Germinação de sementes e estimativas de parâmetros genéticos de pimenta de macaco. Meirevalda do Socorro Ferreira Redig¹; Milton Guilherme da Costa Mota1; Carmen Célia Costa Conceição¹; Vera Lúcia Ferreira Rodrigues¹; José Maria Demetrio Gaia 1 . ¹Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, Av. Presidente Tancredo Neves s/n, 66077-530. C.P. 917, Belém-PA. RESUMO A pimenta-de-macaco possui propriedades bactericida, inseticida e moluscicida. O objetivo foi avaliar a germinação de sementes aos 180 dias de armazenamento e estimar a variabilidade genética entre progênies de matrizes de populações nativas. Pelos resultados, a emergência das sementes reduziu-se com o armazenamento e grande parte da variabilidade observada era devido aos efeitos genéticos. Concluiu-se que existe suficiente variabilidade genética para obtenção de cultivares com maior potencial de emergência de sementes após o armazenamento. Palavras Chaves: Piper aduncum L., óleo essencial, germoplasma. ABSTRACT Germination of storage seeds of spiked pepper and estimates of genetics parameters Spiked pepper has bactericidal, insecticide and mulluscicide properties. The objective was to evaluate the seeds germination at 180 days of storage and to estimate the genetic variability between progenies of naturals populations matrix. By results, the seeds emergency decreased with the storage and big part of observed variability was due to genetics effects. It was concluded that there are sufficient genetic variability to obtain selected varieties with higher seeds emergency potential after the storage. Keys words: Piper aduncum, essential oil, germoplasma. INTRODUÇÃO A pimenta de macaco (Piper aduncum L., família Piperaceae) ocorre naturalmente na Amazônia em áreas de vegetação secundária (Mota et al., 2001). O óleo essencial é rico em um composto natural conhecido como dilapiol, apresentando concentração em torno de 97% (Maia et al., 1998), cuja atividade moluscicida (Orjala et al., 1993), inseticida (Bernard et al., 1995) e fungicida (Bastos, 1996) tem sido comprovada. O grau de domesticação da espécie é muito baixo, tendo sido pouco submetida a processos de seleção artificial. Acredita-se na existência de suficiente variabilidade genética para selecionar genótipos que apresentem germinação mais rápida e uniforme. Ferreira et al. (2002), realizou estudos para verificar o melhor substrato para germinação das sementes. Foram descritas variabilidades fenotipica em populações naturais para caracteres morfológicos (Mota et al., 2001) e para teor de óleo essencial e dilapiol (Mota et al., 2002) e divergência genética entre germoplasma de diferentes origens por marcadores moleculares (Gaia et al., 2003) Este trabalho teve como objetivo avaliar a germinação de sementes aos 180 dias de armazenamento e estimar a variabilidade genética e herdabilidade, em progênies de matrizes de populações naturais. METODOLOGIA O experimento foi conduzido em casa de vegetação, no Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Belém-Pa. Segundo Köppen, o clima do local é classificado como tipo Afi, caracterizando-se por apresentar precipitação pluvial anual média de 2800mm de chuva o ano todo, temperatura média anual de 25°C, umidade relativa do ar de 85% e insolação média anual de 2390 horas. Foram utilizadas 15 progênies coletadas de matrizes em 5 diferentes locais. As espigas colhidas foram amassadas e lavadas para que houvesse uma melhor separação das sementes e após secagem elas foram armazenadas em sacos de papel e dentro da câmara fria. A semeadura foi feita aos 180 dias em copos de 180 ml, utilizando como substrato casca de arroz carbonizado, esterco com serragem peneirada e terra preta nas proporções 5:3:2. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 4 repetições e 100 sementes por progênie. Foram obtidos dados de emergência, desde o primeiro dia após a semeadura até aproximadamente o trigésimo dia, em função da variabilidade existente. Com os dados de percentual e a velocidade de emergência foram estimados os seguintes parâmetros genéticos: coeficientes de variação genética e ambiental, índice de variação b e a herdabilidade no sentido amplo (Ramalho, 1982; Vencovsky & Barriga, 1992). Os dados de percentagem de emergência foram transformados em graus (Snedecor, 1994) e o índice de velocidade de emergência foi calculado conforme formula utilizada por Vieira & Carvalho (1994). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos para emergência de sementes podem ser vistos na Tabela 1, considerando o tempo de armazenamento das sementes e o substrato utilizado a maior taxa de emergência foi de 48,5% e menor foi de 3,0% com média de 20,10 ± 5,68%. Ferreira et al. (2002) obtiveram resultado de emergência em serragem (40%) e em casca de arroz (42%). Neste trabalho em substrato (mistura de terra preta, casca de arroz, serragem e esterco) ocorreu em media uma redução na percentagem de emergência em torno de 50%, embora existam progênies (P.A. 17) cujos valores foram elevados. Considera-se que esta redução foi provavelmente devido ao tempo, condições e embalagem de armazenamento. Tabela 1 – Valores médios de emergência em sementes de progênies de pimenta-demacaco aos seis meses de armazenamento. Belém-Pa (2001/2002). Progênies Emergência (%) P.A. 01 P.A. 04 P.A. 05 P.A. 06 P.A. 08 P.A. 09 P.A. 10 P.A. 14 Média Geral Desvio Padrão 22,0 19,0 21,0 21,5 7,0 8,0 4,0 13,0 Índice de velocidade de emergência 4,49 4,21 3,35 3,97 4,17 2,27 1,64 3,12 20,10 3,14 5,68 1,24 Progênies Emergência (%) P.A. 17 P.A. 18 P.A. 20 P.A. 23 P.A. 24 P.A. 25 P.A. 29 48,5 3,0 3,0 15,0 4,0 4,0 15,0 Índice de velocidade de emergência 6,73 1,41 1,49 3,24 1,75 2,10 3,15 Pela analise da variância havia diferença altamente significativa entre as progênies, com destaque para P.A. 17 (48,5%). Considerando os valores da Tabela 2, para coeficiente de variação genética, variância genética, herdabilidade e índice b, grande parte da variação encontrada foi devida a efeitos genéticos, principalmente para percentagem de emergência. Isto indica que existe suficiente variabilidade genética para ser explorada em programas de melhoramento visando a obtenção de cultivares com maior e mais rápida percentagem de germinação, com manutenção destas características após o armazenamento. Embora o sistema de polinização em P aduncum, ainda não tenha sido definido suspeita-se que seja preferencialmente de autofecundação, Neste caso, ignorando-se os efeitos epistático, a herdabilidade no sentido amplo assemelha-se ao sentido restrito, ou seja, a variância genética entre progênies seria igual a variância aditiva. Outros trabalhos procurando descrever a variação encontrada neste mesmo germoplasma, relataram expressiva variabilidade fenotipica para varias características da planta (Mota et al.,2001 e Mota et al., 2002) e divergência genética através de RAPD entre germoplasma de diferentes origens. Tabela 2 – Parâmetros genéticos e ambientais para percentagem (transformados) e índice de velocidade de emergência em progênies de Pimenta-de-macaco. Belém, Pa. (2001/2002) Parâmetros Genéticos QMp QMe CVe(%) CVp(%) σ2e Percentagem de Emergência 346,8866** 32,2679 28,25 44,12 32,27 Índice de Velocidade de Emergência 8,4135** 1,5373 39,430 41,690 1,573 σ2p h b 78,65 90,69 1,56 1,719 20,430 1,060 QMp=quadrado médio de progênies; Qme=quadrado médio do erro; **Significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste F; CVe(%)=coeficiente de variação ambiental; CVp(%)=coeficiente de variação genética entre progênies; σ2e=variância ambiental; σ2p=variâncias genética entre progênies; h=coeficiente de herdabilidade a nível de média; b=CVp(%)/CVe(%) As estimativas da variância genética, herdabilidade e índice b indicaram que existe suficiente variabilidade genética para ser explorado, para obtenção de cultivares com maior e mais rápida emergência de sementes, e mantenham estas características ao longo do processo de armazenamento. O tempo de armazenamento reduziu a porcentagem de germinação e o índice de velocidade de emergência. LITERATURA CITADA BASTOS, C. N.; Efeitos do óleo de Piper aduncum sobre Crinepellis perniciosa e outros fungos fitopatogênicos; Fitopatologia Brasileira, 22 (3):441-443, 1997 BERNARD, C. B., et al. Iseticidal defenses of piperaceae from the neotropics. Journal of Chemical Ecology, 21:801-814, 1995. FERREIRA, G. M.; MOTA, M. G. da C.; MORAES, E. da C.; CONCEIÇÃO, C. C. C. da; RODRIGUES, V. L. F.; Germinação de sementes de pimenta-de-macaco. Horticultura Brasileira, v.20, n.2, julho, 2002. Suplemento 2. GAIA, J.M.D. et al. Similaridade genética em populações naturais de pimenta-de-macaco por análise RAPD. Horticultura Brasileira (enviado), abril, 2003. MAIA, J. G. S. et al. Constituints of the essential oil of Piper aduncum L. Growing wild in the Amazon Regionm; Flavour and Fragrance Journal, 13:269-272, 1998. MOTA, M. G. C.; CONCEIÇÃO, C. C. C.; MAIA, J. G. S.; GAIA, J. M. D.; Coleta de germoplasma de Piper aduncum L. Na Amazônia brasileira. In.: III SIMPÓSIO DE RECURSOS GENÉTICOS PARA AMÉRICA LATINA E CARIBE, 2001, Londrina – PR, Instituto Agronômico do Paraná, 2001, p. 192-194. MOTA, M. G. C.; CONCEIÇÃO, C. C. C.; MAIA, J. G. S.; GAIA, J. M. D.; Variabilidade fenótipica para rendimento em óleo essencial e teor de dilapiol em populações naturais de pimenta-de-macacona Amazônia Brasileira; Horticultura Brasileira, v.20, n.2, julho, 2002. Suplemento 2 ORJALA, J., et al 5 new prenylated P-Hydroxybenzoic acid-derivatives with antimicrobial and molluscicidal activity from Piper aduncum leaves; Planta Medicinal, 59 (6):546-551, 1993.