois disse: "Na
verdade, vos digo que todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e toda sorte
de blasfêmias, com que blasfemarem; qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo,
nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo" (Marcos, 3:28-29).
O Profeta Mohammad confirmou o mesmo significado, pois as palavras dos profetas
são idênticas, e a fonte de todos é a mesma. Ele disse: "Não redijais sobre mim! Aquele que
escrever algo a meu respeito, fora do contexto do Alcorão, que o apague. Falai de mim sem
embaraço. Aquele que mentir intencionalmente, que aguarde o seu lugar no fogo do Inferno"
(Tradição narrada por Muslim).
É justo dizermos: a Bíblia está repleta de conselhos e ensinamentos divinos que foram
transmitidos pelos profetas (a paz esteja com eles), e ela representa uma enciclopédia de
acontecimentos históricos, narrativas úteis, em todos os campos do conhecimento. Ela nos
fornece um conjunto razoável de princípios morais e éticos. Porém, em contraposição,
encontramos muitas contradições e diferenças - narrativas inventadas que depõem contra a
infalibilidade dos profetas. Ma nela há sinais de politeísmo e idolatria totalmente contrários ao
Livro Sagrado e seus ensinamentos. Isso não pode ser atribuído a Deus ou a os Seus profetas e
mensageiros. Por isso, não podemos aceitá-lo na sua totalidade, no que diz respeito à
revelação, à lei, ao monoteísmo anunciado por todas as mensagens e por todos os profetas. O
melhor caminho para se conhecer a verdade existente na Bíblia é analisá-la sob o ponto de
vista islâmico, monoteísta puro.
Na nossa modesta opinião, aqueles livros foram escritos para um grupo particular de
sacerdotes, destinados para o conhecimento e a análise de um grupo de escritores, e não para
o público em geral, nem estavam à disposição do público. Não foi dada a oportunidade aos
que amavam a
leitura e o conhecimento, chegarem a eles. Não puderam estudá-los e analisá-los ou explicálos, decifrando seus segredos, no ensino às pessoas. Essa situação permaneceu assim durante
longos séculos, até à reforma luterana e ao aparecimento da seita protestante, que se
preocupou em explicar os Evangelhos e os ensinamentos, tirando o monopólio da Igreja
católica quanto ao sacerdócio e aos mistérios da religião. Porém, essa seita não conseguiu
revelar a verdade, ou chegar aos verdadeiros ensinamentos de Jesus, que declarava a sua
crença em Deus e na Sua unicidade, e eliminanva assim a crença na Trindade, e acreditava no
postremo dos profetas, Mohammad (Deus o abençoe e lhe dê paz).
Acrescentamos a isso que os autores do Velho Testamento e dos Evangelhos foram,
em muitas oportunidades, influenciados pelas suas paixões sectárias, pelas situações políticas,
que fizeram com que impusessem certos tipos de crenças e opiniões.
Capítulo Quatro
Jesus (a paz esteja com ele) Entre a Verdade e o Sacerdócio
As afirmações das Igrejas
Historicamente, é certo que não havia entre as igrejas da antiguidade um concenso
quanto a muitos ensinamentos que as igrejas trinitárias aceitavam, na diversidade das suas
seitas, como afirmativas clericais acerca da religião, da crença, dos preceitos e do sacerdócio.
Não havia concenso quanto aos mistérios sagrados entre as igrejas atuais acerca das questões
da Trindade, da divindade de Jesus, da crucificação e da redenção dos pecados, quanto à
determinação da natureza do Espírito Santo, como terceira pessoa, sem contar outros assuntos
relacionados às questões sacerdotais, como as orações, a missa, as festividades, o batismo, etc
Durante quatro séculos, aproximadamente, a Igreja não tinha um só livro adotado, nem
tampouco os capítulos do Novo Testamento tinham sido compilados na forma como
são conhecidos hoje.
Cada igreja e cada seita ensinava e orientava, de acordo como o que possuía de
Evangelhos e capítulos do Novo
Testamento e suas epístolas, além de considerar os livros do Velho Testamento a base adotada
nos ensinamentos, nas orações, nas crenças das antigas igrejas.
Na realidade, devemos saber que muitos ensinamentos importantes, existentes num só
Evangelho, como o Evangelho de João, não eram conhecidos pela Igreja. Isso por um motivo
simples: a Igreja não o tinha naquele tempo anterior ao Concílio de Nicéia, em 325 d.C .. Isso
acarretou a falta de unificação nos métodos da adoração, da crença, da autoridade, dos
conselhos, do código da Primeira Igreja.1
Não pretendemos, neste capítulo, detalhar esses assuntos históricos, pois já citei algo
deles no capítulo anterior, nem essa é a preocupação do assunto do livro, pois os historiadores
já estudaram essas questões e explicaram as suas importâncias.
O que nos interessa, porém, é a questão dogmática dessa questão e o problema do
monoteísmo: como foi que as mensagens divinas se revelaram, e como está patente nos textos
de todos os livros sagrados, revelados aos profetas e mensageiros.
As igrejas trinitárias basearam seus ensinamentos e seu sacerdócio em duas questões
importantes, que são os dois pilares que sustentam a Igreja:
1 - A questão da Trindade, da divindade de Jesus, considerado como o Segundo elemento da
Trindade.
2 - A questão da Crucificação e da redenção dos pecados.
1
Ver o livro "Mohammad fil Kitab AI Mukaddas" (Mohammad na Bíblia Sagrada), pág. 159.
Por causa desses dois pilares, a Igreja empunhou, durante longos séculos, a espada da
perseguição e da guerra contra seus adversários, qual fossem as igrejas unitárias, como as
monoteístas, seguidores de Arios, depois do anúncio da Trindade no Concílio de Nicéia, ou
contra as igrejas trinitárias, adversárias dela, como a seita protestante. Ela também declarou
guerra contra os seus adversários das outras religiões,. como aconteceu com as guerras das
Cruzadas (1098 d. C.), quando os países e os povos muçulmanos foram atacados, na região do
Oriente Médio e no mar Mediterrâneo, além da expulsão e da maldição que a Igreja
empreendeu, durante séculos, contra reis, líderes e cientistas livres, que tiveram coragem de
contrariar o Vaticano, ao declararem as suas descobertas científicas, a exemplo de Galileu
Galilei e outros.
Se os métodos e os caminhos seguidos pela Igreja de Roma, durante longos séculos,
para impor e divulgar os seus preceitos e fazer prevalecer a sua autoridade sacerdotal, não são
mais válidos nem aceitos nos dias atuais, a razão é, sem dúvida, que a Igreja envidava e
continua envidando todos os seus esforços e métodos para convencer os seus seguidores
quanto às duas questões obscuras:
a) A questão do Deus Único composto de três partes,
b) A questão da Crucificação e da redenção dos pecados. A Igreja empenhou-se,
durante esses séculos, em cercar tais ensinamentos de algo místico, com a auréola do
sacerdócio, considerado que é, como o mistério da fé, em que o cristão deve tão-somente crer,
sem dúvida, ou discussão. Assim, a Igreja continua a espalhar a sua
autoridade sobre milhões de pessoas, por intermédio dos presceitos que se tomaram, em
muitas épocas, questões de rejeição ou de questionamento por parte de muitos intelectuais e
pensadores, das várias camadas sociais.
Não há a menor dúvida, entre os intelectuais, de que convencer uma pessoa neutra
quanto à unicidade de Deus e à adoração a Ele, de que ele é o único responsável pelos seus
atos, é mais fácil e simples do que convencê-lo sobre aquela equação difícil quanto ao Deus
único com os Seus três Seres, sobre a questão de responsabilizar uma pessoa pelos erros e
pecados dos outros. A aceitação, da parte da pessoa, quanto a três deuses em separado é mais
fácil de ser conseguida do que quanto a um só Deus composto de três partes.
A crença num só Deus é da natureza do homem; é a única coisa que se coaduna com a
sua formação natural e mental, dada a evidência da mente e da experiência, e dados os
princípios da lógica, desde o início da raça humana, que recebeu essa propriedade através da
Revelação Divina, e das palavras dos profetas, da orientação dos mensageiros, confirmadas
pelos Livros divinos, que já citamos no primeiro capítulo deste livro.
Será que o próprio Jesus era contra esses ensinamentos?
Será que ele convocou os seus seguidores para o quê os contrariasse? Seguiu ele,
acaso, outra lei, além da lei de Moisés, revelada por Deus na Tora, que confirmou todas as
profecias - com seus princípios baseados na unicidade - preconizados por Adão, N oé, Abraão
e o resto dos profetas (a paz esteja com eles)? Será que o próprio Jesus acreditava
diferentemente disso, ou alegava que era Deus ou filho de Deus? é o que veremos através dos
textos, que analisaremos nas páginas seguintes deste capítulo.
É preciso, para a compreensão desta questão e para o conhecimento das respostas
verdadeiras a essas perguntas, que sigamos o caminho da leitura acurada dos textos dos
Evangelhos, com imparcialidade, para que a idéia fique mais clara na mente do leitor, isenta
de conspurcações que turvem a sua nitidez.
Jesus, o Homem Filho do Homem
Os Evangelhos nos dão uma idéia clara sobre Jesus Cristo (a paz esteja com ele), como
homem filho do homem, desde o seu nascimento até ao final da sua vida, e sobre o que ele
passou quanto às necessidades da vida humana, como qualquer ser humano.
Ele foi carregado durante nove meses no ventre da mãe, como acontece com qualquer
criança (Lucas, 2:6-7).
Ao nascer, ele poluiu a mãe com o sangue do parto, durante quarenta dias, até que ela
se higienizou, de acordo com a lei de Moisés, como qualquer mãe judia (Lucas, 2:22).
Aos oito dias de idade, foi circuncidado, como qualquer criança judia, para executar o
símbolo do pacto que Deus celebrou com os filhos de Israel: "E quando os oito dias foram
cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora
posto, antes de ser concebido" (Lucas, 2:21).
Pergunta-se: por que Deus - Que Ele esteja livre disso - escolheu aparecer para as
pessoas dessa forma animal, nascendo de uma mulher, ficando sujeito ao cânon humano,
quando tem o poder (se quisesse) de aparecer na forma humana, parecida com a que os anjos
aparecem aos humanos, sem gravidez, nascimento, circuncisão, além de outros fatores
necessários para a vida?
Como judeu, ele foi batizado por João Batista, seu primo, com a água do Jordão, como
eram batizados todos os judeus: "E aconteceu que, como todo o povo se batizava, foi batizado
também Jesus" (Lucas, 3:21). "E aconteceu, naqueles dias, que Jesus, tendo ido de Nazaré, da
Galileia, foi batizado por João, no Jordão" (Marcos, 1:9). Como qualquer pessoa, ele sente
cansaço e dorme (Mateus, 8:24); sente fome: "E, de manhã, voltando para a cidade, teve
fome" (Mateus, 21:18); sente sede: "Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus:
Dá-me de beber" João, 4:7); ele também sente o cansaço da viagem, e senta para descansar:
"E estava ali a fonte de Jacob; Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim, junto ia
fonte" (João, 4:6).
Ele também é combatido e tentado pelo demônio, como acontece com a disposição de
qualquer ser humano, porque a inimizade entre o ser humano e o demônio é perene: "E logo o
Espírito o impeliu para o deserto. E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás"
(Marcos, 1: 12-13
Aqui perguntamos: Será que o Deus-Pai tinha dúvidas a respeito da fé de Jesus, o
filho, n'Ele, para que fosse tentado por Satanás? Como foi que Satanás, o maldito, sendo
espírito maligno, conseguiu dominar Jesus, induzindo-o a se prostrar perante ele e a adorá-lo?
Ele
prometeu a Jesus, ainda, que, se se prostrasse perante ele, lhe daria todos os reinos da terra:
"Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E
tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; e, chegando-se a ele o
tentador, disse: Se tu és o filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele,
porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra
que sai da boca de Deus. Então, o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o
pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está
escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca
tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu
Deus. Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos
do mundo e a glória deles, e disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então,
disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele
servirás. Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos e o serviram" (Mateus, 4:1-11).
Observamos, nesta estória, uma série de questões. Uma delas é que Jesus nunca alegou
ser Deus ou filho de Deus, nem revelou isso ao demônio que o tentava. Será que ele o temia?
Em todas as suas respostas ele confirma ser uma pessoa normal e, como crente, não atendia a
nenhuma das tentativas do Satanás. Não transformou as pedras em pães, nem se jogou do alto
da montanha, e confirmou ao Satanás que ele, como profeta, e humano, não podia prostrar-se
a
ele, mas se prostrava somente perante Deus, e adorava somente a Ele.
Se Jesus fosse Deus, ou filho de Deus, como ousaria Satanás a oferecer-lhe os reinos
do mundo se exigir que Jesus se prostrasse ante ele? Não é Deus o dono de tudo? E se Jesus
fosse filho de Deus, como afirmam as igrejas, vejamos: não afirmam os Evangelhos que Deus
forneceu ao filho toda autoridade? Onde estava a autoridade de Jesus quando Satanás o
tentou?
Os mentores da Igreja devem-se esforçar para a solução desse enigma e dar respostas
convincentes, sem usarem de subterfúgios, como é o feitio das alegorias sacerdotais.
Uma vez que sabemos que o mais curto caminho de acerto é a verdadeira crença em
Deus Único, a rejeição dos Seus parceiros, a confirmação do Seu mensageiro, Jesus, como
profeta e ser humano, é melhor adotarmos o que Deus, Glorificado e Exaltado seja, ordenou:
"Deus disse: Não adoteis dois deuses - posto que somos um Único Deus! Temei, pois, a
Mim somente!" (Alcorão, 16:51).
Como podemos aceitar o domínio do Satanás sobre Jesus, quando este estava
cumulado com o Espírito Santo? Como podem-se juntar dois Espíritos antagônicos, um
benigno e o outro maligno?
Longe está de Deus dar domínio aos demônios sobre Seus servos virtuosos. Deus diz:
"Quando leres o Alcorão, ampara-te em Deus contra Satanás, o maldito. Porque ele não
tem nenhuma autoridade sobre os crentes que confiam em seu Senhor. Sua autoridade
só alcança aqueles que a ele se submetem e aqueles que, por ele, são idólatras" (16:98100).
Jesus, o Profeta e o Mensageiro
Os Evangelhos estão repletos de informações sobre a figura de Jesus (a paz esteja com
ele) como profeta e mensageiro de Deus, recomendando somente o que Deus lhe ordenou
recomendar, a exemplo de outros profetas anteriores a ele: "Não cuideis que vim destruir a lei
ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir" (Mateus, 5: 17).
Ele reconhece a sua servidão a seu Senhor, e que nunca poderia ser igualado a Ele,
nem ser superior a quem o enviou: "Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior
do que o seu Senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou" (João, 13:16).
Ele afirma que não fala por si; como profeta, só fala o que lhe é revelado por seu
Senhor, e só faz o que Lhe agrada: "Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as
receberam, e têm verdadeiramente conhecido o que sai de ti; e creram que me enviaste" (João,
17:8).
Ele também disse: "Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o pai, que me
enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. Eu sei que
o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai me tem dito"
(João, 12:49-50).
Ele censurou uma pessoa que foi questioná-lo a respeito da herança da vida eterna.
Dirigindo a Jesus a palavra, disse-lhe: "Bom mestre ... " Jesus o censurou veementemente por
tê-lo chamado de bom mestre, para que não pensasse que era divino, pois os judeus atribuíam
o adjetivo "bom" para Deus e o adjetivo "mau" para Satanás. Por isso, Jesus o aconselhou,
dizendo: "E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom mestre, que hei de fazer para
herdar a vida etrena? Jesus lhe disse: Por que me chamas de bom? Ninguém há bom, senão
um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás
falso testemunho, honrarás a teu pai e a tua mãe" (Lucas, 18: 18-20) e (Marcos, 10: 17-19).
Sendo um bom ser humano, e um dos profetas, ele adorava a seu Senhor e praticava
muitas orações, e se dedicava a Deus. Ordenava os seus discípulos a imitá-lo, praticando
assiduamente muitas orações, a fazerem muitas súplicas somente a Deus. (Não encontramos,
em nenhuma parte dos Evangelhos, um texto em que Jesus ordena os seus discípulos ou
adeptos a prostrarem para ele) "Porém, ele retirava-se para os desertos, e aí orava" (Lucas, 5:
16). "E aconteceu que, naqueles dias, subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a
Deus" (Lucas, 6: 12). "E contou-lhes, também, uma parábola, sobre o dever de orar sempre, e
nunca desfalecer" (Lucas, 18: 1). "E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se
de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia, não se faça a
minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E, posto em
agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que
corriam até ao chão. E, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os
dormindo, de tristeza. E disse-lhes: Por que estais
dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação" (Lucas, 22: 41-46).
Ele tinha o direito e a possibilidade de ordenar a todos que glorificassem,
santificassem e exaltassem a Deus, se submetessem a Ele, pois o poder está em Suas mãos e a
vontade é d'Ele, e ninguém pode contrariar a Sua ordem e o Seu juízo. O próprio Jesus, como
está no texto citado, apresentou essa súplica somente a Deus, o Senhor Divino, até que seu
suor se transformou em sangue. Deus estava com ele, e atendeu as suas súplicas, enviando-lhe
um anjo para fortalecê-lo em suas orações. Esta é a situação de qualquer pessoa que obedece a
seu Criador, e adora a seu Senhor. Podemos, depois disso, afirmar que Jesus era Deus ou uma
parte de Deus? Então para quem ele orava e suplicava? Estaria o Senhor necessitado do
fortalecimento de um dos Seus anjos?
Os Evangelhos repetem, em muitos lugares, a preocupação de Jesus (a paz esteja com
ele) com orar para Deus e fazer-Lhe súplicas, porque esta é a situação de homem bom,
agradecido a seu Senhor pelas mercês Mohammad (que Deus o abençoe e lhe dê paz) orava
de pé durante a noite, até que seus pés sangrassem e inchassem. Sua esposa, Aicha, pediu-lhe
que tivesse pena de si mesmo. Ele lhe disse: "Não deveria eu ser um servo agradecido?"
(narrado por todos os tradicionalistas).
Jesus lembrava a seus discípulos dos sinais da Hora adomoestando-os quanto ao
horror dela. Quando ele percebeu que as suas descrições a respeito das coisas incognoscíveis
poderiam fazê-los pensar que ele estava
da posse do que não se pode conhecer, ele os faz afastarem-se desses pensamentos,
esclarecendo-lhes que o incognoscível é de posse de Deus, e que o segredo da Hora só é
conhecido por Deus. Jesus, por ser profeta, informou-os dalguns mistérios. Mas isso não
significava que ele próprio estivesse da posse do incognoscível, mas que Deus o informava
daquilo. Ele disse: "Porém, daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o
Filho, mas unicamente meu Pai" (Mateus, 24:36).
"Mas, daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho,
senão o Pai. Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo" (Marcos, 14:3233).
Alguém, depois de ouvir as palavras de Jesus, pode ?ensar que ele era Deus, ou filho
de Deus como segunda pessoa? Se ele fosse a segunda pessoa de Deus, não haveria de saber
quando seria o acontecimento da Hora?
Se dissermos que as três pessoas são três entidades separadas e não unificadas, e que
cada uma possui um determinado conhecimento ou uma determinada função, seria necessário
o politeísmo e a afirmação da existência de três, e não do Deus único, composto pelas três
pessoas, como a Igreja tenta afirmar, capciosamente.
Se a Igreja entendeu as palavras dele, ao chamar a seu Senhor "Pai", designando o
Senhor de Pai, como foi citado pelos Evangelhos, se ela entendeu que ele estava alegando a
própria divindade, ou que ele era de verdade o filho de Deus, esse mau entendimento é
causado pelo que os primeiros judeus entenderam das palavras de Jesus. Por
isso, quiseram apedrejá-lo por ter blasfemado contra Deus, como pensaram. Portanto, Jesus se
pôs a rechaçar os seus pensamentos incorretos que não se coadunam com o uso lingüístico,
nem com o verdadeiro significado das palavras. A associação aqui não é um agregamento de
filiação e paternidade no sentido animal, mas é uma associação de fé, educação e criação.
Deus, Glorificado seja, é o Pai de todos os humanos, nesse sentido.
"Os judeus pegaram então, outra vez, em pedras, para o apedrejar. Respondeu-lhes
Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas, procedentes de meu Pai; por qual destas obras
me apedrejais? Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra
boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. Respondeu-lhes
Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Pois se a lei chamou deuses
àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada), àquele a
quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasefemas: porque disse:
Sou Filho de Deus?" (João, 10:31-36).
A filiação a Deus não era estranha para os judeus. Esse mesmo sentido foi aplicado
nos livros do Velho Testa-mento, quando Deus diz a Natan, o profeta, para dizer a Davi,
também profeta: "E confirmarei o trono do seu reino, para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele
me será por filho" (Samuel lI, 7:13-14).
Será que os judeus ou os não judeus alegaram que Davi era filho de Deus, no sentido
entendido pelos cristãos a respeito de Jesus?
Foi próprio do judeu fanático, Saulo, que era o mais encarniçado inimigo de Jesus e
dos seus adeptos, alegar
que o Cristo apareceu-lhe e lhe enviou como mensageiro às pessoas para pregar o Evangelho,
sendo, depois, denominado o Apóstolo Paulo. Foi próprio dele entender aquele predicado de
Jesus, e não ter coragem de contrariar o seu mestre, o mensageiro cristão, alegando-lhe a
divindade. Porém, Satanás o dominou, e ficava sobre sua cabeça, esbofeteando-o, toda vez
que desejava exaltar-se, não o deixando declarar a verdade, como o próprio Paulo descreveu
numa de suas epístolas: "E para que me não exaltasse pela excelência das revelações, foi-me
dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de
me não exaltar" (Epístola ao Corintos II, 12:7).
Quantas vezes Jesus falou a seus discípulos e adeptos, dizendo: "E a ninguém na terra
chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus" (Mateus, 23:9), para que
não imaginassem que aquela descrição era dele, na sua consideração como filho de Deus, pois
todos os .rentes em Deus são Seus filhos, porque O amam, e Ele, glorificado seja, é o Pai
deles, porque os ama. Jesus falava nesses termos, o que está de acordo com que foi narrado
pelo Profeta Mohammad (Deus o abençoe e lhe dê paz):
"Os humanos são todos família de Deus, e o mais querido para Deus será quem for
mais benéfico para com Sua família" .
Jesus (a paz esteja com ele) era como os outros profetas, não fazia os milagres por si,
nem por sua própria vontade, mas pela anuência de Deus e pela Sua vontade. Os judeus
pediram-lhe que lhes mostrasse um sinal da sua profecia,
para experimentá-lo, não para crerem nele. Jesus descobriu suas más intenções e os censurou,
porque não desejavam crer. Ele não os atendeu, pedindo a Deus que lhes mostrasse um
milagre, mas deixou-os e partiu: "E chegando-se os fariseus e os saduceus, para o tentarem,
pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu. Mas ele, respondendo, disse-lhes:
'Quando é chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro. E, pela
manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas,
sabeis diferenciar a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos? Uma geração má e
adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas'. E
deixando-os, retirou-se" (Mateus, 16: 1-4).
Isso é parecido com o que os idólatras pediram, em Makka, para Mohammad, de sinais
para tentarem-no e experimentarem-no, não para procurar a verdade e a crença. Deus diz a
respeito desses e de seus similares: "Os tolos dizem: Por que Allah não fala conosco, ou
nos apresenta um sinal? Assim falaram, com as mesmas palavras, os seus antepassados,
porque os seus corações se assemelham aos deles. Temos elucidado os versículos para a
gente persuadida" (2: 118).
Se a pessoa pensar que os atos de Jesus e os milagres que ele operava eram sinais de
sua divindade, e que os poderes que lhe foram dados, de ressucitar o morto, de curar os
doentes, de expulsar os demônios, nada mais são do que sinais do poder de Deus, que Ele
concedeu à segunda pessoa, Jesus, por ser o Seu filho; se alguma
pessoa pensar isso, saiba que o próprio Jesus esclarece essa dúvida; foi quando os judeus
quiseram fazê-lo cometer um erro, para poderem prendê-lo e matá-lo, e eles o questionaram a
respeito desse mesmo poder, quem lho concedeu? Jesus percebeu as suas más intenções e lhes
deu o exemplo do batismo de João, filho de Zacarias, e os milagres que ele fazia, o poder do
batismo, a aceitação do arrependimento para a redenção dos pecados, coisa que Deus lhe
concedeu. Se todas as pessoas sabiam que ele era um profeta enviado, os escribas e os
fariseus, porém, não desejavam crer, pois antes não acreditaram em João. Eles foram covardes
em não acreditarem na verdade e declararem suas crenças em Jesus, na sua condição de
profeta enviado por Deus, como é o caso de João Batista e de outros profetas, pois todos
bebem da mesma fonte. Eis o diálogo: "E, chegando ao templo, acercaram-se dele, estando já
ensinados, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: Com que autoridade
fazes isto? e quem te deu tal autoridade? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Eu também vos
perguntarei uma coisa; se me disserdes, também eu vos direi com que autoridade faço isto. O
batismo de João, de onde era? Do céu, ou dos homens? E pensavam entre si, dizendo: Se
dissermos: do céu, ele nos dirá: Então por que não o crestes? E se dissermos: Dos homens,
tememos o povo, porque todos consideram João como profeta. E, respondendo a Jesus,
disseram: Não sabemos. Ele disse-lhes: Nem eu vos digo com que autoridade faço isto"
(Mateus, 21:23-27).
Jesus, com tais palavras e tal diálogo, além de acentuar a acusação quanto à descrença
dos líderes dos sacerdotes
concernente à condição de profeta de João Batista, revelando sua covardia e sua hipocrisia,
também deu demonstração irrefutável e apresentou o exemplo final quanto à sua condição de
profeta, à veracidade da sua mensagem, rejeitando qualquer alegação sobre a sua divinização,
ou qualquer imaginação que pudesse contrariar a sua condição humana e a sua consideração
como um dos profetas. Em outros termos, ele afirma categoricamente para todo aquele que
alega outra coisa além da verdade: "Minha condição de profeta e a minha missão são
verdadeiras, que me foram concedidas pelo Deus Único, igual à condição profética de João,
que lhe foi concedida pelo Deus Único e que me deu esse poder".
Todas as pessoas sabiam da condição de profeta de Jesus, da sua veracidade, pois os
próprios Evangelhos nos informam isso: "E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se
alvoroçou, dizendo: Quem é este? E a multidão dizia: Este é Jesus, o profeta de Nazaré da
Galiléia" (Mateus,21:10-11).
Deus, glorificado e exaltado seja, confirma, no Alcorão, os grandes milagres de Jesus,
não como de sua autoria ou vontade, mas com a anuência, poder e vontade de Deus. Ele diz:
"Então, Allah dirá: Ó Jesus, filho de Maria, recorda-te de Minhas Mercês para contigo
e para com tua mãe; de quando te fortaleci com o Espírito da Santidade; de quando
falavas aos homens, tanto na infância, como na maturidade; de quando te ensinei o
Livro, a sabedoria, a Tora e o Evangelho; de quando, com o Meu beneplácito, plasmaste
de barro algo
semelhante a um pássaro e, alentando-o, eis que se transformou, com o Meu beneplácito,
em um pássaro vivente; de quando, com o Meu beneplácito, curaste o cego de nascença e
o leproso; de quando, com o Meu beneplácito, ressuscitaste os mortos; de quando
contive os israelitas, pois quando lhes apresentaste as evidências, os incrédulos, dentre
eles, disseram: Isto não é mais do que pura magia!" (5: 110).
O Alcorão, quando confirma essas verdades, não permite que Jesus seja denominado
"Filho de Deus", como alegam , os cristãos. Se analisarmos esse versículo e o confrontarmos
com o texto evangélico, verificaremos que ambos os textos afirmam a mesma coisa, ou seja,
que Jesus, pelo que Deus lhe permitiu quanto a operar milagres e mostrar sinais, isso nada
acrescenta à sua condição de profeta e servo de Deus, a exemplo dos outros profetas da
mesma condição.
Na realidade, tudo o que os Evangelhos revelam sobre a vida de Jesus é corno um ser
humano e como profeta enviado. Os textos nesse sentido são inúmeros. Os especialistas não
têm nenhuma dúvida de que Jesus foi carregado no útero como qualquer ser humano, e nasceu
como qualquer ser humano, viveu, comeu e bebeu corno qualquer ser humano. Ele, também,
como profeta, transmitiu a mensagem do seu Senhor e se apresentou às pessoas nessa
condição. Ele desmascarou os que negaram a sua condição de profeta e as condições de outros
profetas. Ele pregou os ensinamentos da lei, e confirmou a lei de Moisés, restituindo-lhe a
credibilidade. Ele, ainda, anunciou a vinda de outro Profeta, depois dele.
Podemos, depois disso, afirmar o que ele próprio não o afirmou? Podemos alegar a sua
condição de divino que ele próprio nunca afirmou? Na realidade, ele rejeitou essa crença e
confirmou os ensinamentos das revelações e dos profetas quanto à unicidade de Deus, e à
adoração a Ele.
Os Evangelhos não deixaram dúvidas quanto a isso, a não ser num só ponto: Será que
Jesus foi o Filho de Deus? Essa dúvida não existiria se o Evangelho original, ensinado por
Jesus, ainda existisse, ou se os discípulos de Jesus, que escreveram os Evangelhos, tivessem
conservado os veradeiros ensinamentos de Jesus, sem alterações ou falsificações, ou
acréscimos ou diminuições.
Se o nascimento milagroso de Jesus é a causa da alegação de sua divindade, porque
não consideram divino aquele que foi criado sem o concurso de pai nem de mãe? Jesus nasceu
de uma mãe, sem o concurso de pai. Adão porém, o pai da humanidade, foi criado por Deus
sem o concurso de pai ou de mãe; Deus insuflou nele o Seu espírito, fez os anjos se
prostrarem perante ele, como afirmam as três religiões monoteístas. Portanto, ele tem mais
direito do que Jesus de ser divino, ou ser o filho de Deus.
Se afirmarmos que Adão desobedeceu a seu Senhor, e não merece ser considerado
filho de Deus, saibamos que o Livro Sagrado nos narra a estória de Melquisedeque, rei de
Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que não possuiu pai ou mãe, sua vida não teve início
nem fim! Este teria mais direito de ser considerado o filho de Deus.
São Paulo narra a estória dele, dizendo: "Porque este Melquisedeque, que era rei de
Salém, sacerdote do Deus
Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão, quando ele regressava da matança dos reis, e o
abençoou. A quem, também, Abraão deu o dízimo de tudo; primeiramente é por interpretação,
rei de justiça, e depois, também, rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem
genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito ao Filho de Deus,
permanece sacerdote para sempre" (Epístola aos Hebreus, 7: 1-3).
Como então Jesus é o filho único de Deus, sabendo-se que ele nasceu de uma mulher,
enquanto Malequisedeque não teve nem pai nem mãe, não teve genealogia, nem teve início
nem fim? Por que não o consideram o próprio Deus? Não conhecemos ninguém que tenha
essa condição, além de Deus, pois Ele é o Primeiro e Último, o Manifesto e o Oculto, não
gerou nem foi gerado ...
Quanto à Crucificação e à Redenção dos Pecados
Essa alegoria é uma das mais importantes questões da crença cristã. O cristão que não
crê nela e não acredita que Jesus foi crucificado e morreu para a sua salvação e a sua
redenção, não é considerado pela Igreja como crente, e não conseguirá a salvação sob
hipótese alguma. Suponhamos que uma pessoa passou a vida na adoração do Deus único,
praticou todos os bons atos, foi gentil, prestativo e caritativo para com as outras pessoas; bom,
na opinião da Igreja, essa pessoa, mesmo tendo feito tudo isso, não conseguirá a salvação, se
não tiver acreditado na crucificação e no sacrifício de Jesus. Por outro lado, se
um indivíduo passar a vida praticando todos os atos de maldade, porém crer na crucificação,
ele obterá a salvação, pois terá a Igreja por intermediária entre ele e Deus. Bastará que ele
reconheça o erro, se arrependa de seus pecados, com oferendas para a Igreja.
Algumas perguntas, aqui, se fazem necessárias: Será que o criminoso, o pecador por
excelência, se crer na salvação de Cristo, mesmo que não confesse os seus crimes nem se
arrependa, terá salvação? Se a resposta é afirmativa, qual é o benefício da prática dos bons
atos nesta situação? Qual é a sua função e importância nesta vida?
Cabe mais uma pergunta, inserida na primeira pergunta:
Será que o piedoso e o criminoso terão a mesma recompensa em tal situação? Se a resposta é
afirmativa, onde está a justiça de Deus Que ama a Seus servos? Se a resposta for negativa,
Qual a vantagem de que Deus tenha sacrificado seu único filho, que foi crucificado, torturado
e morto na cruz?
Outra pergunta que pode ser feita, cuja resposta deve ser obtida da natureza humana,
quer a pessoa seja crédula ou incrédula: Pode a lógica da justiça humana, convencionada entre
as pessoas, castigar um indivíduo de bem para redimir os erros de um criminoso? Podem as
leis humanas aceitar que o filho pague pelos erros do pai, o marido, em lugar da esposa, um
irmão, em lugar de outro?
Essas perguntas são respondidas com argumentos naturais, muito claros, que só serão
contestáveis por arrogantes que negam a sua natureza, ou são incrédulos.
Pergunto aos mentores da Igreja e aos líderes sacerdotais: Será que seus ancestrais,
discípulos de Jesus,
e seus apóstolos, e a multidão de pessoas que nele acreditou, antes do episódio da
crucificação, acreditavam também na trindade, na crucificação, e na redenção? Há alguma
prova quanto a isto? Então, tenham a bondade de apresentá-las. Não aceitamos os quatro
Evangelhos como prova, mas acatamos as epístolas anexas a eles. Queremos, também, que
nos apresentem os muitos outros evangelhos que eram correntes na época dos discípulos e dos
seguidores, durante um período não inferior a três séculos depois de Cristo, e que os próprios
discípulos citavam.
Na verdade, não existe um único texto original das palavras e dos ensinamentos de
Jesus, citados nos evangelhos, que possa ser considerado um testemunho ou uma prova cabal
quanto à questão da crucificação e da redenção, ou quanto à divinização e à trindade. Há, sim,
alguns textos obscuros que citam a questão da crucificação e a da permanência de Jesus, por
três dias, no seio da terra, e depois quanto à sua ressurreição. Porém, os textos apresentam
dois problemas:
Primeiro: A contradição entre os textos que falam a respeito, nos Evangelhos.
Segundo: São obscuros e ambíguos, além de nada terem de concreto, nem de perto, nem de
longe, que afirme que a questão da redenção dos pecados ter algo a ver com a sua morte na
cruz.
Era dever de Jesus deixar as coisas claras quanto a esses ensinamentos dogmáticos que
formam a base da fé e da sinceridade. Nós não o acusamos de ambiguidade, mas vemos que
os Evangelhos dizem que ele era obscuro em suas falas, que só falava por parábolas. Os seus
próprios
suas falas, que só falava por parábolas. Os seus próprios discípulos, principalmente os
apóstolos, como afirmam os Evangelhos, não lhe entendiam, muitas vezes, as palavras e as
parábolas. Em muitas ocasiões entendiam suas palavras com significado diferente do que ele
queria que fosse. Ver (Marcos, 9:31-32; 7:14-18, Mateus, 13:34-35.)
Devemos aqui fazer uma pausa para a análise do aprisionamento de Jesus, seu
julgamento e crucificação, então a sua ressurreição, como nos são narrados pelos Evangelhos,
para esclarecermos as controvérsias e dife-renças entre eles, no que concerne a este episódio.
1. No Quarto Evangelho (João, 18: 1-5), verificamos que o aprisionamento de Jesus
acontece num local chamado de "além do ribeiro de Cedron", num horto onde Jesus muitas
vezes costumava reunir-se com os seus discípulos. Porém, vemos, em Lucas, 22:39-47, que o
local da detenção de Jesus não foi em além do ribeiro de Cedron, mas no Monte das Oliveiras.
Em Marcos, 14:32-43, porém, vemos que Jesus e seus discípulos estavam num lugar chamado
Getesêmane quando foi preso.
2. Nos três Evangelhos (Mateus, 26:47-50), (Marcos, 14:43-46) e (Lucas, 2:47-48),
vemos que o Judas Escariotes havia combinado um sinal com os guardas que vieram prender
Jesus, para que fosse distinguido entre os discípulos. Ele iria dar um beijo em Jesus, enquanto
os guardas permaneceriam fora do local à espera do reconhecimento, para a prisão dele. Os
três Evangelhos confirmam a prisão, com uma pequena diferença entre eles. O quarto
Evangelho (João,18:3-8), porém, ignora os três
evangelhos quanto ao sinal de Judas, e diz:
"Tendo pois, Judas recebido a coorte e os oficias dos principais sacerdotes e fariseus,
veio para ali com lanternas, e archotes e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre
ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus,
nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traia, estava com eles. Quando, pois, lhe
disse: Sou eu, recuaram, e cairam por terra. Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais?
E eles disseram: A Jesus, nazareno. Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me
buscais a mim, deixai ir estes."
Essa narrativa contradiz totalmente a narrativa dos outros três evangelhos.
Será que Judas Escariotes beijou a Jesus e o entregou, como narram os três primeiros
Evangelhos? Ou não o fez, como afirma João? Devemos ter em mente que Jesus não estava só
quando foi preso, mas estava acompanhado com onze discípulos. Será que João não sabia
disso, sendo ele um dos discípulos, enquanto os outros viram o beijo? João nos afirma que
Judas não chegou perto de Jesus, nem o beijou, mas ficou longe, com os guardas que vieram
prendê-lo. Sendo que Jesus foi ao encontro deles e lhes perguntou a quem buscavam, qual das
narrativas devemos aceitar?
3. Analisemos um pouco mais esses acontecimentos.
Verificamos que quem seguiu a Jesus para a casa do sumo sacerdote foi apenas Pedro, como
nos indica Lucas, 22:54, Marcos, 14:54. Em João, 18:15-16, porém, Simão não
estava só, mas estava acompanhado por outro discípulo, sem mencionar o seu nome, mas
acompanhava Simão Pedro, e era conhecido do sumo sacerdote. Ele foi quem interveio para
que Pedro fosse admitido na casa do sumo sacerdote. Por que será que Pedro escondeu a
presença do outro discípulo para os outros três primeiros Evangelhos?
4. Na casa do sumo sacerdote houve um diálogo entre ele e Jesus. Os Evangelhos se
contradizem entre si. Lucas, 22:66, diz que o diálogo aconteceu durante o dia, e que Pedro
estava sentado no pátio da casa, à noite, esperando para ver o que iria acontecer com o seu
mestre. Quando o negou por três vezes, e o galo cantou, Jesus olhou para ele, pois estava
próximo dele; Pedro lembrou as palavras de Jesus de que ele iria negá-lo por três vezes antes
do amanhecer. Ele, então, saiu e chorou amargamente.
Nos outros evangelhos, porém, é citado que o diálogo aconteceu à noite, ou seja, logo
depois da sua prisão, quando foi introduzido na casa do sumo sacerdote, pois apresentaram
testemunhas falsas para poderem matá-lo, como nos é dito por Marcos, 14:53-72; Mateus,
26:57-75; e João, 18: 8:28.
Estes Evangelhos não citam que Jesus viu Pedro e fixou o olhar nele quando o galo
cantou. Marcos acrescenta algo mais diferente dos outros evangelhos, pois cita que o galo
cantou duas vezes, e não uma só, e que Jesus havia dito a Pedro: "Antes que o galo cante duas
vezes me negarás por três vezes."
5. Se avançarmos mais um capítulo na estória, veremos que os guardas, ao levarem
Jesus, colocaram em sua cabeça uma coroa de espinhos, conduzindo-o ao local preparado para
a crucificação. Ficamos, novamente em dúvida quanto
à pessoa que carregou a cruz. Ora nos dizem que quem carregou a cruz foi Simão, o cireneu,
como vemos em Lucas, 23:26, e Mateus, 27:32. Ora os Evangelhos nos dizem que quem
carregou a cruz foi o próprio Jesus (João, 19: 16-18). Quem dos dois carregou a cruz?
Devemos acreditar na primeira narrativa ou na segunda? Há uma clara contradição entre
ambas, e não se pode aceitá-las, a não ser que consideremos que outra pessoa, além de Je¬sus,
é que estava presa, e que essa pessoa era muito parecida com Jesus, a ponto de enganar os
observadores. Uma vez que os Evangelhos citam que havia dois criminosos que foram
condenados juntamente com Jesus, o mais certo é que o homem que carregou a cruz, e foi de
fato crucificado, não era Jesus, mas alguém parecido com ele, e que quem carregou a cruz não
foi Jesus, mas um dos dois criminosos.
Se não aceitarmos essa suposição, deveremos rejeitar a estória, em sua base, que, em
ambos os casos, não está a favor dos que afirmaram a prisão e a crucificação de Jesus, pois
quem observava tudo era uma multidão, e não apenas uma ou duas pessoas.
6. Se passarmos para a estória da ressurreição de Jesus, e determinarmos o número de
pessoas que estavam à espera da sua ressurreição, encontraremos outro capítulo de
divergências, pois verificamos, em cada Evangelho, detalhes totalmente diferentes dos outros.
Em Mateus 28: 1-7, verificamos que as pessoas que esperavam a ressurreição de Jesus, no
sepúlcro, na manhã do terceiro dia, eram Maria Madalena e a outra Maria; que elas viram um
só anjo,
descendo do céu. Que os guardas que foram colocados pelos judeus perante o sepúlcro,
desmaiaram por causa do tremor de terra causado pela descida do anjo, enquanto nada
aconteceu com as duas mulheres, que ficaram de pé, vendo o anjo remover a pedra. Porém,
Jesus não estava no sepulcro, pois havia saído! O anjo lhes pediu para informarem os
discípulos a respeito do que acontecera e eles esperaram o seu mestre, Jesus, na Galiléia.
Em Lucas, 24: 1-6, porém, a estória difere totalmente. Os que estavam perante o
sepulcro eram algumas mulheres e outras pessoas, e não apenas as duas Marias. Diz que as
pessoas viram dois anjos, e não um só. Lucas não cita nada a respeito da aparição de Jesus
para as mulheres que estavam perante o sepulcro, como citam os outros evangelistas.
Em João, 20:1-18, vemos que quem estava perante o sepulcro, era apenas Maria
Madalena,coisa que diverge dos dois Evangelhos anteriores; que foi ela a primeira a ver a
pedra removida da porta do sepulcro, que ainda estava escuro. Ela foi e informou os
discípulos, Simão Pedro e outro. Eles foram até o sepulcro; nele entraram para se certificarem
da ausência do corpo de Jesus, pois estava escuro ainda. Quando não encontraram o corpo,
acharam estranho, e então creram! Porque, de acordo com João, até aquela data, ainda não
sabiam da Escritura: Era necessário que ressuscitasse dos mortos, no terceiro dia!
João acrescenta que Jesus apareceu apenas para Maria Madalena, depois do retomo dos dois
discípulos. Ela estava ainda junto ao sepulcro. No começo não o reconheceu! Quando Jesus a
chamou pelo nome "Maria", ela o reconheceu e dele se aproximou, querendo tocá-lo para se
certificar. Ele a impediu, dizendo: "Não me detenhas, porque ainda não subi para meu pai:
mas vai para os meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu pai e vosso pai, meu Deus e
vosso Deus" (João, 20: 17).
Essa estória diverge de todos os outros Evangelhos. João confirma aqui que os
discípulos não sabiam o que iria acontecer com Jesus depois da crucificação. Muito menos
outros sabiam disso. Como, então as mulheres vão para o sepulcro na manhã do terceiro dia,
sendo que ninguém esperava a ressurreição dele, pois "ainda não sabiam da Escritura"?
Acrescente-se a isso o fato de que os outros Evangelhos afirmaram de que Jesus,
quando apareceu para os dois discípulos que iam para o campo (Marcos, 16:12), estes não o
reconheceram, nem acreditaram que era Jesus. Ele também "apareceu aos onze, estando eles
assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por
não haverem acreditado nos que o tinham visto já ressuscitado" (Marcos, 16:14).
Será que os discípulos não reconheceram o seu mestre?
Corno foi que ficaram em dúvida numa questão dessa, base ia salvação? Como podemos
conciliar entre a estória e os textos que nos informam que Jesus havia-os informado a respeito
do que iria acontecer quanto à crucificação, à morte e à ressurreição, depois de três dias?
7. Não vamos nos deter na análise do tempo em que Jesus permaneceu no sepulcro, até
à sua saída, pois esse é um outro enigma. É suficiente informarmos que os evangelhos
confirmam que Jesus havia falado para os discípulos que o tempo da sua permanência entre os
mortos
era de três dias e três noites completos. "Pois como Jonas esteve três dias e três noites no
ventre da baléia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra"
(Mateus: 12:40). Há um consenso, porém, de que Jesus foi crucificado na tarde de sexta-feira,
foi sepultado durante a noite, para que o seu corpo não permanecesse pendurado até ao
sábado, e então ressuscitou na manhã de domingo. Será que esse tempo é de três dias e três
noites? Deixo a resposta a cargo do leitor.
8. Para finalizar estas observações, quero citar o que chamou a minha atenção em toda
a estória, do início ao fim, como é narrada pelos evangelhos: Que aconteceu a Judas
Escariotes, o discípulo que entregou Jesus?
O único que responde a esta pergunta é Mateus. Ele diz: "Então Judas, o que o traíra,
vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata para os príncipes
dos sacerdotes e para os anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém,
disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata,
retirou-se e foi-se enforcar" (Mateus, 27:3-5).
Foi este, de fato, o fim de Judas? Enforcou-se ele, arrependido? Se foi isso que
aconteceu, como explicarmos a omissão dos outros três Evangelhos em citarem esse
acontecimento? Por outro lado, São Paulo afirma que Jesus apareceu para os doze discípulos e
não para apenas os onze, como citam os Evangelhos. Ele disse: "E que foi sepultado, e que
ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos
doze"
(I aos Coríntios 15:4-5). Isso significa, na verdade, que Judas Escariotes estava com os
discípulos quando Jesus apareceu, depois de sua ressurreição. Como podemos conciliar entre
o que Paulo cita, se é que diz a verdade, e entre o que foi dito por Mateus, ou seja, que Judas
se arrependeu e se enforcou? Para que não houvesse dúvida de que ele se enforcou, depois do
aparecimento de Jesus, para os discípulos, Mateus afirma que ele se enforcou mesmo antes do
julgamento e da crucificação de Jesus!
Essas observações têm uma relação direta com a divergência dos textos concernentes à
questão da crucificação de Jesus e a sua ressurreição, e quanto à veracidade da Bíblia. Porém,
esse tema não faz parte dos assuntos da nossa tese. O nosso objetivo principal é a questão da
crucificação e da redenção, bem como da análise dos textos que dizem respeito a elas, e a
testificação desses textos, sabendo-se que há inúmeras divergências não citadas no que diz
respeito à nossa pesquisa. Contentamo-nos, porém, em apresentar os pontos mais destacados,
que dizem respeito direto com o tema do livro.
Há um outro assunto que sempre me intrigou, ligado à questão da ressurreição de
Jesus, e que nenhum pesquisador, que eu saiba, abordou. É o seguinte: Qual é a vantagem de
os Evangelhos informarem sobre a ressurreição de Jesus, em corpo, e o seu aparecimento para
os discípulos, depois disso, mais o seu pedido a alguns deles que duvidaram, de tocá-lo,
quando a Igreja nada diz a respeito da ressurreição dos corpos, mas da ressurreição das almas?
Todos os Evangelhos confirmam a estória da
pergunta dos saduceus quanto à mulher que foi casada, nesta vida, com sete maridos. Com
quem dos sete ela ficaria na Outra Vida? A resposta de Jesus foi: "Quando ressuscitarem dos
mortos, não casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os anjos que estão nos
céus." (Marcos, 12:25). Jesus fala, aqui, a respeito do reino dos céus, e a vida dos que a ele
irão, na sua concepção espiritual. Aqueles que irão para o Céu, irão através de suas almas e
não de seus corpos!
Perguntamos, então: Será que o corpo de Jesus permaneceu ligado à alma depois de
sua ressurreição, no terceiro dia? Como conciliarmos entre isso e o que ele afirmou a respeito
da Outra Vida, a espiritual, e não física? Como podemos afirmar a ressurreição do corpo de
Jesus saindo do túmulo, como foi que ele necessitou de um anjo para remover a pedra da
porta do sepulcro, quando a Igreja afirma a divindade de Jesus? Será que a parte da natureza
humana de Jesus permaneceu ligada à sua alma, ou será que foi à parte divina? Se aceitarmos
isso, é necessário crermos que o Deus da Igreja não é um só, mas são três, e cada um tem o
seu corpo humano e, na forma humana, come e bebe, como fazem os humanos. Os
Evangelhos, mesmo divergindo entre si, afirmam que Jesus, depois de sua ressurreição física,
permaneceu vários dias com os seus discípulos, mais de uma semana, comendo e bebendo
com eles. Ele os fez tocarem-no para sentirem o seu corpo. Ele ia e vinha, dormia e ensinava,
e fazia muitos milagres. (Ver João, 20:11-31, e todo o capítulo 21.)
Formulo uma última pergunta: Porque Jesus, quando apareceu para Maria Madalena,
pediu-lhe para não o tocar,
dizendo: "Porque eu ainda não subi para meu pai"? sendo que, logo depois, no mesmo
Evangelho, nos diz que Jesus apareceu para alguns discípulos e mostrou-lhes o seu corpo e
eles o tocaram!
Ao analisarmos tudo que apresentamos, será que podemos ainda afirmar que os textos
podem ser usados para se constituir uma crença e uma fé? Podemos, acaso, afirmar que Jesus
foi preso, crucificado, morreu, foi sepul¬tado e ressuscitou?
Como pode ser construída a questão da crucificação e da redenção numa base dessa?
Se analisarmos os Evangelhos, não encontraremos uma estória mais divergente e estranha do
que a estória da crucificação e da ressurreição, como é narrado pelos Evangelhos!
Como ficarmos tranqüilos com uma crença dessa, quando vemos que os ensinamentos de
Jesus são contrários a ela, e mostram a importância dos atos, o julgamento de cada pessoa
pelo que fez e ofereceu na vida terrena, uma vez que diz: "E por que me chamais, Senhor,
Senhor, e não fazeis o que eu digo? Qualquer um que vem a mim e ouve as minhas palavras, e
as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: É semelhante ao homem que edificou uma
casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre rocha; e, vindo a enchente, bateu
com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a
rocha. Mas, o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre
terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína
daquela casa" (Lucas, 6:46-49).
Os ensinamentos dos discípulos de Jesus, também confirmam esse sentido. Eis que Jacó,
discípulo de Jesus, confirmando, em sua epístola ,que a salvação é obtida pela fé e pelos atos,
e não é suficiente um só destes para a salvação. Ele disse: "Qual é o benefício, meus irmãos,
se alguém disser que tem fé, mas não tem atos, pode a fé salvá-lo?" (Epístola de Jacó, 2:14).
Por outro lado, a alegação da crucificação e da redenção não representa a justiça de
Deus, o Único Criador, ao deixar milhões de pessoas, suportando o peso do pecado original e
da culpa, desde Adão, até à Sua corporalidade na figura de Jesus - Deus está longe disso ficando, aquelas pessoas, ignorando, durante milhares de anos, o Deus que eles teriam de
adorar, ignorando a verdade quanto a Seu filho, e quanto à "trindade".
A maior parte dos problemas enfrentados pela comunidade cristã, no tocante à
desintegração familiar, corrupção e criminalidade, pode ser resultante dessa crença errônea de
que a salvação se obtém através da crença na morte de Jesus, na cruz, para redimir seus
pecados, pois o indivíduo, com tal crença, não dá nenhum valor às boas obras, à
honorabilidade, ao bom caráter, ao temor a Deus, no estabelecimento da vida social e
humanitária sobre a terra. Se ele pensa e crê que outra pessoa morreu para redimi-lo, como
poderá ter consideração para com a e dar valor à responsabilidade dos atos perante as pessoas
e perante Deus?
Essa crença foi inventada por aquele jovem judeu, o inimigo de Jesus e perseguidor
dos seus seguidores, que...
alegou ser um apóstolo sagrado, e se auto-denominou "Paulo, o apóstolo", dando para si o
direito de contrariar a Jesus, reduzindo os ensinamentos quanto à unicidade de Deus,
diminuindo a verdadeira crença, a importância das boas obras para o equilíbrio desta vida e da
Outra, como mostramos anteriormente. A Igreja, depois dele, infelizmente, adotou os seus
ensinamentos e as suas epístolas, que divergem dos ensinamentos de Jesus, e mesmo dos
Evangelhos. Quem examinar ambas as coisas verificará por si a verdade.
O mais curto e verdadeiro caminho para se chegar à verdade, afastar-se do exagero e
do extravio, quanto ao conhecimento da personalidade de Jesus, seu nascimento, seus
milagres, seus ensinamentos e seu fim, é examinar isso tudo como é descrito no Alcorão.
Diz Deus, Exaltado seja: "Dize-lhes: Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa
religião, profanando a verdade, nem sigais o capricho daqueles que se extraviaram
anteriormente, desviaram muitos outros e desviaram a si (próprios) da verdadeira
senda!" (5:77).
E diz: "São blasfemos aqueles que dizem: AlIah é o Messias, filho de Maria, ainda
quando o mesmo Messias disse: Ó israelitas, adorai a AlIah, Que é meu Senhor e vosso.
A quem atribuir parceiros a AlIah, ser-lhe-á vedada a entrada no Paraíso e sua morada
será o fogo infernal! Os iníquos jamais terão socorredores. São blasfemos aqueles que
dizem: Allah é um da Trindade! porquanto não existe divindade alguma além
do Allah Único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam, um doloroso castigo açoitará
os incrédulos entre eles. Por que não se voltam para Allah e imploram o Seu perdão,
uma vez que Ele é Indulgente, Misericordioso? O Messias, filho de Maria, não é mais do
que um mensageiro, do nível dos mensageiros que o precederam; e sua mãe era
sinceríssima. Ambos se sustentavam de alimentos terrenos, como todos. Observa como
lhes elucidamos os versículos e observa como se desviam" (5:72-75).
E diz, ainda: "E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro
de Allah, embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, senão
que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam quanto a isso estão na dúvida, porque não
possuem conhecimento algum, abstraindo-se apenas em conjecturas; porém, o fato é que não
o mataram. Outrossim, Allah fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo"
(4:157-158).
Deus, Glorificado e exaltado seja, cita a resposta de Jesus sobre a verdade quanto a
seus ensinamentos aos seus discípulos e seguidores, dizendo:
"E recorda-te de que quando Allah disse: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu quem disseste aos
homens: Tornai a mim e a minha mãe por duas divindades, em vez de Allah? Respondeu:
Glorificado sejas! É inconcebível que eu tenha dito o que por direito não me corresponde. Se
o tivesse dito, tê-lo-ias sabido, porque Tu conheces a natureza da minha mente, ao
passo que ignoro o que encerra a Tua. Somente Tu és Conhecedor do incognoscíveI. Não
lhes disse, senão o que me ordenaste: Adorai a Allah, meu Senhor e vosso! E enquanto
permaneci entre eles, fui testemunha con¬tra eles; e quando quiseste encerrar os meus
dias na terra, foste Tu o seu Único observador, porque és Testemunha de tudo" (5: 116117).
Capítulo Cinco
A Distinção Entre o Verdadeiro Profeta e o Falso Profeta, nos Três Livros Sagrados
o Verdadeiro Profeta e o Falso Profeta
Esta pesquisa tem uma relação sólida com o tema do livro. Se falarmos sobre a
questão da unicidade de Deus, sobre a crença n'Ele, quanto ao conhecimento de Seus
atributos, à crença em todos os Seus profetas e mensageiros, sem fazermos distinção entre
eles, como foram citados nos Livros Sagrados, será necessário conhecermos aqueles homens
escolhidos por Deus para transmitirem a Sua Mensagem e as Suas revelações para a
humanidade. Eles foram instruídos no sentido de mostrarem às pessoas os seus deveres
perante o Criador. Ele lhes revelou os Seus Livros e as Suas Leis, deu-lhes apoio com
milagres que comprovam a sua veracidade e a sua honestidade quanto ao que transmitiram.
Uma vez que havia uma parte de indivíduos desviados, tendo interesses terrenos e paixões
pessoais, eles alegaram falsamente ser profetas, mentindo a respeito de Deus, alegando
possuir autoridade, que Ele não lhes concedeu.
Mentiam e enganavam as pessoas, por possuírem algum conhecimento ou eloqüência, ou
liderança política, ou posição social. Eles utilizaram esses dons para desviarem as pessoas da
verdadeira religião e das leis corretas. Tiveram influência sobre muitas pessoas da população
simples e ignorante, e sobre outros que tinham esperança de auferir lucros mundanos ou
posição social.
Por tudo isso, Deus, glorificado e exaltado seja, ordenou que Seus verdadeiros profetas
e Seus mensageiros escolhidos, prevenissem as pessoas quanto a seguirem esse tipo de falsos
profetas e enganadores. Os verdadeiros profetas se incumbiram de traçar as regras e esclarecer
os sinais por intremédio dos quais as pessoas pudessem distinguir entre o verdadeiro profeta e
o mentiroso; pudessem, através deles, distinguir as revelações que os verdadeiros profetas
transmitiam, evitando as revelações demoníacas dos desviadores que se arrogavam o direito
da profecia.
Quando o falso profeta tinha algum tipo de autoridade ou conhecimento, e fazia coisas
que, aparentemente, pareciam estranhas ao que as pessoas se acostumaram quanto às leis
naturais, sua influência sobre as mentes delas tomava-se maior, e maior o perigo de seus
engodos a ponto de ser muito difícil, para muitas pessoas, distinguir as falsidades deles e
rechaçar as suas mentiras.
A pessoa contemporânea desses falsos profetas conseguia verificar as suas mentiras e
os seus engodos, distinguindo-os dos verdadeiros profetas, utilizando-se da sua inteligência,
ou do conhecimento e discernimento, ou
através da análise e comparação, como aconteceu, por exemplo, na época do Faraó, quando as
pessoas se reuniram para testemunharem aquele debate e desafio entre Moisés, o profeta de
Deus, e os mágicos do Faraó. Quando as pessoas verificaram os milagres de Moisés, creram
imediatamente nele, e rejeitaram as ilusões dos mágicos. Os próprios mágicos, também, ao
verem os milagres de Moisés, acreditaram nele, e acreditaram que o que ele mostrou, não era
a magia conhecida por eles, mas tinha sido um milagre de Deus, um poder divino, totalmente
diferente das suas magias humanas.
Porém, quando as épocas são outras e os lugares são outros, como pode a pessoa, em
tais circunstâncias, distinguir entre o profeta verdadeiro e o falso?
Isso é o que iremos tentar responder, através de textos bíblicos e alcorânicos, que dizem
respeito a esses sinais, e determinam as regras, através dos quais as pessoas, em todos os
tempos e lugares, conseguem distinguir entre o profeta verdadeiro e o profeta falso.
Iremos basear-nos nos textos bíblicos e alcorânicos para que as provas e as regras sejam
conjuntas e aceitas pelos seguidores das três religiões monoteístas. Que sejam a balança e o
peso corretos para se distinguir entre o veraz e o mentiroso dentre os que alegam a profecia.
Que sejam incontestáveis, a não ser para o ímpio, que nega os princípios de sua crença, ou
para o prepotente, que não aceita a verdade e não se sujeita a qualquer autoridade.
Os Sinais que Determinam o Verdadeiro Profeta
1 - O profeta verdadeiro é aquele que convoca as pessoas para à adoração do Único
Deus, e os admoesta quanto a adoração de ídolos ou parceiros de Deus.
Lemos em Deuteronômio, 13:1-4, o conselho de Deus, por intermédio de Moisés (a
paz esteja com ele), ao povo de Israel, o seguinte: "Quando profeta ou sonhador de sonhos se
levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que
te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; não
ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o Senhor, vosso Deus,
vos prova, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, com todo o vosso coração, e com toda a
vossa alma. Após o Senhor, vosso Deus, andareis, e a ele temereis, e os seus mandamentos
guardareis, e a sua voz ouvireis, e a ele servireis, e a ele vos achegareis." No Evangelho de
João, 7: 18, lemos as seguintes palavras de Jesus (a paz esteja com ele): "Quem fala de si
mesmo busca a sua própria glória; mas, o que busca a glória daquele que o enviou, esse é
verdadeiro, e não há nele injustiça."
As palavras de Jesus (a paz esteja com ele) confirmam a verdade que desejamos com
toda clareza. Ele disse aos judeus que negaram a sua mensagem: "Deveis saber, através dos
livros que possuís, que o profeta verdadeiro é aquele que glorifica a Deus, Que o enviou, e
convoca as pessoas a crerem na Sua unicidade e adorarem somente a Ele. Aquele que fala de
si, porém, e pede a glória para si,
e faz de si uma divindade, esse é mentiroso e injusto, o qual as pessoas devem evitar."
O Alcorão Sagrado, que foi revelado por Deus a Seu Mensageiro, Mohammad (que
Deus o abençoe e lhe dê paz), confirma o mesmo significado e convoca para o mesmo
princípio. Ele diz: "Dize: Sou tão-somente um mortal como vós, a quem tem sido
revelado que o vosso Deus é um Deus Único. Por conseguinte, quem espera o
comparecimento ante seu Senhor que pratique o bem e não associe ninguém ao culto
d'Ele" (18: 110).
2 - O profeta verdadeiro é aquele que convoca para a religião do Islam (submissão à
Deus) e da paz, por ter ela sido a religião escolhida por Deus para os Seus servos.
Confirmando esse sentido, as palavras dos profetas são semelhantes na convocação
para essa religião, anunciando-a entre as pessoas, através das palavras do profeta Jeremias:
"O profeta que profetizar paz, quando se cumprir a palavra desse profeta, será conhecido
como aquele a quem o Senhor, na verdade, enviou" (Jeremias, 28:9).
Esse texto tem uma importância vital para sabermos que Jeremias, que disse as
palavras em hebraico, falava da religião do Islam ou Salam (paz), que essa religião era a
conhecida entre os profetas da antigüidade. A sentença anterior às palavras citadas nos diz:
"Os profetas que houve antes de mim e antes de ti, desde a antigüidade, profetizaram contra
muitas terras, e contra grandes reinos, guerra, e mal, e peste."
As duas palavras, "Islam" e "Salam", são sinônimos nas línguas semíticas. São
derivadas da mesma raiz, na
língua aramaica: "shalam" e "shalama". Elas têm, nas três línguas semíticas, aramaico,
hebraico e árabe, o mesmo significado, ou seja, a submissão à vontade de Deus, a segurança e
a paz. É o significado do qual foi derivada a religião do Islam, como é em árabe, pois significa
a submissão à vontade de Deus.
Podemos, aqui, utilizar as mesmas provas e os mesmos textos citados no primeiro
capítulo deste livro, quando falamos sobre as provas da unicidade de Deus, a adoração e a
submissão à Sua vontade. O texto, do período anterior, também pode servir como prova para a
frase que estamos examinando.
Quanto às provas alcorânicas, elas são muitas. Podemos citar, entre elas, as seguintes:
"Hoje, completei a religião para vós; tenho-vos agraciado generosamente, e vos aponto o
Islam por religião" (Alcorão Sagrado, 5:3).
"Para Allah a religião é o Islam. E os adeptos do Livro só discordaram por
inveja, depois que a verdade lhes foi revelada" (Alcorão Sagrado, 3:19).
O Alcorão também cita a palavra "salam" com o significado de "Islam" :
"Mas quem se submeter a Deus e for caritativo ver¬se-á apegado à verdade
inquebrantável. E em Deus reside o destino de todos os assuntos" (Alcorão Sagrado,
31:22).
Ó adeptos do Livro, foi-vos apresentado o Nosso Mensageiro para mostrar-vos
muito do que ocultáveis do Livro e perdoar-vos em muito. Já vos chegou de .
AIIah uma Luz e um Livro lúcido, pelo qual AIIah conduzirá aos caminhos da salvação
aqueles que procurarem a Sua complacência e, por Sua vontade, tirá-Ios-á das trevas e
os levará para a luz, encaminhando-os para a senda reta" (Alcorão Sagrado, 5: 15-16).
3 - O Profeta verdadeiro é aquele que transmite as revelações de Deus, e não por si só.
Sua função é ensinar às pessoas os mandamentos e as leis de Deus.
Em Êxodos, 18: 19-20, lemos: "Ouve, agora, a minha voz; eu te aconselharei, e Deus
será contigo: Sê tu pelo povo diante de Deus, e leva tu as coisas a Deus; e declara-lhes os
estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho em que devem andar, e a obra que devem
fazer."
Jesus (a paz esteja com ele) nos confirma, em muitas passagens dos Evangelhos, que a
sua obra e a sua missão não ultrapassavam isso; que todas as palavras que ele proferiu
provinham de Deus e não de si. Dentre tais declarações, podemos citar: "Muito tenho que
dizer e julgar de vós, mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele tenho ouvido, isso
falo ao mundo" (João, 8:26).
Em outra circunstância, ele disse: " ... nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai
me ensinou. E aquele que me enviou está comigo: o Pai não me tem deixado só, porque eu
faço sempre o que lhe agrada" (João, 8:28-29).
Ele também disse, respondendo as perguntas dos judeus quanto ao conhecimento que
ele possuía, de onde provinha. O texto diz: "E os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como
sabes estas letras, não as tendo aprendido? Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina
não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém fizer a vontade dele, pela mesma
doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo. Quem fala de si mesmo
busca a sua própria glória; mas, o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro,
e não há nele injustiça" (João, 7: 15-18).
O texto, além de ser uma chamada de atenção aos judeus por não se terem orientado,
apesar de seu conhecimento da lei e dos livros, no sentido de reconhecerem a condição de
Jesus de profeta e a sua veracidade, também nos coloca perante uma outra verdade que tem
relação com a sentença: "que a profecia e a mensagem não são coisas que podem ser
adquiridas, nem a detenção de conhecimentos científicos capacita as pessoas para a posição
de profeta". É uma escolha de Deus a determinada pessoa destinada a carregar a missão da
mensagem e da sua transmissão.
O Alcorão Sagrado nos esclarece, por intermédio de seus versículos, quanto à escolha
do Profeta Mohammad (Deus o abewnçoe e lhe dê paz), à sua missão e à revelação divina que
ele recebeu. Deus diz, no Alcorão Sagrado:
"Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Pela estrela, quando cai, que vosso camarada jamais se extravia, nem erra, nem fala por
capricho. Isso não é senão a inspiração que lhe foi revelada" (53:1-4).
E diz: "Só te revelamos o Livro, para que lhes elucides as discórdias e para que ele seja
orientação e misericórdia para os que crêem" (16:64).
E diz, ainda, Deus: " ... sabe melhor do que ninguém a quem deve encomendar a Sua
Mensagem" (6: 124).
E diz mais: "Deus escolhe os mensageiros, entre os anjos e entre os humanos"
(22:75).
E diz mais ainda a respeito da Missão de Mohammad (SAAS): "Mas, quando lhes
são recitados os Nossos lúcidos versículos, aqueles que não esperam o comparecimento
perante Nós, dizem: Apresenta-nos outro Alcorão que não seja este, ou, por outra,
modificado! Dize: Não me incumbe modificá-lo por minha própria vontade; atenho-me
somente ao que me tem sido revelado, porque temo o castigo do dia terrível, se
desobedeço ao meu Senhor. Dize: Se Allah quisesse, não vo-lo teria eu recitado, nem Ele
vo-lo teria dado a conhecer, porque antes de sua revelação passei a vida entre vós. Não
raciocinais ainda?" (l0: 15-16).
4 - O verdadeiro profeta, que atesta a religião dos profetas que o precederam, e
corrobora os seus princípios, não desmente nenhum dos profetas cujas profecias foram
comprovadas com sinais e com revelações divinas.
Muitos textos da Bíblia Sagrada, proferidos por profetas, cada um dos quais confirma
os ensinamentos dos profetas anteriores, aprende os ensinamentos deles, traça as bases da
religião e da crença na unicidade. Vemos, por exemplo, o conselho de Jesus (a paz esteja com
ele) a alguém que lhe pediu esclarecimento a respeito dos conselhos e das obras, através dos
quais se consegue a felicidade eterna. Jesus lhe disse: " ... por que me chamas bom? Não há
bom senão um só, que é Deus. Se quiseres, porém, entrar na
vida eterna, guarda os mandamentos." Disse-lhe, ele:
"Quais 7" E Jesus disse: "Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso
testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo"
(Mateus,19:17-19).
Ele também responde a outra pessoa que lhe pergunta sobre a lei de Moisés. Disse: " ...
Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os
profetas" (Mateus, 22:37-40).
Suas palavras nos informam, como transparece da última frase do texto, que os
profetas verazes são aqueles que confirmam uns aos outros, aconselham aprendermos os
ensinamentos uns dos outros. Apesar de terem personalidades diferentes e pertencerem a
épocas diferentes, sua religião, porém, é uma só, sua crença é uma só, os princípios quanto
aos ensinamentos, ao comportamento e à ética, são os mesmos. No texto seguinte, Jesus nos
fornece o mais evidente exemplo quanto à veracidade dos ensinamentos dos profetas. Ele
disse para seus discípulos e para o povo em geral: "Na cadeira de Moisés estão assentados os
escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em
conformidade com as suas obras, porque dizem, e não praticam" (Mateus, 23:2-3).
O Alcorão Sagrado confirma as palavras de Jesus, esclarecendo que ele foi um profeta,
enviado para os
israelitas, e a sua mensagem confirmava a mensagem de Moisés e a lei deste. Ele também
anunciou a vinda de um outro profeta depois dele, e a crença nele. Diz Deus: "E de quando
Jesus, filho de Maria, disse: Ó israelitas, em verdade, sou o mensageiro de Deus, enviado
a vós, corroborante de tudo quanto a Tora antecipou no tocante às predições, e
alvissareiro de um Mensageiro que virá depois de mim, cujo nome será Ahmad!
Entretanto, quando lhes foram apresentadas as evidências, disseram: Isto é pura
magia!" (61 :6).
O Profeta Mohammad não podia abandonar essa regra, mas era o mais crente dos
indivíduos, pois veio corroborar e seguir a religião de todos os profetas, confirmando os
princípios quanto às crenças, ao comportamento e ao caráter. Deus, glorificado e exaltado
seja, ordenou-lhe anunciar a seus seguidores o respeito deles a todos os profetas anteriores a
ele, dizendo: "Tal foi o Nosso argumento, que proporcionamos a Abraão, (para usarmos)
contra seu povo, porque Nós elevamos a dignidade de quem Nos aprazo Teu Senhor (ó
Mohammad) é Prudente, Sapientíssimo. Agraciamo-lo com Isaac e Jacó, que
iluminamos, como havíamos iluminado anteriormente Noé e sua descendência, Davi e
Salomão, J ó e José, Moisés e Aarão. Assim, recompensamos os benfeitores. E Zacarias,
Y áhia (João), Jesus e Elias, pois todos eles se contavam entre os virtuosos. E Ismael,
Eliseu, Jonas e Lot, cada um dos quais preferimos sobre os seus contemporâneos. E a
alguns de seus pais, progenitores e irmãos, elegemo¬los e os encaminhamos pela senda
reta. Tal é a
orientação de Allah, pela qual orienta quem Lhe apraz, dentre os Seus servos. Porém, se
tivessem atribuído parceiros a Ele, tornar-se-ia sem efeito tudo o que tivessem feito. São
aqueles a quem concedemos o Livro, a sabedoria e a profecia. Mas se estes (seus
descendentes) os rejeitassem, mesmo assim, confiá-los-íamos a outro povo que não fosse
incrédulo. São aqueles que Allah iluminou. Torna, pois, seu exemplo. Dize-lhes:
Não vos exijo recompensa alguma, por isto. Ele (o Alcorão) não é mais do que urna
mensagem para a humanidade" (6:83-90).
Deus cita, nestes versículos, os nomes de alguns profetas conhecidos, mostrando a Sua
preferência e Sua piedade, pois Ele os elegeu e os orientou para a senda reta. No final, Deus
aconselha o Seu Profeta Mohammad a seguir o exemplo deles, trilhar o mesmo caminho que
eles trilharam: "São aqueles que Allah iluminou. Torna, pois, seu exemplo."
Deus, Altíssimo, confirma, também, que a religião que escolheu para a comunidade
muçulmana, e revelou para o derradeiro dos profetas, é a mesma religião que havia
determinado para Seus profetas anteriores. Ele disse:
"Prescreveu-vos a mesma religião que havia instituído para Noé, a qual te revelamos, a
qual havíamos recomendado a Abraão, a Moisés e a Jesus, (dizendo¬lhes): Observai a
religião e não discrepeis acerca disso" (42:13).
5 - Não se deve levar em conta as muitas coisas insólitas que o falso profeta faz, a
menos que os milagres que ele efetua estejam de acordo com as suas alegações, e que sua
vida, geral e particular, esteja de acordo com o que ele prega.
Já citamos, no primeiro capítulo, o texto de Deuterenômio, 13: 1- 3, que advertia os israelitas
quanto aos falsos profetas, mesmo que apresentassem milagres:
"Quando o profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal
ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após
outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; não ouvirás as palavras daquele profeta ou
sonhador de sonhos; porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o
Senhor, vosso Deus, com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma."
Deus concede a uma pessoa qualquer autoridade ou conhecimento para apresentar
sinais ou milagres, para provar as pessoas, se seguem aquela pessoa ou persistem na crença
em Deus, Único. Uma vez que o falso profeta não prega a unicidade do Criador nem a
adoração d'Ele. Pois, não devemos nele crero que ele apresenta de sinais e de milagres não
comprovam a sua veracidade.
O próprio Jesus (a paz esteja com ele) advertiu quanto aos falsos profetas que fazem
milagres e alegam a profecia falsamente. Ele disse: "Então, se alguém vos disser: Eis que o
Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e
farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis
que eu vo-lo tenho predito" (Mateus, 24:23-25).
Da mesma forma que os profetas advertiram seus povos quanto aos falsos profetas, o
Profeta Mohammad também advertiu quanto a eles, revelando o seu número e suas
alegações, pois ele disse na tradição narrada por Bukhári:
"Só acontecerá a Hora depois de aparecerem trinta falsos profetas aproximadamente,
alegando que são mensageiros de Deus". Os tradicionalistas explicaram as características do
falso profeta e os sinais que ele apresentaria, pois o Profeta Mohammad denominou-o de falso
cristo, e confirmou que fará muitos prodígios, até que Deus envie novamente o verdadeiro
Cristo, que o matará, na Palestina.
6. O falso profeta será logo castigado e morto por Deus, ou Deus revelará a falsidade
das suas alegações e as mentiras pregadas para todas as pessoas. Os textos bíblicos e
alcorânicos confirmam que Deus não concede folgançaao falso profeta, mas apressa o seu
castigo, de acordo com o diálogo entre o profeta Jeremias e o falso profeta de seu tempo,
Hananias: "E disse Jeremias, o profeta, a Hananias, o profeta: Ouve, agora, Hananias: Não te
enviou o Senhor, mas tu fizeste que este povo confiasse em mentiras. Pelo que, assim diz o
Senhor: Eis que te lançarei de sobre a face da terra; este ano morrerás, porque falaste em
rebeldia contra o Senhor. E morreu Hananias, o profeta, no mesmo ano, no sétimo mês"
(Jeremias, 28: 15-17).
Moisés (a paz esteja com ele), também, diz que a sentença de Deus quanto ao falso
profeta é a morte, por ter inventado mentiras acerca do Senhor. Ele disse: "E aquele profeta ou
sonhador de sonhos morrerá, pois falou rebeldia contra o Senhor" (Deuterenômio, 13:5).
Jesus (a paz esteja com ele) confirma, em seus ensinamentos, que aquele que mentir a
respeito de Deus, falando por si, alegando que suas palavras provêm de Deus,
terá castigo severo; Deus não lhe perdoará o pecado. Ele disse: "Na verdade, vos digo que
todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e toda a sorte de blasfêmias, com
que blasfemaram; qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá
perdão, mas será réu do Eterno Juízo" (Marcos, 3:28-29).
O Alcorão, também, esclarece que não será dada folgança ao falso profeta, mas o
castigará e o matará, porque mentir sobre Deus não é o mesmo que mentir sobre as pessoas.
Deus, glorificado e exaltado seja, diz: "E se (o Mensageiro) tivesse inventado alguns ditos,
em Nosso nome, certamente o teríamos apanhado pela destra; e então, ter-lhe-íamos
cortado a aorta, e nenhum de vós teria podido impedir-Nos" (69:44-47).
Ou seja, se Mohammad fosse inventar mentiras a respeito de Deus, seu castigo seria a
morte, e Deus não o teria deixado persistindo na sua mentira e enganando as pessoas. Deus
teria dado autoridade a seus inimigos para matá-lo. Essa é a mesma sentença que vimos nos
textos bíblicos, citados anteriormente.
Os profetas verazes, porém, foram secundados por Deus, Que os fez prevalecer sobre
os seus inimigos. Ele fortaleceu a Sua religião através de seus seguidores, destinando os seus
inimigos à perdição. Exemplo disso aconteceu com o povo de Noé, de Lot, de Abraão, de Hud
e de Sáleh. Deus também eliminou o Faraó e Haman e seus exércitos, inimigos de Moisés, o
profeta de Deus. Ele também protegeu o seu profeta Jesus (a paz esteja com ele) das tramas
dos judeus e o salvou deles. Deus também deu apoio ao Seu Profeta, Mohammad, contra seus
inimigos, fazendo-o triunfar sobre os seus adversários em toda a Península Arábica, durante a
sua vida. O apoio foi estendido aos seus companheiros dentro e fora da Península, até que a
verdade prevaleceu e a falsidade desvaneceu para os incrédulos e os politeístas, pertencentes
aos Impérios persa e romano, daquela época. Essa religião continua prevalecendo até aos
nossos dias atuais, apesar das perseguições, das tramas e das guerras que Mohammad e seus
adeptos sofreram durante quatorze séculos.
Como muçulmano que sou, fico a me questionar: O que levou os judeus a
desacreditarem no profeta Jesus e a rejeitarem sua condição de profeta? O que levou os
cristãos a rejeitarem o Profeta Mohammad com a sua mensagem e sua condição de Profeta?
Não desejamos, com essas perguntas, discorrer a respeito do assunto e pesquisar sobre as suas
causas, por não ser o nosso objetivo aqui. Mas estranho a posição das duas comunidades
quanto a se negarem a crer em Jesus e em Mohammad (a paz esteja com eles),
respectivamente, nas mesmas condições.
Mesmo que os judeus não tivessem profecias a respeito de ambos os profetas, e que os
cristãos também não tivessem qualquer profecia sobre Mohammad, ambas as comunidades
deveriam crer neles verdadeiramente, como fator de justiça e afastamento do mal, não devido
às profecias que confirmam as suas missões, mas devido às provas e aos sinais que
determinaram a veracidade de ambos, pois as vidas de ambos estão repletas de porfias, de
sinceridade, em defesa da questão da unicidade, da corroboração dos profetas, da reforma das
sociedades sociais humanas e a sua orientação para o caminho reto.
Além disso, as inúmeras profecias existentes nos livros de ambas as comunidades a
respeito do advento de Mohammad, corroboram a determinação das características gerais e
particulares dele, de acordo com as próprias palavras dos profetas.
Queremos finalizar este capítulo e estabelecer a veracidade da mensagem de
Mohammad, à luz das provas e sinais descritos, aceitos pelas três religiões, judaica, cristã e
islâmica. Os textos bíblicos e alcorânicos que citamos confirmam isso. Ninguém, dos adeptos
do Livro, pode negar os textos extraídos de seus próprios livros, e que os orienta no sentido de
comprovarem se um determinado profeta é verdadeiro ou falso.
Para os sábios mais justos, mesmo os não muçulmanos, as provas e os sinais se
aplicam ao Profeta Mohammad e à sua mensagem divina, mais do que a qualquer outro
profeta, porque a história não registra a biografia de homem ou profeta algum, como registrou
a biografia do Profeta Mohammad, mesmo nos mínimos detalhes, quer seja por seus adeptos
ou adversários.
Capítulo VI
Equívocos a Respeito da Condição Profética de Mohammad (S)
e a Respeito do Alcorão Sagrado
Alguns grupos de pessoas duvidosas se empenham no sentido de divulgar rumores a
respeito da veracidade da condição profética de Mohammad (Deus o abençoe e lhe dê paz),
bem como a respeito da revelação que ele recebeu, baseando-se em estudos de orientalistas, a
respeito de sua vida, do Alcorão que ele transmitiu para as pessoas. Eles se utilizam de alguns
textos ou relatos fora da questão, coisa que os levou a negarem a condição dele de Profeta, a
não ingressarem em sua religião, até hoje, menosprezando a sua legislação, a quem o mundo
deve favor no campo da ciência, da civilização, da moral, da legislação, da justiça. Eles
afirmaram também que o Alcorão que Mohammad transmitiu é de sua autoria, e não uma
revelação divina, com as seguintes alegações:
a) A semelhança existente entre o Alcorão e a Bíblia quanto às informações a respeito
dos povos antigos e as estórias de seus profetas.
b) As informações históricas a respeito das viagens de Mohammad para a Síria, o seu
encontro com os cristãos daquelas localidades - como foi o caso do seu encontro
com o monge Bahira, quando da sua viagem em companhia de seu tio Abu Tálib -, deduzindo
(eles) que o Profeta aprendeu com ele e teve dele algumas informações a respeito do assunto.
Isso confirma as alegações das dúvidas.
c) Mohammad teve informação quanto ao advento de um profeta dos descendentes de
Ismael. Os monges cristãos e os rabinos judeus, espalhados na Península Arábica, deram-lhe
essa informação. Isso o levou a se preparar, isolando-se de seu povo, realizando sua
meditação na caverna, fornecendo-lhe uma espécie de iluminismo espiritual e elevação
pessoal. As visões e os sonhos que ele teve foram imaginações suas, os quais ele pensava
fossem revelações de Deus ou inspirações, aos quais deu o nome de Alcorão.
Isso é um resumo das alegações desses grupos que lotam seus livros e suas teses.
Os componentes de um grande grupo de orientalistas famosos, conhecidos no mundo
intelectual e acadêmico e, por sua condição de influenciar as pessoas, prontificaram¬se em
divulgar essas alegações entre os estudantes, tanto secundaristas como universitários, bem
como entre a população em geral.
Uma parte deles demonstrou o seu ódio e rancor contra o Islam, contra seu Profeta e
seus seguidores. A sua condição acadêmica não o impediu de não ter pesquisado
devidamente, de não ter utilizando o método científico objetivo, avaliando as alegações
mentirosas, os insultos detratores e as descrições mesquinhas quanto ao Mohmmad, à sua
religião e ao Alcorão Sagrado.
Outros componentes do grupo desses orientalistas não podem ser acusados de
inimizade declarada, ou de falta de objetividade nas suas pesquisas; porém, suas invistigações
históricas, seus longos estudos do Alcorão e da biografia de Mohammad não foram
suficientes para fazê-los reconhecerem completamente a condição profética de Mohammad
(Deus o abençoe e lhe dê paz), nem fazê-los confirmarem que o Alcorão que ele transmitiu
fosse uma revelação divina, e não de sua autoria. Contudo, reconheceram que aquilo que ele
trouxe, de questões religiosas e doutrinárias, de reforma da sociedade, de princípios morais,
de código de relacionamentos sociais, econômicos e políticos, foi grandioso, não alcançado
pelos maiores reformadores e políticos, cujos nomes estão registrados nos anais da história.
Não podemos negar, porém, a existência de um pequeno grupo de pensadores
imparciais que se preocuparam com a acuidade de sua pesquisa, que estudaram a biografia de
Mohammad, analisaram o Alcorão com seriedade e objetividade, e conseguiram chegar à
verdade que procuravam. Eles declararam isso, aberta e corajosamente, em suas pesquisas e
seus escritos. Confirmaram que aquilo que Mohammad transmitiu foi revelação divina.
Afirmaram que as suas virtudes, a sua determinação, a clareza da sua biografia, as suas
realizações na reforma da sociedade, da religião e da moral são provas suficientes de sua
condição de profeta, da veracidade das suas afirmações a respeito das revelações que ele
recebeu, superando, em muito, as realizações dos profetas e
mensageiros israelitas. Ele os sobrepujou no que diz respeito à instituição do monoteísmo - a
crença do Profeta Abraão (a paz esteja com ele) - e à reforma da sociedade. Ele foi o único
que, em curto espaço de tempo, em menos de meio século, realizou uma reforma no mundo,
coisa que centenas de profetas israelitas foram incapazes de conseguir, em milhares de anos.
Dentre este último grupo de pensadores podemos citar o austríaco Dr. Leopoldo Vais,
os franceses Dr. Maurice Bucali, Roger Garuday, é outros.
O Professor Eduard Montier, o orientalista francês, professor de línguas orientais na
Universidade de Genebra, na introdução de sua tradução do Alcorão, escreveu:
"Mohammad era um verdadeiro profeta, como o foram os profetas israelitas de outrora e, a
exemplo deles, recebia a revelação e a inspiração divinas. A sua crença religiosa e a idéia da
existência de um Deus Único estavam enraizadas nele, como estavam enraizadas nos profetas
anteriores a ele."
A Falsidade das Alegações e dos Equívocos
A maioria dos sábios orientalistas imparciais, orientais e ocidentais, que trataram do
assunto de condição profética de Mohammad, estudaram o Alcorão objetivamente, com
investigação precisa, e concluíram que a reforma proporcionada por Mohammad, primeiro
entre a população politeísta da Arábia e, posteriormente, em todo o mundo, reforma essa tanto
dogmática quanto moral, de relacionamento social e internacional, instituindo um
sistema econômico baseado na justiça social, numa sociedade que se acostumara à usura,
numa vida materialista, onde o forte dominava o fraco, foi verdadeira. Esse é um feito ímpar e
admirável na história de toda a humanidade, que não pode ser alcançado por nenhum ser
humano, por mais que tenha conhecimento, aptidão, poder, liderança política e social. Os
anais da história não conheceram um reformador como Mohammad (S), nem antes nem
depois dele, que tivesse conseguido realizar uma só parte de reforma completa, num tão curto
espaço de tempo, como ele conseguiu, além de fundar uma nação jovem, poderosa, baseada
na justiça, no direito, na imparcialidade e na consulta mútua. Em um curto espaço de tempo,
essa nação conseguiu também acabar com a idolatria romana e persa, bem como com a da
civilização egípcia.
Muitos cientistas reconhecem isso. Entre eles, Gustave Le Bon, em seu livro, "A
Civilização Árabe-Islâmica", Emile Dermenghem, em seu livro, "A Vida de Mohammad",
Roger Garaudy, Leopold Vais, Edward Montier, Maurice Bucali, etc ..
Por outro lado, a reforma e o sucesso obtidos por Mohammad, não foram alcançados
devido aos seus estudos, nem conhecimentos astronômicos e humanos, pois não sabia ler ou
escrever. O mesmo acontecia com o seu povo coraixita, salvo alguns deles, que sabiam ler e
escrever. Em sua época, a cidade de Makka não era o berço da civilização nem um centro de
pesquisas.
Todo aquele que analisa a biografia de Mohammad, quer seja estudioso oriental ou
ocidental, reconhece que
ele foi um homem iletrado, não freqüentou nenhuma escola, nem se formou em alguma
universidade. Isso foi confirmado pelas narrativas dos seus companheiros, que nada deixaram
de detalhes quanto à sua vida, quer seja antes de seu advento, quer seja depois, sem mencionálos. Os seus biógrafos e os narradores do hadice citaram isso em seus livros, deixando para os
sábios posteriores a tarefa de se certificarem. Os próprios versículos alcorânicos confirmaram
que Mohammad era iletrado: "São aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o
qual encontram mencionado em sua Tora e seu Evangelho" (Alcorão Sagrado, 7: 158).
Em outro versículo, lemos: "E nunca recitaste livro algum antes deste, nem o
transcreveste com a tua mão direita; caso contrário, os difamadores teriam duvidado"
(29:48).
Esse versículo é uma prova contra qualquer incrédulo. Não há nenhuma narrativa, nos
livros de biografia e de hadice, que afirme que os coraixitas desmentiram Mohammad, quanto
a esse versículo, de ele ter sido iletrado, nem antes nem depois do advento da profecia. Eles o
conheciam por quarenta anos, antes de ele afirmar-lhes que era o Mensageiro de Deus. O
mesmo versículo mostra a causa e tira a dúvida, uma vez que, se ele antes tivesse instrução,
soubesse ler e escrever, seu povo teria argumentado quanto à veracidade do versículo, e
teriam motivo para ter duvidado de sua condição de Profeta. O versículo, porém, esclarece
que, se ele tivesse tido conhecimento, os difamadores teriam duvidado dele.
Os pensadores orientalistas imparciais concordam conosco e confirmam a veracidade
das narrativas que afirmam que Mohammad era veraz no que afirmava; que não havia
mentido, nem antes nem depois de seu advento como Profeta; que os idólatras o
denominavam "AI Amin",
devido à sua honestidade e veracidade. Seria lógico denominarem-no mentiroso quanto à
mensagem e à revelação divina para ele, na forma de Alcorão?
Não é possível que uma pessoa inteligente e imparcial, sabendo que um indivíduo,
cuja biografia pessoal é conhecida pela veracidade, honestidade e honradez, seja descrito ao
contrário disso. Como, então, pode-se fazer isso com uma pessoa cuja biografia é precisa, nos
mínimos detalhes de sua vida, além de ser totalmente conhecida, tanto pelos seus inimigos
como pelos seus seguidores? Acaso é possível que uma pessoa, que nunca mentiu para as
pessoas, minta para Deus? Ao contrário, ele condenou a mentira, e a proibiu para todos os
seus seguidores, dizendo:
"O crente não mente."
Quanto ao que diz respeito ao Alcorão, que ele transmitiu para as pessoas, do modo
como foi revelado, e conservado pelos seus companheiros e seguidores, depois dele, até ao dia
de hoje, ficamos pasmos perante os milagres que ele abrange. Suas 114 suratas, reveladas
paulatinamente, se fossem da autoria de Mohammad, ele as teria apresentado de uma só vez,
como é costume dos escritores. Foram necessários passarem-se vinte e três anos, desde o seu
advento profético, até poucos meses antes da sua morte.
Não vamos, por falta de espaço abordar todos os milagres do Alcorão. Nem podemos
fazer isso. Mas vamos abordar dois aspectos que achamos suficientes para tirar as dúvidas
levantadas.
Primeiro aspecto: se é verdade que Mohammad é o autor do Alcorão, copiado da
Bíblia, como alegam, por que ele não seguiu os padrões das narrativas históricas e
os arranjos utilizados nos capítulos da Bíblia? Ele poderia, se quisesse, juntar as questões
dogmáticas, e as questões incognoscíveis num ou mais capítulos; colocaria as questões de
cunho moral, das virtudes e éticas em certas suratas; as bases das relações comerciais e
econômicas em outras suratas; as questões familiares, a vida social, os direitos, os deveres,
seriam colocadas em suratas separadas. Ele também designaria algumas suratas para as
questões lícitas e ilícitas, como vemos no capítulo Deuterenômio, da Bíblia. Por que ele não
fez isso, uma vez que é costume entre os escritores?
O Alcorão, porém, que foi revelado paulatinamente, durante vinte e três anos, não
segue esse arranjo, nem segue os padrões cronológicos nas narrativas históricas, vistos na
Bíblia e o método utilizado nela. Mohammad poderia, em todos os longos anos que ele
transmitiu o Alcorão, para as pessoas, arranjar os seus assuntos de forma cronológica. Por que
não fez isso? Na verdade, Mohammad não tinha controle sobre o Alcorão, nem quanto ao seu
arranjo, aos seus assuntos, ao número de suas suratas, nem às suas palavras. Foi da vontade de
Deus, Que revelou esse livro ao Seu Profeta, que o Alcorão tivesse aquela forma e aquele
arranjo, pela Sua sapiência. O seguinte versículo nos fornece alguma informação: "Em
verdade, este Alcorão encaminha à senda mais reta e anuncia aos crentes benfeitores,
que obterão uma grande recompensa. E para aqueles que negam a Outra Vida, porém,
temos preparado um doloroso castigo" (17 :9-10).
Deus, glorificado e exaltado seja, confirmou que
Mohammad não tinha controle sobre o Alcorão. O versículo diz: "Mas, quando lhes são
recitados
os
Nossos
versículos
esclarecedores,
aqueles
que
não
esperam o
comparecimento perante Nós, dizem: Apresenta-nos outro Alcorão que não seja este, ou,
por outra, modificado! Dize: Não me incumbe modificá-lo por minha própria vontade;
atenho-me somente ao que me tem sido revelado, porque temo o castigo do Dia Terrível,
se desobedeço ao meu Senhor" (10:15).
Se Mohammad fosse o autor do Alcorão, não iria admitir a sua própria incapacidade
de atender as exigências dos idólatras quanto a fazer mudanças e emendas nele.
Segundo Aspecto: o Alcorão, com a descrição das palavras de Deus e a Sua revelação,
desafia todas as criaturas, humanos, gênios, anjos, a, se duvidarem de que ele provém de
Deus, e que as Suas palavras foram reveladas para Mohammad, o Seu Mensageiro, então que
façam, se puderem, um livro semelhante a ele, ou que façam dez suratas iguais às dele, ou
apenas uma surata que se assemelhe à eloquência, ao milagre, à sublimidade e à sua influência
nas pessoas, sem restrição, e que, para isso se ajudassem mutuamente. O Alcorão faz um
outro desafio, milagroso também, que eles não conseguem, nem conseguirão imitá-lo. Eis
alguns versículos que tratam do assunto:
"E se tendes dúvidas a respeito do que revelamos ao Nosso servo (Mohammad),
componde uma Surata semelhante às dele (o Alcorão), e apresentai as vossas
testemunhas, independentemente de Allah, se estiverdes
certos. Porém, se não o fizerdes - e certamente não podereis fazê-lo -, temei, então, o fogo
infernal cujo combustível serão os idólatras e as pedras; fogo que está preparado para os
incrédulos" (Alcorão Sagrado, 2:23-24).
"Ou dizem: Ele o forjou! Dize: Pois bem, apresentai dez suratas forjadas,
semelhantes às dele, e pedi (auxílio), para tanto, a quem possais, em vez de Allah, se
estiverdes certos. Porém, se não fordes atendidos, sabei, então, que este (Alcorão) foi
revelado com a anuência de Allah e que não há mais divindade além d'Ele. Sois, acaso,
muçulmanos?" (Alcorão Sagrado, 11: 13-14).
"Dize-lhes: Mesmo que os humanos e os gênios se tivessem reunido para
produzirem coisa similar a este Alcorão, jamais teriam feito algo semelhante, ainda que
se ajudassem mutuamente" (Alcorão Sagrado, 17:88).
Não há dúvida de que o desafio é dirigido, primeiro aos árabes, em cuja língua o
Alcorão foi revelado. Eles são famosos pela sua eloqüência, sua pureza de linguagem e pela
capacidade poética. Mesmo assim, não conseguiram até hoje produzir algo semelhante, e não
conseguirão. O desafio também é dirigido aos que falam outras línguas, através de traduções.
A tradução é composta por palavras que o tradutor entende do texto alcorânico, e não são
palavras de Deus. Porém, alguns aspectos do milagre do Alcorão permanecem inalteráveis,
em seu texto árabe e nas traduções de seus significados, em todos os idiomas.
A conclusão a que chegamos com esse desafio é:
O Alcorão ordena Mohammad a dizer a todos os intelectuais: "Se negais que esse Alcorão é
de origem divina e que me foi revelado por Deus, e alegais que ele é de minha autoria,sabei
que sou um ser humano como vós, e sou incapaz, como vós. Uma vez que sois humanos como
eu, por que não conseguis apresentar o que apresentei, produzindo um livro semelhante ao
Alcorão, que vos apresentei ?"
Quanto à alegação de certos orientalistas de que Mohammad desejava ser o profeta
que ele próprio havia tido conhecimento por intermédio dos sábios cristãos e judeus, e que
aparecia a ele, nas suas meditações, pois havia atingido um grau elevadíssimo de pensamento,
em meio ao ambiente de perdição de seu povo quanto à crença e a moral, podemos dizer que a
sua fina sensibilidade e a transparência de seu espírito prepararam-no para uma espécie de
superação espiritual, e iradiação psicológica, conseguindo, através disso, recitar o Alcorão,
produzindo-o na sua forma conhecida. Isso o capacitou a alcançar o sucesso patente e
insuperável, coisa que ele conseguiu.
Se a questão é esta, porque a história não repetiu o fenômeno, e fez surgir outra pessoa
semelhante a ele, uma vez que as ciências se desenvolveram, o conhecimento se espalhou,
universidades foram construídas, centros de pesquisa foram criados, fazendo evoluir as
ciências filosóficas, lógicas e sociais, crescendo a necessidade de pessoas como ele, nesta
época em que a corrupção, a deterioração, a injustiça e o ateísmo invadiram todos os setores
da vida?
É necessário analisarmos a vida de Mohammad, situando-nos no ambiente em que ele
viveu, entre os valores
do ambiente inculto dos beduínos em que ele cresceu, e incorporando-nos na simplicidade
inata dele e de seu povo, e não nos colocarmos num ambiente de desenvolvimento
tecnológico, de facilidades, de civilização evoluida - a civilização dos satélites artificiais -, da
industrialização, da televisão, do telefone, do computador, da Internet, da globalização, etc ..
É por isso que devemos ler o Alcorão que ele transmitiu, há quatorze séculos atrás, analisar as
informações científicas precisas que ele forneceu, as informações que a ciência não conseguiu
desvendar até hoje.
Como conseguiu Mohammad superar o conhecimento da sua geração em quatorze
séculos, e nos fala, através do Alcorão - se foi ele que o produziu, ou copiou-o de alguém -,
como se ele vivesse entre nós, a respeito dos segredos do átomo e a sua desintegração,1 dos
ventos e seu poder de fertilização,2 das núvens e suas camadas3 Como ele conseguiu nos
inteirar da ausência de oxigênio nas alturas4, o encontro dos mares e a barreira entre as, duas
águas?'? Até aos quarenta anos de idade ele nunca havia abordado qualquer questão religiosa
ou falado sobre o que ele transmitiu. Assim, forçosamente, iremos concluir que aquilo que
Mohammad trouxe de Alcorão não foi da autoria e produção dele. Não havia e não há entre os
capítulos da Bíblia algo semelhante, nem os há em qualquer livro
1
Alcorão Sagrado
2
Alcorão Sagrado
3
Alcorão Sagrado
4
Alcorão Sagrado
religioso ou científico antigo. Podemos acrescentar a isso os aspectos milagrosos quanto à
eloqüência, ao aspecto artístico, narrativo, judicial, reformista, objetivo, etc., existentes nos
textos do Alcorão, uma vez que ele é ímpar, independente de tudo, não lhe igualando nenhum
livro, nem se comparando este a quaisquer palavras suas, nem sendo superado por prova ou
exemplo.
O Dr. Madriche, o orientalista francês, encarregado pelos ministérios do exterior e da
educação franceses, de traduzir 62 suratas dentre as longas suratas do Alcorão, desprovidas de
repetição, disse, na introdução de sua. tradução, publicada em 1926:
"O estilo do Alcorão é um estilo divino. A verdade patente é que os escritores que
mais duvidaram dele, se curvaram perante a sua autoridade."
Ficou uma última dúvida: a alegação de que Mohammad copiou o Alcorão de alguns
sábios cristãos e judeus quanto às narrativas dos profetas, às questões incognoscíveis em
relação ao Outro Mundo, ao julgamento, à recompensa e ao castigo, quando dos seus
encontros com o monge Bahira, durante as suas viagens comerciais para a Síria.
A verdade, nessas alegações é uma só: a questão de suas viagens à Síria. Isso
aconteceu duas vezes.
A Primeira foi em companhia de seu tio Abu Tálib, que era seu tutor, acompanhando
uma das caravanas comerciais dos coraixitas. Na época, Mohammad não tinha mais de doze
anos. As narrativas atestam que o monge Bahira viu por sobre o menino uma nuvem que fazia
sombra sobre ele. Isso chamou a atenção do monge que aconselhou o tio a retomar com
Mohammad para Makka, e resguardá-lo das tramas dos judeus, devido aos conhecimentos que
os monges e os rabinos tinham de seus livros quanto às características e os sinais que ele viu
no rapaz, e que indicavam a sua condição de profeta. O tio atendeu ao conselho e retomou
com o sobrinho para Makka, sem completar a sua viagem à Síria com a caravana dos
coraixitas.
Segunda: a sua viagem comercial que ele empreendeu para a Síria, como encarregado
das mercadorias de Khadija, filha de Khuailed, com a qual ele se casou posteriormente,
atendendo a um pedido dela, devido à sua honestidade e honradez. A idade de Mohammad,
nessa época, não passava dos vinte e cinco anos, ou seja, quinze anos antes de seu advento
profético. A sua viagem era totalmente comercial, e ele não pensava, naquela época, da
mesma forma que fez após o advento da sua profecia, ao alcançar os quarenta anos de idade.
Os seus biógrafos e narradores do hadice não citam que ele se encontrou com algum, monge.
Quanto ao Monge Bahira, com o qual eles alegam que Mohammad aprendeu, na verdade,
havia falecido antes daquela viagem. As narrativas contam, sim, que durante a sua viagem,
sentou-se à sombra de uma árvore para descansar. Perto dali havia um cenóbio de um monge
sírio, de nome Nestor. Esse monge, quando viu Mohammad sentado debaixo da árvore,
perguntou acerca dele ao rapaz, chamado Maisara, que o acompanhava na viagem. Maisara
lhe disse: "É um homem coraixita, de Makka". O monge disse: "Só um profeta sentou-se
debaixo desta árvore."1
1
Ver o livro: Sirat Ibn Hicham (Biografia do Profeta), de Ibn Hicham, pág. 188.
Ele queria dizer que aquela pessoa sentada debaixo da árvore só podia ser profeta. Se
isso indica alguma coisa, indica o que afirmamos: que Mohammad é Profeta. É uma prova a
favor e não contra.
Desse modo, como podem eles alegar que Mohammad aprendeu do monge Bahira ou
de outro? É uma alegação inventada, e dedução falsa, uma vez que, no campo da ciência, e da
pesquisa histórica, não podemos tirar conclusões, baseados em suposições e conjecturas. Da
mesma forma, não podemos deduzir questões, apoiados em algumas narrativas desprovidas de
lógica e rejeitadas pela inteligência, porque o longo tempo que passou entre o encontro casual
com o monge Bahira, na sua primeira viagem, e entre o seu advento profético, quando já
estava com quarenta anos de idade, garantem dissipar qualquer dúvida levantada. Seria mais
lógico que Mohammad tivesse externado o que ele aprendeu com os monges, logo depois de
seu encontro com eles, e não depois de quinze ou mais anos. Suponhamos que Mohammad
tenha aprendido com o Monge Bahira ou com outros monges sírios ou judeus de Madina; isso
seria um grande argumento dos coraixitas contra ele. Como os exegetas e os biógrafos
citaram, eles o contestaram por algo muito mais fraco, pois o acusaram de ter aprendido de
um rapaz romano, escravo da família Hadrami, que fabricava espadas e similares em Makka,
e as vendia para os coraixitas. O Profeta costumava, de vez em quando, ficar apreciando a sua
arte. O rapaz não sabia falar árabe a não ser o suficiente para se comunicar com as pessoas.
Os idólatras achavam que Mohammad aprendeu
com ele. Ele só foi acusado disso, quando todas as suas alegações haviam-se esgotado e
tiveram que recorrer a qualquer motivo para acusá-lo de estar enganando a Deus, sem levarem
em consideração a lógica das acusações deles. Por isso, foi revelado a Mohammad o versículo
que mostrava a debilidade das suas acusações e opiniões, dizendo: "Bem sabemos que
dizem: Foi um ser humano que lho ensina (o Alcorão a Mohammad). Porém, o idioma
daquele a quem aludem tê-lo ensinado é a não árabe, enquanto que a deste (Alcorão) é a
elucidativa língua árabe" (16: 103).
Acrescente-se a tudo isso o que foi dito: que os claros textos do Alcorão informam que
Mohammad nada sabia, antes do seu advento profético, a respeito dos relatos quanto aos
profetas e seus povos. Como, então, ele conheceu a história daqueles povos que nem
mencionados estão na Bíblia, se ele aprendeu dos sábios cristãos e judeus, ou copiou as
informações da Bíblia?
Dentre tais relatos está o dos homens da caverna, do povo da trincheira, de Moisés
com o Khidr.de Zul Carnain, do dono dos dois pomares, a estória do nascimento de Maria,
filha de Imran, a mãe de Jesus (AS), da promessa da esposa de Imran de dedicar o seu
rebento, Maria, a serviço do templo e da adoração a Deus, da discordância dos sábios do
templo quando do nascimento dela, a estória de se tirar a sorte para verificarem quem ficaria
com ela, ficando sob a guarda de Zakaria.
Por outro lado, o Alcorão discordou de muitos relatos bíblicos a respeito dos profetas,
mostrando a verdade, como vemos na questão da mulher do Faraó ter cuidado de
Moisés, enquanto a Bíblia diz que foi a filha do Faraó que cuidou dele. Há ainda a narrativa
de que o samaritano fabricou o bezerro de ouro que foi adorado pelos israelitas, enquanto a
Bíblia diz que foi Aarão que fabricou o bezerro, acusando-o de idolatria e de politeísmo.
Além disso, há muitos outros relatos que são também discordantes nos dois Livros.
De onde tirou Mohammad essas informações, quando o Próprio Deus afirma que ele
nada sabia a respeito daquilo, antes de seu advento profético e da revelação que ele recebeu?
"Esses são alguns relatos do incognoscível que te revelamos, que os não conhecias
tu, nem o teu povo, antes disso. Persevera, pois, porque a recompensa será para os
tementes" (Alcorão Sagrado, 11 :49)
Capítulo Sete
Profecias da Bíblia Sagrada Quanto ao Profeta Mohammad
Primeira Parte: Textos do Alcorão Quanto às Profecias
Lemos no Alcorão Sagrado a confirmação do conhecimento que tinham os adeptos do
Livro - judeus e cristãos - do Profeta Mohammad, dos textos que o descreviam, da sua época e
seu apelido, em vários capítulos das escrituras deles. Um dos versículos mais completos e
abrangentes quanto a essa questão é o seguinte: "Quanto àqueles a quem concedemos o
Livro, conhecem isso, tal como conhecem seus filhos; só os desventurados não crêem"
(6:20).
Mohammad costumava recitar o Alcorão tanto perante seus adeptos como perante seus
adversários. Ele recitava em voz alta, sem receio nem vergonha, seguindo a ordem de Deus de
transmitir o Alcorão ("Ó Mensageiro, proclama o que te foi revelado por teu Senhor,
porque se não o fizeres, não terás cumprido a Sua Missão. AIlah te protegerá dos
homens, porque AIlah não ilumina os incrédulos - 5:67).
Os judeus residiam em Madina e não estavam isolados lá. Eles escutavam o Alcorão,
inteiravam-se dos acontecimentos e estudavam a vida do transmissor da Mensagem. Uma
parte dos seus rabinos acreditou em Mohammad, aceitou sua mensagem e seguiu a sua
religião. Na verdade, aqueles judeus tinham conhecimento dos livros anteriores, dos relatos
dos profetas, o que lhes proporcionava uma posição de destaque entre os árabes da península,
e entre o resto da população politeísta, idólatra e insipiente. O próprio Alcorão incitava
aqueles árabes ignorantes a perguntarem aos judeus, aos adeptos do Livro, sobre a veracidade
do advento do Profeta Mohammad, para sanarem as suas dúvidas. O Alcorão diz:
"Perguntai-o, pois, aos adeptos da Mensagem, se o ignorais!" (16:43).
O Alcorão vai mais além, quando ordena Mohammad perguntar, estando em dúvida,
aos adeptos do Livro (os judeus) sobre a veracidade do seu próprio advento, sobre a
Mensagem que Deus lhe transmitiu, para se conscientizarem da verdade indubitável. O
Alcorão diz: "Porém, se estás em dúvida sobre o que te temos revelado, consulta aqueles
que leram o Livro antes de ti. Sem dúvida que te chegou a verdade do teu Senhor; não
sejas, pois, dos que estão em dúvida" (10:94).
Não se deve estranhar isso, porque eles possuíam as provas, os sinais e os documentos
históricos quanto à missão do Profeta Mohammad, o que fez com que o Alcorão confirmasse
o conhecimento deles quanto ao Profeta e ao seu advento. Senão, o Alcorão não teria citado
nada daquilo.
Uma pergunta se impõe: por que, apesar do conhecimento que possuíam, não
acreditaram na Mensagem de Mohammad?
Também, não queremos aqui tratar desse assunto, nem explicar as causas que os
levaram à sua incredulidade. O certo é que ninguém deles tive a coragem de desmentir a
Mohammad, e rejeitar o que lhe foi revelado por Deus a respeito deles, ou a respeito dos
profetas e dos povos anteriores a ele próprio. O proceder deles é conhecidíssimo, pois eles
perseguiam os profetas, desmentiam-nos, torturavam-nos, matavam-nos quando necessário.
Eles também são conhecidos por suas rebeldias contra as leis de Deus e de Seus profetas. Isso
não está registrado apenas no Alcorão Sagrado, mas está registrado nas suas próprias
Escrituras.
É inconcebível, nos dias atuais, que alguém, judeu ou cristão, venha a contestar a
veracidade da Mensagem de Mohammad e a sua condição de Profeta. A alegação de que ele
copiou o Alcorão, dos seus livros ou dos ensinamentos de seus rabinos, é uma alegação
estúpida e afirmação débil e rejeitada, quer do ponto de vista histórico, quer do ponto de vista
científico e lógico; não tem consistência no campo da pesquisa nem da análise. Muitos dos
seus sábios justos rejeitaram a alegação, porque se a alegação tivesse um resquício de
verdade, os seus antecessores não se teriam furtado em utilizá-la, uma vez que foram
contemporâneos de Mohammad, conviveram com ele. Aquelas pessoas tinham mais
conhecimento e mais discernimento do que os orientalistas atuais, judeus
e cristãos, por igual. Os seus contemporâneos tinham pleno conhecimento da condição de
iletrado de Mohammad, do seu completo desconhecimento quanto à leitura e escrita. Se eles
tivessem uma só prova que justificasse a alegação, não teriam vacilado, nem esperarado um
só instante em apresntá-la às pessoas, para desmentirem Mohammad paladinamente. Se o
próprio Mohammad estivesse forjando mentiras acerca de Deus quanto à sua condição de
Profeta, não teria a coragem a lançar em seus rostos e aos seus ouvidos o versículo acima
citado, pois Deus lhe ordena a perguntar aos adeptos do Livro sobre o seu próprio advento.
Em acréscimo a isso, diga-se que os primeiros judeus conheciam perfeitamente a
biografia de Mohammad, as suas condições, quer antes de seu advento, quer depois. Eles
sabiam que Ele não se misturava nem tinha intimidade, antes de seu advento (como profeta),
com as pessoas, mesmo de sua tribo e de seu povo. Como, então, iria misturar-se com pessoas
de outro povo, quer fossem rabinos ou sacerdotes?
O que queremos concluir com esta introdução é o seguinte: será que o Alcorão alegava
falsamente que os adeptos do Livro conheciam Mohammad, com suas características, sua
designação, sua Mensagem? Ou a alegação é verdadeira, confirmante do conhecimento que
tinham, baseada nos documentos que eles possuíam?
Não há dúvida de que o Alcorão é a revelação de Deus para o Seu Mensageiro, e é o
Seu Livro eterno. Este não poderia citar aquilo em vão ou falsamente. Como pode ser isso, se
ele se dirige a eles com sinceridade e eles não contestam?
Já citamos, no capítulo "A Veracidade da Bíblia Sagrada", que dentre as dificuldades
que o pesquisador enfrenta para a compreensão e a explicação dos textos bíblicos são as
traduções feitas pelos tradutores da Bíblia para várias línguas, totalmente diferentes em suas
literaturas, suas culturas, e mesmo em suas religiões, das línguas semíticas, línguas originais
do Livro Sagrado. A perda dos originais dos Livros Sagrados constitui a principal causa da
obscuridade de muitos dos seus ensinamentos, ou da má compreensão de seus textos. Isso
também teve uma influência direta sobre as profecias citadas pelos profetas, deturpando-as,
dando oportunidade para o surgimento de falsos profetas, ou explicando-as de forma
totalmente adversa, conforme as paixões e os interesses de quem as citaram. Um exemplo
claro disso é o que escreveram em particular os evangelistas, pois se basearam fortemente nos
textos ou nas profecias do Velho Testamento para provarem suas opiniões ou imaginações a
respeito da divinização de Jesus, da sua crucificação e da redenção dos pecados da
humanidade.
Nós, muçulmanos, não necessitamos das profecias da Bíblia Sagrada a respeito do
Profeta Mohammad, da sua Mensagem, ou das suas características, para afirmarmos a nossa
crença nele, e aumentarmos a nossa convicção quanto à veracidade da sua Mensagem. A
crença e a convicção foram adquiridas por outras vias, nada parecidas com as que estamos
tratando. Não haveria nenhuma dúvida na nossa crença quanto à sua Mensagem e profecia,
mesmo que todas as provas e profecias da Bíblia não existissem, ou fôssemos contrariados
por todos os habitantes da terra.
Mas, uma vez que o Alcorão confirmou as profecias da Bíblia quanto a Mohammad, é
por uma questão de conhecimento que pretendemos pesquisar e chegar à verdade. Devemos
mostrar as profecias para os adeptos do Livro, e esclarecê-las para aqueles a quem o Alcorão
Sagrado se dirige para informar sobre a condição profética de Mohammad, contestando os
céticos e os incrédulos dentre eles. Por isso, os sábios muçulmanos se debruçaram na questão,
preocuparam-se em estudá-la e esclarecê-la, por diversos meios e caminhos diferentes, desde
os primeiros séculos do advento do Islam. É isso que iremos detalhar, se Deus quiser, neste
último capítulo do livro, completando o seu objetivo.
Segundo - Profecias do Velho Testamento Quanto a Mohammad
É do conhecimento geral que Mohammad descende da estirpe de Ismael, filho de
Abraão (que a paz esteja com todos). Ele nasceu e cresceu nas montanhas de Makka e em
seus campos, pois foi o lar em que seu avó, Ismael, viveu, sendo um dos membros da tribo de
Coraix, descendente de Quidar, ou Adnan, um dos filhos de Ismael. Aquela região, que foi
habitada por Ismael e seus filhos, era denominada "Desertos de Faran", ou "Montanhas de
Faran", cercada que era pelos desertos e pelas montanhas, como a montanha de Salé ou "Terra
de Madian", como seus nomes aparecem nas Escrituras. De acordo com o Alcorão sagrado, os
profetas antigos sabiam do advento de Mohammad. Eles aconselhavam seus seguidores e
povos a seguirem esse Profeta e crerem nele. Isso é o que iremos ver nos textos seguintes:
1 - O nome do Profeta Mohammad e a profecia quanto a ele estão presentes no último
conselho de Jacó a seus filhos, acompanhado da sua benção a eles, antes da sua morte: "O
cetro não se arrederá de Judá, nem o legislador de entre seus pés, até que venha Shiloh e a ele
se congregarão os povos" (Gênesis, 49:10).
Essa profecia de Jacó nos informa que o governo e a autoridade representados pelo
cetro, e que a lei e a profecia, interpretadas pela palavra "legislador de entre seus pés",
permanecerá nas mãos dos descendentes de seu filho J udá, até a vinda de Shiloh, e a ele se
congregarão os povos. É impossível que Shiloh seja da descendência de Judá, porque as suas
palavras: "O cetro não se arredará de Judá ... até que venha Shiloh" esclarece que Shiloh não é
de sua descendência. Para esclarecermos essa profecia, é necessária alguma explicação.
O Professor Abdel Ahad Daoud, em seu livro"Mohammad fil Kitab Ai Mukaddas"
(Mohammad na Bíblia Sagrada), diz: "Todas as cópias do Velho Testamento conservaram a
palavra original, Shiloh, sem traduzi-la ou explicá-la. Na tradução siríaca da Bíblia aparece a
tradução dessa palavra como "a pessoa que lhe pertence", pois o tradutor entendeu que a
palavra é formada de "Shi", e quer dizer ele, e "Lo h" , que quer dizer dele. Em seguida, de
acordo com a mesma tradução, a frase é lida da seguinte forma: "até que venha a pessoa que
lhe pertence" ou "é dele". De acordo com esse texto importante, o significado da profecia
aparece com simplicidade e clareza, da seguinte
forma: "Que o cetro real e a profecia não cessarão de pertencer à descendência de Judá, até
que surja a pessoa que tenha essas características, e os povos se congregarão a ele."
Mas, parece que a palavra deriva-se do verbo "Shalah", e, desse modo, significa "o
submisso, o calmo, o confiável, o fiel". É possível que haja uma deturpação errônea dessa
palavra, com a alteração da última letra de "het" para "hi". Assim, a palavra seria derivada de
"Shalah" com o significado de "enviar". Se for o caso, a palavra "Shiloah" terá o mesmo
significado de "Rassul lah", que é a denominação utilizada somente para Mohammad, ou seja,
"Rassulul Lah".
Não conseguimos encontrar outra explicação para esse nome, a não ser nas três formas
citadas por nós1
Portanto, temos três interpretações para a palavra "Shiloh" que aparece na profecia:
Primeira: A quem pertence, ou, quem tem as
características intrínsecas.
Segunda: O confiável, o calmo, o fiel.
Terceira: O Enviado por Deus, ou Mensageiro de Deus.
O significado da profecia, de acordo com as três traduções, é o seguinte: "O cetro não
se arrederá de Judá, nem o legislador de entre seus pés, até que venha 'Rassullu Lah', 'o fiel', 'o
confiável', 'aquele que possui essas características', e a ele se congregarão os povos".
A pergunta que se faz, é: será que houve um profeta ou governante no qual se
aplicassem essas profecias como se
1
Extraído do livro "Mohammad fil Kitab AI Mukaddas" (Mohammad na Bíblia Sagrada), pág. 79-80, em resumo
aplicam ao Profeta Mohammad, o Mensageiro de Allah, o fiel?
Se examinarmos minuciosamente cada uma das três explicações, verificaremos que
essas profecias não se aplicam a nenhum dos profetas e reis antes de serem aplicadas a
Mohammad.
Focalizada a primeira explicação, houve, acaso, algum profeta, fora da descendência
de Judá, que teve o cetro de autoridade e legislação, além de Mohammad? Se verificarmos os
profetas do povo de Israel constataremos que houve três profetas importantes: Moisés, David
e Jesus. Será que algum deles representa o Shiloh, citado pela profecia?
Moisés (que a paz esteja com ele) não podia ser o Shiloh, porque foi o primeiro
organizador das doze tribos de Israel, e não surgiu, antes dele, qualquer profeta da
descendência de Judá. Certamente que Davi (a paz esteja com ele) também não foi, porque foi
o primeiro profeta-rei da descendência de Judá. É indubitável, também, que não foi Jesus (que
a paz esteja com ele), porque o próprio Jesus rejeitou a idéia de que o Cristo esperado por
Israel era um dos filhos de Davi (ver Mateus, 22:44-45). Por outro lado, Jesus também não foi
rei, nem pretendeu ter autoridade ou cetro. Ele rejeitou o posto ao ser abordado pela multidão
que desejava proclamá-lo rei, fugiu e se escondeu (ver João, 6: 14-15). Ele ainda não foi
portador de uma lei própria, nem tampouco o Evangelho, que ele conhecia de cor, tinha a
faculdade de mudar as leis e as regras em voga entre o povo de Israel, desde a época de
Moisés. Além
disso, ele era um profeta da descendência de Davi, ainda que fosse do lado da mãe. Portanto,
ficamos com um só indivíduo que preenche as características da profecia - esse é Mohammad,
filho de Abdullah, o Profeta árabe, que não era da descendência de Judá, mas da descendência
de Quidar - Adnan -, filho de Ismael (que a paz esteja com ele). Ele foi denominado pelo seu
povo, bem antes de seu comissionamento, com o famoso apelido de "AI Amin" devido ao seu
pacifismo, à sua fidelidade, veracidade e sua nobreza. Isso constitui um milagre para ele, uma
vez que seu povo (árabe) desconhecia o conteúdo dos Livros Sagrados e suas profecias, para
poderem utilizar o apelido de "Amin", citado pela predição, de acordo com a segunda
explicação para a palavra Shiloh. Ele foi o único dentre os profetas (que a paz esteja com eles)
que possuía o apelido de "Rassulullah " - característica da terceira explicação. É o apelido
com o qual se tomou famoso entre as pessoas. Foi o apelido escolhido por Deus, glorificado
seja, para que fosse a Sua bandeira. Apelido esse que o Próprio Deus deu para o Seu Profeta
Mohammad quando citou o seu exemplo e o exemplo dos que, na Bíblia, acreditavam nele.
Deus diz: "Mohammad é o Mensageiro de Deus, e aqueles que estão com ele são severos
para com os incrédulos, porém compassivos entre si. Vê-los-ás genuflexos, prostrados,
anelando a graça de Deus e a Sua complacência. Seus rostos estarão marcados com os
traços da prostração. Tal é o seu exemplo na Tora e no Evangelho, como a semente que
brota, se desenvolve e se robustece, e se firma em seus talos, compraz aos
semeadores, para irritar os incrédulos. Deus prometeu aos crentes, que praticam o bem,
indulgência e uma magnífica recompensa" (48:29).
Se analisarmos o primeiro significado da palavra Shiloh, "a quem pertence", o
Mohammad é o único dentre os profetas, fora dos israelitas, que possuía essa característica e
essa distinção, ou seja, de autoridade e legislação. Deus, glorificado seja, reuniu para ele as
duas características, com Suas Palavras:
"Realmente, revelamos-te o Livro, a fim de que julgues entre os humanos,
segundo o que AIIah te ensinou" (4: 105).
E:
"Em verdade, revelamos-te o Livro corroborante e preservador dos anteriores.
Julga-os, pois, conforme o que Allah revelou e não sigas os seus caprichos, desviando-te
da verdade que te chegou. A cada um de vós temos ditado uma lei e uma norma; e se
Allah quisesse, teria feito de vós uma só nação; porém, fez-vos como sois, para testar-vos
quanto àquilo que vos concedeu. Emulai-vos, pois, na benevolência, porque todos vós
retornareis a Allah, o Qual vos inteirará das vossas divergências" (5:48).
Para que Mohammad pudesse governar e legislar, foi-lhe revelado o Livro; as tribos
árabes e os povos da Península se submeteram a ele durante a sua vida. Depois de sua morte,
os seus sucessores continuaram a sua obra, dentro e fora da península, estendendo o domínio
do Islam e sua luz entre vários povos.
2 - No Livro de Deuterenômio vemos o sinal do advento do Profeta Mohammad, e as
citações das suas caracterís-ticas, em duas passagens:
a) Na primeira passagem vemos o anúncio, nas palavras do Senhor a Moisés:
"Eis lhes suscitarei um profeta do meio dos seus irmãos, como tu, e porei as minhas
palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. E será que, qualquer que não
ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, e o requererei dele. Porém, o profeta
que presumir, soberbamente, de falar de alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha
mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, o tal profeta morrerá"
(Deuterenôrnio, 18: 18-20).
Analisando o texto, concluimos o seguinte:
O profeta anunciado nesta profecia não poderia pertencer aos israelitas, mas viria do
meio dos seus irmãos. Isso significa que ele descende de Ismael, filho de Abraão (que a paz
esteja com eles), uma vez que os israelitas são irmãos dos israelitas devido ao avô comum
(Abraão) de ambas as descendências. Se disséssemos que esse profeta pertencia aos israelitas,
as palavras "do meio dos seus irmãos" não teriam sentido ou utilidade. Inferimos das palavras
"como tu", que ele é profeta absoluto, como Moisés foi, e que ele detinha Lei e Livro
particulares. Nenhum outro profeta preenche essas descrições citadas na profecia como o
Profeta Mohammad (que a paz esteja com ele). Ele é o único Profeta descendente de Ismael,
como é confirmado pelo Alcorão Sagrado:
"É a verdade do teu Senhor, para que admoestes
(com ele) um povo, ao qual antes de ti não chegou admoestador algum, para que se
encaminhe" (32:3).
Ele é também um dos mensageiros absolutos, ou melhor, é o líder deles, como é dito
na profecia de Davi a respeito dele (Mohammad).
A frase "e porei minhas palavras na sua boca" diz respeito à condição profética de
Mohammad, pois foi o único Profeta iletrado entre os profetas. Não nos foi transmitido que
algum profeta fosse iletrado, a não ser ele. A expressão "Annabí al ummí" (o Profeta iletrado)
nos informa que ele não sabia ler nem escrever, mas Deus o escolheu para a Revelação e
colocou as palavras na sua boca. Ele transmitiu o Alcorão, a Revelação divina. O Alcorão
desafiou os mais eloqüentes indivíduos árabes, mentores da língua árabe, os quais conheciam
perfeitamente a língua do Alcorão, Deus, glorificado seja, confirmou essa revelação ao
Profeta iletrado, dizendo:
" ... nem fala por capricho. Isso não é senão a inspiração que lhe foi revelada" (53:3-4).
"Ele foi Quem escolheu, entre os iletrados, um Mensageiro da estirpe deles, para ditarlhes os Seus versículos, consagrá-los e ensinar-lhes o Livro e a sabedoria, porque antes
estavam em evidente erro" (62:2).
Quanto às palavras "e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar" elas informam a
condição de fidelidade quanto à transmissão, coisa que carecteriza normalmente os profetas e a característica de lealdade é mais patente no derradeiro dos profetas, o Profeta Mohammad
(que a paz esteja com ele), conhecido que foi pelo seu povo, vários anos antes
de seu comissionamento, pelo apelido de "AI Amin" (o fiel, o leal).
Quanto à frase "E será que, qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar
em meu nome, e o requererei dele" ela é uma confirmação de que esse profeta não poderia
pertencer ao povo de Israel, pois se assim fosse, por que haveria a necessidade de serem
ordenados a ouvi-lo? Deus conhecia as almas incrédulas e as cabeças-duras, dentre os
israelitas, quanto a se apegarem aos mandamen¬tos d'Ele e seguirem seus profetas, mesmo
aqueles que Ele enviou deles mesmos. O que iriam dizer se se tratasse de um profeta
pertencente a um povo que consideraram, ao longo da história, adversário? Principalmente da
escolha de Deus quanto a Ismael- o avô do povo árabe -, para ser ele o cordeiro para o
holocausto (resgatado depois por Deus), a ponto de falsificarem os textos da Bíblia
relaciona¬dos com Ismael, trocando o nome dele pelo nome de Isaac, como se fora este o
resgatado, para com isso tirarem a honra de Ismael e sua descendência (ver Gênesis, 22: 2, 6,7
e 9).
Por isso, era necessária a confirmação dessa profecia a respeito de Mohammad e a
exigência de que os israelitas cressem nela o seguissem. Isso foi de fato confirmado pelo
Alcorão quando Mohammad foi ter com os israelitas, e eles o rejeitaram. O Alcorão diz: “Ó
adeptos do Livro, foi-vos apresentado o Nosso Mensageiro, para preencher a lacuna (na
série) dos mensageiros, a fim de que não digais: Não nos chegou alvissareiro nem
admoestador algum! Sim, já vos chegou um alvissareiro e admoestador, porque Allah é
Onipotente" (5: 19).
Deduzimos, da última frase do texto da profecia, "Porém, o profeta que presumir,
soberbamente, de falar de alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar,
ou o que falar em nome de outros deuses, o tal profeta morrerá", que Mohammad (a paz esteja
com ele), se fosse mentiroso na alegação de sua condição de Profeta, Deus não o teria deixado
livre; teria dado poder para seus inimigos, como foi confirmado por Deus, glorificado seja, no
Seu Livro Sagrado, onde diz: "E se (o Mensageiro) tivesse inventado alguns ditos, em
Nosso nome, certamente o teríamos apanhado pela destra; e então, ter-lhe-íamos
cortado a aorta, e nenhum de vós teria podido impedir-Nos" (69:42-47).
Este texto se aplica perfeitamente a Musailama, o mentiroso, que alegou ser profeta,
na época de Mohammad, e Deus o puniu com a morte, devido à sua mentira. Ele foi
eliminado pelos seguidores do Profeta veraz, Mohammad (que Deus o abençoe e lhe dê paz).
b) A outra passagem no Livro de Deuterenômio cita o local do adevnto do Profeta. A
seqüência do último conselho de Moisés (que a paz esteja com ele) para seu povo, confirma o
advento desse Profeta e o local onde iria surgir. Ele disse:
"Esta, porém, é a bênção com que Moisés, homem de Deus, abençoou os filhos de
Israel, antes da sua morte. Disse, pois: O Senhor veio de Sinai, e lhe subiu de Seir;
resplandeceu desde o monte Paran, e veio com dez milhares de santos: à sua direita havia para
eles o fogo da lei" (Deuterenômio, 33: 1-2).
O texto cita três localidades sagradas, onde Deus revelou a Mensagem para Seus
profetas, principalemnete a mensagem para Seus três profetas absolutos. As três localidades
são:
1. Monte Sinai, onde Deus falou a Moisés e lhe deu os Dez Mandamentos.
2. Monte Seir, a região ao redor de Jerusalém, onde se localiza o Monte das Oliveiras,
onde Deus fez a revelação do Evangelho ao Seu profeta Jesus (que a paz esteja com ele), filho
de Maria.
3. Monte Paran, a região citada na Bíblia como a terra de Ismael e seus descendentes,
chamada de "deserto de Paran", onde aconteceu a revelação divina a Mohammad (que a paz
esteja com ele). Deus lhe revelou o Alcorão, o derradeiro e o mais importante dos Livros. Ele
lhe revelou a Lei islâmica e a crença monoteísta, como o selo das leis para todas as nações. Se
compararmos essa profecia com os primeiros versículos da Surata do Figo, vemos que os três
locais são os mesmos que foram citados por Deus no texto acima. Ele diz: "Pelo figo e pela
oliva, pelo monte Sinai, e por esta metrópole segura (Makka)" (95: 1-3).
Se essa profecia não indica esses três profetas, que outros profetas indica?
Os judeus negaram o Profeta de Deus, Jesus, perseguiram-no e tentaram prendê-lo e
matá-lo, e teriam alcançado o seu intento, se Deus não o tivesse salvo e feito ascender até Ele.
Qual foi a posição deles quanto ao outro Profeta, citado pela profecia? Não foi melhor do que
quanto ao primeiro. Eles ignoraram todas as advertências e
explicações dos seus profetas sobre o advento do Profeta da região de Paran, ou deserto de
Paran, descendente de Quidar, filho de Ismael, como foi confirmado por outras profecias que
iremos citar em seguida. Tudo isso não foi suficiente para crerem em Mohammad, que estava
descrito na Tora.
Se a profecia não se aplicava ao Profeta Mohammad, a que profeta se aplicava então?
É possível que os judeus tivessem negado a Jesus por terem-no confundido, pois apareceram
muitos profetas na região de Jerusalém, citada na profecia como Seir. É possível que o
objetivo do texto tivesse sido Jesus ou outro. Porém, que dúvida pode haver no advento do
Profeta Mohammad, pois foi o único que surgiu em Makka (região de Paran)? Ele recebeu o
início da revelação num de seus montes, Monte Rirá. Acaso podemos dizer que a rejeição de
Mohammad, e a negação de sua Mensagem, foi por terem-no confundido?
Se analisarmos essa profecia segundo as palavra de Moisés e a primeira profecia desta
série, de acordo com as palavra de Jacó, observaremos que ambas foram feitas como conselho
final de ambos os profetas absolutos, para admoestarem seus seguidores e povos a se
preocuparem com o que lhes era apresentado, a declararem suas crenças e acreditarem na
ocorrência da profecia, ou seja, no advento do profeta nela citado.
4. No Livro de Isaías repetem-se os anúncios a respeito desse profeta e a confirmação
de seu adevento. Verificaremos, através dessas profecias, o chamamento divino, repetido nas
palavras de Isaías, "o profeta",
bradando para as nações e penínsulas no sentido de se prepararem para receber aquele Profeta
que viria com poder, autoridade e lei nova, que seria a base de todas as leis divinas anteriores,
e as sobrepujaria. Sua lei e religião prevaleceriam sobre todas as outras religiões, por ser a
religião do monoteísmo e da fé, da luta contra a incredulidade, o politeísmo e a idolatria. As
profecias confirmam, também, que a nação desse Profeta seria a derradeira e a escolhida entre
as nações, e que surgiria na Península Arábica, a terra habitada por Quidar, ou Adnan, filho de
Ismael. Todas as nações do mundo receberiam o Profeta esperado e revelação divina.
Temos no Livro de Isaías três profecias e predições, que são:
a) A primeira das profecias diz o seguinte: "Revelação de Duma. Gritam-me de Seir:
Guarda, que houve de noite? guarda, que houve de noite? E disse o guarda: Vem a manhã, e
também a noite; se quereis perguntar, perguntai; voltai, vinde. Revelação da parte da Arábia,
nos bosques da Arábia, passareis a noite, ó viandantes de Dedanim. Saí com água, ao encontro
do sedento: os moradores da terra de Tema encontraram os que fugiam com seu pão. Porque
fogem diante das espadas, diante da espada nua, e diante do arco armado, e diante do peso da
guerra. Porque, assim me disse o Senhor: Dentro de um ano, tal como os anos de jornaleiro,
toda a glória de Quedar desaparecerá. E os restantes do número dos frecheiros, os valentes dos
filhos de Quedar, serão diminuídos, porque assim o disse o Senhor, Deus de Israel" (Isaías,
21: 11-17).
Observa-se que o texto parece mais poesia do que prosa.
Achamos, se não estivermos enganados, que o texto original, hebraico, deveria ser bem mais
claro e elegante do que as traduções. a texto fala com linguagem metafórica e simbólica sobre
coisas que parecem obscuras à primeira vista. Porém, se analisarmos acuradamente o texto,
veremos que ele fala sobre uma série de verdades e significados, como o advento de Jesus
(que a paz esteja com ele), anunciado o advento do Profeta Mohammad, o episódio da Hégira
(emigração de Makka para Madina), sobre o tempo em que o Profeta permaneceu em Madina,
até à conquista de Makka, pois essa conquista foi o início do fim da idolatria e do politeísmo,
que praticavam o povo da Península Arábica e as tribos árabes, filhos de Quedar.
O leitor que tenha pouco de paciência para compreender essas verdades, que lhe
esclareceremos o obscurantismo do texto.
As narrativas nos contam que quando o Profeta Mohammad nasceu, sua mãe viu uma
luz que revelou a ela os palácios da Síria. A tradição narrada por AI Irbas Ibn Sária (que Deus
esteja aprazido com ele), nos revela que o Profeta Mohammad (que a paz esteja com ele)
disse:
"Para Deus, sou o postremo dos profetas, e Adão está fortalecido com a sua substância. Vou
contar-vos quem sou: Sou a invocação de Abraão, a anunciação feita por Jesus, o fruto da
visão da minha mãe, que viu, quando eu nasci, uma luz intensa que iluminou os palácios da
Síria".1
Nessa tradição, vemos a citação feita ao Profeta
1
Tradição narrada por Ahmad, vol, 4, pág. 217. Também narrada por Ibn Hiban e por AI Hákim
Mohammad, a anunciação feita por Jesus quanto ao seu advento, e a menção da luz intensa
que iluminou as regiões da Síria, quando sua mãe lhe deu à luz. Esses eventos estão citados
no texto, e não é de admirar que Deus, glorificado seja, tenha revelado ao profeta Isaías coisas
a respeito da luz que na região da Síria apareceria, como as suas palavras insinuam:
"Revelação de Duma". Duma é uma aldéia das regiões da Síria. "Gritaram-lhe de Seir",
quando do advento de Jesus (que a paz esteja com ele), anunciando o advento do Profeta
Mohammad e a proximidade de época deste. Parece que Jesus chama de "Duma" a região, da
qual surgiria a luz esperada. O guarda pergunta: "Será que não chegou a hora do surgimento
da luz?" O guarda responde: "Vem a manhã, e também a noite". É uma linguagem poética que
informa sobre a proximidade da manhã, que trará a luz intensa do sol, que iluminará toda a
terra: Parece que a terra ficaria nas trevas, até o surgimento da luz do Profeta Mohammad, a
expansão de sua orientação. Então vemos o guarda a aconselhar para a preparação quanto ao
recebimento da luz: "Se quereis perguntar, perguntai; voltai, vinde".
Quanto à segunda parte da profecia, podemos dizer, é a citação da predição:
"Revelação da parte da Arábia", aludindo à Mensagem de Mohammad para a região árabe.
Em que local daquela região? O texto responde: "Nos bosques da Arábia". Esse local é o vale
de Makka, que recebeu a revelação que foi transmitida por Mohammad, numa de suas
montanhas. Porém, os habitantes da região de Makka e de Taif rejeitaram a convocação e a
Mensagem dele. Que aconteceu? Passaram a persegui-lo, e a torturar
os seus seguidores, até que Deus preparou-lhe o campo por intermédio dos habitantes de
Madina ("os moradores da terra de Tema"), quando suas caravanas foram para Makka, em
peregrinação. Eles escutaram as prédicas do Profeta Mohammad, e creram nele. A crença
deles era como a satisfação dos sedentos, como a profecia alude:
"Saí com água, ao encontro do sedento".
Os moradores da região de Tema prepararam-se para recebê-lo e proteger a sua
convocação, que dava água ao sedento e pão ao faminto - não água para beber, nem pão para
comer, mas com alusão à aceitação da crença e da Mensagem. O Profeta não fugiu de Makka
à procura de pedaços de pão ou um copo de água. Mas emigrou e fugiu "diante das espadas,
diante da espada nua, e diante do arco armado", com o seu companheiro, Abu Bakr, quando as
espadas foram desembainhadas e os arcos foram armados pelos politeístas de Makka e seus
líderes coraixitas (os filhos de Quedar), para eliminarem Mohammad, na noite da Hégira. Eles
tentaram eliminar, com suas espadas e arcos, a convocação para o monoteísmo, sendo que
muitas batalhas se desenrolaram em Madina e seus arredores. Quando chegou a hora de a
religião do Islam prevalecer e se elevar, a profecia se realizou, pois os filhos de Quedar, que
tinham expulsado Mohammad, foram derrotados, depois de um período de jornaleiro, ou seja,
o tempo de oito anos, como é esclarecido pelo Alcorão quando da servidão de Moisés a seu
sogro, Jetro, que diz: "Disse (o pai): Na verdade, quero casar-te com uma das minhas
filhas, com a condição de que me sirvas durante oito anos" (28:27).
Ao constatarmos isso, ficamos sabendo porque demorou oito anos para que Makka
fosse conquistada pelos muçulmanos. Foi esse o tempo que Mohammad permaneceu em
Madina, desde a sua Hégira. Findo o período de oito anos, ele retornou a Makka,
conquistando-a para o monoteísmo, eliminando a glória dos coraixitas politeístas, dos filhos
de Quedar, ou Adnan, para que nunca mais se erguesse um só ídolo em Makka, ou fosse
adorada outra divindade além de Deus, até quando Deus quiser. Isso é exatamente o que a
profecia informa: "Porque, assim me disse o Senhor: Dentro de um ano, tal como os anos de
jornaleiro, toda a glória de Quedar desaparecerá. E os restantes do número dos frecheiros, os
valentes dos filhos de Quedar, serão diminuídos, porque assim o disse o Senhor, Deus de
Israel".
Há, acaso, outro, além de Mohammad, que seja objeto desta profecia? Foi enviado
algum outro profeta à Península Arábica? Houve, acaso, algum outro que tivesse eliminado a
vanglória dos coraixitas, filhos de Quedar, com o politeísmo deles e o seu monopólio quanto
às questões religiosas?
b) Quanto à segunda profecia de Isaías, eis o seguinte:
"Calai-vos perante mim, ó ilhas, e os povos renovem as forças: cheguem-se, e então
falem: cheguemo-nos juntos a juízo. Quem suscitou do oriente o justo? e o chamou para o pé
de si? quem deu as nações à sua face e o fez dominar sobre reis? ele os entregou à sua espada
como o pó, e como pragana arrebatada do vento ao seu arco. Ele persegue-os, e passa em paz,
por uma vereda em que com os seus pés nunca tinha caminhado. Quem operou e fez
isto, chamando as gerações desde o princípio? eu, o Senhor, o primeiro, e com os últimos eu
mesmo. As ilhas o viram, e temeram: os fins da terra tremeram: aproximaram-se, e vieram.
Um ao outro ajudou, e ao seu companheiro disse:
Esforça-te" (Isaías, 41: 1-6).
É necessário sabermos que essa profecia, como as outras profecias do profeta Isaías,
foram feitas depois do advento dos três profetas importantes dos israelitas: Moisés, Davi e
Salomão. Portanto, certamente, não podia ser nenhum deles, porque eles todos tinham
morrido antes do nascimento de Isaías, havia centenas de anos. Depois dos três citados, não
apareceu nenhum profeta ou rei dos israelitas cujas características de poder e glória, de
combate aos inimigos pela espada - derrotando reis e impérios e conquistaando-os -, descritos
na profecia, que se coadunasse com a descrição. Com certeza, os cristãos alegarão que a
profecia diz respeito a Jesus Cristo.
Pode ser; mas vamos verificar se as descrições da profecia se aplicam a ele. Os
cristãos dizem que Jesus foi o rei de Israel prometido. Foi escrito na parte superior da cruz,
quando da sua crucificação: "Jesus de Nazaré, Rei dos judeus" (João, 19: 19). Era isso
verdade?
Os Evangelhos nos confirmam que um dia umas pessoas foram ter com Jesus
desejando aclamá-lo rei. Ele as repeliu, fugiu e se escondeu (João, 6: 14-15), e acabou, como
contam os Evangelhos, na cruz, condenado pelos judeus, pois obrigaram o governador
romano, Pilatos, a prende-lo, chicoteá-lo e entregá-lo a eles. Os Evangelhos nada dizem a
respeito das suas lutas com espadas, da derrota de seus inimigos e de seus reis. Vemo-lo, sim,
ele próprio,
submeter-se a esses inimigos e aconselhar os seus seguidores e o resto dos judeus a pagarem
os impostos a Cesar (Marcos, 12: 17). Os próprios judeus não o consideraram o Messias
redentor, o profeta, nem líder, nem comandante, nem rei. Como pode ser então aquele líder
forte, o profeta legislador, que derrota os seus inimigos e os domina, encontrando a vitória ao
pé de si, como diz o texto, "As ilhas o viram, e temeram: os fins da terra tremeram:
aproximaram-se e vieram"?
Não é nosso objetivo pesquisarmos isso. Porém, o certo é que a Jesus não se aplicam
as características citadas na profecia. Não sobrou nenhum dos profetas, perante nós, ao qual as
carecterísticas da profecia se aplicassem, a não ser Mohammad (que Deus o abençoe e lhe dê
paz). Foi a ele que Deus deu a vitória ao pé de si. Ele comandou as batalhas e as investidas.
Liderou as tribos árabes e seus reis. Ele os dominou com a sua espada e seu arco, com a sua
porfia em prol da disseminação da Palavra de Deus e o erguimento da bandeira da unicidade,
e da eliminação do politeísmo e da idolatria, que haviam-se espalhado por toda a Península
Arábica.
Além disso, os sucessores de Mohammad se encarregaram de divulgar a sua religião e
combater pela causa de Deus, dentro e fora da Península. Conseguiram, depois de um
pequeno espaço de tempo, derrotar os dois maiores impérios da época, os impérios romano e
o persa. Eles espalharam a religião do Islam, da paz, da justiça e da iguladade, entre os povos
dos dois impérios. Assim, aplainaram o caminho para essa religião, e concluíram a tarefa
apresentada por Deus ao Seu Profeta, Mohammad
Ibn Abdullah. A luz do Islam chegou, ainda na época de Mohammad, a regiões onde ele
queria que chegasse, e em que seus pés nunca haviam pisado. Isto é exatamente o significado
da frase "e passa em paz, por uma vereda em que, com os seus pés, nunca tinha caminhado".
Quanto à última parte da profecia, ou seja: "eu, o Senhor, o primeiro, e com os
últimos, eu mesmo", ela nos lembra a tradição do Profeta Mohammad: "Seremos os últimos e
os primeiros, no Dia da Ressurreição, porque eles tiveram o Livro antes de nós e nós o
tivemos depois deles".1
E o destino que Deus, glorificado e exaltado sej a, traçou para essa nação aconteceu de
fato, pois Ele a secundou contra os seus inimigos e fez sua religião prevalecer sobre todas as
outras religiões, apesar de ser a última entre os povos, porém, a escolhida e eleita por Deus:
"Sois a melhor nação que surgiu na humanidade, porque recomendais o bem, proibis o
ilícito e credes em Allah" (3: 110).
c) Quanto à terceira profecia sobre o Profeta Mohammad, no Livro de Isaías, ela é
completa e abrangente. Ela diz:
"Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o meu Eleito, em quem se compraz a minha
alma; pus o meu espírito sobre ele, juízo produzirá entre os gentios. Não clamará, não se
exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o
pavio que fumega: em verdade, produzirá o juízo; não faltará, nem será quebrantado, até que
ponha na terra o juízo: e as ilhas aguardarão a sua doutrina. Assim diz Deus, o Senhor, que I)
1
Tradição citada por Bukhari e Muslim, narrada por Abu Huraira, no capítulo da Sexta-feira.
criou os céus, e os estendeu, e formou a terra, e a tudo quanto produz, que dá a respiração ao
povo que nela está, e o espírito aos que andam nela: Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te
tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por concerto do povo, e para a luz dos gentios;
para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em
trevas. Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o
meu louvor às imagens de escultura. Eis que as primeiras coisas passaram e novas coisas eu
vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir. Cantai ao Senhor um cântico novo,
e o seu louvor, desde o fim da terra: vós, os que navegais pelo mar, e tudo quanto há nele:
vós, ilhas, e seus habitadores. Alcem a voz o deserto e as suas cidades, com as aldeias que
Quedar habita: exultem os que habitam nas rochas, e clamem do cume dos montes. Dêem
glória ao Senhor, e anunciem o seu louvor nas ilhas. O Senhor como poderoso sairá, como
homem de guerra despertará o zelo: clamará, e fará grande ruído, e sujeitará os seus inimigos"
(Isaías, 42:1-13).
Esta profecia é deveras fascinante. Perguntamos: necessita ela de esclarecimento ou
explicação? Pensemos um pouco. Embora suas palavras pareçam não necessitar de nenhuma
explicação, vamos analisá-la para darmos oportunidade ao leitor de apreciar conosco os seus
lances.
Antes de ingressarmos nos detalhes da profecia, queremos afirmar ao caro leitor que,
através de nossas leituras da Bíblia, não encontramos uma passagem que fale do advento do
Profeta Mohammad, que nos esclareça quanto às suas características, como o faz esta
profecia.
A primeira coisa que observamos nesta profecia é o apelido com que o Profeta
Mohammad ficou famoso, principalmente nos textos alcorânicos que se referem a ele, ou seja,
"servo de Deus". É o apelido dado por Deus ao Seu Profeta, nas partes mais sublimes, como
na citação da Viagem Noturna: "Glorificado seja Aquele que, durante a noite, transportou o
Seu servo", na citação da revelação do Alcorão a ele: "Bendito seja Aquele que revelou o
Discernimento ao Seu servo", etc .. Estes dois eventos são as mais importantes oportunidades
em que Deus deu apoio a Seu Profeta. Quanto ao outro apelido: "Eis aqui o meu Servo, a
quem sustenho, o meu Eleito", a palavra "meu Eleito" significa "aquele que escolhi e elegi",
que é sinônimo da palavra "Mustafa" (eleito, escolhido), que é um outro apelido do Profeta
Mohammad. As palavras: "em quem se compraz a minha alma" é um sinal da satisfação de
Deus para com ele, pois Ele lhe perdoou os pecados, passados e futuros, como também o
apoiou com o Seu Espírito e lhe infundiu o sossego, "pus o meu espírito sobre ele", como é
descrito no Alcorão: "E também te inspiramos com um Espírito, por ordem nossa"
(42:52), "Allah infundiu nele o Seu sossego, confortou-o com tropas celestiais que não
poderíeis ver" (9:40). Quanto à sua principal tarefa - "juízo produzirá entre os gentios" haverá, na verdade, religião mais importante do que o Islam e melhor crença do que a
monoteísta? O Profeta Mohammad lutou para livrá-las das malhas da idolatria, limpá-las e
revelá-la para todas as nações, em todas as partes da terra. Deus o descreveu, em muitas
oportuni-
dades, em Seu Livro Sagrado, assim: "E tu certamente te diriges para uma senda reta"
(42:52).
Será que as seguintes características "Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a
sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega", podem ser
aplicadas a outro além de Mohammad? Ele tinha um elevadíssimo caráter, tinha nobreza,
pudor, calma e humildade. Nunca alterou a voz, nem ofendeu ou injuriou alguém. Seus
companheiros nos transmitiram as informações sobre seu caráter por intermédio de uma
tradição, compilada por Bukhári e narrada por Abdullah Ibn Amru, quando foi-lhe perguntado
a respeito da descrição do Profeta na Bíblia; ele disse: "Sim, por Deus que ele está descrito na
Bíblia com algumas qualidades que lhe são atribuídas, e que também se encontram no
Alcorão: -ó Profeta, em verdade, enviamos-te como testemunha, alvissareiro e admoestador, e
exemplo para os iletrados. Tu és o Meu servo e Mensageiro. Denominei¬te Mutawaquil
(dependente de Deus). Não és descortes, nem áspero, nem levantas a voz nos mercados, e não
pagas o mal com o mal, mas tratas com as pessoas, com perdão e bondade. Deus não
permitirá que morras antes que endireites as pessoas desonestas e as faças dizer: Não há outra
divindade a não ser Deus, com o quê abrirás os olhos cegos os ouvidos surdos e os corações
empedernidos. ''1
Parece- nos que Abdullah Ibn Amru citou exatamente o mesmo texto, pois se
relacionarmos as palavras - "Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o meu Eleito" -, e as
palavras da tradição "Tu és o Meu servo e o Meu
1
Extraído do livro "Sahih ai Bukhári" (O Livro Autêntico de AI Bukhári), capítulo das Transações
Mensageiro" -, e as palavras - "Não és descortes, nem áspero, nem levantas a voz nos
mercados" -, com as palavras da profecia - "Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a
sua voz na praça, a cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega" -, veremos
que querem dizer a mesma coisa.
Podemos ainda fazer uma comparação entre as palavras da tradição - "Deus não
permitirá que morras antes que endireites as pessoas desonestas e as faças dizer: 'Não há outra
divindade além de Deus'" -, e as palavras da profecia - "não faltará, nem será quebrantado, até
que ponha na terra o juízo: e as ilhas aguardarão a sua doutrina ... e te tomarei pela mão, e te
guardarei, e te darei por concerto do povo, e para a luz dos gentios" -, e as palavras da
tradição -" ... com a qual abrirá os olhos cegos os ouvidos surdos e os corações fechados" -, e
ainda as palavras da profecia - "para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e
do cárcere os que jazem em trevas".
Acaso não foi o Profeta Mohammad quem libertou os que estavam presos no cárcere
do mundo e das paixões, das trevas da ignorância e do politeísmo, transportando¬os para a
liberdade deste mundo e do Outro, para a luz do monoteísmo e a lei do Islam? Isto foi
confirmado por Deus, exaltado seja: "Allah é o Protetor dos crentes; é Quem os retira das
trevas e os transporta para a luz; ao contrário, os incrédulos, cujos protetores são os
sedutores, são os que os retiram da luz, levando-os para as trevas" (2:257).
Não há, acaso, no texto, "e te tomarei pela mão, e te guardarei", uma confirmação da
promessa de Deus de
guardar, dar vitória, proteger, até que a nobre tarefa se efetuasse, isto é, fosse instituída a
verdade na terra e a sua apresentação para todos os povos, como foi informado por Deus,
glorificado seja, em Seu Livro: Ó Mensageiro, proclama o que te foi revelado por teu
Senhor, porque se não o fizeres, não terás cumprido a Sua Missão. Allah te protegerá
dos homens" (5:67).
Deus, glorificado e exaltado seja, é Zeloso quanto às Suas proibições, e a mais
importante de todas é o politeísmo - a adoração de outro deus além d'Ele, quer seja um anjo,
um profeta, um astro, uma pedra ou uma pessoa. Deus pode prescindir de tudo quanto existe.
Ele enviou o Profeta Mohammad para elevar a bandeira do monoteísmo, destruir os ídolos,
eliminar todo politeísmo, toda ignorância e incredulidade, para que as pessoas glorificassem
somente a Deus, se consagrassem somente a Ele e ao que é sagrado, e adorassem somente a
Ele: "Combatei-os até terminar a intriga, e prevalecer totalmente a religião de Allah" (8:39).
O significado disso é exatamente o que a profecia indica, como, por exemplo, nestas
palavras: "Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem
o meu louvor às imagens de escultura", e nestas outras: "O Senhor como poderoso sairá, como
homem de guerra despertará o zelo: clamará, e fará grande ruído, e sujeitará os seus
inimigos". Nada disso aconteceu com os seguidores de Jesus que, logo depois dele, eles o
contrariaram, divinizando-o, adorarando-o em lugar de Deus; fizeram fotos, ídolos e imagens
dele, como o fizeram com todas as pessoas de bem ou santas, em sua doutrina. A situação
deles ficou parecida com a situação dos
politeístas da Península Arábica, que adoravam ídolos, glorificavam outros deuses além de
Deus, e ninguém conseguia acabar com aquela idolatria na Península, e fora dela, como o fez
o Profeta Mohammad, como o fizeram seus sucessores e seguidores, que cortaram as garras
da mitologia romana e persa. Eles repetiam, a cada vitória, as palavras divinas: "Dize:
Chegou a Verdade, e a falsidade desvaneceu-se, porque a falsidade é pouco durável"
(17:81).
Quanto à última parte da profecia, que diz: "Alcem a voz o deserto e as suas cidades,
com as aldeias que Quedar habita: exultem os que habitam nas rochas, e clamem do cume dos
montes. Dêem glória ao Senhor, e anunciem o seu louvor nas ilhas", ela não deixa margem a
dúvidas de que a pessoa anunciada é o Profeta Mohammad, que é descendente de Quedar,
cuja vinda, missão e convocação aconteceram nas aldeias que Quedar, onde o filho de Ismael
e sua descendência habitaram. A luz da convocação desses habitantes e a candeia da sua
orientação surgiram naquela região desertica, e montanhosa, e nos vales de Paran, até às
montanhas de Salé, na região da Península. Seus habitantes louvaram o Deus Único, e Sua
glorificação se elevou até aos cumes das montanhas e às profundidades dos vales. Eles se
ergueram, com sinceridade, para propagarem sua religião em todas as penínsulas e todos os
campos, e entre todas as nações. Eles sacrificaram todos os bens valiosos em defesa dela, uma
vez que as nações estavam sedentas quanto a esse tipo de luz, anciosas por receber a lei
verdadeira, justa, monoteísta e pacífica. Rapidamente acreditaram no profeta, adotaram sua
religião, não pela força da espada, pois os muçulmanos não obrigavam ninguém a adotar a sua
religião, mas por
meio da convicção e da conscientização. Esses são os significados incluídos na profecia, e
essas são as características, que ela cita, do Profeta. Foi o que se realizou, de fato, depois de
centenas de anos, com o advento de Mohammad Ibn Abdullah, como esclareceremos.
A pergunta que gostaríamos de fazer aos adeptos do Livro, judeus e cristãos, para
finalizarmos a análise a respeito da profecia, é:
"Se a pessoa aludida como "meu servo e eleito" não foi Mohammad, que nasceu "nas
aldeias que Quedar habita", cujas cidades e campos exultaram pela sua convocação¬"nas
montanhas e nos vales de Paran" -, quem seria então esse profeta? A que profeta, excluídos
Moisés e Jesus, as características se adaptam? Ou será que estão ainda esperando a vinda
desse profeta, dois mil anos depois de Jesus?"
4. Há ainda uma breve profecia, no Livro de Ageu, que anuncia a vinda de um profeta
esperado e desejado por todas as nações. Deus fará tremer, com a sua vinda, todas as nações, e
tremerão céus, terra e mar quando de seu aparecimento. Ela diz: "Porque, assim diz o Senhor
dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, e farei tremer os céus, a terra, e o mar, e a terra
seca; e farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei esta casa
de glória, diz o Senhor dos Exércitos" (Ageu, 2:6-7).
Essa informação breve é importante; é o assunto principal desse Livro formado por
apenas dois capítulos, dos Livros do Velho Testamento.
Para esclarecermos o significado aludido na profecia e determinarmos a pessoa d' (o Desejado
de todas as nações)
é necessário recorrermos a uma quantidade de traduções para ficarmos a par da pronúncia
original hebraica para a expressão.1
Essa profecia apareceu numa cópia hebraica, da seguinte forma: ''fi Yáfu himdâs kol
haguim", e significa, literalmente: "E virá louvor (Himda) para todas as nações". A palavra
"Himda" aparece com esta grafia em algumas cópias e "Himada" em outras. Se fizermos uma
comparação com o texto traduzido, verificaremos que há uma alteração no significado da
palavra. Pode ser que seja uma explicação do tradutor para o significado da palavra,
traduzindo-a como "Desejado" ou "Esperado", e nós, na boa fé, vamos aceitar isso, pois
muitas vezes acontece que o tradutor entende um texto de certa forma e o traduz baseado
nessa compreensão, diferente da compreensão de outro tradutor. É natural que isso aconteça.
Porém, afirmamos que os textos revelados e as profecias deveriam ser conservados com a
pronúncia original, em todas as traduções, principalmente no que diz respeito aos nomes
simples e próprios.
Esses tradutores traduziram a palavra "Himda" como "Desejado" ou "Esperado", e
seus equivalentes, nas línguas diferentes.
Na realidade, a pronúncia da palavra "Himda" é a forma original, hebraica, para o
nome "Ahmad", que significa, em árabe, "Louvor", porque a derivação, nos dois idiomas,
árabe e hebraico antigo, é uma só, a da língua aramaica. A raiz da palavra tem o mesmo
significado, ou seja, "elogio, e louvor". Uma vez que o nome verbal da raiz, em hebraico,
1
Extraído do livro "Moharnmad fi] Kitab AI Mukaddas" (Mohammad na Bíblia Sagrada), pág. 5--54, em resumo
é "himada", equivalente em árabe ao nome "Ahmad", estamos certos que a pronúncia citada
no original hebraico antigo, (Himdass), é a alusão verdadeira ao nome "Mohammad". Ele foi
também denominado com o nome de "Ahmad", por Jesus, na sua língua aramaica.
Nem o avô de Mohmmad, nem a sua mãe sabiam disso, nem o nome Mohammad era
conhecido entre os árabes antes de sua denominação. Se isso é um milagre para Mohammad,
o milagre maior é a diferença entre os dois nomes "Ahmad" e "Mohammad". Observamos que
o nome que aparece na profecia corresponde ao nome "Ahmad" e não ao nome "Mohammad",
com diferença de pronúncia, apesar de ambos os nomes, quanto ao significado, terem a
mesma derivação linguística. Por isso, vemos que o Alcorão escolheu o nome "Ahmad" para
designar "Mohammad", no episódio do anúncio de Jesus quanto ao Profeta Mohammad. Ele
diz: "E de quando Jesus, filho de Maria, disse: Ó israelitas, em verdade, sou o
mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante de tudo quanto a Tora antecipou no
tocante às predições, e alvissareiro de um Mensageiro que virá depois de mim, cujo
nome será Ahmad! Entretanto, quando lhes foram apresentadas as evidências,
disseram: Isto é pura magia!" (61 :6).
Concluímos disso que o Profeta Mohammad era conhecido entre os israelitas com o
nome de "Ahmad", significando digno de louvor; é o nome dito pelos profetas dos israelitas,
quer na língua hebraica antiga, ou na língua aramaica utilizada, por ser considerada a língua
nacional local.
Se considerarmos que a primeira explicação para a palavra "o Desejado" ou
"Esperado", como aparecem nas traduções, seja certa, há, acaso, algum profeta que preencha
as descrições como Mohammad preenche? Ele é que era esperado pelas nações, e desejavam a
sua vinda, sedentas por receberem a sua lei, a qual livrou a humanidade da humilhação da
escravidão, da discórdia e da separação, restituindo-lhe a glória, a honra, instituindo a justiça
e a paz, principalmente se compararmos o texto daqui com o texto da profecia de Isaías, que
diz: "e as ilhas aguardarão a sua doutrina".
De qualquer forma, a relação entre "Himda" e "Ahmad" é uma relação forte, pois a
origem, em ambos os idiomas, hebraico e árabe, é uma só, e o significado desejado é também
o mesmo. O nome "Himda" não tem nenhuma relação com o nome "Jesus" ou com qualquer
outro nome de qualquer outro profeta.
Terceiro: As Profecias do Novo Testamento a Respeito de Mohammad
As profecias do Novo Testamento quanto ao advento do Profeta Mohammad se
distinguem pelo obscurantismo, devido às controvérsias que há entre os Evangelhos, além das
controvérsias existentes no mesmo Evangelho, de um texto para outro. Por isso, precisamos
de muita paciência, visão, comparação dos textos pertinentes a um certo assunto que nos
interessa, para chegarmos aos objetivos e aos resultados desejados, comprovando-os, sem
recorrermos a suposições ou rebuscamentos que expliquem os textos, ou lhes dêem
significados indevidos.
Podemos citar três profecias principais que falam sobre o advento do Profeta esperado,
depois de Jesus, tiradas dos textos evangélicos. São elas:
1. Há uma narrativa, citada pelos quatro Evangelhos, que informa que João Batista, era
um profeta piedoso, íntegro, ascético. Ele se alimentava de gafanhotos e de mel silvestre,
desde a sua juventude. Ele, também, não se preocupava com a beleza das vestes e a beleza
física, pois vestia um manto de pêlo grosseiro, amarrado por um cinto de couro ao redor dos
lombos. Naquela situação de ascetismo e de adoração, ele recebeu a revelação divina,
ordenando-lhe que batizasse as pessoas no rio Jordão, como símbolo de arrependimento e de
perdão, e como orientação e preparação para receberem um grande Profeta que estaria prestes
a aparecer. O Profeta esperado deteria honra, glória, grandeza e poder, que ofuscariam todos
os outros profetas. O próprio João explica essa honra, dizendo que ele (João) não seria digno
de abaixar-se perante esse profeta, para desatar a correia dos calçados deste. Que esse Profeta
que iria aparecer não batizaria seus discípulos com água, como era o costume judaico, mas os
batizaria com o Espírito da Santidade.
Essa narrativa foi resumidamente relatada por Marcos, porém apresentando suficiente
matéria para o que queremos mostrar. Marcos diz: "Apareceu João, batizando no deserto e
pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados. E toda a província da
Judéia e os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por
ele, no rio Jordão, confessando os seus pecados. E João andava vestido de pêlos de camelo, e
com um cinto de couro em redor dos seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre. E
pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, ao qual não sou digno
de, abaixando-me, desatar a correia das suas alparcas. Eu, na verdade, tenho-vos batizado com
água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo" (Marcos, 1 :4-8).
Os quatro Evangelhos estão de acordo quanto ao episódio citado por Marcos. Porém,
se diferenciam completamente com interpolações e acréscimos que aparecem nos três
sinôticos (Mateus, Lucas e Marcos). Essas interpolações tentam encontrar uma relação entre a
profecia e o advento de Jesus, para que ele seja considerado o Cristo Redentor, esperado pelos
judeus, como temos observado; vê-se que há um exagerado artificialismo nas interpolações,
para indicarem a divindade de Jesus e considerá-lo filho de Deus (Deus longe está de ter um
filho!), como alega a Igreja.
É necessário fazermos uma pausa nessas interpolações dos três Evangelhos para
descobrirmos se elas indicam que os autores dos Evangelhos pretendiam criar, ou seja, que a
profecia indicava Jesus, ou o seu significado indica outro profeta!
O evangelista João nos indica, no início de seu Evangelho, que os judeus enviaram um
grupo de sacerdotes até João Batista para questioná-lo a respeito de sua mensagem. Ele
prestou o seguinte testemunho: "E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram,
de
Jerusalém, sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem:
Quem és tu? E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe:
Então quê? és tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram-lhe,
pois: Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?
Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o
profeta Isaías. E os que tinham sido enviados eram dos fariseus; e perguntaram-lhe, e
disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? João
respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está um, a quem vós não
conheceis. Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno
de desatar a correia da alparca " (João, 1: 19- 27).
Esse testemunho de João Batista só foi citado no Evangelho de João. Os outros três
Evangelhos não o abordaram. Há que observar-se nele as perguntas formuladas pelos
sacerdotes e levitas a João, para conhecerem a sua personalidade. Resumem-se elas em três
prinipais:
1. Se o João era o Cristo.
2. Se João era Elias.
3. Se João era o profeta.
Como está claro no texto, a resposta de João foi negativa para as três perguntas.
O que nos interessa no texo é: quem são os três personagens a que se referem as
perguntas dos sacerdotes e levitas judeus? Os sacerdotes enviados eram judeus e fariseus
sábios, e faziam perguntas a respeito de três
pessoas específicas, cujas características eles conheciam.
Se os cristãos, e nós os muçulmanos dizemos que Jesus é o Cristo, apesar de os judeus
não o reconhecerem como tal, resta para nós duas perguntas: quem é a segunda pessoa, e a
terceira? Quanto à segunda, Elias, para os judeus é o profeta esperado para salvá-los,
porquanto estavam debilitados e escravizados. O profeta Elias, porém, veio antes de Jesus. Ou
os judeus não o conheciam, ou, o mais certo, negaram-no e rejeitaram-no como negaram e
rejeitaram a Jesus. Na nossa opinião, Elias, ou o redentor, é o mesmo profeta cuja vinda
esperavam; é a terceira pessoa na relação das perguntas; eles já conheciam suas descrições e
seus sinais. O que nos fez ter essa opinião é o fato de que o próprio Jesus anunciou para os
judeus e para seus discípulos que estava-se aproximando o tempo da chegada do profeta
redentor. Ele deu a este o mesmo nome que eles conheciam, como vemos no texto: "Porque
todos os profetas e a lei profetizaram até João. E se quereis dar crédito, é este o Elias que
havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir ouça" (Mateus, 11: 13-15).
Não podemos afirmar que Jesus visava, com suas palavras, o próprio João Batista. Ele
o denominou Elias, porque o próprio João negou ser ele, perante os judeus, como mostra o
seu testemunho.
É possível considerarmos o anúncio de Jesus quanto ao adevento de Elias como
confirmação final para a profecia de João Batista sobre o Profeta que seria o mais forte de
todos, por causa do qual Jesus bradou para os judeus: "Quem tem ouvidos para ouvir ouça".
Por outro lado, a terceira pessoa a cujo respeito os
sacerdotes perguntaram a João, quando disseram: "És tu Elias? E disse: Não sou", deve ser
certamente outro profeta, que não João Batista nem Jesus, pois aquele viria depois deles,
como as palavras de João e de Jesus informam. Aquele profeta não batizaria seus seguidores
com água, mas o faria com o Espírito Santo, ou seja, iria batizá-los com a crença, a
conscientização, com a orientação e a luz divina, coisas que iria fixar nos corações deles.
Fica para nós a pergunta: quem seria esse profeta que tem essas características, o qual
os judeus aguardavam, e sabiam da proximidade de seu surgimento?
Nós, muçulmanos, não temos dúvida de que se trata de Mohammad Ibn Abdullah, o Profeta
árabe; de que ele é o único ao qual as profecias se adaptam, apoiados no que vimos de
vaticínios, pelas distinções, pelos sinais, e pelas confirmações dos dois profetas anteriores a
ele, uma vez que não apareceu profeta ou mensageiro autêntico depois deles, que merecesse
essas considerações, além de Mohammad.
Os cristãos poderão contestar a nossa conclusão, dizendo: "Como podeis alegar que
Mohammad é o Profeta indicado na profecia, quando os Evangelhos confirmam que o
indicado é Jesus, pois houve indícios da parte de João Batista a esse respeito; que foi ele que
recebeu o Espírito Santo em forma de pomba? Vossa alegação de que seja Mohammad é
falsa."
Esta é a única contestação que podemos enfrentar na designação da identidade daquele
profeta sobre o qual os sacerdotes judeus fizeram perguntas a João Batista. Tem fundamento
essa contestação?
É o que veremos na seguinte discussão:
Se afirmarmos que o profeta autêntico é Jesus, e que ele é o Cristo aguardado pelos
judeus, enfrentaremos vários problemas e várias contradições que só podem ser sanados de
uma das duas seguintes formas:
Primeira: aceitarem os resultados obtidos por nós; Segunda: rejeitarmos todos os
textos, sem considerá-los revelações ou escritos sagrados, que devam ser levados em
consideração.
Isso acontece pelos seguintes motivos:
a) Se aceitarmos que Jesus é o profeta anunciado pelo seu primo, João, como
explicaremos a promessa do próprio Jesus quanto à proximidade da vinda de Elias? Eis as
suas palavras novamente: "E desde os dias de João Batista, até agora, se faz violência ao reino
dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até
João. E se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir
ouça" (Mateus, 11:12-15). João, por outro lado, afirma que não é Elias, nem é aquele profeta.
Quem é Elias, então?
Já dissemos antes que o texto das palavras de Jesus pode ser outra confirmação da
profecia de João. Se não, suas palavras não teriam sentido. A seqüência das suas palavras
indica que todos os profetas, e a lei, profetizaram até João. O único que não havia profetizado
era Jesus, e essa seria a sua profecia. Por isso, ele disse: "E se quereis dar crédito, é este o
Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir ouça".
b) A profecia de João indica que após ele viria aquele que seria mais autêntico que ele;
que ele, porém, não batizaria os seus seguidores com água, mas o faria com o 182
Espírito Santo. Se Jesus fosse o indicado pela profecia, não seria possível que ele batizasse
seus adeptos e discípulos com água, como foi confirmado pelos Evangelhos: "Depois disto,
foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judéia; e estava ali com eles, e batizava. Ora,
João batizava, também, em Enon, junto a Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham ali,
e eram batizados" (João, 3:22-23). Não é citado, na vida de Jesus, que ele tivesse batizado os
seus discípulos com o Espírito Santo, pois, mesmo depois de sua ascensão, não havia batizado
ninguém com o Espírito Santo, nem o Espírito Santo havia se manifestado a eles ainda. É isso
que foi afirmado por Lucas, nos Atos dos Apóstolos, falando sobre aquele período em que
Jesus permaneceu entre seus discípulos, depois de sua ressurreição. Ele diz: "E, estando com
eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa
do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós
sereis batizados com o Espírito Santo, não muito tempo depois destes dias. Aqueles, pois, que
se haviam reunido, perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino de
Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu
pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e
ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém com em toda Judéia e Samaria, e até aos confins
da terra. E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu,
ocultando-o a seus olhos" (Atos dos Apóstolos, 1: 4-9).
Se o batismo por intermédio do Espírito Santo não aconteceu até à sua ascensão,
quando, então, teria acontecido? João Batista nos confirmou, na sua profecia, que o profeta
aguardado batizaria seus discípulos e seguidores com o Espírito Santo, e não com água, como
Jesus fez aos seus discípulos. Ele não batizou ninguém com o Espírito Santo, até à sua partida
deste mundo.
c) Os três Evangelhos sinóticos nos informam que Jesus foi batizado com água, como
o foram os outros judeus, pelas mãos de João, seu primo, que batizava as pessoas no rio
Jordão - o batismo de arrependimento, para a remissão dos pecados:
"Então, veio Jesus, da Galiléia, ter com João, junto ao Jordão, para ser batizado por
ele" (Mateus, 3: 13). "E aconteceu, naqueles dias, que Jesus, tendo ido de Nazaré, da Galiléia,
foi batizado por João, no Jordão" (Marcos, 1:9). "E aconteceu que, como todo o povo se
batizava, sendo batizado também Jesus" (Lucas, 3:21).
A pergunta que se faz: Porque Jesus foi batizado com água, como todos os judeus, por
João Batista, ele que veio para anular o batismo com água e começar o batismo com o
Espírito Santo?
Pode Deus ser batizado por uma pessoa criada?
Não seria o certo João abandonar o seu batismo e seguir como discípulo e servo do
profeta cuja vinda ele profetizou? Sua atitude não se coaduna com as palavras de grandeza
que ele disse em relação ao profeta esperado, a ponto de dizer que ele próprio não era digno
de, abaixando-se, desatar a correia das suas alparcas!
d) Se afirmarmos que o profeta indicado e esperado era Jesus, como explicarmos a
pergunta dos sábios levitas a João sobre três pessoas ou profetas dos quais os judeus esperam
a vinda? É inconcebível que as pessoas sejam uma só pessoa, a não ser que consideremos suas
perguntas fúteis, sem nenhuma utilidade. A lógica rejeita aceitar que aqueles sábios fossem
acusados de proferirem futilidades, pois tinham vindo para investigar uma questão cuja
verdade era de se esperar que todos os judeus conhecessem. Aqueles judeus, mesmo o mais
comum entre eles, sabiam a respeito da vinda do profeta. Eles também sabiam distinguir entre
o profeta que eles aguardavam e o Cristo, descrito em seus Livros. O seguinte diálogo nos
mostra esta verdade:
"Então muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam: Verdadeiramente este é o
Profeta. Outros diziam:
Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galiléia? Não diz a Escritura que o
Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldéia de onde era Davi?" (João, 7:4042).
Esse texto, além de ser um argumento para o que estamos discutindo, é também
argumento contra os judeus que negaram e rejeitaram Jesus, uma vez que sabiam da sua
vinda, filho de quem era e onde nasceria.
Será que multidão, ávida por conhecer a verdade sobre Jesus, confundia entre o
profeta e o Cristo? Será que considerava os dois um só? A multidão sabia perfeitamente que
Cristo era uma pessoa e o profeta que eles esperavam era outra. Podemos afirmar que esse
profeta é o mesmo
aludido por João Batista na sua profecia, quando disse:
"Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, ao qual não sou digno de, abaixando-me,
desatar a correia das suas alparcas. Eu, na verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém,
vos batizará com o Espírito Santo". Esse profeta é Mohammad (que a paz esteja com ele), que
foi mais forte do que todos, pois conseguiu implantar a doutrina do monoteísmo, a religião do
Islam, a lei da justiça, do bem e da paz, num curto espaço de tempo da sua vida. Se nós
compararmos esse período com a história de todos os profetas, o tempo que levaram para
implantar a mesma crença, verificaremos que eles não conseguiram chegar ao mesmo
resultado obtido por Mohammad, com a anuência de Deus. Ele implantou essa crença no
coração de seus companheiros e seguidores, com o apoio do Espírito abençoado com que
Deus favoreceu essa comunidade, pois diz: "Para aqueles, Deus lhes firmou a fé nos
corações e os confortou com o Seu Espírito, e os introduzirá em jardins, abaixo dos
quais correm os rios, onde morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se
comprazerão n'Ele. Estes formam o partido de Deus. Acaso, não é certo que os que
formam o partido de Deus serão os bem-aventurados?" (Alcorão, 58:22).
Ele é o mesmo Profeta anunciado por Jesus Cristo, que pediu aos seus discípulos e
seguidores dentre os judeus, para o aceitarem e crerem nele: "E se quereis dar crédito, é este o
Elias que havia de vir." (Mateus, 11: 14).
É o mesmo Profeta mencionado por Jesus nas suas
palavras e nos seus conselhos finais, confirmando a necessidade de os seus seguidores crerem
nele, quando estava falando com seus discípulos sobre a vinda do Paracleto, como
mostraremos mais adiante, se Deus quiser.
Se a Igreja não aceita essa conclusão, com base no que apresentamos de argumentos e
provas, somos obrigados a anular a lógica racional, o argumento e a prova, ou considerarmos
tudo que foi dito pelos profetas do povo de Israel e vaticinado pelas suas profecias como
coisas falsas e rejeitadas, não se podendo dar a elas qualquer valor religioso ou histórico!
2. Os três Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), narram que Jesus (que a
paz esteja com ele), quando ensinava no templo, foi questionado pelos escribas e fariseus com
uma pergunta a respeito de sua ascendência. Ele respondeu: "E, falando Jesus, dizia,
ensinando no templo: Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi? O próprio Davi
disse, pelo Espírito Santo: O Senhor disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que
eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor,
como é, logo, seu filho?" (Marcos, 12:35-37).
Esse texto nos revela o abalo daquela idéia que prevalecia a respeito do Cristo, com as
características deste, nas mentes dos judeus, ou seja, revela que não tinham um conhecimento
específico nem sinais evidentes para reconhecerem a pessoa do Cristo.
É provável, também, que a nossa suposição esteja errada, por causa daqueles textos que são
ora obscuros, ora contraditórios, como é este texto que temos em mãos, o
que nos faz imaginar as coisas fora da sua realidade, e gera em nós uma compreensão errônea.
Ambas as suposições são prováveis, apesar de acharmos que a última é a mais certa, que a
diversidade dos textos e as suas contradições e obscuridades são as causas principais da perda
da verdade e do abalo do quadro. Quem examinar os textos da Bíblia Sagrada, em geral, e os
Evangelhos, em particular, também chegará à mesma conclusão.
Por exemplo, se considerarmos esse texto como correto, isento de alterações, ele,
como vários outros textos, nos colocará numa dúvida tal, quanto à questão, que não
conseguiremos chegar a conhecer a sua realidade nem a formar uma idéia verdadeira a seu
respeito.
Os Evangelhos, ao invés de nos fornecerem uma idéia clara sobre a realidade e a
natureza do Cristo, a verdade sobre a sua Mensagem, e sobre a idéia judaica a seu respeito,
eles nos dão um quadro obscuro, uma idéia deformada, diferenças contraditórias, que não nos
levam a nenhum resultado útil.
Uma vez eles negam que o Cristo é filho de Davi e de sua descendência, como é visto
no texto acima, e outra vez afirmam que Jesus descendia de Davi, como afirmam os dois
evangelistas, Mateus e Lucas, na genelogia de Jesus.
Ora nos dizem que o Cristo viria de Belém, ora nos dizem que quando surgisse
ninguém saberia de onde.
Ora nos dizem que os judeus conheciam as características do Cristo, e que tinham uma
idéia clara a seu respeito, bem como conhecimentos confirmados 188
relacionados a ele, ora se contradizem e afirmam que os judeus se confundiam na
determinação da sua identificação. Ora nos dizem que o Cristo é um profeta, homem, filho do
homem, ora nos dizem que é Deus, filho de Deus!
Não queremos citar mais do que isso para que o leitor não pense que estamos
utilizando esses fatos para comprovarmos o nosso ponto de vista. Esta não é a nossa intenção,
mas o fazemos porque a pesquisa trata dos sinais existentes na Bíblia Sagrada a respeito do
advento do Profeta Mohammad (que Deus o abençoe e lhe dê paz).
Vamos verificar que o texto em questão tem um dos sinais que Jesus mencionou
quanto ao advento de Mohammad.
Está claro que quando Jesus rejeitou a idéia que diz que o Cristo deve ser da
descendência de Davi, ele estava falando de outro Cristo, ou melhor, a respeito de outro
Profeta, que não pertencia à descendência de Davi, nem provinha de Belém, a cidade onde
viveu Davi. Essa suposição pode parecer estranha, mas não temos outra. Porque é impossível
que Jesus negue o seu ancestral, Davi, que nasceu em Belém, porque os Evangelhos
confirmam a sua descendência (Mateus, 1-1), (Lucas, 3:23-32), e confirmam o seu
nascimento em Belém (Lucas, 2:4-7). Por outro lado, as pessoas o denominavam "filho de
Davi" (Lucas 18:38-39), e ele não os proibia de o fazerem.
O que nos parece, segundo os textos, é que havia confusão e ambiguidade entre os
judeus a respeito daquele profeta, quanto à determinação de sua identidade,
reconhecimento de sua pessoa, principalmente na primeira fase de sua missão, o que fez com
que Jesus fizesse esse tipo de esclarecimento, no templo, perante as pessoas, para eliminar a
confusão delas a seu respeito.
Numa das vezes houve confusão a respeito dele entre grupos de judeus que levou à
seguinte discussão: "Então, muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam:
Verdadeiramente este é o Profeta. Outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem,
pois, o Cristo da Galiléia?" (João, 7:40-42). O seqüenciamento que gerou a discussão nos
informa que havia outra confusão entre a multidão a seu respeito, quando presenciaram um
dos seus milagres, e pensaram que ele fosse o Profeta esperado: "Vendo, pois, aqueles
homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam:
Este é, evidentemente, o profeta que deveria vir ao mundo" (João, 6:14).
Analisando os dois textos e comparando-os com o texto da profecia, podemos
formular várias observações:
Primeira: Que a multidão judaica fazia de fato confusão quanto ao Cristo. Pensaram, à
primeira vista, que era "o profeta que deveria vir ao mundo".
Segunda: Que a confusão se repitiu, com uma pequena diferença; alguns deles
conseguiram distinguir entre o Cristo e o Profeta esperado, considerando que o Cristo tinha
duas características, que era da descendência de Davi, e que vinha de Belém, a aldeia de Davi.
Terceira: Que os judeus esperavam dois profetas fortes, e um deles era o Cristo. O
outro era o Proefta que deveria vir para o mundo. E que ambos não podiam ser uma só pessoa.
Quarta: Que o profeta que deveria vir e era aguardado pelos judeus se distinguia pelo
fato de não ser da descendência de Davi, nem viria de Belém, a aldeia de Davi, e que ele seria
o enviado de Deus para todo o mundo.
Quinta: Que Jesus, quando discutiu com os escribas, e negou ser "o Cristo" , filho de
Davi, não falava de si, mas falava de outra pessoa, que foi denominado, no texto, "o Cristo".
Sexta: Que esse "Cristo", ou o Profeta que Jesus mencionou, descrevendo-o como não
pertencendo à descendência de Davi, é um Profeta muito forte, honrado por todos os profetas,
a ponto de Davi tratá-lo por "meu senhor".
Sétima: As palavras do seguinte texto: "Então, muitos da multidão, ouvindo esta
palavra, diziam: Verdadeiramente, este é o Profeta", indica que esse profeta indicado possuía
uma eloqüência extraordinária.
Depois dessas observações, formulamos as seguintes perguntas: É possível que Jesus
Cristo tivesse falado de si próprio perante os escribas quando negou ser o Cristo, filho de
Davi? Como podia estar falando de si, sabendo que os interlocutores eram sábios judeus, e
que seus livros informavam que o Cristo deveria ser da descendência de Davi e da aldeia de
Davi? Além do mais, quem era aquele profeta que a multidão judaica procurava? Há, acaso,
outro profeta além de Mohammad que preencha as características citadas nos textos, como
mostramos nas observações?
Sobre que Cristo ou profeta Jesus falava quando rejeitou, perante escribas e fariseus,
que fosse o Cristo, filho de Davi?
De certo, estava falando sobre aquele Profeta que os judeus sabiam que não
descenderia de Davi, nem viria de Belém. Ele censurou os sábios judeus por confundirem sua
pessoa, quando pensaram que ele fosse aquele profeta que eles aguardavam. Por temer que
essa confusão se espalhasse entre a multidão judaica, ele fez o esclarecimento e os lembrou
que ele não era aquele profeta que Davi denominou "meu senhor". Se Jesus se atrevesse a
alegar que era aquele profeta que Davi denominou "meu senhor", os judeus não teriam
perdido um só instante em agarrá-lo e matá-lo, ou prendê-lo, ou pelo menos, proibi-lo de
entrar e pregar no templo.
Não era do feitio de Jesus alegar que era o "senhor" de Davi, nem de dizer que ele era
aquele profeta, porque não era ignorante, nem mentiroso, mas era profeta, íntegro e veraz.
Deduzimos de tudo isso que o texto da profecia não fala sobre Jesus Cristo, filho de
Davi, mas fala daquele profeta que não descendia de Davi, que alcançou um elevado posto
perante Deus, sendo honrado e engrandecido pelas palavras de Davi (que a paz esteja com
ele), pois denominou-o "meu senhor", como era costume, entre os judeus, dirigirem-se aos
seus líderes, seus mestres e seus amos. No Alcorão há indícios da utilização, da parte dos
judeus, dessa denominação, na estória de José com o companheiro de cela: "E disse àquele
que ele (José) sabia estar a salvo daquilo: Recorda-te de mim ante teu senhor!" (12:42).
Portanto, se os judeus, na época de Jesus, esperavam
esse profeta, e se João Batista anunciou a sua vinda, então vem Jesus, depois dele, e confirma
a proximidade do tempo da sua vinda, e censura os judeus por suas dúvidas a respito dele, não
fica dúvida alguma para o equitativo que esse Profeta é Mohammad, que Deus o tornou
mestre dos profetas e o postremo deles, a testemunha sobre seus povos. Deus teve a promessa
deles e de seus povos que, quando do seu advento, que acreditassem nele e o seguissem, como
o Alcorão Sagrado nos diz:
"Quando Allah aceitou a promessa dos profetas, disse-lhes: Eis o Livro e a
sabedoria que ora vos entrego. Depois vos chegará um Mensageiro que corroborará o
que já tendes. Crede nele e socorrei-o. Então, perguntou-lhes: Comprometer-vos-eis a
fazê-lo? Responderam: Comprometemo-nos. Disse-lhes, então: Testemunhai, que
também serei, convosco, Testemunha disso" (3:81).
De sorte que o texto que temos em mãos terá por significado o seguinte: "Jesus lhes
disse: Como dizeis que o profeta que esperais é filho de Davi, quando o próprio Davi disse a
respeito dele: O Senhor disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os
teus 'inimigos por escabelo dos teus pés?"
Ficaríamos muito felizes se os chefes das igrejas, os sacerdotes e os papas nos
apresentassem o texto original expressado por Jesus, em sua língua nacional aramaica, ou
religiosa hebraica, para ficarmos ao par da verdade , deste texto e de outros textos obscuros
dos Evangelhos, ou melhor, alterados, e nós, os muçulmanos, seríamos os primeiros a seguir
os seus ensinamentos e seu Evangelho.
3. Por fim, temos a última profecia do quarto Evangelho, que se repete, nas palavras
de Jesus, quatro vezes, na seqüência dos seus conselhos finais para seus discípulos - que
cressem naquele profeta que haveria de vir. Ele lhes esclarece algumas características desse
profeta e o cita como "o Paraclito", confirmando para os seus discípulos que a sua predição é
quanto a esse Profeta Forte, fortalecido pelo Espírito Santo, que é a essência de sua
mensagem, e que, anunciando-o estaria completando a tarefa com que Deus lhe enviou, por
ser um mensageiro informando a respeito de Deus.
O Primeiro conselho tem o seguinte teor:
"Quem me não ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é
minha, mas do Pai que me enviou. Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas, aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as
coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (João, 14:24-26).
É preciso citarmos os outros três conselhos a respeito do "Consolador" ou "Paracleto",
porque há outros acréscimos em cada conselho, que esclarecem e especificam para nós essa
pessoa, para ser apresentada ao mundo, e não seja confundida com outra pessoa. Os três
conselhos são:
a) "Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis ... Todavia, digo-vos a
verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas,
se eu for, enviar-vo-lo-ei. E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do
juízo" (João, 16:1 e 7-8).
b) "Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele
Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis,
pois estivestes comigo desde o princípio" (João, 15:26-27).
c) "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas,
quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará
de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me
glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar" (João, 16: 12-14).
Antes de entrarmos no detalhamento desses textos, devemos levar em conta algumas
observações:
Primeiro: O Apóstolo João, filho de Zebedeu, foi o único dentre os evangelistas a citar
essas profecias; e, de acordo com o que nos dizem, o autor desse Evangelho foi um dos
discípulos de Cristo. Porém, não sabemos ao certo se foi ele o autor ou não do Evangelho. O
certo, porém, é que esse Evangelho foi escrito em grego, como foram os outros Evangelhos.
Nós sabemos, também, que os apóstolos, cujos nomes dão aos Evangelhos, não falavam o
grego. Falavam o hebraico ou o aramaico, como sendo a língua nacional que o Cristo e seus
discípulos falavam, assim como falavam os habitantes daquela região.
Segundo: De acordo com a primeira observação, deparamo-nos com o mesmo
problema que encontramos na análise de todos os textos desse tipo, para descobrirmos o
termo original que o Cristo pronunciou, quando falava com seus discípulos quanto à pessoa
do Consolador, ou
melhor, o Paraclito, como aparece nas traduções clássicas dos Evangelhos, que depois foi
mudado, em todas as traduções, para "o Consolador", ou outra palavra equivalente.
Terceiro: O Evangelho de João não era conhecido nos meios cristãos, nem pela Igreja,
a não ser depois de mais de três séculos após o Cristo. Talvez seja esse o motivo da ignorância
dos três outros evangelistas das profecias concernentes ao Paracleto, ou talvez eles
ignorassem propositalmente a profecia, por saberem que dizia respeito a um outro Profeta que
viria depois de Cristo.
De acordo com estas observações, conseguimos confirmar que a Igreja não tinha
nenhuma idéia quanto ao Paraclito e sua verdade, durante um período de mais de três séculos,
e que aqueles cristãos que viveram e morreram durante aquele longo período nada sabiam a
respeito do Paraclito que Jesus pediu que nele cressem; e lhes disse que aquele profeta lhes
ensinaria todas as coisas, e permaneceria com eles para sempre.
Seria invenção, engodo e ambiguidade a Igreja alegar que o Paraclito ou o Consolador
fosse o Espírito Santo, pois a base da crença dela, e as palavras de Jesus - como estão nos
Evangelhos- contradizem essa alegação que as igrejas apregoam. Os motivos disso são
muitos:
a) Jesus não visava, com o uso do termo Paraclito, indicar o Espírito Santo, nas suas
palavras para os seus discípulos e para multidão que lhe escutava os ensinamentos, nem os
outros Evangelhos citam que ele utilizou esse termo, citado em João, em língua grega.
b) O Evangelho de João só apareceu três séculos ou
mais depois de Cristo. Será que os demais discípulos nada sabiam a respeito da vinda de
Parac1ito, nem sobre o Espírito Santo, como explicou a Igreja? Será que mesmo os seguidores
de Cristo, os cristãos, nada sabiam a respeito do assunto até ao surgimento do Evangelho de
João? Se é este o caso, como podemos crer que aqueles discípulos, que Jesus enviou para
pregarem o Evangelho, estavam fortalecidos com o Espírito Santo, ou sabiam algo a respeito
de sua vinda, de acordo com a promessa e as palavras de Jesus?
c) As palavras de Jesus contrariam essa explicação, pois ele lhes disse: "Todavia, digovos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a
vós". Entende-se disso que o Consolador, que é o "Espírito Santo", de acordo com a
explicação da Igreja, não estava com Jesus durante todo aquele tempo que ele permaneceu na
terra. Como, então estaria com os discípulos? Isto não se coaduna com as bases da crença da
Igreja.
d) O Espírito Santo, sobre quem Jesus falou em seus sermões, pode ter vários
significados. Ou pode ser o Arcanjo Gabriel (que a paz esteja com ele), através do qual Deus
fortalece Seus profetas e mensageiros, transmitindo-lhes a revelação, como é confirmado pela
Tora e pelos Evangelhos; ou significa a orientação e o sucesso divino para os piedosos dentre
Seus servos - pois esse espírito é a Luz Divina que penetra nos corações dos crentes,
enchendo-os com a oreintação, a felicidade e o sossego. As palavras de Paulo confirmam este
significado:
"Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que não
sois de vós mesmos?" (I aos Coríntios, 6:19).
Ambos os significados são verdadeiros e devem ser aceitos. Entendemos, das palavras
de Paulo, também outro significado: que o Espírito Santo não pode ser aquela parte Divina - a
Terceira Pessoa -, como a Igreja crê, uma vez que se ele estivesse nos corpos das pessoas,
teria um número enorme de filhos, e não apenas Jesus, considerando-se que o Espírito
penetrou nele, como diz a
Igreja.
Por causa dessa controvérsia, não houve o reconhecimento quanto ao Espírito Santo,
como a Terceira Pessoa das três, e que só passou a formar a divindade depois de quase quatro
séculos depois de Cristo, ou seja, no Concílio II da Macedônia, no ano 386 d.C ..
O que nos levou a mencionarmos isso foi a tentativa de se identificar o significado
dessa profecia que se repitiu por quatro vezes no mesmo Evangelho, para eliminarmos
qualquer dúvida que pudesse influenciar nos resultados que poderíamos obter.
Agora, podemos perguntar: quem é o Paraclito mencionado pelas quatro profecias,
como é citado no texto grego, ou o consolador, como é visto nas traduções modernas? Será
que a tradução da palavra Paraclito para "Consolador" é correta?
O sábio e sacerdote cristão, Professor David Benjamim Caldani, explica que a palvra
Paraclito nunca pode significar "Consolador" "Advogado" "Intermediário" porque a palavra
não é clássica, e a palavra grega que significa "consolador" não é Paraclytos, mas
"Paracalon". Esta palavra é que foi usada para a tradução das palavras que significam
"Consolação" nos Livros do Velho
Testamento, como lemos em Lamentações de Jeremias, 1 :2,9, 16. A palavra Paracalon
deriva-se do verbo Parakaloo, que significa: chamar, convocar, consolar, indicar, mostrar. A
segunda palavra "Advogado", porém, não é a tradução da palavra Paraclytos, mas é tradução
da palavra Sanegorus. O mesmo se dá com a palavra "intermediário" que é tradução da
palavra Meditea.
Portanto, no que diz respeito à etimologia, não é possível traduzirmos a palavra
Paraclito ou Paraclytos para as palavras usadas pelos tradutores, como Consolador,
Advogado, ou Intermediário.
O que a palavra grega Paraclytos significa, então? Nada significa se não a
considerarmos uma corruptela da palavra Periqlytos. Esta palavra significa, literalmente: "o
mais glorioso" "o mais famoso" "o merecedor de louvor" como é confirmado pelo conhecido
Dicionário greco-francês, Alexandar1
Depois dessa ciranda lingüística, podemos resumir o significado da palavra citada na
profecia, como consta do original grego, que é exatamente, o nome de quem merece louvor e
elogio, e é, em árabe, "Ahmad". É o mesmo nome citado no Alcorão, quando aborda a
profecia de Jesus quanto a Mohammad, e diz: "E de quando Jesus, filho de Maria, disse: Ó
israelitas, em verdade, sou o mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante de tudo
quanto a Tora antecipou no tocante às predições, e alvissareiro de um Mensageiro que
virá depois de mim, cujo nome será Ahmad" (61:6).
1
Extraído do livro: "Mohammadfil Kitab Al Mukaddas" (Mohammad na Bíblia Sagrada), pág. 216-217, em resumo
Podemos considerar, para mostrarmos a alteração do texto do Evangelho de João
(15:21-27), o que o sábio e historiador muçulmano, Ibn Isaac, fez com a Biografia do Profeta
Mohammad, de Ibn Hicham, doze séculos atrás; ele copiou o mesmo texto do Evangelho de
João, de acordo com a tradução conhecida na sua época, para utilizar como prova do advento
do Profeta Mohammad e da sua característica, no Evangelho. Ibn Isaac disse:
"Pelo que me chegou quanto à posição de Jesus, filho de Maria, do que recebeu de
Deus no Evangelho para os cristãos quanto à característica do Mensageiro de Deus,
confirmado pelo Apóstolo João para eles, quando escreveu o Evangelho sobre a época de
Jesus, filho de Maria (que a paz esteja com ele), ele disse: 'Aquele que me aborrece, aborrece
também ao Senhor. Se eu entre eles não fizesse tais obras quais nenhum outro tem feito, não
teriam pecado; mas agora viram-nas e me aborreceram a mim e ao Senhor. Mas é para que se
cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Aborreceram-me sem causa. Mas, quando vier o
'Munhamanna', que Deus vos enviará, aquele Espírito Santo, que procede do Senhor, ele
testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio.
Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. ,,,
A palavra siríaca, Munhamanna, quer dizer Muhammad - em grego, Periqiytos.1
Esse texto sobre o Evangelho de São João, copiado por Ibn Isaac, assim como seu
estilo, na sua época, mostra
1
Assira Annabawiya" (A Biografia Profética), de Ibn Hicham, vol. 1, pág. 233. 200
modéstia do Profeta Jesus, filho de Maria (que a paz esteja com ele), ao contrário do que
vemos atualmente nos Evangelhos, apresentando-o como divino, e em lugar de Deus. O
próprio leitor pode comparar esse texto, que copiamos de Ibn Isaac, com os textos que
apresentamos no início a respeito da profecia, para verificar a diferença entre eles.
Vamos agora apresentar as características de Periqlytos, como é confirmado pelas
quatro profecias do Evangelho de João, de acordo com declarações de Jesus nos seus
conselhos finais para os seus discípulos. São elas:
1. Ele testemunhará a verdade e estrá fortalecido com o Espírito Santo, ou o Espírito
da verdade, ou Gabriel, o leal.
2. Ele será enviado de Deus, e não virá por si.
3. Ele testificará a Jesus como sendo servo de Deus e Seu Mensageiro, o Verbo
encarnado, dado à Virgem Maria, como anteriormente testificaram os apóstolos e discípulos
de Jesus, por terem estado com ele desde o princípio.
4. Ele ensinará aos seus seguidores e aos crentes nele todas as coisas que dizem
respeito às suas vidas, e lhes informará toda a verdade que os seguidores de Jesus não
suportaram. Essa é uma indicação da Lei Islâmica, por abranger todas as outras leis anteriores.
5. O seu advento e a sua vinda estão ligados à partida de Jesus, do mundo, e o
encerramento da sua missão com a qual este foi enviado, como preparação do caminho para o
Profeta N obre, como a anunciação dele, que viria com a restauração do Espírito da verdade,
do monoteísmo e da lei de Moisés.
6. A mensagem de Mohammad, o Periqlytos, reconhece e corrobora as mensagens
anteriores; as leis anteriores tornam-se perfeitas com a Mensagem e a Lei celestial de
Mohammad. As pessoas, até à vinda de Jesus, não estavam preparadas para receber esse
Profeta, suportar a sua lei, os seus ensinamentos abrangentes. Por isso, Jesus disse para os
seus discípulos: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar isso agora."
7. O Profeta não falará por si, mas falará o que lhe for revelado por Deus. Isso é
também um sinal da condição de iletrado de Mohammad, pois ele não sabia ler nem escrever.
Se ele tivesse sabido disso antes do advento da sua profecia, teria tentado aparecer na sua
juventude, e não na sua velhice. Ele porém, falava o que lhe era revelado por Deus. Isso foi
também confirmado por outros textos das profecias da Bíblia Sagrada e pelo Alcorão, coisa
que mencionamos anteriormente.
8. Esse Profeta vaticinará eventos que haverão de acontecer. Isso significa que ele
informará a comunidade a respeito do que acontecerá no final dos tempos, no tocante a fatos e
intrigas, bem como esclarecerá tudo o que se relaciona com a questão da Hora do Juízo Final
e seus horrores. Ele admoestará a comunidade quanto à corrupção, o desvio do caminho,
mostrando-lhe o que poderá acontecer a ela em termos de desgraças, caso se extravie do
caminho reto.
9. A função desse Profeta será a orientação e o encaminhamento, para o que for bom e
útil para toda a humanidade, nesta vida e na Outra, como vemos nas palavras de Jesus:
"Quando vier aquele Espírito da
verdade, ele vos guiará em toda a verdade".
10. Ele também mostrará para o mundo o extravio dos povos anteriores e o desvio
deles quanto à religião dos seus profetas, cometendo erros e pecados, adulterando os
ensinamentos dos mensageiros. Ele também mostrará para todo o mundo a piedade e a justiça,
contidas na lei dos profetas anteriores. Mostrará os princípios da justiça, do monoteísmo, da
honra, da moral, exemplificando-os e aconselhando seus seguidores a se apegarem a eles.
Quanto ao Juízo, ele apresentará a prova contra os contraventores, condenando-os
convenientemente, censurando-os por terem-se desviado, depois de receberem a verdade.
Essas e outras características e distinções, mencionadas em todas as profecias que
apresentamos, se aplicam perfeitamente ao Profeta iletrado, Mohammad, quer seja pela vida
que viveu, quer seja pelo seu caráter, pela sua política e prudência, quer seja pela sua lei e
justiça, pelo direito, quer seja pela implantação do verdadeiro Reino de Deus, do monoteísmo,
ou pela sua corroboração quanto aos profetas e mensageiros de Deus anteriores a ele, crendo
neles, nas suas leis, e na revelação divina a eles, sem distinção entre todos.
Isso tudo está detalhado nos livros da biografia da história e da tradição, para quem desejar se
aprofundar na matéria.
Finalmente, queremos indicar algumas descrições dele no Alcorão Sagrado:
“Ó Profeta, em verdade, enviamos-te como testemunha, alvissareiro e
admoestador! E como
convocador (dos humanos) a Deus, com Sua anuência, e como uma lâmpada luminosa. E
anuncia aos crentes, que obterão de Deus infinita graça. E não obedeças aos incrédulos,
nem aos hipócritas, e não faças caso de suas injúrias; encomenda-te a Deus, porque Deus
te basta por Guardião" (33:45-48).
"Porque és de nobilíssimo caráter" (68:4).
Para quem desejar a verdade: "Nisto há uma mensagem para aquele que tem
coração, que escuta atentamente e é testemunha (da verdade)" (50:37).
Conclusão
Podemos, depois de tudo que apresentamos, chegar a uma só conclusão:
Todos os profetas e mensageiros (que Deus os abençoe e lhes dê paz), vieram com
uma só missão, uma só religião, e que o Profeta Mohammad não se diferencia dos profetas
anteriores a ele, Jesus e Moisés (a paz esteja com eles); que Jesus, filho de Maria, não difere
de Moisés, nem Moisés, o Profeta de Deus, difere dos profetas que o sucederam, Jesus e
Mohammad. Todos pregaram a religião de Abraão, o Patriarca dos profetas, a religião do
monoteísmo, da paz e da submissão ao Criador Único.
É logicamente e legalmente impossível que os ensinamentos de um dos profetas a
respeito de Deus, glorificado e exaltado seja, difiram dos ensinamentos de outro, ou sejam
contraditórios, principalmente no que diz respeito aos relacionados com a Pessoa de Deus,
Seus atributos, Sua Unicidade, Sua Perenidade, Seu Absolutismo e Sua Eternidade; no que diz
respeito à fé, ao Dia do Juízo Final, à ressurreição, à congregação, ao julgamento, à
recompensa e ao castigo, etc .. É impossível, também, que um dos profetas, escolhidos por
Deus dentre a humanidade, para empunharem Sua Mensagem e transmitirem Seus
mandamentos e Sua revelação, que apregoe para si uma posição que Deus não lhe outorgou,
ou que se auto¬denomine de divindade em lugar de Deus. O Alcorão nos
diz: "É inadmissível que um homem a quem Allah concedeu o Livro, a sabedoria e a
profecia, diga aos humanos: Sede meus servos, em vez de o serdes de Allah! Outrossim,
o que diz, é: Sede servos do Senhor, uma vez que sois aqueles que estudam e ensinam o
Livro. Tampouco é admissível que ele vos ordene tomar os anjos e os profetas por
senhores. Poderia ele induzir-vos à incredulidade, depois de vos terdes tornado
muçulmanos?" (3:79-80).
É possível que haja diferenças entre os profetas, nas leis, nas disposições, nos
mandamentos e nas proibições. Isso está relacionado com a organização e o acerto da vida
so¬cial e econômica e com os tipos de relacionamentos e tudo que diz respeito com os
preceitos, com a jurisprudência dos rituais, tudo que está relacionado com o bem-estar das
pessoas, juntando-se todos num mesmo crisol e com um só objetivo: Apegar-se aos
mandamentos de Deus, submeter-se a ele, pregar a sua Unicidade, adorar somente a Ele, fazer
o que O satisfaz, afastar-se de tudo que O aborrece e de tudo que Ele proibiu.
Como é claro pelo que expomos neste livro, os princípios, as crenças e os preceitos
foram completados por Deus, glorificado e exaltado seja, complementando-os pelo envio do
postremo dos profetas, Mohammad, reunindo-os num só sistema, a lei islâmica. Todos os
profetas e todos os Livros revelados confirmaram essas crenças e princípios, e determinaram
o apego a eles, confirmando, também, em suas profecias, o advento do postremo dos profetas,
o Profeta esperado por todas as nações, o Profeta Mohammad Ibn Abdullah. As profecias
citaram o local de seu surgimento, de seu advento, de sua migração, suas características
pessoais e funcionais, como
falaram sobre o conteúdo de sua lei, sua abrangência, e funcionalidade para todas as criaturas.
Que ela é a verdade esperada por todas as ilhas e aldeias e aguardada pelos povos e pelas
nações.
A religião de Mohammad é a única entre as religiões que restituiu a justiça, implantou
os pilares do monoteísmo, eliminou toda mácula da idolatria, do politeísmo e do extravio.
Mostrou o extravio dos povos antigos quanto a essa crença, que era a crença dos seus profetas
e mensa-geiros. Todos os profetas, desde Adão até Mohammad, convocaram seus povos para
a crença em Deus, na Sua Unicidade e na Sua Pureza e na adoração a Ele. Nenhum deles
falou de Deus além da verdade, ou convocou as pessoas para adorarem outro além d'Ele, ou se
auto-denominou de divindade.
Esta é a crença do muçulmano, seguindo o exemplo do Profeta Mohammad, a quem
seu Senhor ordenou que seguisse a e se orientasse pela sua orientação. Disse-lhe:
"O Mensageiro crê no que foi revelado por seu Senhor e todos os crentes crêem
em Allah, em Seus anjos, em Seus Livros e em Seus mensageiros. Nós não fazemos
distinção entre nenhum dos Seus mensageiros. Disseram: Escutamos e obedecemos. Só
anelamos a Tua indulgência, ó Senhor nosso! A Ti será o retorno!" (2:285).
Finalizamos, louvando a Deus, Senhor do Universo.
Que a paz e as bênçãos de Deus estejam com o nosso Profeta, Mohammad, com seus
familiares, com seus companheiros e com todos os seus seguidores, até o Dia do Juízo.
Amém.
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