Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 Transformação do lixo eletrônico em concentrados metálicos: caracterização das espécies Matheus Eduardo Alves Leal e Carolina Maria Goetz ( UnUCET-UEG) [email protected] e [email protected] Resumo: A presença de componentes de elevada toxicidade nos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE), pode ocasionar prejuízos ao meio ambiente e a saúde humana quando descartados de maneira inadequada. Apoiados em legislações especificas, novos regulamentos são estabelecidos quanto ao descarte dos REEE, descrevendo como responsabilidade dos produtores a correta destinação dos resíduos eletrônicos. E necessário desenvolver técnicas eficazes de reciclagem, principalmente das placas de circuito eletrônico (PCI) de microcomputadores, as quais apresentam vários metais tóxicos. Através desta linha de pensamento, o objetivo deste trabalho é realizar extração dos metais das PCI possibilitando futura reutilização em novos processos de fabricação. Para verificar se o método de extração foi eficaz, foram feitas analises dos sólidos residuais ao final de cada etapa do tratamento por difração de raios X (RX). Os resultados das analises resultantes do RX comprovaram a funcionalidade dos processos de tratamento. Metais como níquel, cromo, zinco e alumínio foram detectados na difratometria de RX. Palavras chave: Reciclagem, extração de metais, resíduos sólidos. Introdução A produção de equipamentos elétricos e eletrônicos (EEE) é um dos setores da indústria de manufaturas que apresenta rápido crescimento pelo mundo. Concomitantemente, a constante inovação tecnológica intensifica as alterações, em design e funcionalidades destes produtos, resultando em substituição e posterior descarte (CHANCEREL, 2009) o que torna a geração de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) cada vez maior. (WIDMER et al. 2005). Todos os anos, 20 a 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são geradas de acordo com a diretiva européia. Estes resíduos podem causar sérios riscos ao meio ambiente e a saúde humana, quando descartados de maneira incorreta (GUO et al.,2008). A necessidade de regularização dos descartes e minimização dos danos causados pela incorreta deposição dos resíduos e uma questão discutida atenciosamente pelas comitivas ligadas a preservação de recursos naturais. Em decorrência do âmbito de preservação ambiental, na União Européia, foram elaboradas diretivas especificas para fabricação e descarte de resíduos de componentes eletrônicos. O plano de maior destaque, a diretiva RoHS, sigla para restriction of certain hazardous subtances (restrição de certas substancias perigosas) visa redução de produtos que utilizam ou contenham substancias perigosas em sua composição. A diretiva RoHS, limitou a utilização de substâncias como cádmio, mercúrio, cromo hexavalente entre outras, em processos produtivos, proibindo desde 1° de julho de 2006 que produtos que não atendam a esta diretiva, sejam comercializados em território europeu (WIENOLD et al.,2010). 1 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 No Brasil, as primeiras iniciativas quanto a reciclagem de resíduos sólidos partiram de resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Através da resolução no. 257 (1999) tornaram-se responsabilidades dos produtores, o gerenciamento da coleta, transporte, classificação e métodos adequados de tratamento prévio, de pilhas e baterias que findaram o seu uso (VEIT, 2005). Aprovada em 2 de agosto de 2010, a lei no. 12.305, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (D.O.U. DE 03/08/2010, P. 2). Esta determinação busca a instalação de centros específicos de coleta e recuperação de componentes sólidos. Desta maneira espera-se finalizar os descartes destes produtos em aterros, reduzindo, conseqüentemente, a perda de metais presentes nestes resíduos e evitando a contaminação do meio ambiente. Além dos planos de reciclagem do governo federal, existem planos de ação dos governos estaduais que assumem regulamentos mais rígidos quanto ao descarte do lixo tecnológico. Uma das alternativas encontradas para a redução dos riscos apresentados ao meio ambiente e a saúde do homem é a reciclagem dos componentes eletrônicos. Os projetos de reciclagem estão presentes em vários países. Países como Turquia, Coréia do Sul e Áustria investem em cadeias produtivas que visam desenvolver a manutenção dos recursos naturais, crescimento do pólo tecnológico e sustentabilidade. Os investimentos são voltados para a criação de plantas industriais limpas (BUYUKBAY et.al. 2009). O alto valor econômico de metais associados às sucatas eletrônicas e as limitadas reservas disponíveis fornecem aditivos adicionais para a recuperação de metais oriundos de REEE (BEHRENDT, 2007 citado por CHANCEREL, 2009). De acordo com (EHNER, 1998 citado por LI et. al., 2007) a extração de metais do meio ambiente, de minas, se comparada à recuperação de metais presentes em sucatas de equipamentos elétricos e eletrônicos, apresenta maior consumo de energia e recursos naturais. Há ainda a constatação de que os metais reaproveitados dos circuitos eletrônicos dos equipamentos descartados apresentam níveis de pureza, cerca de dez vezes maiores, quando comparados aos metais presentes em minérios. A utilização destes metais poderia garantir padrão de qualidade superior dos produtos finais. Além disto, a associação da idéia que uma empresa utiliza tecnologia menos agressiva para fabricação de seus produtos pode também ser utilizada como estratégia de marketing para aumentar o numero de vendas (BUYUKBAY et.al. 2009). Os métodos de tratamento de placas de circuito impresso (PCI) envolvem sucessivas etapas de tratamento devido à diversidade de metais presentes. Os principais processos de tratamento são: processamento mecânico, pirometalurgia, hidrometalurgia e eletrometalurgia. Estas etapas constam de grande parte da literatura e apresentam melhores resultados quando combinadas, nos diferentes estágios da recuperação. Objetivo O objetivo deste trabalho é realizar extração dos metais das PCI e caracterização das espécies metálicas possibilitando futura reutilização em novos processos de fabricação. Material e Métodos 2 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 Placas de circuito impresso oriundas de microcomputadores sucateados foram utilizadas para a realização deste trabalho. As placas, provenientes de equipamentos da UnUCET, foram doadas pelo Núcleo de Tecnologia de Informação (NTI). A primeira etapa de processamento consistiu na separação manual dos componentes visíveis, que são: parte puramente plástica, parte puramente metálica e outra parte mista na qual o trabalho é realizado. A parte mista foi reduzida a fragmentos menores, utilizando força mecânica, através da prensa de corte e alicate comum. Depois levada à moagem em moinho de facas (marca Marconi, modelo MA 580) por três vezes de aproximadamente 5 minutos, até que o material processado atingisse granulometria de 28 mesh, da serie Tyler. Uma nova etapa de cominuição, utilizando uma fração da amostra de 28 mesh, foi realizada em moinho (marca Marconi, modelo MA 630) durante 3 minutos em seis repetições. O pó obtido foi separado quanto a sua granulometria, utilizando peneira de 48 mesh. As amostras com granulometria de 28 e 48 mesh, foram submetidas a tratamentos semelhantes para extração de metais. As etapas de cominuição geraram material constituído por parte metálica e polimérica (MICHELINI, 2010). Com o intuito de promover a separação entre estas fases, utilizou-se um sistema de decantação associado a etapas de lavagem do material processado com água. Este material foi distribuído, após homogeneização, em seis béqueres de capacidade nominal de 1000 mL. Em seguida, todas as seis alíquotas do material foram submetidas a etapas de lavagem sobre fluxo constante de água, intercaladas por etapas de decantação. As etapas de lavagem, associadas ao processo de decantação, foram repetidas por 15 vezes para cada alíquota. A fração supostamente metálica, proveniente de placas de circuito impresso de microcomputadores, foi espalhada de maneira homogênea em uma placa de vidro e com o auxilio de espátula e régua foram delimitados espaços de aproximadamente 5cm x 5cm. Este método foi realizado para garantir a distribuição homogênea dos metais contidos na fração metálica e aumentar a confiabilidade das análises estatísticas. Três amostras, escolhidas aleatoriamente, com peso aproximado de 10,0 g, pesadas em balança analítica de bancada (marca Quimis, modelo QIS A210) foram submetidas ao tratamento para extração de metais. Para o tratamento foram realizados três métodos para extração de metais. O primeiro tratamento realizado foi reação com NaOH (2 mol.L-1), para obtenção de hidróxidos solúveis. (VOGEL, 1981), O tempo de reação foi 20 minutos a temperatura de 40°C. Em seguida foi feita digestão completa do resíduo solido com HCl (1mol.L-1) (MARTINS, 2007). E por fim, digestão completa do resíduo solido com HNO3 (1mo.L1) (MARTINS, 2007). Estes tratamentos foram realizados separadamente para as amostras de placas de circuito impresso, classificadas de acordo com sua granulometria (28 e 48 mesh). Para realizar o tratamento com NaOH (2 molL-1), 10 g das amostras foram colocadas em três béqueres de vidro borossilicato com capacidade nominal de 250 mL, os quais continham 25 mL de NaOH (2 molL-1). Os sistemas foram mantidos a temperatura de 40+/-5°C em placa aquecedora (marca ZEZIMAQ, modelo 41x31) durante 20 minutos. 3 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 As soluções resultantes do tratamento com NaOH (2molL-1) foram filtradas a pressão reduzida e armazenadas. As frações sólidas foram pesadas em balança analítica de bancada (marca Quimis, modelo QIS A210). Aproximadamente 6,0 g, das três frações de sólidos remanescentes, de foram colocadas em três béqueres de vidro borossilicato com capacidade nominal de 1000 mL contendo 60 mL da solução de HCl (1molL-1). Foram mantidas à temperatura de 60±5°C numa placa aquecedora (marca ZEZIMAQ, modelo 41x31) até a secura. Estas condições de tratamento seguem as proposições de Martins (2007). Depois da secura foram adicionados mais 60 mL da solução de digestão aos sistemas e estes foram novamente aquecidos. Esta operação foi repetida três vezes. Os sólidos remanescentes foram pesados e retiradas alíquotas de 3g para serem submetidas à digestão completa com HNO3 (1molL-1) O restante foi enviado para análise por difração de raios X. As três amostras remanescentes da digestão com HCl foram colocadas em béqueres com capacidade nominal de 1000 mL contendo 30 mL da solução de digestão HNO3 (1molL-1) (MARTINS, 2007). Os sistemas foram mantidos à temperatura de 60 ± 5°C numa placa aquecedora (marca ZEZIMAQ, modelo 41x31) até a secura. As etapas de digestão foram repetidas por cinco vezes associadas a quatro diluições. Ao final do experimento, as digestões foram cessadas, pois já não se notava coloração alguma na solução extraída. Resultado e discussões Através da análise dos difratogramas de Raios-X dos resíduos sólidos, posterior aos três tratamentos verificou-se através das cartas do software do difratômetro: a) Tratamento com NaOH (2molL-1): Pode-se perceber que alguns metais foram solubilizados no tratamento com NaOH (2molL-1). Metais como zinco e as ligas metálicas: zinco-titânio, cromo-níquel, níquel-cromo-ferro e alumínio-ferro; já que não apresentaram picos compatíveis com as cartas do software após o tratamento das amostras com NaOH. Isto é esperado visto que estes metais apresentam solubilidade na faixa de pH da solução de NaOH (2molL-1) (VOGEL, 1985). Além destes metais solubilizados, esperava-se que metais como: prata, ferro, níquel, alumínio estanho, também fossem solubilizados, fato que não ocorreu. A detecção destes componentes nos sólidos residuais indica que as condições de tratamento não foram totalmente eficazes. Comparando-se os difratogramas, de amostras das duas diferentes faixas de granulometria, não é possível notar grandes diferenças quanto à solubilização de metais para este tratamento, ou seja, para esta etapa de tratamento a granulometria não é fator determinante. b) Através do tratamento com solução de HCl: Houve a solubilização das ligas metálicas de cobre-zinco, níquel-titânio-alumínio, alumínio-ferro e níquel-ferro, e de estanho. Isso ficou evidenciado através da comparação entre os difratogramas dos sólidos residuais no final dos tratamentos com NaOH e com HCl. De acordo com Vogel (1985) estes metais são solúveis na faixa de pH da solução de HCl (1molL-1). Porém, é possível perceber que alguns compostos de alumínio e cobre, metais solúveis em HCl, não foram totalmente extraídos, indicando que esta a extração não foi totalmente eficaz. c) Digestão completa com HNO3: Somente através de caracterização visual, foi possível perceber grande evidência de que os compostos metálicos em sua maioria haviam sido removidos nesta etapa do tratamento. Metais residuais como cobre e ferro, e as ligas metálicas alumínio-cromo, samário-alumínio, prata-zinco, cobre-níquel; foram solubilizados, restando supostamente somente compostos poliméricos. 4 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 Conclusão A proposta do tratamento por combinação seqüencial de soluções básicas e ácidas é eficaz para a extração dos metais presentes em PCI. Isto pode ser concluído pela análise do difratograma do resíduo sólido do tratamento final com HNO 3 apresentar apenas características de substância amorfa. Ainda podemos concluir que a granulometria das amostras é fator determinante somente na solubilização de ferro com HCl. A faixa granulométrica de 48 mesh apresenta maior eficácia na solubilização deste metal, devido à sua maior superfície de contato. Referências Bibliográficas BÜYÜKBAY, B. et al., “Cleaner production application as a sustainable production strategy, in a Turkish printed circuit board plant”, Resources, Conservation and Recycling, 54, pp. 744-751, 2010. CHANCEREL, P. et al., “Assessment of precious metal flows during preprocessing of waste electrical and electronic equipment”, Journal of Industrial Ecology, Vol. 13 nº 5, pp. 791-810, 2009. LI, J. et al., “Recycle technology for recovering resources and products from waste printed circuit boards”, Environmental Science & Technology, Vol.6, nº 41, pp. 19952000, 2007. MARTINS, A. F., “Recuperação de estanho e cobre a partir da reciclagem de placas de microcomputadores sucatados”, Estudos Tecnológicos, Vol. 3, n° 2, pp. 124-131, julset 2007. .ROSENBROCK, L.G.C.C, “Recuperação de prata e cromo dos resíduos gerados nos experimentos de titulação argentimétricas”, Dissertação de mestrado, Florianópolis, 2009. SOUZA, K.C.D, “Preparação e caracterização de estruturas polimórficas da tolbutamida e nifedipina”, Dissertação de mestrado, Niterói, 2005. USP, Laboratório de cristalografia, Difração de Raios X, disponível em: <http://www.if.usp.br/cristal/XRD.pdf >. Acesso em: 25 abr. 2011. VEIT, H.M. et al., “Recovery of cooper from printed circuit boards scraps by mechanical processing and electrometallurgy”, Journal of Hazardous Materials, B 137, pp.1704-1709, 2006. VEIT, H.M. et al., “Utilization of magnetic and electrostatic separation in the recycling of printed circuit boards scrap”, Waste Management, 25, pp. 67-74, 2005. 5 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 VEIT, H.M, “Reciclagem de cobre de sucatas de placas de circuito impresso”, Tese de doutorado, Porto Alegre, 2005. 6