O ESTADO DA MACROECONOMIA Revoluções, Consensus e o Ensino da Macroeconomia para o Século XXI 1 Vivaldo M. P. Mendes ISCTE, Outubro 2001 1 Este texto foi editado em ”LaTex”. Esta linguagem faz a hifenização automaticamente, mas infelizmente ainda não consegue superar todos os pequenos truques da língua portuguesa. Tentei corrigir manualmente todos os pequenos lapsos de hifenização. Lamento se algum deles ainda continua presente no texto. Conteúdo Prefácio iii 1 Introdução 1.1 Revoluções, Contra—Revoluções e Consensus . . . . . . . . . . 1.2 Explosão de Publicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 O Sucesso da Receita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 ”As” Duas Questões Fundamentais da 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Ciclos Económicos de Curto Prazo . . 2.2.1 Choques sobre ”fundamentals” 2.2.2 Estrutura não—linear . . . . . . 2.2.3 ”Self Fullfilling Prophecies” . . 2.3 Crescimento de Longo Prazo . . . . . Macroeconomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 As Limitações do Velho Modelo Keynesiano 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Bloco IS—LM . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1 Função IS . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.2 Mercado Monetário . . . . . . . . . . 3.2.3 Procura Agregada . . . . . . . . . . . 3.3 Oferta agregada . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.1 O Modelo: Equações . . . . . . . . . . 3.3.2 Expectativas Adaptativas . . . . . . . 3.3.3 As limitações do modelo . . . . . . . . 4 O Novo Modelo Keynesiano: O Consensus 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 O Novo Modelo IS—LM—CP . . . . . . . . . 4.2.1 A Nova Função IS . . . . . . . . . . 4.2.2 A Nova Curva de Phillips . . . . . . 4.2.3 Mercado Monetário . . . . . . . . . 4.2.4 Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . i . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 2 7 9 . . . . . . . . . . . . 13 13 14 15 15 18 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 24 25 25 32 36 38 38 42 46 . . . . . . 52 52 58 59 60 62 67 . . . . . . CONTEÚDO ii 5 Dinâmica, Crescimento e Produto Potencial 71 5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 5.2 Sustentabilidade, Transição Dinâmica e Equilíbrio de Longo Prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 5.3 Crescimento Endógeno vs Crescimento Exógeno . . . . . . . . 80 5.3.1 Modelo de Solow . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 5.3.2 Modelo de I&D com Externalidades . . . . . . . . . . 83 5.4 Convergência e Computação: Um Exemplo . . . . . . . . . . 88 6 O Programa Proposto 6.1 Objectivos . . . . . . . . . . . . . . 6.2 Pré-requisitos . . . . . . . . . . . . 6.3 Regimes de Aulas . . . . . . . . . . 6.4 Pontos do Programa . . . . . . . . 6.4.1 Ciclos Económicos de Curto 6.5 6.6 6.7 6.4.2 Análise Macroeconómica Bibliografia . . . . . . . . . . . Equipa Docente . . . . . . . . . Regimes de Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 94 96 96 96 96 de Longo Prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 98 98 98 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 100 102 104 105 7 Considerações Pedagógicas 7.1 Orientação do ensino . . . . . . . 7.2 Aulas Teóricas vs Aulas Práticas 7.3 Avaliações . . . . . . . . . . . . . 7.4 Material de apoio . . . . . . . . . 8 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 Capítulo 1 Introdução ”What do we know about macroeconomics that Wicksell and Fisher did not? ... The answer is very clear: We have learned a lot. Indeed, progress in macroeconomics may well be the success story of the 20th century economics.” Olivier Blanchard, 1999 A ”Macroeconomia” vive presentemente um período notável e, na minha opinião, Olivier Blanchard está inteiramente correcto. Apesar de poder parecer estranho para alguns economistas, a macroeconomia é o grande sucesso da economia das últimas seis décadas. Neste relatório, vou tentar convencer o leitor deste sucesso. Pretendo também chamar a atenção para o facto de que a macroeconomia moderna não se esgota no ensino do velho modelo IS—LM e que, por outro lado, a maioria dos programas curriculares a nível intermédio descura de forma notória o ensino do crescimento económico de longo prazo. A macroeconomia moderna assenta em cinco pilares fundamentais: (i) produto potencial, ao qual estão intimamente ligados a taxa natural de desemprego e uma taxa de inflação que é o valor objectivo ou ”target” do banco central para esta taxa; (ii) hiato do produto efectivo relativamente ao produto potencial; (iii) expectativas ”forward looking” dos agentes económicos, as quais deverão ter necessariamente em consideração a capacidade máxima produtiva da economia no futuro; (iv) regras de política monetária que levam em consideração o hiato entre a taxa esperada de inflação e a taxa—objectivo do banco central; (v) políticas monetárias extremamente agressivas no combate à inflação. Como se pode ver, a relação entre os ciclos de curto prazo (PIB efectivo) e o longo prazo (PIB potencial) é crucial para se perceber bem a lógica entre os cinco pontos acima referidos. Como é que os alunos poderão entender a eficácia da política económica de curto prazo, se não tiverem uma noção clara do que é o PIB potencial e de quais são os principais factores que afectam a sua posição e crescimento no longo prazo? Como 1 CAP 1. INTRODUÇÃO 2 é que podem perceber a razão que explica o facto da política monetária não poder ser eficaz no longo prazo, se não tiverem um conhecimento bastante razoável sobre os factores determinantes do crescimento de longo prazo? Existem três razões fundamentais para justificar a afirmação inicial de que a macroeconomia vive presentemente um período notável. Primeiro, após revoluções e contra—revoluções ao longo dos últimos trinta anos, está perfeitamente claro hoje que um novo consensus já existe no seio das principais correntes da teoria económica. Segundo, a atestar este facto, estamos a assistir a uma explosão de produção de natureza científica e pedagógica relacionada com este período de consolidação do novo consensus. Por exemplo, só neste ano saíram três novos livros—texto de macroeconomia intermédia por reputados economistas a nível internacional. Terceiro, existe hoje a convicção de que a aplicação dos princípios de política económica que resultam desta etapa da macroeconomia tem dado excelentes resultados. Nunca na história recente dos países da OCDE existiu um período em que o grupo como um todo pudesse usufruir de elevadas taxas de crescimento, baixas taxas de inflação, e (descontando a Europa) desemprego relativamente baixo. É hoje indiscutível que as recessões económicas são, por uma lado, muito mais curtas em duração e intensidade, e, por outro lado, surgem com muito menos frequência do que no passado, mesmo na década 60. 1.1 Revoluções, Contra—Revoluções e Consensus Não será exagerado afirmar que desde o início do século passado (mais concretamente, desde os anos 30), todas as principais revoluções e contra— revoluções que se têm verificado no seio do pensamento económico têm—se desenvolvido fundamentalmente dentro daquilo a que designamos hoje por macroeconomia. A revolução Keynesiana que se espalhou praticamente por todos os países ocidentais no pós II Guerra Mundial, depois o Monetarismo, os ”Novos Clássicos”, os ”Ciclos Económicos Reais” e os ”Novos Keynesianos”, para já não falar de Crescimento Exógeno da década de 60 e do Crescimento Endógeno da década de 90, todos foram desenvolvidos dentro do tipo de abordagem da macroeconomia. Esta abordagem pretende explicar através da construção de um modelo geral aplicado a toda a economia, quer a natureza dos ciclos económicos de curto prazo, quer os factores que explicam o comportamento e evolução do produto no longo prazo (produto potencial). Por outro lado, após 50 anos de aceso debate entre as principais correntes de pensamento, existe neste momento a percepção clara que uma nova síntese está praticamente estabelecida entre as principais correntes teóricas dentro das escolas dominantes. Iremos ao longo deste texto designar esta nova síntese por Novo Keynesianismo porque ela é claramente Keynesiana no espírito, embora herde alguns aspectos cruciais do monetarismo, das CAP 1. INTRODUÇÃO 3 ”expectativas racionais” e mesmo dos ”ciclos económicos reais”. Consiste numa conjugação lógica e consistente entre: (i) mercados imperfeitos devido a rigidez de natureza nominal e real, (ii) a incorporação das expectativas ”forward looking” dos agentes económicos ao nível dos vários mercados; e (iii) a quantificação dos principais impactos de choques sobre a economia com base em modelos estocásticos de equilíbrio geral. Para uma disciplina que praticamente não existia em meados da década de 30, a evolução e a acumulação de conhecimento ao nível da macroeconomia é de facto notável num escasso período de sessenta anos e sem a possibilidade de experiências de laboratório ao alcance de outras áreas científicas. Uma década passada após a publicação da ”Teoria Geral” de Keynes já existia uma noção clara de dois campos de investigação bem distintos dentro da teoria e política económicas: a investigação com uma natureza microeconómica e uma outra de natureza macroeconómica.1 Devemos ter em consideração que a disciplina a que chamamos hoje ”Macroeconomia”, apesar de ter sido iniciada com a publicação da ”Teoria Geral” de Keynes em 1936, e de ter dado os primeiros esboços de formalização das principais ideias de Keynes (dispersas ao longo da ”Teoria Geral” por vários capítulos) pela mão de John Hicks em 1939, só em meados da década de 40 se começou a afirmar como uma corrente própria no seio da teoria económica. De facto, a primeira vez que o termo ”macroeconomia” surge utilizado no corpo de um artigo foi por Jacob Marschak em 1945, enquanto que a primeira vez que o termo apareceu num título foi por Lawrence Klein em 1946. Nas Figuras 1.1 e 1.2 apresento uma imagem de cada um dos textos. Portanto, entre meados dos anos 40, quando a disciplina se lançou como uma das áreas de investigação específica no âmbito da economia, e finais dos anos 60, quando a primeira noção de crise surgiu no seio do corpo teórico dominante – modelo IS—LM—AS sem expectativas – decorrem apenas cerca de vinte e cinco anos. Este modelo básico era bastante limitado no tratamento de, entre outros, mercado de trabalho, expectativas sobre preços e, consequentemente, sobre a própria eficiência da política fiscal e (sobretudo) política monetária. Estas limitações eram o próprio resultado da infância 1 Note—se que com isto não pretendo dizer que toda a teoria económica se reduz àquilo que temos hoje em livros de texto de ”microeconomia” e ”macroeconomia”. No entanto, quando se analisa uma questão em termos económicos, ou fazêmo—lo do ponto de vista do comportamento de uma unidade económica ”micro” (um consumidor, uma empresa, um mercado), ou uma unidade económica ”macro” (um conjunto de consumidores, um conjunto de empresas, um conjunto de mercados etc.). Este método tem sido largamente dominante na economia ao longo de grande parte do século passado até aos nossos dias. Existe um conceito alternativo de meso—economia que pretende analisar o comportamento económico ao nível dos sectores de actividade. No entanto, este tipo de análise ainda não está bem estabelecido dentro da teoria económica. Por exemplo, há quem o faça numa perspectiva de natureza ”microeconómica”, ao nível daquilo que é designado por ”economia industrial”. CAP 1. INTRODUÇÃO 4 da disciplina na altura, bem como do enorme sucesso que a mesma teve ao longo daquele período. Como as prescrições do modelo levavam a bons resultados, não existiam incentivos para a sua reformulação. No entanto, as limitações do mesmo teriam de ser, mais cedo ou mais tarde, postas em cheque porque o modelo estava construido em bases pouco sólidas. Por isso, foram proféticas as palavras de Edmund Phelps (1967) e Milton Friedman (1968) quando avisaram que este modelo básico levaria necessariamente a períodos de inflação bastante elevada e sem grandes benefícios ao nível da produção e do emprego. A validade desta previsão foi integralmente demonstrada com acontecimentos que se desenrolaram durante toda a década de 70 e parte dos anos 80 em praticamente todos os países economicamente desenvolvidos: elevada inflação, elevado desemprego, e baixas taxas de crescimento económico. Após vinte e cinco de crescimento económico elevado nas economias ocidentais, cuja gestão estava totalmente sustentada nas prescrições do modelo Keynesiano dominante – ao ponto de um insuspeito conservador como Richard Nixon declarar, na condição de presidente dos EUA na 1971 State of the Union Address ”I am a Keynesian ... by spending as if we were at full employment, we will help to bring about full employment” 2 – o modelo IS—LM—AS tinha chegado ao momento em que uma profunda revisão era indispensável. Esta revisão levou cerca de duas décadas e meia para ser implementada e claramente sentida nos principais espaços onde a economia pode ser considerada como de importância fundamental: meios académicos e instituições que conduzem a política económica. Certamente, levará mais algum tempo até que esta nova ”cara” da macroeconomia chegue aos meios de comunicação social de massas e ao leitor, ou político, menos informado. Pelo meio ficaram quatro revoluções. Em finais da década de 60 surgiu a revolução monetarista de Friedman e Meltzer, entre outros. Depois, foi a revolução das ”expectativas racionais” de Lucas, Sargent e Wallace que arrasou literalmente, em apenas uma década (anos 70), o espírito Keynesiano que tinha sido dominante até então. As limitações do modelo proposto por Lucas e associados, e que tinha eclipsado totalmente o modelo Keynesiano, ”temporary price misperceptions”, tornaram—se claramente visíveis no início dos anos 80 e levaram à revolução dos ”Real Business Cycles”, ou ciclos económicos reais (doravante, RBC). Em termos de filosofia do funcionamento da economia, tínhamos voltado à época pré—Keynes, já que a moeda passava a ser novamente um mero véu da actividade económica. Os ciclos económicos eram inteiramente causados por factores reais, os mercados eram perfeitamente flexíveis, e os desequilíbrios nos mercados eram reacções racionais e optimizadoras dos agentes económicos aos choques. 2 Vide Stein (1985), pag. 172—173. CAP 1. INTRODUÇÃO 5 Figura 1.1: A primeira vez que o termo ”macroeconomics” foi uzado no texto de um artigo. Marschak (1945). CAP 1. INTRODUÇÃO 6 Figura 1.2: A primeira vez que o termo ”macroeconomics” foi utilizado num título. Klein (1946) CAP 1. INTRODUÇÃO 7 Apesar do grande sucesso da escola dos RBC – o qual foi devido à sua capacidade para reproduzir quantitativamente os principais factos estilizados dos ciclos económicos com modelos económicos estocásticos e dinâmicos, baseados em equilíbrio geral dos mercados – as limitações eram bem evidentes. Porque razão seriam os choques reais negativos tão regulares, grandes e sistemáticos? Porque razão as recessões são mais curtas, e os períodos de expansão mais longos? Porque razão as variações no volume de emprego não estão altamente correlacionadas com os choques reais? Por estas razões, e também pelo facto dos RBC não conceder nenhuma eficácia à política monetária, enquanto que a eficácia desta política foi claramente visível ao longo das duas décadas, estes modelos foram sendo progressivamente abandonados. O novo consensus foi construido sobre os despojos de cinco revoluções, que se sucederam com uma rapidez impressionante: em cerca de 50 anos, passou—se de uma versão Keynesiana arcaica, para uma versão mais sofisticada, mais consistente, e por isso mais poderosa. Em menos de trinta anos passámos por monetarismo, novos clássicos, RBC, e novo Keynesianismo até chegar a um patamar razoavelmente aceite pelas principais correntes. Para um economista que tenha vivido este período, deverá ter sido um período de contradições, mas também reconfortante porque no fim de contas a macroeconomia ajudou a moldar estas décadas de forma crucial. Talvez seja bom relembrar aqui uma frase famosa de Keynes: ”The ideas of economists and political philosophers, both when they are right and when they are wrong, are more powerful than is commonly understood. Indeed the world is ruled by little else. Practical men, who believe themselves to be quite exempt from any intellectual influence, are usually the slaves of some defunct economist.” Quem teve a capacidade de compreender o Keynesianismo de Richard Nixon, o monetarismo de Margaret Tatcher, o Keynesianismo travestido de ”supply—side” de Ronald Reagan, a ”colagem” clara da política fiscal de Bill Clinton à política monetária de Alan Greenspan, o poder e credibilidade do Banco Central Alemão ao longo das últimas décadas, o debate sobre os ”verdadeiros” objectivos do Banco Central Europeu, etc., será que duvida desta opinião de Keynes? 1.2 Explosão de Publicações O segundo aspecto que atesta bem o estado de ebolição em que disciplina se encontra diz respeito ao grande volume de produção que se concentrou nos últimos dois/três anos ao nível de ”surveys” e de livros de texto, ambos incidindo directamente sobre a revolução em curso. Certamente não será difícil encontrar nas principais publicações da área, a nível internacional, CAP 1. INTRODUÇÃO 8 mais de 20 ”surveys” sobre o actual estado da macroeconomia nos últimos anos. Note—se que na maioria dos caso estes são escritos pelos próprios economistas que têm participado de forma mais activa na actual revolução.3 Quanto à publicação de livros texto, quer para nível de licenciatura, quer para níveis mais avançados (níveis de pós—graduação), a mesma tem sido também impressionante ao longo dos últimos anos. Restringindo o período apenas aos últimos dois anos, foram publicados nove (!) livros—texto ao nível de pós—graduação dentro da área específica de macroeconomia. Estes são: Alan Drazen (2000): ”Political Economy in Macroeconomics”; Persson and Tabellini (2000): ”Political Economics — Explaining Economic Policy”; Rodseth (2000): Open Economy Macroeconomics; Gandolfo (2001): ”International Finance and Open—Economy Macroeconomics”; Evans and Honkapohja (2001): ”Learning and Expectations in Macroeconomics”; Ljungkvist and Sargent (2001): ”Recursive Macroeconomic Theory”; Mark Nelson, ˙ ”International Macroeconomics and Finance”; Grossman and Help(2001): man (2001): ”Special Interest Politics”; e Taylor and Woodford (1999): ”Handbook of Macroeconomics”.4 Por outro lado, e ainda na mesma categoria de livros, o redactor deste relatório tem conhecimento de pelo menos oito livros que estão já terminados, ou praticamente terminados. Estes podem ser encontrados nas ”homepages” dos autores (vide bibliografia) e incluem: Semmler: ”Financial Markets, Economic Activity and the Macroeconomy”; Woodford: ”Interest and Prices”; Williamson: ”Macroeconomic Theory”; McCallum: ”A Course in Macro and Monetary Economics”; Hansen and Sargent: ”Robust Control and Filtering for Macroeconomics”; Hansen and Sargent: ”Recursive Linear Models of Dynamic Economies”; La Croix and Michel: ”A Theory of Growth: Dynamics and Policy in Overlapping Generations”; Semmler and Greiner: ”The Macroeconomy and Monetray and Fiscal Policies in the Euro Area”; e Chamley: ”Rational Herds in Macroeconomics”. No que diz respeito aos livros—texto para níveis intermédios (licenciaturas), só no presente ano foram publicados três livros—texto inteiramente novos sobre macroeconomia para este nível de ensino e por economistas 3 Vejamos apenas alguns: Blanchard (2000), Woodford (1999), King (2000), Goodfriend and King (1997), Gali (1999) and Gali (2000), Clarida, Gertler and Gali (1999), Mankiw (2000), Mankiw and Reis (2001), McCallum (1999) McCallum and Nelson (1999) and (2001), Romer (1999) e (2000), Obstfeld and Rogo (2001), Lane (2000), Sarno (2001), e Dittmar and Gavin (2000), entre outros. 4 É de louvar o aparecimento pela primeira vez de livros de texto avançados para analisar a ligação entre a ”escolha política” e a macroeconomia, como sejam os de Drazen, Persson and Tabellini, e Grossman and Helpman. De louvar ainda três novos livros enfatizando o problema da ”macroeconomia aberta”, como sejam os de Nelson, Gandolfo e Rodseth. Finalmente, dois livros sobre ”Learning and Expectations” e macroeconomia, como sejam o de Evans e Honkapohja e o de Chamley (vide parágrafo abaixo), uma área em que até agora os livros—texto eram praticamente inexistentes, sendo a única excepção representada por Sargent (1993 e 1999). CAP 1. INTRODUÇÃO 9 de grande reputação a nível internacional: ”Macroeconomics” por Brad DeLong, da Universidade de Berkeley; David Miles (Imperial College) e Andrew Scott (London Business School) publicaram ”Macroeconomics Understanding the Wealth of Nations”; e Stephen Williamson (University of Iowa) com ”Contemporary Macroeconomics”. Em 1999, Roger Farmer (University of California — Los Angeles) tinha—se antecipado com ”Macroeconomics”. Como se pode ver na própria apresentação deste livro: ”This is the first intermediate-level text to genuinely fill the gap between the macroeconomics taught to graduate students and the macroeconomics traditionally taught to undergraduates. This edition begins with the traditional IS-LM and AD-AS models that have been the staples of undergraduate macro courses for decades. The second half of the book introduces newer, dynamic theories of macroeconomics, including various growth models. The result is a text that describes the emerging consensus view of macro.” 1.3 O Sucesso da Receita Existe hoje a noção de que a política económica que está na base do novo consensus, tem sido extremamente eficaz. Um economista do Banco Central Europeu, Athanasios Orphanides, escreveu uma série de artigos sobre este período e um deles é bem sintomático da filosofia da nova época da política económica: ”The Quest for Prosperity Without Inflation”.5 Tem sido argumentado por vários economistas que o notável período de expansão económica que muitos países da OCDE têm tido desde meados dos anos 80 é o resultado da implementação das medidas de política económica prescritas pelo novo consensus. Por exemplo, vide o argumento de Taylor (1998) para explicar o longo boom económico que os EUA obtiveram entre 1982 e recentemente. Como Taylor demonstra, num período de dezoito anos a economia americana teve os dois mais prolongados períodos de expansão económica da história do país (49 trimestres), com uma breve recessão económica pelo meio que durou apenas três trimestres em 1990. Por outro lado, combinou esta expansão com baixas taxas de inflação, e com tendência à descida. Vide Figuras 1.3 e 1.4. Não existe na história do país um outro período semelhante, nem nenhum período em que a política económica foi conduzida da forma como o tem sido ao longo da última década e meia. Para Taylor, foi a prudência fiscal do período pós Reagan, e o rigor da política monetária com Paul Volker e Alan Greenspan que possibilitou elevado crescimento económico, elevadas taxas de crescimento dos salários reais, com relativa estabilidade dos mercados e da inflação. Existiram outros períodos em que a economia conseguiu obter taxas de crescimento económico mais elevadas 5 Vide Orphanides (2000). CAP 1. INTRODUÇÃO 10 .02 G(RealGDP) .02 G(RealWages) .01 .01 0 0 -.01 1985 .04 1990 1995 2000 1985 .04 G(RealGDP) .02 .02 0 0 -.02 1990 1995 2000 G(RealWages) -.02 1950 1960 1970 1980 1990 2000 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Figura 1.3: A conquista da prosperidade sem inflação nos EUA. O período pós 82 bate qualquer outro período na história dos EUA em termos estabilidade e progresso económico. G(RealGDP) e G(RealWages) representam a taxa de crescimento do PIB real e dos salários reais. inclusive – por exemplo, durante a década de 60 – mas as oscilações da actividade económica eram muito superiores àquelas que se têm verificado nas últimas décadas, e a frequência de recessões mais elevada também. Para Taylor e outros economistas, esta estabilidade de preços com elevado crescimento económico é o segredo da nova política económica. Organização do Relatório O restante conteúdo deste relatório será organizado como se segue. No capítulo 2 apresentamos as razões que no nosso entender justificam que uma cadeira moderna de macroeconomia intermédia deve ir para além da análise convencional dos ciclos económicos de curto prazo, devendo dar também grande importância ao crescimento económico de longo prazo. Nos capítulos seguintes, capítulos 3 e 4, analisaremos os modelos macroeconómicos dominantes que são normalmente utilizados para delimitar os trâmites fundamentais que conduzem a política económica virada para a gestão dos ciclos económicos de curto prazo. No capítulo 3 apresentamos o modelo standard Keynesiano que dominou praticamente toda a macroeconomia desde a década de 40 até meados da década de 70. Perante a CAP 1. INTRODUÇÃO .12 11 Indice Preços Implicito no PIB (trimestral) IPIPIB .1 "FED Funds Rate": 4.8% "FED Funds Rate": 9.7% .08 .06 .04 .02 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 Figura 1.4: Taxa de inflação nos EUA. Note—se as alterações na condução da política monetária nos períodos pré e pós anos 80, bem como as tendências da inflação nestes períodos. falta de melhor terminologia, designo este modelo por ”Velho Modelo Keynesiano”. Apresentamos os pontos fundamentais do modelo e mostramos quais são as principais limitações (pelo menos 12) que levaram à ineficiência do mesmo para explicar a evolução dos fenómenos económicos pós década de 60. No capítulo 4, apresentamos o Novo Modelo Keynesiano. Devido à dificuldade de explicar alguns dos aspectos principais deste novo modelo unicamente através de uma descrição literária, somos forçados a recorrer ao uso de alguma análise algébrica. No entanto, tentamos simplificar o mais possível e acreditamos que a leitura acabará por não ser pesada. No capítulo 5 tento demonstrar que é perfeitamente possível ensinar economia dinâmica a alunos de um segundo ano de uma licenciatura em economia. As exigências matemáticas não constituem um obstáculo significativo, e os ganhos para toda a restante parte da licenciatura são (na minha opinião) enormes. No capítulo 6 apresento o programa que proponho para uma cadeira anual de macroeconomia de nível intermédio, a ser leccionada no segundo ano de uma licenciatura em economia. No capítulo 7 teço algumas considerações de natureza pedagógica, focando os seguintes aspectos: princípios gerais da orientação do ensino, a divisão entre aulas teóricas e aulas práticas, a carga horária semanal, avaliações e material de apoio à leccionação. No capítulo 8 tento sintetizar aquilo que pretendi transmitir com este CAP 1. INTRODUÇÃO 12 longo relatório, esperando não ter abusado da paciência dos leitores com a sua extensão. Capítulo 2 ”As” Duas Questões Fundamentais da Macroeconomia 2.1 Introdução Não será nenhum exagero afirmar que uma parte bastante significativa dos economistas portugueses (senão a larga maioria) continua a identificar a Macroeconomia com a apresentação de uma versão simples do velho modelo IS—LM, possivelmente aumentado de um bloco de oferta onde o funcionamento do mercado de trabalho pode ser analisado com (na maioria dos casos ”sem”) a incorporação de um processo de formação de expectativas adaptativas. A discussão e análise do crescimento económico de longo prazo são normalmente consideradas como elementos de outras áreas da teoria económica. No entanto, na minha opinião, esta perspectiva relativamente ao âmbito da macroeconomia para a explicação dos fenómenos económicos contemporâneos está errada, fundamentalmente por três razões: 1. A macroeconomia é uma disciplina recente no seio da teoria económica em geral, estabelecendo—se no início dos anos 40, e em cerca de cinquenta anos passou por quatro revoluções. Estas revoluções foram contribuindo com alguns aspectos cruciais para a explicação dos fenómenos económicos modernos, os quais foram sendo acrescentados ao ”stock” de conhecimento acumulado da macroeconomia. Estas novas contribuições não dizem respeito apenas a questões de natureza teórica. Estão também relacionadas com problemas práticos de mo-delização e de computação, os quais podem hoje ter respostas que eram impensáveis duas décadas atrás devido, fundamentalmente, ao impressionante crescimento das capacidades computacionais. 13 CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 14 2. Por estas razões, quer em termos teóricos, quer em termos empíricos e computacionais, o ensino (e investigação) da macroeconomia moderna não assenta hoje no velho modelo IS—LM aumentado da Curva de Phillips com expectativas adaptativas. 3. A macroeconomia não se resume à análise dos ciclos económicos de curto prazo como tem sido prática em Portugal, incluindo também o estudo das determinantes do crescimento económico de longo prazo. Na nossa opinião, as duas questões fundamentais que a macroeconomia deverá explicar são as seguintes: (i) Porque razão praticamente todas as economias apresentam uma taxa de crescimento de longo prazo relativamente estável? Ou seja, quais são as forças que fazem com que o logaritmo do PIB em valores absolutos (e em termos per capita também) tem um ”trend” relativamente constante quando consideramos períodos de tempo dilatados; (ii) Porque razão existem ciclos económicos de curto prazo? Isto é, o que faz com que existam pequenos desvios relativamente à trajectória de longo prazo da economia? A primeira questão incide sobre a análise do PIB potencial e sobre os factores que condicionam ou favorecem o crescimento económico de longo prazo. A segunda questão incide sobre a análise dos ciclos económicos de curto prazo e sobre os factores que estão na base destes ciclos bem como das políticas económicas destinadas a reduzir a amplitude dos mesmos. Portanto, a crença instalada de que a macroeconomia deve incidir sobretudo sobre o estudo do segundo tipo de problemas (os ciclos económicos de curto prazo), não está correcta do nosso ponto de vista. Hoje em dia nem faz sentido estudar os ciclos económicos de curto prazo sem ter um conhecimento bastante relevante sobre o comportamento da tendência de longo prazo da economia. De facto, na macroeconomia moderna toda a análise da gestão dos ciclos económicos de curto prazo está totalmente dependente da posição relativa do PIB efectivo relativamente ao PIB potencial. Portanto, sem se perceber bem quais os factores que deverão ser levados em consideração para medir o posicionamento do PIB potencial, bem como os factores que o fazem deslocar ao longo do tempo, como se pode implementar políticas económicas para gestão eficiente dos ciclos económicos de curto prazo? Não vejo como. 2.2 Ciclos Económicos de Curto Prazo Existe hoje a noção clara que os modelos que podem ser utilizados para explicar os principais factos estilizados dos ciclos económicos de curto prazo são fundamentalmente três: (i) choques sobre aquilo que normalmente se designa por ”economic fundamentals”, ou seja, sobre os aspectos da economia que não dependem da interpretação subjectiva de cada um ou grupo CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 15 de agentes económicos; (ii) estrutura da economia é não—linear; e (iii) ”self fullfilling prophecies”. 2.2.1 Choques sobre ”fundamentals” Se o comportamento de uma economia, por exemplo do PIB, pudesse ser representado por uma equação dinâmica, uma forma simples de a representar poderia ser do tipo ”linear com choques”. Os choques poderão ser de vário tipo, como sejam, choques tecnológicos, choques resultantes da intervenção do Governo e do Banco Central, choques institucionais, etc.. Este tipo de comportamento pode ser expresso pelo seguinte processo autorregressivo de primeira ordem, linear e com um ”trend” |w = d0 + d1 |w31 + d2 w + %w , 0 ? d1 6 1 sendo d0 > d1 > d2 parâmetros positivos, w representa a tendência de longo prazo da variável | (medida em valores logaritmicos) e %w é um ruído com média nula e variância constante %w llg(0> 2 )= Na Figura 2.1 mostramos a evolução desta variável (medida em logaritmos) bem como os choques que a mesma recebe. Note—se que a estrutura desta economia não incorpora qualquer comportamento não—linear. No painel superior apresenta—se o logaritmo de |w ; no do meio encontra—se representada a taxa de crescimento da variável (a qual é de 3% por período), enquanto que no último painel os desvios da taxa de crescimento relativamente à sua tendência de longo prazo estão representados. Como se pode facilmente constatar esta figura apresenta comportamentos bastante semelhantes (aparentemente) à realidade que conhecemos das principais séries económicas.1 2.2.2 Estrutura não—linear Uma forma alternativa para explicar o comportamento de uma grandeza como o PIB, e das suas variações de curto prazo, pode residir na hipótese alternativa: a estrutura da economia é não—linear, e não existem quaisquer choques sobre a mesma. Uma equação muito simples que permite mostrar este tipo de comportamento é do tipo |w = d1 (1 |w31 ) |w31 Na Figura 2.2 apresentamos o comportamento desta variável ao longo do tempo (painel inferior), e no painel superior encontra—se o estado de espaços onde se pode facilmente constatar a complicação dinâmica que pode resultar de uma simples equação como a que foi apresentada acima.2 Note—se que Os restantes valores escolhidos são os seguintes: d0 = 1=5> d1 = 0=6> d2 = 0=03= Finalmente assumimos que % ; (0> 0=01) 2 Assumimos que d1 = 3=88= 1 CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 3.25 16 LY(t) 3 2.75 2.5 0 .075 5 10 15 20 25 30 DLY(t) .05 .025 0 0 .05 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Residos .025 0 -.025 0 20 Figura 2.1: Os aspectos cruciais da evolu ção de uma economia hipotética: um ”trend” do PIB efectivo relativamente constante de longo prazo, LY(t); uma taxa de crescimento relativamente volátil no curto prazo, DLY(t); e os resíduos entre o PIB efectivo e a sua tendência de longo prazo parecendo o resultado de choques aleatórios. CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 17 1 0.9 0.8 0.7 y(t) 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 y(t−1) 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 y(t) 1 0.5 0 0 20 40 60 80 100 120 140 tempo160 Figura 2.2: Os ciclos económicos como resultado única e simplesmente da estrutura não—linear da economia. Uma simples função logistica, sem qualquer ruído externo, provoca ”caos” e comportamento irregular. neste caso os ciclos económicos surgem única e simplesmente causados pela dinâmica da estrutura interna da economia, não existindo qualquer choque de natureza exógena como no caso anterior. A aplicação de modelos não—lineares na economia tem ganho grande popularidade na última década. Existe hoje a convicção de que a maior parte dos ciclos económicos em estruturas onde exista heterogeneidade de agentes, e onde as expectativas tenham uma relevância significativa para as decisões dos agentes económicos, é pouco provável que os ciclos resultem de meros choques aleatórios, mesmo em mercados totalmente perfeitos. Vide Guesnerie and Woodford (1990) para um notável tratamento desta questão. Mais recentemente o control de modelos económicos caóticos tem ganho importância significativa devido ao compreensível grande interesse em con- CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 18 trolar processos económicos por questões de natureza de política económica. Mendes e Mendes (2001) e (2002) mostram como o control de caos é fácil, poderoso, e bastante útil em termos económicos. 2.2.3 ”Self Fullfilling Prophecies” A terceira alternativa para explicar os ciclos económicos de curto prazo consiste na introdução de ”expectativas” ou mais correctamente ”beliefs” no funcionamento da economia. Uma forma de explicar este processo numa base intuitiva é utilizar um termo usado por Keynes para justificar as ondas de optimismo e pessimismo dos empresários e, consequentemente, do investimento: ”animal spirits”. Mesmo que os ”fundamentais económicos” não se tenham alterado, um facto de natureza subjectiva pode por si só espalhar—se por toda a economia e produzir alterações no resultado do processo económico. Existe um exemplo muito simples para explicar este processo. Suponha que existe uma ”festa” que só se realizará caso um número mínimo de pessoas comparecer. Se forem poucas as pessoas a comparecerem, a festa dissolver—se—á espontaneamente, se o número for suficientemente elevado, acabará por atrair outras pessoas e a festa realizar—se—á. O problema é que nem todas as pessoas que poderão estar interessadas em comparecer podem contactar umas com as outras, pelo que o ”haver festa” ou ”não haver festa” depende unicamente dos ”beliefs” das pessoas interessadas. Do ponto de vista económico, as mudanças súbitas de confiança dos agentes podem estar na base dos ciclos económicos e isto requer, portanto, a existência de agências que coordenem as interações entre os vários agentes envolvidos na actividade económica. O primeiro artigo onde se formalizou este aspecto com rigor na economia foi o de Cooper e John (1988), e o livro de Cooper (1999) oferece um tratamento alargado sobre o problema em questão. O aspecto interessante é que um cenário como este pode ser facilmente aplicado para explicar o comportamento do investimento e da elevada volatilidade do mesmo ao longo dos ciclos económicos. Por outro lado, é bastante fácil explicar este processo do ponto de vista matemático. Para que o mesmo tenha lógica, o modelo (ou seja, o comportamento) requer dois aspectos fundamentais: (i) não—linearidade acentuada; (ii) expectativas de natureza subjectiva dos agentes. Suponha que o comportamento é caracterizado pela seguinte equação: 3 2 d2 |w31 d1 |w31 2 O tipo de equilíbrio que resulta deste comportamento não—linear depende grandemente das expectativas dos agentes envolvidos no processo. Vide Figura 2.3, onde a simulação foi efectuada com os seguintes parâmetros: d1 = 1> d2 = 3= No painel principal temos o diagrama de fases (ou |w = CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 19 2 1.8 y(t) 2 1.6 1 0 1.4 5 y(t) 1.2 10 tempo 15 20 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 y(t−1) 1.2 1.4 1.6 1.8 Figura 2.3: ”Self Fullfilling Prophecies” e equilíbrios múltiplos. No painel maior temos o processo de iteração entre |w e |w31 . No pequeno painel temos a série temporal associada a cada um dos resultados. o processo de iteração até ao equilíbrio final), no pequeno painel apresentamos a evolução da variável ao longo do tempo. O resultado é bastante interessante já que existem três equilíbrios dinâmicos: (1> 1) instável, (0> 0) e (2> 2) estáveis. Supondo que o universo de agentes neste exemplo são empresas que se pretendem localizar num novo espaço (sendo o montante total de empresas 2 mil), e que o processo só será implementado se a maioria ”acreditar” que as outras também se deslocarão, então se apenas 0.88 desse universo ”acreditar” nessa possibilidade, o processo tenderá para (e acabará) num equilíbrio estável e dado por (0> 0). Pelo contrário, se cerca de 1.12 do universo conceber a expectativa de que as restantes também se deslocam, todas elas acabarão por se mover para o novo espaço. Ou seja, neste caso o equilíbrio final também é estável, mas só que é positivo sendo dado por (2> 2). Temos aqui um exemplo curioso que permite explicar logicamente como pequenos aspectos de natureza ”psicológica” acabam por afectar de forma crucial o resultado de um processo económico. Ou seja, temos uma situação em que 2 CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 20 meros ”beliefs” acabam por poder derrotar os ”fundamentais económicos”. As simulações que apresentámos acima referem—se a possibilidades hipotéticas de representar os ciclos económicos de curto prazo, podendo estes serem o resultado de modelos lineares, de modelos não—lineares, e de não—lineares com expectativas. Para terminar esta introdução sobre alguns aspectos fundamentais da modelização dos ciclos económicos de curto prazo, apresentamos de seguida a evolução do PIB real para os EUA desde 1947, vide Figura 2.4. No painel superior temos o logaritmo do PIB real, e o filtro de Hodrick— Prescott para representar a tendência de longo prazo do mesmo (ou seja, o PIB potencial); no painel inferior são apresentados os resíduos que resultam da diferença entre o PIB efectivo e o PIB potencial. Estes resíduos não são mais do que a imagem dos ciclos económicos de curto prazo. Como se pode facilmente constatar, esta figura apresenta duas particularidades: (i) o PIB potencial tem aumentado ao longo do tempo a uma taxa média relativamente constante; (ii) os ciclos de curto prazo são uma característica de todo o período, apesar da amplitude dos mesmos ter sido reduzida significativamente depois do início dos anos 80; (iii) os ciclos mostram que períodos de boom encontram—se imediatamente seguidos de outros períodos de boom – o mesmo se passando relativamente a períodos de recessão – pelo que estes ciclos não parecem ser muito compatíveis com a explicação baseada meramente em choques aleatórios, quer eles sejam do lado da oferta, ou da procura. Existe, aparentemente, muito mais estrutura nestes choques do que a tese dos choques sucessivos a ”baterem” na economia incessantemente. 2.3 Crescimento de Longo Prazo Suponha agora que os alunos ficam a dominar bastante bem os problemas técnicos que podem surgir relativamente à análise de curto prazo. Ficam a perceber muito bem as implicações que podem resultar do impacto de choques aleatórios sobre a economia, da importância de comportamentos não lineares, bem como dos aspectos extremamente interessantes que podem resultar para a economia da consideração do lado psicológico dos agentes económicos. Com estes instrumentos ficam conhecedores dos possíveis factores que podem gerar ciclos económicos de curto prazo. Mas quais são os factores que determinam a tendência de crescimento de longo prazo da economia? Será que se pode aumentar os gastos públicos de forma permanente no sentido de melhorar as condições médias de vida das populações? É bom levar em consideração que os gastos públicos e impostos são instrumentos de política económica de curto prazo, mas também são factores determinantes da sustentabilidade da dívida pública no longo prazo! Quais são as condições que permitirão utilizar estes instrumentos fiscais sem comprometer a sustentabilidade da dívida pública? Estas são questões cruciais para a macroeconomia, mesmo a nível intermédio, mas CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 9 LGDP 21 hpLGDP 8.5 8 7.5 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 GDPResid .025 0 -.025 -.05 1950 1955 Figura 2.4: O PIB efectivo e potencial para os EUA. LGDP, hpLGDP, e GDPResid representam, respectivamente, logaritmo do PIB real, filtro de Hoddrick—Prescott para obter a tendência de longo prazo, e o hiato entre o PIB efectivo e a sua tendência de longo prazo (ou ciclos económicos de curto prazo). CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 22 que um programa que se restrinja à análise de curto prazo não dá qualquer esclarecimento. Por isso é indispensável que os alunos tenham um contacto significativo com a análise económica dinâmica logo num dos primeiros anos da licenciatura. Caso isto não aconteça, não poderão perceber minimamente algumas questões fundamentais do funcionamento de uma economia real. Ultimamente temos observado que os livros de texto mais consagrados no mercado – por exemplo, o livro de Greg Mankiw ”Macroeconomics”, fourth edition (2000); Abel and Bernanke ”Macroeconomics”, third edition (2001); ou Blanchard ”Macroeconomics”, second edition (2001) – tentam resolver este problema colocando numa das partes iniciais dos livros algum tratamento de crescimento económico. No entanto, a apresentação resume— se única e simplesmente ao modelo de Solow e ao tratamento da convergência que resulta do mesmo. No meu entender isto é errado por uma simples razão: acaba por transmitir a ideia aos alunos que o crescimento de longo prazo tem uma natureza totalmente exógena, que o problema da convergência económica é simples de resolver, e que a política económica nada pode fazer para fomentar o crescimento de longo prazo. É fácil de perceber o perigo e o risco de um tratamento do problema nestes moldes. Pode existir uma razão prática para explicar esta opção na maioria dos livros de texto. A maioria destes manuais são produtos já estabelecidos no mercado, feitos à alguns anos, e não é fácil reescrever partes significativas de um produto que ”já está acabado”. Por isso, altera—se um capítulo ou outro, mas a esmagadora parte do produto segue em frente, edição após edição. Por outro lado, e por experiência própria o digo, é bastante exigente (em termos de tempo e esforço pedagógico) tornar as ideias dos novos modelos de crescimento acessíveis a alunos de um segundo ano de uma licenciatura em economia. No entanto, é possível, e a prova disso está em que o redactor deste relatório, conjuntamente com Sofia Vale, tem um texto que tem sido usado na licenciatura de economia do ISCTE com grande sucesso. Parece—me indiscutível que existe a falta de um tratamento adequado à parte dinâmica no ensino da macroeconomia a nível intermédio. Para atestar esta afirmação está o facto interessante de que somente no presente ano saíram três novos livros de texto em língua inglesa – já anteriormente referidos3 – e por outro as críticas abertas à filosofia dos livros dominantes. Atente—se neste texto de suporte ao lançamento do livro de Brad DeLong, o qual tem por título: ”Mankiw vs DeLong on growth” e merece ser transcrito numa parte significativa do mesmo: ”Elsewhere on this website I have talked about the excellences of Greg Mankiw’s Macroeconomics textbook. Here I want to put one of 3 ”Macroeconomics” por Brad DeLong, da Universidade de Berkeley; David Miles (Imperial College) e Andrew Scott (London Business School) com ”Macroeconomics - Understanding the Wealth of Nations”; e Stephen Williamson (University of Iowa) com ”Contemporary Macroeconomics”. CAP 2. "AS"DUAS QUESTÕES FUNDAMENTAIS 23 its deficiencies vis-a-vis DeLong’s Macroeconomics textbook under the microscope. To put it bluntly, Mankiw does a lousy job of setting out the theory and the facts of economic growth. On the facts, he spends 11 pages on ”growth facts” where we spend 30. On the theory, his theoretical sections replicate the graduate-student treatment of the subject at a lower level—and so introduce concepts like ”capital per eective worker” that students find confusing, and yet fail to provide students with enough in-depth instruction to actually allow them to be comfortable using the standard economic growth model to analyze economies. Now this is not Greg Mankiw’s fault: it is the fault of history. A decade ago Greg Mankiw introduced long-run growth into the intermediate macroeconomics syllabus. But because each successor book must be close enough to its predecessor to serve the same market, he could not make growth a major focus of his book. Hence he tried to do too much in too little space. But I do not suer from the same constraint. So I can do better. And below I outline eleven important points where I believe that the coverage in my book’s growth chapters clearly dominates the coverage in Mankiw.” Elucidativo? Devo acrescentar que até são amigos e dois abertos Keynesianos de longa data. Espero ter chamado a atenção do leitor para o argumento de que uma maior atenção aos problemas do crescimento, bem como de outra análise dinâmica (por exemplo, da dívida pública e do sistema de segurança social), no ensino da macroeconomia a nível intermédio irá ser muito provavelmente um sinal do futuro. E bem precisados estamos, nem que seja para perceber melhor a própria eficácia da políticas económicas de curto prazo. Capítulo 3 As Limitações do Velho Modelo Keynesiano 3.1 Introdução Como vimos no capítulo anterior, um modelo que pretenda explicar o comportamento dos ciclos económicos de curto prazo, deve ser capaz de explicar porque razão uma economia não consegue eliminar os mesmos e assim reduzir os efeitos negativos de crises económicas e booms. O velho modelo Keynesiano que colapsou na década de 70 pretendia explicar estes ciclos com base, fundamentalmente, na combinação da política fiscal e da política monetária, tendo ficado célebre pelas políticas do ”stop and go” das décadas de 60 e 70. O modelo assentava em sete pontos fundamentais, os quais passamos a descrever de seguida: 1. Grande ênfase ao bloco IS—LM; 2. Expectativas adaptativas; 3. Pouca importância atribuída aos problemas de ”economia aberta”, apesar dos modelos de Mundell—Fleming serem bem conhecidos desde o início dos anos 60; 4. O Banco Central controlava a massa monetária, não as taxas de juro; 5. A política fiscal era independente da política monetária e dos problemas de ajustamento da balança de pagamentos; 6. A análise do crescimento económico era praticamente (senão totalmente) ignorada; 7. A hipótese de ”Government Failure” (Falha de Governo) e as considerações de natureza política das escolhas sociais eram totalmente ignoradas. 24 CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 25 Vamos analisar de forma necessariamente concisa os primeiros cinco pontos. O último não será objecto de discussão devido à já larga extensão do relatório, no entanto, ele não pode ser esquecido porque é um elemento fundamental para se perceber os verdadeiros contornos das revoluções que derrubaram o velho modelo Keynesiano. 3.2 Bloco IS—LM O modelo era construido com base em hipóteses ad—hoc que remetiam para um comportamento mecânico dos agentes económicos, quer ao nível do consumo, quer ao nível do investimento. Este comportamento levava normalmente a situações sub—óptimas do ponto de vista social (equilíbrio abaixo do pleno emprego), embora nada fosse referido sobre as razões específicas que condicionariam os agentes económicos a aceitarem uma situação de sub— optimalidade, quando deveriam pretender obter uma situação de equilíbrio ao nível da plena utilização dos factores produtivos, do nível de investimento óptimo e, consequentemente, do nível máximo de consumo. Ou seja, o modelo assumia determinados comportamentos microeconómicos mas não os explicava de forma rigorosa, e também não explicava porque razão os agentes eram incapazes de reagir a situações de adversidade. Porque razão a propensão marginal a consumir (pmc) seria constante, e bastante elevada, ao longo dos ciclos económicos de curto prazo? 3.2.1 Função IS Por exemplo, a principal teoria explicativa do consumo das famílias assentava numa relação positiva entre o consumo e o nível do rendimento disponível corrente, quando era perfeitamente evidente desde a década de 50 que os argumentos de Modigliani e Friedman baseados nos ”ciclos de vida” e ”rendimento permanente” eram muito mais poderosos. Estes novos argumentos permitiriam incorporar na função explicativa do consumo também factores como o nível do rendimento esperado no futuro e a taxa de juro, os quais estavam claramente ausentes do velho modelo Keynesiano. Por outro lado, é hoje claramente evidente que a propensão marginal a consumir – um conceito fundamental de todo o modelo e da política económica associada ao mesmo – não é um factor psicológico exógeno, dependendo do ciclo da actividade económica e do comportamento dos mercados financeiros (quanto maior for o nível de desenvolvimento dos mercados financeiros menor tenderá a ser o valor da pmc). A função consumo era do tipo f = F(| ) , 0 ? F0 ? 1 (3.1) onde f é o consumo medido em termos reais, | representa o nível do produto, e os impostos em termos líquidos. CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 26 Por outro lado, o investimento real das empresas era tido como uma função linear e negativa do nível da taxa de juro. Utilizava—se os critérios do VAL (Valor Actualizado Líquido) ou da TIR (Taxa Interna de Rentabilidade) para obter esta relação negativa, mas não se ia suficientemente longe para obter os verdadeiros impactos da consideração destas taxas sobre o comportamento do investimento. Assim, situações onde as expectativas sobre o nível de actividade económica futura pudessem levar a ciclos de ”optimismo” ou ”pessimismo” e afectar de forma significativa a natureza de modelo bem comportado que se pretendia manter eram pura e simplesmente ignoradas. Ou seja, sendo o VAL e a TIR critérios fundamentalmente ”forward looking”, como o modelo básico era totalmente ”backward looking”, as implicações da importância daqueles critérios ficava camuflada pela incapacidade do modelo em tomar em consideração as mesmas no seu seio. Poder—se—á também utilizar o nível da procura agregada ou rendimento para explicar o comportamento do investimento (o chamado ”efeito acelerador”), mas como é óbvio, o nível desta procura não será o nível esperado, mas sim o valor corrente do mesmo devido à incapacidade do modelo em lidar com comportamentos forward looking. Assim, a equação que representará o comportamento do investimento será l = L(u> |) , Lu0 ? 0 e L|0 A 0 (3.2) sendo u o nível da taxa de juro nominal. Considerando por agora uma situação de uma economia fechada, já que o caso de economia aberta não é necessário para o argumento que pretendemos desenvolver aqui, e utilizando a identidade fundamental da contabilidade nacional | = f + l + j, sendo j o nível dos gastos públicos, podemos obter de forma imediata a expressão da Função IS | = F(| ) + L(u> |) + j (3.3) Destas três equações poder-se-ão retirar quatro conclusões fundamentais para a análise do modelo Keynesiano dominante até aos anos 70: 1. Não existe qualquer força ”forward looking” na determinação do bloco da IS. Ou seja, as expectativas sobre a evolução esperada da actividade económica não afecta o nível da procura agregada: apenas variáveis correntes afectando o valor de variáveis correntes. Este ponto leva—nos à primeira grande limitação do modelo: Limitação 1 O modelo elimina a possibilidade de equilíbrios múltiplos e as consequentes considerações em termos de escolhas de natureza política do equilíbrio obtido. 2. Restrição orçamental. Não existe qualquer restrição orçamental pelo que a condução da política fiscal – e para além da política fiscal, toda CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 27 a política económica de gestão da procura agregada já que na função LM não existe qualquer elo de ligação à restrição orçamental – é conduzida como se não existissem quaisquer restrições no que diz respeito a défices orçamentais e à dívida pública. A evidência empírica do que se verificou durante o período que compreende finais da década de 60 até meados dos anos 80, com um crescimento vertiginoso da dívida pública em percentagem do PIB na maioria dos países, com elevadas taxas de inflação e elevados défices externos em muitas economias (mesmo) da OCDE, revelou que a condução da política fiscal sem a consideração expressa de restrições não é muito saudável para o bom funcionamento da economia. Não creio que a famosa frase de Thomas Sargent (1986) ”Inflation is always and elsewhere a fiscal phenomenon” deva ser tomada literalmente. No entanto é bastante lógico que dentro de determinadas condições, aumentos de défices orçamentais devam provocar pressões inflacionistas. Podemos facilmente demonstrar que isto se verifica, caso os défices orçamentais não levem a um aumento significativo da taxa de crescimento do produto (e a evidência não é favorável a esta hipótese), e caso parte deste défice seja financiado junto do Banco Central, o que acontecia em muitos países até muito recentemente. A restrição orçamental é dada em termos nominais por sw jw + Ew = sw w + sew Ew+1 + Pw+1 Pw (3.4) onde as novas variáveis significam o seguinte: s, nível de preços; E a dívida pública emitida, e P montante total de moeda emitida pelo banco central (note que a variação corresponde ao financiamento do défice). Em termos reais a restrição pode ser simplificada como jw w = (sew ew+1 ew ) + Pw+1 Pw sw sendo ew o montante de dívida pública em termos reais. Esta última equação significa que o Governo pode financiar o défice público (jw w ) através de três formas: aumento das impostos líquidos ( w ); emitir mais dívida pública em termos reais (sew ew+1 ew )> o que implica maiores custos financeiros para o Estado no futuro, ou pode aplicar o truque mágico de aumentar a massa monetária em termos reais ((Pw+1 Pw ) @sw ). Como é óbvio, na maioria dos casos os governos esgotavam as duas primeiras opções e viravam—se facilmente para a terceira. Para um Governo pouco responsável e pouco preocupado com o bem estar da economia a médio e longo prazo, a última solução é como ”manna from heaven” porque pode gastar hoje sem restrições, retirando os benefícios políticos dessa sua atitude aparentemente ”preocupada” com o boa saúde da economia. No entanto, o que faz é retirar de forma artificial recursos económicos às famílias (sobretudo às mais pobres, aquelas que não conseguem ”fugir” à inflação via aquisição de activos financeiros) através do correspondente aumento de preços. Ou seja, CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 28 se (Pw+1 Pw ) crescer bastante, isto implica normalmente maior inflação através de uma aumento da procura agregada. Maior inflação implica aumentos de sw , mas se se isto se verificar, então para que (Pw+1 Pw ) @sw aumente e possa assim financiar o défice, o banco central tem de aumentar novamente a massa monetária. Ou seja, o truque mágico consiste em que o Governo financia despesas públicas e não assume quaisquer responsabilidades desta sua actuação para o futuro. Obviamente que este problema ficaria bastante reduzido caso o aumento da despesa de per si levasse a um aumento da taxa de crescimento económico ou a uma redução drástica da pobreza e de más condições sociais na economia. Infelizmente, a evidência quanto ao crescimento económico é (aparentemente) negativa. Por outro lado, os elevados défices levaram a um período de elevadas taxas de inflação, e normalmente são os agentes económicos mais pobres que mais sofrem com as mesmas, começando pelos seus salários reais. É ainda bastante questionável que as despesas públicas que estavam por detrás da criação monetária seriam fundamentalmente gastos de natureza social, podendo em muitos casos ser apenas mais uma forma expedita de tentar ”ganhar as próximas eleições” mais do que gerir de forma eficiente a economia. Como facilmente se compreende, este tipo de financiamento foi a ”forma mágica” bastante utilizada pela política económica do passado, mas cuja eficiência é hoje bastante questionável, quer em termos de eficiência económica, quer em termos de justiça social. Um modelo macroeconómico que não leve em consideração, de uma forma ou de outra, a restrição orçamental, corre sérios riscos de praticar o mal em nome do bem.1 Limitação 2 O modelo sub—avalia bastante os problemas com défices orçamentais. Não permite avaliar com rigor o impacto negativo de défices orçamentais elevados sobre: inflação, perda de competitividade externa e elevados défices externos, expectativas inflacionistas, e o ciclo vicioso das políticas do ”stop and go” que tão maus resultados deram na década de 70. 3. As relações de comportamento são lineares. Caso as relações não fossem lineares, por exemplo, o nível do consumo afastar—se—ia ao longo do tempo gradualmente do nível do rendimento disponível das famílias (ambos medidos em valores absolutos), o que violaria um facto empírico inquestionável: no longo prazo estas duas forças estão altamente correlacionadas, 1 A versão que aqui apresentamos segue de perto os pontos fundamentais do argumento de Sargent e Wallace (1981) em termos do impacto de déficts orçamentais sobre a inflação. Esta é uma versão ”fraca”. Recentemente, tem sido desenvolvido uma outra versão mais forte do impacto. Na versão acima um banco central independente e credível resolve o problema. Na nova ”Teoria Fiscal dos Preços” nem um banco central com tais atributos consegue eliminar os efeitos inflacionistas de déficits orçamentais. Vide, por exemplo, Christiano and Fitzgerald (2000), Carlston and Fuerst (2000), Woodford (1996), Cochrane (1998) para uma exposição desta nova teoria. Críticas à teoria podem ser encontradas em Buiter (2001) e Niepet (2001). CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 29 escala logarítmica Consumo e PIB nos EUA: 1947-2000 PIB consumo Figura 3.1: Consumo e PIB nos EUA, ambos medidos em termos reais. embora no curto prazo os desvios tenham diferentes amplitudes consoante estejamos em expansão ou em recessão económica. Nas Figuras 3.1 e 3.2 apresentamos duas características fundamentais do consumo das famílias. Primeiro, no longo prazo, o consumo tende a ter uma taxa de crescimento semelhante ao do PIB, o que confirma uma previsão do modelo convencional. Desta característica deveríamos retirar uma taxa de poupança das famílias relativamente constante no longo prazo. No entanto, esta dedução do modelo é facilmente refutada em termos empíricos, como se pode ver através da Figura 3.2 no que diz respeito aos EUA. 4. As relações de comportamento são demasiado simplistas e mecânicas. Por exemplo, no modelo Keynesiano básico o nível do consumo depende apenas do nível do rendimento disponível das famílias, e como não pode existir uma relação não linear entre as duas forças (por razões já explicadas no ponto anterior), então o consumo terá necessariamente de ser pró—cíclico e as amplitudes das suas respostas aos choques deverão ser semelhantes às que se verificam no produto. No entanto, isto não se verifica porque existe larga evidência de que o consumo é menos volátil do que o produto (embora seja pró—cíclico). Vide Figura 3.3. Daqui retiramos a noção de que as famílias pretendem fazer aquilo que se designa por ”consumption smoothing” ou ”alisamento do consumo” ao longo do tempo; ou seja em períodos de recessão económica o consumo diminui percentualmente menos do que o rendimento, e em períodos de expansão o consumo aumenta mas menos que o rendimento em termos percentuais. Devemos realçar que a teoria do rendimento permanente de Friedman (1957) ou o modelo dos ciclos CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 30 Taxa de poupança das famílias nos EUA: 1959-2000 Figura 3.2: A taxa de poupança das famílias nos EUA. de vida de Modigliani (1963) permitem explicar o comportamento cíclico do consumo muito melhor do que o modelo Keynesiano básico. Uma situação semelhante verifica—se quanto ao comportamento do investimento. Enquanto que a teoria do modelo IS—LM standard prevê uma reacção do investimento aos choques muito similar à reacção do produto, vastos estudos empíricos têm demonstrado que o investimento, embora seja pró—cíclico, é de facto muito mais volátil do que o produto. Vide Figura 3.4 para uma evidência clara deste resultado para os casos da Alemanha e EUA. Daqui podemos retirar mais duas conclusões importantes: Limitação 3 O modelo Keynesiano básico não permite explicar o comportamento do consumo das famílias de forma satisfatória, e devemos lembrar que o consumo é de longe a maior componente do PIB na maioria dos países, representando em muitos deles rácios de 70% ou mesmo superiores. Limitação 4 O modelo também não permite explicar o comportamento do investimento. Na realidade o investimento é muito mais instável do que o modelo Keynesiano standard prevê. Esta elevada volatilidade do investimento sugere que, não somente o custo do capital, mas também expectativas de futura rentabilidade, deverão constituir factores explicativos do comportamento do investimento. As expectativas podem gerar períodos de euforia e de pessimismo, os quais exacerbam as amplitudes dos ”business cycles”, levando a que o comportamento bastante volátil deste agregado possa ser explicado de forma mais satisfatória. CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 31 Canadá Japão Consumo PIB Figura 3.3: Taxas de crescimento (dados trimestrais) do PIB e do Consumo para o Canadá e Japão. O consumo é pró—cíclico mas menos volátil do que o PIB. Alemanha Investimento PIB EUA Investimento PIB Figura 3.4: O investmento é pro-cíciclo mas muito mais volátil do que o PIB. Exemplo: Alemanha e EUA. Consumo PIB CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 32 Limitação 5 A incapacidade do modelo em explicar satisfatoriamente o comportamento do consumo e do investimento coloca sérias reservas à utilização das principais receitas do modelo em termos de política económica, quer política fiscal, quer política monetária. Por exemplo, se a propensão marginal a consumir não é tão elevada nem tão estável ao longo dos ciclos económicos como o modelo assume, então a utilização dos impostos sobre o rendimento como instrumento estabilizador fica bastante comprometida. Por outro lado, se o investimento não reage à taxa de juro como o modelo estipula, a eficácia da política monetária acaba por ficar também seriamente afectada. 3.2.2 Mercado Monetário No que respeita ao bloco do mercado monetário, o modelo considera um ponto fundamental: o Banco Central tenta controlar a massa monetária, sendo o mercado a determinar o nível da taxa de juro através da interacção entre a procura e oferta de moeda. Existe um segundo aspecto que tem alguma importância para as principais prescrições de política monetária que resultam do modelo standard: o Banco Central deve ser independente do Governo no sentido de gerir a política monetária sem pressões de oportunismo político, mas devido ao facto do modelo ser totalmente ”backward looking” os ga-nhos que resultam de uma política de combate à inflação poderão ser apenas ”apanhados” pela metade. Por exemplo, um Banco Central independente mas sem credibilidade, é bem diferente de um banco independente mas com credibilidade. Como a política monetária depende de forma crucial da questão da credibilidade – e como, por outro lado, a política fiscal tem hoje, no que diz respeito à sua capacidade para estabilizar os ”business cycles”, uma eficácia muito menor do que a que se julgava ter duas ou três décadas atrás (pelas razões já acima referidas) – então, grande parte da capacidade de estabilização destes ciclos acaba por ficar largamente dependente da política monetária e da questão da credibilidade dos bancos centrais. Não será, por isso, totalmente estranho a esta discussão o facto de após um longo período de elevada inflação em todos os países desenvolvidos (e em desenvolvimento), desde finais de 60 até meados de 80, se ter assistido a um processo alargado a várias zonas do globo para tornar os Bancos Centrais livres dos interesses estritamente conjunturais do exercício do poder político e de opções eleitoralistas tão prejudiciais ao bom funcionamento da economia. No modelo standard Keynesiano o mercado monetário comportava—se da seguinte forma P = O(|> u) , O| A 0 , Ou ? 0 (3.5) S onde P@S e O representam, respectivamente, a oferta e a procura de moeda ambas em termos reais. O modelo assume que o Banco Central tem poder CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 33 para controlar P e através desta variável acaba por afectar a determinação de u e de |, bem como o nível de emprego. As principais críticas que podem ser feitas a esta representação do equilíbrio do mercado monetário, e do poder da política monetária sobre o sector real da economia que está subjacente ao mesmo, são fundamentalmente duas: (i) o Banco Central não consegue controlar de forma eficiente o nível de P , devendo para tal concentrar a sua acção no controle directo das taxas de juro (u); (ii) ao concentrar—se no controle ”directo” das taxas de juro, o Banco Central deverá necessariamente tornar claro ao sector privado quando, e em que circunstâncias, altera as taxas de juro; ou seja, quais são as regras que este banco impõe para que a alteração das taxas de juro não passe a ser um mero jogo discricionário no seio da actividade económica. De facto o ponto (i) implica o ponto (ii) e ambos estão totalmente ausentes do velho modelo Keynesiano IS—LM—AS. Admita que o Banco Central não consegue controlar a massa monetária, o que pode acontecer por duas razões: ou porque a velocidade de circulação da moeda é bastante instável ao longo do tempo – vide Figura 3.5 – ou porque existe incerteza sobre qual o agregado monetário que se deve controlar, e estes agregados comportam—se de forma diferente como se pode ver na Figura 3.6. Nesta situação, não somente o Banco Central tem dificuldades sérias em gerir os ciclos económicos de curto prazo, como pode inclusive agir de forma contrária aos seus próprios objectivos, injectar liquidez na economia, em vez de a reduzir, ou inversamente. Para evitar este tipo de situações, William Poole sugeriu em 1970 – num brilhante artigo mas ”esquecido” durante mais de 20 anos, embora seja hoje já considerado como um marco na moderna teoria monetária – que o Banco Central deveria tentar controlar a taxa de juro e não a oferta de moeda, se a variância dos choques sobre a procura real de moeda fosse superior à dos choques sobre a procura agregada. Isto pode ser facilmente ilustrado num gráfico em que se representa o equilíbrio no mercado monetário. No painel da esquerda da Figura 3.7 temos a situação em que o Banco Central controla a oferta de moeda, onde verificamos que para uma mesma oferta poderão existir três diferentes níveis da taxa de juro de mercado. Qual é a verdadeira procura de moeda num dado momento de tempo? E qual a sua taxa de variação, já que como vimos o multiplicador monetário é bastante instável e varia de agregado para agregado. No caso do painel da direita, estes problemas de incerteza quanto ao comportamento da procura de moeda são eliminados caso o Banco Central consiga controlar com rigor o nível da taxa de juro de mercado. A variável que passa a ser endógena é a própria oferta de moeda que o sector bancário coloca à disposição do sector não bancário, determinada pelo valor da sua procura. É hoje largamente aceite que o Banco Central deverá controlar a taxa de juro de curto prazo e não os agregados monetários. Como um ex—governador do Banco Central do Canadá, Gerry Bouey, afirmou: CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 34 M0 M4 Figura 3.5: A velocidade de circulaç ão da moeda não é constante. Exemplo: Reino Unido. ”We didn’t abandon the monetary aggregates, they abandoned us” No entanto, a opção pelo control da taxa de juro de curto prazo coloca de forma imediata um novo problema: ”fixar” um preço no mercado, como seja uma taxa de juro, não é tarefa fácil e requer um sinal claro (ou ”fixing”) por parte do Banco Central para que não exista grande instabilidade nos preços. Por outro lado, é indispensável que os sinais que o Banco Central lança para o mercado sejam inequívocos e credíveis. Daqui resultam três outras implicações directas da escolha da taxa de juro como ”target”: (i) para que o Banco Central possa ser considerado como credível o mesmo não pode estar dependente do Governo e dos seus interesses em termos do ciclo eleitoral; (ii) tem de ter uma posição forte de combate à inflação (”inflation targeting”), pois caso não o faça, acaba por ser a própria inflação a guiar a taxa de juro de mercado através de patamares mínimos aceites na economia para a taxa de juro real (esta relação é dada pela equação de Fisher); e (iii) o Banco Central terá de possuir uma ”regra” para conduzir a política monetária, deverá torná—la clara e pública e deverá comprometer—se a respeitar integralmente essa mesma regra. As principais implicações práticas desta nova abordagem da política monetária para o modelo standard Keynesiano são simples. Limitação 6 Este modelo não permite mostrar porque razão ”inflation tar- CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO GrowthM2 GrowthM3 .03 GrowthM1 35 M3 x M1 7500 .02 5000 .01 2500 0 -.01 1990 1995 2000 200 GrowthM1 x GrowthM2 .03 .015 .02 400 600 800 1000 1200 GrowthM3 x GrowthM1 .01 .01 .005 0 0 -.01 -.005 0 .005 .01 .015 .02 -.01 .025 0 .01 .02 .03 Figura 3.6: Agregados monetários M1, M2 e M3 para os EUA. O primeiro painel cobre o período 1990—2000, os restantes 1959—2000. r r Ms Dd0 Dd1 r0 r1 r2 Dd2 r = r* Dd1 Dd0 Dd2 M Ms2 Ms1 Ms0 Figura 3.7: A política monet ária em dois extremos: control da massa monetária (esquerda) versus control da taxa de juro (direita) pelo Banco Central. M CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 36 geting” apresenta vantagens para a economia em termos da gestão dos ciclos económicos de curto prazo. Limitação 7 Não permite explicar porque é que ”regras” de condução da política monetária, num cenário em que o banco central assume ”o compromisso” de não tolerar inflação (ou outro objectivo por si escolhido), são claramente superiores à condução da política monetária baseada numa atitude discricionária por parte do banco central. 3.2.3 Procura Agregada Usando as equações relativas à função IS e função LM podemos obter a função procura agregada, sendo esta dada pela expressão |g = #1 D + #1 P S (3.6) sendo # 1 > # 2 parâmetros do modelo, enquanto que D representa o nível da procura autónoma neste modelo simples e é dada por D = j = As principais conclusões são imediatas: (i) a política fiscal é eficaz, levando a uma expansão da procura agregada de bens e serviços na economia caso se verifique um aumento dos gastos públicos (j), ou uma diminuição dos impostos líquidos ( ); (ii) a política monetária é eficaz, levando a um aumento da procura através de uma expansão da oferta de moeda (em termos reais: P@S )= As limitações do modelo convencional quanto à análise do lado da procura já foram referidas nas duas sub—secções anteriores, quando discutimos a função IS e a função LM. Portanto, torna—se desnecessário voltar a referi—las novamente. No entanto, convém realçar que a verdadeira dimensão das limitações referidas ficará bem mais clara quando introduzirmos na nossa análise o funcionamento do mercado de trabalho. Será que se podem obter maiores níveis de procura agregada de forma permanente – e, consequentemente, maiores níveis de emprego – através da intervenção do Banco Central ao nível da política monetária, ou do Governo através da política fiscal, como o modelo aparentemente admite? Será que a célebre frase de Nixon ”I am a Keynesian ... by spending as if we were at full employment, we will help to bring about full employment”,2 a qual fornece bem a perspectiva dominante no início da década de 70, é correcta para exprimir as verdadeiras potencialidades do modelo para explicar a eficácia da política económica? Como iremos verificar, esta ideia de que o Governo e o Banco Central podem explorar de forma permanente um possível trade—o entre inflação e desemprego, mesmo no longo prazo, não é somente errada, é também bastante perigosa como a década de 70 bem demonstrou. 2 Vide Stein (1985) CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 37 Um outro aspecto importante consiste no facto de que, mesmo sem a introdução do mercado de trabalho na análise do comportamento dos vários mercados, a validade da eficácia das políticas fiscal e monetária pode ser facilmente posta em causa se introduzirmos também o mercado cambial no funcionamento da economia. É conhecido desde o início da década de 60, através dos resultados de Robert Mundell e Marcus Fleming, que a famosa trilogia de Mundell impõe restrições críticas à eficácia daquelas políticas. Assim, uma economia não pode aspirar a ter políticas fiscais e monetárias autónomas (ou independentes) caso se pretenda obter simultaneamente os seguintes três objectivos: • câmbios fixos • livre mobilidade de capitais • control da massa monetária Um destes objectivos terá de ”cair”. Caso se pretenda manter os primeiro dois, a política monetária deixa de ser eficaz (um exemplo claro deste cenário foi, e é ainda, o processo de integração europeia desde o Tratado de Maastricht até à criação da moeda única). Caso se pretenda manter os dois últimos, cairá o regime de câmbios fixos, como sucedeu com a libra inglesa e com a lira em Setembro de 1992 quando tiveram que abandonar o Sistema Monetário Europeu (a libra ainda não regressou ao sistema). Como é do conhecimento geral, Robert Mundell recebeu o prémio Nobel em Economia em 1999. Apesar dos modelos de Mundell—Fleming serem (na minha perspectiva) os modelos mais poderosos, dentro da filosofia do modelo básico Keynesiano, para explicar os ciclos económicos de curto prazo, eles nunca foram dominantes em livros de texto de macroeconomia a nível intermédio. E por isso, não é de estranhar que estes modelos fossem normalmente relegados para apêndices de capítulos onde se discutia os mercados cambiais, ou não ultrapassassem a meia dúzia de páginas quando incluídos no texto fundamental. Penso que isto deve—se a duas razões. Primeiro, durante as décadas de 70 e 80, as revoluções das ”Expectativas Racionais” e dos ”Ciclos Económicos Reais” tornaram a utilização dos modelos de Mundell—Fleming considerada ”fora de moda” já que os modelos têm uma natureza fundamentalmente Keynesiana. Segundo, Mundell e Fleming anteciparam em cerca de 30 anos o acontecimento internacional que iria levar ao enorme triunfo do modelo: o ECU, a integração europeia, e finalmente o Euro. Somente a partir do momento em que o processo de integração europeia se tornou claramente irreversível, levando à criação de um regime de câmbios ”praticamente” fixos, e a moeda única no horizonte, é que muitos economistas perceberam bem a verdadeira dimensão do que dois brilhantes economistas tinham defendido três décadas passadas. No entanto, as mensagens dos modelos de Mundell—Fleming são claras: quando se abre CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 38 a economia ao exterior, a eficácia da política monetária e da política fiscal terão de ser olhadas segundo uma nova perspectiva, a qual está em muitos casos totalmente ausente da apresentação convencional do modelo Keynesiano. Veja—se, por exemplo, o que acontece com os argumentos facilmente encontrados em comentadores portugueses sobre a simetria imposta para os défices orçamentais ao nível da UE: ” Porque razão todos os países da UE terão de ter um mesmo ”target” para o défice orçamental?”, ou ”Porque razão o Banco Central português não intervém para provocar uma baixa nas taxas de juro, quando está eminente uma recessão económica?” (este última questão diz respeito ao período entre 1992 e 1995). As limitações à política fiscal e política monetária que explicam as razões de tais comportamentos por parte da UE e do Banco Central podem facilmente ser encontradas nos modelos de Mundell—Fleming, mas não no modelo standard Keynesiano. 3 3.3 Oferta agregada A primeira versão do modelo Keynesiano, a versão tipo Hicks—Hansen e que foi largamente dominante durante a década de 50, incluía preços fixos. Três artigos foram fundamentais para a incorporação do mercado de trabalho, e consequentemente, de uma função preços ou oferta agregada no modelo: Modigliani (1944) introduziu a noção de função de produção e mercado de trabalho com rigidez salarial; Metzler (1951) apresentou a noção de expectativas, efeito de riqueza, bem como a restrição orçamental (embora estes aspectos nunca tenham sido dominantes no meio Keynesiano); enquanto que Phillips (1958) apresentou o conceito que ainda hoje domina grande parte das discussões macroeconómicas e que acabou por herdar o seu nome, ou seja, a Curva de Phillips. 3.3.1 O Modelo: Equações Uma versão do modelo dominante com preços flexíveis pode ser simplificada através de três equações que iremos explicar de seguida. A oferta de salário por parte das empresas resulta de um processo de maximixação de lucros em situação de concorrência imperfeita e pode ser expressa Sw Aw = (1 + )Zw 3 (3.7) Não será de estranhar que muitos dos livros—texto dominantes na década de 70 e 80 não apresentassem qualquer referência ao modelo de Mundell—Fleming. Por exemplo, vide Branson ”Macroeconomics”, 1st Edition, 1977, ou Robert Gordon ”Macroeconomics”, 1st Edition (1981). O único livro que sempre deu alguma ênfase ao modelo de Mundell— Fleming foi Dornbush and Fischer ”Macroeconomics”, desde a primeira edição (1978). No entanto, o modelo era analisado nos dois últimos capítulos do livro (vide 1d e 2d edições). Um certo distanciamento ao modelo continua ainda a manter—se. Por exemplo, livros mais recentes como o de Landsburg and Feisntone ”Macroeconomics”(1997), ou mesmo o de Barro e Grilli ”European Macroeconomics” (1994), sendo este último caso difícil de compreender até pelo próprio título. CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 39 sendo A> S> e Z , respectivamente, produtividade média (e marginal) do trabalho, nível geral de preços, margem de mark—up sobre os custos marginais, e salários nominais (ou custos marginais). Note—se que A 0 reflecte uma situação de mercados imperfeitos, já que se assume que as empresas operam numa situação de concorrência monopolística. A produtividade do trabalho é constante, pois assumimos uma função de produção agregada linear: |w = AOw > = 1= A segunda equação apresenta o comportamento dos trabalhadores, sendo dada por dois segmentos, dependendo da proximidade à situação de pleno emprego. Para simplificar estas duas situações podem ser representadas por μ ¶ Zw Ow = q zmin + h > abaixo do pleno emprego Sw (3.8) O = Õ , pleno emprego sendo O> Õ> Z> zmin , e S h , respectivamente, nível de trabalho oferecido (ou nível de emprego), nível de emprego correspondente ao pleno emprego, nível dos salários nominais pretendidos pelos trabalhadores, nível dos salários mínimos que os trabalhadores exigem em concertação social, e expectativas sobre os preços que deverão vigorar no período corrente (uma forma mais rigorosa de expressar esta última variável será: Swh = Hw31 Sw )=4 Das condições acima pode—se facilmente concluir que a oferta de trabalho aumenta se os salários reais esperados aumentarem, ou se os salários mínimos diminuírem. O equilíbrio no mercado de trabalho é obtido através da igualdade das equações (3.7) e (3.8), sendo as situações relativas ao equilíbrio abaixo do pleno emprego e no pleno emprego dadas, respectivamente, por ¶ μ Aw Sw OWw = q zmin + 1 + Swh (3.9) OWw = Õ Na situação abaixo do pleno emprego, o volume de emprego diminui se uma das seguintes situações se verificar: • A produtividade do trabalho diminuir: Aw & • O rácio de preços efectivos sobre preços esperados diminuir: Sw & Swh Esta expressão pretende mostrar que os agentes formulam expectativas em w 3 1 , (Hw31 ) > sobre o nível de preços que deverá vigorar em w , (S w). Ao longo do texto, poderemos utilizar uma ou outra dependendo das exigências de clareza e do contexto em que um assunto é discutido. 4 CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 40 W Wd [ aumenta Wts Pt ƣ 1[ A Ws0 B Ws1 P e . wmin L1* L0* L Figura 3.8: O impacto de um aumento na taxa de mark—up () sobre o equilíbrio do mercado de trabalho. O resultado seria semelhante se os preços (S ) diminuissem. • O poder negocial dos trabalhadores levar a um aumento do nível dos salários mínimos: zmin % • O poder negocial das empresas levara a um aumento da taxa de mark— up: % Todas estas alterações encontram—se representadas graficamente nas Figuras 3.8 e 3.9. A substituição da equação (3.9) na função de produção agregada dará o resultado ¶ μ Sw v | = ( zmin > w > Aw > h Sw com (1 ? 0> (2 ? 0> (3 A 0> (4 A 0= Assumindo que os salários mínimos e a margem de mark—up permanecem constantes, a oferta poderá crescer permanentemente se a produtividade dos trabalhadores aumentar (Aw subir) ou se existir uma erosão permanente dos salários reais dos trabalhadores (ou seja, se Sw @Swh aumentar permanentemente período, após período). Atente— se bem neste resultado: ceteris paribus, para que haja aumento na produção, da oferta de bens e serviços, e, consequentemente, do emprego é necessário que se verifique uma descida dos salários reais dos trabalhadores. CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 41 W Wd1 Wd0 P.A B A Ws (P e . wmin)1 (P e . wmin)0 L*1 L*0 L Figura 3.9: O impacto de um aumento nos preços esperados (S h ) ou no salários minímos (zmin ) sobre o equilíbrio do mercado de trabalho. Este resultado parece ser um pouco estranho em termos de intuição económica porque, numa situação de expansão económica, parece ser mais razoável que todos os agentes beneficiem dessa expansão, inclusive (e muito particularmente) os trabalhadores porque se verifica um aumento da procura de serviços do trabalho pelas empresas. Este ponto ficou conhecido como o puzzle de Dunlop—Tarshis.5 Devemos realçar que este resultado não é uma mera particularidade do modelo específico que temos estado a apresentar. Pelo contrário, a sua inspiração pode ser encontrada na própria ”Teoria Geral” de Keynes, e tem sido mantida como um dos alicerces fundamentais do modelo standard Keynesiano (senão mesmo ’o’ alicerce fundamental), através da chamada ”ilusão monetária” que leva a que os trabalhadores se preocupem mais com os salários nominais do que com os reais. A questão é tão crucial para o modelo que o próprio Keynes respondeu às dúvidas de Dunlop e Tarshis num artigo – Keynes (1939) – que agora costuma fazer parte como apêndice da ”Teoria Geral”. Curiosamente, Keynes não reclamou vitória da sua teoria sobre os argumentos de Dunlop—Tarshis, mas terminou o artigo com uma recomendação clara, que incluía três pontos para clarificar em futura investigação empírica. Em 1939, Tarshis voltou atrás e aderiu à perspectiva contida na ”Teoria Geral” e, infelizmente, os 5 Vide Dunlop (1938) e Tarshis (1938). CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 42 três pontos ficaram esquecidos no tempo durante várias décadas, enquanto o modelo standard dominou o mundo da macroeconomia a nível internacional. Limitação 8 O modelo prevê que choques positivos sobre a procura agregada levem a aumentos da produção, dos preços, e consequentemente a um aumento do nível de desemprego. No entanto, isto só é possível através de uma diminuição dos salários reais. Portanto, os salários reais surgem no modelo como contra—cíclicos, o que é facilmente refutado por larga evidência empírica. 3.3.2 Expectativas Adaptativas Uma possibilidade ao alcance dos trabalhadores no sentido de superarem o problema da ”ilusão monetária” reside na formulação de expectativas sobre a evolução dos preços e exigir aumentos dos salários nominais de acordo com essas expectativas. Este aspecto incongruente do modelo poderia ser eliminado com um tratamento adequado do processo que conduz à determinação do nível de S h . Infelizmente, não somente o mesmo problema acaba por ser confirmado, como se torna ainda mais claro com o tratamento específico que o modelo dá ao problema da formulação de expectativas. As críticas de Phelps (1967) e Friedman (1968) levaram à introdução do conceito de expectativas adaptativas as quais podem ser apresentadas por ¡ ¢ h + S h , A0 (3.10) Swh = Sw31 w31 Sw31 onde é o factor de correcção do erro de expectativas cometido no período w1> ou seja dá—nos a velocidade com que os erros do passado são corrigidos. Existem três casos que são bastante relevantes para o processo de descrição da formulação de expectativas: =0 $ expectativas míopes 0 ? ? 4 $ expectativas adaptativas $4 $ expectativas ”racionais” No caso das expectativas adaptativas os agentes económicos vão aprendendo ao longo do tempo os erros que cometem e procuram corrigir os mesmos da melhor forma possível.6 No entanto, levam sempre algum tempo a detectar os erros que cometeram e, consequentemente, isto implica que levarão também sempre algum tempo a reagirem a esses mesmos erros. Portanto, quanto maior for o valor do parâmetro > maior será a velocidade com que os agentes se apercebem e corrigem os erros que cometeram no passado. 6 Os artigos mais representativos que lançaram este tipo de expectativas na teoria económica são os seguintes: Cagan (1956), Phelps (1967), Friedman (1968). CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 43 Assumir um processo de expectativas adaptativas apresenta vantagens e desvantagens. Como vantagens óbvias da adopção deste comportamento para prever a evolução esperada dos preços temos os seguintes argumentos: permitem evitar os efeitos nocivos da inflação sobre os salários, eliminam a subjectividade de medir ”expectativas”, e têm uma larga aplicabilidade. Evitar os efeitos nocivos da inflação sobre os salários. Se os agentes económicos (neste caso os trabalhadores) não incorporassem os efeitos esperados da inflação sobre o seu comportamento no mercado de trabalho sofreriam uma descida dos seus salários reais em situações inflacionistas. Portanto, segundo os economistas que propõem este tipo de expectativas, os agentes económicos poderão ser iludidos por variações de preços mas apenas temporariamente, porque os agentes reagem àquelas variações ao longo do tempo. Elimina a subjectividade de medir ”expectativas”. Variáveis económicas que tenham a forma de expectativas são extremamente difíceis de medir em termos objectivos devido as seu elevado grau de subjectividade. Se falamos de expectativas, é muito provável que as mesmas sendo formuladas por diferentes agentes económicos sobre uma mesma variável macroeconómica produzam diferentes resultados. A natureza das expectativas tem à partida um grau de subjectividade que não pode ser (aparentemente) eliminado, no entanto, o processo das expectativas adaptativas permite grandemente reduzir esta subjectividade porque permite obter o valor do preço esperado para um dado ano como uma função apenas dos valores do preço efectivo desfasados no tempo. Utilizando a equação (3.10), e resolvendo a mesma por iteração ”backward” para os períodos w 1, w 2, etc., obteremos h h (1 )3 Sw33 === Swh = Sw31 (1 ) Sw32 (1 )2 Sw32 de onde se obtem Swh = " X (1 )l Sw313l (3.11) l=0 Como pode ser facilmente constatado, a variável esperada na equação acima depende apenas de variáveis observadas ou efectivas no passado (a subjectividade está eliminada). Por outro lado, o valor da variável esperada é totalmente ”backward looking”, ou seja , as decisões económicas dos trabalhadores sobre as expectativas de inflação não incluem qualquer força do presente, apenas forças do passado. Este segundo aspecto relativo à equação (3.11) acaba por encarnar a principal filosofia do modelo básico Keynesiano e representa uma enorme limitação do mesmo para explicar os acontecimentos económicos mais recentes. Como inconvenientes das expectativas adaptativas, devem ser referidos os CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 44 12.5 16 (a) 12 (b) 15 11.5 14 11 13 10.5 12 10 11 9.5 10 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 (c) 16 14.5 13 — Preço efectivo — Preço esperado 11.5 10 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 Figura 3.10: O erro sistemático na formulação de expectativas seguindo o processo adaptativo com = 0=6. Em (a) temos apenas um único choque sobre o nível de preços efectivos; em (b) temos choques mais frequentes; em (c) temos choques (uma subida) permanentes sobre o nível de preços. seguintes aspectos: requerem grande quantidade de informação,7 produzem um erro sistemático, denotam irracionalidade dos agentes. Erro sistemático. Pode ser facilmente demonstrado que no longo prazo os preços esperados só convergem para o preço efectivo (isto é, os erros do passado serão inteiramente corrigidos e, portanto, anulados) se o preço efectivo sofrer um choque num determinado ano e depois permanecer inalterado ao longo do tempo. Isto implica que, se se verificar uma subida permanente dos preços efectivos (mesmo que pequena), os preços esperados estarão sempre abaixo dos efectivos se o processo de expectativas for o adaptativo. Vide este ponto através da Figura 3.10. Suponha uma dada economia onde numa situação inicial o nível de preços efectivos é de S = 10, mantendo—se este constante por um determinado período de tempo. Nesta economia, os agentes económicos corrigem os erros do passado com um coeficiente = 0=6> e na situação inicial o nível dos preços esperados é de S h = 10. 7 Por uma questão de limitação de espaço, irei passar por cima desta primeira limitação, porque não é de facto a mais importante. Para mais detalhes, vide capítulo 10 do livro de Mendes e Vale (2002). CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 45 No caso acima apresentado, os trabalhadores são iludidos pela inflação mas apenas durante algum período de tempo – sofrendo uma perda dos seus salários reais temporariamente – já que ao fim de cerca de 5 ou 6 anos os seus salários reais voltaram ao nível que se verificava antes da alteração nos preços efectivos. No painel (c) da Figura 3.10 apresentamos uma situação em que a partir de w = 10 os preços efectivos aumentam todos os anos em 5%. Nesta situação os preços esperados passam a aumentar também todos os anos somente que numa percentagem inferior em virtude de = 0=6. Assim, a partir de w = 10 os preços esperados passam a estar sempre a baixo do nível dos preços efectivos de forma permanente, verificando—se também que o hiato entre estes dois preços tende a aumentar de forma gradual. Como é facilmente compreensível, este método não parece ser de forma alguma um método racional para os trabalhadores evitarem perda dos salários reais causada por alterações imprevistas no nível geral de preços. Portanto, parece claro que existe uma séria contradição entre o principal objectivo dos trabalhadores quando pretendem formular expectativas sobre a evolução do nível de preços efectivos (não perder poder de compra dos seus salários reais) e o resultado que surge quando utilizam o método adaptativo. Este processo produz um erro sistemático de previsão, o que não é razoável para os interesses dos trabalhadores. Como existe na prática todos os anos uma subida dos preços efectivos, ao seguirem este processo em situações inflacionistas é precisamente uma perda sistemática do poder de compra dos seus salários reais que se obtém como resultado. Assim, se os agentes económicos seguissem este processo, isto revelaria alguma irracionalidade por parte dos mesmos e é pouco provável, portanto, que este seja o método que os trabalhadores e as suas associações utilizem para conceberem expectativas sobre a evolução dos preços ou de outra variável macroeconómica. Irracionalidade. A irracionalidade não se limita ao erro sistemático acima referido. Neste processo a única informação utilizada pelos agentes económicos para processarem as expectativas é o valor dos preços efectivos, e os seus valores verificados no passado. Mas não existirão outras variáveis económicas, como por exemplo as decisões de política económica do Governo ou do Banco Central, que possam ter um maior peso para a evolução dos preços do que os valores que estes assumiram dois ou três anos atrás? A resposta deve ser afirmativa e, portanto, a incapacidade dos agentes para incorporarem outro tipo de informação ao efectuarem as suas expectativas sobre o nível geral de preços revela também alguma irracionalidade por parte dos mesmos e representa outra limitação significativa do processo de expectativas adaptativas. CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 3.3.3 46 As limitações do modelo A hipótese das expectativas seguirem um processo adaptativo acaba por constituir o exemplo claro de que os trabalhadores não conseguem superar o problema da ”ilusão monetária” que o modelo herdou desde Keynes, mesmo usando métodos sofisticados de cálculo. Como vimos acima, a ”ilusão monetária” leva a que, perante um aumento da procura agregada, só se verifica um aumento da produção, da oferta de bens e serviços, e do emprego se se verificar uma descida dos salários reais dos trabalhadores. Ou seja, neste modelo os salários reais serão necessariamente contra—cíclicos. No entanto, este resultado é facilmente refutado em termos empíricos e a crítica a este resultado (bem como ao comportamento dos trabalhadores associado ao modelo) é um dos pontos fundamentais em que assenta a revolução dos ”Ciclos Económicos Reais”. Inúmeros estudos empíricos têm demonstrado que os salários reais não são contra—cíclicos como o modelo standard previa (entre outros vide, Solon et al. 1994, Bils 1985, McCallum, 1986, e Fleischman 1999). Como McCallum torna claro no seu artigo de 1986: ”If wage stickiness alone were responsible for the real eects of monetary actions, with product prices adjusting flexibly, then we should observe countercyclical movements in the real wage. That we do not has recently been reconfirmed by Bils (1985).” Um exemplo muito simples permite mostrar o erro grosseiro associado à perspectiva do velho modelo Keynesiano. Na Figura 3.11 apresentamos a evolução dos salários reais e do PIB real para os EUA para o período entre 1947 e 2000. Como se pode verificar no painel superior direito, onde a taxa de crescimento do PIB é definida por G(RealGDP) e a dos salários reais por G(RealWages), os salários são pró—cíclicos e relativamente menos voláteis do que o PIB. No painel inferior direito pode—se ainda mais facilmente constatar que existe uma elevada correlação entre os salários reais e o PIB real – de facto, os desvios padrões das taxas de crescimento são S LE = 0=102 e Z = 0=096> e o coeficiente de correlação é de U2 = 0=79 – pelo que o resultado do modelo é difícil de aceitar, bem como o tipo comportamento dos trabalhadores que o modelo preconiza.8 Em termos de conclusão, da análise do bloco da oferta e do mercado de trabalho retiramos dois pontos fundamentais: 8 Note—se que uma saída possível para o modelo Keynesiano standard evitar o comportamento contra—cíclico dos salários reais poderia residir numa de duas hipóteses: (i) se a margem de mark—up for contra—cíclica, eliminado assim a necessidade dos salários reais serem forçados a descer perante um aumento da procura agregada, conforme modelos desenvolvidos por Rotemberg and Saloner (1986) e Rotemberg and Woodford (1991); (ii) os salários mínimos reais fossem contra—cíclicos, o que produziria o mesmo efeito. No entanto é pouco provável que a margem de mark—up seja contra—cíclica e que os trabalhadores aceitem salários mínimos mais baixos em períodos de expansão económica. Por isso, estas duas hipóteses não ganharam credibilidade para explicar o puzzle do modelo Keynesiano standard e foram abandonadas nos últimos anos. CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO GDPC1 WASReal PIB real 47 .04 G(RealGDP) G(RealWages) 7500 .02 5000 0 2500 Salários reais 1950 1960 1970 1980 1990 -.02 2000 1950 .04 GDPC1 x WASReal 1960 1970 1980 1990 G(RealGDP) x G(RealWages) 7500 .02 5000 0 2500 -.02 1000 2000 3000 4000 -.02 -.01 0 .01 Figura 3.11: Os salários reais e o PIB real para os EUA: 1947—2000. .02 .03 2000 CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 48 Limitação 9 Os trabalhadores são irracionais já que produzem um erro sistemático na formulação de expectativas, usando apenas parte da informação disponível (informação sobre o passado) Limitação 10 Mesmo com a incorporação de expectativas sobre a evolução de preços no comportamento dos trabalhadores, os salários reais continuam a ser contra—cíclicos. Da conjugação destes dois aspectos cruciais do mercado de trabalho resulta a mensagem fundamental do modelo Keynesiano em termos macroeconómicos: Limitação 11 É possível gerir a política fiscal e a política monetária de forma a obter uma relação permanente entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego, enquanto a economia não chegar à situação de pleno emprego. Ou seja, mesmo a própria política monetária pode produzir efeitos reais no longo prazo, pelo menos até que a taxa natural de desemprego seja alcançada. A lógica associada à condução das duas políticas é muito simples: % P =,% | g =,% S =,& (S@S h ) =,& (Z@S ) =,% O =,% | % j =,% | g =,% S =,& (S@S h ) =,& (Z@S ) =,% O =,% | Infelizmente, a simplicidade desta lógica não corresponde à evidência do poder efectivo da política fiscal, nem sobretudo da política monetária. Caso os trabalhadores não se deixem iludir de forma permanente pelo mero aumento dos salários nominais, a partir do momento em que abandonemos as expectativas adaptativas ou qualquer outro método baseado em iteração ”backwards”, o resultado lógico deste tipo de política económica é gerar situações de elevada inflação, com efeitos bastante reduzidos ou nulos sobre as variáveis reais. Como Phelps (1967) e Friedman (1968) salientaram, a curva de Phillips ”backward looking” só permitiria efeitos reais às políticas económicas caso os seus choques não fossem antecipados. Caso fossem antecipados, os únicos efeitos seriam nominais, gerando inflação e nenhum aumento do emprego, mesmo se a economia estivesse num equilíbrio abaixo do pleno emprego. Esta possibilidade não está consagrada no modelo básico Keynesiano porque os trabalhadores não têm a possibilidade de anteciparem de forma perfeita os choques resultantes de políticas económicas. Uma Curva de Phillips de acordo com este tipo de comportamento por parte dos trabalhadores pode ser apresentada através da seguinte expressão w = (Hw31 w ) + y(x̃ xw ) + %w , (3.12) com 0 ? ? 1> y A 0> e representando > H> x> x̃> e %w , respectivamente, a taxa de inflação, operador de expectativas, taxa de desemprego, taxa natural CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO S S 4e% S 5e% S 6e% 49 Curva de Phillips de longo prazo Curva de Phillips: Deslocamentos de curto prazo 6% B • C • •D •A 4% ~ u u1 u0 u Figura 3.12: A Curva de Phillips no modelo Keynesiano com expectativas adaptativas. de desemprego, e choques de oferta com média nula e variância constante, %w (0> 2 )= Esta função está representada na Figura 3.12. Suponha que a taxa de inflação inicial era de 4%, o valor esperado dos preços é de 4% e a taxa de desemprego x0 .9 Se o Banco Central pretender diminuir a taxa de desemprego para o nível da taxa natural de desemprego, x̃, através de um aumento na massa monetária, isso irá provocar um aumento de preços. Caso os trabalhadores continuem com expectativas de 4%, o novo equilíbrio será em B, perdendo 2% nos salários reais. Na hipótese de anteciparem os efeitos da decisão do Banco Central, e conceberem expectativas em como os preços irão aumentar em 5% (portanto, exigindo aumentos dos salários nominais de 5%), o novo equilíbrio será C, vendo os seus salários reais diminuírem 1%, e o nível da taxa de desemprego superior à taxa natural. Finalmente, se anteciparem correctamente o aumento dos preços, o novo equilíbrio será em D, manterão os seus salários reais inalterados, bem como o nível da taxa de desemprego. No entanto, o cenário mais provável no modelo Keynesiano standard será o que leva ao equilíbrio no ponto C, já que em B teríamos expectatiNote que expressamos o valor esperado dos preços por h = No entanto hw e Hw31 w representam a mesma variável. Infelizmente, a introdução de símbolos matemáticos em figuras ainda é bem mais complicada do que no texto. 9 CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 50 vas míopes, enquanto que D é um resultado condizente com expectativas racionais. A questão pertinente que se coloca é a seguinte: sendo o movimento A$B$C o mais favorecido pelo modelo, porque razão a Curva de Phillips ”backward looking” não pode ser utilizada no sentido da política económica eliminar o desemprego (ou melhor, manter a taxa de desemprego ao nível da taxa natural x̃) mesmo que seja à custa de elevada inflação? Isto é, após a economia ter alcançado o ponto C, o Banco Central pode iniciar uma nova política expansionista no sentido de deslocar a economia para um ponto a noroeste de C, com taxas de inflação mais elevadas, mas com uma taxa de desemprego mais próxima de x̃. A explicação para o provável insucesso desta política prende—se com a evidência na década de 70, a qual favorecia mais o cenário conduzente ao ponto D, do que o movimento para C, ou mesmo para noroeste de C, pelo que mais inflação não levava necessariamente a uma diminuição do desemprego. Portanto, caso esta política fosse implementada, o resultado mais provável seria uma taxa de desemprego de x0 , contra expectativas inflacionistas cada vez mais elevadas, o mesmo se verificando com a taxa de inflação. Ou seja: Limitação 12 A realidade mostrou (e mostra) que a hipótese dos decisores de política económica serem racionais e conhecerem com precisão o funcionamento da economia, enquanto que os trabalhadores são irracionais e desconhecem os aspectos fundamentais deste funcionamento – tal que os primeiros podem assim explorar o trade—o permanente entre a inflação e o desemprego (pelo menos até que o pleno emprego seja alcançado) – não tem razoabilidade nem em termos lógicos, nem em termos empíricos. Esta foi a razão fundamental que acabou por levar todo o modelo Keynesiano a sucumbir durante a década de 70 e que permitiu ao principal impulsionador na revolução das Expectativas Racionais proclamar no final da década de 70 ”The Death of Keynesian Economics”: ”One cannot find good, under—forty economists who identify themselves or their work as ’Keynesian’. Indeed, people even take ofense if referred to as ’Keynesians’. At research seminars, people don’t take Keynesian theorizing seriously anymore; the audience starts to whisper and giggle to one another.” Robert Lucas (1980, 18). Não se pense que este ”debacle” do modelo Keynesiano é exagerado nas palavras de um economista que, à partida, se situava num espaço onde o Keynesianismo não era bem visto. Um insuspeito Keynesiano de longa data, Alan Blinder, tornava a questão clara quando escrevia em 1988: ”By about 1980, it was hard to find an American academic macroeconomist under the age of 40 who professed to be a Keynesian. That CAP 3. O VELHO MODELO KEYNESIANO 51 was an astonishing intellectual turnabout in less than a decade – an intellectual revolution for sure – the young were recruited disproportionatelly into the new classical ranks .... By 1980 or so, the adage ’there are no Keynesian under the age of 40’ was part of the folklore of the (American) economics profession” (1988, 278). De seguida passamos a apresentar os aspectos fundamentais de uma nova revolução que acabou por recuperar o espírito Keynesiano como uma corrente dominante no seio da teoria macroeconómica. Perante a falta de imaginação, e levando em consideração que não aprecio muito o termo ”Nova Síntese Neoclássica”, designo esta nova corrente dominante por ”Novo Keynesianismo”. De facto, a essência do novo consensus é em espírito totalmente Keynesiana, apesar de na forma poder parecer um pouco diferente. Capítulo 4 O Novo Modelo Keynesiano: O Consensus ”The field of macroeconomics has witnessed in recent years the development of a new generation of small-scale monetary business cycle models, generally referred to as New Keynesian (NK) models or New Neoclassical Synthesis models. The new models integrate Keynesian elements (imperfect competition, and nominal rigidities) into a dynamic general equilibrium framework that until recently was largely associated with the Real Business Cycle (RBC) paradigm. They can be used (and are being used) to analyze the connection between money, inflation, and the business cycle, and to assess the desirability of alternative monetary policies”. Jordi Gali, 2000; 1 4.1 Introdução Depois do leitor ter passado pela secção anterior deverá ficar com a ideia de que o consensus que referimos nas primeiras páginas deste texto deverá ter muito pouco de Keynesianismo, e muito de ideias do lado mais conservador em termos de orientação filosófica quanto aos princípios gerais de organização social e económica. Deverá também pensar que os conceitos fundamentais da herança histórica do Keynesianismo que acabámos de apresentar (e criticar) – como as funções IS, LM, Curva de Phillips, rigidez de preços e de salários, etc. – são erradicados da nova terminologia e dos aspectos formais da modelização. Caso tenha porventura concebido esta ideia: ela está errada e a culpa talvez seja do redactor deste texto. O Novo Modelo Keynesiano é o velho modelo Keynesiano mas sem os aspectos que acabaram por o empurrar para a falência no fim da década de 60. Tem as mesmas funções, mas com alguns novos argumentos; não tem expectativas adaptativas porque as mesmas não fazem logicamente sentido; 52 CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 53 tem expectativas que à falta de melhor termo poderão chamar—se ”forward looking”,1 e tem um papel crucial para a política monetária, para a independência dos bancos centrais, e para o combate à inflação. Continua a ter um papel para a política fiscal, mas em moldes mais reservados, embora as ”regras” de conduta do Governo ainda não estejam tão clarificadas como as que deverão guiar a condução da política monetária, pelo que os resultados sobre a conduta óptima da política fiscal podem trazer algumas novidades no futuro. Existem muitas questões que ainda dividem o mundo dos economistas que têm estado na origem do desenvolvimento do novo consensus. Nem a terminologia, nem o verdadeiro alcance da nova revolução, nem as fidelidades dos vários actores (pelo menos os mais activos no debate) por escolas de pensamento estão totalmente clarificadas. Os últimos dez/doze anos foram absolutamente notáveis em termos do debate travado entre RBC e Novos Keynesianos. No entanto, as dúvidas que subsistiam no início da década passada sobre os prováveis caminhos da macroeconomia foram ficando solucionadas com o peso da lógica dos argumentos e o peso dos resultados empíricos. Por isso, será interessante verificar o que pensam alguns daqueles que, no meu entender, mais de perto contribuiram para este processo. Talvez a melhor forma seja começar com um economista consagrado, Costas Azariadis, que escrevia no seu conhecido livro texto sobre ”Intertemporal Macroeconomics” uma opinião inequívoca sobre o poder do modelo IS—LM: ”It is fair to warn the reader that the once very popular IS-LM framework by now belongs to the history of economic thought as an unsuccessful attempt to analyze purely short-run macroeoconomic events, often by mean of reasonable looking behavioral relationships such as the aggregate consumption function, the investment function and the liquidity preference schedule. Because none of these schedules follows from any small set of consistent axioms about rational economic behavior, economists often say that IS-LM structure lacks microeconomic foundations.” Costas Azariadis (1993, 46). No entanto, Paul Krugman não vê a questão do mesmo modo. Com o humor conhecido, e com a também conhecida peculiaridade de não ter 1 Embora muitos lhe prefiram chamar ”expectativas racionais”. Pessoalmente, não aprecio nem a conotação nem o sentido do conceito pois ele encarna a hipótese de que os agentes económicos não cometem erros em termos médios. Considero imprescindível que as expectativas sejam ”forward looking”, mas penso que não é necessário ir tão longe como considerar que os agentes nunca se enganam. A realidade está cheia de provas em como todos nós pretendemos acertar no futuro, mas raramente acertamos. No entanto, isto não significa que passemos apenas a olhar para o passado, neste caso raramente nos enganamos, mas também de pouco ou nada serve. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 54 receio de dizer em público aquilo que muitos economistas preferem manter em privado, Krugman ridiculariza os anos dourados de ”aversão” à filosofia económica associada ao Keynesianismo bem como à velha terminologia: ”You see, younger macroeconomists – say, those under 40 or so – by and large don’t know this stu [the IS—LM model]. Their teachers regarded such constructs as the IS—LM model as too ad hoc, too simplistic, even to be worth teaching – after all, they could not serve as the basis for a dissertation. Now our younger macro people are certainly very smart, and could learn the material in order to teach it – but they would find it strange, even repugnant ... Now you might say, if this stu is so out of fashion, shouldn’t it be dropped from the curriculum? But the funny thing is that while old—fashioned macro has increasingly been pushed out of graduate programs ... out there in the real world it continues to be the main basis for serious discussion. After 25 years of rational expectations, equilibrium business cycles, growth and new growth, and so on, when the talk turns to Greenspan’s next move, or the prospects for EMU, or the risks to the Brazilian rescue plan, it is always informed – explicitly or implicitly – by something not too dierent from the old-fashioned macro.” Paul Krugman (1999, pag. 1). Um caso interessante de mudança de opinião relativamente ao poder do Keynesianismo para explicar os fenómenos económicos parece—me ser o de Robert King. Um dos principais impulsionadores da corrente dos Ciclos Económicos Reais, King criticava abertamente o modelo Keynesiano tão longe no passado como em 1993: ”Economists should not be led astray by this advertising campaign [to ressurect the IS—LM model], sophisticated and recurrent though it is. The IS—LM model has no greater prospect of being a viable analytical vehicle for macroeconomics in the 1990s than the Ford Pinto has of being a sporty, reliable car of the 1990s. Because of its treatment of expectations, the IS—LM model, as traditionally constructed and currently used, is a hazardous base on which to build positive theories of business fluctuations and to undertake policy analysis. Robert King (1993, pag. 68) Em 1997 King juntamente com Marvin Goodfriend apresentariam aquilo que pode ser considerado como o primeiro ”survey” relativamente à nova corrente Keynesiana.2 Em 2000, Robert King publica aquele que irá ser certamente um dos mais lidos ”surveys” sobre o novo consensus. O título 2 Vide Goodfriend and King (1997). CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 55 é sugestivo: ”The New IS—LM Model: Language, Logic, and Limits” e a posição do autor parece ser bastante favorável ao novo modelo IS—LM: ”The distinguishing characteristic of the NewIS-LM model is that its key behavioral relations can be derived from underlying choice problems of households and firms and that these relations consequently involve expectations about the future in a central manner. The IS curve relates expected output growth to the real interest rate, which is a central implication of the modern theory of consumption. The aggregate supply/Phillips curve component of the model relates inflation today to expected future inflation and an output gap. This relationship can be derived from a monopoly pricing decision that is constrained by stochastic opportunities for price adjustment together with a consistent definition of the price level. The New IS-LM model is increasingly being utilized to illustrate macroeconomic concepts that are robust across a variety of more detailed models and to exposit the implications of alternative monetary policy rules.” Robert King (2000, pag. 87) Outro aspecto interessante do processo de evolução da teoria económica ao longo da última década diz respeito à questão concreta da utilidade da velha terminologia do modelo IS—LM. Faz sentido/não faz sentido continuar a utilizar estas funções para modelizar o comportamento da economia neste novo período da teoria económica? É útil do ponto de vista científico, ou apenas ao nível pedagógico? A Curva de Phillips tem alguma relevância no mundo actual? Um exemplo relevante é a posição de Greg Mankiw, autor de dois livros de texto de teoria económica (que se tornaram best—sellers) e um dos mais relevantes elementos do Novo Keynesianismo ao longo das últimas décadas: ”The textbook IS—LM model, augmented by the Phillips curve, continues to provide the best way to interpret discussions of economic policy in the press and among policy makers ... The observation that recent developments [in Real Business Cycles] have had little impact on applied macroeconomics creats at least the presumption that these developments are of little use to applied macroeconomists. ” Gregory Mankiw (1990, 1645—46) Mankiw editou, conjuntamente com David Romer, um dos principais compêndios da corrente Nova Keynesiana em 1991. Dois volumes designados por ”New Keynesian Economics”. Será no mínimo curiosa a posição recente de David Romer sobre o modelo IS—LM—AS, pois considera—o totalmente irrelevante para a investigação e mesmo para o ensino (!) da nova macroeconomia: CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 56 ”Changes in both the macroeconomy and in macroeconomics sugest that the IS—LM—AS model is no longer the best baseline model of short—run fluctuations for teaching and policy analysis. This paper presents an alternative model that ... is simpler, more realistic, and more coherent than the IS—LM—AS, not just in its treatment of monetary policy but in many other ways.” David Romer (2000, pag.1) Para terminar, o caso mais interessante. Martin Eichenbaum e Larry Christiano são dois dos mais respeitados macroeconomistas da nova geração. São colegas na mesma universidade, do mesmo departamento de economia (Nortwestern, Evanston—Chicago),3 têm uma posição muito próxima sobre as principais questões da macroeconomia, tanto mais que a maior parte da produção científica dos dois é conjunta. Recentemente foram entrevistados sobre o ”Estado da Macroeconomia”.4 Facto curioso: os dois apresentam posições bem diferentes quanto à importância ou relevância do modelo IS— LM. Vejamos as suas respostas (as perguntas em itálico): ”[10] Is there still some advantage to studying the IS-LM model? ”No. It’s just a way of not being explicit about the important assumptions you’re really making. Is it possible to introduce the recent macroeconomic developments (real business cycle, endogenous growth and so on) in the IS-LM framework? Why bother? Economics should be tied to people and institutions. The IS—LM framework isn’t. When all is said and done, it’s a bunch of curves that represent someone’s hunch about various decision rules. I want to know about the actual problems that real people are solving. I just don’t see these things in an IS—LM diagram. I’m not alone in this perspective. What frontier research can you think of that actually uses the IS—LM framework? People like Greg Mankiw, David Romer and I may disagree about lots of things. But we’re not talking about the slope of the LM curve. We’re talking about what’s going on in product markets, labor markets, assets markets and so on. The way we resolve our disagreements is by expressing our views in models and then assessing the models using the best data we can get. There’s little to be gained from hiding behind the skirts of IS and LM curves. Martin Eichenbaum (1997, Resposta à pergunta 10, in Usabiaga (Ed.) ”[7] Is there still some advantage in studying the IS-LM model? Absolutely. I think that the IS-LM model is a very useful 3 Nenhuma relação com a Universidade de Chicago. Vide Carlos Usabiaga, (Ed.), ”The Current State of Macroeconomics: Methodology, Theory and Economic Policy”, McMillan, forthcoming. 4 CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO language for talking about macroeconomics with undergraduates. All the ideas of economics that have been discussed in the past couple of decades can be articulated with this framework, with minimal setup costs for the student. [8] However, many graduate students say that their professors criticize the IS—LM model ... The IS—LM model is a language. Its strength is its extreme flexibility, it can accommodate dierent elements, you can use it to express almost any idea. That’s an advantage for undergraduate teaching, it may also be an advantage when thinking casually. But, it is probably not appropriate for research. The big development since the seventies, in my view, is not so much substantive. The basic ideas of the pre-rational expectations revolution are still there: the economy needs some kind of institutional design to improve the performance of the business cycle. The economy, left to itself, is not going to necessarily end up in a good place. The basic ideas are still here. But there is a very important dierence. It is that now we are able to talk about those ideas with a level of precision that no one could have dreamt of before. And that level of precision is important for two reasons. First of all, we can make clear, when we discuss with each other, what are we talking about. The second thing is that it allows us to quantify things. For example, suppose someone wants to argue that business cycles are triggered by infectious waves of optimism in investment. In the past, a researcher might have explained this idea with a sudden shift to the right in the IS curve. This is now not considered appropriate. Now, the research must explain in detail how an infectious wave of optimism might take hold among people. The answer may involve externalities in production. If so, then the researcher must provide evidence that the externalities are su!ciently large empirically to justify the notion that infectious waves of optimism can occur. The new macroeconomic framework introduced by Lucas, Prescott, Sargent and Wallace made it possible to impose high standards on the degree of precision and clarity expected of researchers. As a result, it is easier than before to weed out bad ideas, and to build confidence and understand more deeply, the good ones. So, the lack of precision and clarity in the IS—LM model renders it inappropriate for economic research and the teaching of future economic researchers. Still, at the undergraduate level it can be very useful because of its simplicity and the absence of technicalities.” Larry Christiano (1998, Resposta 7 e 8, in Usabiaga (Ed.)) 57 CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 4.2 58 O Novo Modelo IS—LM—CP No sentido de simplificar a exposição, suponha a existência de uma economia fechada, onde, portanto, existem apenas três grandes mercados: bens e serviços, financeiro e monetário, e de trabalho. Caso pretenda um modelo com economia aberta, vide Razen and Yuen (2001) e McCallum and Nelson (2001).5 O primeiro conceito fundamental é o de ”output gap” ou ”hiato do produto”, o qual é definido como a diferença entre o nível do produto efectivo |) (|w ) e o nível do produto potencial (¯ {w = |w |¯ (4.1) sendo |¯ definido como o nível do produto que resultaria de uma situação onde todos os preços nominais fossem totalmente flexíveis, mas distorções de natureza real subsistissem na economia (imperfeições de mercado de vários tipos: poder de mercado de empresas, de sindicatos, ”menu costs”, etc.). Devemos realçar que esta relação que designámos por ”output gap” tem uma relação estreita com o hiato entre a taxa natural de desemprego (x̃) e a taxa de desemprego efectiva (xw ), bastando para tal assumir a existência de uma função de produção em que o factor trabalho seja um dos argumentos. Ou seja, podemos igualmente apresentar o output gap expresso em termos da diferença entre as taxas de desemprego {w = (xw x̄) , 0 ? 0 (4.2) Um segundo conceito fundamental é a chamada equação de Fisher Uw = uw Hw w+1 (4.3) sendo Uw > uw e Hw w+1 , respectivamente, a taxa de juro real, a taxa de juro nominal e a taxa de inflação esperada em w + 1. Note que esta equação é extremamente importante para o novo modelo porque as expectativas de inflação podem influenciar a taxa de juro real, e através dela a procura agregada de bens e serviços, e consequentemente, o nível do ”output gap”. Por outro lado, o ”output gap” determina o hiato entre a taxa de desemprego efectiva e a taxa natural de desemprego. Passemos agora para as equações fundamentais do modelo: Função IS, Função LM, Curva de Phillips. Existe uma terceira equação fundamental que pretende representar a actuação do Banco Central ao nível da escolha do óptimo ”trade—o” entre inflação e desemprego (ou ”output gap”). Contrariamente aos modelos dos Ciclos Económicos Reais, o Banco Central preocupa—se não somente com a inflação, mas também com o nível de desemprego existente na economia. 5 10. Uma óptima fonte para este tipo de análises é Obstfeld and Rogo (1996), cap. 9 e CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 4.2.1 59 A Nova Função IS Esta nova função pode ser apresentada pela equação |w = * (uw Hw w+1 ) + Hw |w+1 + jw (4.4) onde * A 0> sendo a única novidade jw , o qual é assumido como um choque da procura agregada: jw = 1 jw31 + w , com w (0> 2 ) e 0 ? 1 ? 1=6 Duas questões importantes relativamente a esta equação. A primeira é que ela pode ser derivada de um processo de optimização dinâmica por parte dos agentes económicos, o qual engloba dois ”trade—os”: poupança versus consumo, e lazer versus trabalho. Os dois aspectos fundamentais que são requeridos para obter esta função são: moeda na função de utilidade e mercados com empresas em competição monopolística com preços parcialmente ajustados ou ”staggered prices”.7 Por uma questão de economia de espaço não a derivamos aqui, no entanto as fontes que poderão ser consultadas são várias. Vide, por exemplo, Woodford (1996), Sims (1999, 2000), Yun (1996) ou McCallum (2001). A segunda característica importante da nova função IS consiste no facto da mesma ser muito semelhante à velha função, já que a taxa de juro, o rendimento, e os choques da procura agregada continuam a ser os factores explicativos. No entanto, existe uma diferença fundamental: em vez da taxa de juro nominal temos a taxa de juro real esperada, e em vez do rendimento corrente temos o nível esperado do rendimento no futuro. Ou, seja, a grande novidade consiste na incorporação de expectativas ”forward” no bloco da procura agregada de bens e serviços. Apesar da diferença parecer pouco significativa, no entanto, ela é crucial pois permite introduzir um vasto conjunto de novas considerações como iremos verificar. Na Figura 4.1 apresentamos a representação gráfica desta nova função. Note que poderíamos ser tentados a representar também um deslocamento da função no sentido contrário causado por um aumento em Hw w+1 = No entanto, isto seria errado já que a condução da política monetária de forma eficaz faz com que uma subida da taxa de inflação esperada implique uma subida das taxas de juro nominais, deixando assim a taxa de juro real inalterada e, consequentemente, a posição da função no plano (|> u). A função IS pode ser reescrita de uma forma equivalente mas mais útil para os passos seguintes. Sabendo que o nível do produto potencial é determinístico, podemos subtrair |˜w ao lado esquerdo e Hw |˜w+1 ao lado direito da 6 Este choque pode ser interpretado como o nível das despesas públicas, sendo estas utilizadas para estabilizar a economia. Portanto, tanto podem aumentar como diminuir. 7 Infelizmente não consegui encontrar um termo em português que possa traduzir fielmente o conceito de ”staggered prices”. Este conceito pretende transmitir a ideia de que em cada período de tempo, apenas uma proporção das empresas actualiza os seus preços, sendo o preço de mercado determinado pela média ponderada dos que mudam e dos que permanecem inalterados. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO Efeitos de subida em r IS0 r0 60 IS1 Et yt+1 B A y0 y1 y Figura 4.1: A nova função IS. equação (3.3), ficando com uma nova expressão para a IS {w = * (uw Hw w+1 ) + Hw {w+1 + jw (4.5) Esta equação é em todo semelhante à primeira expressão, sendo agora expressa em termos do ”output gap” em vez do nível efectivo do produto. 4.2.2 A Nova Curva de Phillips A nova Curva de Phillips (CP) é obtida a partir de mercados imperfeitos, onde as empresas se comportam como monopolistas concorrenciais. Este facto implica que as empresas não podem ajustar os preços de forma permanente, ou seja existe um período mínimo entre duas actualizações de preços. O modelo mais utilizado é o de Calvo (1983), onde 1 produtores actualizam os preços num dado período, enquanto que uma proporção dos mesmos deixam os preços inalterados. Assim, o nível geral de preços comporta—se de acordo com (variáveis expressas em logaritmos) sw = sw31 + (1 ) sBw (4.6) sendo sBw o logaritmo do preço desejado pelas empresas que ajustam preços no período w. O nível de sBw é determinado utilizando uma regra de ”mark—up” de forma semelhante à antiga curva de Phillips. No entanto, existe uma pequena CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 61 nuance que acaba por ser crucial. A margem de lucro é fixada sobre os custos marginais, mas é fixada em relação aos seus valores esperados futuros, cujos valores médios em cada período são descontados para o presente através de uma taxa constante. Esta hipótese é bastante razoável pois a empresa quando ”fixa” preços não deve levar apenas em consideração os custos (ou os lucros) do exercício em questão, mas sim os valores médios que pretende obter ao longo de um determinado horizonte temporal. Esta ideia pode ser apresentada matematicamente através da expressão sBw = (1 ) Q X ()v Hw {P Fw+v } (4.7) v=0 onde P F representa os custo marginais em termos nominais e 0 ? ? 1= Aplicando logaritmos a P F, obtemos os custos marginais em termos reais pfw = P Fw sw . Combinando as equações (4.6) e (4.7), podemos obter uma expressão semelhante à curva de Phillips 8 w = (Hw w+1 ) + pfw sendo (1 ) (1 )31 = Assumindo que existe uma relação estreita entre o custo marginal e o hiato entre o nível da taxa de desemprego e da taxa natural de desemprego (xw x̃) > – uma forma de expressar que quanto mais a economia se aproximar do pleno emprego, maiores tenderão a ser os custos unitários de trabalho e maiores tenderão a ser os custos marginais das empresas – podemos expressar a nova função por w = (Hw w+1 ) + (x̃ xw ) Como sabemos que {w = (xw x̃) > 0 ? 0> então pfw = y ({w ) e podemos finalmente chegar à expressão da Curva de Phillips, à qual podemos acrescentar um choque de oferta }w = 2 }w31 + %w , com %w (0> 2} )> 0 ? 2 ? 1. w = Hw w+1 + {w + }w (4.8) em que 0 ? ? 1. Um aspecto fundamental desta nova Curva de Phillips consiste em que a determinação de preços neste novo modelo é ”forward looking”, ou seja, a inflação depende apenas de factores económicos que ocorrem no presente ou que são esperados ocorrer no futuro. O passado pode determinar o nível de stock de activos que uma economia detém num certo momento mas não influencia a determinação de preços das empresas. Esta hipótese parece bastante realista, pois é pouco provável que os factos do passado possam afectar 8 Vide King (2000), páginas 59—64, para uma derivação bastante detalhada desta equação. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 62 S CP1 CP0 B S1 S0 A Subida nas expectativas inflacionistas y0 y Figura 4.2: A nova Curva de Phillips. directamente as decisões dos agentes económicos sobre a gestão dos seus activos. Este resultado pode ser facilmente confirmado através da iteração ”forward” da equação (9) # "" X w = Hw v ({w+v + }w+v ) v=0 em que {w+v reflecte o aumento de custos marginais que resultam sempre que a economia ”sobre—aqueça” devido ao excesso de procura agregada, enquanto que }w+v representa choques do lado da oferta como alterações nas margens de lucro, choques petrolíferos, ou outros. Na Figura 4.2 temos representada a nova Curva de Phillips. 4.2.3 Mercado Monetário A análise do mercado monetário é mais exigente em termos analíticos do que os dois blocos anteriores. Até agora temos três variáveis endógenas {{w > w > uw }v=" v=0 > mas apenas duas equações (IS e CP). Poderíamos resolver o problema como no antigo IS—LM—AS através da igualdade entre a oferta real de moeda e a procura também em termos reais. Aplicando logaritmos sobre a oferta nominal de moeda (P@S ) teremos o equilíbrio no mercado monetário dado pela função LM pw sw = |w $uw + hw (4.9) CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 63 sendo |w o logaritmo do produto, uw a taxa de juro nominal (não expressa em logaritmos) e hw um choque da procura de moeda com média nula e variância constante h (0> 2h ). Com esta equação tínhamos o modelo fechado e inteiramente determinado. No entanto, uma solução consistente do modelo impõe a seguinte questão. Qual é o melhor instrumento de política monetária que o Banco Central tem à sua disposição: é a taxa de juro (u) ou a quantidade de moeda (p)? Como vimos no antigo modelo Keynesiano, o Banco Central controlava a oferta de moeda e deixava o mercado determinar o nível da taxa de juro nominal. Esta solução não é hoje considerada óptima porque os erros decorrentes da acção do Banco Central serão maiores do que no caso do mesmo pretender controlar a taxa de juro de curto prazo e deixar o mercado determinar o nível da quantidade de moeda oferecida pelo sistema bancário. A afirmação acima apresentada pode ser rigorosamente demonstrada, no entanto isso implicaria algum espaço neste texto pelo que, correndo o risco de parte do argumento ser perdido, passamos directamente para a aplicação prática das conclusões.9 O Banco Central tem por objectivo controlar a taxa de juro de mercado e tem de tornar claro aos agentes económicos quais são os ingredientes dessa regra. Por agora fiquemos com a noção que a regra será do tipo u = k(·> ·) Note—se que se o Banco Central decide ”fixar” a taxa de juro de mercado num determinado valor, então o Banco acabará por determinar o equilíbrio de toda a economia. Por isso deve—o fazer tentando tomar uma decisão que maximize o bem estar da sociedade. É razoável admitir que o Banco Central tente ponderar duas variáveis fundamentais do funcionamento da economia: a inflação e o desemprego. No entanto, como se sabe existe uma relação inversa entre estas duas variáveis pelo que o objectivo do Banco Central será obter um ”trade—o” aceitável para estas duas variáveis. Uma função que permite exprimir este problema é uma equação quadrática do tipo "" # X ¡ ¢ 1 v 2 2 d{w+v + w+v (4.10) min Hw 2 v=0 sendo d um parâmetro que reflecte a ponderação que o banco atribui entre inflação e desemprego. Esta função quadrática está representada na Figura 4.3. O ”trade—o” entre a inflação e o desemprego está claramente visível na base da figura, onde o plano ({> ) está representado. Portanto, o problema para o Banco Central é escolher {{w > w > uw }v=" v=0 > o 9 A demonstração deste ponto com todos os detalhes pode ser encontrada em McCallum (1989), cap. 11, pag.230—235. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 64 2.5 objectivo 2 1.5 1 0.5 0 −2 −1 0 1 2 taxa inflação 2 1.5 1 0.5 0 −0.5 −1 −1.5 −2 output gap Figura 4.3: O trade—o entre a inflação e o desemprego que o Banco Central pretende minimizar. Quanto mais próxima a curva de nível estiver do mínimo da fun ção objectivo, menores serão as perdas para toda a economia. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 65 que pode ser feito através do seguinte processo de optimização # "" X ¡ ¢ 1 v 2 2 (Objectivo) d{w+v + w+v min Hw 2 v=0 vxmhlwr d {w = * (uw Hw w+1 ) + Hw {w+1 + jw w = Hw w+1 + {w + }w (IS) (CP) Existe hoje um conjunto de resultados extremamente interessantes relativamente a este problema básico da política monetária. O problema pode ser atacado sob duas perspectivas: (i) o Banco Central pode actuar ”with commitment” ou ”without commitment”, ou seja, actua ”com compromisso” ou ”sem compromisso”. A diferença entre estes dois tipos de actuação está relacionada com o facto do Banco Central no segundo caso não se comprometer de forma irreversível com uma determinada actuação em termos da condução da política económica. Ou seja, pode mudar as suas opções de política monetária em função de um seu julgamento sobre a evolução da economia. No primeiro caso isto não se verifica: o Banco Central define um objectivo (por exemplo, não tolerar inflação superior a 2%) e não se desvia minimamente deste objectivo independentemente de choques adversos à economia. Vamos resolver o problema do Banco Central actuando de acordo com a regra ”sem compromisso”.10 Numa situação ”com compromisso” o Banco Central sabe que os agentes económicos levam em consideração a posição de força do Banco para formularem expectativas sobre os preços e, portanto, tenta usar esta informação para alcançar os objectivos de política monetária. No entanto, quando este banco sabe que não consegue comprometer—se a não alterar os objectivos de política monetária previamente anunciados perante o surgimento de situações adversas, neste caso não é aconselhável que o Banco tente influenciar as expectativas dos agentes privados, pois pode cair na armadilha de esgotar qualquer possibilidade de influenciar o equilíbrio no próprio mercado monetário porque os agentes privados acabam por antecipar o comportamento ”permissivo” do Banco Central. Portanto, numa situação tipo ”sem compromisso”, o Banco Central não tenta influenciar as expectativas dos agentes privados, o que significa que as deve tomar como um dado. Assim a melhor forma de resolver o problema consiste em assumir que as expectativas sobre a inflação dos agentes económicos privados são um dado à partida para o Banco Central, e este resolve depois o problema de optimização acima apresentado Hw w+1 , dado 10 Vide Svensson and Woodford (1999) e Woodford (1999b) para uma solução do problema de acordo com o comportamento ”with commmitment”. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 66 Portanto, o Banco Central determina ;w o valor de {w e de w tal que (4.10) é minimizada.11 Após um processo de cálculo simples o resultado virá {w = w d (4.11) Substituindo (4.11) em (4.8) obtemos a solução do modelo na forma reduzida. Aqui o processo de cálculo é moroso, e após vários passos onde tem de se levar em consideração que }w = 2 }w31 + %w , tendo H [%w ] = 0 chegamos ao seguinte resultado w = d }w (4.12) (4.13) {w = }w ¡ ¢31 sendo definido como 2 + d(1 2 . Substituindo as duas soluções acima na Curva de Phillips poderemos obter o valor de (4.14) Hw w+1 = (d 2 ) }w Finalmente, substituindo as equações (4.12) e (4.13) na função IS podemos obter o valor da taxa de juro que o banco central deverá pretender fixar de forma a optimizar o bem estar social. Neste caso o resultado é imediato bastando para tal notar que H [%w ] = 0, devido à hipótese de normalidade nos choques da oferta, %w (0> 2 )= Portanto teremos uw = (d 2 ) }w + 1 jw * i h com 1 + (1 2 ) (d*2 )31 A 1> já que 0 ? 2 ? 1. Substituindo a equação (4.14) na equação anterior, pode—se finalmente obter o valor óptimo para a taxa de juro 1 jw (4.15) * Portanto, a política monetária óptima pode ser caracterizada pelas três resultados que obtivémos acima: uw = Hw w+1 + {w = }w w = d }w uw = Hw w+1 + 1 jw * Desta política óptima, há a realçar as seguintes conclusões: 11 Note que a taxa de juro nominal não entra neste primeiro passo do processo de optimização. As únicas variáveis endógenas são as que se encontram na função objectivo do Banco Central, w e {w , já que Hw w+1 é um dado. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 67 Conclusão 1 Só existe um trade—o de curto prazo entre a inflação e o produto se existirem choques do lado da oferta, ou seja se a variância destes choques for diferente de zero. Proof. Como foi assumido que %w (0> 2 )> então H [%w ] = 0= Se 2 = 0 teremos que }w = 0, ;w= Sendo }w = 0, então {w = w = 0= Ou seja, o produto efectivo é igual ao produto potencial, e a inflação é nula, em qualquer período de tempo. Conclusão 2 A política monetária óptima impõe ”inflation targeting”, ou seja, ter a ”inflação como alvo”, o que implica que o Banco Central deverá actuar no sentido de garantir um processo de convergência para a taxa de inflação para o seu valor óptimo ao longo do tempo. Proof. Como da equação (4.14) temos que Hw w+1 = (d 2 ) }w > então lim Hw w+v = lim d v2 }w = 0 v<" v<" Conclusão 3 A política monetária óptima requer que, se se verificar um aumento nas expectativas inflacionistas, o banco central deverá subir a taxa de juro nominal num montante superior à subida no valor destas expectativas, no sentido de subir a taxa de juro real e travar assim a tendência inflacionista na economia. Proof. Da equação (4.15) sabemos que uw = Hw w+1 + h i 1 + (1 2 ) (d*2 )31 A 1= Portanto uw A Hw w+1 = 1 * jw , com Conclusão 4 A política monetária óptima requer que o banco central ajuste a taxa de juro de forma a contrabalançar os efeitos de choques do lado da procura (jw ), mas esta taxa deverá permanecer inalterada perante choques do lado da oferta (}w ). Proof. A política óptima leva a um nível óptimo para a taxa de juro que não é afectado por choques da oferta, mas é afectado por choques da procura. Da equação (4.15) sabemos que uw = Hw w+1 + *1 jw , com * A 0= Portanto guw @gjw A 0> guw @g}w = 0= 4.2.4 Exemplo Suponha que uma dada economia se encontra numa situação com o produto efectivo ao nível do produto potencial, a taxa de inflação é de 2% ao ano, a taxa de desemprego é de (por exemplo) 4%, enquanto que os agentes privados concebem expectativas relativamente à evolução dos preços no período CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO r IS0 IS1 B r0 Nova IS e Nova LM A rt r1 JEtS t 1 (1 / M ) g t Shock da procura negativo C y1 y0 S y S CP0 CP1 A S0 S1 68 S0 S1 B C A Relação entre inflação e desemprego B C Nova Curva de Phillips y1 y0 y u0 u1 Figura 4.4: A representação gráfica do novo equilíbrio macroeconómico. seguinte de 2% também. Suponha ainda que existe repentinamente um choque da procura negativo, causado por exemplo por uma onda de pessimismo dos consumidores, ou por uma necessidade de reduzir as despesas públicas de forma drástica. Vamos exemplificar os impactos deste choque sobre o equilíbrio macroeconómico através do recurso à Figura 4.4. A situação inicial é caracterizada pelo ponto A nos três painéis. No canto superior esquerdo temos o equilíbrio entre a IS e LM, sendo esta última horizontal e ditada pela regra óptima de condução da política monetária. Como se pode ver, a taxa de juro deve responder apenas a dois efeitos: alterações nas expectativas de inflação (Hw w+1 ) e aos choques da procura (jw ). A taxa de juro no equilíbrio inicial é u0 , e o nível do produto é |0 . Com este nível do produto pode—se obter de forma imediata o nível da taxa de inflação que é compatível com este equilíbrio, sendo esta igual a 0 , conforme painel inferior esquerdo. No painel inferior direito é apresentado o valor da taxa de desemprego que resulta deste processo de optimização por parte do u CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 69 banco central. Vejamos o que acontece após o choque negativo da procura surtir os seus efeitos. A função IS desloca—se para a esquerda no plano (|> u), levando a economia para o ponto B nos três paineis. O produto diminui, a taxa de inflação diminui, a taxa de desemprego aumenta. Caso o banco central nada fizesse, isto iria levar a uma situação de recessão económica, pois os preços ajustam—se apenas parcialmente12 e, portanto, as empresas iriam levar algum tempo para alterar os preços até que a nova taxa de inflação fosse alcançada e o novo equilíbrio se re—estabelecesse no ponto C (em todos os painéis). Portanto, o ponto de equilíbrio final seria sempre o ponto C, caso assumíssemos que as expectativas são ”forward looking” com o estamos a fazer. No entanto, como os preços apresentam alguma rigidez, a oferta levará sempre algum tempo a percorrer o caminho entre A$B$C. Aqui entra a política monetária. Pretendendo compensar a rigidez de preços, e fazer com que o choque produza efeitos mais suaves sobre a economia, o banco central deverá intervir de forma drástica na economia, diminuindo para tal a taxa de juro e deve—o fazer num montante superior à diminuição que se espera vir a verificar—se na taxa de inflação. Ou seja, deve descer a taxa de juro de u0 para u1 . As alterações processadas no equilíbrio inicial são apenas de natureza nominal, já que em termos reais os valores do novo equilíbrio são iguais aos valores iniciais. Note—se no entanto que, caso o choque fosse do lado da oferta, a política monetária não deveria actuar. A razão é muito simples: a política monetária é útil para actuar sobre choques da procura devido à rigidez de preços, e o que a mesma acaba por fazer não é mais do que contrabalançar os efeitos positivos e negativos deste choque no sentido de manter a economia tão perto quanto possível do seu produto potencial. No entanto, a política monetária pouco pode fazer para contrabalançar choques do lado da oferta que alterem a posição do produto potencial porque a natureza destes choques é de longo prazo. Ou seja, como o produto potencial é determinado pelo lado da oferta – pela qualidade dos factores produtivos e pelas opções fundamentais dos agentes económicos relativamente à acumulação de activos – a política monetária não consegue influenciar este sector da economia. Caso o conseguisse, por exemplo através da emissão de maiores quantidades de moeda, bastaria imprimir cada vez maiores quantidades de moeda para tornar o nível de riqueza mais e mais elevado, acabando por eliminar totalmente o desemprego, mesmo que a inflação tivesse atingido níveis incomensuráveis. Ou seja, nesta hipótese que para nós é absurda, uma economia poderia ter um stock de capital físico muito baixo, uma população com baixos níveis de qualificação, uma baixa eficiência na combinação destes factores produtivos, 12 Lembre—se que uma das hipóteses fundamentais do modelo consiste em que apenas uma parte dos preços se ajustam em cada período de tempo, o que faz com que o nível geral de preços apresente alguma rigidez. CAP 4. O NOVO MODELO KEYNESIANO 70 mas se aumentasse o montante de moeda, levaria a que esses mesmos parcos recursos se tornassem bastante mais produtivos. Isto não tem sentido económico. Como é óbvio, se a política monetária fosse eficaz no longo prazo, seria como produzir energia à temperatura ambiente, e, como é sabido, essa hipótese não tem sido considerada como minimamente viável. Acumular conhecimento, acumular activos físicos, acumular activos económicos qualquer que seja a sua natureza, não é fácil para nós humanos: exige tempo, esforço, dedicação e consumo de bens económicos. Por exemplo, para preparar um engenheiro é necessário consumir—se 20 anos (ou mais) da de uma vida, não falando dos custos económicos directos associados a esta preparação. Produzir papel—moeda tem um custo insignificante e leva muito pouco tempo: caso a moeda de per si pudesse ter efeitos sobre a capacidade produtiva de uma economia no longo prazo, certamente não existiriam níveis de pobreza como aqueles a que assistimos diariamente nas nossas televisões. Portanto, quando se apela ao papel da política monetária para interferir sobre choques cuja natureza está ligada ao comportamento da economia no longo prazo, não só é totalmente errado, como bastante perigoso. O resultado mais provável é não produzir quaisquer efeitos reais positivos, produzir sim elevadas taxas de inflação, as quais vão depois diminuir a capacidade competitiva da economia (portanto, efeitos reais negativos) devido à diminuição das exportações e aumento das importações. Portanto, as diferenças fundamentais relativamente ao antigo modelo são evidentes. Primeiro, o modelo incorpora expectativas ”forward” em todos os mercados, contrariamente às expectativas ”backward” ou adaptativas do antigo modelo Keynesiano. Segundo, a função LM é horizontal, já que o banco central tem de reagir rapidamente aos choques e, portanto, utiliza a taxa de juro como o instrumento fundamental da política monetária. Terceiro, o banco central deve apenas reagir a choques do lado da procura, devendo deixar a taxa de juro inalterada perante choques do lado da oferta. Quarto, existe um trade—o entre inflação e desemprego mas apenas no curto prazo. Quinto, no longo prazo, os choques da procura têm um valor médio nulo, pelo que este ”trade—o” entre inflação e desemprego é também nulo. Sexto, o banco central deve ser bastante agressivo no combate à inflação, isto é, deve proceder a alterações na taxa de juro em montantes percentuais superiores às alterações nas expectativas sobre inflação. Sétimo, o banco central não deve preocupar—se com choques da oferta que interfiram com o ”trend” de longo prazo, ou seja, com o seu produto potencial. Quais são os factores que determinam o crescimento do produto potencial? Como iremos ver no próximo capítulo, esses factores são fundamentalmente factores de natureza real, não monetária. Capítulo 5 Dinâmica, Crescimento e Produto Potencial 5.1 Introdução No que diz respeito à análise do crescimento económico de longo prazo, existem seis pontos que são fundamentais para o ensino da macroeconomia moderna: 1. Tornar muito claro que é bastante fácil confundir ”efeitos de transição dinâmica” com ”equilíbrios de longo prazo”;1 2. Que a evolução de um determinado tipo de comportamento no longo prazo pode afectar de forma crucial (e, nalguns casos, irreversível) a sustentabilidade desse processo. Por exemplo: (a) acumulação da dívida publica (b) sistema de segurança social (c) recursos naturais 3. Tornar muito claro qual é a diferença entre ”crescimento endógeno” e ”crescimento exógeno”; 4. Evidenciar quais os tipos de política económica que podem ser utilizadas para fomentar o crescimento de longo prazo; 1 Dentro da análise do equilíbrio de longo prazo (ELP) existem ainda outras questões importantes, mas que, por uma razão de espaço, não serão individualizadas neste relatório. Por exemplo: Será que existe equilíbrio de longo prazo? Se existe, será ele único, ou podem existir vários? Será um equilíbrio estável ou instável? Se existir ELP como se comportam as variáveis endógenas? Crescem a que taxa: Positiva / Negativa / Nula? 71 CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 72 5. Ensinar a modelizar e a utilizar ”packages” computacionais para implementar simulações numéricas dos vários modelos estudados. Existe a convicção de que este tipo de matérias é mais exigente do ponto de vista analítico do que a análise dos ciclos económicos de curto prazo, não devendo portanto ser apresentado como parte integrante de um programa de macroeconomia a nível intermédio. No entanto, a experiência de ensino destas matérias aos alunos do segundo ano da licenciatura em economia no ISCTE ao longo dos últimos anos demonstra o contrário. Surpreendentemente, os alunos preferem o estudo das questões relacionadas com o longo prazo do que com os ciclos económicos de curto prazo! A razão apresentada pelos alunos consiste no facto da análise de longo prazo ser um pouco mais exigente do ponto de vista analítico, mas muito menos exigente em termos dos ”detalhes” relacionados com a análise do comportamento dos vários agentes económicos ao nível dos vários mercados. Ou seja, enquanto que a análise dos ciclos económicos é feita com modelos ”grandes”, embora ”simples”, o crescimento económico é analisado com modelos ”pequenos”, embora um pouco ”menos simples”. No entanto, o ”trade—o” parece ser bem mais favorável aos modelos de longo prazo. Portanto, não será por dificuldades analíticas que o ensino do crescimento económico não se pode processar na macroeconomia de nível intermédio. Os resultados têm sido tão satisfatórios que se passou de uma passo inicial onde apenas eram apresentados os modelos de Solow e de Harrod—Domar, para uma segunda etapa onde são agora apresentados os modelos de Solow com capital humano, e vários perspectivas sobre o crescimento endógeno, onde se incluem o modelo de ”learning—by—doing”, o modelo com externalidades, o modelo e I&D, o modelo clássico, e a análise da sustentabilidade da dívida pública. Por outro lado, a discussão dos seis pontos acima referidos exige um período dilatado de estudo das matérias envolvidas, o que, na experiência do redactor deste texto, deverá aproximar—se de um semestre. Uma forma prática de tornar esta tarefa útil deverá incluir pelo menos os seguintes três passos. Primeiro, devemos atribuir uma grande importância a um bloco que designamos por ”introdução à análise dinâmica”. O objectivo consiste em eliminar grande parte das insuficiências ao nível dos conhecimentos matemáticos básicos e dotar os alunos com a intuição para a análise e aplicação de equações diferenciais ou às diferenças. É de facto notável que, apesar da maioria dos alunos terem conhecimento sobre este tipo de equações dinâmicas, eles não sabem para que estas equações ”servem”, não têm a noção de como as poder usar como um instrumento poderoso para analisar questões concretas (económicas ou outras). Por outro lado, como a intuição dos alunos sobre aspectos dinâmicos é praticamente nula – apesar da palavra ” dinâmica” surgir em grande parte dos textos, mesmo nalguns onde a dinâmica é difícil de encontrar – torna—se crucial que os alunos apreendam CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 73 aqui a diferença fundamental entre equilíbrio de longo prazo e processos de transição dinâmica. Numa segunda etapa, devem ser apresentados de forma bastante detalhada o modelo de Solow e o modelo de Solow aumentado com capital humano. Estes dois modelos são os mais simples e, portanto, os mais fáceis de perceber pelos alunos, devido ao facto de só um (dois) factores produtivos serem acumulados endogenamente. Deve—se atribuir uma grande importância à discussão do equilíbrio de longo prazo em cada uma destes dois modelos. A partir daqui, todos os restantes modelos são facilmente apreendidos pelos alunos. Relativamente à discussão dos efeitos de transição dinâmica, ela deve ser rigorosa ao nível da análise gráfica, mas deve ser suave e facultativa em termos algébricos, devido ao aumento da parte matemática envolvida. Numa terceira fase surgem os modelos de crescimento endógeno. Nesta fase, a apresentação dos modelos já é extremamente fácil pois os alunos já dominam praticamente todos os aspectos técnicos relacionados com a modelização dinâmica e já têm uma intuição bastante desenvolvida sobre a essência da ”novidade” envolvida em cada modelo que vai sendo acrescentado. Finalmente, numa quarta fase os alunos elaboram um trabalho de grupo sobre uma matéria directamente envolvida com a análise de comportamentos dinâmicos. Por exemplo, simular numericamente os principais resultados de um dos modelos teóricos estudados, ou analisar a sustentabilidade da dívida pública de um ou vários países da OCDE recorrendo a dados estatísticos sobre as referidas economias. De seguida vamos exemplificar como é fácil analisar cada um dos cinco pontos acima referidos, sem necessidade de recorrer a grandes exigências matemáticas. Devido à extensão do relatório, existirão partes do texto que não serão explicadas de forma detalhada. No entanto, os capítulos do livro de macroeconomia, Mendes e Vale (2002), podem mostrar todos os detalhes. 5.2 Sustentabilidade, Transição Dinâmica e Equilíbrio de Longo Prazo Vamos clarificar aqui a diferença existente entre equilíbrios de longo prazo e efeitos de transição dinâmica, bem como os problemas relativos à sustentabilidade da acumulação de um processo económico no longo prazo. A análise da dívida publica permite exemplificar estes dois pontos de forma rápida e simples, se utilizarmos tempo discreto em vez de tempo contínuo.2 A variação da dívida pública é dada pela diferença entre as receitas públicas e as despesas públicas, de forma a equilibrar o orçamento em cada 2 Parte deste texto é retirado do capítulo 23 do livro de macroeconomia de Mendes e Vale (2002). CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 74 ano. Assim S GwS = 0 Sw (Jw + W uw Ww ) + lw · Gw31 (5.1) representado os símbolos o seguinte: GS = Dívida pública (em termos nominais), J = Gastos públicos (em termos reais), W u = Transferências do Estado para as famílias (em termos reais). W = Impostos sobre o rendimento, l = Taxa de juro nominal, S = Nível geral de preços. S , e utilizando a taxa de juro real Como sabemos que GwS = GwS Gw31 em vez da taxa de juro nominal, então podemos escrever S S = Sw (Jw + W uw Ww ) + uw · Gw31 GwS Gw31 (5.2) Dividindo a equação (5.2) pelo nível do rendimento no período w, \w , e designando a expressão Sw (Jw + W uw Ww ) como o défice orçamental primário (GSw )> 3 obtemos S GS GwS GSw uw · Gw31 w31 = + (5.3) \w \w \w \w Agora aplique o seguinte truque: multiplique o segundo termo do lado , e esquerdo e do lado direito da equação (5.3) pelo seguinte termo \\w31 w31 re—arrange os termos do seguinte modo S S GwS \w31 Gw31 GSw \w31 Gw31 · = + uw · · \w \w \w31 \w \w \w31 (5.4) Defina a taxa de crescimento anual do rendimento ou do produto por w = 1 + j, e para simplificar a exposição utilize as seguintes j, isto é, \\w31 GS w definições: gw \ww ; # w GS \w . Note que gw não é mais do que a proporção da dívida pública relativamente ao rendimento no ano w, e # w a proporção do défice orçamental primário relativamente ao rendimento no ano w. Então, obter—se—á de forma imediata o seguinte resultado ¶ ¶ μ μ 1 1 gw31 = # w + uw · gw31 gw 1+j 1+j o qual pode ser re—escrito de forma mais elucidativa como ¶ μ 1 + uw gw31 gw = # w + 1+j (5.5) A equação (5.5) não é mais do que uma equação às diferenças de primeira ordem expressa em ordem à dívida pública, a qual é muito fácil de resolver 3 O défice orçamental primário é o défice que resulta da diferença entre as receitas públicas e as despesas públicas mas excluindo os juros da dívida pública. O termo ”primário” pretende reflectir o défice que é estritamente gerado pela actividade do Governo relativamente ao ano corrente; a dívida pública acumulada e os juros pagos sobre a mesma dizem respeito à actuação do Governo mas no passado. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 75 quer em termos algébricos quer em termos gráficos. Em termos algébricos a solução da equação é obtida através da condição gw = gw31 = gW > sendo esta bastante simples de perceber numa base intuitiva: quando se chegar a um determinado ano em que a dívida pública se mantenha igual ao valor da mesma no ano anterior (isto é: gw = gw31 ) então teremos determinado o valor de longo prazo para a dívida pública. Portanto, escrevendo ¶ μ 1+u W gW g =#+ 1+j nós iremos obter a seguinte expressão ¶ μ 1+j W g =# ju (5.6) As equações (5.5) e (5.6) são as expressões fundamentais que nos permitem analisar a sustentabilidade da dívida pública no longo prazo. Três resultados são fundamentais: (i) Se a taxa de crescimento do PIB for superior à taxa de juro real ao longo do tempo (isto é, se j A u), então: — se # A 0 =, gW A 0 , constante, e estável. (Figura 5.1) — se # ? 0 =, gW ? 0 , constante, e estável. (ii) Se a taxa de crescimento do PIB for menor que a taxa de juro real ao longo do tempo (isto é, se j ? u), então: — se # A 0 =, gW ? 0 , constante, mas instável= Note que sendo instável, é provável que o nível de gw tenda a crescer indefinidamente se gw A gW , ou a diminuir indefinidamente se gw ? gW . — se # ? 0 =, gW A 0 , constante, e instável= Note que sendo instável, é provável que o nível de gw tenda a crescer indefinidamente se gw A gW , ou a diminuir indefinidamente se gw ? gW . (Figura 5.2) (iii) Se a taxa de crescimento do PIB for igual à taxa de juro real ao longo do tempo (isto é, se j = u), então: — se # A 0 =, gw $ +4= (Figura 5.3) — se # ? 0 =, gw $ 4= Das diferentes situações acima descritas, qual é a que é mais normalmente encontrada nas economias modernas? Primeiro, é muito comum encontrar—se economias onde se verifica a existência de défices orçamentais, portanto, # A 0= Nestas condições, a única forma destas economias CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 76 45º dt d* \ x x d0 d* d1 dt-1 dt = \ + (1+r / 1+g) dt 1 Figura 5.1: Dívida pública cresce até um dado limite: # A 0, e j A u= manterem a dívida pública sob controle é através da obtenção de uma taxa de crescimento económico superior à taxa de juro real. No caso do governo gerar um superavit orçamental corrente (# ? 0), e se j A u, então o governo irá levar a que o Estado se transforme em credor em vez de devedor. Todas as restantes situações são casos em que o governo perde a capacidade de controlar a dívida pública em proporção do PIB. Para perceber bem a enorme importância que a prudência fiscal tem em termos de uma boa gestão macroeconómica a longo prazo, podemos apresentar um exemplo numérico do primeiro caso acima (Figura 5.1). Os juros que o Estado terá de pagar com a dívida pública em cada ano são dados pela seguinte expressão: Mw = uw · GwS = Em proporção do PIB, estes u ·GS GS juros podem ser escritos como mw \Mww = w \w w = Portanto, como gw \ww > podemos escrever (5.7) mw = uw · gw Utilizando o resultado da equação (5.6), os juros da dívida pública em proporção do PIB podem ser escritos como ¶ μ 1+j W m =u·#· (5.8) ju Suponha que j = 3%> u = 2%> # = 3%= Este exemplo dá um valor de equilíbrio de longo prazo para a proporção do PIB que terá de afectada ao CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO dt 77 45º dt = \ + (1+r / 1+g) dt 1 d* x d1 d* d0 dt-1 x\ Figura 5.2: A dívida pública pode crescer sem limite, ou o Estado pode acumular créditos sem sem limite. # ? 0> e u A j= 45º dt dt = \ + (1+r / 1+g) dt 1 \ x d1 d0 dt-1 Figura 5.3: A dívida pública cresce sem limite. # A 0> e j = u= CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 78 pagamento dos juros da dívida pública perto dos 30% (mais precisamente, m = 6=18%). Pode facilmente verificar também que os mesmos valores para os parâmetros darão um valor para gW = 3=09; isto é no longo prazo, a dívida pública será 3.09 vezes superior ao valor do PIB. Como deverá certamente perceber, um país onde 6.2% do rendimento seja destinado a cobrir o desequilíbrio financeiro de um dos principais elementos da economia (o Estado), e onde a dívida pública seja 3 vezes superior ao PIB, não será seguramente um país à beira de se tornar ingovernável. No entanto, a situação será bem diferente se a taxa de juro real for superior à taxa de crescimento económico e se o Estado gerar um défice primário superior a zero. Neste caso, a dívida pública e os juros da mesma crescerão sem limite, chegando a um ponto em que os juro consumirão todo o nível de rendimento, o que é uma situação aberrante. Por isso, é conveniente perceber bem que a sustentabilidade da dívida pública depende de 3 factores: j, u, e #. O défice pode ser sustentável no longo prazo, mas também é fácil perder o control do mesmo caso as finanças públicas não sejam bem geridas. Conclusão 5 A sustentabilidade da dívida pública depende de 3 factores: taxa de crescimento económico, taxa de juro real, e défice primário. O défice pode ser sustentável no longo prazo, mas também é fácil perder o control do mesmo caso as finanças públicas não sejam bem geridas. Este tipo de conclusão é válido para a dívida pública, no entanto, o mesmo tipo de raciocínio pode ser aplicado a outros processo dinâmicos, como por exemplo, ao sistema de segurança social, à extracção de recursos naturais, etc.. Agora é fácil mostrar como a confusão entre equilíbrios de longo prazo e efeitos de transição dinâmica podem surgir. Basta utilizar um exemplo do processo que temos vindo a examinar. Suponha os seguintes dados Cenário 1 Cenário 2 g0 = 0=01 j = 3% u = 2% # = 0=02 g0 = 0=01 j = 3% u = 2% # = 0=01 Suponha ainda que o nível do défice primário (DP) aumenta nos dois cenários para # = 0=08 quando [w = 700> w = 720] para o cenário 1 e quando [w = 600> w = 620] para o cenário 2, voltando depois para os seus respectivos valores iniciais. Vamos proceder à simulação dos dois cenários em duas situações: (i) sem choques sobre o défice primário, portanto com # = 0=02 e # = 0=01; (ii) incluindo os choques sobre os défices primários. O resultado pode ser visto na Figura 5.4. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO d(t) 2 d(t) 79 aumento temporário do DP 3 DP=0.02 1.5 2 DP=0.01 1 1 .5 (a) 0 150 d(t) 300 d(t) (b) 450 600 750 0 150 d(t) 300 450 600 750 d(t) 900 d(t) DP=0.02 1 2 .75 aumento temporário do DP 1.5 DP=0.01 .5 (c) 50 60 70 (d) 80 90 580 600 620 Figura 5.4: A comparação entre o curto e o longo prazo na evolução da dívida pública em percentagem do PIB (gw ). No painel (a) verificamos que gw converge para um limite no longo prazo. No painel (c) parece que gw tenderá a aumentar sem limite, o que está errado. No painel (b) e (d) verificamos o que acontece se houver um aumento brusco do défice primário ao longo de 20 anos. Como podemos constatar gw convergirá novamente para o seu valor de equilíbrio de longo prazo que tinha antes do choque. 640 CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 80 Como se pode facilmente verificar nesta figura, analisar uma questão dinâmica sob o ponto de vista do curto prazo (o que acontece num curto período de tempo) pode dar resultados totalmente diferentes dos que serão obtidos numa análise do problema na óptica do longo prazo. Por exemplo, se nos fixássemos no painel (b) seríamos levados a concluir que a dívida em percentagem do PIB tenderia para infinito, o que não é correcto se considerarmos o problema numa óptica temporal mais dilatada (painel a). Da mesma forma a análise de um choque sobre a dívida pública pode dar diferentes perspectivas dependendo do período que considerarmos para analisarmos o problema (paineis b e d). Torna—se claro através de uma mera inspecção destes paineis que um choque temporário sobre um processo dinâmico produz efeitos apenas temporários (de curto prazo) e não de longo prazo (no entanto, isto nem sempre é verdadeiro). Conclusão 6 Existe uma diferença fundamental entre equilíbrios de longo prazo de um modelo dinâmico e os processos de transição dinâmica associados a estes modelos. Normalmente, é fácil confundir estas duas características dos modelos dinâmicos, mas isto é errado, e mesmo perigoso em termos da condução da política económica. Equilíbrio de longo prazo. Este equilíbrio é definido como um estado em que as variáveis endógenas crescem a uma taxa constante, a qual pode ser positiva, nula, ou negativa, no processo de acumulação de capital na economia, em que o tempo pode variar entre 0 e 4= Processo de transição dinâmica. Este processo representa o ajustamento da economia, e das variáveis endógenas, entre dois períodos de longo prazo. Este processo resulta da alteração num dos parâmetros (ou em vários) que reflectem o comportamento dos agentes económicos. Neste processo, as variáveis económicas endógenas podem crescer a taxas crescentes ou decrescentes. 5.3 Crescimento Endógeno vs Crescimento Exógeno As duas diferenças fundamentais entre estes dois tipos de crescimento podem ser sintetizadas do seguinte modo: 1. Quais os factores que explicam o crescimento do PIB no longo prazo, quer em valores absolutos, quer em termos per capita? (a) Modelos de crescimento exógeno: são forças totalmente exógenas. (b) Modelos de crescimento endógeno: são forças endógenas. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO Modelo de Solow 81 Modelo de Conhecimento Tecnológico Endógeno • Externalidades: não existem • Externalidades: existem e são relevantes • Acumulação de Capital (K ) tem Rendimentos Decrescentes • Acumulação de Capital (K e A ) tem Rendimentos Constantes/Crescentes • Armadilha da pobreza não existe • Armadilha da pobreza existe • Riqueza e pobreza dependem apenas das características individuais: não existe qualquer razão para que a economia possa beneficiar da concentração de riqueza ou pobreza • Riqueza e pobreza estão concentradas em áreas ou zonas específicas: a existência de externalidades faz com que a economia possa beneficiar (sofrer) com a concentração de riqueza ( pobreza) • Países pobres convergem para o nível dos países ricos • Países pobres podem não convergir para os países ricos: armadilha da pobreza • Condições iniciais são irrelevantes • Condições iniciais são relevantes • O capital flui dos países ricos para os países pobres • O capital flui dos países pobres para os países ricos • Políticas nacionais têm pouco ou nenhum efeito sobre o crescimento de longo prazo • Políticas nacionais têm normalmente um grande efeito sobre o crescimento de longo prazo Figura 5.5: Os principais pontos de divergência entre os modelos de Solow e de I&D com externalidades. 2. O que explica o processo de convergência económica de alguns países pobres para níveis de vida semelhantes aos países desenvolvidos? E o retrocesso económico de outros? (a) Modelos de crescimento exógeno: não têm resposta. (b) Modelos de crescimento endógeno: boas/más decisões dos agentes que conduzem a política económica; boas/más opções dos agentes privados. Para exemplificar estes dois pontos podemos pôr em confronto dois modelos que encerram praticamente todas as questões possíveis da análise do crescimento de longo prazo: modelo de Solow (com ou sem capital humano), e modelo de I&D com externalidades. Na Figura 5.5 apresentamos uma síntese onde confrontamos os vários aspectos inerentes aos pontos fundamentais dos dois modelos. Uma breve apresentação dos modelos pode ser resumida às hipóteses em que cada um assenta, à equação fundamental de cada um, às soluções para as taxas de crescimento de longo prazo, e, finalmente, aos processos de CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 82 convergência entre países pobres e países ricos. 5.3.1 Modelo de Solow O modelo dinâmico assenta em seis hipóteses fundamentais: (H1) Rendimentos constantes à escala relativos a: capital (N) e trabalho em termos de eficiência (H OD)> em que (O) representa serviços do trabalho e (D) o nível do conhecimento tecnológico; (H2) Rendimentos marginais decrescentes na acumulação de capital (N); (H3) O cresce a uma taxa constante, positiva e exógena (q); (H4) D cresce a uma taxa constante, positiva e exógena (p) (H5) A taxa de poupança é constante, positiva e exógena (0 ? v ? 1); (H6) Os mercados do produto e dos factores produtivos funcionam de forma perfeita Destas hipóteses podemos deduzir uma equação diferencial que permite estudar todo o comportamento dinâmico do modelo: ṅ = v · i (n) ( + q + p) n em que utilizamos as seguintes definições: ṅ gn@gw; n N@DO; i 0 (n) A 0 e i 00 (n) ? 0= O parâmetro é a taxa de amortização do capital (0 ? ? 1)= O equilíbrio de longo prazo pode ser obtido graficamente – vide Figura 5.6 – ou em termos algébricos, sendo o valor de equilíbrio para o stock de capital em termos intensivos dado por (admitindo uma função de produção tipo Cobb—Douglas, com i (n) = n ) μ B n = v +q+p ¶ 1 13 Deste equilíbrio podemos retirar algumas conclusões importantes: Conclusão 7 O equilíbrio de longo prazo no modelo de Solow existe e é único. Conclusão 8 O equilíbrio de longo prazo do modelo é estável, já que independentemente do ponto de partida, a economia converge para uma trajectória de crescimento equilibrado. Conclusão 9 No equilíbrio de longo prazo, cada variável cresce a uma taxa constante. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 83 (G+n+m)k i=s.f(k) (G+n+m)k s.f(k) A • B • k2 k* k1 k Figura 5.6: O equilíbrio de longo prazo no modelo de Solow. Conclusão 10 No equilíbrio de longo prazo, o produto per capita e o capital per capita crescem apenas se existir crescimento no nível do conhecimento tecnológico, isto é, se p A 0. Portanto, a melhoria das condições médias de vida depende inteiramente da taxa de crescimento da tecnologia. Conclusão 11 O crescimento económico não depende de qualquer força económica de natureza endógena, isto é, como a taxa de crescimento da produção é igual a q + p, e estas duas taxas são assumidas como exógenas pelo modelo, então a política económica pouco ou nada pode fazer no sentido de fomentar o crescimento económico no longo prazo. Conclusão 12 No equilíbrio de longo prazo, os salários reais crescem à taxa de crescimento do conhecimento tecnológico, enquanto que a taxa de lucro real permanece constante Conclusão 13 No equilíbrio de longo prazo, a distribuição do rendimento entre remunerações do capital e do trabalho permanece constante. 5.3.2 Modelo de I&D com Externalidades A diferença fundamental entre as novas teorias do crescimento endógeno e as teorias do crescimento exógeno reside no tratamento que é dado ao activo CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 84 que se considera como o motor do crescimento de longo prazo. No modelo de Solow, por exemplo, o aspecto fundamental do modelo era a acumulação de capital físico (porque era endógeno), enquanto que o conhecimento tecnológico – sendo o factor por detrás da melhoria das condições de vida em termos médios – era tratado como se fosse um bem livremente disponível em todo o mundo, sem custos de produção, ou seja, era um bem totalmente exógeno. Nos novos modelos de crescimento, o factor fundamental do crescimento económico passa a ser considerado como um activo, o qual requer tempo e custos económicos para ser produzido. Por outro lado, a produção deste activo está normalmente dependente de situações de imperfeições nos mercados. Estes novos modelos estão baseados fundamentalmente em ideias, onde a acumulação de capital humano (ou conhecimento tecnológico) passa a ser o aspecto fundamental do crescimento económico. No entanto, contrariamente aos bens privados (os quais, na maioria são bens com uma natureza privada), o conhecimento apresenta características de bem público devido às elevadas externalidades associadas à sua produção. Em relação ao modelo anterior temos duas novidades fundamentais. A primeira consiste na existência de dois sectores de actividade (Tw e Ḋw ), e não apenas um como o modelo anterior. A segunda novidade consiste no facto do conhecimento tecnológico ser tratado como um bem ”público”, contrariamente aos bens materiais ou físicos que são na sua maioria bens ”privados”. Esta segunda novidade assume uma importância crucial e é aquela que acaba por permitir obter resultados bem diferentes dos modelos anteriores. A natureza do conhecimento tecnológico como um bem público leva ao sub—investimento na produção do mesmo porque os produtores não conseguem internalizar grande parte dos benefícios sociais que derivam da sua existência. Este problema pode ser reduzido através da concessão de patentes sobre as descobertas tecnológicas. Uma patente coloca o conhecimento de princípios tecnológicos no domínio público, os quais podem ser de facto usados para se produzir novo conhecimento e, portanto, contribuir assim para o benefício social. No entanto, a patente restringe temporariamente a utilização dos mesmos princípios para benefício dos agentes que não os desenvolveram no que diz respeito à produção de bens e serviços por parte destes. Este duplo aspecto do processo de produção de conhecimento tecnológico está representado graficamente na Figura 5.7. A parte oval da mesma apresenta os fluxos no domínio da existência do bem público, ou seja o ní-vel de D é o somatório de todo o conhecimento produzido por cada firma individualmente (Dl > Dm > Ds > ===), e tornado público pelo registo e atribuição da respectiva patente a cada empresa, o qual fica depois à disposição de todas para produção de novo conhecimento. A parte rectangular da figura representa o lado privado da produção de conhecimento. Cada empresa em CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 85 Domínio público do conhecimento tecnológico (sua produção) A Registo de patentes Registo de patentes Ai Aj Ap ... Qi Qj Qp ... Utilização das patentes por cada empresa Domínio privado do conhecimento tecnológico (sua aplicação) Figura 5.7: A representação gráfica da dupla faceta do conhecimento tecnológico. A parte oval reflecte o domínio público do conhecimento tecnológico, enquanto que a parte rectangular mostra a aplicação privada do conhecimento na produção de bens materiais. As linhas a tracejado reflectem a utilização do conhecimento previamente existente para produzir novo conhecimento. termos individuais possui as patentes do conhecimento que desenvolveu, e só ela o pode utilizar para produzir bens materiais (T). Obviamente que o grande benefício para toda a economia resulta do conjunto de relações que se encontram representadas na parte oval da figura, e este tipo de relações só é possível devido à natureza particular do conhecimento tecnológico como um bem público. Os elementos acima apresentados podem ser passados para a forma matemática no sentido de estudar a dinâmica que pode resultar de um tal modelo. As equações que expressam o comportamento descrito podem ser apresentadas na seguinte tabela CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 86 Tl = Nl (Ll Dl )13 , produção da empresa l Ṅl = v · Tl N · Nl , variação do capital físico Ḋl = dRl D D · D D = Q · Dl , , variação do conhecimento tecnológico. Q = nr empresas que fazem I&D Ol = Ll + Rl , , Ll = trabalho não qualificado Rl = trabalho qualificado variação de Ol é nula (q = 0) Ol é mantido constante A dinâmica do modelo pode ser reduzida a duas equações de movimento expressas em termos das taxas de crescimento (j) dos dois factores produtivos endogenamente acumulados em cada empresa l= Portando estas taxas são designadas por jNl e jDl jNl = vNl31 (Ll Dl )13 N jDl = dQ Rl Q · D Destas duas equações equação chegamos à condição de equilíbrio de longo prazo que é dada por jNl = jDl = dQ Rl Q D jNl = jDl A 0 se dRl A D o que poderá levar à ”Armadilha da Pobreza” ou ao ”Círculo Virtuoso” conforme Figura 5.8 Deste modelo podemos retirar um conjunto de conclusões, das quais as mais importantes são as seguintes: Conclusão 14 A taxa de crescimento do PIB per capita é uma função positiva dos recursos investidos em I&D,: portanto, este modelo explica o crescimento de longo prazo de forma endógena. Conclusão 15 Esta taxa é positivamente afectada por: (i) número de empresas que façam investigação científica e tecnológica (Q )> devido à existência de externalidades positivas associadas à produção de conhecimento tecnológico; (ii) recursos afectos à investigação científica e tecnológica (Ul )= CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO gAi 87 aNRi Limiar da armadilha da pobreza . gAi > 0 A gAi < 0 Rimin NGA Ri Figura 5.8: A taxa de crescimento do nível do conhecimento em termos médios por empresa. O ponto A reflecte o patamar mínimo a partir do qual as economias podem obter taxas de crescimento positivas e obter sucesso económico. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 88 Conclusão 16 As economias mais pobres só convergirão para o nível de rendimento das economias mais ricas se investirem na produção de conhecimento científico e tecnológico. Conclusão 17 Existe um nível mínimo de recursos afectos à investigação científica e tecnológica que permite evitar a armadilha da pobreza. Conclusão 18 As economias mais pobres necessitam de apoio internacional para conseguirem evitar a armadilha da pobreza. Apoios internacionais canalizados para a educação e produção de conhecimento tecnológico são a forma mais fácil de ajudar estas economias a saírem dos níveis de pobreza em que se encontram. Conclusão 19 Políticas económicas nacionais, no sentido de favorecer a canalização de recursos económicos para a educação e a produção de conhecimento científico e tecnológico, favorecem o crescimento económico. Isto é válido para os países ricos, mas também o é para os países pobres. 5.4 Convergência e Computação: Um Exemplo Os dois modelos que apresentámos nas secções anteriores são bastante úteis para explicar o problema da convergência económica porque eles representam os dois marcos opostos do debate. Como vimos o modelo de Solow prevê a convergência económica entre países, independentemente do ponto de partida das economias e dos níveis de investimento inicial. Por outro lado, o modelo de I&D explica a convergência/divergência com base nas decisões dos agentes privados, das decisões de política económica interna, e nas ajudas internacionais. Relativamente a este último modelo, existe ainda um aspecto interessante: os países podem ficar prisioneiros da armadilha da pobreza, ou seja, não somente não convergem, como podem inclusive estagnar em termos económicos. Para além das questões teóricas, as quais podem ser analisadas em termos algébricos ou em termos gráficos, existe hoje em dia um instrumento extremamente poderoso para ajudar à compreensão dos principais aspectos relacionados com toda a macroeconomia, e muito particularmente, com a análise de sistemas dinâmicos: a computação. O caso da convergência económica é um exemplo bastante útil para mostrar a utilidade deste novo instrumento. Em virtude da convergência requerer análises fora do equilíbrio de longo prazo (portanto, nos processos de transição dinâmica), o estudo da mesma é muito mais exigente do que o dos equilíbrios de longo prazo. No entanto, este problema desaparece com a utilização de um simples ”package” de computação numérica tipo EXCEL ou, de forma muito mais significativa, com MATLAB. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 89 A experiência do redactor no ensino destas matérias no ISCTE ao longo dos últimos anos tem mostrado que os alunos conseguem excelentes resultados com o uso do EXCEL, até porque a simulação com este ”package” impõe que os mesmos dominem bastante bem todos os aspectos do modelo teórico. A simulação com MATLAB é muito mais poderosa e rápida. Basta uma simples rotina construída para simular o modelo, a qual pode ser depois alterada de acordo com os objectivos pretendidos, para obter resultados extremamente poderosos do ponto de vista numérico e gráfico. Obviamente que não se espera que os alunos de um segundo ano de licenciatura em economia saibam programar num software como MATLAB. No entanto, se a rotina estiver construída é extremamente fácil fazê—la correr no computador e obter os resultados em termos gráficos e numéricos, como fácil será alterar valores dos parâmetros e das condições iniciais para comparar diferentes cenários. Apresento agora um exemplo muito simples sobre o poder da computação, com base nos dois modelos que analisámos: Solow e I&D com externalidades. O problema das dificuldades analíticas da convergência pode ficar resolvido com um simples toque do rato do meu computador. Nas Figuras 5.9 e 5.10 apresentamos diferentes cenários relativamente à convergência, respectivamente, no modelo de Solow e no modelo de I&D. Como se pode ver a convergência no primeiro modelo verifica—se sempre, independentemente do ponto de partida, e é bastante rápida. No segundo modelo existem três situações possíveis para explicar a armadilha da pobreza numa situação em que a economia tem uma taxa de crescimento do conhecimento tecnológico negativa (jDl = 3% ao ano): (1) jNl A 0; (2) 3% ? jNl ? 0%; e (3) jNl ? 3%= Em todos estes casos as condições médias de vida vão—se degradando ao longo do tempo. Nas trajectórias tipo 1, a economia estagna no tempo, começando o processo de acumulação de capital com taxas de crescimento positivas, tendendo estas para valores nulos com o passar do tempo. Na trajectórias tipo 2, a economia inicia o processo com taxas de crescimento negativas, e estas vão convergindo para um valor também nulo no longo prazo. Nas trajectórias tipo 3, a economia dispara para taxas de crescimento cada vez mais negativas, o que não terá grande aderência à realidade económica em que a maioria das economias vive, mas que serve para ilustrar o risco que decisões políticas e económicas podem incorporar em sistemas económicos dinâmicos. A ilustração deste tipo de resultados em termos algébricos é totalmente desaconselhável ao nível do ensino da macroeconomia a nível intermédio. Não o é, se o recurso for a computação. Neste caso, o grau de dificuldade não é maior do que estudar o velho modelo IS—LM! É minha convicção que dentro de alguns anos será comum encontrar o ensino de métodos de computação informática ao nível de um primeiro ano dos cursos de economia (e não me refiro a meras introduções (!!) ao uso do ambiente Windows como é agora feito na maioria das licenciaturas em economia). O poder (e CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 90 5 4.5 Stock de capital em termos intensivos (k) 4 Trajectória 2 3.5 3 Equilíbrio estável 2.5 2 1.5 1 Trajectória 1 0.5 0 10 20 30 40 50 tempo 60 70 80 90 100 Figura 5.9: Diferentes trajectórias no modelo de Solow. A trajectória 1 é a de um país pobre, enquanto que a trajectória 2 reflecte a situação de um pa ís rico que sofreu um shock positivo no seu stock de capital. Neste modelo existe convergência económica entre países pobres e ricos. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 91 0.03 0.02 trajectória 1 Taxa de crescimento 0.01 Equilíbrio estável 0 -0.01 -0.02 trajectória 2 Equilíbrio instável -0.03 -0.04 -0.05 trajectória 3 0 50 100 150 200 tempo 250 300 350 400 Figura 5.10: Três casos para explicar a existência da armadilha da pobreza. Considerando—se uma taxa de crescimento do conhecimento tecnológico negativa (jDl = 3% ao ano) e apresentam—se três alternativas para jNl : (1) jNl A 0; (2) 3% ? jNl ? 0%; e (3) jNl ? 3%= Em todos estes casos as condições médias de vida vão—se degradando ao longo do tempo. CAP 5. DINÂMICA E CRESCIMENTO 92 a beleza) de ”packages” de cálculo numérico e simbólico, tipo MATLAB, MAPLE, ou MATHEMATICA, é hoje tão impressionante que o ensino da microeconomia, macroeconomia, economia pública, economia industrial, etc., passará pela larga utilização dos mesmos no futuro. Bibliografia [1] Ando, A. and Modigliani, F. (1963). 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