Janete Fátima Balestrini

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Lato Sensu em Psicopatologia e Psicodiagnóstico
TESTES PROJETIVOS E PACIENTES COM LESÕES
NEUROLÓGICAS
Autor: Janete Fátima Balestrini
Orientador: Drª Claudia Cristina Fukuda
Brasília - DF
2014
2
JANETE FATIMA BALESTRINI
TESTES PROJETIVOS E PACIENTES COM LESÕES NEUROLÓGICAS
Estudo apresentado ao curso de Pós
Graduação
em
Psicopatologia
e
Psicodiagnóstico
da
Universidade
Católica de Brasília, como requisito
parcial para obtenção de Titulo de
Especialista em Psicopatologia e
Psicodiagnóstico.
Orientadora: Profª. Doutora Cláudia
Cristina Fukuda
Brasília/DF,
2014.
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TESTES PROJETIVOS E PACIENTES COM LESÕES NEUROLÓGICAS
Janete Fátima Balestrini1
Cláudia Cristina Fukuda2
RESUMO
Este estudo exploratório discorre sobre o uso dos testes projetivos em pacientes
lesionados neurológicos, as principais abordagens teóricas no âmbito da saúde/doença
mental, lesão cerebral e suas interseções com a psicologia. Tem como objetivo
identificar a contribuição do uso de testes projetivos como elementos de suporte para
um adequado diagnóstico de possíveis alterações no comportamento, identificados
através dos desenhos na forma de projeção. O estudo considerou as dificuldades
cognitivas e afetivas, bem como possíveis alterações no comportamento e nas emoções,
experimentadas por uma paciente com traumatismo craniano. Também avalia, por meio
do psicodiagnóstico, as relações entre o transtorno orgânico de personalidade e
comportamento e suas possíveis sequelas. O resultado percebido utilizando-se de
técnicas projetivas (HTP e Rorschach), as quais são consideradas próprias para
descrever e ou caracterizar os aspectos da personalidade de pacientes com lesão
cerebral, não evidenciou elementos definitivos sobre o processo de avaliação
psicológica da examinanda, uma vez que a paciente não produziu respostas favoráveis,
talvez pelo quadro e extensão das lesões cerebrais, visto que ela não conseguiu se
projetar nos testes, situação evidenciada nas respostas do protocolo e nos desenhos
realizados, os quais materializaram fortes aspectos de infantilidade e regressão. O HTP
se destaca por ser um meio de investigação psicológica que avalia muito bem a imagem
corporal e como técnica de avaliação da personalidade, revelando a síntese pessoal.
Através do grafismo pode representar e registrar suas emoções e sentimentos. Entretanto
não apresentou indícios claros de Traumatismo Crânio Encefálico e levou a hipótese de
Psicopatologia. A técnica de Rorschach é particularmente mais sensível no diagnóstico
dos casos de organicidade com alterações de atenção, memória e falta de controle
emocional, como acontece com as lesões corticais difusas. É uma prova essencialmente
perceptiva, e o que se pede ao examinando é uma interpretação das manchas de tinta,
que exige um esforço no sentido de integrar o complexo sensorial com os engramas préexistentes.
Palavras-Chave: Testes projetivos; Lesão cerebral; Psicodiagnóstico
1
Janete Fátima Balestrini – Psicóloga pela UCB- Universidade Católica de Brasília - DF, Pós-Graduação
em Psicopatologia e Psicodiagnostico.
2
Cláudia Cristina Fukuda - Psicóloga Doutora pela UnB- Universidade Católica de Brasília - DF.
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INTRODUÇÃO
Lesões cerebrais decorrentes de acidentes são as principais causadoras de
alterações cognitivas e comportamentais incapacitantes que comprometem o
comportamento e a personalidade dos acidentados (Andrade & Santos, 2004). Essa
situação é considerada um problema relevante na sociedade atual, com consequências
significativas, dadas as suas implicações sociais e econômicas (Nitrini & Bacheschi,
2005). Pacientes com Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) costumam apresentar
alterações cognitivas e comportamentais incapacitantes que podem ser consideradas a
principal causa de uma ou mais comorbidades (Gouveia, Prade, Lacerda, Boschetti &
Andreoli, 2009).
O TCE constitui-se de uma lesão ao tecido cerebral causada por uma força
externa. É caracterizada por déficits de consciência, amnésia pós-traumática, fratura de
crânio e alterações durante a avaliação do estado mental e físico (Hanks et al., 2003). O
mesmo autor define a lesão cerebral como qualquer trauma que provoque lesão do
crânio ou do cérebro, quando ocorre um trauma súbito e este causa dano ao cérebro.
Os TCEs podem ser classificados em três tipos, de acordo com a natureza do
ferimento do crânio: traumatismo craniano fechado, fratura com afundamento do crânio,
e fratura exposta do crânio (Carvalho Et Al., 2007; Andrade Et Al., 2009).
Para Cerqueira Neto (2006) o TCE fechado caracteriza-se por ausência de
ferimentos no crânio, mas a massa encefálica sofre golpes inesperados. Quando não há
lesão estrutural macroscópica do encéfalo, o TCE fechado é chamado de concussão.
Contusão, laceração, hemorragias e edema (inchaço) podem acontecer nos TCEs
fechados com lesão do parênquima cerebral. Os TCEs com fraturas com afundamento
caracterizam-se pela presença de fragmento ósseo fraturado afundado, comprimindo
lesando o tecido cerebral adjacente. Cerqueira Neto (2006) salienta que o prognóstico
depende do grau da lesão provocada no tecido encefálico. Nos TCEs abertos, com
fratura exposta do crânio, ocorre laceração dos tecidos pericranianos e comunicação
direta do couro cabeludo com a massa encefálica através de fragmentos ósseos
afundados ou estilhaçados. Pode haver ou não perda de massa encefálica).
Em função dessas lesões, sequelas motoras, sensoriais e alterações na fala
podem ser encontradas em pacientes pós TCE, e podem permanecer por dias, semanas,
meses ou por toda a vida. Esses pacientes também podem desenvolver problemas
psíquicos ou inabilidades de difícil tratamento, causando quadros muitas vezes
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irreversíveis (Mattos, Saboya & Araújo, 2002). Os mesmos autores alertam para o risco
de uma avaliação errada em relação à preservação das funções cognitivas no paciente.
A gravidade do TCE e o tipo de lesão causada (focal ou difusa) são
determinantes na presença ou não de sequelas significativas (Gouveia, & Fabrício,
2004). A sequela mais comum de TCE está relacionada com as funções do lobo frontal,
as assim chamadas funções executivas, e incluem os problemas de atenção, memória e
novo aprendizado, solução de problemas e planejamento de ações, iniciação,
impulsividade, autorregulação do humor e autoconsciência (Sohlberg, & Mateer, 2010).
O correto diagnóstico da real extensão da desorganização cerebral em razão das
sequelas causadas por lesões neurológicas e, a partir dele, se desenvolver tratamento
adequado, é uma das grandes dificuldades da área de saúde mental. Nem sempre se
possui informações ou observações completas sobre o evento traumático e
procedimentos adotados (exames complementares, por exemplo). Diversos problemas
biológicos e psicológicos podem contribuir para a manifestação de sintomas similares
apresentados por pessoas com TCE, como a perda de consciência, uma vez que as
sintomatologias se confundem com outras patologias. Outro ponto importante é
procurar saber sobre a causa do traumatismo, a intensidade do impacto, a presença de
sintomas neurológicos, convulsões, alteração da linguagem, pensamento (Mattos,
Saboya & Araújo, 2002).
Na Psicologia o processo de diagnóstico sobre a desorganização cerebral
causada por lesões neurológicas, segundo a Resolução nº 07/2003, do Conselho Federal
de Psicologia (CFP), a avaliação psicológica, é entendida como o processo técnicocientífico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos
fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade,
utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos.
Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes
históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como
instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses
condicionantes, que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do
processo de avaliação psicológica. Pasquali (2001) menciona que os testes são
instrumentos que apresentam caráter de legitimidade, ou seja, instrumentos que
produzem resultados confiáveis. Com isso, os testes precisam demonstrar embasamento
científico e necessitam ser apropriadamente utilizados, no sentido de fundamentar uma
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decisão para melhor compreender e dar tratamento a um problema, principalmente para
que haja um olhar diferenciado e adequado sobre o manejo da saúde mental.
Em 2004 o Conselho Federal de Psicologia reconheceu a Neuropsicologia como
especialidade da Psicologia (Resolução CFP Nº 002/2004). Com isso algumas diretrizes
sobre a Neuropsicologia foram escritas pela primeira vez de forma reconhecida pelo
órgão regulador do profissional de psicologia do Brasil.
Segundo a Resolução CFP Nº 002/2004, um diagnóstico psicológico necessita
ser o mais preciso possível, principalmente para: buscar saber qual seria a problemática
do paciente e como ele se apresenta; identificar o curso da evolução e o impacto que a
desordem terá a médio e longo prazo; orientação para o tratamento onde se estabelece a
relação entre o comportamento e o substrato cerebral ou patologia; e auxilio para o
planejamento das reabilitações neuropsicológicas, estabelecendo quais são as forças e as
fraquezas cognitivas, provendo assim uma espécie de mapa para orientar quais funções
devem ser reforçadas ou substituídas por outras.
O autor D’Almeida et al. (2004) afirma que a Psicologia em programas de
reabilitação atua como facilitadora para o paciente compreender como as perdas podem
ter alterado sua condição adaptativa e emocional, auxiliando-o a contornar ao máximo
as suas dificuldades do dia a dia e desenvolver novos recursos de enfrentamento.
Utilizando-se de uma intervenção breve e focal, é possível abordar o paciente com
sequelas emocionais, comportamentais e/ou cognitivas, sociais, educacionais e/ou
profissionais. O mesmo autor salienta que, assim, a psicoterapia estimula o
desenvolvimento das capacidades do indivíduo, considerando suas limitações e
potencialidades, conscientizando-o de suas reais possibilidades, estimulando a maior
independência possível nas diferentes esferas da vida e promovendo uma maior
participação do mesmo.
A reabilitação segundo D’Almeida et al. (2004), busca melhorar a qualidade de
vida dos pacientes e familiares, otimizando o aproveitamento das funções total ou
parcialmente preservadas, por meio do ensino de “estratégias compensatórias, aquisição
de novas habilidades e a adaptação às perdas permanentes”. O processo de reabilitação
busca proporcionar uma conscientização do paciente a respeito de suas capacidades
remanescentes, o que leva a uma mudança na auto-observação e, possivelmente, uma
aceitação de sua nova realidade (D’Almeida et al., 2004).
O processo de reabilitação desses pacientes deve ter perspectivas de médio e
longo prazo, onde as metas deverão estar centradas no paciente e em seus papéis na
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família e comunidade. Isso significa estabelecer metas realistas, voltadas para as
queixas dos pacientes e familiares as quais representam perdas na autonomia e
funcionalidade para as atividades diárias, o que inclui os âmbitos pessoal, profissional e
social (Tate et al., 2003; Wilson, 2003).
Os avanços na área de reabilitação neuropsicológica começaram a ocorrer após a
Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, períodos nos quais os cientistas passaram a
empregar esforços para compreender como os diferentes tipos de lesões influenciavam o
comportamento humano e como se poderia remediá-los. Mais recentemente, as
mudanças socioculturais e os avanços tecnológicos levaram a um aumento no número
de
vítimas
de
lesões
cerebrais,
ocasionado,
principalmente,
por
acidentes
automobilísticos (Abrisqueta, Gomez, 2006).
A partir da percepção da complexidade do tema lesões cerebrais e das
dificuldades em se formular um adequado diagnóstico com as ferramentas disponíveis,
é que se fundamenta o objetivo deste artigo, que é: discutira contribuição do uso de
testes projetivos pelo psicólogo para reconhecer uma desorganização cerebral, sequelas
cognitivas e afetivas resultantes de lesões neurológicas causadas por acidentes.
A problemática levantada, e que o estudo busca identificar, está no uso adequado
de testes psicológicos, com foco nos projetivos, para o correto diagnóstico em pacientes
com lesões neurológicas.
Para responder à problemática proposta, este trabalho apresenta as principais
abordagens teóricas relacionadas a testes psicológicos utilizados em psicodiagnósticos,
seguidas pela analise de um caso clínico de uma paciente, vítima de atropelamento por
veículo automotor, o qual lhe causou lesões cerebrais graves que foi submetida a testes
projetivos.
A Projeção para a Psicanalise
Segundo Freud (1911/1969), a projeção é o deslocamento de um impulso interno
para o exterior, ou de um indivíduo para outro. Os conteúdos projetados são sempre
desconhecidos da pessoa que projeta, justamente porque foram expulsos, para evitar o
desprazer de tomar contato com esses conteúdos. Consiste em atribuir ao outro um
desejo próprio, ou atribuir a alguém, algo que justifique a própria ação.
Com os testes projetivos surge uma valorização do simbólico, concedendo ao
indivíduo à realidade imediata um caráter de ausência, mas integrando esta realidade
dentro do indivíduo. Freud foi um dos primeiros a trabalhar com essa elaboração
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simbólica através da associação livre, em 1895, e da interpretação dos sonhos, em 1899,
formando assim um sistema interpretativo (uma análise mediante a interpretação do
simbolismo das condutas do paciente), destacando que o que se encontra no indivíduo
não se encontra por acaso, pois tudo teria um significado, o que poderia parecer tão
insignificante, apresentado no contexto vivido, estaria coberto de significados e poderia
trazer a chave para a interpretação desse contexto (Augras, 1998).
Os testes projetivos permitem ou promovem o acesso a conteúdos internos dos
pacientes, pela expressão desses aspectos por meio da projeção manifesta em desenhos
ou pela própria fala, já que esses pacientes não conseguem, muitas vezes, verbalizar de
forma organizada essas experiências.
Teste Projetivo – Mancha de tinta de Rorschach
O teste projetivo de Rorschach consiste em 10 pranchas nas quais estão
reproduzidas manchas ou “borrões” de tinta cromática ou acromática. A interpretação
que o sujeito dá a essas manchas de tinta é cotada quanto ao tipo de forma, de
determinantes e de conteúdo de respostas. O conjunto dessas respostas é sintetizado
dentro de psicograma onde a análise permite, a partir de índices, caracterizar finalmente
a estrutura da
como: percepções
personalidade e
do
mundo,
problemática inconsciente do
problemas
sujeito,
tais
psicopatológicos (neuróticos
ou
psicóticos), adaptabilidade à realidade, nível de angústia, controle das reações afetivas,
qualidade das relações sociais etc (Traubemberg, 1970).
Teste Projetivo – Desenho de Figura Humana “Casa-Árvore-Pessoa” (HTP)
O teste de desenho da Casa-Árvore-Pessoa (HTP) é uma técnica projetiva
utilizada há mais de 50 anos para obter informação acerca da forma como os sujeitos
experimentam o eu, a relação com o outro e com o ambiente familiar (Buck, 2003). O
HTP estimula a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito dentro da
situação terapêutica, permitindo que eles sejam identificados com o propósito de
avaliação e usados para o estabelecimento de comunicação terapêutica efetiva (Buck,
2003).
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Psicodiagnóstico e sua historia
A aplicação de testes psicológicos em pacientes, com o objetivo de se elaborar
um diagnóstico deste paciente, denomina-se psicodiagnóstico. O psicodiagnóstico teve
sua origem na conscientização de que as doenças mentais não eram advindas de castigos
divinos ou possessões, mas análogas às doenças físicas (Ancona, Lopez, 2006). Nasceu
da psicologia clínica, que foi iniciada por Linghter Witmer em 1896, e se fundamentou
na tradição médica, produzindo efeitos marcantes na identidade profissional do
psicólogo (Cunha, 2003), o qual atuava de modo “objetivo”, visando, apenas, ao contato
com aspectos parciais da personalidade humana, não estabelecendo compromissos com
suas características pessoais e afetivas (Trinca, 1984).
Ainda hoje, o psicodiagnóstico é considerado por muitos profissionais como um
meio somente de investigação de sintomas físicos, psíquicos e suas causas. Entretanto é
relevante considerar que esse processo não envolve somente a investigação, mas
também oferece espaço de acolhimento, escuta compreensiva dos problemas e
dificuldades do paciente, além de outras intervenções também consideradas
terapêuticas. Contudo, Paulo (2004) pontua que o psicodiagnóstico permite uma
intervenção eficaz quando possibilita a apreensão da dinâmica intrapsíquica do paciente,
compreensão de sua problemática e intervenção nos aspectos determinantes dos
desajustamentos responsáveis por seu sofrimento psíquico.
SINTESE DO CASO
Este trabalho constitui-se de um estudo teórico, no qual é relatada experiência
prática, com suporte acadêmico, sobre o funcionamento do processo psicodiagnóstico
clínico, suportado em testes projetivos.
Paciente de 39 anos pós TCE encaminhada pela psiquiatria do posto de saúde de
Ceilândia, cidade Satélite de Brasília (DF), para o atendimento no CEFPA – Centro de
Formação em Psicologia Aplicada da Universidade Católica de Brasília, com
direcionamento de realização de processo de psicodiagnóstico.
A avaliação psicológica seguiu um roteiro estruturado da seguinte forma: sete
entrevistas clínicas, sendo três com a examinanda, uma com os familiares e duas para
aplicação dos testes projetivos “mancha de tinta de Rorschach” e desenho de figura
humana “Casa-Árvore-Pessoa” (HTP), os quais constituíram o processo do
psicodiagnóstico e uma entrevista devolutiva.
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Teste Projetivo – Mancha de Tinta de Rorschach
A examinanda apresentou os números de respostas abaixo para sua faixa etária,
indicando capacidade produtiva reduzida e rebaixamento das condições intelectuais
(R=09; F+%=0%; G=5; T.m.r=23'.5”; Ban=0) com recusa nas pranchas II,VI, VIII, IX,
X. Foi identificado alguns indicadores de organicidade no Rorschach, tais como:
condições intelectuais comprometidas; inibição do pensamento; dificuldade de
adaptação; controle afetivo alterado; diminuição do interesse afetivo pelo ambiente;
capacidade de adaptação e reações impulsivas. Estão presentes afetos de medo e
angústia, alteração no quadro orgânico e situações traumáticas. Foram encontradas
evidências de desconforto e mal estar emocional, relacionadas as respostas G=5.
Ao examinar a quantidade de respostas juntamente aos tempos médios de reação
TMR= 23'5'' acima do normal e tempo médio de duração TMD=38'1'' acima da media
com TMRAcrom > TMRcrom com indicativos de deficiência mental e debilidade.
A técnica de Rorschach é particularmente sensível no diagnóstico dos casos de
organicidade com alterações de atenção. É uma técnica essencialmente perceptiva, e o
que se pede ao examinando é uma interpretação das manchas de tinta, que exige um
esforço no sentido de integrar o complexo sensorial com os engramas pré-existentes.
Contudo, nos enfermos orgânicos, neste caso lesado cerebral, a maioria das respostas
não obedece a esse esquema, limitando-se a definir ou qualificar as imagens.
Apresentam, portanto, uma escassa consciência do esforço de integração associativa.
Dessa forma, passa de um instrumento projetivo, que refletiria a maneira de ser pela
forma de ver, a um instrumento perceptivo, no qual o valor diagnóstico se revela pela
dificuldade de ver, Adrados (1982). Dificuldade de ver que ficou evidente quando a
examinanda nos elementos qualitativos rejeitou aos cartões II, VII, IX, X.
No Rorschach é possível observar que examinandos que apresentam um quadro
de organicidade, mas sem comprometimento do tipo esquizofrênico nem neurótico,
embora tenham dificuldades de adaptação a tarefas de integração humana e de controle
geral, são capazes de perceber suas limitações e manter postura e conduta colaborativa
para com o examinador.
Apesar da colaboração para realizar o teste, o examinando experimenta grandes
dificuldades ao fazê-lo, os resultados são fracos, a consciência de interpretação é pobre,
e a capacidade de abstração encontra-se profundamente atingida. Embora façam um
esforço consciente para melhorar a qualidade de seu trabalho, são impotentes na
11
obtenção desse resultado. Não apresentam hostilidade nem críticas ou outros fenômenos
especiais dos transtornos neuróticos e esquizofrênicos. Se além dos sinais aparecerem
tais fenômenos, podem ser interpretados como se tratando de síndrome orgânicocerebral associada a outro transtorno, conforme as características assinaladas (Adrados,
1980; Vaz, 1997).
É possível observar a correlação entre o tamanho da lesão da examinanda e o
número de sinais orgânicos evidenciados no instrumento de Rorschach onde o número
de respostas ∑R = 09 é inferior a média que corresponde de 15 a 30 respostas. Contudo,
embora muitos sinais sejam considerados como patogênicos dos casos orgânicos, não se
limitam a aparecer unicamente nestes casos, podendo ser encontrados em outras
entidades clínicas. Assim, apesar das evidências fornecidas por este instrumento de
avaliação, cabe ao psiquiatra ou neurologista o diagnóstico definitivo, que naturalmente
poderá beneficiar-se com os resultados do Rorschach para sua análise (Adrados, 1982).
Teste Projetivo – Desenho da Figura Humana “Casa-Árvore-Pessoa” (HTP)
Os indicadores do teste HTP evidenciaram características marcantes e o modo de
funcionamento atual da examinanda. O material gráfico e os comportamentos
observados durante toda avaliação revelaram que a atual dinâmica psíquica da
examinanda
evidencia
significativa
desorganização
emocional,
manifestada,
principalmente, pela inibição do pensamento, dificuldade de coordenação dos impulsos
(controle interno pobre) e medo de que os impulsos proibitivos se rompam e provoquem
a perda de sua integridade psíquica e o total afastamento do contato com a realidade.
As características marcantes de seu funcionamento psicoafetivo são: descontrole
dos impulsos com expressão de agressividade; baixa capacidade de reconhecer e de
lidar com a realidade; ansiedade; indecisão; introversão; conflitos; insegurança; e
impulsividade.
Também revelou dificuldade no contato social, na aceitação e na compreensão
do mundo, que podem estar relacionados à vivência traumática da examinanda.
Os desenhos também revelam que, em virtude do empobrecimento de seu
controle interno, a examinanda se apresenta de maneira rígida e autodefensiva perante a
sociedade.
É importante destacar que a dificuldade de contato presente em seu atual
funcionamento psicodinâmico pode ser compreendido pela falha de suas defesas contra
as emoções, o que faz com que sua interação com os outros e sua fonte de obtenção de
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satisfação no ambiente sejam ancorados prioritariamente na via da fantasia e da
imaginação. Sendo assim, a utilização da fantasia como fonte principal reforça o fato de
que seu contato com a realidade seja menor do que o desejado, indicando uma real
dificuldade de base afetiva em se relacionar, tanto com o mundo externo, quanto com o
interno (dinâmica psíquica).
Os desenhos revelaram que a examinanda apresenta dificuldade de comunicação
nos relacionamentos interpessoais, além de baixa capacidade em lidar com a realidade.
Há indícios de resistência e de difícil adaptação no meio externo, com dificuldade em se
conformar com as demandas da sociedade, principalmente da família, conforme
evidencia a figura 1.
Essa experiência leva a examinanda a sentir um forte sentimento de
incapacidade e de rejeição e de ter intensa necessidade de autoafirmação social, embora
enfrentar a realidade pode estar relacionado com o medo hiperdefensivo do perigo
externo.
O tempo de latência para o desenho da casa, arvore e pessoas é um forte indício
de presença de psicopatologia (Buck, 2009), que para o caso em concreto, ultrapassou o
tempo médio definido no protocolo.
Acromático
Cromático
Figura 1. Desenhos do HTP
Acromático
Cromático
Acromático
Cromático
No desenho há indicadores de complexo de inferioridade, sugerindo que a
agressividade apresentada esteja relacionada com necessidade de autoafirmação e de
chamar atenção da própria família, pois ainda se sente excluído do processo familiar.
Com base em Buck (2009), essa experiência leva a mesma a sentir um forte
desejo de crescer logo, dificultando a aproximação e a constituição de relações com as
pessoas de sua idade, pois há um forte sentimento de defesa, inadequação e oposição ao
grupo. Os relatos da mãe da examinanda, que descreve seu comportamento pós-acidente
como sendo de alta libido e irritabilidade, mau humor, corroboram a interpretação do
desenho e a afirmativa de Buck (2009).
Ainda analisando indicadores do teste HTP, a examinanda expressa imaturidade
e dependência. Busca aprovação e a aceitação social, apresenta falta de confiança nos
relacionamentos interpessoais, o que dificulta a sua interação no ambiente social,
embora tenham indicativos de uma dependência do meio e das pessoas.
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Há também indicativos de ser uma pessoa extremamente insegura, indecisa e
ansiosa, o que pode potencializar o predomínio da vida instintiva e explicar a presença
de agressividade no teste. Fatores que contribuem para a repressão do ego e o
enfraquecimento de suas barreiras defensivas, muito embora demonstre grande desejo
de afirmação e necessidade de se mostrar forte e impor sua maior participação social e
afetiva.
Na tentativa de se defender contra o ambiente externo e as adversidades da vida,
a examinanda age com impulsividade e agressividade, situação evidenciada no pouco
controle sobre a expressão dos próprios impulsos. É importante considerar que tais
aspectos são geradores de intensa ansiedade e angústia e potencializam, ainda mais, a
instabilidade emocional e o sofrimento psíquico da examinanda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dada a complexidade do ser humano, o processo psicodiagnóstico contribui de
forma fundamental para a clínica psicológica e psiquiátrica, auxiliando na compreensão,
a partir de uma perspectiva mais global, do nível de funcionamento da personalidade do
paciente, incluindo elementos constitutivos, patológicos e adaptativos. Ainda, subsidia
dados para a indicação terapêutica ou para a estimativa de progressos e resultados do
tratamento (Adrados, 1980).
Para além do sintoma, no processo psicodiagnóstico o foco não está somente na
classificação nosológica, mas antes aos fenômenos existenciais de cunho interno,
relacional e dinâmico, que falam da angústia humana, das contradições da estruturação
psíquica, do sofrimento que desestabiliza ou desorganiza uma forma básica de ser e
estar no mundo.
Considerando-se os dados provenientes do histórico (lesão, coma) e dos
resultados apontados pelos testes projetivos utilizados, percebe-se que seu
funcionamento psíquico é marcado principalmente por ansiedade, agressividade
reprimida, angústia e, consequente, isolamento social.
O HTP se destaca por ser um meio de investigação psicológica que avalia muito
bem a imagem corporal e como técnica de avaliação da personalidade, com a finalidade
de revelar a síntese pessoal. Através do grafismo pode representar e registrar suas
emoções e sentimentos. De acordo com Anzieu (1988), o desenho é uma das melhores
formas para observar a percepção, o desenvolvimento mental, bem como aspectos
cognitivos e intelectuais. Anzieu (1988) salienta, ainda, que as evidências detectadas por
neurologistas, que pacientes com lesões cerebrais apresentam distorções sobre a
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imagem e o conceito sobre o próprio corpo e estas também são evidenciadas no teste do
HTP, na figura humana.
No caso em particular, apesar da colaboração para realizar os testes a paciente
produziu número de respostas inferior a 15 (quinze), no teste de Rorschach. Quando
uma pessoa tem suas funções cognitivas prejudicadas não consegue se projetar, a
examinanda experimenta grandes dificuldades para realizá-la, os resultados são fracos, a
consciência de interpretação é pobre, e a capacidade de abstração encontra-se
profundamente atingida, Adrados (1982). Segundo o mesmo autor embora façam um
esforço consciente para melhorar a qualidade de seu trabalho, o que ficou evidente no
desenho realizado pela paciente e nas respostas apresentadas no protocolo de
Rorschach.
No teste projetivo de Rorschach, sendo uma técnica individual, que avalia o
dinamismo psíquico relativo aos padrões afetivos, emocionais e cognitivos no campo da
percepção e projeção. Procurou-se compreender a organização mental da examinanda e
das suas particularidades individuais quando enfrenta a complexidade do mundo real, o
resultado não obteve número de respostas necessárias para análise. Nos resultados
evidenciou-se alguns indicadores de organicidade em razão de dificuldade de
simbolização.
Considera-se que parte das limitações desta pesquisa estão relacionadas a poucas
pesquisas relacionadas ao tema proposto. Além disso, percebeu-se no decorrer da
pesquisa bibliográfica a dificuldade em se obter dados confiáveis para confrontar com o
caso real analisado.
Enfim, vale resaltar a complexidade encontrada durante todos processo do
psicodiagnostico, principalmente durante o processo de interpretação e analise dos
dados onde exigiu-se uma maior habilidade em correlacionar os resultados obtidos nos
instrumentos. Também há de se frisar a importância da condução e do manejo clinico
com estes pacientes, pois, nem sempre é possível intervir a tempo e de forma eficaz.
Acredita-se que a presente pesquisa pode contribuir para o contexto da avaliação
psicológica, através dos dados apresentados. Os resultados deste estudo também podem
ser úteis na elaboração de programas de reabilitação que se proponham a enfatizar
contextos próximos de situações reais da participante.
Com base no exposto, sugere-se uma capacitação diferenciada dos profissionais
que irão trabalhar com os testes HTP e o Rorschach, para que haja um olhar
diferenciado sobre o manejo da saúde mental.
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REFERÊNCIAS
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