CINEMA MOSTRA AIDS: A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DOENÇA

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CINEMA MOSTRA AIDS: A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DOENÇA NOS FILMES
Victor Hugo Alves Mascarenhas (bolsista do PIBIC/CNPq), Francisco de Oliveira Barros
Júnior (Orientador, Depto de Ciências Sociais – UFPI)
Introdução
A análise de filmes que abordam o processo saúde/doença aponta para um amplo repertório
de obras cinematográficas que apresentam as representações sociais das mais diversas enfermidades.
Em função de tal amplitude decidimos que o orientando ficará responsável pela análise de textos
fílmicos que focalizam a Aids. Vista na perspectiva construcionista, ou seja, a doença como uma
construção social e em conformidade com a sua história epidemiológica, o seu impacto socioeconômico
e a resposta da sociedade civil às políticas públicas governamentais propostas ao longo de mais de
três décadas de epidemia.
Doença estigmatizante, geradora de preconceitos e julgamentos morais, a AIDS apresenta
singularidades. Em função de suas específicas marcas e questões que levanta, interessa analisar a
produção cinematográfica sobre ela no contexto da sua história social e tomando como base de análise
a perspectiva teórica que vê a doença como uma construção social. Outros objetivos merecem atenção:
apresentar as representações sociais sobre a AIDS tomando como ponto de partida os filmes sobre ela
produzidos; expor os múltiplos discursos produzidos sobre a AIDS nos contextos fílmicos vistos e
mostrar as produções de sentido sobre a AIDS, captadas nas obras cinematográficas vistas.
Deste modo, o trabalho objetiva analisar a produção cinematográfica sobre a Aids no contexto
da sua história social, ao tomar-se como base de análise a perspectiva teórica que vê a doença como
uma construção social.
Metodologia
O acesso à doença (especificamente a AIDS) através do texto cinematográfico está sintonizada
com uma perspectiva antropológica que utiliza obras fílmicas como fonte de pesquisa
(LAPLANTINE,2004). Tal metodologia amplia a sua consistência quando usamos o cinema na sala de
aula com atividades baseadas no conteúdo fílmico (NAPOLITANO, 2003). Estamos em contato com
uma linguagem particular encarada como mais um recurso didático-pedagógico a ser visto e lido em
função do objetivo maior que é lançar um olhar complexo sobre os temas que pesquisamos. Os filmes
do repertório selecionado sobre a singular doença que escolhemos, são considerados como textos
autorais que acrescentam mais uma visão que tenta lançar um olhar decifrador sobre uma epidemia
que há mais de três décadas desafia a humanidade.
Entre os filmes que fazem parte da abordagem temática, estão: Filadélfia (1993), Meu querido
Companheiro (1989) e A Cura (1995). Escolhidos de acordo com suas abordagens foi dado ênfase ao
caráter representativo da doença, são denominados “documentos históricos” ao constituírem uma
narrativa em retrospectiva do surgimento da epidemia.
Selecionados os filmes do “CINEMA MOSTRA A AIDS”, procederemos a uma análise
detalhada de cada um seguindo a orientação dos seguintes questionamentos: 1) Quais os discursos
produzidos sobre a doença? 2) As produções de sentido sobre o viver com HIV/AIDS são explicitadas?
3) Os diferentes contextos da história social da AIDS são caracterizados? 4) A perspectiva teórica que
vê a doença como uma construção social ganha visibilidade? 5) As obras fílmicas desconstroem
estigmas e estereótipos?
Para cada filme foi feito um resumo da narrativa. A comparação dos conteúdos apresentados
possibilitou a construção de categorias conceituais que têm como base as semelhanças e diferenças
na forma de abordagem da doença.
Resultados e Discussão
“A Cura (1995)”
O medo de contaminação da Aids é uma característica marcante no filme o receio dos
personagens em contrair o vírus, percepções de medo, receios e descrenças. São recorrentes o medo
e as preocupações sobre incertezas de uma doença, considerada recente para o contexto do filme. Em
meio às inseguranças, nada parece ser seguro sobre as formas de contágio principalmente (SILVA;
MOURA; PEREIRA, 2013).
A Aids no contexto do filme possuía a representação de incurável e mortal, não havia outra
expectativa para a doença, não havia possibilidade para o tratamento e morte seria algo inevitável ao
personagem.
Quando pessoas vivendo com HIV/Aids são estudadas, um dos maiores desafios dos
portadores está em ter que desconstruir esse conceito. O fato de ser uma doença incurável traz para a
sociedade o receio de um “caminho sem volta” e a projeção da finitude, a morte é vista como
consequência principal do vírus e o fim inevitável para quem a contraiu, no caso de indivíduos mais
jovens, a velhice parece algo cada vez mais distante (TURA; MOREIRA, 2005).
“Meu Querido Companheiro (1989)”
O texto fílmico não narra apenas uma história, desvenda o passado quando tenta reviver a
história em seus mínimos detalhes. Dirigido por Norman René, tudo pode ser compreendido como sua
autobiografia por ter contraído o vírus nos anos 80, durante a gravação e o lançamento do filme, ele
ainda estava enfrentando a Síndrome. Construir um filme legítimo representa uma herança às futuras
gerações, além disso, transmitir o ponto de vista maduro do diretor projetado em um dos personagens,
como será discutido a seguir (TROVÃO, 2013).
Desde o princípio até Julho de 1983, as denominações dadas à doença sempre associavamna a um grupo específico, os gays, entre elas estão: “pneumonia dos homossexuais”, “câncer gay” e
“síndrome dos homossexuais”, amplamente. Em 1982 a imprensa começa a tornar essa associação
como imprópria, o grupo de afetados abrange também “drogados”, alguns haitianos e crianças. Neste
período, negou-se também a associação ao câncer, mas como há grande dificuldade sobre a
desconstrução da imagética social grande parte dos pensamentos de origem perduram até os dias
atuais. O filme confirmando-se em meio ao contexto da descoberta narra a origem e o impacto forte
entre a associação Aids e homossexualidade (HERZLICH; PIERRET, 2005).
“Filadélfia (1993)”
As diferentes obras podem abordar um mesmo tema dando ênfase a diferentes aspectos,
oriundos da complexa doença. Filadélfia tematiza a simbologia que envolve a AIDS, os estigmas típicos
da doença e, principalmente, questões jurídicas e sociais associadas à discriminação de soropositivos
(EDUARDO; RISSO; PAIVA, 2012). Diante disso, o filme apresenta-se como peça fundamental para
dar início a discussões sobre o tema.
Segundo Sontag (2008), a concepção criada da doença envolve um lado obscuro da vida
humana, “uma espécie de cidadania mais onerosa”. Faz parte do viver de todas as pessoas, por menor
que seja, adquirir essa cidadania. Parte indispensável constituinte do quebra-cabeças na constituição
humana, a doença sobressai da ideia ultrapassada de condição negativa e inutilizada à condição
humana. Uma vez fixado no “país dos doentes”, a paisagem recheada de preconceitos metafóricos
toma forma e fixa-se em seus habitantes, não há como escapar com permanência totalmente imune
dos estigmas construídos socialmente.
Conclusão
Deseja-se com o projeto demonstrar as fragilidades presentes diante da vida dos portadores
do vírus HIV, pessoas vivendo com HIV/Aids ainda carregam, nos dias atuais, olhares subjetivos e
discriminatórios de uma sociedade que os julga desde o início da epidemia, as implicações de estar
doente e conviver diariamente com a enfermidade são pontos destacados no projeto. Espera-se que
os estigmas, a “sinonímia” perante a morte e os preconceitos expostos nos textos devam ser objeto de
trabalho das políticas públicas governamentais, para que se possa alterar de forma positiva e
satisfatória os resultados no estudo sobre a imagem da Aids.
Referências Bibliográficas
EDUARDO, B. B.; RISSO, G. H.; PAIVA, V. I Mostra de Cinema sobre HIV/AIDS da Faculdade de
Medicina da USP: A ampliação do conhecimento sobre uma epidemia por meio da discussão de
filmes. Revista de Medicina, v. 91, n. 1, p. 16-18, 2012.
HERZLICH, Claudine; PIERRET, Janine. Uma doença no espaço público: a AIDS em seis jornais
franceses. Physis, v. 2, n. 1, p. 7-35, 1992.
LAPLANTINE, F. Antropologia da doença. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.
SILVA, L. M. S.; MOURA, M. A. V.; PEREIRA, M. L. D. Cotidiano de mulheres após contágio pelo
HIV/AIDS: subsídios norteadores da assistência de enfermagem. Texto & contexto enferm, v. 22, n.
2, p. 335-342, 2013.
SONTAG, S. Diante da dor dos outros. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
TURA, L. F. R., MOREIRA, A. S. P. Saúde e representações sociais. João Pessoa: Ed.
Universitária; 2005.
TROVÃO, F. V. 30 ANOS DE ISOLAMENTO: o HIV e a trajetória da AIDS no filme “Meu querido
companheiro”. Caderno Espaço Feminino, v. 26, n. 2, 2014.
Palavras Chave: Processo Saúde/Doença. Cinema. Humanização.
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