Área: CV (X) CHSA ( ) ECET ( ) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA Coordenadoria de Pesquisa – CPES Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 E-mail: [email protected] CINEMA MOSTRA AIDS: A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DOENÇA NOS FILMES Victor Hugo Alves Mascarenhas (bolsista do PIBIC/CNPq), Francisco de Oliveira Barros Júnior (Orientador, Depto de Ciências Sociais – UFPI) Introdução A análise de filmes que abordam o processo saúde/doença aponta para um amplo repertório de obras cinematográficas que apresentam as representações sociais das mais diversas enfermidades. Em função de tal amplitude decidimos que o orientando ficará responsável pela análise de textos fílmicos que focalizam a Aids. Vista na perspectiva construcionista, ou seja, a doença como uma construção social e em conformidade com a sua história epidemiológica, o seu impacto socioeconômico e a resposta da sociedade civil às políticas públicas governamentais propostas ao longo de mais de três décadas de epidemia. Doença estigmatizante, geradora de preconceitos e julgamentos morais, a AIDS apresenta singularidades. Em função de suas específicas marcas e questões que levanta, interessa analisar a produção cinematográfica sobre ela no contexto da sua história social e tomando como base de análise a perspectiva teórica que vê a doença como uma construção social. Outros objetivos merecem atenção: apresentar as representações sociais sobre a AIDS tomando como ponto de partida os filmes sobre ela produzidos; expor os múltiplos discursos produzidos sobre a AIDS nos contextos fílmicos vistos e mostrar as produções de sentido sobre a AIDS, captadas nas obras cinematográficas vistas. Deste modo, o trabalho objetiva analisar a produção cinematográfica sobre a Aids no contexto da sua história social, ao tomar-se como base de análise a perspectiva teórica que vê a doença como uma construção social. Metodologia O acesso à doença (especificamente a AIDS) através do texto cinematográfico está sintonizada com uma perspectiva antropológica que utiliza obras fílmicas como fonte de pesquisa (LAPLANTINE,2004). Tal metodologia amplia a sua consistência quando usamos o cinema na sala de aula com atividades baseadas no conteúdo fílmico (NAPOLITANO, 2003). Estamos em contato com uma linguagem particular encarada como mais um recurso didático-pedagógico a ser visto e lido em função do objetivo maior que é lançar um olhar complexo sobre os temas que pesquisamos. Os filmes do repertório selecionado sobre a singular doença que escolhemos, são considerados como textos autorais que acrescentam mais uma visão que tenta lançar um olhar decifrador sobre uma epidemia que há mais de três décadas desafia a humanidade. Entre os filmes que fazem parte da abordagem temática, estão: Filadélfia (1993), Meu querido Companheiro (1989) e A Cura (1995). Escolhidos de acordo com suas abordagens foi dado ênfase ao caráter representativo da doença, são denominados “documentos históricos” ao constituírem uma narrativa em retrospectiva do surgimento da epidemia. Selecionados os filmes do “CINEMA MOSTRA A AIDS”, procederemos a uma análise detalhada de cada um seguindo a orientação dos seguintes questionamentos: 1) Quais os discursos produzidos sobre a doença? 2) As produções de sentido sobre o viver com HIV/AIDS são explicitadas? 3) Os diferentes contextos da história social da AIDS são caracterizados? 4) A perspectiva teórica que vê a doença como uma construção social ganha visibilidade? 5) As obras fílmicas desconstroem estigmas e estereótipos? Para cada filme foi feito um resumo da narrativa. A comparação dos conteúdos apresentados possibilitou a construção de categorias conceituais que têm como base as semelhanças e diferenças na forma de abordagem da doença. Resultados e Discussão “A Cura (1995)” O medo de contaminação da Aids é uma característica marcante no filme o receio dos personagens em contrair o vírus, percepções de medo, receios e descrenças. São recorrentes o medo e as preocupações sobre incertezas de uma doença, considerada recente para o contexto do filme. Em meio às inseguranças, nada parece ser seguro sobre as formas de contágio principalmente (SILVA; MOURA; PEREIRA, 2013). A Aids no contexto do filme possuía a representação de incurável e mortal, não havia outra expectativa para a doença, não havia possibilidade para o tratamento e morte seria algo inevitável ao personagem. Quando pessoas vivendo com HIV/Aids são estudadas, um dos maiores desafios dos portadores está em ter que desconstruir esse conceito. O fato de ser uma doença incurável traz para a sociedade o receio de um “caminho sem volta” e a projeção da finitude, a morte é vista como consequência principal do vírus e o fim inevitável para quem a contraiu, no caso de indivíduos mais jovens, a velhice parece algo cada vez mais distante (TURA; MOREIRA, 2005). “Meu Querido Companheiro (1989)” O texto fílmico não narra apenas uma história, desvenda o passado quando tenta reviver a história em seus mínimos detalhes. Dirigido por Norman René, tudo pode ser compreendido como sua autobiografia por ter contraído o vírus nos anos 80, durante a gravação e o lançamento do filme, ele ainda estava enfrentando a Síndrome. Construir um filme legítimo representa uma herança às futuras gerações, além disso, transmitir o ponto de vista maduro do diretor projetado em um dos personagens, como será discutido a seguir (TROVÃO, 2013). Desde o princípio até Julho de 1983, as denominações dadas à doença sempre associavamna a um grupo específico, os gays, entre elas estão: “pneumonia dos homossexuais”, “câncer gay” e “síndrome dos homossexuais”, amplamente. Em 1982 a imprensa começa a tornar essa associação como imprópria, o grupo de afetados abrange também “drogados”, alguns haitianos e crianças. Neste período, negou-se também a associação ao câncer, mas como há grande dificuldade sobre a desconstrução da imagética social grande parte dos pensamentos de origem perduram até os dias atuais. O filme confirmando-se em meio ao contexto da descoberta narra a origem e o impacto forte entre a associação Aids e homossexualidade (HERZLICH; PIERRET, 2005). “Filadélfia (1993)” As diferentes obras podem abordar um mesmo tema dando ênfase a diferentes aspectos, oriundos da complexa doença. Filadélfia tematiza a simbologia que envolve a AIDS, os estigmas típicos da doença e, principalmente, questões jurídicas e sociais associadas à discriminação de soropositivos (EDUARDO; RISSO; PAIVA, 2012). Diante disso, o filme apresenta-se como peça fundamental para dar início a discussões sobre o tema. Segundo Sontag (2008), a concepção criada da doença envolve um lado obscuro da vida humana, “uma espécie de cidadania mais onerosa”. Faz parte do viver de todas as pessoas, por menor que seja, adquirir essa cidadania. Parte indispensável constituinte do quebra-cabeças na constituição humana, a doença sobressai da ideia ultrapassada de condição negativa e inutilizada à condição humana. Uma vez fixado no “país dos doentes”, a paisagem recheada de preconceitos metafóricos toma forma e fixa-se em seus habitantes, não há como escapar com permanência totalmente imune dos estigmas construídos socialmente. Conclusão Deseja-se com o projeto demonstrar as fragilidades presentes diante da vida dos portadores do vírus HIV, pessoas vivendo com HIV/Aids ainda carregam, nos dias atuais, olhares subjetivos e discriminatórios de uma sociedade que os julga desde o início da epidemia, as implicações de estar doente e conviver diariamente com a enfermidade são pontos destacados no projeto. Espera-se que os estigmas, a “sinonímia” perante a morte e os preconceitos expostos nos textos devam ser objeto de trabalho das políticas públicas governamentais, para que se possa alterar de forma positiva e satisfatória os resultados no estudo sobre a imagem da Aids. Referências Bibliográficas EDUARDO, B. B.; RISSO, G. H.; PAIVA, V. I Mostra de Cinema sobre HIV/AIDS da Faculdade de Medicina da USP: A ampliação do conhecimento sobre uma epidemia por meio da discussão de filmes. Revista de Medicina, v. 91, n. 1, p. 16-18, 2012. HERZLICH, Claudine; PIERRET, Janine. Uma doença no espaço público: a AIDS em seis jornais franceses. Physis, v. 2, n. 1, p. 7-35, 1992. LAPLANTINE, F. Antropologia da doença. São Paulo: Martins Fontes, 2004. NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. SILVA, L. M. S.; MOURA, M. A. V.; PEREIRA, M. L. D. Cotidiano de mulheres após contágio pelo HIV/AIDS: subsídios norteadores da assistência de enfermagem. Texto & contexto enferm, v. 22, n. 2, p. 335-342, 2013. SONTAG, S. Diante da dor dos outros. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. TURA, L. F. R., MOREIRA, A. S. P. Saúde e representações sociais. João Pessoa: Ed. Universitária; 2005. TROVÃO, F. V. 30 ANOS DE ISOLAMENTO: o HIV e a trajetória da AIDS no filme “Meu querido companheiro”. Caderno Espaço Feminino, v. 26, n. 2, 2014. Palavras Chave: Processo Saúde/Doença. Cinema. Humanização.