ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE PIRENÓPOLIS

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ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE PIRENÓPOLIS NO ESTADO DE
GOIÁS UTILIZANDO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
Irina Alves da Silveira¹, [email protected]; Otávio Augusto de Araújo Pessoa¹, [email protected];
Sáius Borba Lins Flores¹, [email protected]. ¹Universidade de Brasília.
Introdução
O estudo da geomorfologia e de suas unidades é de extrema importância para que seja
entendida a dinâmica física de um determinado lugar. É através da geomorfologia, a qual sofre
influências litológicas e climáticas, que podem ser explicados os tipos de solos, vegetação, padrões
hidrográficos, e até mesmo determinar locais mais adequados de ocupação e uso da terra pelo homem.
No caso de Pirenópolis, município do estado de Goiás, a geomorfologia vai muito além das
unidades encontradas. Nesse município a geomorfologia, junto com sua rede hidrográfica, propiciou o
surgimento de um grande número de cachoeiras e belas paisagens, fazendo com que a cidade se torne
um importante ponto de eco-turismo, e devido a sua formação geológica, do Grupo Araxá e Canastra,
a quantidade e qualidade da pedra Pirenópolis propicia o comércio extrativista e minerador.
Para que fosse entendido o contexto geomorfológico da região, foi realizada a classificação e
descrição das unidades geomorfológicas do local. Para a realização do trabalho foram feitos
levantamentos bibliográficos da área de estudo e a aquisição de imagens SRTM do site da EMBRAPA.
Com isso foi possível confeccionar o MDT do município e seus mapas derivados, que possibilitou o
realce dos padrões morfométricos e a classificação das unidades geomorfológicas.
O objetivo deste trabalho visa demonstrar a grande importância de conhecer as unidades
geomorfológicas e a interação que o meio ambiente propicia para as atividades humanas e como o uso
de sistema de informação geográfica auxilia na representação do espaço.
Área de estudo
O município de Pirenópolis se encontra a 15º51’07’’ de latitude sul e 48º57’32’’ de longitude
oeste, pertencente ao estado de Goiás. De acordo com Programa de levantamentos Geológicos Básicos
do Brasil, realizados na Folha de Pirenópolis (SD 22-Z-D-V) na escala de 1:100.000,constatou-se que
há o predomínio de dois domínios geotectônicos distintos, o Grupo Araxá que possui grande
quantidade de xisto e quartzitos e pelo grupo Canastra. Podendo ser encontrado, em menor quantidade,
o grupo Bambuí.
O clima da região, segundo a classificação de Köeppen(1948), é do tipo Aw, tropical úmido, ou
seja, é possível verificar duas estações bem definidas, uma seca no outono e no inverno, e outra úmida,
com chuvas torrenciais no período da primavera e do verão. A temperatura média anual é de 22 °C
(Programa Levantamentos Geológicos Básico do Brasil, 1991).
Localização do município de Pirenópolis
No município de Pirenópolis podem ser encontrados solos que variam do ambiente úmido para
o seco e de solos mais jovens para mais desgastados. Dessa forma é encontrado predominantemente o
Latossolos, Cambissolos e Neossolos. Tendo a ocorrência em áreas mais restritas de solos dos tipos,
gleissolos, solos litólicos e solos lateríticos.
O município está incluído no bioma do Cerrado, onde se encontra representações do cerrado
rupestre, cerrado ralo e cerrado típico, tendo ocorrência de caracteristicas campestres, savânicas, mata
de galeria e florestais.
A agropecuária e a mineração são as principais atividades econômicas do município, junto com
as atividades turísticas, principalmente o turismo ecológico, que tem como símbolo o Parque Estadual
da Serra dos Pirineus, criado em 1987 para a proteção do conjunto paisagístico associado ao maciço
quartzítico nos municípios de Pirenópolis, Corumbá de Goiás e Cocalzinho (NOVAES, 2003).
Metodologia
Foram utilizadas duas imagens SRTM, obtidas no site da EMBRAPA, que a partir delas foram
obtidos os mapas derivados, e posteriormente feita uma composição colorida para realçar os padrões
morfométricos e assim gerar uma classificação através da ferramenta “árvore de decisão”, do programa
ENVI. Após esse processo, obtemos a delimitação dos compartimentos geomorfológicos, que junto
com uma revisão bibliográfica a respeito da geomorfologia do estado de Goiás, foram feitas as
respectivas classificações. A partir da classificação produzida foram identificadas e descritas as
principais unidades geomorfológicas do município de Pirenópolis-GO, com isso gerou-se um mapa das
unidades geomorfológicas e com essas informações foi possível descrever a área física através da
comparação com os principais grupos geológicos desse município.
A composição colorida se trata de uma ótima ferramenta para análise visual da paisagem
(Cárdenas, 1999). Desta forma na realização da composição colorida, utilizando três padrões
moformétricos, cada um correspondendo a uma das três cores primárias: vermelho, verde, azul (RGB),
os padrões utilizados foram o MDT, a declividade e o aspecto, respectivamente nessa ordem.
Com a imagem derivada foi possível perceber que as áreas mais altas correspondiam à faixa do
vermelho, as zonas de grande declividade foi representada pela cor verde, e a cor azul representa as
áreas rebaixadas (figura 1). Com o objetivo de classificar essas zonas, do ponto de vista
geomorfológico e com o auxílio de artigos e livros, foi feita uma classificação através da árvore de
decisão (figura 2), onde os parâmetros usados foram o MDT, e a declividade.
Com isso as áreas com características altimétricas e de declividade parecidas foram unidas em
classes e exportadas em formato de shape para o programa Arcmap gerando um mapa das unidades
geomorfológicas da região (figura 3).
Figura 1: Composição colorida unido MDT, Declividade e aspecto.
Figura 2: árvore de decisão.
Resultados e discussões
A partir das imagens produzidas podemos identificar as principais unidades geomorfológicas
do município de Pirenópolis (figura 3) com isso será descrito a área física desse município, visando a
relação do homem com o meio ambiente.
Foram identificadas as unidades morfoesculturais como os Alinhamentos Serranos, Planaltos
Dissecados, Depressões Intermontanas e Escarpas Erosivas, com suas respectivas unidades
geomorfológicas: Serra dos Pirineus; Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba; Depressão Intermontana,
ao longo da drenagem; e Escarpa da Depressão do Rio das Almas e seus afluentes (figura 3),
informações adquiridas de acordo com o ZEE Ride 2003 e Nascimento 1991.
Essa configuração geomorfológica é explicada pela evolução paleogeográfica da região do
estado de Goiás, que com o resultado dessa evolução foram formados alguns quadros morfoestruturais
- os maciços antigos, modelados por processos denudacionais pretéritos, aplainados e reafeiçoados no
Cenozóico, e topograficamente configurados por planaltos, serras e depressões intermontanas, bacia de
sedimentação caracterizada por planaltos escarpados, mesas e chapadões, depressões pediplanadas (do
Araguaia e do Tocantins), caracterizadas por grandes extensões de relevos planos e áreas de
dessecação incipiente (NASCIMENTO, 1991).
Os Alinhamentos Serranos compreende um conjunto de serras com cristas alinhadas dispostas
preferencialmente nas direções W-E e SW-NE (ZEE Ride 2003), se localizam principalmente na parte
Nordeste do Município, abrangendo as cabeceiras de drenagem de importantes tributários do Rio das
Almas. Ainda segundo o ZEE Ride do Distrito Federal e Entorno as principais serras existentes nessa
unidade são: a serra do Olho D’água, a serra do Bicame, a serra dos Pireneus, a serra de Cocalzinho, a
serra do Mundo Novo, a serra Dourada e a serra da Cordilheira. O relevo se caracteriza por terrenos
montanhosos, de morfologia bastante acidentada, com vertentes íngremes, por vezes escarpadas, de
morfologia retilínea a côncava e topos aguçados com cristas, geralmente, aguçadas. O relevo apresenta
altitudes bastante elevadas, deste modo a área consiste em um importante divisor de águas, esses
alinhamentos se localizam entre os planaltos dissecados e a depressão intermontana do Rio das Almas,
onde se situa o município de Pirenópolis.
Um representante dessa unidade morfoescultural é a unidade geomorfológica da Serra dos
Pireneus, com características de terrenos montanhosos resultante de grandes desgastes erosivos. A
Serra dos Pireneus apresenta uma das altitudes mais elevadas do estado do Goiás com 1.345m de
altitude. No Pico dos Pireneus, presente na porção central desse conjunto de elevações, apresenta
relevo ruiniforme, esculpido por quartzitos muito resistentes a erosão. Por esse motivo, na região da
Inflexão dos Pireneus, a faixa dos Pireneus se divide em duas, sendo que o segmento norte
compreenderia os grupos Serra da Mesa, Araí e Natividade e o sul o Grupo Araxá e a Formação
Canastra. Desta forma a Serra dos Pireneus é a feição geomorfológica mais importante da área, a qual
consiste em um conjunto de elevações de quartzitos alinhados na direção E-W, estendendo-se cerca de
64km.
Outra Unidade Morfoescultural são os Planaltos Dissecados, localizados no chamado Planalto
Central Goiano localizado na porção centro-leste do estado representados por um grande complexo
estrutural pré-cambriano, desta forma, Nascimento (1991) salienta que esse planalto trata-se de um dos
mais notáveis e salientes blocos de maciço antigo do território brasileiro. Por apresentar uma variedade
de formas de relevo e por uma diversidade de rochas metamorfizadas, com estrutura complicada por
falhamentos intrusões e metamorfismos, esse planalto foi dividido em quatro subunidades, levando em
conta os níveis altimétricos e os estágios de dissecação atual.
Uma subunidade muito importante para se compreender a região de Pirenópolis é o Planalto do
Distrito Federal, mais preservado que o Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba, onde uma importante
falha que passou pelo processo de empurrão acavalou o Grupo Araxá sobre o Grupo Bambuí, gerando
a presença de escarpas descontínuas no nível topográfico existentes entre as duas subunidades. São
compreendidos por um padrão de relevo movimentado, com colinas e morros, característicos do
Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba, remanescentes da antiga Superfície Sul-Americana, que
sofreram muitos processos erosivos e dissecação fluvial, que deu origem a grandes divisores
hidrográficos regionais. Assim essas feições morfológicas estão mantidas na paisagem devido à
proteção conferida pelas crostas detrítico-lateríticas, que as recobrem (ZEE Ride, 2003).
Figura 3: Unidades Geomorfológicas Identificadas
O Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba está relacionado às escarpas íngremes da Serra dos
Pirineus e ao reverso estrutural presente na parte leste da região. Além disso, seu relevo é marcado por
uma diversidade de colinas e morros, os quais apresentam uma variação com relação ao grau de
dissecação, ao longo do planalto modelado, fortemente influenciado pela litologia regional. O planalto
dissecado é marcado pelas feições residuais de topo plano, porém, é possível encontrar, também,
superfícies de erosão de dois tipos: chapadas elevadas do aplainamento Sul-Americano e as rampas e
colinas do aplainamento velhas (EIA-RIMA 2005).
Dentre as unidades geológicas que compõe o Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba se destaca o
Complexo Goiano, a mais antiga unidade, formada por granitos e gnaisses. O Complexo Goiano foi
sobreposto por unidades de litologia referentes aos grupos Araxá, Bambuí, Araí e grupo Canastra,
todos oriundos do período pré-cambriano.
Porém, na cidade de Pirenópolis predominam a ocorrência dos grupos Araxá e Canastra, sendo
o primeiro, constituído predominantemente por quartzitos. A resistência das formações de quartzo,
aliada às linhas de fraqueza oriundas da tectônica orientam o encaixe da drenagem e a formação de
cristas isoclinais e monoclinais. A região apresenta uma rede de drenagem de densidade média, além
de um padrão que varia de dendrítica a treliça ou retangular (EIA-RIMA 2005).
A Depressão do Tocantins, localizada a oeste, tem como limite a cidade de Pirenópolis, e por
estar embutida no Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba e por se encontrar submetida a processo de
pediplanação intermontanta, apresenta baixo grau de dissecação, fato que origina feições tabulares.
A Depressão do Tocantins pode ser dividida em duas subunidades: a Depressão do
Maranhão/Santa Teresa e o Vão do Paranã, estando a cidade de Pirenóplois, localizada na segunda
subunidade.
O Vão da Paraná representa a depressão localizada entre a escarpa do Chapadão Central
(localizado na Bahia), constituinte da Serra Geral do Goiás, e o Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba.
Apresentando altitudes que variam entre 400 e 600 metros. O Vão se encontra posicionado sobre
rochas do Subgrupo Paraopeba, formado por calcário, dolomitos, siltitos, folhelhos, argilitos e
ardósias. As rochas do referido subgrupo estão recobertas, em sua maioria, por uma camada de detritos
que camuflam a feição cárstica subjacente (EIA-RIMA 2005).
A unidade morfoescultural de Depressões Intermontanas, localiza se em meio aos relevos
residuais elevados do Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba, o que lhes confere caráter de
intermontana. É constituída predominantemente por rochas do Grupo Araxá (micaxistos e quartzitos) e
secundariamente por rochas do Complexo Basal Goiano (granitos, gnaisses), compreende por um
extenso pediplano, de morfologia levemente ondulada, com formas amplas e tabulares drenado por
uma rede de drenagem de baixa densidade e incisão incipente, ao longo dos rios principais, que no
caso do Rio das Almas verifica-se uma ligeira convexização.
O Rio das Almas se destaca pela sua grande extensão dentro dessa unidade e pelo seu trabalho
erosivo no modelado das depressões, tendo como afluentes principais os Rios do Sucuruí, Uru e Verde,
com padrão geralmente dendrítico, apresentando feições localmente que denotem feições estruturais
(NASCIMENTO, 1991). Esse pediplano, de origem mecânica, elaborado em clima seco, é datado
como a superfície mais recente dentre as superfícies que elaboram o relevo do Planalto Central
Goiano, se estende desde a região sul do município até a parte norte, ao longo do vale dos rios
Tapiocanga, das Almas e das Pedras. Devido a forte dissecação, nas regiões de depressão, ainda se
encontram relevos residuais, a formação de algumas serras isoladas e Inselbergs, que são explicados
pela erosão diferencial, devido a sua litologia mais resistente. Na região, os maiores exemplos são a
Depressão Intermontana do Rio das Almas e Rio Verde.
A última unidade morfoescultural, identificada no município, são as Escarpas Erosivas que
compreendem o limite dos Planaltos Dissecados, de altitude mais elevada, e as Depressões
Intermontanas, de altitude menos elevadas. Essas escarpas têm característica de típicas escarpas de
borda de chapadas, ou seja, intensamente recuadas e erodidas sendo dissecadas por uma rede de
drenagem de alta densidade. Assim como acontecem nas escarpas da depressão do rio das Almas, com
suas vertentes íngremes, muito dissecadas, representando um relevo de transição.
Conclusão
É fundamental a importância de se estudar o meio ambiente para entender a relação deste com
o homem e do homem com o meio ambiente. Desta forma foi possível analisar a paisagem
geomorfológica do município de Pirenópolis e com isso, entender a dinâmica do local com relação ao
uso do solo. De forma que esta análise não poderia ser feita sem o auxílio do sistema de informação
geográfica.
De posse desses resultados as entidades competentes podem realizar um melhor planejamento
para a expansão urbana, área de produção agropecuária, mineração e turismo, propiciando uma relação
de preservação ambiental e crescimento econômico.
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