I SEMINÁRIO DE ANTROPOLOGIA DA UNESP Bóris Ribeiro de Magalhães Mestre em Ciências Sociais pela UNESP de Marília. Michele Escoura Bacharelanda em Ciências Sociais na UNESP de Marília. Renato Ubirajara Botão Docente da UNESP de Marília e Mestre em Ciências Sociais pela UNESP de Marília. Salete Aparecida da Cruz Docente da Universidade do Sudoeste da Bahia e Doutoranda em Ciências Sociais na UNESP de Marília. Thiago Teixeira Sabatine Mestrando em Ciências Sociais na UNESP de Marília. Nos dias 16 e 17 de setembro aconteceu nas dependências do campus de Marília o I Seminário de Antropologia da UNESP, um espaço de debate e de problematização da situação da Antropologia na instituição. O evento reuniu diversos pesquisadores, docentes e alunos da universidade. A universidade não possui cursos de Antropologia, mas oferece espaços de estudos e pesquisas na área nos cursos de Ciências Sociais. Durante dois dias o seminário possibilitou apresentar, conhecer e debater, de modo mais aprofundado, a produção de alunos (as) da graduação, da pós-graduação e dos (as) professores (as) que trabalham e pesquisam na área de antropologia da UNESP. A abertura oficial do evento foi realizada pelo professor Luís Antonio Francisco de Souza, chefe do Departamento de Sociologia e Antropologia, a Profa. Rosângela de Lima Vieira e o Prof. Francisco Corsi, respectivamente representantes do Conselho de Curso de Ciências Sociais e da Pós-Graduação de Ciências Sociais da unidade de Marília. Para a conferência de abertura foi convidado o Prof. Dr. Carlos Alberto Soares Caroso, docente de Antropologia da Universidade Federal da Bahia e, atualmente, presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). A mesa inicial contou também com a coordenação da decana Livre Docente Claude Lépine e a presença da Profª. Lucia Arrais Morales como debatedora. O professor Carlos Caroso iniciou sua palestra abordando a questão da interculturalidade da Antropologia brasileira e a expansão dos cursos de Antropologia no Brasil com a criação de novas linhas de pesquisas nas áreas de segurança alimentar, Direitos Humanos, deslocamentos internos, turismo sexual, violência policial, entre outros, demonstrando a inventividade do saber antropológico no país e as preocupações políticas deste saber com problemáticas relativas às minorias tradicionalmente inscircunscritas no acesso aos domínios do estado de direito. Numa referência a Malinowiski, Caroso reafirmou a importância do trabalho de campo e da autoridade etnográfica, lembrando a questão da ética na pesquisa, da autorização e da necessidade de negociação com o “outro” colocando-o, às vezes na condição de autor. Em seguida, falou sobre o código de ética que norteia a ABA. A ABA em sua atual gestão, segundo o antropólogo, tem procurado estreitar relações com as esferas governamentais em questões que dizem respeito diretamente às minorias sociais, citando, por exemplo, o papel da Antropologia na demarcação de terras da reserva indígena Raposa Serra do Sol em Roraima e no debate acerca das cotas para afrodescendentes. Destacou que a Antropologia deve se aproximar do Direito para melhor entender como funcionam os mecanismos jurídicos e as relações com a seguridade das populações. Além disso, Caroso abordou as redefinições dos currículos de Antropologia, defendeu as novas formas avaliativas de Conclusão de Curso como filmes/fotografias etnográficos, laudos antropológicos, e demonstrou os novos campos de atuação profissional na área que emergem no presente. Dentre estes, elucidou a produção de laudos técnicos e, consequentemente, a aproximação da Antropologia com as esferas jurídicas, econômicas e políticas. Por fim, retomando a construção do pensamento antropológico brasileiro e de seus teóricos, ressaltou a atuação do Brasil não apenas enquanto objeto, mas também como sujeito produtor da teoria antropológica. Composta pelos (as) antropólogos (as) da UNESP de Marília, a segunda mesa buscou elucidar a produção teórica realizada no campus. A antropóloga Lúcia Arrais Morales, versando sobre a oposição animalidade versus humanidade, procurou desnaturalizar ações experienciadas no cotidiano da universidade com relação ao trabalho realizado pelas faxineiras terceirizadas e o discurso de preservação da natureza. O antropólogo indigenista Sergio Domingues utiliza a idéia de cinema de Gilles Deleuze para discutir o cinema indígena enquanto construção do saber e de atuação política de novos intelectuais indígenas. O antropólogo Andreas Hofbauer, ao expor a diáspora caboverdiana em Portugal, ressaltou a questão de se afirmar uma identidade diaspórica sem a necessidade de uma territorialidade. A antropóloga Claude Lépine centrou a discussão em suas pesquisas realizadas sobre o candomblé, a primeira na Bahia nos anos 70 e a segunda em São Paulo já nos anos “2000”, seu relato trouxe as agruras e as possibilidades do campo para os interessados na prática do saber antropológico. As pesquisas em antropologia realizadas na UNESP foram apresentadas na sessão de comunicações. Os trabalhos realizados na graduação e pós-graduação foram selecionados por uma comissão científica e divididos em quatro mesas de discussão: Antropologia do Conhecimento; Questões de Memória e Identidade; Questões de Saúde, Gênero e Meio Ambiente; e Religião e Religiosidades. As mesas foram coordenadas pelos (as) docentes da Faculdade de Filosofia e Ciências, propiciando avançar no debate das pesquisas realizadas na instituição e uma maior aproximação entre os (as) alunos(as) e pesquisadores(as) da área. Após a sessão de comunicações realizou-se exibições de filmes indígenas coordenada pelo antropólogo e indigenista Sérgio Domingues. Os filmes “O dia em que a lua menstruou” e “A origem do pequi”, produzidos e editados por indígenas do Xingu, foram problematizados pelo antropólogo a partir da perspectiva deleuziana acerca da ritualística mitológica colocando as imagens enquanto um elemento rostificador capaz de trazer a verdade para fora do elemento subjetivador. Apesar da ausência de alguns convidados, a mesa intitulada “A situação da Antropologia na UNESP”, contou com a participação da Profª Bernadete Castro da UNESP de Rio Claro e ilustrou como a disciplina é trabalhada em outro campus da universidade. A antropóloga faz da antropologia em Rio Claro uma preciosa oportunidade para as pesquisas e trabalhos de campo nos cursos de Geografia e Geologia. O primeiro Seminário de Antropologia da UNESP possibilitou avançar no entendimento da contribuição do saber antropológico para o estudo do mundo social. E, sobretudo, articulou diversas experiências de estudos desenvolvidas no país, dando um passo importante na constituição de uma rede de pesquisadores da área na UNESP. O seminário não só trouxe os contornos que delineiam o estudo e a pesquisa na Antropologia no país, mas a ampliação das fronteiras que reafirmam sua importância na produção acadêmica da UNESP. Mirando para o presente onde este saber é requisitado a problematizar e atuar no mundo social, e para o futuro, particularmente na UNESP, em busca da consolidação de uma rede de pesquisadores e estudantes e da expansão da área na universidade. Recebido em 8 de outubro de 2009. Observação: Release do I SEMINÁRIO DE ANTROPOLOGIA DA UNESP