1 Modelagem de Torres de Linhas de Transmissão para Estudos de Backflashover: Parâmetros Concentrados A. E. A. de Araújo, e G. C. de Miranda Abstract—Este trabalho apresenta a utilização de um circuito π-equivalente na representação das torres de linhas de transmissão, para o calculo do desempenho de linhas frente a descargas atmosfericas. Além de apresentar a modelagem, este trabalho compara os resultados com modelagens comumente utilizadas em programas de desempenho de linhas de transmissão, mostrando que os erros são menores que 5%. O tempo de processamento é reduzido em mais de 50%, e o erro cometido com a aproximação é menor que os erros obtidos com as resistencias de aterramento. I. INTRODUÇÃO É prática usual em estudos de backflashover a representação de torres de transmissão por meio de linhas de transmissão, cuja impedância varia com o tipo de torre e cujo tempo de trânsito é definido como , o que pressupõe que um distúrbio de corrente propaga pela torre à velocidade da luz no vácuo [1]. Em simulações computacionais, quando se modela a torre e os vãos a ela adjacentes, ou mesmo algumas torres com seus respectivos vãos, o tempo de trânsito da torre é da ordem de 10 vezes menor que o tempo de trânsito dos vãos da linha e determinará o máximo valor do passo de integração a ser usado nestas simulações. Em simulações que envolvem a incidência de descargas em todas as torres de determinado trecho de linha, incidência esta automaticamente feita por subrotinas externas à rotina de cálculo de transitórios (por exemplo, em programas de cálculo de desempenho de linha), o tempo de simulação pode ser de tal ordem que o passo de integração seja um fator determinante da eficiência geral da simulação. É então de todo desejável que o tempo total de simulação seja reduzido convenientemente. O presente artigo apresenta um estudo de modelagem da torre com parâmetros concentrados: no caso em tela, uma cascata de circuitos π-nominal. O modelo π é utilizado somente na representação da torre; a linha de transmissão é representada através de seus parâmetros distribuídos, variáveis na frequência. Com isto, evita-se que o passo de integração seja determinado pela torre que, agora, é constituída de elementos concentrados. É de se notar que a referência [1] sugere um circuito R-L, portanto com elementos concentrados, para a representação da torre. Contudo, ao fazer isso, o circuito equivalente apresenta a impedância dos vãos de linha Antonio E. A. de Araújo é professor assistente no Departamento de Engenharia Eletrica da UFMG (e-mail: [email protected]). Glássio C. de Miranda é professor assistente no Departamento de Engenharia Eletrica da UFMG (e-mail: [email protected]). adjacentes à torre com valor modificado, o que, para a simulação num programa de transitórios, seria indesejável. II. CASO REFERENCIA Para comparação dos resultados da simulação deste artigo, utilizou-se o resultado apresentado na figura 1.29.3, da página 572 da referência [1]. Esta figura está reproduzida abaixo. A linha contínua da figura se refere à tensão calculada pelo modelo de linha e a linha tracejada, com o circuito R-L equivalente. Este circuito é calculado fazendo com que a área sob o gráfico (tensão versus tempo) seja a mesma nos dois casos. Os dados da torre e da forma de onda da corrente de descarga aplicada se encontram na própria figura. III. MODELAGEM DA LINHA Sabe-se, por meio da teoria básica de linhas de transmissão, que esta pode ser representada, com precisão, por um circuito cujos parâmetros são deduzidos dos parâmetros da linha. Se se toma o circuito da figura 2 como sendo o equivalente exato de uma linha monofásica, com parâmetros , , e , ter-se-á os seguintes valores para os parâmetros do circuito π: Fig. 1. Caso Referencia [1] 2 O número de circuitos em cascata será variado, para se avaliar a qualidade da representação, em comparação ao casoreferência. O ganho em termos do tempo de simulação será também apresentado. IV. RESULTADOS OBTIDOS A partir da figura 1, os valores de indutância e capacitância da torre são obtidos; a figura 3 mostra a comparação da modelagem em circuito π-nominal, representada pela linha continua azul, linha de transmissão, representada pela linha continua vermelha e o circuito R-L equivalente, representado pela linha continua verde. Nota-se que a representação da torre por um circuito π-nominal acarreta erros menores que aqueles apresentados pela representação da torre como um circuito RL. O valor da resistência de aterramento influencia muito pouco no erro apresentado por esta representação, como mostrado nas figuras 4 e 5. Na figura 4, o valor da resistência de aterramento é muito menor que o valor utilizado no caso base, 1Ω , e o valor máximo da sobretensão é o mesmo; na figura 5, a resistência de aterramento é muito maior, 50Ω, e a diferença no valor máximo da sobretensão é de 2%. Fig. 2: Circuito π exato onde , e é o comprimento da linha. Esta representação é exata e vale para qualquer freqüência . O equivalente denominado π-nominal é obtido se se faz a suposição de que a linha a ser modelada é uma linha eletromagneticamente curta, ou seja, com comprimento físico muito menor que o comprimento de onda do distúrbio que a percorre. Neste caso, se se considera adicionalmente que a linha não tenha perdas, os valores dos parâmetros do circuito π-nominal serão [II]: Fig. 3. π-nominal x caso referencia Tal circuito, sendo uma aproximação, apresenta, não raro, um desempenho deficiente. É, então, comum representar a linha como uma cascata de circuitos π-nominal iguais, o que melhora o desempenho do circuito em relação à representação de parâmetros distribuídos. Para o caso da torre, cujo modelo de linha já fornece a sua impedância característica ( ) e seu tempo de trânsito ( ), os valores dos parâmetros do circuito π-nominal a ser cascateado serão: e . Fig. 4. resistência de aterramento - 1Ω 3 Fig. 5. resistência de aterramento - 50Ω Fig. 8. Relação entre o pico e o tempo de frente da corrente de uma descarga atmosférica. Fig. 6. tempo de frente – 0,5µs Se a forma de onda da descarga atmosférica for alterada, fundamentalmente o tempo de frente, a modelagem por circuito π-nominal leva a erros maiores, como mostra a figura 6. Neste caso, com um tempo de frente menor (0,5µs), o espectro de frequência da corrente de descarga é maior, e a modelagem através de 1 circuito π-nominal já não é suficientemente precisa para a representação da torre. Neste caso, o uso de 5 seções π-nominal são suficientes. Para tempos de frente maiores que aquele utilizado no caso base, os erros são menores, como mostra a figura 7. Especificando-se os valores mínimos do tempo de frente da descarga atmosférica, pode-se definir o numero de circuitos π-nominais através da definição do erro máximo aceitável, e assim utilizar o mesmo circuito para qualquer tempo de frente. V. ANALISE DOS RESULTADOS Fig. 7. tempo de frente – 5µs A. Frente de Onda da Descarga A partir da distribuição cumulativa de freqüência do pico e da taxa de variação da corrente de descarga a referência [1] constrói um gráfico que inter-relaciona as duas grandezas e que é mostrado na figura 8. Vê-se na figura uma faixa ampla (de 0,75 a 2,5µs) de variação do tempo de frente da onde de corrente, indicado pelos números associados à curva. Dos resultados obtidos, pode-se concluir que quanto mais rápida a corrente, mais discrepante será o resultado da modelagem por meio de circuitos π-nominal. Contudo, para tempos de 0,5µs, tais discrepâncias são plenamente aceitáveis, o que pode ser confirmado pela figura 6. É de se notar que este tempo está até mesmo fora da faixa de tempos de frente mostrada a figura 8. Para tempos maiores a precisão aumenta. É o que mostra a figura 7. 4 B. Resistencia de Aterramento da Torre As resistências de aterramento das torres de uma linha de transmissão variam ao longo da linha, pelos diferentes tipos de solo que são percorridos e ao longo do ano, pelas diferentes condições climáticas que ocorrem. É praticamente impossível conhecer com exatidão as resistências de aterramento das torres de uma linha. Estima-se que variações de 20 por cento são comuns [1]. Em algumas regiões do Brasil, que apresentam valores de resistividade de solo muito grandes, pode-se prever variações ainda maiores. As figuras 4 e 5 mostram que variações de 50 vezes na resistência de aterramento não alteram significativamente a precisão da modelagem com circuitos π-nominal, o que mostra a validade da utilização desta modelagem, dentro do erro permitido pelas diversas variáveis do sistema. VI. CONCLUSÃO Pelos resultados obtidos e pela análise feita, pode-se concluir que a modelagem de torres de linhas de transmissão por meio de circuitos π-nominal concorre, para variadas situações, com a modelagem clássica por meio de linhas de transmissão e também com a modelagem por meio de circuitos R-L sugeridas pela referência [1]. VII. REFERENCIAS [1] [2] [3] EPRI, Transmission Line Reference Book 345kV and Above, second edition, New York, 1982. A. E. A. Araujo, W. L. A. Neves, Transitorios Eletroamgneticos em Sistemas de Energia, Editora da UFMG, Belo Horizonte, 2005. A. R. Hileman, Insulation Coordination for Power Systems, CRC Press, 1999.