Artigo final SIGET 2011 - Tatiana Carvalho

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NOVAS TECNOLOGIAS, INTERNET E GÊNERO DIGITAL NO ENSINOAPRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO CURSO DE
LETRAS/ESPANHOL DA UERN
Tatiana Lourenço de Carvalho (UERN)
[email protected]
Considerações iniciais
Diante dos avanços tecnológicos, que cada dia mais faz parte da vida do
cidadão, nos mais variados contextos sociais, é pertinente tratar do assunto também em
outros contextos, como os educacionais, por exemplo. Diante disto, resolvemos
desenvolver este estudo com o intuito de saber em que medido alunos do Curso de
Letras-Espanhol do Campus Avançado Professora Maria Eliza de Albuquerque e Maia CAMEAM da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN estão inseridos
nestes contextos das novas tecnologias, especialmente voltados para a aprendizagem e a
prática da escrita em língua espanhola. Queremos verificar se esses alunos fazem uso,
mais especificamente, de gêneros digitais como o email para a aprendizagem da língua
estrangeira e suas impressões sobre o uso de tal gênero em contexto educacionais.
Utilizamos para fundamentar teoricamente o trabalho autores como, Carvalho (2010),
Araújo (2007), Zanotto (2005), Paiva (2005), Pozos (2002), Nascimento e Trompieri
Filho (2002) e Garcías (1996).
O instrumento que usamos para coletar os dados a serem analisados no trabalho
foi um questionário aplicado especificamente com alunos do 2º e do 8º período do
Curso de Letras-Espanhol do CAMEAM da UERN, por serem eles os representantes
mais iniciantes e os concludentes do curso no campo em questão, assim, poderemos
fazer uma comparação dos sujeitos a fim de identificar o perfil desses estudantes de
Letras. O presenta artigo traz uma breve discussão teórica de temas relacionados às
novas tecnologias e o ensino de línguas, destaca as características do gênero email que
podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, e, por fim, a análise dos dados
seguida das considerações finais.
Novas tecnologias e ensino de línguas
No contexto de crescente importância dos estudos que tratem da relação entre
as novas tecnologias, gêneros digitais e ensino de línguas, compreendemos que a
utilização do computador e da Internet pode servir tanto de recurso didático como de
instrumento de integração e interação entre aprendizes, professores e, até mesmo,
falantes nativos da língua meta.
Sobre esta questão, Araújo (2007) argumenta que a Internet deve ser vista
como um elemento ampliador das possibilidades de uso da língua. Concordamos com o
autor ao afirmar, ainda, que cabe ao professor de idiomas o papel de explorar as
possibilidades pedagógicas da Internet, em particular dos gêneros digitais, fazendo com
que estes se tornem ferramentas eficazes para ensinar os alunos a se comunicarem em
língua estrangeira.
Em trabalhos que realizamos anteriormente1, cujos sujeitos de pesquisa foram
professores de escolas regulares do ensino médio e de centros de ensino de línguas
1
(ARAÚJO-JÚNIOR; CARVALHO, 2007) e (CARVALHO, 2009).
estrangeiras da cidade de Fortaleza-CE, constatamos que a maioria dos docentes
reconhecem as possibilidades de usos pedagógicos do computador para o ensino de
línguas. O que não quer dizer que, na prática, as potencialidades desse recurso sejam
exploradas por eles nas instituições onde trabalham. Uma das justificativas detectadas
para a não utilização do computador no ensino, pelos docentes investigados, foi a de
que a maioria das escolas ainda não dispunha de salas de aula equipadas com a máquina
e a de que faltava capacitação para os professores na utilização dessa ferramenta no
ensino. Isso significa que, caso o docente queira propor atividades em línguas
estrangeiras envolvendo os gêneros digitais, precisará pedir que elas sejam executadas
em outros ambientes: em casa, em cyber-cafés, em laboratórios de informática, em lan
houses etc.
No contexto de carência de recursos informáticos, em algumas instituições de
ensino, acreditamos ser possível fazer uso das novas tecnologias para o ensino em
outros ambientes que não o próprio ambiente escolar. Cremos também que a ausência
de computadores nas salas de aula não impossibilita a aplicação de atividades
envolvendo os gêneros do meio digital. Essas atividades podem ser desenvolvidas em
outros locais, em ambientes extraclasses, como bem demonstramos em nossa pesquisa
de mestrado, Carvalho (2010), na qual, como professora e pesquisadora de uma turma
de língua espanhola, incorporamos, além das atividades presenciais recorrentes em sala
de aula, o intercâmbio de emails em contextos extraclasse. As interações via ambiente
virtual ocorriam fora das aulas e sem dias e horários previamente definidos. Nelas os
alunos puderam aprender e praticar a língua espanhola com mais autonomia e quando
sentiam necessidade.
Diante do apresentado, vale destacar, a partir deste trabalho, como os alunos de
Letras-Espanhol do CAMEAM da UERN se posicionam frente aos usos das novas
tecnologias, especialmente do email para o ensino, porém, antes vale destacar as
características do gênero digital, em questão, com o qual trabalhamos, em experiência
anterior de ensino-aprendizagem, e pretendemos trabalhar em experiências futuras em
contextos universitários como o do Curso de Letras-Espanhol da UERN.
Email: especificidades do gênero que podem auxiliar o processo de ensinoaprendizagem
Atualmente é difícil encontrar um jovem estudante que não tenha seu próprio
email, ou que não saiba lidar com esse gênero proveniente da Internet. Nesse e em
outros aspectos, como sua usabilidade, a gratuidade no acesso, bem como a rapidez
propiciada na troca de mensagens, consistem nossa escolha em trabalharmos com o
também conhecido como correio eletrônico.
Vários são os autores que, atentos às potencialidades pedagógicas do email e a
crescente e importante inserção dele no cotidiano das pessoas, realizaram e vem
realizando pesquisas sobre o assunto. Pozos (2002) expôs, em seu trabalho intitulado El
correo electrónico como herramienta de apoyo en el trabajo docente con alumnos/as de
licenciatura en pedagogía, uma experiência bem sucedida no uso do gênero com alunos
do 4º semestre do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidad Pedagógica
Nacional, Unidade Ajusco, México, Distrito Federal.
Assim como Pozos, Nascimento e Trompieri Filho (2002) reconhecem a
importância de se trabalhar com o email no ensino e afirmam que:
O correio eletrônico é uma aplicação popular da Internet,
constituindo-se um incentivo para os professores integrarem esse
recurso tecnológico em suas disciplinas, podendo ser utilizado como
uma técnica para aprimoramento do ensino-aprendizagem.
Estes autores realizaram uma pesquisa que teve como objetivo fundamental
avaliar a opinião dos alunos de algumas disciplinas de cursos de graduação e de
mestrado da Universidade Federal do Ceará - UFC sobre o uso do correio eletrônico e o
sucesso instrucional proporcionado pela sua utilização. Tal prática de uso do email ou
do correio eletrônico, como preferem os autores chamar o gênero, tem sido propagada
na universidade, segundo eles, com o propósito de melhorar o intercâmbio das
informações entre os alunos e entre estes e os professores.
Em trabalho publicado por Zanotto (2005) o autor apresenta resultados de uma
pesquisa sobre o gênero email em cotejamento com a carta comercial e constata que
aquele está entre as correspondências mais expedidas por dia no meio empresarial,
correspondendo a 80,95% em oposição à carta, com 19,05%.
Poderíamos citar mais exemplos no qual o uso do email cresce e vem
substituindo “antigas” formas de comunicação, além de estarem presentes em contextos
diversos universitários, porém esse não é o objetivo de nosso trabalho. O que queremos
destacar é a importância e as especificidades desse gênero relevantes para a realização
de nossa pesquisa.
Ao tratar mais especificamente das características do email, concordamos, com
Paiva (2005, p. 76) ao afirmar que ele “é uma ferramenta que facilita a colaboração,
discussão de tópicos de trabalho e aprendizagem em grupos grandes, viabilizando a
criação de comunidades discursivas, superando limitações de tempo e de espaço”. Nesse
sentido, esse gênero digital pode ser um instrumento de grande valia para o ensino, uma
vez que, do ponto de vista educativo, tem forte aplicabilidade devido à interação entre
pessoas ou grupo de pessoas. Aplicação essa que, em geral, possibilita ampliar o
horizonte informativo e comunicativo de professores e alunos.
Para finalizar esta seção mostraremos que, segundo Garcias (1996), as
principais aplicações educativas do email talvez sejam as possibilidades de
comunicação e de interação entre os indivíduos que não se encontram fisicamente no
mesmo lugar, porém essa não é uma particularidade desse gênero. Ainda segundo a
autora, há outras vantagens dignas de destaque tais como:
• O email é assíncrono. Quando nos comunicamos por email não necessitamos marcar
com antecedência para que a pessoa esteja no lugar de recepção, como seria o caso do
telefone.
• O tempo transcorrido entre a emissão e a recepção da mensagem é praticamente
instantâneo.
• Os participantes ou interlocutores se encontram em um ciberespaço educativo com
poucos limites para a participação por status ou problemas pessoais.
• O email não requer um espaço e tempo concreto para realizar a comunicação, o que
acontece em outras atividades comunicativas frequentemente.
• A comunicação pode ser entre indivíduos ou entre grupos.
Diante das diversas possibilidades comunicativas favorecidas pelo email,
decidimos trabalhar com esse gênero fazendo jus e explorando suas potencialidades
pedagógicas. A princípio com intuito de sondar e conhecer até que ponto alunos de
Letras-Espanhol do contexto específico do CAMEAM da UERN, em 2011.1, usam tal
gênero digital, depois, num segundo momento, queremos incorporar a nossa prática
pedagógica, em dita instituição, à inserção da comunicação em língua estrangeira o uso
de novas tecnologias para o ensino.
Análise dos dados
Para o desenvolvimento deste trabalho, conforme já comentado, aplicamos um
questionário com o intuito de conhecer os hábitos de acesso e escrita de alunos do Curso
de Letras-Espanhol do CAMEAM da UERN na Internet e especificamente por meio do
email.
O questionário constituiu-se de oito questões que tratam de assuntos referentes
às práticas dos alunos na Internet; aos hábitos de escrita, tanto em português como em
espanhol de forma manual ou digitada; às concepções dos alunos acerca do uso do
computador no ensino etc. Para fins deste trabalho abordamos as questões que versam
sobre: I – os objetivos pelos quais os alunos acessam a Internet, II – as práticas de
escrita que eles costumam desenvolver no meio digital, através do gênero email, III – a
frequência com que isso ocorre e IV – as concepções dos discentes sobre as trocas de
emails para fins educativos.
Por escolha metodológica, não apresentaremos as respostas dos sujeitos desta
pesquisa, na íntegra nesta publicação, mas sim palavras e/ou frases das respostas que
representam o que eles quiseram expressar e que tem a ver com o que estamos
investigando.
Quadro 01 - Objetivos pelos quais os alunos acessam a Internet (2º período Letras-Espanhol).
Sujeitos
Objetivos educacionais
Outros objetivos
Aluno A
“estudo” – “pesquisa”
“sites como orkut e msn” – “Estudo” –
“pesquisa”
Aluno B
“pesquisar trabalhos da faculdade”
–
Aluno C
“Aprender
–
“informações “acessos pessoais” – “Aprender” –
importantes (pesquisas)”
“informações importantes (pesquisas)”
Aluno D
“pesquisas”
“sites de relacionamentos” – “download
de músicas” – “pesquisas”
Aluno E
“pesquisar”
“falar com amigos” – “pesquisar”
Aluno F
“pesquisas para trabalhos da “conversar com meus amigos pelas redes
universidade”
sociais, Orkut”
Aluno G
Aluno H
Aluno I
Aluno J
Aluno L
Aluno M
Aluno N
Aluno O
“fazer pesquisas” – “ler os e-mails”
“fazer pesquisas” – “ler os e-mails e
também para conversar com pessoas pelo
Orkut, msn e outros sites de
relacionamentos”
“pesquisas escolares, ou mesmo “redes sociais” – “buscar informações.”
para buscar informações”
“buscar informações a respeito do –
meu curso de Espanhol”
–
–
“pesquisas” – “comunicação”
“comunicação” – “pesquisas”
“fazer pesquisas”
–
“fazer pesquisas”
“outros sites”
“fazer pesquisas para minha “quando sobra um tempinho olho o meu
faculdade e para meu curso técnico. Orkut”
Utilizo também para enviar trabalho
para meus professores”
Aluno P
Aluno Q
Aluno R
Aluno R
Aluno T
Aluno U
Aluno V
“Com o objetivo de me manter –
informada, estudar e buscar novos
conhecimentos a fim de elevar meu
conhecimento em diferentes áreas”
–
“conversar com amigos, ver resultados do
meu time de basquete, que dificilmente
passa na Tv”
“pesquisar algo relacionado a estudo “sites de relações sociais - suprir alguma
- suprir alguma curiosidade”
curiosidade”
“pesquisas”
“compras, lazer e comunicação.”
“pesquisar alguns assuntos, em
“Sites de jornais, o Orkut e msn”
relação ao estudo”
“Pesquisar”
“olhar e-mails para falar com amigos e
para ver as noticias do dia já que não
tenho muito tempo para assistir jornais na
hora que passam”
–
“questões profissionais” – “forma de
entretenimento”
Ao verificarmos os dados do quadro 01, observamos que a maioria dos alunos
acessa a Internet para fins de pesquisas, especialmente no âmbito acadêmico, mas em
alguns casos não foi possível especificar o contexto dessas pesquisas e por isso a mesma
informação aparece tanto na coluna de “Objetivos educacionais” como “Outros
objetivos”.
Outras ações que os alunos afirmaram desenvolver na Internet diz respeito a
manter contatos pessoais com amigos através de sites de relacionamentos e bate-papos,
atualizarem-se etc.
Apenas dois, dos vinte alunos da turma do 2º período, que responderam ao
questionário, mencionaram alguma interação a partir do gênero email. Um, o aluno G,
não especificou exatamente porque troca emails, ficando estes possíveis de uso
interação tanto em contextos educacionais como pessoais. Já o aluno U foi mais
objetivo ao dizer que olha os emails para falar com os amigos.
Outra particularidade que merece nossa atenção nos dados apresentados no
quadro anterior, diz respeito ao aluno O que não menciona qual gênero usa, mas
podemos inferir que em sua atividade educacional de enviar trabalhos acadêmicos para
os professores da universidade, seguramente se utiliza de emails. Vale salientar, ainda, o
não uso da Internet, nem em “Contextos educacionais” nem em “Outros contextos”, por
parte de um sujeito, o aluno J. Ele, embora essa resposta não faça parte dos objetivos da
pesquisa, argumentou que quase não usa a Internet, por não ter computador em casa e
por não haver acesso, no povoado onde mora, no interior do Rio Grande do Norte.
Igualmente a este sujeito, outros, mesmo tendo respondido sobre suas práticas de
acessos na Web, também informaram que tais atividades se dão com pouca frequência,
pelos mesmos motivos apresentados pelo aluno J.
Ainda tratando do mesmo tema, passamos ao quadro 02 que traz os dados
referentes à turma formada pelos alunos do 8º período.
Quadro 02 – Objetivos pelos quais os alunos acessam a Internet / (8º período Letras-Espanhol).
Sujeitos
Objetivos acadêmicos
Objetivos pessoais
Aluno A “estudo” – “informação”
“trabalho” – “entre outros” –
“informação”
Aluno B “educativo” – “informativo”
“informativo”
Aluno C “Pesquisas acadêmicas em geral e –
Aluno D
Aluno E
Aluno F
estudo em L. Espanhola”
“faço apenas pesquisas”
“educacional”
“verificar e-mails” – “fazer pesquisas”
Aluno
M
Aluno N
“faço apenas pesquisas”
“pessoal”
“fazer pesquisas e entrar em contato
com os amigos, através de sites de
relacionamento” – “verificar e-mails”
“buscar informações sobre assuntos “Para me comunicar com as pessoas
diversos, para estudos”
através dos sites de relacionamento”
“Principalmente para ver meu e-mail e “Principalmente para ver meu e-mail e
fazer pesquisas da faculdade”
também para participar de algumas redes
sociais”
“Olhar o e-mail para tratar de assuntos –
escolares”
“Pesquisa educacional e profissional.” –
“Só com o objetivo de pesquisar
trabalhos escolares”
–
“Para enviar ou receber trabalhos –
relacionados a faculdade”
“comunicativos, pesquisa etc.”
“comunicativos, pesquisa etc.”
Aluno O
“Contatos por e-mail”
Aluno G
Aluno H
Aluno I
Aluno J
Aluno L
Aluno P
Aluno Q
Aluno R
Aluno S
Aluno T
Aluno U
“Contatos por e-mail e realização de
leituras de algum jornal nacional”
“Pesquisas e me comunicar através de “Pesquisas e me comunicar através de ee-mails”
mails”
“Pesquisa da universidade”
–
“dúvidas ou pesquisa relacionada a –
trabalhos acadêmicos”
–
–
“e-mails, pesquisas escolares e notícias “e-mails, pesquisas escolares e notícias
atuais”
atuais”
“Pesquisar assuntos relacionados a “Comunicar-me com amigos que estão
minha área de estudo”
distantes”
Dando continuidade aos comentários sobre os dados que revelam os contextos
de usos da Internet por parte dos sujeitos da pesquisa, percebemos uma diferença entre
os alunos do 8º período em relação aos do 2º. Os alunos do semestre mais avançado do
Curso de Letras-Espanhol do CAMEAM da UERN usam a Internet predominantemente
para fins educacionais, diferenciando-se dos alunos do 2º período que
predominantemente, ou melhor, houve um equilíbrio entre o acesso de assuntos
relacionados a “Outros fins” em relação aos “Fins educacionais”. Isso pode ocorrer
devido à diferença de faixa etária entre os dois grupos de sujeitos, pois sabemos que a
idade interfere na habilidade e domínio de uso das novas tecnologias por parte dos mais
jovens, alunos do 2º período, além de interferir, é claro, nos usos que esses alunos
fazem dos gêneros digitais e também no que eles preferem buscar na Web.
Com relação ao uso do email, percebemos, já nessa primeira questão do
questionário, que os alunos do 8º período afirmaram utilizar mais tal gênero que os
alunos do 2º período. A palavra email apareceu nas respostas de quatro dos vinte
sujeitos da turma concludente. Além disso, podemos inferir que outras práticas de
interação, não ditas diretamente, podem ter se dado através do gênero email, como
enviar e receber trabalhos da faculdade (aluno M), e se comunicar com amigos distantes
(aluno U).
Os dados ressaltam, ainda, uma característica bem peculiar e que também serve
para diferenciar os dois públicos de sujeitos da pesquisa, pois é sabido, atualmente, que
os mais jovens, não trocam emails com a mesma frequência que os mais veteranos no
uso da Internet, que normalmente preferem a discrição ao se comunicar, mesmo que
seja por ambientes virtuais, enquanto a geração dos chamados nativos digitais preferem
comunicar-se através de redes sociais de relacionamentos, o que muitas vezes acaba por
servir para a divulgação da autoimagem desses usuários na Web. Evidentemente, não
podemos generalizar e deixar de reconhecer que, dependendo do contexto, um ou outros
gêneros será(ão) utilizado(s) a depender do propósito ao qual um se dispõe a realizar a
comunicação pela Internet.
Quadro 03 – Objetivos pelos quais os alunos trocam emails.
Sujeitos
Objetivos dos emails trocados
( 2 ) Profissional
(13) Educacional
( 16 ) Pessoal
21 alunos (2º período)
( 7 ) Profissional
(19) Educacional
( 13 ) Pessoal
20 alunos (8º Período)
( 1 ) Outro(s)
( ) Outro(s)
Ao observarmos o quadro 03, cujo objetivo é mostrar, de forma sintética, os
motivos que levam os sujeitos desta pesquisa a trocar emails, percebemos uma
predominância do objetivo educacional seguido do pessoal, tanto nas respostas dos
alunos do 2º como nas do 8º período. Isso nos leva a crer que tal gênero cumpre sim
uma forte função pedagógica na vida dos que o utiliza nestes contextos e pode, se bem
utilizado para este fim, ser muito útil ao ensino.
Quadro 04 – Se os alunos (2º período de Letras-Espanhol) costumam trocar emails e com que frequência.
Sujeitos
Usa email
Frequência de troca de emails
Aluno A
(x) SIM ( ) NÃO
“No dia a dia, quando preciso mandar algo para minhas amigas eu
respondo aos e-mails que elas mandam.”
Aluno B
( ) SIM (x) NÃO
Aluno C
(x) SIM ( ) NÃO
“Sempre.”
Aluno D
(x) SIM ( ) NÃO
“É raro. Na maioria das vezes respondo os que me mandam.”
Aluno E
(x) SIM ( ) NÃO
“É com pouca frequência.”
Aluno F
(x) SIM ( ) NÃO
“Quase todos os dias.”
Aluno G
(x) SIM ( ) NÃO
“Sempre que alguém envia algo para mim eu respondo,
principalmente, e-mails enviados por professores e colegas do
meio acadêmico.”
Aluno H
(x) SIM ( ) NÃO
“Sempre que necessita ou sempre que posso.”
Aluno I
(x) SIM ( ) NÃO
“Quase nunca, pois não tenho muito acesso à internet.
Aluno J
(x) SIM ( ) NÃO
Não é muito frequente.”
Aluno L
(x) SIM ( ) NÃO
“Não troco e-mails com frequência, por causa da falta de
disponibilidade.”
Aluno M
(x) SIM ( ) NÃO
“Com pouca frequência, só quando eu acho que seja necessário,
quando esta relacionado a trabalhos.”
Aluno N
( ) SIM (x) NÃO
Aluno O
(x) SIM ( ) NÃO
“Só quando necessário, por não ter acesso a Internet em casa...”
Aluno P
(x) SIM ( ) NÃO
“Regularmente, quando preciso enviar ou saber informações
sobre o curso.”
Aluno Q
( ) SIM (x) NÃO
Aluno R
(x) SIM ( ) NÃO
“Às vezes.”
Aluno S
(x) SIM ( ) NÃO
“Diariamente.”
Aluno T
(x) SIM ( ) NÃO
“Não com muita frequência.”
Aluno U
(x) SIM ( ) NÃO
“Todos os dias.”
Aluno V
(x) SIM ( ) NÃO
“Todos os dias.”
Ao serem perguntados, mais diretamente, se costumam trocar emails e com que
frequência, apenas três alunos do 2º período afirmaram não usar tal gênero. O que a
princípio nos surpreendeu, pois ao idealizar o desenvolvimento desta pesquisa, em
março do presente ano, não imaginávamos que dentro de um contexto universitário
encontraríamos alunos que não fizesse uso do gênero email. No entanto, após um
contato maior, como professora, dos sujeitos, no decorrer do semestre letivo 2011.1,
fomos tomando conhecimento da real situação em que vivem os alunos do CAMEM da
UERN, campus universitário de uma cidade do interior do Rio Grande no Norte,
chamada Pau dos Ferros. Muitos dos alunos não vivem na própria cidade, mas em zonas
rurais, onde nem mesmo o celular apresenta sinal. Diante do conhecimento desta
realidade, a partir de relatos feitos pelos próprios alunos, passamos a ter uma
consciência maior de como lidam ou deixam de lidar alguns estudantes do CAMEM
com novas tecnologias como o computador e a Internet.
Com respeito à frequência de uso do email apenas cinco dos vinte e um sujeitos
afirmaram trocar emails diariamente ou frequentemente, a maioria, nove alunos, falaram
que usam pouco dito gênero e justificaram o escasso uso devido ao contexto em que
vivem, conforme já comentamos aqui. Outros três afirmaram fazer uso do gênero
quando tinham necessidade, uns acessavam dependendo do conhecimento de que algum
colega ou professor iria enviar algo, quando precisavam usar o gênero e ou quando
podiam.
Os três alunos que afirmaram não trocar emails, por questões óbvias não
relataram os contextos de uso do gênero.
Os dados referentes aos sujeitos do 2º período de Letras-Espanhol também
denotam a não recorrência de uso do email, mesmo por aqueles que não têm problemas
com relação a acesso a Internet, isso se dá, possivelmente, devido à preferência dos
mais jovens em usar outros gêneros, especialmente os utilizados em redes sociais de
relacionamentos.
Observaremos a seguir, os dados referentes ao uso do email por parte dos
alunos do 8º período.
Quadro 05 – Se os alunos (8º período de Letras-Espanhol) costumam trocar emails e com que frequência.
Sujeitos
Usa email
Frequência de troca de emails
Aluno A
(x) SIM ( ) NÃO
“Diariamente.”
Aluno B
(x) SIM ( ) NÃO
“Todos os dias.”
Aluno C
(x) SIM ( ) NÃO
“4 vezes por semana.”
Aluno D
( ) SIM (x) NÃO
Aluno E
Aluno F
(x) SIM ( ) NÃO
(x) SIM ( ) NÃO
Aluno G
(x) SIM ( ) NÃO
Aluno H
Aluno I
Aluno J
(x) SIM ( ) NÃO
(x) SIM ( ) NÃO
(x) SIM ( ) NÃO
Aluno L
Aluno M
Aluno N
(x) SIM ( ) NÃO
(x) SIM ( ) NÃO
( ) SIM (x) NÃO
Aluno O
Aluno P
Aluno Q
(x) SIM ( ) NÃO
(x) SIM ( ) NÃO
(x) SIM ( ) NÃO
Aluno R
Aluno S
(x) SIM ( ) NÃO
(x) SIM ( ) NÃO
“Quase todos os dias.”
“Somente com professores da graduação, no presente momento
com mais frequência por causa da monografia.”
“Não com tanta frequência. A troca de e-mails depende da minha
necessidade, as vezes uso muito, outras quase não utilizo.”
“Troco e-mails quase todos as vezes que acesso a internet.”
“Abro quando realmente tenho necessidade.”
“Dificilmente. Sempre que faço, tento ser o mais breve
possível.”
“Dificilmente só quando não tenho outro meio de comunicação.”
“As vezes, somente em assuntos relacionados a faculdade.”
“Sempre que necessito entrar em contato com meus professores,
amigos, etc.”
“Com uma frequência de uma a três vezes por semana.”
“Frequentemente.”
“Poucas vezes. Quando necessito falar com algum professor ou
colega de classe.”
“Poucas vezes.”
“Não é uma coisa costumeira.”
Aluno T
(x) SIM ( ) NÃO
Aluno U
(x) SIM ( ) NÃO
“Só quando tenho necessidade de manter contato com algum
professor.”
“Não, só quando é necessário.”
Oito dos vinte alunos da turma do 8º período afirmaram não trocar emails com
tanta frequência e apenas quatro afirmaram usar emails diariamente ou quase todos os
dias. Esses dados, juntamente com os apresentados no quadro anterior dos alunos do 2º
período, nos revelam que, no contexto específico dos alunos de Letras-Espanhol do
CAMEAM, o decisivo no uso do gênero email não foi necessariamente a faixa-etária
dos alunos, mas o contexto de pouco acesso que muitos desses alunos têm ao
computador conectado a Internet, uma vez que mesmo os já em conclusão de curso não
demonstraram tanta afinidade, ou melhor, tanta frequência no uso do gênero email.
Todas as atividades apresentadas pelos alunos, no uso do gênero, estiveram
ligadas a ações acadêmicas relacionadas à faculdade em comunicação com algum
professor ou colega de classe. Nenhum dos sujeitos da turma de alunos concludentes
afirmou usar o gênero para comunicações pessoais. Um sujeito, o aluno F, inclusive
especificou que no presente semestre estava trocando mais emails por conta da
monografia.
A seguir, apresentaremos os dados referentes ao posicionamento dos sujeitos
sobre o uso do email, se eles acreditam que o gênero pode contribuir para o ensino. Ao
tratar do tema todos os alunos, das duas turmas, reconheceram que o email pode
contribuir para fins de ensino, exceto um aluno não marcou nenhum dos itens da
questão, nem que sim nem que não. Isso talvez tenha se dado por desconhecimento por
parte do sujeito na utilização do gênero, uma vez que ele foi um dos que afirmou não
trocar emails, e que só acessa a Internet uma vez por mês ou quando necessário. Neste
caso podemos inclusive refletir em que medida esse aluno é letrado digitalmente. Será
que ele de fato domina o uso de recursos básicos de navegação na Web ou inventou
algumas respostas para não se mostrar tão alheio ao tema!?
Fazendo uma reflexão sobre os dados gerais da pesquisa é relevante entender,
ainda, que eles mostram, de um modo geral, que a maioria dos alunos está atenta a
possibilidade de inserção dos recursos tecnológicos, especialmente dos gêneros textuais
provenientes da Web, no ensino. Isso muito nos motiva, uma vez que almejamos inserir
esses alunos aos ambientes digitais que podem servir para a aprendizagem e/ou tirar
proveito desses contextos de interação on-line para o ensino-aprendizagem de línguas,
especialmente, no caso da nossa atuação docente como professora de Língua Espanhola.
Considerações Finais
O artigo em questão pretendeu apresentar como se dá a inserção das novas
tecnologias, mais especificamente o uso do email, em contextos de alunos do Curso de
Letras-Espanhol do Campus Avançado Professora Maria Eliza de Albuquerque e Maia
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
Utilizamos para a coleta de dados a aplicação de um questionário com alunos
do 2º e do 8º período, na semestre 2011.1. As respostas dados às questões serviram para
identificar os objetivos pelos quais os alunos acessam a Internet. Neste sentido,
detectamos que a maioria dos alunos acessa para fins de pesquisas, especialmente do
âmbito acadêmico, embora tenhamos percebido uma leve diferença entre os alunos do
2º e os do 8º período, pois aqueles afirmaram usar a Internet para relacionamentos nas
redes sociais com uma grande frequência, enquanto os do 8º período afirmaram usar a
Internet predominantemente para fins educacionais.
Ao tratar das práticas de escrita que os alunos costumam desenvolver no meio
digital, através do gênero email, constatamos que houve uma predominância do objetivo
educacional seguido do pessoal, tanto nos dados dos alunos do 2º como nos do 8º
período. Isso nos mostrou que o email cumpre uma forte função pedagógica na vida dos
que o utiliza nestes contextos e pode, se bem utilizado, ser muito útil ao ensino.
Já ao tratar da frequência com que os alunos trocam emails, a maioria informou
não usar-se de emails com tanta frequência, mas sim em situações bem específicas de
necessidades, na maioria das vezes acadêmicas. Dos que afirmaram usar pouco o gênero
email, a maioria justificou a ação devido à falta de acesso ao computador em casa e até
mesmo a inexistência de acesso a Internet nos povoados onde residem.
Por fim, os alunos responderam a questão que tratou das concepções sobre as
trocas de emails para fins educativos. Ao tratar do tema todos os alunos, do 2º período e
do 8º, reconheceram que o gênero pode contribuir para fins de ensino. Um único aluno
não respondeu a questão, este fazia parte da turma do 2º período. Tal atitude, por parte
do discente, talvez tenha ocorrido devido o sujeito não ser um usuário do gênero, uma
vez que ele foi um dos que afirmou não trocar emails e que só acessava a Internet uma
vez por mês ou quando necessário.
Os dados do estudo revelaram, de um modo geral, o perfil destes estudantes de
Letras e como eles tem ou não acesso as práticas de escrita no meio digital,
especialmente com o uso do gênero email. Os resultados nos leva, ainda, a reflexão
sobre a funcionalidade e aplicabilidade de ferramentas digitais em contextos de ensino
de língua estrangeira em nível superior, especificamente da língua espanhola, uma vez
que, no atual contexto de imersão do digital em todas as esferas da sociedade
acreditamos que não há como os ambientes formais de educação deixar de acompanhar
esta evolução e fazer com que seus alunos também a acompanhe e se insiram em
contextos tecnológicos também para a aprendizagem. O trabalho trata-se de um estudo
preliminar com o intuito expandir as práticas letradas do universo digital aos alunos do
Curso de Letras-Espanhol do CAMEAM da UERN com fins de ensino.
Referências
ARAÚJO, J. C. Internet & ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2007.
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