o processo de ensino e aprendizagem a partir da prática

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O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM A PARTIR DA PRÁTICA
DA ENCENAÇÃO COM O USO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS
ROSA, Wagner – UEL
[email protected]
CRUZ E MELO, Carlo Alessandro Galdino – UEL
[email protected]
REZENDE, Lucinea Aparecida de – UEL
[email protected]
Área Temática: Currículo e saberes
Agência Financiadora: UEL
Resumo
As pesquisas que ora desenvolvemos estão voltadas para as múltiplas leituras. Nesse universo
e pensando-se a relação ensino e aprendizagem, apresenta-se aqui a encenação, fundamentada
em pesquisa com elementos audiovisuais, como elemento facilitador de aprendizagem e
mediador de conhecimento. Com essa prática, o aluno tem a possibilidade de exercitar a
criatividade e a capacidade de desenvolvimento das diversas informações às quais teve ou está
tendo acesso no processo de aprendizagem formal. O trabalho de encenação contribui para a
congregação de interesses compartilhados, voltados a um objetivo comum. É pautado em
experiências de vida de cada indivíduo envolvido, oferecendo, desde seu início, possibilidades
de interpretação de um ou mais textos (visual, sonoro, corporal ou escrito), a busca por
significados e até mesmo contradições, o que propicia um maior envolvimento entre leitor e
texto. Ao fomentar a integração do aluno em seu meio e, em conseqüência, estabelecer
conexões com o mundo exterior à escola, esta atividade serve como fator de motivação e
valorização do aluno enquanto indivíduo e também como um ser social, conectado e
refletindo acerca do mundo em que vive e o relacionando a distintos contextos e realidades. A
idéia de alfabetizar os alunos na leitura das diferentes mídias às quais está exposto
cotidianamente está presente neste artigo, num quadro em que se percebe a carência de
currículos e programas elaborados por profissionais interessados em integrar a arte e a
educação. A elaboração de encenações com os recursos da linguagem audiovisual como uma
atividade escolar regular pode vir a contribuir para essa integração.
Palavras-chave: Ensino da arte; Encenação; Ensino e aprendizagem; Linguagem audiovisual;
Leitura da mídia.
Introdução
As discussões acerca da educação nos dias atuais enfatizam ensino e aprendizagem em
relação direta com o mundo tecnológico, característico da contemporaneidade. Os alunos
fazem parte de uma geração integrada a uma cultura distinta das anteriores, mais ligada às
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imagens e às sínteses (sentidos) do que à maneira tradicional de entender o mundo, voltada à
cultura do livro, da razão e da análise (pensamento). Por conseguinte, esta “nova cultura” não
deveria ser excluída das salas de aula.
Pode-se pensar, atualmente, em uma proposta educacional, que integre e valorize
igualmente estas duas culturas, viabilizando uma maior comunicação, interação e diálogo
entre “novo” e “velho”, audiovisual e livro, o sensível e a razão, buscando aproximar alunos e
professores, jovens e adultos, cidadãos e sociedade. Com isto, estar-se-á engajando um
processo educacional, que valoriza a pluralidade cultural, a diferença e o conhecimento
interdisciplinar.
O objetivo, aqui, é relacionar, diretamente, a pessoa e a experiência, “construindo-se
conexões entre o verbal e o não verbal, entre o que é estritamente lógico e o emocional, entre
literatura e ciência” (BARBOSA, apud MELO, 2005 p.99).
No artigo A encenação enquanto espaço para o ensino e aprendizagem, Rosa e
Rezende (2007), ao tratarem a relação ensino e aprendizagem, apresentam a encenação como
instrumento com o qual tanto o professor quanto o aluno podem pôr em prática elementos do
aprendizado ao utilizar as ferramentas necessárias ao processo de elaboração e produção da
encenação.
Dialogando com autores como Melo (2005), observa-se que a prática da encenação
proporciona o desenvolvimento da intuição, do raciocínio e da imaginação, que são destrezas
da expressão e comunicação. Ao mediar a encenação de acordo com essas habilidades
adquiridas pelo aluno, o aprendizado pode se tornar mais efetivo, uma vez que a educação
artística baseia-se na experiência direta dos sentidos, legitimando-os como fonte de
conhecimento. Com esta prática, o aluno tem a possibilidade de exercitar a criatividade e a
capacidade de desenvolvimento das diversas informações às quais teve (ou está tendo) acesso,
tanto no processo de aprendizagem formal quanto na multiplicidade de linguagens às quais ele
tem contato em seu cotidiano.
O trabalho de encenação oferece, desde seu início, possibilidades de interpretação de
um ou mais textos (visual, sonoro, corporal ou escrito), a busca por seus inúmeros
significados e até mesmo suas contradições, tornando mais “saboroso” o aprender, ou seja,
propiciando o envolvimento leitor e texto.
Dentre o leque de possibilidades e recursos à disposição do encenador para a
elaboração e construção de sua encenação (cenografia, figurinos, iluminação, sonoplastia
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etc.), devem-se considerar os recursos audiovisuais como aqueles que podem fornecer uma
infinita quantidade de informações à disposição do professor e do aluno como fonte de
recursos e pesquisa de linguagens com uma maior facilidade de acesso.
Esses recursos, empregados com mediação qualificada, podem vir a contribuir para
uma efetiva aprendizagem. Nessas condições, a realização da encenação pode funcionar como
um elemento facilitador de aprendizagem e mediador de conhecimento. Ao buscar integrar o
aluno ao seu meio e, em conseqüência, buscar conexões com o mundo exterior à escola (e os
seus sistemas herméticos), a atividade da encenação fundamentada em pesquisa com
elementos audiovisuais serve como fator de motivação e valorização do aluno enquanto
indivíduo (que investe em conhecimento, pesquisa e prospecção de novos recursos) e também
como um ser social (que se conecta ao mundo, refletindo acerca do contexto em que vive e o
relacionando a distintos contextos e realidades).
A Linguagem Audiovisual
As imagens e informações proliferam-se por meio de avançadas tecnologias
desenvolvidas para atingir - e agora interagir com - o maior número de pessoas, no maior
número de lugares, no menor espaço possível.
A globalização transformou a sociedade em planetária, onde a circulação da
informação constitui-se num de seus pilares básicos, referenciados por imagens que são
produzidas ininterruptamente e que circulam pelo mundo quase que instantaneamente. Esta é
uma sociedade de comunicação generalizada, que está introduzindo modificações profundas
no conjunto de valores da humanidade, estabelecendo uma nova ordem, com conseqüências
ainda não plenamente identificadas.
Nas últimas décadas, não somente a reinterpretação das produções culturais (sejam
elas acadêmicas ou não), como também a maneira de criá-las e estruturá-las, dentro deste
novo e abrangente momento, de maneira linear, fragmentada em impulsos rápidos e
multifacetados, a idéia de arte consegue se interligar com materiais tecnicistas e
informatizados. Eles compreendem desde a mecatrônica (nova visão da “antiga” robótica) até
o sistema que simboliza o final do milênio (a multimídia), sem deixar de manter contato com
os objetos míticos do oriente e ocidente, transformando a linearidade do pensamento em sua
“nova substituta”: a rede virtual, que interliga filosofias e informações. A escola deve sair da
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posição estática em que se encontra e se concentrar na busca de novas maneiras de ensinar.
A instituição escolar enfrenta um grande desafio dentro de um novo contexto
sociocultural, que, por sua vez, gera crianças e adolescentes com características novas e
diferenciadas. Esses jovens possuem uma leitura de realidade muito individualista, o que
acaba gerando um comportamento polarizado, em que ao mesmo tempo estão “antenados”,
isto é, conhecem superficialmente todos os meios e elementos de seu meio, e também
“desligados”, ou seja, são muitas vezes incapazes de perceber e proferir reflexões diante dos
fatos e informações do seu meio. Esta afirmativa tem grande reflexo no contexto escolar, pois
grande parte dos alunos parece ser indiferente ao ensino, e não porque o concebem de outra
forma, mas porque eles não percebem significados e não atribuem importância a ele, como
tradicionalmente poderíamos esperar.
Certamente, podem existir causas múltiplas, de caráter socioeconômico e também
cultural, que intervêm. Devemos procurar entender o que é esta outra maneira de ser e estar e
de que forma esta nova cultura se relaciona com a realidade.
Para compreender-se melhor a situação, trabalharemos com uma hipótese
fundamental, entendida conforme descreveram Babin e Kouloumdjiam (1983, p.11).
O meio tecnológico moderno e em particular a invasão das mídias e o emprego de
aparelhos eletrônicos na vida cotidiana, modela progressivamente um outro
comportamento intelectual e afetivo.
O termo “meio tecnológico” é utilizado pelos autores no seu sentido mais amplo, indo
do computador até o forno de microondas e às grandes mídias de comunicação e
entretenimento. O efeito das novas tecnologias, que simplificam e ao mesmo tempo controlam
o dia-a-dia, gerou no espaço de 30 anos, por meio da televisão, cinema e aparelhos eletrônicos
diversos, um novo tipo de cultura entre os jovens.
Pode-se observar que não é um procedimento simples a passagem da cultura centrada
no livro à cultura que agrega o audiovisual. Segundo Babin et al (1983, p.12), o novo tipo de
cultura que está nascendo é inicialmente uma mixagem das duas culturas, uma interpenetração
de duas linguagens como, por exemplo, a imagem invadindo o livro e os slides durante uma
palestra.
O mesmo autor ainda propõe uma segunda imagem além da mixagem: é o termo
estéreo. A leitura inicial para entendermos o significado do termo é primária, como dois
canais diferentes - cada um com sua sonoridade própria - e predominando um de cada vez, ou
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seja, nos sistemas de formação deverão funcionar dois métodos: a abordagem intuitiva e a
abordagem dedutiva e seus tempos diferenciais.
Dentro desta realidade, pode-se observar que os mais jovens se integram melhor ao
audiovisual e às novas tecnologias, enquanto muitos indivíduos ainda mantêm certa
resistência e incapacidade de aproximá-las do universo cotidiano. A partir deste contexto
acreditamos na importância de novas filosofias e tecnologias, que forneçam algum equilíbrio
e uma solução cultural para as dificuldades do contexto.
Para aqueles educados no sistema mais tradicional, esta nova cultura é um elemento
estranho; porém, para os jovens que nasceram dentro dela, ela é tão natural como o ato de
respirar. Desta forma, devem-se analisar os aspectos positivos e negativos, que nascem da
antiga cultura e são postos no universo mental da nova geração, buscando formas de
aproximá-los no tempo.
A baixa capacidade de concentração dos alunos é uma das maiores queixas da cultura
tradicional de ensino e aprendizagem. Para compreender isso, basta relacionarmos os
programas de rádio e televisão, que se caracterizam pela sua fragmentação e rapidez, com a
incapacidade do jovem de acompanhar por muito tempo uma explicação, um discurso de
conteúdo intelectual, pois ele, após quinze minutos, volta sua atenção para outro elemento em
seu entorno.
A quantidade de informação que atinge os jovens os submerge e, em
seguida, os impede de concentrar-se num ponto especial [...] Hoje, todos
ficam submersos pelas informações. Isso leva a uma dispersão da reflexão
(BABIN et al, 1983, p.25).
Neste novo contexto, por exemplo, algumas músicas promovem a concentração,
porém, mantém-se a dificuldade de concentracão em informações desprovidas de ritmos,
imagem, sons e vibrações. Em contraponto, não faltam atenções para linguagens mais
dinâmicas de certos programas de televisão, das histórias em quadrinhos ou de uma aula
auxiliada por um computador, pois as informações e imagens destas linguagens misturam
elementos audiovisuais de forma criativa e dinâmica.
Outra discussão freqüente dos educadores é sobre um desdobramento ou “um
achatamento dos conhecimentos em prejuízo da seriedade e da profundidade” (BABIN et al,
1983, p. 26) e do modelo das mídias, que fornecem grande quantidade de informação sem
ordem, análise ou contexto, gerando perda de significado. Agora, parte-se para outra ótica do
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contexto, considerando a mídia como um meio de conhecimento e suas qualidades como a
rapidez e a ludicidade, que a tornaria necessária em, no mínimo, uma etapa inicial para um
conhecimento mais profundo. Talvez, as novas tecnologias no cotidiano do professor e a
utilização de recursos audiovisuais diversos como elementos metodológicos possam ser vistos
como um caminho.
Outro aspecto é o aumento da passividade, equivocadamente atribuída à televisão e
internet, pois basta olhar ao redor para perceber-se que as reações do público ao conteúdo das
mídias nunca foram tão vivas, pois a iniciativa e a imaginação permanecem ativas, embora
modificadas pela velocidade e quantidade de elementos presentes, gerando condutas mais
passionais e menos reflexivas diante das mídias. Sendo assim, o jovem sente mais do que
compreende, reconhece mais do que relaciona e reflete, mas, parece, quase sempre de forma
prazerosa. Há, no entanto, uma espécie de conduta passiva, que precisa ser destacada. O fato
das mídias e da sociedade possuírem um grande poder de impacto na subjetividade
comportamental do indivíduo, pode conduzir, principalmente as crianças e pré-adolescentes, à
busca de ser-se uma cópia fiel de algum estereótipo social, retirada a capacidade de crítica ou
de interiorização nesse processo.
A ligação dos planos, as relações som-imagem-música e suas variáveis, podem não ter
similaridades com as regras de uma dissertação, mas certamente sua formulação e leitura
necessitam de regras e esquemas lógicos.
Se, por um lado, observa-se a perda de incapacidade de uma leitura e avaliação
objetivas da informação, sendo que o afetivo direciona as cognições, por outro há a
abordagem menos intelectual, em que a afetividade e a imaginação geram experiências
únicas. Portanto, o universo audiovisual leva hoje à reintegração desses dois parceiros. Devese, desta forma, aceitar outro tipo de ordem: o raciocínio dentro de um universo audiovisual,
sem esquecer-se de seus pontos negativos. Desta maneira, buscando-se outra visão das coisas,
nossa forma de ver e agir corresponderá a outra cultura, esta que parece que os alunos estão
incluídos.
Aceitando esta realidade, temos mais um elemento para avaliar quanto à instituição e
aos problemas de aprendizagem. A diferença entre a nova linguagem do aluno e a linguagem
oferecida pela instituição é, com certeza, um grande fator no conflito de relações, que deve ser
minimizado pela escola. Com isso cria-se a possibilidade de perder-se a relação do
conhecimento com a realidade, tornando-o desprovido de sentido para o aluno.
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Identificar os diversos fatores que interferem no processo de aprendizagem e ajudar o
aluno a superar as dificuldades, remete a conhecer intimamente a linguagem dele. Desta
forma, cabe ao professor ter acesso e dominar a linguagem do aluno podendo, de maneira
mais tranqüila, exercer seu papel de mediador junto ao aluno e, quando for o caso, entre a
escola e a família, pois em ambas as circunstâncias a linguagem audiovisual está presente,
qualitativa e quantitativamente, muitas vezes de forma desordenada; sendo assim, é
desperdiçado em todo seu potencial. Além disso, cabe à instituição escolar trabalhar com
vistas a desenvolver o senso crítico do estudante, inclusive com relação ao uso da linguagem
audiovisual.
Esta geração dos nossos dias, que cresceu com a linguagem audiovisual presente em
seu cotidiano, tem com ela uma relação diferente e isso gera situações como os casos de um
aluno repetente na série escolar, mas que domina a linguagem do videogame, a qual exige o
uso de capacidades mentais como velocidade de raciocínio, tomada de decisões, domínio de
táticas e estratégias complexas para ultrapassar etapas dos jogos.
Ou um jovem, que domina a linguagem das histórias em quadrinhos, realizando
leituras semiológicas, decodificando signos relativamente complexos, que ali existem, e assim
vivenciando conhecimentos, emoções, analisando valores e sentimentos, mas que não vai bem
na vida escolar/acadêmica. Se a falta desta linguagem na escola ou a dinâmica própria desta
última tira o interesse dos estudantes, ou faz desaparecer a importância dos estudos, é
essencial que o professor perceba e analise, junto a eles, a situação, e redirecione suas ações
da melhor forma possível, aproveitando as potencialidades dos alunos.
A linguagem audiovisual, com o seu poder de comunicação, fornece instrumentos de
aquisição de conhecimento, que são avaliados, relacionados, comparados com a realidade e
com conhecimentos pré-existentes, gerando novos conhecimentos, que possibilitam
modificar e reavaliar a realidade em que vivemos, observando sempre novas facetas e
elementos.
Nesse processo de acesso e transformação ocultam-se muitos elementos de
manipulação e mistificação, que podem modificar a leitura da realidade e, conseqüentemente,
da mensagem contida, muitas vezes até pelo espectador, que possui uma leitura e percepção
da linguagem audiovisual intimamente relacionada à sua personalidade e meio cultural.
A apropriação dos recursos audiovisuais nas atividades de encenação pode constituir
um grande recurso metodológico nesse processo; um forte elemento integrador entre o
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“antigo” e o “novo”, ao buscar integrar os processos já existentes a uma nova e evidente
linguagem, incorporando-a a rotina escolar.
Esta nova linguagem, chamada de “audiovisual”, tem seus grandes modelos nas
mídias (revistas, jornais, rádio, televisão e cinema), cada uma mantendo princípios e
características comuns, como: vê-se mais do que se lê, sente-se antes de compreender.
BABIN e KOULOUMDJIAN (1983, p. 38) atribuem sete características à linguagem
audiovisual: mixagem, linguagem popular, dramatização, relação ideal entre figura e fundo,
presença ao pé-do-ouvido, composição por “flashing” e disposição por “razão de ser”.
Vamos procurar compreendê-los.
O audiovisual é “mixagem” muito mais do que uma seqüência ordenada de imagens.
A mesa de mixagem de um estúdio é um gerador de toda uma alquimia “som-palavraimagem”, controlada por quem o dirige. A harmonia destes elementos é essencial para um
bom audiovisual. A música cria uma situação, em um clima que a imagem por sua vez
centraliza ou difunde a mensagem ou “palavra estrutura”. Como sabemos, a imagem é por si
só um símbolo, mas na linguagem visual é o todo que faz o símbolo.
Quando se coloca em pauta a linguagem popular no audiovisual, fica extremamente
fácil observarmos sua força nas canções, nos filmes e na televisão. “Todas as mídias do nosso
tempo, escreve MARSHALL e McLULHAN, contribuíram para reforçar a linguagem popular
nas suas formas mais familiares e menos literárias” (BABIN et al, 1983, p. 42).
O audiovisual, devido à sua relação com o som e a imagem, necessita de palavras mais
concretas, mais diretas na linguagem.
A dramatização (elemento comum da encenação) tem a função de colocar em
evidência os acontecimentos, que vão dos títulos dos jornais, às mudanças repentinas de plano
ou de música entre duas seqüências. Ela é feita de aumentos ou simples pormenores na
descrição de acontecimentos e situações, que geram tensão no espectador.
Baseada em certos elementos da “teoria da forma”, a relação ideal entre figura e fundo
no audiovisual não é facilmente descrita com palavras. Utilizaremos o termo “figura e fundo”,
pois a linguagem audiovisual, quanto ao seu sentido e eficácia na mensagem, dependem de
uma relação de diferença e distância entre o “pano de fundo” e a figura central, entre o texto e
o seu contexto.
Esta lei é fundamental no que rege a dramatização e força da linguagem audiovisual.
A composição e dosagem de elementos como voz e silêncio, música e imagem, cor dominante
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e cor excepcional, geram relações e criam um realce.
O termo “presença”, ligado ao audiovisual, trabalha com o fato do canal eletrônico
“tornar-se presente”, de ampliar o efeito de presença. Em primeiro lugar, trazendo para a salade-aula o que está longe, abolindo, assim, figurativamente, as distâncias geográficas, tornando
presente por um momento, por meio da televisão, um fato ou imagem. Desta forma, a
percepção diante da linguagem audiovisual, graças à eletrônica, pode reforçar o efeito de
presença até os limites do encantamento ou do mal estar.
Também é importante buscar compreender, dentro da linguagem audiovisual, a
composição por “flashing”, ou flashes sucessivos. A composição audiovisual trabalha com
uma linguagem lógica diferenciada, não sendo nem linear, didática ou sintética. Esta
composição se apresenta sob a forma de flashes, mostrando sucessivas facetas que se
destacam, aparentemente sem ordem em cenário comum. Naturalmente, existem montagens
didáticas ou lineares, na qual não se compreende a história pela relação dos elementos
sucessivos que formam a seqüência; mas, parece importante definir a linguagem audiovisual
por sua mais específica e alta qualidade.
A questão anteriormente abordada deixa uma pergunta básica: não haverá realmente
ordem alguma entre os flashes? A reposta é simples: há uma ordem sim, mas ela vem
inicialmente da concepção de quem dirige o trabalho e à primeira vista não a percebemos
como ordem, mas como acaso ou fantasia.
O autor ou diretor, ao contrário da disposição causal tradicional, que é objetiva e
rigorosa, segue uma disposição subjetiva e pessoal de conceito. Sendo assim, a ordem
audiovisual em sua razão de ser é a necessidade interior de levar as coisas a se ordenarem e se
complementarem para que cada parte possa entrar num todo significativo.
Desta forma, percebe-se que o audiovisual e mais especificamente a mídia, tendem a
ser responsáveis por uma parcela cada vez mais importante do processo de transmissão
cultural. Elas já constituem - pelo menos nas zonas urbanas de países subdesenvolvidos e
mesmo nas zonas rurais dos países desenvolvidos - uma verdadeira escola paralela, fazendo
com que os alunos cheguem à escola com valores, informações e estereótipos assimilados a
partir de programas de televisão, rádio, revistas em quadrinhos, etc., e que muitas vezes estão
em desacordo com a aprendizagem escolar, seja esta tradicional ou não.
A televisão é um fenômeno do século. Já comparada à prensa de Gutenberg,
ela criou explosiva oportunidade de circulação de entretenimento e informação a uma
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velocidade até então desconhecida. Tal força e potencial certamente conquistariam adeptos e
inimigos diante de seu alcance dentro dos lares, moldando comportamentos, sugerindo
modismos, coagindo ao consumo e formando valores.
Sendo a televisão uma presença inevitável na sociedade de consumo, devemos buscar
aprender a conviver com ela, mesmo porque ela não é a criadora dessa sociedade de
mercadorias descartáveis – trata-se de uma questão de uso de quem a faz e de quem a utiliza.
A pergunta que podemos e devemos fazer é se a televisão, enquanto
fenômeno sociológico, fabrica pseudo-necessidades ou reflete as necessidades dos
espectadores e qual a melhor forma de fazer sua leitura, como gênero artístico, prestação de
serviços, instrumento técnico ou eletrodoméstico, ou tudo isso, conjuntamente.
Na relação escola/televisão faz-se necessário analisar dois pontos fundamentais,
apontados por BELLONI (1983, p. 57):
Em primeiro lugar, enquanto veículo, a televisão tem possibilidades de comunicação
que podem fazer dela um precioso instrumento a serviço do processo de
aprendizagem. Em segundo lugar, e principalmente, a televisão é o meio de
comunicação por excelência de nossa época, e este fato é irreversível: enquanto
meio de comunicação mais freqüentado pelas crianças, parece lógico supor que ela
pode exercer influência no seu desenvolvimento geral, e, portanto, em sua
aprendizagem na escola.
Considerando desta forma, a Educação como um processo globalizante e contínuo,
podemos visualizar a necessidade de integrar a linguagem audiovisual ao processo educativo
e fornecer ao educando condições necessárias para realizar uma leitura crítica e desenvolver
percepção ativa da mídia e suas mensagens e seus objetivos implícitos.
Defendemos a idéia de que haja uma possibilidade para a mediação entre os recursos
tecnológicos e o ensino a partir da prática da encenação nos contextos escolares, visando
integrar o ensino da arte e as possibilidades atuais de prospecção de recursos e informação. O
contato com os meios tecnológicos facilita o acesso à informação (como é o caso da Internet e
também da televisão, em aspectos como documentários, vida cotidiana, realidade social, etc.)
tanto no que diz respeito às possibilidades de utilização de recursos, tais como projeções,
mecanismos mecatrônicos e dispositivos eletrônicos, que servem tanto para registro de
informações (CDs, DVDs) quanto para interação (câmeras de vídeo, microfone etc.)
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Considerações Finais
Neste artigo levantamos algumas variáveis e reflexões onde a instituição Escola e seus
membros, principalmente os professores, em sua capacidade de produzir conhecimento e fazer
com que este conhecimento seja construído pelos alunos, têm a oportunidade de modelar
comportamentos e relações na qualidade de formadores de opinião. Desta forma, a mídia,
também formadora de opinião, a faz a partir da linguagem audiovisual, e assim, com impacto
e capacidade muitas vezes superior aos recursos tradicionalmente usados na escola.
Esta realidade obriga a repensar a linguagem audiovisual e todas as suas
potencialidades, não podendo a escola insistir em sua linguagem tradicional no ensino,
exclusivamente. Num mundo em que a linguagem e as informações e até as pessoas ganharam
um aumento de velocidade nos deslocamentos, conceber que esta mudança não causaria
modificações na forma de pensar e viver dos seres humanos parece ser incoerente.
Como elemento de aproximação e apropriação desta nova linguagem, propomos a
utilização da encenação como um elemento facilitador de aprendizagem e mediador de
conhecimento. Ao empregar esse recurso de forma sistematizada, o professor poderá
contribuir para uma aprendizagem eficaz. Ao integrar o aluno ao seu meio, poderá
proporcionar a conexão entre escola e o mundo exterior. A atividade da encenação, calcada
em pesquisa e desenvolvimento criativo, torna-se um elemento catalisador de linguagens.
Aos atores da escola/academia cabe lembrar que a “nova geração” não é um produto
dos processos surgidos nessa era, leia-se era tecnológica. Por sua vez, torna-se necessário que
a escola/academia se adapte a esta nova linguagem, evitando, assim, o distanciamento das
metas pretendidas nos processos de aprendizagem.
Ao professor cabe considerar o fato da linguagem escolar não ter incorporado a
linguagem audiovisual, e o que este fato causa junto ao aluno e ao seu processo de
aprendizagem. Esse aluno sofre o impacto das duas linguagens, em ambientes diferentes, ou
seja, a escola e a comunidade externa. Junto à instituição, os professores precisam avaliar de
que forma a linguagem audiovisual deverá ser utilizada e observar a maneira como o aluno
reage à sua existência ou não, e de que forma ela deverá ser inserida no processo ensinoaprendizagem.
A reação dos alunos, diante da nova linguagem tem sido, conforme nossas
observações no dia-a-dia escolar, de uma atração espontânea e passional, sendo a fusão entre
a informação e o aspecto lúdico, imperceptível a eles, à primeira vista, o que mais tem atraído
4706
suas atenções nas atividades desenvolvidas.
Oferecer uma educação integrada à linguagem audiovisual é possibilitar uma educação
contextualizada com nossa realidade, podendo melhorar muito a construção e a difusão do
conhecimento, diminuindo-se, assim, dificuldades na aprendizagem do aluno, pois é
importante que a linguagem da escola seja vinculada à linguagem do mundo.
Por outro lado, os atores da escola, além de utilizar, devem discutir e formar um senso
crítico quanto à linguagem audiovisual e, principalmente, em relação às mídias. Precisamos
alfabetizar-nos para a leitura destas mídias, que fazem um trabalho com mensagens
subliminares, provocando consumismos e incutindo ideologias, fazendo surgir estereótipos e,
por vezes, incutindo e transformando valores nas pessoas. A escola/academia pode(m) e
deve(m) contribuir para formar o cidadão consciente e participativo.
Não se pode fechar os olhos diante deste quadro, pois essa linguagem possui aspectos
negativos e positivos e já que não estão em nós a intenção nem a possibilidade de negar ou
subverter essa ordem devemos utilizá-la da melhor forma possível.
Sabe-se que a legislação e a proliferação de mecanismos de produção e transmissão de
imagens simplesmente não garantem um ensino-aprendizado que realmente seja capaz de
proporcionar a educação de indivíduos conscientes e capazes de assumir dignamente sua
cidadania. No entanto, afiançados pela legislação e pelo momento histórico, é imprescindível
que nos preocupemos, atualmente, com a formação e capacitação de professores nesta área
específica do conhecimento, oferecendo condições para que se apropriem das diversas
linguagens das artes. Em sintonia com a pluralidade de linguagens a que os alunos estão
expostos, é oportuno auxiliá-los para que sejam capazes de proporcionar atividades nas
escolas que não sejam meras repetições dos conteúdos encontrados na mídia.
Necessita-se de currículos e programas elaborados por profissionais conscientes e
interessados em integrar a arte e a educação e, com isso, o indivíduo e a sociedade. Para tanto,
apresentamos o uso da encenação como uma atividade que vem contribuir nesse sentido.
REFERÊNCIAS
ABRANTES, José Carlos. Os media e a Escola: da Imprensa aos Audiovisuais no Ensino e
na Formação. Texto Editora, 1992.
BABIN, Pierre & KOULOUMDJIAN, Marie – France. Os novos modos de compreender: a
geração do audiovisual e do computador. Edições Paulinas, 1988.
4707
BELLONI, Maria Luiza. A Escola Paralela. Florianópolis: UFSC, 1983. (Coleção OPM).
CÉU, Maria do. O Pensar e o Fazer Artísticos na Formação de Professores. Currículo sem
Fronteiras, v.5, n.1, pp.96-116, Jan./Jun. 2005 Universidade do Minho Instituto de Educação
e Psicologia, Portugal.
MELO, Carlo Alessandro Galdino Cruz e. A linguagem audiovisual x a linguagem escolar
nas séries iniciais do ensino fundamental. Monografia de especialização.
PENTEADO, Heloísa Dupas. Televisão e Escola: Conflito ou Cooperação? Cortez Editora,
1991.
ROSA, Wagner. REZENDE, Lucinea Aparecida de; A encenação como espaço de ensino e
aprendizagem. In: 16º COLE Congresso de Leitura do Brasil, 2007, Campinas. No mundo há
muitas armadilhas e é preciso quebrá-las. Campinas : UNICAMP, 2007. v. 1. p. 365.
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