ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS POR COMPOSTOS NITROGENADOS Reila Amaral Gonçalves Aluno de Graduação de Química Industrial, UFRJ. Período PIBIC/CETEM: Agosto de 2013 a maio de 2014, [email protected] Rosana Elisa Coppede Silva Orientadora, Geóloga, D. Sc. [email protected] Roberto Carlos da Conceição Ribeiro Orientador, Professor Engenheiro Químico, D.Sc. [email protected] 1. Introdução A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define rocha ornamental como material rochoso natural, submetido a diferentes graus ou tipos de beneficiamento ou afeiçoamento utilizado para exercer uma função estética. O Brasil está entre os cinco maiores produtores mundiais de rochas ornamentais, sendo Espírito Santo o estado mais exportador. As exportações do primeiro quadrimestre de 2014 somaram 397,5 milhões de dólares (ABIROCHAS, 2014). Entretanto, as rochas ornamentais passam constantemente por desgastes físicos e químicos que causam sua degradação e o encurtamento da durabilidade do material utilizado. Devido sua grande importância para o mercado nacional, esses danos merecem ser estudados e avaliados. Um dos maiores agentes contra as rochas ornamentais são as aminas. Tais compostos orgânicos são formados pela decomposição de corpos e também são encontrados em pequenas quantidades em fezes de pombos. O necrochorume, líquido viscoso liberado por corpos em decomposição, é constituído por 60% de água, 30% de sais e 10% de substâncias orgânicas (SILVA, 1998). Com a decomposição das substâncias orgânicas presentes no necrochorume, são geradas diversas diaminas, as mais preponderantes são as mais tóxicas: a putrescina ( ) e a cadaverina ( (SILVA, 1995). A putrescina foi encontrada em maior quantidade nas fezes dos pombos, cerca de 6 milimol/g do peso seco da amostra estudada (KÄMPFER, 2002). Se torna, assim, essencial o estudo de como esses componentes agem sobre as rochas e nos minerais presentes em sua composição a fim de encontrar uma maneira para prevenir as futuras degradações. 2. Objetivos Analisar como as rochas ornamentais (Granito Preto, Granito Branco, Venetian Gold e Pedra Cariri) se comportam após o contato com a etilenodiamina, que faz o papel das aminas tóxicas putrescina e cadaverina. 3. Metodologia 3.1 Preparação das amostras As amostras das rochas foram cortadas em cubos e britadas com o auxílio dos funcionários do CETEM. As amostras britadas foram pulverizadas no laboratório de preparação de amostras com o auxílio de um pulverizador (Fritsch). Cada amostra foi submetida a uma rotação de em média 350 rpm e o tempo variou de acordo com a especificidade de cada amostra. Tais materiais foram peneirados até atingirem uma 2014 - XXII – Jornada de Iniciação Científica-CETEM granulometria menor que 0,105mm e foram encaminhadas para a análise por Difração de Raio X. Esse procedimento foi realizado com as amostras brutas e após a análise com a diamina. 3.2 Difração de Raio X A determinação da composição mineralógica das rochas foi realizada pela Coordenação de Análises Minerais (COAM) do CETEM. 3.3 Índices Físicos Com as amostras cortadas em cubos foram realizadas, inicialmente os índices físicos. Esse ensaio consiste em determinar a porcentagem de porosidade de cada rocha. Inicialmente as amostras foram lavadas e em seguida colocadas na estufa com temperatura de 100ºC por 24h, para garantir que toda umidade fosse retirada. Após a estufa, determinou-se o peso seco de cada uma das amostras. Depois da pesagem as amostras ficaram submersas em água destilada por um período de 24h. Passado esse tempo, as amostras foram pesadas novamente para a determinação do peso saturado. Em seguida, com o auxílio de uma balança Hidrostática foi determinado o peso submerso. Esse ensaio foi realizado com as rochas brutas e após o contato com a etilenodiamina. 3.4 Microscopia Eletrônica de Varredura O MEV foi realizado, assim como os outros ensaios, duas vezes, uma com a rocha em cubos bruta e a outra com a rocha degradada. A microscopia eletrônica de varredura foi realizada no Setor de Caracterização Tecnológica (SCT/CETEM) com o auxílio do MEV FEI Quanta 400. 3.5 Agente degradante Após as análises iniciais as amostras das rochas foram depositadas em quatro soluções diferentes de etilenodiamina (solução concentrada, 70%, 50% para os granitos e 30% e 10% para a pedra cariri). Cada amostra foi devidamente numerada para o controle e futura análise das alterações. As rochas ficaram em contato com a solução em um bécher de 100mL, inicialmente por 72h. Após esse tempo foram realizados novos índices físicos. Em seguida, o material ficou na solução por mais sete dias e no fim foram repetidas todas as análises já descritas. 4. Resultados e discussão 4.1 Índices Físicos As amostras A, B e C do Granito Preto, Granito Branco e Venetian Gold correspondem à solução concentrada, 70% e 30% respectivamente. Já a amostra da Pedra Cariri, ficou nas soluções de 30% (C) e 10% (D). Figura 1: Variação da porosidade com a concentração e com o tempo em solução de cada rocha. Retirando a amostra C do Granito Preto que apresentou um comportamento fora do padrão, é possível perceber que a porosidade das amostras sofreu mudanças bruscas. A variação na porcentagem foi maior nas amostras que ficaram em contato com as soluções mais concentradas. Isso se deve ao fato de que na formação morfológica das rochas há espaços vazios que são chamados de região de defeito, essas regiões são onde os grãos de cada mineral se encontram. Como cada grão possui uma direção, tais espaços vazios surgem e são neles que a solução da diamina se deposita e faz ligações com os minerais alterando as características físicas das rochas e diminuindo, assim, a porosidade. A amostra da Pedra Cariri reagiu fortemente com a solução concentrada e de 70%, o que ocasionou a desintegração por completa da rocha. Foi necessário, então, que a mesma fosse avaliada com soluções de menores concentrações. 4.2 Microscopia Eletrônica de Varredura Pela visualização no microscópio das amostras foram captadas as imagens abaixo. As imagens A, B, C e D correspondem à amostra bruta com aumento de 100x, amostra bruta com aumento de 500x, amostra após sete dias em solução concentrada com aumento de 100x e amostra após sete dias em solução concentrada com aumento de 500x, respectivamente. Figura 2: MEV das rochas Granito Preto, Granito Branco, Venetian Gold e Pedra Cariri É possível notar, em algumas rochas mais claramente que outras, que as superfícies das amostras apresentam maior porosidade antes de entrar em contato com o composto nitrogenado. Essas imagens corroboram o que foi mostrado pelos índices físicos, além de mostrar como a alteração das rochas foi, de modo geral, significante devido à perda das características físicas e visuais primordiais 4.3 Difração de Raios-X Figura 3: Difração de Raios-X das rochas antes e após ensaio. Os diagramas acima demonstram como as composições mineralógicas das rochas se alteraram após sete dias em contato com a solução concentrada do composto nitrogenado. O Granito Preto apresentava inicialmente altos picos de anortita, quartzo e albita, após o ensaio os picos de anortita não foram mais encontrados com tanta significância. O Granito Branco possuía altos picos de microclina e quartzo, depois dos sete dias a microclina não apresentou picos relevantes. O Venetian Gold teve seu pico de quartzo reduzido após o contato com a solução. A Pedra Cariri, a única analisada depois de permanecer na solução de 30%, apresentou uma constância nos picos de calcita. É possível notar que cada rocha, por apresentarem diferentes composições petrográficas, possui um mineral mais afetado do que outro. Toda a organização dos micros cristais dos minerais da rocha interfere na maneira que cada mineral estará suscetível a ação de um agente externo. 5. Conclusões Entende-se, assim, que os compostos nitrogenados encontrados nas fezes de pombos e na decomposição de corpos possuem um elevado poder de degradação das rochas, alterando suas propriedades físicas e químicas. Tornando-se, dessa forma, indispensável à pesquisa para encontrar maneiras de prevenir tais danos a fim de manter as características primordiais das rochas. 6. Agradecimentos Ao CNPq pelo apoio financeiro, ao CETEM pela infraestrutura e apoio concedido. 7. Referências bibliográficas ABIROCHAS – Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais, Informe 19/05/2014. SILVA, R.W.C. – Cemitérios Como Áreas Potencialmente Contaminadas, Revista Brasileira de Ciências Ambientais, número 9.