PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PR: A DISCUSSÃO DA CIDADE E SEUS PERCALÇOS Edimar Rodrigo Rossetto1 Fernando Mantella dos Santos1 Maiko Fernando Grünewald1 Lia Dorotéa Pfluck2 Eixo temático: GESTÃO AMBIENTAL EM ZONA SUBTROPICAL RESUMO: O presente trabalho busca apresentar e avaliar problemas relacionados ao município de Marechal Cândido Rondon, decorrentes de uma gestão municipal que não garante uma qualidade de vida ideal para seus habitantes. Nesse sentido as Políticas Públicas devem evitar ou antecipar riscos ambientais associados a alagamentos, em áreas ocupadas por loteamentos em sua sede. Utilizando informações dos parâmetros de aplicabilidade da gestão municipal brasileira, este trabalho discutirá a questão da conscientização da população e do Poder Público Municipal referente à implantação dos novos loteamentos, o que hoje se tornou uma atividade normal. Podemos também enfatizar o debate sobre a relação de poder dos loteadores para com os órgãos públicos, que tem como incógnita os problemas ambientais advindos de áreas impróprias a serem loteadas. PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas, riscos ambientais, alagamentos, áreas impróprias. 1 INTRODUÇÃO Nos países capitalistas, os moradores, comerciantes, especuladores, entre outros, compõe o conjunto de ações que são desenvolvidas em uma cidade. Para a maior obtenção de lucro, estes adquirem áreas na cidade (lotes ou chácaras), deixando-os para especulação 1 Discentes do Curso de Geografia Unioeste, Campus de Marechal Cândido Rondon. [email protected], [email protected], [email protected]. 2 Docente do Curso de Geografia, Unioeste, Campus de Marechal Cândido Rondon. [email protected] imobiliária, fazendo com que a mesma tenha que se expandir para outros lugares. É importante ressaltar que cada cidade tem um tipo de economia que se relaciona ao tipo de solo, localização geográfica, ou por estar em áreas ricas em minérios. No caso de Marechal Cândido Rondon, o solo de boa qualidade para o cultivo agrícola foi uma condicionante para a ocupação, a partir da década de 1950/60. Outros fatores, independentes dos vazios urbanos e da ativa dinâmica especulativa, contribuíram também para a expansão de seu perímetro urbano. Um exemplo claro foi à construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, e a consequente desapropriação de um grande contingente de famílias que estavam instaladas as margens do Rio Paraná, o que provocou um rápido inchaço urbano neste município. A partir disso, foram implantadas medidas sem transparência ambiental e social, apenas com interesse de expandir o perímetro urbano. Com essa espacialização desordenada e problemática, surge uma série de áreas impróprias que foram loteadas nesta época, como é o caso de vários loteamentos da cidade como o Loteamento Ceval, Loteamento Rainha, Loteamento Alvorada, Loteamento Pinz, Loteamentos Élio Winter, Neitzke e Espelho d`Água, sendo que os três últimos serão enfatizados, pois abrangem a área de estudo. 2 DESENVOLVIMENTO A urbanização é o fenômeno social e econômico mais significativo das últimas décadas, afetando assim todos os parâmetros de planejamento. Por esse motivo cria-se, no Brasil, o documento primordial que rege todo o perímetro urbano das cidades, o chamado Plano Diretor. O Plano Diretor, lei municipal que estabelece diretrizes para a ocupação da cidade, obrigatório em cidades com mais de 20.000 habitantes, atualmente, devido a sua importância, vêm sendo adotado também por municípios menores. O Plano Diretor deriva de um processo de discussão pública que analisa e avalia a cidade que temos para, posteriormente, podermos formular a cidade que queremos. Algumas dessas diretrizes são desenvolvidas sobre características físicas, atividades predominantes no perímetro urbano, problemas em geral e suas potencialidades urbanas, estas caracterizadas como crescimento industrial, habitacional e de transporte principalmente. O Município de Marechal Cândido Rondon, localizado na Microrregião de Toledo, situa-se entre as coordenadas geográficas de 24º 26' e 24º 46' de Latitude Sul e 53º 57' e 54º 22' de Longitude Oeste, com área de 748 km² e 46.869 habitantes (IBGE, 2010). Os solos predominantes são o Latossolo Roxo e Terra Roxa Estruturada, originados pela decomposição do basalto. Estes são solos profundos, de textura argilosa, de boa fertilidade, que apresentam grande aptidão para a agricultura. O relevo é relativamente plano, com 70% de sua área em condição de permitir o cultivo mecanizado. Apesar de o Município apresentar solos de textura argilosa, relevo suave, que dificultam a erosão, o intemperismo associado ao total desmatamento e o intenso uso agrícola de seus solos tem originado processos erosivos que demandam medidas de recuperação e prevenção. Para isso, deve ser implementado um amplo plano de gerenciamento ambiental em combinação com programas de cultivo e técnicas de manejo agrícola, justificado, ainda mais, pela importância econômica destes ricos solos, agora e no futuro. A companhia colonizadora Maripá e os colonizadores viram nas terras de mata, relativamente planas e férteis, e sem formigas (temidas pelos sulistas), uma busca do “progresso”, sem medirem as consequências ambientais. Os colonizadores, em busca do progresso e terra para os filhos, fazem parte do discurso empresarial (mercadológico) e do discurso oficial e político, a partir da ocupação da fronteira. A cidade, de mesmo nome, teve sua ocupação dirigida e planejada sobre o divisor, em 1950. O local onde a cidade é construída é o chamado sítio urbano. A Maripá planejou e instalou uma malha urbana com quadras regulares, com dimensões de 100 por 100 metros. Desde a década de 1980 a população urbana supera a rural e hoje representa mais de 90% do total. A população concentrada sobre características apresentadas acima, aliada a chuvas concentradas, também desencadeou processos erosivos, voçorocas no sítio urbano, gerando riscos e acidentes ambientais. Os moradores percebem o risco de alagamento, de afundamento e de desabamento, reconhecem os danos e até conhecem alguns fatores que os condicionam, no entanto negam esse risco ou com ele convivem sem reação adequada. A obtenção da casa própria e o apego ao lugar e as relações sociais (famílias, vizinhos e amigos) tendem a ser mais importantes. A análise e o conhecimento da dinâmica da paisagem, principalmente, das águas pluviais, relacionadas às demais características urbanas, bem como a construção de sumidouros, deveriam anteceder novas áreas de loteamento. No entanto, ações para evitar novos acidentes ambientais restringem-se a medidas individuais, como o preenchimento ou o revestimento de fossas (depósitos de esgoto urbano), construção de muros reforçados, levantamento do meiofio da calçada, ou ainda, venda da casa. Apesar disso, loteamentos em lugares impróprios continuam sendo aprovados pelo poder público e fiscalizações para a construção de sumidouros poucas vezes são realizadas, mesmo estando previstas no Plano Diretor. Com o planejamento territorial se define o melhor modo de ocupar o sítio urbano, se prevêem áreas de localização dos usos do espaço, presentes e futuros. Uma cidade planejada pode se converter em cidade com benefício para todos, com melhores condições de moradia e menores prejuízos para moradores e para a própria municipalidade. O Plano Diretor deve, portanto, fornecer alguns instrumentos eficazes para lidar com esse contexto. Estes instrumentos precisam ser corretamente regulamentados de forma que trabalhem no sentido de criar um cenário futuro de cidade social e ambientalmente equilibrada. Mais do que as ações do Plano Diretor, deve-se priorizar as atividades de conscientização da população e dos órgãos públicos para que não onerem os cofres públicos por várias gerações e promovam melhor qualidade de vida para todos. Porém, a habitação ligada ao capital imobiliário especulativo impede a compra de lotes em lugares ambientalmente mais adequados o que resulta na ocupação de áreas impróprias. Os sítios dos loteamentos Élio Winter, Neitzke e Espelho d`Água, localizados no Setor Oeste da cidade de Marechal Cândido Rondon, são considerados áreas impróprias para habitação concentrada, resultantes da especulação imobiliária pelo o inchaço da cidade a partir do êxodo rural e migrações ou re-imigrações do Paraguai (brasiguaios), dinâmica populacional de região de fronteira. Segundo PFLUCK (2009), nestes loteamentos existia uma voçoroca (600 m de comprimento, até 20 m de largura e até 22 m de profundidade) que, com a expansão da cidade, foi totalmente soterrada e urbanizada. Voçorocas são vales de erosão onde a remoção de material é tão rápida que não permite o desenvolvimento da vegetação (FIORI & SOARES, 1976). Ela tem seu início em qualquer pequena depressão em um terreno, em um curso de primeira ordem, para onde seguem as águas das enxurradas que, em função de seu volume e velocidade, possuem grande força erosiva. A preocupação em relação a estes loteamentos é basicamente quanto à qualidade de vida da população residente, pois nem sempre possuem poder aquisitivo para resolvê-los, sendo importante ressaltar, também, que estes problemas devem ser resolvidos pelos responsáveis que aprovaram a área habitacional, ou seja, a Prefeitura Municipal. As voçorocas aterradas são impermeabilizadas com a construção de estradas, ruas e avenidas asfaltadas, calçamentos para pedestres, edificações de casas e ou prédios. Sem faixa de absorção, aumenta o volume e a velocidade das águas das chuvas que, ao encontrar seu caminho obstruído, derrubam muros, alagam construções, põem em riscos seus moradores, além de outras consequências, antes de chegar aos córregos, ou seja, ocorre alteração dos padrões de circulação da água. No aterramento da voçoroca foi utilizado material orgânico (troncos de árvores) e de demolição (blocos de cimentos, tijolos, etc.) que, embora resistente, dificulta a migração da água. O material usado, o peso das edificações e os novos caminhos da água geram processos erosivos em subsuperfície, o que acaba por formar depressões e buracos na área urbanizada ao longo da voçoroca. As pesquisas por ora realizadas permitem afirmar que, em havendo uma área permeável, as consequências de alagamentos, rachaduras, entre outras, seriam inevitáveis. Por alagamentos entende-se a grande quantidade de água acumulada ao longo do leito das ruas, adentrando nas casas e causando prejuízos materiais, contaminações e outros. Estas áreas de voçorocamento, urbanização e de alagamento são mapeáveis. O trabalho de campo, o levantamento e o mapeamento destas áreas ainda estão em fase de construção, mas já se podem apresentar alguns resultados (Mapa 1). MAPA 1 - Representação de áreas de alagamento da Voçoroca Buraco Fonte: Prefeitura Municipal de Marechal Cândido Rondon- Secretaria de Planejamento Urbano. MAPA DA CIDADE DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON, JUNHO/2010. Org.confec:ROSSETTO,E.R.;SANTOS,F.M. 07/2011. A conscientização dos interventores urbanos, ou seja, especuladores, municipalidade, entre outros, é o fator primordial para que as famílias tenham uma qualidade de vida digna em relação a espaços de ocupação urbana. Na Lei no 10.257 (10/07/2001), referente ao Estatuto da Cidade Brasileiro, consta que: A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano (Capítulo I, Art. 2º, Inciso I e II). Tanto a conscientização quanto a garantia de qualidade de vida estão amparados legalmente. No entanto, há necessidade de seu cumprimento e fiscalização. A apresentação destes estudos, sua divulgação e participação no Conselho Municipal do Plano Diretor de Marechal Cândido Rondon – CMPD-MCR permite intervir na expansão urbana visando evitar e ou minimizar problemas ambientais urbanos. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A questão ambiental está ganhando muita relevância durante os últimos anos. Por esse motivo, o futuro deve ser ter um planejamento mais estruturado. Através do Projeto de Extensão “Ações para melhorar a qualidade de vida das famílias que vivem em áreas de risco de inundação na sede do Município de Marechal Cândido Rondon-PR” é que tivemos a oportunidade de desenvolver um estudo de caso retratando os problemas decorrentes das gestões passadas que hoje trazem riscos para a população que ali reside. A partir dos trabalhos de campo e de laboratório e a confecção do mapa representativo da área de alagamento, podemos entender alguns dos problemas ambientais decorrentes da expansão urbana, causada ou não pelo êxodo rural e migração de brasiguaios e ou de outros fluxos migratórios, consorciada à dinâmica imobiliária especulativa. Trabalhar com a questão da fronteira demanda o entendimento de uma série de fatores. No caso da fronteira Brasil-Paraguai, o rio Paraná pode representar o limite da mesma, mas a região abrangente, neste caso, pode estar muito além deste limite físico. A especulação imobiliária de Marechal Cândido Rondon foi um fator que ganhou força com a criação da Usina Hidrelétrica de Itaipu, pois os municípios ribeirinhos ao Lago de Itaipu foram os mais procurados, já que os costumes e tradições poderiam ser mantidos, além de se continuar com a identificação com o lugar. A preocupação em relação a estes loteamentos é basicamente quanto à qualidade de vida da população residente, pois nem sempre tem poder aquisitivo para resolver os problemas decorrentes da urbanização nesses locais de risco, sendo importante ressaltar, também, que estes problemas devem ser resolvidos pelos órgãos responsáveis pela aprovação destas áreas habitacionais. Ações de conscientização estão sendo desenvolvidas, tanto por meio das atividades do projeto quanto em atividades extracurriculares e de importância multidisciplinar. Conscientizar a população e os órgãos públicos para que fiquem atentos e fiscalizem novas áreas loteadas é de importância estrutural, cultural e fundamental para resultarem em ações que prevejam, minimizem e resolvam os percalços urbanos apontados. REFERÊNCIAS FIORI, L.; SOARES, A. Aspectos evolutivos das voçorocas. Noticia Geomorfológica, Campinas, v.16, n.32 p 40-48, dez, 1976. FERRARI, Walter Jr. A Especulação Imobiliária na urbanização de Marechal Cândido Rondon. Marechal Cândido Rondon, 2006. 75 p. Trabalho acadêmico (TCC) – Geografia, Unioeste. PFLUCK, Lia Dorotéa. Riscos ambientais: enxurradas e desabamentos na cidade de Marechal Cândido Rondon, 1980 a 2007. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, 2009. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, 2010. MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Plano Diretor. www.marechalcandidorondon. gov.br. 2010. Acesso em ago./2010. Disponível em: PREFEITURA Municipal de Marechal Cândido Rondon- Secretaria de Planejamento Urbano. Mapa da cidade de marechal cândido rondon, junho/2010. LEI no 10.257 (10/07/2001), Estatuto da Cidade Brasileiro. Art.2º.