sociologia - Universidade Castelo Branco

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SOCIOLOGIA
Rio de Janeiro / 2006
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U n3p
Universidade Castelo Branco.
Sociologia Geral. – Rio de Janeiro: UCB, 2006.
52 p.
ISBN 85-86912-11-5
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Apresentação
Prezado(a) Aluno(a):
É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação,
na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando
oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente
esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma
estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.
Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu
conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.
Seja bem-vindo(a)!
Paulo Alcantara Gomes
Reitor
Orientações para o Auto-Estudo
O presente instrucional está dividido em quatro unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e
conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam
atingidos com êxito.
Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades
complementares.
As Unidades 1e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1.
Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das quatro unidades.
Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os
conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2, 3 e 4.
A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os
horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você
administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros
presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.
Bons Estudos!
Dicas para o Auto-Estudo
1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja
disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.
2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite
interrupções.
3 - Não deixe para estudar na última hora.
4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.
5 - Não pule etapas.
6 - Faça todas as tarefas propostas.
7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento
da disciplina.
8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação.
9 - Não hesite em começar de novo.
SUMÁRIO
Quadro-síntese do conteúdo programático........................................................................................................
11
Contextualização da disciplina...............................................................................................................................
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UNIDADE I
A SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA
1.1 - A Sociologia e o homem..................................................................................................................................
1.2 - Conceito de Sociologia...................................................................................................................................
1.3 - Objetos de estudo...........................................................................................................................................
1.4 - Ciência: ramo de conhecimento.....................................................................................................................
1.5 - A Sociologia Pré-Científica...............................................................................................................................
1.6 - A Sociologia Clássica.........................................................................................................................................
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16
16
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UNIDADE II
SOCIALIZAÇÃO, COMUNIDADE E SOCIEDADE
2.1 - Socialização..........................................................................................................................................................
2.2 - Comunidade e sociedade: conceitos e características....................................................................................
2.3 - Tipos de sociedades...........................................................................................................................................
2.4 - As instituições sociais......................................................................................................................................
2.5 - A vida em sociedade...........................................................................................................................................
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UNIDADE III
PROCESSOS SOCIAIS BÁSICOS
3.1 - Competição e rivalidade......................................................................................................................................
3.2 - Conflito e acomodação......................................................................................................................................
3.3 - Cooperação e assimilação..................................................................................................................................
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38
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UNIDADE IV
VALORES SOCIAIS E O INDIVÍDUO
4.1 - Atitudes, interesses e valores ............................................................................................................................
4.2 - Atitudes, interesses e valores sociais...............................................................................................................
4.3 - Desejos fundamentais do homem......................................................................................................................
44
44
44
Glossário.......................................................................................................................................................................
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Gabarito........................................................................................................................................................................
50
Referências bibliográficas.........................................................................................................................................
52
Quadro-síntese do conteúdo
programático
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
BIBLIOGRAFIA
BÁSICA
UNIDADE I: A
Sociologia e Sua
História
1.1 - A Sociologia e o
homem
1.2 - Conceito de
Sociologia
1.3 - Objeto de estudo
1.4 - Ciência: ramo do
conhecimento
1.5 - A Sociologia PréCientífica
1.6 - A Sociologia
Clássica
1.1 -Analisar o poder
coercitivo que emana
da sociedade sobre o
indivíduo.
1.2 - Conceituar
Sociologia.
1.3 - Analisar o objeto
de estudo da
Sociologia.
1.4 - Caracterizar a
Sociologia como
ciência.
1.5 - Avaliar as
mudanças sociais
ocorridas na fase da
Sociologia PréCientífica.
1.6 - Analisar a
influência da
Sociologia de
Durkheim na
educação.
• RUDOLF, Lenhard. Sociologia geral. SP:
Pioneira, 2004.
UNIDADE II:
Socialização,
Comunidade e
Sociedade
2.1 - Socialização
2.2 - Comunidade e
sociedade: conceitos
e características
2.3 - Tipos de
sociedade
2.4 - As instituições
sociais
2.5 - A vida em
sociedade
2.1 - Analisar os
mecanismos sociais
da socialização.
2.2 - Distinguir
sociedade de
comunidade.
2.3 - Descrever três
tipos de sociedade,
dentre os estudados.
2.4 - Descrever as
quatro instituições
sociais estudadas.
2.5 - Exemplificar
interação social e
controle social.
• MEKSENAS, Paul. Sociologia. SP:
Cortez, 2005.
• TORRE, Della. O homem e a sociedade:
uma introdução à Sociologia. SP:
Companhia Editora Nacional, 2001.
UNIDADES
11
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UNIDADE III: Processos
Sociais Básicos
3.1 - Competição e
rivalidade
3.2 - Conflito e
acomodação
3.3 - Cooperação e
assimilação
3.1 - Analisar os
processos sociais
estudados.
3.2 - Exemplificar na
sociedade atual, os
processos sociais
estudados.
3.3 - Analisar os
processos de
cooperação e
assimilação.
• MEKSENAS, Paul. Sociologia, SP:
Cortez, 2005.
UNIDADE IV: Valores
Sociais e o Indivíduo
4.1 - Atitudes, interesses e
valores
4.2 - Atitudes, interesses e
valores sociais
4.3 - Desejos
fundamentais do homem
4.1 - Compreender a
importância dos
valores sociais e
individuais na
sociedade brasileira,
utilizando o estudo de
casos.
4.2 - Distinguir
atitudes de valores.
4.3 - Analisar a
motivação humana
com base nos tipos
fundamentais de
desejos descritos por
W. I. Thomas.
• COSTA, Maria Cristina Castilho.
Sociologia: introdução à ciência da
sociedade. SP: Moderna, 2003.
• MATTA, Roberto da. O que faz o brazil,
Brasil? RJ: Rocco, 1989.
13
14
Contextualização da Disciplina
Profissionais das mais diversas áreas não desconhecem a utilidade da Sociologia, pois a sociedade tem
características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela atuam tenham sucesso. Não existe,
portanto, nenhum setor da vida em que os conhecimentos sociológicos não sejam de ampla utilidade. E essa
certeza perpassa hoje toda a linguagem dos meios de comunicação e toda a atuação profissional das pessoas
e, é por isso que a Sociologia faz parte dos programas universitários que preparam os mais diversos profissionais.
Hoje afirmamos que a Sociologia é uma ciência que se define não por seu objeto de estudo, mas por sua
abordagem, isto é, pela forma com que pesquisa, analisa e interpreta os fenômenos sociais.
Dizer que “o objeto da Sociologia é a sociedade” é dar ao cientista social um objeto sem limites precisos, amplo
demais para que ele possa dar conta. Tudo que existe, desde que o homem se reconhece como tal, existe em
sociedade. Portanto, não é por fazer parte da sociedade, ou de um meio social que um fato se torna objeto de
pesquisa sociológica. Um acontecimento ou um comportamento é sociológico quando sobre ele se debruça o
sociólogo, tentando entendê-lo nos aspectos que dizem respeito às relações entre os homens e às raízes de seu
comportamento.
Os conhecimentos sociológicos tentam explicar as relações entre acontecimentos complexos e diferenciados,
unindo fenômenos aparentemente dissociados, permite ao homem transpor os limites de sua condição particular
para percebê-lo como arte de uma totalidade mais ampla, que é o todo social. Isso faz da Sociologia um
conhecimento indispensável num mundo que, à medida que cresce, mais diferencia e isola os homens e os
grupos entre si.
UNIDADE I
15
A SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA
1.1- A Sociologia e o Homem
A sociedade humana tem atribuído uma grande
importância à convivência social, assim, devemos
destacar o estudo do homem, enquanto indivíduo e
ser social, para melhor analisarmos as relações de
poder e prestígio, bem como os valores pessoais e/
ou sociais que envolvem essa relação. Cada indivíduo,
nessa sociedade, desempenha papéis e conquista
“status”.
Durkheim em seu trabalho “Les régles de la méthode
sociologigue” (1983) faz a seguinte afirmativa:
Quando desempenho meus deveres de irmão, de
esposo ou de cidadão, quando me desincumbo de
encargos que contrai, pratico deveres que estão
definidos fora de mim e de meus atos, no direito e
nos costumes, mesmo estando de acordo com
sentimentos que me soam próprios, sentindo-lhes
interiormente à realidade, esta não deixa de ser
objetiva, pois não fui eu quem os criou, mas recebios através da educação. Estes tipos de conduta são
apenas exteriores ao indivíduo são também dotados
de um poder coercitivo em virtude do qual se lhe
impõem quer queira ou não (In: MAKSENAS,
2006:45).
Na música “Podres Poderes” de Caetano Veloso
podemos analisar a questão do jogo e do prestígio
social.
PODRES PODERES
(Caetano Veloso)
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais!
Queira querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da América Católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será será que será que será que será
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir
Por mais mil anos?
Enquanto os Homens exercem seus podres poderes
Índios e padres e bichas negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
Ser indecente, mas tudo é muito mal
Ou então cada paisano e cada capataz com sua burrice
fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, na cidades, caatingas
E nos gerais?
Será que apenas os hermetismos pascoais
Os tons os mil tons seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome de raiva e de sede
São tantas vezes, gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo tins e bens e tais
16
1.2 – Conceito de Sociologia
A Sociologia é uma ciência que se define não por
seu objeto de estudo, mas por sua abordagem, isto é,
pela forma com que pesquisa, analisa e interpreta os
fenômenos sociais.
1.3 – Objetos de Estudo
Segundo Durkheim (1952) os fatos sociais se
constituem no objeto da Sociologia. Porém, dizer que
o objeto da Sociologia é a sociedade, significa dar ao
cientista social um objeto sem limites precisos, amplo
demais para que ele possa dar conta. Pois, tudo que
existe desde que o homem se reconhece como tal,
existe em sociedade. Portanto, não é por fazer parte
da sociedade, ou de um meio social, que um fato se
torna objeto de pesquisa sociológica. Um
acontecimento, ou um comportamento é sociológico
quando sobre ele se debruça o sociólogo, tentando
entendê-lo nos aspectos que dizem respeito às relações
entre os homens e às raízes de seu comportamento.
1.4 – Ciência: Ramo de Conhecimento
Durante séculos, o homem pensou sobre si mesmo
e sobre o mundo, desenvolveu conhecimentos,
estabeleceu relações aplicáveis à vida cotidiana.
preocupações meramente práticas e passara a tratá-la
como uma “atividade de espírito”, importante em si
mesma e, para muitos, a mais elevada dentre todas.
Foram os gregos que elaboraram a idéia do saber
como atividade destinada às descobertas desligadas
de uma finalidade prática imediata. Foram eles os
primeiros a inventar os rudimentos do que veio a se
chamar de ciência. Menos preocupados com a
religião e a vida após a morte, foram eles os primeiros
a entender o conhecimento como uma necessidade
em si mesmo.
Assim, surgiu uma maneira nova de pensar o “porquê”
e o “para quê” das coisas. Surgiu um saber mais
desligado das atividades religiosas, ao qual se
dedicavam homens não necessariamente responsáveis
pelos cultos religiosos. Surgiram os sábios, homens
cuja atividade era descobrir os segredos do mundo e
do universo.
Enquanto os povos antigos só se interessavam pelo
mundo em que viviam como uma janela para entender
todo o universo, os gregos criaram as disciplinas e a
filosofia, o “amor pelo conhecimento”. Os egípcios
elaboraram conhecimentos biológicos e químicos
porque acreditavam na ressurreição e queriam
conservar os cadáveres. Os gregos disseram que tais
conhecimentos não eram domínio da religião, mas da
medicina. Assim, iniciaram esse hábito de
desenvolver o conhecimento através de uma
atividade abstrata, desligada de uma aplicabilidade
imediata ou de um caráter religioso. Deram às idéias,
sobre o que se deve ou não se deve fazer, o nome de
ética, ramo do conhecimento que deveria se dedicar
a essas questões morais. Se os povos antigos
justificavam sua maneira de agir em função do que
os deuses queriam, para os gregos isso fazia parte e
era resultado da intenção pura e simples de pensar
sobre os fatos. Isso não significa que a geometria ou
a medicina gregas fossem mais desenvolvidas do
que as egípcias, mais que, a partir de então, o homem
desvinculara sua curiosidade pelo mundo das
Durante a Idade Média, com o grande poder da Igreja
Católica, novamente imperou o saber ligado à religião.
Apenas as ordens religiosas, nos mosteiros,
guardavam textos sobre a filosofia, geometria e
astronomia. A população laica deixou de participar
desse saber.
Só com o Renascimento é que o homem volta aos
textos antigos e redescobre o prazer de investigar o
mundo, descobrir as leis de sua organização como
atividade com valor em si mesma, independente de suas
implicações religiosas. Nos últimos quatrocentos anos,
em particular a partir do século XVII, vimos assistindo
ao crescente progresso desse conhecimento – a ciência –
destinado à descoberta das relações entre as coisas,
das leis que regem o mundo natural. Aprimoram-se as
técnicas e os utensílios de medição, e a imprensa e
demais meios de comunicação levaram a uma
transmissão cada vez maior dos conhecimentos. No
seio desse movimento de idéias, surgiu no século XIX
uma ciência nova – a Sociologia, a ciência da sociedade.
Como a medicina e a geometria entre os gregos, o
surgimento da Sociologia significou não o aparecimento
da preocupação do homem com o seu mundo e sua
vida em grupo, pois isso sempre existiu em qualquer
das religiões antigas, mas a separação dessa forma de
pensar do vínculo com as tradições morais e religiosas.
Desencadeou-se então a preocupação com as regras
que organizavam a vida social. Regras que pudessem
ser observadas, medidas e comprovadas, capazes
assim de dar ao homem explicações plausíveis num
mundo onde passou a imperar o racionalismo, isto é, a
crença no poder da razão humana de alcançar a
verdade. Regras, enfim, que tornassem possível prever
e controlar os fenômenos sociais.
Portanto, o aparecimento da Sociologia significou
que as questões relativas às relações entre os homens
deixaram de ser apenas matéria religiosa: passaram a
interessar também aos cientistas. A constituição desse
campo do conhecimento significou, antes de mais
nada, que as relações entre os homens mereciam ser
conhecidas e formuladas por uma nova forma de
linguagem e discurso – o científico –, o qual, na
sociedade moderna, adquiriu o estatuto de “verdade”.
A partir de então o homem começou a desenvolver
métodos e instrumentos de análise capazes de traduzir
sua experiência social de maneira científica. Isso
equivaleu a criar, como nas demais ciências, métodos
de averiguação e medição e a fazer formulações sobre
a sociedade que pudessem ser comprovadas
empiricamente – isto é, através de observação e
experimentação –, de modo a tornar a ação social
humana explicável em termos de regularidades e
previsões.
O pensamento relativo às ligações do homem com
seus semelhantes passava assim a outra esfera de
abstração, a outra maneira de formular problemas,
ligada à necessidade de descobrir leis de interpretação
e previsão de acontecimentos.
1.5 - A Sociologia Pré-Científica
a) Renascimento
Movimento filosófico e artístico dos séculos XV e
XVI que teve como principal centro difusor a Itália e
alcançou, sobretudo, a Inglaterra, a França e a
Alemanha. Foi um movimento de redescoberta do
humanismo greco-latino. Foi uma primeira
transformação do pensamento medieval, sempre
voltado para a religião, para a vida pós-morte. O
Renascimento foi, portanto, o retorno da idéia de
homem com toda a importância das Antigüidades
Clássica, Grega e Latina.
Para alguns historiadores, o Renascimento
significou, principalmente, o reviver da cultura e da
erudição. Com o surgimento da imprensa e das
universidades, o burguês inculto teve acesso aos
antigos textos dos sábios.
Outros viram no Renascimento um surto de “cultura
de ostentação”, à qual teve acesso a burguesia,
enriquecida pelo comércio e desejosa de mostrar à
nobreza sua capacidade de adquirir bens de valor,
entre eles a própria cultura.
Procurando pensar sobre a vida social e política, o
homem renascentista vai desenvolver também suas
teorias, nas quais ficará refletida sua inquietude para
com as turbulências dessa transição.
Como Platão, os filósofos renascentistas criaram uma
sociedade imaginária perfeita. THOMAS MORUS
(1478 – 1535), nasceu em Londres, idealizou um lugar
sem problemas, onde todas as soluções foram
encontradas: a Utopia. Uma ilha cujo nome significa
“nenhum lugar”, onde existe harmonia e equilíbrio,
onde estão reunidos a verdade e o bem.
Desse modo, o pensamento social no Renascimento
se expressa na criação imaginária de mundos ideais
que simbolizariam como a realidade deveria ser.
Utopia é uma ilha onde reina a igualdade e a
concórdia. Todos vivem as mesmas condições de vida
e executam em rodízio os mesmos trabalhos.
Seria A Utopia uma obra sociológica?
Não no sentido moderno ou científico do conceito,
mas como expressão das preocupações do filósofo
com a vida social e com os problemas de sua época.
Todavia ou, como o próprio autor chama, o “regime
social” dos utopienses demonstra claramente a
preocupação com o estabelecimento de regras sociais
mais justas e humanas como respostas às críticas,
particularmente em relação à Inglaterra, na parte
introdutória do livro.
MAQUIAVEL (1469 - 1527) nasceu em Florença – O
criador da ciência política. Escreveu “O Príncipe”, livro
dedicado a Lourenço de Médici, em que se propõe a
explorar as condições pelas quais um monarca
absoluto é capaz de fazer conquistas, reinar e manter
o seu poder. O Príncipe é um manual de ação política
17
18
cujo ideal é a sedimentação de um poder absoluto.
Maquiavel (1996) acredita que um bom governo
depende de pulso forte e mente sábia, aliados a
qualidades pessoais como astúcia, coragem e decisão.
termos de utilidade prática. Era preciso preparar a
sociedade para receber os resultados do trabalho bem
dirigido. Os próprios sábios deveriam se interessar em
desenvolver conhecimentos de aplicação prática.
Em seu livro, mostra como deve agir o soberano
para alcançar e preservar o poder, como manipular a
vontade popular e como usufruir de seus poderes e
de seus aliados. Faz uma análise clara das bases em
que se sustenta o poder político, como conseguir
exércitos fiéis e corajosos, como castigar os inimigos,
como recompensar os aliados e como destruir, na
memória do povo, a imagem dos antigos líderes.
Novos valores guiando a vida social para a
modernização da vida, maior empenho das pesquisas
e do saber para conquistar avanços técnicos, melhora
nas condições de vida – tudo isso somado levou a um
novo surto de idéias conhecido pelo nome de ilustração
(ela foi essencialmente pragmática e liberal).
A visão laica da sociedade e do poder
Em relação ao desenvolvimento do pensamento
sociológico, Maquiavel teve mais êxito do que
Thomas Morus, na medida em que seu objetivo foi
conhecer a realidade tal como se lhe apresentava, em
vez de imaginar como ela deveria ser.
De qualquer maneira, nas obras de Thomas Morus e
de Maquiavel, percebemos como as relações sociais
voltam, após a predominância quase absoluta do
pensamento místico e teológico da Idade Média, a
ser objeto de estudo e análise. A vida dos homens já
aparece, nessas obras, como resultado das condições
econômicas e políticas e não de sua fé ou de sua
consciência individual.
Além disso, esses filósofos expressam os novos
valores burgueses, ao colocarem os destinos da
sociedade e sua boa organização nas mãos de um
indivíduo que se distingue por características
pessoais. A monarquia proposta no Renascimento não
se assenta na legitimidade do sangue ou da linhagem,
na herança ou na tradição, mas na capacidade pessoal
do governante e sua sabedoria. Nessa idéia de
monarquia, se baseia a aliança que a burguesia
estabelece com os reis para o surgimento dos estados
nacionais, onde a ordem social será tanto mais
atingível quanto mais o soberano agir como estadista,
pondo em marcha às forças econômicas do
capitalismo em formação.
b) A ilustração e a sociedade contratual:
uma nova etapa do pensamento burguês
O Renascimento exalta a natureza e os prazeres da
vida terrena, fossem a glória ou o simples prazer dos
sentidos, apesar de ainda ter um certo caráter
religioso.
No século XVII, a burguesia avança na concepção
de uma forma de pensar própria, capaz de transformar
o conhecimento num processo que desse frutos em
Fortalecida, a burguesia propunha agora formas de
governo baseadas na legitimidade popular.
Conclamava o povo a aderir à defesa do liberalismo
econômico, da igualdade jurídica e do sufrágio
universal.
A filosofia social nos séculos XVII e XVIII
O pensamento da ilustração defendia a idéia de que a
economia era regida por leis naturais de oferta e
procura que tendiam a estabelecer, de maneira mais
eficiente do que os decretos reais, o melhor preço, o
melhor produto e o melhor contrato através da livre
concordância. O controle das relações humanas surgia,
portanto, da própria dinâmica da vida econômica e
social, dotada de uma racionalidade intrínseca cuja
descoberta era a principal meta dos estudos
científicos.
A racionalidade estava na origem natural e física das
leis de organização da sociedade humana e na base da
própria atividade humana e do conhecimento, como
defendiam René Descartes e Denis Diderot. O
racionalismo cartesiano se expressa pela frase “penso,
logo existo”, na qual mostrava ser a razão a essência
do ser humano.
No plano social, o racionalismo manifestava-se na
noção de que as sociedades se baseavam em acordos
mútuos entre os indivíduos que as compunham.
JEAN – JACQUES ROUSSEAU (1712 - 1778) nasceu
em Genebra. Afirmava que a base da sociedade estava
no interesse comum pela vida social, no consentimento
unânime dos homens em renunciar as suas vontades
particulares em favor de toda a comunidade.
JOHN LOCKE (1632 - 1704) – Inglês. Para ele a
contratação estabelecia, entre outras coisas, as formas
de poder, as garantias de liberdade individual e o
respeito à propriedade. Seus princípios deveriam ser
redigidos sob a forma de uma constituição.
Os filósofos da ilustração só conseguiram conceber
a idéia de sociedade como somatório de individualidades. O comportamento social decorria da
manifestação explícita das vontades individuais.
ADAM SMITH ( 1723 - 1790) nasceu na Escócia,
fundador da ciência econômica. Demonstrou que a
análise científica pode ir além do que era expressamente
manifesto nas vontades individuais.
Em sua análise sobre a riqueza das nações, descobriu
no trabalho, ou seja, na produtividade, a grande fonte
de riqueza.
Adam Smith (1776) revelara a importância do trabalho
ao pensar na sociedade não como um conjunto
abstrato de indivíduos dotados de vontade e liberdade,
tal como Rousseau e Locke, mas ao aprender e
interpretar a realidade inglesa de seu tempo. A
Revolução Industrial estava em pleno andamento e
seus frutos já se anunciavam.
c) A crise das explicações religiosas e o
triunfo da ciência
Vários aspectos da filosofia da ilustração preparam o
surgimento das ciências sociais no século XIX e um
deles foi a crescente credibilidade alcançada pelo
pensamento científico.
As idéias de progresso, racionalismo e vitória do
homem sobre a natureza exerceram todo seu encanto
sobre a mentalidade da época. Esse pensamento
científico e racional via a sociedade como um
componente da natureza. A sociedade, como a
natureza, poderia ser explicada, conhecida e
controlada.
Começaram, então, as discussões em torno do método
científico: a indução (manipulação empírica) e a
dedução (racional – encadeamento lógico de hipóteses
elaboradas).
A existência da Igreja como instituição social foi
discutida por alguns pensadores e sociólogos do
século XIX. Émile Durkheim a considerava um meio de
integrar os homens em torno de idéias comuns. Karl
Marx a julgava responsável por uma falsa imagem dos
problemas humanos, ligada à acomodação e à
submissão pregadas por sua doutrina.
1.6 – A Sociologia Clássica
a) Positivismo – Uma primeira forma de
pensamento social.
A primeira corrente de pensamento sociológico
propriamente dita foi o positivismo. A primeira teoria
a organizar alguns princípios a respeito do homem e
da sociedade tentando explicá-los cientificamente. Seu
representante e sistematizador foi o pensador francês
Auguste Comte (1798 -1857).
Os primeiros cientistas sociais, através do método
de investigação, tentaram explicar que as ciências
sociais derivam das ciências físicas.
O próprio Comte deu inicialmente o nome de “física
social” às suas análises da sociedade, antes de criar
o termo “Sociologia”.
O positivismo foi também chamado de organicismo,
porque concebia a sociedade como um organismo
constituído de partes integradas e coesas que
funcionam harmonicamente, segundo um método
físico e mecânico.
Charles Darwin (1859), cientista inglês, nessa época
muito contribuiu com sua teoria da evolução biológica
das espécies animais. Suas idéias transpostas para
as análises da sociedade fizeram surgir o Darwinismo
social, isto é, a crença de que as sociedades mudariam
e evoluiriam sempre de um estágio inferior para um
outro superior, em que o organismo social se mostraria
mais evoluído, mais adequado e mais complexo. Esse
tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos
organismos – sociedade e indivíduos – mais fortes e
mais evoluídos. Em meio a tudo isso e devido ao
desenvolvimento industrial europeu, repleto de
conflitos sociais, os positivistas responderam aos
anseios com idéias de ordem e progresso, em que
procuraram ajudar todos os indivíduos para as
condições estabelecidas que garantiam o melhor
funcionamento da sociedade.
Comte (1840) identificou na sociedade esses dois
movimentos vitais. Chamou de dinâmico o que
representava a passagem para formas mais complexas
de existência, como a industrialização, e de estático, o
responsável pela preservação dos elementos
permanentes de toda organização social, isto é, as
instituições que mantinham a coesão e garantiam o
funcionamento da sociedade, família, religião,
linguagem, direito, etc.
O positivismo foi, portanto, o pensamento que
glorificou a sociedade européia do século XIX, em
franca expansão. Buscava justificar, através de um
método científico adequado, os padrões burgueses e
industriais de organização social. Procurava resolver
os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à
harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do
todo social.
19
20
A Sociologia de Durkheim
Comte – O Pai da Sociologia
Durkheim – um de seus primeiros grandes teóricos.
Durkheim e seus colaboradores se esforçaram em
emancipar a Sociologia das filosofias sociais e
constituí-la definitivamente como disciplina científica
rigorosa. É ele quem coloca que os fatos sociais se
constituem no objeto da Sociologia.
2. São exteriores aos indivíduos, ou seja, atuam sobre
os indivíduos independentemente de sua vontade.
Ex: Regras sociais, costumes, leis.
3. Generalidade – é social todo fato que é geral.
Manifestam uma natureza coletiva.
Ex: A moral, formas de habilitação.
Para garantir a objetividade do fato social é preciso
encarar os fatos sociais como coisas.
Características dos fatos sociais:
1. Coerção social – força que os fatos exercem sobre
os indivíduos, o grau de coerção se torna evidente
pelas sanções.
ÉMILE DURKHEIM (1858 – 1917)
Nasceu em Epinal, na Alsácia, descendente de uma família de rabinos. Iniciou seus estudos
filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou
Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência, criada na França. Transferiu-se em
1902 para Sorbonne, para onde levou inúmeros cientistas, entre eles seu sobrinho Marcel
Mauss, reunindo-os num grupo que ficou conhecido como escola sociológica francesa.
Suas principais obras foram: Da divisão do trabalho social, As regras do método sociológico,
O suicídio, Formas elementares da vida religiosa, Educação e Sociologia, Sociologia e
Filosofia e Lições de Sociologia (obra póstuma). Morreu em Paris.
Para Durkheim, a Sociologia tinha por finalidade não
só explicar a sociedade, como também encontrar
remédios para a vida social.
A generalidade de um fato social, isto é, sua
unanimidade, é garantia de normalidade na medida em
que representa o consenso social e a vontade coletiva.
A harmonia é conseguida através do consenso social,
a “saúde” do organismo social. Os fatos patológicos
são considerados transitórios e excepcionais.
Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende
demonstrar que os fatos sociais têm existência própria
e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo
em particular. Ele chamou isso de consciência coletiva.
É ela que vai revelar o tipo psíquico da sociedade. A
consciência coletiva é, em certo sentido, a forma moral
vigente na sociedade. Para Durkheim, a Sociologia
deveria ter ainda, como objeto, comparar as diversas
sociedades. Ele se distingue dos demais positivistas,
porque suas idéias ultrapassaram a simples reflexão
filosófica e chegavam a constituir um todo organizado
e sistemático de pressupostos teóricos e
metodológicos sobre a sociedade.
b) A Sociologia Alemã: Max Weber
Na Alemanha o positivismo teve menor repercussão.
A grande fonte filosófica de lá foi o idealismo e Kant e
Hegel, que exerceram grande influência sobre o
pensamento sociológico desenvolvido por Weber e
outros.
O conhecimento para a filosofia alemã é fruto da relação
da razão com os objetos do mundo, ou seja, os
conhecimentos não são apenas vividos, mas também
pensados.
O positivismo valoriza apenas a lei de evolução, a
generalização e a comparação entre formações sociais.
MAX WEBER (1864 – 1920) – nasceu na cidade de
Erfurt. Figura dominante na sociologia alemã, tendo
forte formação histórica, se opôs a essa concepção.
Para ele, a pesquisa histórica é essencial para a
compreensão das sociedades. Seu objetivo de
investigação é a ação social, a conduta humana dotada
de sentido. O homem dá sentido à ação social:
estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação
propriamente dita e seus efeitos.
Para a sociologia Weberiana os acontecimentos que
integram o social têm origem nos indivíduos. O que
garante a cientificidade de uma explicação é o método
de reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber
relembra sempre que, embora os acontecimentos sociais
possam ser quantificáveis, a análise do social envolve
sempre uma questão de qualidade, interpretação,
subjetividade e compreensão.
Seus trabalhos abriram as portas para as
particularidades históricas das sociedades e para a
descoberta do papel da subjetividade na ação e na
pesquisa social.
c) Karl Marx e a História da Exploração do
Homem (1818-1883)
MATERIALISMO HISTÓRICO – a corrente mais
revolucionária do pensamento social nas
conseqüências teóricas e na prática social que propõe.
MARX – não quis apenas contribuir para o
desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla
transformação política, econômica e social. O Capital
destinava-se a todos os homens, não apenas aos
estudiosos da economia, da política e da sociedade.
TEORIA MARXISTA – dimensão de ideal
revolucionário e ação política efetiva.
Influências Básicas: (Marx)
a) Leitura crítica da Filosofia de Hegel (observou e
aplicou o método dialético de modo peculiar);
b) Destacou o pioneirismo dos críticos da sociedade
burguesa (Saint-Simon, Fowier e Proudhon), mas
reprovava o “utopismo”;
c) Crítica à obra dos economistas clássicos ingleses:
Adam Smith e David Ricardo, maior parte de sua obra
teórica.
Esta trajetória é marcada pelo desenvolvimento de
conceitos importantes: alienação, classes sociais, valor,
trabalho, mais-valia e modo de produção.
• Alienação – o capitalismo alienou, isto é, separou o
trabalhador dos seus meios de produção – as
ferramentas, as terras e as máquinas que se tornaram
propriedade privada do capitalismo. O homem só pode
recuperar sua condição humana através da crítica
radical. Essa crítica radical só se efetiva na praxis, isto
é, na ação política consciente e transformadora.
• Classes Sociais – são formadas pelas desigualdades
sociais provocadas pelas relações de produção do
sistema capitalista.
As relações entre os homens resultam das relações
de oposição, antagonismo, exploração e complementaridade entre as classes sociais.
Os trabalhadores, para assegurarem sua
sobrevivência, vendem sua força de trabalho ao
empresário capitalista, que se apropria do produto do
trabalho de seus operários.
• Operários – alugam “por um certo tempo” a força
de trabalho e, em troca recebem salário (contrato).
• Força de trabalho – mercadoria.
• Valor – o valor de uma mercadoria era dado pelo
tempo de trabalho socialmente necessário à sua
produção.
• Mais-valia – valor excedente produzido pelo
operário.
Para Marx (1848), o estudo do modo de produção é
fundamental para se compreender como se organiza e
funciona uma sociedade. As relações de produção,
nesse sentido, são consideradas as mais importantes
relações sociais. A história do homem é a história do
desenvolvimento e do colapso de diferentes modos
de produção.
Marx conseguiu imprimir às análises da sociedade a
idéia de totalidade.
Para Marx, a ciência não dependia da objetividade,
mas de uma consciência crítica. Ao invés de sugerir
soluções para uma sociedade “doente”, Marx propunha
um caminho prático de ação política e um objetivo
claro a ser por ele atingido. Substituiu a idéia de
“harmonia” pela de universalização dos interesses da
classe burguesa, através do Estado.
Ser Marxista é não só aceitar o ideal comunista de
uma sociedade sem classes e sem propriedade privada,
é também seguir seus pressupostos teóricos, procurar
exercer a crítica contundente do momento histórico
em que se vive, buscar nele as relações de exploração,
opressão e expropriação do homem pelo homem e
transformar essa crítica em posição ideológica e
política.
Ser Marxista não é apenas uma questão científica ou
política. O marxismo é também uma ética baseada em
princípios dignificantes, independentemente de tudo
o que se pense sobre a maneira como suas idéias
supostamente foram colocadas em prática.
21
22
Antônio Gramsci (1891-1937)
Intelectual italiano, vítima do fascismo, pensador
ligado à realidade do seu país e empenhado em
descobrir, na tradição nacional, os aspectos positivos
que impulsionassem a classe, à qual dedicara a sua
vida, a assumir a função dirigente que o processo
histórico-social lhe confere.
Nos seus escritos do cárcere, que vieram à luz pela
primeira vez na Itália, em 1948, Gramsci mostra a
importância e a necessidade do livre curso das idéias.
Polemizando em todas as direções, jamais considera a
posição do adversário um simples alvo contra o qual
se deva concentrar o fogo dos argumentos contrários,
como jamais revela uma forma qualquer de tolerância
passiva de conciliação com qualquer tendência ou idéia
contrária aos seus princípios.
O que ressalta na sua obra, nesse aspecto, é a
consciência de que a posição adversária, quando é
digna de consideração, faz parte de uma realidade mais
complexa do que aquilo que pode resultar dos
argumentos e das palavras. Realidade cujo estudo se
volta para ela mesma, a fim de desvendar a substância
dos contrastes que o levará, finalmente, a confirmar
ou não a validade da posição em causa (concepção
dialética).
Profundamente ligado aos problemas do seu tempo,
Gramsci foi também, homem de ação. Nele o pensador,
o político prático e o intelectual fundem-se numa só
unidade. Daí que em sua obra as idéias apareçam
integralmente como funções de uma ação.
Renovação radical da sociedade e da história, o
marxismo se identifica, em Gramsci, com a fundação de
uma nova cultura. Nesse sentido, ele deve sintetizar
dialeticamente a profundidade intelectual do
Renascimento com o caráter popular e de massa da
Reforma, deve unificar toda a humanidade em uma
síntese superior de cultura. Nessa unificação – que
permite a formação de uma “subjetividade universal”
orgânica, equiparada por Gramsci à objetividade
hitórico-concreta – reside a superação do pensamento
ideológico e das contradições antagônicas. O
socialismo é, assim para Gramsci, a fundação não só
de uma economia planificada e socializada, mas de uma
nova cultura, de uma comunidade humana real e
autêntica.
A obra de Gramsci é um poderoso instrumento na
luta por esta sociedade. Apesar de fragmentárias,
apesar de redigidas sem obediência a um plano
preconcebido e sem amplitude nas fontes
bibliográficas, as anotações constantes dos Cadernos
do Cárcere constituem não só um dos documentos
mais preciosos da literatura marxista, mas a expressão
de uma das reflexões filosóficas mais fecundas de
nosso tempo.
Mas a influência de Gramsci não se limita à Itália.
Suas concepções marxistas – originais, profundas e
ousadas – começam a ser, cada vez mais, discutidas
por toda a parte, rompendo o boicote que o stalinismo
lhe impusera: na França, na União Soviética, na
Alemanha, no Chile, em Cuba, no Brasil, Gramsci
influencia todos aqueles que lutam por uma renovação
democrática e humanista da cultura e da sociedade.
Habermas (Jürgen)
Nasceu em 18 de junho de 1929, em Dusseldorf.
Dotourou-se em 1954, com uma tese sobre “O absoluto
na história – um estudo sobre a filosofia das idades
do mundo, de Schelling”.
O nome de Habermas está intimamente associado ao
da Escola de Frankfurt. Com a morte de seus
fundadores – em especial Adorno, Horkheimer e
Marcuse – Habermas é considerado o último
representante da teoria crítica da sociedade.
Interrogando os diversos autores, a partir de Hegel,
Habermas mostra como a intuição fundamental de Kant
– a de que a objetividade do conhecimento é
constituída e condicionada por princípios e categorias
a priori – foi sendo obliterada, com isso abrindo
caminho para a ilusão objetivista, pela qual a ciência
acredita na existência de uma relação não-mediatizada
entre a consciência e o real. Mas essa mesma
interrogação leva-o a distinguir, em Pierce e Dilthey, a
latência, não de todo perdida, da reflexão
transcendental, e com isso consegue reconstituir, no
primeiro, um a priori fundador das ciências naturais, e
no segundo, um a priori fundador das ciências
histórico-hermenêuticas. Situando esse a priori, não
nas estruturas de uma subjetividade transcendental,
como para Kant, mas no processo de autoformação
de uma espécie humana que se produz e se reproduz
no duplo contexto da ação instrumental e da ação
comunicativa (ou interação), Habermas chega à teoria
dos interesses cognitivos. Essa teoria torna-se mais
precisa quando Habermas descobre, em Freud, última
etapa de sua auto-reflexão fenomenológica, o
paradigma de uma ciência crítica, que assume
explicitamente seu enraizamento num interesse: o da
dissolução das estruturas patológicas que inibem a
livre comunicação do sujeito consigo mesmo e com
os outros.
Admitindo-se que a crítica ao positivismo tenha
constituído o fio vermelho que transpassa todos os
trabalhos de cunho epistemológico, a crítica do Estado
e da sociedade é o fio condutor dos estudos que, sob
uma perspectiva político-cultural, procuram elucidar a
relação de teoria e prática.
O ponto de partida para a apresentação sistemática
da obra de Habermas pode ser o tema que unifica os
seus diferentes momentos da mediação entre a teoria
e a prática. Esse tema é tratado numa perspectiva
epistemológica e numa perspectiva político-cultural,
ambas integradas numa teoria da competência
comunicativa.
Exercícios
1- Baseado no texto do instrucional, faça o exercício proposto:
1.1- Caracterize a Sociologia como ciência.
1.2- Caracterize a visão laica da sociedade e do poder.
1.3- Avalie as mudanças sociais ocorridas na fase da Sociologia Clássica.
1.4- Analise as leituras complementares abaixo e destaque a idéia central dos textos.
Leituras Complementares
TEXTO 1 - SOBRE O SURGIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO – MAQUIAVEL
É extremamente provável que tenha sido o trato cotidiano com assuntos políticos que, pela primeira
vez deu consciência e senso crítico ao homem face ao elemento ideológico de seu pensamento. Durante
a Renascença, entre os concidadãos de Maquiavel, emergiu um novo adágio chamando a atenção
para uma observação comum na época – que era a de o pensamento do palácio é uma coisa, e o da
praça pública é outra. Isto era uma expressão do crescente grau em que o público ganhava acesso aos
segredos da política. Podemos aqui observar o início do processo no decorrer do qual o que antes
havia sido apenas uma eclosão ocasional de suspeita e ceticismo, face aos pronunciamentos públicos,
evoluiu para uma procura metódica do elemento ideológico em todos eles. A diversidade de formas de
pensamento entre os homens é ainda, neste estágio, atribuída a um fator que, sem exagerar o termo
indevidamente, poderia ser denominado sociológico. Maquiavel, em sua profunda racionalidade,
tomou como tarefa específica relacionar as variações das opiniões dos homens às variações
correspondentes em seus interesses. De acordo com sua prescrição de medicina forte para toda
subjetividade das partes interessadas em uma controvérsia. Maquiavel parecia estar explicitando e
estabelecendo como regra geral do pensamento o que estava implícito no adágio (sentença moral) de
seu tempo.
MANNHEIM, Karl, Ideologia e utopia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986. p. 89.
TEXTO 2 - DURKHEIM E O MÉTODO SOCIOLÓGICO
Durkheim deslocou o problema para um terreno estritamente formal, único em que ele poderia ser
estabelecido em uma ciência em plena formação. Uma observação bem feita em geral deve muito a uma
teoria constituída, mas ela não é o produto necessário dos conhecimentos já obtidos. Ao contrário,
representa a via inevitável para a consecução destes. Daí a conclusão lógica: os sociólogos se
beneficiarão das teorias à medida que a investigação sociológica progredir. Até lá, e mesmo depois,
precisam saber proceder a descrições exatas, a observação bem feita e, em particular devem aprender
a extrair, da complexa realidade social, os fatos que interessam precisamente à Sociologia. Para
atingir esses fins, não necessitam de uma teoria sociológica, propriamente falando. Mas, de uma
espécie de teoria da investigação sociológica, o que é outra coisa e presumivelmente algo exeqüível
e legítimo. Nesse sentido (e não em um plano substantivo), é que a Sociologia poderia aproveitar a
lição e a experiência das ciências mais maduras, transferindo para o seu campo o procedimento
científico usado nas ciências empírico-indutivas de observação ou experimentais. Isso seria fácil,
desde que a ambição inicial se restringisse à formulação de um conjunto de regras simples e precisas,
aplicáveis à investigação sociológica dos fenômenos sociais.
Do que foi exposto concluiu-se que Durkheim se propôs a tarefa de realizar uma teoria da investigação
sociológica. De fato, ele empreendeu tal tarefa. E foi o primeiro sociólogo que conseguiu atingir
semelhante objetivo, em condições difíceis e com um êxito que só pode ser contestado quando se toma
uma posição diferente em face das condições, limites e ideais de explicação científica na Sociologia.
FERNANDES, Florestan. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. Rio de Janeiro: Ed. LTC,
1978. p. 89.
23
24
UNIDADE II
SOCIALIZAÇÃO
ADE E SOCIED
ADE
SOCIALIZAÇÃO,, COMUNID
COMUNIDADE
SOCIEDADE
2 .1-
Socialização
a) A Perpetuação da Sociedade pela
Socialização
• A sociedade sobrevive aos indivíduos que a
compõem.
• Socialização é o processo pelo qual os “novatos”
de uma sociedade são preparados para o convívio,
para adquirir os modos de vida que essa sociedade
elaborou através de sucessivas gerações.
• Patrimônio cultural – modos de vida de uma
sociedade: tecnologia, costumes, técnicas de
comunicação social, crenças, sentimentos e formas de
expressão.
•A socialização envolve a aquisição de conhecimentos, de hábitos e de sentimentos próprios da
sociedade. Ou seja, é preciso aprender a utilizar os
conhecimentos a serviço dos objetivos que a
sociedade preza.
• Há padrões sociais que quase todos sabem, sentem
e praticam (universais), porém, há outros que pertencem
a determinadas categorias da população (especiais).
• Padrões alternativos - modos de agir nãoobrigatórios, entre os quais os indivíduos podem
escolher (ex: cortar cabelo ou barba, etc.).
b) A Formação da Personalidade pela
Socialização
• No processo de socialização, o homem
simultâneamente tornar-se membro útil da sociedade,
e pessoa social, no contexto daquela determinada
sociedade e cultura.
• A personalidade tanto tem conteúdo social como
se forma num processo social; ela tem um substrato
físico moldado pela influência de outra pessoas que,
por sua vez, funcionam como intermediários da
sociedade e da cultura.
• A socialização é um processo cumulativo em que
novas aquisições não apagam as anteriores, mas se
integram no sistema pessoal já existente.
c) Mecanismos Sociais de Socialização
São três os fatores de socialização:
a) Educação – os mais velhos impõem aos mais novos
os ensinamentos, por meio da persuasão, sugestão
ou coação.
b) Experiências sociais – o que se vê, ouve, etc.
colabora para a sua socialização, aprendendo a apreciar
certas coisas e detestar outras, a amar, a desprezar,
etc. (aquisição de sentimentos).
c) Participação em atividades sociais – fazendo é que
se adquire, não apenas hábitos, mas também,
conhecimentos sólidos.
2.2 – Comunidade e Sociedade: conceitos e
características
a) Conceitos
a) “Comunidade” e “Sociedade” são, às vezes,
usados como termos antitéticos, referindo-se, este, à
associação de pessoas movidas por interesses
individuais, por laços contratuais ou quase
contratuais, enquanto que aquele designa a fusão de
pensamentos e sentimentos num todo que supera as
individualidades. Esta terminologia é inconveniente,
embora a idéia que exprima seja correta, mas formulada
com outras palavras. Note-se, aliás, que o
inconveniente foi provocado pela tradução
inadequada de vocábulos alemães (empregados por
F. Tonnies e M. Weber), os quais correspondem melhor
aos termos comunhão e associação.
b) De acordo com a literatura mais moderna, vamos
entender por comunidade um conjunto de pessoas
que encontra numa determinada área geográfica, em
que convive, satisfação de quase todas as suas
necessidades sociais. Assim entendido, são
comunidades: uma aldeia ou vila, um conjunto de
sítios dispostos ao redor de uma capela, escola,
venda, etc., uma cidade pequena ou grande. Certos
autores estendem o conceito mesmo a nações
inteiras. Parece mais útil, entretanto, o seu uso
restritivo, como denominação de unidades sociais
que façam parte de outras maiores, chamadas
sociedades.
c) O termo sociedade é ambíguo, por outro motivo
além do já citado, pois, por um lado, dizemos que
vivemos “em sociedade” e, em outros contextos,
referimo-nos a uma ou a várias sociedades. No
sentido mencionado em primeiro lugar, trata-se de
uma nação abstrata. Ou seja, da organização dos
indivíduos mediante interação social organizada.
Quando, ao contrário, falamos de uma ou de várias
determinadas sociedades, temos em mente
coletividades concretas de pessoas reais. O conceito
que aproxima-se, então, do de “comunidade”
significa um conjunto de pessoas que convive em
determinado território. Quando este conjunto é muito
pequeno (uma tribo isolada de índios), a “sociedade”
confunde-se com a comunidade; quando é grande,
aquela inclui numerosas “comunidades”.
b) Características das Sociedades
Um conjunto de fatores importantes faz-nos
distinguir o conceito de sociedade dos de
“comunidade” e “grupo”. São os seguintes:
a) A duração temporal de uma sociedade ultrapassa
o período de vida dos indivíduos componentes. A
maioria dos grupos sociais tende a ter existência
temporária, mesmo quando sobrevivem por muito
tempo. Isso não era previsto com qualquer grau de
segurança. Em qualquer fase da sua história, firmas
comerciais, associações políticas ou recreativas
orgulham-se de sua continuidade, às vezes secular,
mas podem encerrar suas atividades da noite para o
dia. Certas famílias tornam-se verdadeiramente
históricas, mas para chegar a tanto, tiveram que
enfrentar numerosas crises e resolvê-las, sempre a curto
prazo. As sociedades, ao contrário, parecem-nos
eternas, sem que façamos muito por isto e sem que
achemos necessário um esforço especial para mantêlas. As sociedades podem mudar profundamente o seu
tipo de organização, mas são raras, e nunca previsíveis,
as imensas catástrofes em que possam perecer.
b) A sociedade é multifuncional, isto é, ela não serve à
satisfação de certas e limitadas necessidades Isso ela
tem em comum com outras formas de vida social (a
família, a comunidade), mas é um atributo indispensável
à sua definição.
c) Ela é tal como a comunidade, um grupo local, ou
seja, localizado em determinado território, com cuja
extensão os seus limites coincidem, pelo menos,
aproximadamente (há, às vezes, faixas cuja atribuição a
uma ou outra sociedade é incerta, mormente quando
limites nacionais não são idênticos com os da
distribuição de outros fatores não-políticos).
d) Em virtude da ação conjunta das características
anteriormente citadas, as sociedades têm cada qual, sua
cultura peculiar. Desempenhando múltiplas funções para
muitas pessoas que residem próximas uma às outras, e
isso por tempo que abrange muitas gerações. As
sociedades criam e perpetuam os seus padrões de
comportamento, porque estes formam conjuntos de
modos de ajustamento a circunstâncias relativamente
estáveis, e que se modificam, em geral, apenas
paulatinamente. As comunidades menores têm, também,
as suas culturas, mas estas são subculturas no contexto
da cultura da sociedade a que pertencem e distinguemse entre si por trações geralmente menos importantes
do que aquelas que diferenciam uma sociedade de outra.
Outros grupos podem ter algo parecido com uma
“cultura’, com as mesmas restrições mencionadas em
relação às comunidades e ainda acentuadas pela menor
duração no tempo.
2.3 – Tipos de Sociedades
Assim como as sociedades que diferem em muitos
pontos são múltiplas, igualmente são diferentes as
maneiras pelas quais podem ser classificadas. As
classificações mais importantes, sociologicamente,
são evidentemente aquelas feitas com base em
características que repercutem em grande parte da
organização e estrutura social. Apresentaremos
algumas freqüentemente mencionadas por
sociólogos.
a) Um povo possuir, ou não, linguagem escrita influi
decisivamente na extensão e flexibilidade do seu sistema
de comunicações e na natureza e amplitude do
patrimônio cultural que consegue transmitir de uma
geração à outra. Os povos letrados podem comunicarse com pessoas ausentes muito mais perfeitamente que
os iletrados, e a tradição e o desenvolvimento gradativo
dos conhecimentos científicos não podem passar de
proporções relativamente modestas quando não é
possível fixar graficamente grande número de fatos,
25
26
fórmulas e teoremas cuidadosamente redigidos. Assim,
o tamanho da sociedade e a complexidade de sua
cultura dependem, em parte, da escrita. Muitas outras
diferenças entre povos letrados e iletrados decorrem
direta ou indiretamente disso. Basta pensarmos numa
tribo de índios e na nossa sociedade moderna para
encontrarmos inúmeras diferenças que se relacionam
com este fator.
b) Sociedades podem ser simples ou complexas,
independentemente de terem ou não escrita. A ausência
desta, limita, evidentemente, a complexidade possível,
mas por outro lado, sociedades letradas podem ser
bastante simples. Um dos mais importantes fatores de
complexidade é a divisão do trabalho social. Alguma
divisão social do trabalho sempre existe, seguindo as
linhas de sexo e idade, mas ela assume proporções
maiores e leva a conseqüências cada vez mais
profundas para a estrutura da sociedade, à medida que
homens e mulheres, jovens e velhos subdividem as
suas funções. Isso costuma começar pelo aparecimento
de especialistas em magia e em relações com os poderes
sobrenaturais e vai até a complexidade da nossa
sociedade atual com suas incontáveis especializações.
c) Comparando várias sociedades coexistentes, ou
uma mesma sociedade em diferentes fases da sua vida,
notamos que podem ser muito diferentes os graus de
estabilidade da sua vida social. Em umas, os padrões
de comportamento social pouco ou nada mudam duma
geração para outra; o curso da vida de cada indivíduo
pode ser previsto desde o início com bastante
segurança, no que concerne às posições que irá ocupar
e às responsabilidades que irá assumir. A sociedade
como um todo e cada uma das suas comunidades
componentes recrutam os seus membros no seu
próprio seio, mediante nascimento e educação (ou mais
propriamente: “socialização”). Ao lado de tais
sociedades estáticas, há outras em que leis e costumes
mudam tão rapidamente que os indivíduos não os
concebem como um enquadramento inalterável do seu
comportamento; cada pessoa abre o seu caminho na
vida, e pouco seguras são as previsões que se podem
fazer quanto ao que cada um fará e sofrerá no futuro; a
migração do estrangeiro, em várias regiões do país,
altera constantemente a composição das comunidades,
introduzindo elementos humanos para quem não existe
um “lugar” previamente reservado e que, portanto,
precisa procurá-lo em meio de insegurança maior ainda
do que os naturais da terra. Em relação ao Brasil,
costuma dizer-se com alguma razão que, de sociedade
estática passou à dinâmica, a partir de certo momento
histórico, identificado, por simplificação, com a
revolução de 1930.
d) Uma modalidade de mudança sociocultural, que
tem recebido merecida atenção nas duas últimas
décadas, é o chamado desenvolvimento. Trata-se da
transformação de sociedades estáticas pela adoção
de tecnologia moderna em benefício do nível geral do
padrão de vida da população. Os países
tecnologicamente mais adiantados, onde a
repercussão social dos recursos técnicos é grande,
são chamados desenvolvidos; os mais atrasados, mas
que aspiram ao desenvolvimento, denominam-se
subdesenvolvidos; daqueles que ainda devem ser
considerados subdesenvolvidos, mas onde a
“modernização” está se processando com muita
rapidez (provocando geralmente desajustamentos
socioculturais sérios), diz-se que estão em
desenvolvimento acelerado. É preciso notar,
entretanto, que não há linhas divisórias nítidas entre
estas categorias, mesmo porque alguns países
altamente desenvolvidos incluem áreas subdesenvolvidas, e em países subdesenvolvidos algumas
regiões podem já estar desenvolvidas ou, pelo menos,
encontram-se em desenvolvimento acelerado.
e) Quase sempre o que consideramos uma
“sociedade” corresponde a um estado, isto é, é regido
por um sistema de poder político. A natureza deste é
sumamente importante para o funcionamento dos
demais setores da vida social. No presente contexto
convém, apenas, antecipar a distinção entre regimes
políticos livres e totalitários. Nestes, o governo tende
a impor muitos padrões de comportamento,
transformando em lei (ou decreto) o que em sociedades
livres é moral ou costume, nascidos do consenso
espontâneo dos cidadãos. Também neste caso não
há uma linha divisória clara, qualquer sociedade
aproxima-se mais de um ou outro extremo, segundo
os limites estabelecidos à penetração da ação
governamental na vida social. Na sociedade totalitária
pura não há limite algum, a não ser aquele que o próprio
governo considere conveniente observar; na
sociedade livre, o estado deve restringir-se, segundo
o ideal extremo do liberalismo do século passado, à
nutenção da ordem.
2.4 – As Instituições Sociais
Por instituição social há de entender-se, como
Fairchild, uma configuração de conduta integrada,
duradoura, organizada no meio social. Não é muito
diverso o que nos diz Donald Pierson, ao estabelecer
que as instituições envolvem sempre um conceito, idéia
ou interesse e mais uma estrutura de rituais e
funcionários para concretizá-lo.
De certo modo, comparando-as com o que Durkheim
denominou de fatos sociais veremos que as
instituições seriam aqueles fatos sociais mais
importantes, exigentes e duradouros. Instituição seria
assim, uma espécie do gênero fato social, diferindo
essencialmente pela maior rigidez da primeira e,
consequentemente, mais rápida a solução deste.
Como muitas das instituições constituem um grupo,
ou uma associação, tende-se a supor que toda
instituição desenvolve a forma grupal.
a) A família - uma das instituições básicas da maioria
dos tipos de sociedade é a instituição da família.
Instituição chave, ela é na verdade um feixe ou molho
de instituições: casamento, dote, parentesco, mono
ou poligamia, endo ou exogamia, concubinato,
filiação, divórcio, desquite, regime conjugal de bens,
são algumas das muitas instituições ligadas à
instituição maior da família. Por esta sua significação
sociológica, o estudo da família mereceu da sociologia
a constituição de um ramo da sociologia especial por
isso denominado de sociologia doméstica.
b) A escola - embora a família se incumbisse outrora
da educação e até da instrução da sua prole, desde
que uma determinada atividade reunisse os requisitos
de certa complexidade e distância do ambiente
doméstico, que a educação formal – a escola – fez
sua aparição no meio social. Ela é assim, por
excelência, a agência encarregada da educação formal
dos indivíduos. Entretanto, não só a escola em seus
vários níveis – pré-primário, primário, secundário,
universitário, pós-graduado – se ocupa de educar.
Outras instituições e agências existem que, embora
não tenham uma tarefa educacional como dominante,
também exercem alguma função educativa. A empresa
comercial ou industrial, a igreja e o partido político
estão entre aquelas instituições que exercem
significativa tarefa educacional. O mesmo há que ser
dito dos meios (mass media) de comunicação de massas
(mass comunication) como a imprensa, o rádio, o cinema
a televisão.
c) A igreja - um dos fenômenos universais da cultura
é a religião. A finalidade social que ela procura é, como
bem observou Max Scheler, a salvação individual do
homem na dimensão da ultratumba, e essa crença na
sobrevivência do espírito humano é quase tão velha
quanto à própria humanidade, não sendo raros os
achados arqueólogos da pré-história que podem
comprovar que dela participavam nossos “irmãos”
trogloditas.
A corporificação de uma religião é a Igreja. A Igreja é
a estrutura social de uma religião. Todos os elementos
sociais de uma religião são aspectos de sua
correspondente igreja.
d) O Estado - inclui o governo e os governados,
abrangendo todas as pessoas dentro de um território
definido, como membros de um governo soberano,
cidadãos ou súditos, cujas ações são controladas por
ele.
Povo refere-se a um agrupamento humano com cultura
semelhante (língua, religião, tradições) e antepassados
comuns.
Nação é um povo fixado em determinada área
geográfica. Para alguns autores seria um povo com
certa organização. Para que haja uma nação é
necessário haver um ou mais povos, um território e
uma consciência comum.
Estado é uma nação politicamente organizada. É
constituída, portanto, pelo povo, território e governo.
Engloba todas as pessoas dentro de um território
delimitado - governo e governados.
2.5 - A vida em Sociedade
a) Grupo Social
Um grupo não é apenas a soma de indivíduos, mas
sim um conjunto que nasce, adquire a sua própria
individualidade e, como pessoa, evolui. Nesse caso,
quanto mais diferentes os indivíduos, mais
possibilidades têm de transmitir uns aos outros as
suas experiências.
Se tivermos consciência disso, o grupo sairá
fortalecido pela troca e pela participação de cada um
no crescimento do outro. Do contrário, estaremos
contribuindo para que o nosso ambiente se
transforme num palco de “estrelas” e rejeitados. Viver
em grupo é importante para o homem. Conviver é
uma aprendizagem que deve ser desenvolvida o mais
cedo possível.
A postura dos integrantes do grupo deve estar
pautada, primeiramente, na humildade, e estar sempre
consciente de que a participação de cada um é tão
importante quanto a de qualquer outro.
A vida em grupo sempre beneficiou a sociedade, ainda
mais quando o respeito é incentivado pela educação.
A convivência estimula o conhecimento, colocando
os erros e os acertos a serviço do fortalecimento moral
dos seus integrantes, selecionando as atitudes que
certamente darão os subsídios necessários à formação
de um grupo forte e unido, que deve ser a base do seu
crescimento.
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Michel Quoist diz que “em volta dos buracos os
arames dão-se as mãos. Para não romper a roda,
apertam com muita força o punho do companheiro: e
assim é que, com buracos, conseguem fazer uma
cerca”. Sugere ainda uma oração para o grupo:
Senhor, na minha vida há uma porção de buracos.
Há vazios também na vida dos meus vizinhos, mas,
se quiserem, vamos dar-nos as mãos, apertar bem
com força e, juntos, fazer um belo rolo de tela e
arrumar o paraíso (In: LENHARD, 2004:76).
b) Contato Social
O contato social entre indivíduos e grupos dá-se
sob múltiplas formas, constituindo estas os
denominados processos sociais. Basicamente,
podemos dizer que há duas formas de atuação dos
homens em sociedade: a cooperação e a oposição,
que só se apresentam raramente em suas formas puras.
Com efeito, em qualquer relação do tipo cooperativo
existem, latentes ou expressos, alguns fatores de
oposição, enquanto que no processo de oposição
também é preciso que estejam presentes algumas
formas de cooperação para que o próprio conflito seja
possível. A sabedoria popular, aliás, expressa muito
bem isso no dito: “quando um não quer dois não
brigam”.
As formas predominantes de relações sociais de um
determinado grupo constituem os seus processos
sociais básicos. Estas, embora apresentem em todos
os grupos certas características comuns – daí serem
considerados como universais – expressam-se, na
prática, de modos diferentes de uma sociedade para
outra e também entre grupos dentro de uma mesma
sociedade. Há inclusive grupos que enfatizam
determinados processos enquanto outros mal
conhecem, dando preferência a modos distintos de
atuação social. Há sociedades eminentemente
competitivas e outras predominantemente
cooperativas. Algumas mais conflitantes, enquanto
outras são mais amistosas e assim por diante. Além
disso, o mesmo processo de competição, cooperação
ou conflito, pode obedecer a normas distintas, de
grupo para grupo. Por exemplo, a competição entre os
habitantes de Nova York pauta-se por normas,
objetivos e valores muito distintos daqueles que
existem num mosteiro trapista ou numa tribo africana.
Por isso que, ao falarmos em processos sociais
básicos, devemos ter em mente que tais processos
têm lugar em sociedades distintas, obedecendo a
modelos particulares que variam em função das
condições socioculturais de cada grupo.
Os processos básicos mais comumente
considerados no estudo da Sociologia
Contemporânea são a cooperação, a competição, o
conflito, a acomodação e a assimilação.
c) Interação Social
Literalmente, interação significa ação recíproca entre
dois objetos. É um processo no qual se acham
constantemente envolvidos todos os seres da
natureza, embora não tenham consciência disto: as
plantas, os animais e os próprios minerais estão sempre
interagindo entre si e com o meio no qual se acham
inseridos. Tal processo pode durar milhares de anos
(a transformação da árvore morta em carvão), como
pode ser instantâneo (a explosão de bomba atômica).
É dele que derivam todas as transformações e toda a
renovação que fazem do Universo algo em movimento
permanente. O velho Heráclito - filósofo grego - já
afirmara: “tudo muda, tudo se transforma, ninguém se
banha duas vezes no mesmo rio”.
A interação social, embora possa ser entendida como
ação recíproca, semelhante àquela que se processa
entre os seres não-racionais, tem como característica
o fato de que tal ação é consciente, implicando não
apenas em modificação de comportamento como
também em autoconhecimento desta modificação.
Sorokin assim definiu interação social: “todo o
evento com que se manifesta, em um grau tangível, a
influência de uma parte sobre as ações exteriores ou
estados mentais de outra” (In:LENHARD, 2004:53).
Quando o citado autor nos fala em grau tangível de
influência (unilateral ou mútua), significa que a
interação só pode ser considerada como tal, quando
for passível de observação, quando nos fala em ações
exteriores ou estados mentais. Significa que o caráter
da interação não se limita ao plano objetivo, mas
envolve o plano mais subjetivo do psiquismo
individual, que também é atingido pelas ações dos
indivíduos com os quais interagimos. A referência ao
sentido da interação prende-se ao fato de que o modo
como uma parte influi sobre outra possui um valor ou
uma significação que se sobrepõe às qualidades
meramente físicas ou biológicas das ações
correspondentes. A ausência deste sentido tira da
interação a característica de fenômeno sociocultural
para reduzi-lo a mera ação física ou biológica.
Na convivência humana, podemos dizer que este
sentido da interação apresenta-se com um grau maior
ou menor de intensidade, dependendo do tipo de
contato que ocorra. Por exemplo, duas pessoas podem
sentar-se lado a lado em um ônibus, para uma viagem
rápida e neste caso, tende a ser mínima a influência de
uma sobre a outra. O sentido da interação social aí é
quase nulo, embora esteja presente o aspecto da
interação física, que se expressa no espaço que cada
um pode sofrer por parte do vizinho, etc. O mesmo
acontece num cinema, na praia, em um supermercado
onde os indivíduos podem estar lado a lado, como
frente a frente sem que tal contato chegue a afetá-los
de modo sensível. Este tipo de relação é comum
principalmente nos grandes centros urbanos: nos
locais freqüentados por muitas pessoas estranhas,
nos meios de transporte urbano, etc.
De um lado, podemos ter processos de interação
carregados de um profundo sentido e que afetam
intensamente as partes, não só nas suas ações
exteriores, como também em seus estados mentais:
uma conversa entre dois amigos que há muito não se
viam; a despedida de dois apaixonados; a mãe que
leva, pela primeira vez, o filho à escola; o povo que
ouve, empolgado, a fala de seu líder; são alguns
exemplos de processos de interação carregados do
mais profundo sentido psíquico e social (social aí
usado no sentido do que transcende ao individual).
d) Isolamento Social
Define-se isolamento social como sendo a ausência
de qualquer forma de contrato de um indivíduo com
os outros seres de sua espécie. No sentido absoluto
do termo, é impossível conceber-se um indivíduo que
viva em condições de total e permanente isolamento.
Mesmo os casos de “meninos-lobo” descritos pelos
antropólogos nos indicam que essas crianças devem
ter conhecido um período ainda que reduzido, de
convivência com algum ser humano (provavelmente,
a mãe), pois em caso contrário não teria havido para
eles condições mínimas de sobrevivência. Portanto,
o isolamento social deve ser visto como uma ausência
relativa de interação, nunca no sentido absoluto. A
literatura deu-nos a conhecer uma figura clássica que
é sempre citada como exemplo de isolamento social:
Robinson Crusoé, o imortal personagem criado por
Daniel Defoe. Mesmo neste caso, é importante
acentuar que a solidão do herói foi muito amenizada,
na medida em que ele era portador de uma cultura
bastante complexa, que lhe permitiu enfrentar com
êxito as dificuldades de um meio totalmente estranho.
Também é interessante lembrar que, após as primeiras
aventuras do náufrago solitário, o próprio autor
introduziu no seu consagrado romance um outro
personagem humano – o “Sexta-feira” –, a fim de dar
nova motivação à história, que cairia fatalmente no
desinteresse para o público leitor, se Robinson
continuasse até o final na condição de herói solitário.
A sociedade humana parece ter sempre atribuído à
convivência social uma grande importância, visto
que, na maior parte dos grupos com algum esboço de
organização, a punição máxima prevista para os
violadores do costume ou da lei é o isolamento ou a
segregação do grupo. O ostracismo, para os antigos
gregos, era uma pena comparável à perda da vida,
visto que tirava o homem de seu contexto político, de
seu “meio cultural” – dentro da visão grega – para
lançá-lo num mundo estranho, onde estava condenado
a perder sua individualidade, ao mesmo tempo em que
perdia sua categoria de cidadão.
A prisão é outro exemplo de punição que a sociedade
reserva para aqueles que atentam contra os seus
princípios. Neste caso, o indivíduo é impedido –
temporária ou definitivamente – de conviver com a
parte considerada “sadia” da sociedade, sendo
obrigado a viver junto àqueles que, como ele, foram
postos à margem do grupo. Lembremos ainda que, neste
caso, quando os detentos infringem os regulamentos
da prisão, é costume mandá-los para a solitária, por ser
a forma extrema do isolamento, aquela que pune o
homem ao máximo, diante de si mesmo e da coletividade.
A pena de morte, neste sentido, pode ser entendida
como o isolamento total e definitivo, em relação ao
grupo, daquele que demonstrou, por sua conduta
criminosa, não possuir condições mínimas de participar
da vida social, mesmo limitada às grades de uma prisão.
A supressão da vida é aí a própria supressão definitiva,
em grau irrecorrível de toda e qualquer forma de
convivência social.
É tão grande a nossa reação ao isolamento social que
muitas vezes os indivíduos mais solitários são levados
a uma forma substitutiva de interação com seres
irracionais (plantas ou até objetos), transferindo para
estes o afeto, o carinho e o cuidado que não lhes é
permitido demonstrar para com seres de sua espécie.
Eles, por assim dizer, humanizam, antropomorfizam o
cão, o gato, a plantinha no vaso, e com estes mantém
verdadeiros “diálogos”, em que a solidão é amenizada
e as necessidades sociais do homem são satisfeitas.
Tal transferência ocorre com muita freqüência em
relação a indivíduos que são obrigados a viver longo
tempo em isolamento (presidiários, faroleiros, pastores,
etc.). Mesmo nas sociedades mais modernas, isso pode
ocorrer com indivíduos que moram sozinhos em grandes
habitações coletivas.
A solidão afeta tão seriamente o equilíbrio mental e
emocional dos indivíduos que não são raros os casos
de melancolia profunda, loucura e até suicídio a que
são levados pelo desespero de se sentirem isolados
dos outros seres humanos.
Quanto ao isolamento dos grupos sociais vivendo
sem condições de contato ou comunicação com outros
grupos, também cabe lembrar que seus efeitos são os
mais nocivos, determinando empobrecimento cultural,
estagnação e rigidez das estruturas, tudo isso
refletindo-se em uma grande resistência a qualquer
sorte de mudança, mesmo aquelas que são tentadas
com o objetivo de melhorar suas condições materiais
de vida. Desde os tempos mais remotos, viajantes e
exploradores vêm observando as diferenças de
comportamento e de mentalidade entre grupos que
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vivem isolados em ilhas ou montanhas e outros,
diversamente, vivendo em portos ou comunidades
próximas umas das outras, em freqüentes contatos com
grupos diferentes. Nestes últimos há uma tendência
em aceitar de bom grado as influências culturais vindas
de fora, os costumes tendem a ser menos rígidos e a
estagnação cultural não é conhecida.
e) Controle Social
Chamamos de controle social a soma de processos
que a sociedade lança mão para obter dos indivíduos
e grupos que a constituem uma conduta enquadrada
nas expectativas gerais de comportamento. É em torno
destas expectativas que se organiza a nossa vida de
relação, isto é, nossa conduta está basicamente
condicionada por aquilo que o grupo espera de nós.
As respostas às expectativas do grupo surgem na
criança, a partir de seus contatos iniciais com a família,
logo nas primeiras semanas de vida, muito embora, na
maioria das vezes nem mesmo os adultos tenham
consciência do significado profundo desta fase de
iniciação social. Quando, por exemplo, a criança,
movendo naturalmente os músculos da face, nos
apresenta uma careta que a mamãe ansiosa toma por
expressivo sorriso, os aplausos, a aprovação do
pequeno grupo familiar já consagram aquela contração
muscular, que, aos poucos, irá deixando de ser um
mero reflexo de tipo incondicionado, para se
transformar numa reação realmente consciente às
expectativas do grupo e, finalmente, numa expressão
real dos sentimentos humanos da criança. Assim, um
ato que ao leigo parece fundamentalmente instintivo,
como é o riso, é algo socialmente aprendido através
do contato social. A partir daí, aos poucos, a criança
irá aprendendo que há momentos em que se deve rir e
outros em que se precisa ficar sério; que há uma forma
de rir, socialmente aprovada, e outra mal vista e
censurada pelo grupo; que há risos que ofendem e
risos que agradam, tudo isso, transmitido de maneira
imperceptível para ela, mas nem por isso menos eficaz
em seus resultados. Durante todos os momentos de
nossa vida, mesmo quando estamos sós, nosso
comportamento obedece a certos estímulos que não
nasceram conosco, mas que chegaram até nós através
do contato social.
Durkheim atribuía tanta importância a esta coação
do grupo sobre os indivíduos que chegou a caracterizar
o fato social pela coercitividade, isto é, pela pressão
que o social exerce sobre as consciências individuais.
O estudo pormenorizado dos mecanismos de controle
social e de suas formas de atuação é da maior
importância para o professor do Ensino Fundamental
e Médio, entretanto, tem sido um ponto bastante
descuidado pela maior parte dos programas de
Sociologia nas faculdades de Educação e nas escolas
normais.
Se analisarmos os modos pelos quais se expressa
esta necessidade de amoldar a conduta dos indivíduos
às regras do jogo social, veremos que o controle social
atua sob uma infinidade de formas, as quais se
manifestam com diferentes graus de intensidade, desde
os usos mais corriqueiros, seguidos pelos costumes
solidamente implantados no grupo, até às instituições
e às leis, podendo estas últimas atingir formas de
extrema violência, inclusive a prisão perpétua e a própria
pena de morte.
A existência desta gradação, na aplicação do controle
social, levou muitos sociólogos a classificar seus
diferentes tipos em dois grandes grupos:
a) controles do tipo persuasivo
b) controles do tipo coercitivo
Entendemos por controles persuasivos todos os
meios de que o grupo lança mão para impor suas
exigências sem recorrer ao uso da força ou da violência
ostensiva. A maior parte das técnicas que se enquadram
neste tipo são usadas inconscientemente pelo grupo
e seu ajustamento a elas também se faz de modo
inconsciente. Por exemplo, quando a mãe de uma jovem
recomenda-lhe que não chegue tarde da noite em casa,
porque os vizinhos podem murmurar, nem a mãe nem a
filha têm consciência de que está em jogo uma das
mais velhas técnicas de controle social, baseada no
medo ao “falatório”, ao “mexerico” capaz de difamar a
jovem e torná-la indesejável aos olhos do grupo.
Os provérbios, os ditos populares, de tão largo uso
entre as camadas populares, são outro exemplo de um
mecanismo de controle social persuasivo, através do
qual as pessoas mais simples vão buscar, na tradição
oral, respostas às questões de difícil solução no plano
da explicação teórica. Postos em uma situação para a
qual não tem nenhuma resposta válida, em termos de
experiência anterior, estas pessoas tendem a recorrer
aos provérbios e máximas, que são fórmulas simples e
aparentemente eficazes de enfrentar aquela situação.
Por exemplo, quando não conseguem compreender
uma injustiça flagrante de que foram vítimas, seja por
parte de um parente, de um chefe, de uma autoridade
ou do próprio destino, podem encontrar conforto no
velho dito “Deus escreve direito por linhas tortas” ou
então, “Deus sabe o que faz” e outros similares. É
interessante acentuar o caráter claramente
conservador e conformador da maior parte destes
ditados, que se propõem, em última análise, a
possibilitar uma forma de racionalização para situações
que não sabemos ou não podemos controlar. “Quem
nasce pra dez réis não chega a vintém”; “não suba o
sapateiro além da chinela; “quando a esmola é demais
o pobre desconfia”; “em terra de cego quem tem um
olho é rei”; “quem semeia ventos colhe tempestades”,
são alguns exemplos que bem confirmam o sentido
conformista que os provérbios procuram imprimir à
maior parte de nossos conflitos interiores. Também no
plano da educação, está o folclore cheio de ditos
populares que expressam as crenças sociais
construídas a partir da experiência acumulada e que
muito ajudaram pais e educadores de outros tempos
quando os conhecimentos da Psicologia ainda não
tinham chegado até eles. Como exemplos de ditados
ligados ao processo educacional, podemos lembrar:
“é de pequeno que se torce o pepino”; “quem dá o
pão dá o castigo” “dize-me com quem andas que te
direi quem és”, etc.
Uma área da vida social que bem nos permite
compreender como as técnicas de controle social estão
intimamente relacionadas com os estilos de vida
dominantes é a passagem de indivíduos e grupos do
meio rural para o meio urbano. Nas condições da
sociedade brasileira de nossos dias, tal passagem temse feito com uma certa violência, impedindo que muitos
indivíduos se ajustem com a necessária rapidez às
novas exigências. Por isso, é comum surgirem
problemas decorrentes da pretensão – às vezes
expressa com violência – por parte de muitos
emigrantes do meio rural, de fazerem valer na “urbs”
os mesmos padrões de comportamento vigentes no
seu “habitat” anterior. Para evitar os conflitos
resultantes do encontro de diferentes padrões de
comportamento, impõe-se, na vida urbana, um semnúmero de prescrições, não baseadas no costume nem
na tradição, mas que são da maior importância de serem
reconhecidas e cumpridas. Os regulamentos, os
estatutos, os regimentos internos, os códigos, são
permanentemente invocados nos centros urbanos, ao
passo que são praticamente ignorados nos meios
rurais.
cujo contato social não foi ditado pela vontade, mas
sim forçado pelas circunstâncias.
Neste caso, quando os mecanismos de controle de
tipo persuasivo perderam sua eficácia, tendem a ser
invocados os de tipo coercitivo. Estes caracterizam-se
pelo uso, não da sugestão ou da argumentação, mas
da força e da violência.
Nos grupos primários, tais como a família e os grupos
de brincadeira, as formas de controle mais espontâneos
são, em geral, suficientes para manter os indivíduos
dentro dos padrões mínimos exigidos pelo grupo. Esta
afirmação é particularmente real nas condições de vida
da sociedade tradicional, agrária, em que os
grupamentos sociais podiam ser vistos quase como
uma família ampliada e as aberrações de conduta eram
particularmente esporádicas. Então, só de raro em raro,
se era obSSrigado a apelar para a violência, visto que
o costume, a tradição e o princípio da autoridade eram,
em geral, suficientes para manter a unidade do grupo.
Porém, à medida que a urbanização como estilo de
vida foi-se impondo, os líderes sociais foram tomando
consciência da ineficácia crescente daquelas técnicas
persuasivas. Cada vez mais se impunha a invenção e a
aplicação de novos instrumentos de controle social
específicos para a vida em grandes aglomerados.
As habitações coletivas, os edifícios de apartamentos,
o trabalho realizado em conjunto por grupos
heterogêneos, a freqüência cada vez mais generalizada
a espetáculos públicos, numa palavra, todas as
manifestações da sociedade de massa, têm obrigado a
uma reformulação constante dos esquemas ligados ao
controle do comportamento social.
Nos edifícios de apartamentos das cidades grandes,
temos freqüentes experiências relacionadas com
indivíduos ou famílias de origem rural recente, que
acreditam poder reproduzir nos centros urbanos a
mesma conduta que tinham na vila de origem. Insistem,
por exemplo, em criar animais, os mais estranhos aos
hábitos da cidade (jaguatirica, tartaruga, papagaios,
macacos, etc.); acham legítimo fazer barulho a qualquer
hora da noite, ouvem aparelhos sonoros em alto
volume, cultivam verdadeiros jardins e hortas nos
exíguos parapeitos das janelas, manifestando em tudo
um absoluto desprezo pela segurança e pela
tranqüilidade dos demais moradores, mas guardando
velhos hábitos de seu lugar de origem.
Ainda hoje, esta diferença entre o estilo de vida
urbana e rural é notada pelo urbanista ou morador da
cidade que, indo a um lugarejo do interior, se espanta
com o pouco cuidado que se tem com portas e janelas
abertas, com objetos ao alcance dos passantes e com
a cordialidade ostensiva com que somos saudados,
mesmo por aqueles que desconhecem nossa
identidade. Reciprocamente, choca ao nosso homem
do interior o clima de desconfiança que ele respira na
cidade. O olho-mágico, a tranca e o pega-ladrão na
porta dos apartamentos são um testemunho sempre
presente desta desconfiança, que se impõe como regra
de conduta.
Como neste caso os mecanismos de controle
persuasivo funcionam deficientemente, impõem-se a
necessidade de fazer valer os meios de controle
ostensivo, tais como a presença do síndico e até mesmo
da radiopatrulha. Tais experiências repetem-se e são
fonte permanente de atritos, no trabalho, nos
transportes, na recreação, em todas as oportunidades
que se acham ligados por nenhum laço de simpatia e
Se alguém nos aborda na rua, nossa primeira reação é
de esquiva ou de medo, pois sabemos, por experiência
própria ou alheia, que de um estranho se deve esperar
sempre atitudes negativas. Basta ver o orgulho com
que o morador de apartamento gosta de contar que
vive ali há tantos anos e nem sequer sabe o nome do
vizinho que mora ao lado. Tal situação em uma cidade
pequena ou em uma vila seria absolutamente
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impossível. Ali, a primeira preocupação que o grupo
manifesta em relação a um forasteiro é de identificá-lo
e descobrir sua origem (geográfica e social); tal
conduta, que a nós pode parecer estranha, tem para
aquele grupo um sentido profundo; ela significa que
a convivência só é possível quando existem
expectativas mútuas de comportamento bem definidas,
e para tanto é preciso que os “socii” se conheçam
suficientemente bem. Isso explica a desconfiança
existente, no interior, em relação ao caixeiro-viajante,
que representa justamente, o “out-group”, o homem
em quem não se deve confiar porque não está ligado
por nenhum laço mais profundo à comunidade. Nesta,
o estranho é a exceção, enquanto na cidade ele é a
regra.
Outra atitude típica do provinciano é a de identificar
e catalogar os indivíduos a partir de sua origem familiar.
Assim, quando se quer dar uma informação definitiva
a respeito de alguém, diz-se: é filha de fulano, neto de
sicrano, sobrinho de beltrano, etc. Isso se explica pela
importância que tem, neste contexto, os laços de
sangue, que implicam em um compromisso tão estreito
com o grupo que muitas vezes chegam a funcionar
melhor que qualquer outro argumento para impor uma
atitude socialmente aprovada. A tradição familiar tem
ali uma força tão grande que é capaz de separar para
sempre corações apaixonados, de manter unidos
outros que os laços afetivos já desapareceram, de
negar vocações que pareciam insopitáveis, de
encaminhar para certas profissões pessoas que
espontaneamente não as teriam escolhido, enfim, de
criar um clima em que a área de decisão individual fica
extremamente reduzida, em benefício das expectativas
do grupo e, principalmente, das gerações mais velhas.
Já nos centros urbanos maiores, esta influência
familiar, embora exista, é muito menos forte e atuante.
Na presença de outros fatores, ela tende a se diluir,
ampliando-se a área de decisão individual, em
detrimento da opinião do grupo familiar.
Não é sem razão que um dos temas mais gratos
àqueles que defendem a manutenção do “status quo”
social é o protesto constante contra o que eles chamam
de “desagregação da família” e que, do ponto de vista
da Sociologia, tende a ser visto mais como um período
de crise conseqüente à substituição de uma ordem
social determinada por outra.
Esta crise demonstra um esforço de adaptação da
instituição às novas condições vigentes, visto que,
em face da interdependência que caracteriza os
diferentes níveis da realidade social, é ponto pacífico
que as alterações ocorridas num destes níveis vão
repercutir com maior ou menor rapidez em todos os
outros. Assim, os desajustes e as tensões, tão
ostensivos na família de nossos dias, principalmente
nos centros urbanos maiores, retratam este
descompasso entre algumas áreas da realidade social
que vão mudando com grande rapidez e outras nas
quais a mudança se faz de modo mais lento e difícil.
f) Institucionalização das Normas de
Comportamento
Dizemos que uma norma de comportamento está
institucionalizada quando as expectativas do grupo
em relação a ela são bastante definidas, e quando a
maior parte dos membros do grupo a aceita como
válida e a cumpre efetivamente. Exemplo de
comportamento institucionalizado é o casamento
como cerimônia religiosa ou jurídica, que torna a união
de um homem com uma mulher reconhecida
socialmente. A maior parte das pessoas que compõem
a nossa sociedade concorda que aquela união deva
ser legitimada, espera que as pessoas que queiram
constituir família recorram a ela e, por sua vez, também
o farão quando se unem a outrem em matrimônio.
Já as leis entram em ação, pelo menos teoricamente,
quando os demais instrumentos de controle vão
perdendo sua eficácia original e a coesão social corre
perigo. Por isso que a legislação formal só aparece
naquelas sociedades que alcançaram um certo grau
de complexidade em suas relações onde o costume e a
tradição já não conseguem manter aquele mínimo de
ordem e de uniformidade de conduta, sem as quais a
vida em sociedade não seria possível. Isso ocorre,
principalmente, com a passagem do estilo de vida rural
para o estilo urbano, quando tendem a se romper os
laços de solidariedade que unem os grupos primários
e novas formas têm que ser criadas para reconstituir a
“ordem social”. Por isso, a legislação é típica das
sociedades urbanas, e, em nossos dias, seu veículo
de expressão mais representativo é a autoridade
policial, ostensiva e sempre presente quando a
“harmonia social” está em perigo.
O guarda de trânsito, o guarda-noturno, a polícia de
vigilância, o fiscal de alfândega, são figuras bem
conhecidas e sua presença serve para nos lembrar a
cada instante, que o não-cumprimento das regras do
Jogo social acarreta uma punição que nos atingirá
onde quer que estejamos. A imagem simbólica do
“longo braço da lei” é muito feliz para expressar que
neste terreno não há distâncias que não possam ser
vencidas (A Polícia, nos últimos tempos, aperfeiçoou
de tal forma suas técnicas de ação, que conseguiu se
articular com relativa eficácia até mesmo no plano
internacional, com a criação da Polícia Internacional
(Interpol).
A lei só surge na história da humanidade em época
relativamente recente, expressando a necessidade de
definir obrigações e direitos que são o produto de
circunstâncias inteiramente novas no quadro das
relações sociais. Ela representa, inclusive, um passo
à frente no aperfeiçoamento das instituições sociais
e da autoridade tradicional que, ao aplicarem seus
princípios de direito, o faziam de modo extremamente
arbitrário. Basta lembrarmos, a título de exemplo, a
aplicação da justiça baseada no princípio da “ordãlia”
em que a inocência ou a culpabilidade de um acusado
eram comprovadas pela sua capacidade de resistência
ao fogo, à água fervente ou ao combate em condições
desiguais. Ou, ainda, no princípio da lei de Talião, do
“olho por olho e dente por dente” em que a punição
do ladrão consistia em cortar-lhe a mão, do delator em
arrancar-lhe a língua, do espião em cegá-lo e assim
por diante.
Todos estes princípios de aplicação da justiça
baseados no costume, hoje nos aparecem, em sua
maioria, terrivelmente bárbaros e, embora estejamos
sempre a protestar contra muitos absurdos que
sobrevivem nas legislações modernas, somos
obrigados a reconhecer que, neste particular, demos
um grande salto à frente, quanto ao aperfeiçoamento
de nossas instituições jurídicas. A igualdade perante
a lei e ausência de privilégios continuam sendo o ideal
máximo de todo o regime democrático e a base do
direito, muito embora ainda não tenham sido
plenamente atingidas em nenhuma nação ou sociedade
moderna. Só o fato de terem chegado a ser formuladas
já implicam na possibilidade de sua materialização
dentro das atuais condições da vida social e justificam
toda a luta que se trava para torná-las uma realidade.
Exercícios
1- Momento de estudos e reflexões
Interprete as informações dos textos abaixo e faça uma análise da sociedade atual.
TEXTO 1
CINCO DESAFIOS À IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA
Os desafios, quaisquer que eles sejam, nascem sempre de perplexidades produtivas. Tal como Descartes
exercitou a dúvida sem a sofrer, julgo hoje ser necessário exercitar a perplexidade sem a sofrer. Se quisermos,
como devemos, ser sociólogos das nossas circunstâncias, deveremos começar pelo contexto sociotemporal
de que emergem as nossas perplexidades.
OITENTA / NOVENTA
Do ponto de vista sociológico, a década de oitenta será uma década para esquecer? Está na tradição da
Sociologia preocupar-se com a “questão social”, com as desigualdades sociais, com a ordem/desordem
autoritária e a opressão social que parecem ir de par com o desenvolvimento capitalista. À luz desta
tradição, a década de oitenta é sem dúvida uma década para esquecer. No seu decurso, aprofundou-se nos
países centrais, a crise do Estado-Providência que já vinha da década anterior e com ela agravaram-se as
desigualdades sociais e os processos de exclusão social (30% dos americanos estão excluídos de qualquer
esquema de segurança social) e de tal modo que estes países assumiram algumas características que pareciam
típicas dos países periféricos. Daí o falar-se do terceiro mundo interior. Nos países periféricos, o agravamento
das condições sociais, já de si tão precárias, foi brutal. A dívida externa, a desvalorização internacional dos
produtos que colocaram no mercado mundial e o decréscimo da ainda externa, levou alguns destes países à
beira do colapso. Na década de oitenta morreram de fome na África mais pessoas que em todas as décadas
anteriores do século. Se as assimetrias sociais aumentaram no interior de cada país, elas aumentaram ainda
mais entre o conjunto de países do Norte e o conjunto de países do Sul. Esta situação, que alguns festejaram
ou toleraram como a dor necessária do parto de uma ordem econômica finalmente natural e verdadeira, isto
é, neoliberal, foi denunciada por outros como uma desordem selvática a necessitar ser substituída por uma
nova ordem econômica internacional a arrogância dos primeiros e a impotência dos segundos põe a
Sociologia decididamente de candeias às avessas com a década de oitenta.
Decididamente, sim, mas também incondicionalmente? O outro pilar da tradição intelectual da Sociologia
é a preocupação com a participação social e política dos cidadãos e dos grupos sociais, com o
desenvolvimento comunitário e a ação coletiva, com os movimentos sociais. À luz desta outra tradição, o
mínimo que se pode dizer é que a década de oitenta se reabilitou de maneira surpreendente e mesmo
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brilhante. Foi a década dos movimentos sociais e da Democracia, do fim do Comunismo autoritário e da
apartheid, do fim do conflito Leste-Oeste e de um certo abrandamento (momentâneo) da ameaça nuclear.
É este o claro-escuro da década precedente. Temos com ela uma relação de amor e ódio. Não podemos
esquecê-la. Tão pouco queremos repeti-la. Evidentemente que as décadas só existem na nossa imaginação
temporal. As transformações ocorridas no final da década de oitenta entram de rompante na década de
noventa e estão agora em casa. Que fazer delas? Por que as transformações estão a passar transformações?
Que desafios colocam à Sociologia, às Ciências Sociais e às humanidades em geral? De que modo vão nos
afetar? De que modo podemos afetá-la? Não é fácil responder a estas questões, por mais que elas pressuponham
como não-problemática uma postura epistemológica que a é cada vez mais. Pressupõem a separação sujeitoobjeto: nós, aqui; as transformações, lá fora. Quando, na verdade, as transformações não são mais que nós
todos, todos os cientistas sociais e todos os não cientistas sociais deste mundo a transformarmo-nos.
ENTRE A AUTOTEORIA E A AUTO-REALIDADE
Contudo, é próprio da Sociologia reivindicar um ângulo de observação e de análise, um ângulo que, não
estando fora do que observa ou analisa, não se dissolve completamente nele. Qual é, pois, esse ângulo e como
mantê-lo nas condições presentes e futuras? A rapidez, a profundidade e a imprevisibilidade de algumas
transformações recentes conferem ao tempo presente uma característica nova: a realidade parece ter tomado
definitivamente a dianteira sobre a teoria. Com isso, a realidade torna-se hiper-real e parece teorizar-se em
si mesma. Essa autoteorização da realidade é o outro lado da dificuldade das nossas teorias para darem
conta do que se passa e, em última instância, da dificuldade de serem diferentes da realidade que supostamente
teorizam. Esta condição é, no entanto, internamente contraditória. A rapidez e a intensidade com que tudo
tem acontecido se, por um lado, torna a realidade hiper-real, por outro lado, trivializa-a, banaliza-a, uma
realidade sem capacidade para nos surpreender ou empolgar. Uma realidade assim torna-se afinal fácil de
teorizar, tão fácil que a banalidade do referente quase nos faz crer que a teoria é a própria realidade com
outro nome, isto é, que a teoria se auto-realiza.
Vivemos assim uma condição complexa: um excesso de realidade que se parece com um déficit de realidade;
uma auto-teorização da realidade que mal se distingue da auto-realização da teoria. Numa condição deste
tipo é difícil reivindicar um ângulo de análise, muito mais mantê-lo. Não está na tradição da Sociologia
desistir dessa reivindicação e, valha a verdade, alguns fatores correm a favor do seu sucesso. O conflito
Leste-Oeste foi um dos grandes responsáveis por que, durante todo o século XX, a Sociologia tivesse sido
feita com os conceitos e teorias que nos foram legados pelo século XIX. O fim do conflito Leste-Oeste cria uma
oportunidade única para a criatividade teórica e para a transgressão metodológica e epistemológica e essa
oportunidade só será desperdiçada se nos esquecermos de que o fim do conflito Leste-Oeste corre de par com
o agravamento do conflito Norte-Sul. E será igualmente desperdiçada se a liberdade criada pela ausência
dos dogmas teórico-políticos for asfixiada pelos sempre velhos e sempre novos dogmas institucional-fácticos.
A tradição da Sociologia é neste domínio ambígua. Tem oscilado entre a distância crítica em relação ao
poder instituído e o comprometimento orgânico com ele, e entre o guiar e o servir. Os desafios que nos são
colocados exigem de nós que saiamos deste pêndulo. Nem guiar nem servir. Em vez de distância crítica, a
proximidade crítica. Em vez de compromisso orgânico, o envolvimento livre. Em vez de serenidade
autocomplacente, a capacidade de espanto e revolta.
DAS PERPLEXIDADES AOS DESAFIOS
Quais são, pois, os desafios? Como disse no início, os desafios começam sempre por se manifestar como
perplexidades produtivas. Salientamos as cinco seguintes que vão nos ocupar nos próximos anos.
Obs.: Estamos falando sobre a realidade das décadas de 70 e 80.
1. A primeira perplexidade consiste no seguinte: um relance pelas agendas políticas de diferentes países
revela-nos que os problemas mais absorventes são, como nunca, problemas de natureza econômica: inflação,
desemprego, taxas de juro, déficit orçamental, crise financeira do Estado-Previdência, dívida externa, política
econômica geral. E o mesmo se passa se, em vez de relancear a política nacional, relancearmos a política
internacional: integração regional (UE, CEI, EUA, Canadá, México, Cone Sul, Sudeste Asiático),
protecionismo (Uruguay Round, Fortaleza Europa), ajuda externa, etc. Contudo, e em aparente contradição
com isso, a teoria e a análise sociológica dos últimos dez anos têm vindo desvalorizar os modos de produção
em detrimento dos modos de vida. Podemos mesmo dizer que a crítica que tem sido feita ao Marxismo assenta,
em parte, na desvalorização do econômico. Será esta contradição não apenas aparente, mas também real?
E se assim for, estaremos a falhar o alvo analítico e a cavar a nossa própria marginalidade: ou será, pelo
contrário, que estes diferentes fatores e conceitos e as distinções que assentam (Economia, Política, Cultura),
todas legadas pelo século XIX, estão hoje superados e exigem uma reconstrução teórica radical? E neste
caso, como fazê-la?
2. A segunda perplexidade pode ser formulada assim: nos últimos dez anos assistimos a uma dramática
intensificação das práticas transnacionais, da internacionalização da economia à translocalização maciça
de pessoas como migrantes ou turistas, das redes planetárias de informação e de comunicação à
transnacionalização da lógica do consumismo destas transformações. A marginalização do Estado nacional,
a perda da sua autonomia e da sua capacidade de regulação social tem sido considerada como principal
conseqüência. Contudo, no nosso quotidiano raramente somos confrontados com o sistema mundial e, ao
contrário, somos obsessivamente confrontados com o Estado, que ocupa as páginas dos nossos jornais e os
noticiários das nossas rádios e televisão, que tanto regulamenta a nossa vida para a regulamentar como
para a desregulamentar. Será então o Estado nacional uma unidade de análise em vias de extinção, ou pelo
contrário, é hoje mais central do que nunca, ainda que sob a forma ardilosa da sua desconcentração? Quais
são as responsabilidades específicas da Sociologia, uma disciplina que floresceu com o intervencionismo
social do Estado? Será que o intervencionismo social do Estado vai assumir nos próximos anos a forma de
intervencionismo não estatal? Será que o Estado vai criar a sociedade civil à sua imagem e semelhança?
Será que a Sociologia é parte da armadilha ou parte do mecanismo que a permite desarmar?
3. A terceira perplexidade ou desafio é a seguinte: os últimos anos marcaram decididamente o regresso do
indivíduo. O esgotamento do estruturalismo trouxe consigo a revalorização das práticas e dos processos e
nuns e noutros, a revalorização dos indivíduos que a protagonizam. Foram os anos da análise da vida
provada, do consumismo e do narcisismo, dos modos e estilos de vida, do espectador ativo da televisão, das
biografias e trajetórias de vida, análises servidas pelo regresso do interacionismo, da fenomenologia, do
micro em detrimento do macro. Contudo, em aparente contradição com isso, o indivíduo parece hoje menos
individual do que nunca, a sua vida íntima nunca foi tão pública, a sua vida sexual nunca foi tão codificada,
a sua liberdade de expressão nunca foi tão inaudível e tão sujeita a critérios de correção política, a sua
liberdade de escolha nunca foi tão derivada das escolhas feitas por outros antes dele. Será tão só aparente
esta contradição? Será que a distinção indivíduo-sociedade é outro legado oitocentista de que nos devemos
libertar? Será que, pelo contrário, nos libertamos cedo demais do conceito de alienação? Como fazer vingar
a preocupação tradicional da Sociologia com a participação e a criatividade sociais numa situação em que
toda a espontaneidade do minuto um se transforma, no minuto dois, em artefato mediático ou mercantil de si
mesma?
4. A quarta perplexidade pode ser formulada assim: iniciamos o século com clivagens sociopolíticas muito
profundas, entre Socialismo e Capitalismo, entre revolução e reforma; clivagens que, por tão importantes, se
inscreveram na tradição das ciências sociais. Chegamos, no entanto, ao fim do século com um surpreendente
desaparecimento ou atenuação dessas clivagens e com a sua substituição por um não menos surpreendente
consenso a respeito de um dos grandes paradigmas sociopolíticos da modernidade: a Democracia. A década
anterior, não só viveu muitos processos de democratização, como instituições insuspeitas a esse respeito
abraçaram publicamente o credo democrático. O Banco Mundial, através do princípio da “condição política”
(political conditionality), faz defender a concessão de crédito da vigência da Democracia no país creditado,
ao mesmo tempo que a Agência Internacional para o Desenvolvimento dos EUA promove em larga escala
“iniciativas para a Democracia” (Democracy initiatives), com o mesmo objetivo de vincular o desenvolvimento
à Democracia. Contudo, em aparente contradição com isso, ocorrem dois fenômenos, um mais visível do que
o outro. Por um lado, se a Democracia é hoje menos questionada do que nunca, todos os seus conceitos
satélites têm vindo a ser questionados e declarados em crise: a patologia da representação, sob a forma da
distância entre eleitores e eleitos, do ensimesmamento dos parlamentares, da marginalização e
governamentalização dos parlamentos, etc. Por outro lado, se atentarmos na História européia desde meados
do século XIX, verificamos que a Democracia e o liberalismo econômico foram sempre má companhia um
para o outro. Quando o liberalismo econômico prosperou a Democracia sofreu e vice-versa. Contudo,
surpreendentemente, hoje a promoção da Democracia em nível internacional é feita conjuntamente com o
neoliberalismo, de fato em dependência dele. Haverá aqui alguma incongruência ou armadilha? Alguém
está a tramar contra alguém? Será que o triunfo da Democracia, que liquidou o conflito Leste-Oeste, se
articula com o triunfo do neoliberalismo de que resultará o agravamento do conflito Norte-Sul? Será que
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estes dois triunfos conjuntos vão criar novos conflitos Norte-Sul tanto dentro do Norte como dentro do Sul?
Como vamos analisar as sociedades que são o Sul do Norte (por exemplo Portugal) ou o Norte do Sul (por
exemplo o Brasil).
5. A quinta e última perplexidade pode formular-se do seguinte modo: a intensificação da interdependência
transnacional e das interações globais, já referida, faz com que as relações sociais pareçam hoje cada vez
mais desterritorializadas, ultrapassando as fronteiras até agora policiadas pelos costumes, pelo Nacionalismo,
pela língua, pela ideologia e, muitas vezes por tudo isso ao mesmo tempo. Contudo, e aparentemente em
contradição com esta tendência, assiste-se a um desabrochar de novas identidades regionais e locais
alicerçadas numa revalorização do direito às raizes (em contrapartida com o direito à escolha). Este localismo,
simultaneamente novo e antigo, outrora considerado pré-moderno e hoje em dia reclassificado como pósmoderno, é com freqüência adotado por grupos de indivíduos “translocalizados” (Sihks em Londres,
fundamentalistas islâmicos em Paris), não podendo por isso ser explicado por um genius loci, isto é, por um
sentido de lugar específico. Contudo, assenta sempre na idéia de território, seja ele imaginário ou simbólico
real ou hiper-real. Semelhantemente o aumento da mobilidade transnacional inclui fenômenos muito diferentes
e contraditórios: por um lado, a mobilidade, seja ele ou ela o executivo de uma grande multinacional, o
cientista entre congressos, ou o turista: por outro a mobilidade de quem sofre esses processos, seja ele ou ela
o refugiado, o emigrante, o índio ou o nativo deslocado do seu território ancestral. Acresce que a mobilidade
transnacional e a aculturação global de uns grupos sociais parece correr de par com o aprisionamento e a
fixação de outros grupos sociais. Os camponeses da Bolívia e da Colômbia contribuem, ao cultivar a coca,
para o desenvolvimento da cultural transnacional da droga e dos modos de vida desterritorializados que
Ihes são próprios, mas eles, camponeses, estão presos, talvez mais do que nunca, aos seus lugares de nascimento
e de trabalho.
Será que esta dialética de territorialização/desterritorialização faz esquecer as velhas opressões? E será
que a velha opressão de classe e – de que a Sociologia internacional corre o risco de se esquecer
prematuramente – porque transnacionalizável faz esquecer, ela própria, a presença ou até o agravamento de
velhas e novas opressões locais, de origem sexual, racial ou étnica?
O exercício das nossas perplexidades é fundamental para identificar os desafios que merecem a pena ser
respondidos. Afinal todas as perplexidades e desafios resumem-se num só: em condições de aceleração da
História, como a que hoje vivemos, é possível pôr a realidade no seu lugar sem correr o risco de criar
conceitos e teorias fora do lugar?
TEXTO 2
AQUI NÃO É A SUÍÇA
Marcelo Averbug
O Globo 08/09/94
No Brasil, ao se atravessar numa rua de mão única é sempre bom, por precaução, olhar antes para a
contramão. O desrespeito às mais elementares regras de trânsito é apenas um dos aspectos de um fenômeno
mais amplo: o desprezo generalizado por leis, regulamentos e códigos. Quem é disciplinado corre o risco de
ser atropelado no trânsito, no trabalho, na política e até nas relações sociais.
Enquanto nos chamados países do Primeiro Mundo a afronta aos preceitos de integração harmônica à
sociedade é privilégio das minorias delinqüentes; no Brasil é encarada como normal, faz parte do cotidiano
e é praticada por qualquer cidadão definido como honesto e pacífico, inclusive doces mães de família. Não
estou me referindo, é claro, ao banditismo e à criminalidade.
Um fato aparentemente insignificante retrata com nitidez essa insubordinação endêmica: freqüentadores
do calçadão de Copacabana, Ipanema e Leblon reclamavam, com razão, dos ciclistas que por lá circulavam
atrapalhando a tranqüilidade de suas caminhadas. Resolveu então a Prefeitura construir ciclovias ao longo
dessas praias, pois bem, agora são os pedestres que insistem em andar na pista destinada às bicicletas! E, e
evidentemente, inúmeros ciclistas continuam pedalando na calçada.
Além de anarquizar a convivência humana, sobretudo nas áreas urbanas, esse gênero de desobediência
gera efeitos econômicos negativos:
1. Certas medidas de política econômica não produzem os resultados esperados, pois são sabotadas;
2. Parte da atividade produtiva do país não serve para aumentar a disponibilidade de bens, mas sim
apenas para repor aqueles destruídos prematuramente como conseqüência de atos ilegais;
3. Matéria-prima, mão-de-obra e capital são desperdiçados ao longo do processo produtivo devido ao
pouco caso para com normas referentes ao seu uso, inclusive as de segurança;
4. Em conseqüência do afinco com que os brasileiros se dedicam a burlar o fisco, o montante arrecadado
em impostos é inferior ao que deveria ser,
“O brasileiro se conforma com a idéia de que não nos incluímos entre os povos civilizados”;
5. Qualidade e quantidade dos serviços prestados pelos setores público e privado se encontram muito
abaixo dos padrões corretos, pois há desleixo no desempenho de funções e os direitos do consumidor são
ignorados;
6. Para não me estender mais, concluo com o mais sinistro dos efeitos’, o custo em vidas humanas.
Esse comportamento está de tal forma enraizado na mentalidade nacional, que o brasileiro se conforma
com a idéia de que não nos incluímos nos povos civilizados. Tenho um exemplo verídico que reflete bem esta
realidade. Um amigo meu vinha dirigindo calmamente, um dia desses, uma senhora, em outro carro, cometeu
perigosa infração. Ao reclamar com a motorista infratora, esta vociferou a seguinte resposta: “Não amola,
seu bolha, aqui não é a Suíça.” Essa frase singela constitui um símbolo fiel do que o brasileiro pensa de si
próprio, e serve como motivo de reflexão para os que não se conformam com tal situação. Demonstra,
também, o quanto será difícil alcançar mudanças.
Exatamente por serem difíceis e não sensibilizarem eleitores, metas neste sentido são ignoradas pelos
candidatos a postos eletivos. Talvez até porque eles próprios encarem com naturalidade esse traço da
personalidade nacional, não o considerando problema relevante. Na verdade, tentar tal reforma de
mentalidade é mais complicado do que executar a reforma agrária.
É fácil avaliar o impacto sobre a Nação de algum processo no grau de respeito às normas de convivência
social. O gesto revolucionário de levar a sério o arcabouço legal seria repercussão positiva sobre a taxa de
crescimento do PIB e qualidade de vida da população, transformando a fisionomia nacional. Mesmo sem
criar nenhuma nova lei, bastaria cumprir as existentes e já estaríamos caminhando para o paraíso.
Se Fernando Henrique Cardoso e Lula desejam realmente promover mudanças profundas no país, necessitam
incluir em seus programas ações destinadas a conscientizar o brasileiro em relação a essa questão, deflagrando
um processo que exigirá longo período para apresentar resultados. E, assim, quem sabe, algum dia o Brasil
será igual à Suíça.
2- Responda de acordo com o conteúdo do instrucional.
2.1-Conceitue socialização, comunidade e sociedade;
2.2-Caracterize as instituições sociais estudadas;
2.3- Exemplifique interação social e controle social.
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UNIDADE III
PROCESSOS SOCIAIS BÁSICOS
A vida social é uma teia infinitamente complexa de
ações humanas recíprocas, de processos de interação
que se fundem num único processo total. Desse
emaranhado, só por meio da análise intelectual podem
ser apartados processos individuais, limitados quer
pela restrição do estudo à interação entre
determinadas pessoas, quer pela focalização de certo
tipo de ação humana. Quando se fala em “processos
sociais fundamentais” tem-se em mira esta segunda
maneira de proceder, admitindo que há categorias de
ação social que estão na base de todas as demais. Não
surpreende saber que os sociólogos estejam em ligeiro
desacordo quanto ao destaque que convenha dar,
nesse sentido, a uns fenômenos sociais ou a outros.
Optamos pela dicotomia básica de competição e
cooperação, isto é, dos processos pelos quais se
distanciam e se aproximam socialmente, em função dos
seus interesses, opondo-se uns aos outros ou
conjugando os seus esforços.
3.1 - Competição e Rivalidade
A competição é fenômeno fundamental; ocorre de
maneira generalizada na vida orgânica e assume
aspectos peculiares na vida humana, dando, em
circunstâncias especiais, origem à concorrência, à
rivalidade e ao conflito.
a) Quando são escassos os meios de satisfazer
necessidades ou desejos, os homens, usualmente,
competem por eles, do mesmo modo como as árvores
competem pelo solo e pela luz. Cada qual esforça-se
para chegar primeiro e se apossar do melhor quinhão
ou do único objeto disponível. Esse processo assume
aspectos sociais à medida que os competidores não
apenas têm consciência, uns da existência dos
esforços dos outros, mas orientam os seus, levando
em conta os demais.
b) A competição consciente pode produzir nada mais
que a intensificação do empenho de cada um. Assim,
os corredores esportivos, os comerciantes desejosos
de vender mercadoria idêntica, os participantes de um
concurso público são estimulados pela presença dos
demais para o desempenho mais eficiente de todas as
suas forças. Pode-se falar, neste caso, de
concorrência: luta-se, mas sem hostilidade.
c) Muitas vezes, porém, os competidores não se
limitam ao esforço de superarem uns aos outros,
passando a, pelo menos, embaraçarem-se: eis a
rivalidade. Conquanto seja discutível se a
“concorrência” é sempre um fenômeno social – desde
que não haja interação –, a rivalidade certamente o é.
Não se trata mais, apenas, de chegar primeiro, de
vender mais, de conseguir o emprego, mas de
“vencer” um determinado competidor. Este tornouse pelo menos, alvo secundário da ação.
d) A luta pode apossar-se de tal modo do espírito
dos competidores que, enquanto ela durar, se
esquecerão do alvo verdadeiro ou o colocarão em
segundo plano, como algo mais remoto, enquanto se
dedicam totalmente ao objetivo imediato de “vencer”.
Com isso, passa-se da competição para outro
fenômeno fundamental de natureza diferente: o
conflito.
3.2 - Conflito e Acomodação
Conflito
Denominamos conflito o processo em que duas ou
mais pessoas ou grupos tentam ativamente frustrar
os propósitos uns dos outros e impedir a satisfação
de seus interesses, chegando inclusive a lesar ou
destruir o adversário.
Karl Mannhein define a luta como “uma relação social
na qual desejamos obrigar, pela força, a outra pessoa
ou grupo que atue segundo nossa vontade,
procurando para tanto superar as suas resistências”
(1970:62).
Enquanto o processo de competição é inconsciente
e impessoal, no conflito tais características
desaparecem para dar lugar a uma atitude
conscientemente hostil em relação ao inimigo ou rival,
devidamente identificados.
São inúmeras as classificações que têm sido
sugeridas para o conflito. Partindo de critérios ligados
à natureza dos grupos envolvidos, temos a revolução,
a guerra e o duelo.
Segundo a forma de manifestação, o conflito pode
ser aberto ou fechado. É aberto quando as formas de
luta e os motivos estão convenientemente expressos
para ambas as partes e para o restante da sociedade.
É fechado quando as formas de luta estão disfarçadas
sob outros processos e podem até ser ignorados pelo
grupo. Exemplo do segundo, no plano das nações, é
a chamada “guerra fria”, a 5ª Coluna, a espionagem, e,
no plano privado, uma disputa em família que não
chega a ultrapassar os limites desta (a necessidade
de manter as aparências perante os grupos de fora,
muitas vezes, pode fazer com que um conflito não se
revele em toda a sua plenitude).
Segundo os motivos predominantes que dão origem
ao conflito, ele pode ser classificado de religioso,
econômico, político, ideológico, racial, etc. Falamos
em motivos predominantes porque dificilmente os
conflitos que envolvem grupos mais ou menos
numerosos podem ser atribuídos a uma única causa.
Trata-se, em geral, de um complexo de fatores de
natureza diversa ou semelhante em que é possível,
contudo, vislumbrar um fator que desencadeia o
conflito e pode até, eventualmente, encobrir outras
motivações.
Os conflitos podem, ainda, ser organizados ou
desorganizados, conforme se pautem ou não por
normas e leis conhecidas e aceitas por ambas as partes.
Exemplo de luta desorganizada é um conflito de rua,
ou uma briga entre dois bandos de garotos.
Podem ser ainda transitórios ou duradouros, ao
contrário da competição que tem, em geral, caráter
permanente. O desgaste físico e emocional, inerente
ao conflito, faz com que ele se destine, pela sua própria
natureza, a ter uma duração limitada. Tende a se
resolver pela vitória de uma das partes, pela destruição
de ambas ou pela acomodação, que é outro processo
social básico.
Acomodação
Define-se acomodação como um processo social,
consciente ou inconsciente, que consiste em alterar
as relações funcionais entre pessoas e grupos, a fim
de evitar reduzir ou eliminar conflitos e favorecer o
ajustamento recíproco.
É um processo de grande significação, tanto na vida
dos grupos, como nas relações interindividuais. Na
natureza, corresponde à adaptação e chega a
constituir-se numa condição de sobrevivência de
indivíduos ou espécies obrigados a viver em
contextos que não mais coincidem com o original. A
história natural cita-nos um sem-número de exemplos
de espécies animais e vegetais que existiram há
milhões de anos atrás e desapareceram pela falta de
condições de adaptar-se a novas circunstâncias. Ao
mesmo tempo, sabe-se que muitos animais, hoje
reduzidos em tamanho, parcial ou inteiramente
domesticados, foram outrora temíveis feras de
grandes proporções, semeando o terror no meio em
que viviam. Eles encontraram ou forjaram condições
de adaptação tais que lhes permitiram vencer os
desafios de uma natureza hostil e que, de outro modo,
tê-los-ia destruído se a acomodação não tivesse
ocorrido.
Na sociedade humana, ocorre coisa semelhante,
embora não idêntica, similarmente exige-se dos
indivíduos e dos grupos que se adaptem
constantemente a novas condições de vida. Desde o
nascimento até a morte somos levados a ajustar-nos
a condições que nos são impostas, quer do meio
natural quer do meio social. Os inadaptados tendem a
ser eliminados no próprio processo, sobrevivendo
aqueles cuja estrutura psicofísica está melhor
preparada para a luta.
A acomodação social pode processar-se em
quaisquer dos campos das relações humanas, como
o ecológico, o econômico, o religioso, o político, etc.
É um processo transitório a que somos levados pelo
próprio dinamismo da vida social, bem como pelas
diferenças naturais ou sociais existentes entre os
indivíduos e entre os grupos. Alterna-se com outras
formas de interação, principalmente com o conflito,
do qual a acomodação muitas vezes decorre quase,
poderíamos dizer, espontaneamente, como condição
mesma de sobrevivência das partes em litígio, seja no
plano físico, seja no social.
A educação da criança, por exemplo, é um processo
em que se alternam constantemente fases de
cooperação, de competição, de conflito e de
acomodação, cada uma delas atendendo a
peculiaridades da relação criança-meio social.
É interessante, ainda, acentuarmos que a
acomodação não implica modificação da estrutura
psíquica ou das atitudes do indivíduo. Ela se passa
no plano do comportamento externo, quase do mesmo
modo como uma planta posta em uma sala escura
tende a orientar suas folhas para o foco de luz, ou
como alguns animais, que se fingem de mortos quando
sentem a aproximação do perigo. Apenas nestes
exemplos, a adaptação faz-se a partir de mecanismos
inconscientes, instintivos, enquanto nos homens a
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acomodação tende a ser fruto da razão, da necessidade
que sentem de conviver com os outros homens em um
clima de relativa harmonia.
O processo de acomodação tem profundas
implicações psicológicas e morais, pelo fato de não
ser um ato irracional, tal como ocorre entre os animais.
Na sociedade humana, é fundamentalmente um ato de
razão, poderíamos dizer um projeto, que está
dimensionado pelas convenções sociais que nos vão
dizer a que, quando e como é conveniente nos
acomodarmos. Aqueles que não se enquadram nessas
limitações estão condenados à insatisfação, ao
desajuste, às sanções sociais e até, em casos extremos,
à marginalização completa.
Há indivíduos para os quais muitas formas de
acomodação voluntária são difíceis, quase impossíveis.
Na realidade, nenhum ser humano sobreviveria em
sociedade, se não fosse capaz de responder aos
desafios sociais, com algum tipo de acomodação. O
inadaptado às pressões religiosas e políticas pode
muito bem adaptar-se à vida em família, aos
companheiros de trabalho, aos amigos; aquele que não
se acomoda às exigências de uma vida familiar
responsável pode ser o mais disciplinado membro de
uma seita política clandestina, e assim por diante. O
que é difícil é encontrar um indivíduo que, ao longo de
sua vida, não encontre condições de acomodação em
nenhum grupo ou instituição social. A História registra
casos isolados de indivíduos que viveram em conflito
permanente com seus contemporâneos e com as
instituições de sua sociedade. Trata-se de casos
extremos de inadaptação social, muitas vezes ligados
a uma mentalidade avançada demais para os costumes
e a cultura de sua época e que tendem, por isso mesmo,
a serem vistos como visionários, maníacos,
perseguidos ou ignorados, conforme sua ação ponha
ou não em perigo as instituições vigentes.
A criminologia, por outro lado, também nos descreve
casos típicos de marginais da lei que, desde a infância,
viveram em conflito permanente com os costumes e as
convenções sociais. Punições, violências, isolamento,
nada consegue fazer deles indivíduos socialmente
ajustados. Raramente chegam à velhice, sucumbindo
precocemente, vítimas da própria resistência à
acomodação.
Esses exemplos devem servir para nos mostrar que
os mecanismos formais ou informais de controle social
funcionam justamente no sentido de nos levar à
acomodação no grupo, à aceitação das regras do jogo
social, tal como nos são apresentadas ao ingressarmos
na vida coletiva. Caso contrário, toda a máquina
coercitiva volta-se contra nós, tentando processar o
nosso enquadramento ou, quando tal não é possível,
forçando-nos ao isolamento.
3.3 - Cooperação e Assimilação
Cooperação
Conceituamos cooperação como uma ação coletiva,
integrada, com vistas a um fim comum. A cooperação
parece ter suas raízes não numa suposta “natureza
associativa” do homem, mas nas suas limitações, na
sua desvalia enquanto individualidade, frente aos
obstáculos que lhe são postos pelo meio natural e
pelos outros homens. Prova deste caráter
“predominantemente egoísta” das motivações sociais
do homem seria o fato de que a cooperação tende a
acentuar-se nos momentos de dificuldades e a diluirse, até mesmo a desaparecer, nos momentos de maior
estabilidade social e econômica, bem como nos
momentos de pânico total, sob a iminência de grandes
catástrofes. Esses tipos de comportamento, que podem
ser observados com freqüência em casos concretos,
mostram que a cooperação não está determinada a
priori, não é instintiva nem natural, mas é produto da
razão humana e visa criar melhores condições de
sobrevivência e de convivência para os grupamentos
humanos.
Em todo o processo de cooperação, existem sempre
presentes fatores compulsivos, mais ou menos
evidentes. Essa coerção, disfarçada ou ostensiva, se
origina no grupo e parece ser uma condição da própria
eficácia da cooperação, a qual sem ela tenderia a
degenerar-se e a perder sua funcionalidade. Não raro
o caráter compulsivo desse comportamento
cooperativo está tão eficazmente incorporado à nossa
conduta social que nos parece espontâneo, natural,
fruto maduro de um instinto cooperador, comum a toda
espécie humana. Na realidade, sua manifestação não é
mais que uma bem sucedida ação educativa do grupo,
orientada com o fim de estimular, em certos indivíduos
e em algumas profissões, o sentimento de ajuda ao
próximo, de renúncia dos próprios interesses, em favor
do interesse alheio, como é o caso dos bombeiros,
dos salva-vidas, dos padioleiros, entre outros. Nesse
caso, os grupos desenvolvem mecanismos de controle
social que têm por objetivo expressar a aprovação e o
reconhecimento coletivo e reforçar, nas novas
gerações, o apreço e a admiração pelos indivíduos
que são capazes de adotar tais comportamentos. Esses
estímulos tendem a ser mais intensos em períodos
críticos como guerras, convulsões sociais, grandes
catástrofes etc., quando a cooperação é particularmente
importante, como fator de garantia da sobrevivência
do grupo, como um todo.
Exemplo de cooperação no qual um elevado grau de
espontaneidade está presente, quase nos fazendo
duvidar da existência de fatores coercitivos, é o do
mutirão (ou muxirão). Essa forma de trabalho
associativo, muito encontrada no interior do Brasil,
consiste na junção dos esforços de toda a comunidade
com o fim de realizar uma tarefa que interessa
particularmente a um indivíduo ou a uma família
(construção de um paiol, tapamento de uma casa,
plantio, colheita, etc.) e que deve ser feita em curto
prazo. Poderia parecer que o elemento coerção está
ausente de um auxílio aparentemente espontâneo como
é o mutirão. Entretanto, a coercitividade existe, embora
não formalizada em sanções ostensivas, na medida em
que o indivíduo presta seu auxílio esperando que, ao
chegar a sua vez de precisar do grupo, poder contar
com este. O costume ainda criou um outro fator de
atração que são as festas oferecias pelo beneficiado a
todos aqueles que o ajudaram. Nesses casos, a pressão
invisível e imponderável do costume e da tradição pode
ter uma eficácia muito maior do que a mais rígida das
leis oficiais.
Mas, como dizíamos acima, a cooperação é um
processo que está presente quando se trata de
compensar as nossas deficiências individuais ou
coletivas, tendendo a desaparecer quando indivíduos
e grupos atingem condições de auto-suficiência que
lhes vão permitir dispensar a ajuda alheia, ou quando
a situação é de tal modo aflitiva que o instinto de
sobrevivência se opõe a qualquer solução de tipo
racional. É do conhecimento geral que, por ocasião de
pânicos generalizados, o número de indivíduos que
são sacrificados pela massa em movimento é sempre
consideravelmente maior do que o de vítimas da causa
original do pânico (incêndio, desabamentos, etc.).
Nestes momentos, o espírito de cooperação desaparece
para dar lugar ao “salve-se quem puder” e o
comportamento considerado heróico é sempre o do
indivíduo capaz de superar seus instintos para pensar
e agir em benefício do grupo.
Assim, a cooperação está ligada a um certo grau de
necessidades que não pode ser tão intenso e dramático
a ponto de suscitar formas extremas de comportamento
egoísta. Igualmente, não pode ser tão reduzido que
possa prescindir da ajuda dos outros.
No meio rural, por exemplo, a cooperação é mais
constante que na cidade, visto que ainda não se
desenvolveram os mecanismos de assistência oficial e
pública que possam levar a uma atitude indiferente
quanto às necessidades alheias de ajuda; por isso que,
no meio rural, valoriza-se tanto a solidariedade, a
simpatia, a cordialidade no trato. Enquanto isso, na
cidade, na medida em que a própria sociedade
desenvolveu eficientes modos de assistência à
população, tende a se criar nos indivíduos uma atitude
de descompromisso com relação à coletividade. Aqui
temos certeza de que um indivíduo necessitado será
socorrido e ajudado independentemente de nosso
auxílio e, nós também, se tivermos tais necessidades,
podemos recorrer às instituições existentes, resultando
daí o desenvolvimento de uma atitude mais egoísta,
do não-envolvimento em situações alheias aos nossos
interesses específicos.
Não é recente, entre os pensadores sociais, a
preocupação em explicar as transformações que o
processo de urbanização determina no comportamento
coletivo. Ibh Khaldun, grande pensador árabe que
viveu no século XlV, já tivera sua atenção voltada
para esta questão. H. Becker, em A História do
Pensamento Social, assim se refere às reflexões desse
que é considerado o precursor da Sociologia no mundo
muçulmano:
Questões como a função religiosa na coesão social,
a migração rural urbana, os movimentos de população
(demografia) já ocupavam o centro das reflexões de
Khaldun muito antes de se criar a Sociologia Urbana
como disciplina autônoma.
A vida na cidade faz com que a solidariedade que
une os pequenos grupos – o corporativismo – tome a
forma de uma espécie de associacionismo secular que
se manifesta ostensivamente no desenvolvimento de
facções e grupos políticos que podem dar lugar a uma
sociedade conspiradora, onde os laços de sangue e
os vínculos de parentesco tendem, naturalmente, a
reduzir sua importância.
Esse problema de ausência de sentimento afetivo e
de solidariedade humana, nos grandes centros urbanos
nos nossos dias, é, aliás, um dos aspectos mais
chocantes da chamada sociedade de massas, na qual
a convivência social tende a assumir um caráter
meramente formal, com prejuízo de sentido afetivo,
emocional, que caracteriza a verdadeira integração.
Assimilação
Quando, no processo de ajustamento ao meio, as
camadas mais profundas da personalidade são
afetadas e ocorrem alterações substanciais no nosso
modo de pensar e de agir, estamos vivendo não mais
no campo da acomodação, mas ingressando numa
nova área de relacionamento, que é a assimilação. Esta
pode ser definida como o processo pelo qual indivíduos
ou grupos, originariamente diferentes, fundem-se em
uma unidade homogênea. A etimologia da palavra já
41
42
nos traz a idéia de semelhança, similitude. A
assimilação consiste, em última análise, não tanto em
eliminar as diferenças, mas em dar ênfase às
semelhanças, identificando-se as partes, em função
de seus pontos comuns. Na assimilação, pode-se dizer
que há substituição de um traço cultural por outro, ou
mesmo de uma cultura por outra, pois, na realidade,
esse processo implica em profundas modificações na
atitude e no comportamento dos indivíduos.
Modificações essas que são definitivas, isto é, as
partes que se transformaram não voltam a ser o que
eram anteriormente, ao contrário do que acontece na
acomodação, na qual a qualquer momento pode haver
um retorno à situação anterior.
No processo educativo, é muito fácil perceber, na
prática, tal distinção se, ao ver-se longe dos pais ou
professores, a criança altera de modo patente sua
conduta. Podemos dizer que ela apenas se acomoda
às exigências dos adultos, seja por temor ao castigo,
seja por desejar a aprovação destes; mas quando se
comporta dentro dos padrões estabelecidos, em
qualquer circunstância, criando quase que uma
segunda natureza, com transformação efetiva de seu
modo de pensar e de agir, aí, nesse caso, podemos
dizer que a criança realmente “assimilou” os
ensinamentos do grupo.
Também em relação ao fenômeno religioso, a História
aponta-nos exemplos que nos permitem bem distinguir
os processos de assimilação e de acomodação.
Quando as primeiras levas de escravos africanos
chegaram ao Brasil, começou, simultaneamente, o
trabalho dos missionários para convertê-los ao
cristianismo, mas os negros eram possuidores de
religião milenar, cujos conteúdo e ritual diferiam
substancialmente do novo credo. A situação de
subordinação em que se encontravam não lhes
permitia, entretanto, oporem-se à catequese, ao mesmo
tempo, que não podiam abrir espontaneamente mão
de todo o seu passado religioso. Começou, então, a
operar-se um processo de acomodação, no qual as
novas crenças eram aparentemente aceitas, mas seus
velhos ídolos continuavam a ser adorados sob a figura
dos santos católicos e seu ritual continuou vivo,
embora disfarçado sob formas cristãs.
À medida que o tempo passava, as novas gerações
de escravos, cuja resistência ao cristianismo já não
era tão sólida, foram fundindo as crenças e ritos
herdados dos primeiros escravos, com os dogmas e o
ritual católico, dando à religião do Brasil,
principalmente nas regiões onde a importação de
escravos foi maior, um caráter muito particular, que só
pode ser suficientemente entendido se levarmos em
conta os fatores históricos e culturais a que acabamos
de nos referir. É o fenômeno conhecido como
sincretismo religioso.
No campo das migrações, o estudo da assimilação
tem fornecido subsídios para se entender de que modo
se pode ajudar, com os recursos da ciência social, a
integração dos grupos imigrantes à nova sociedade.
É sabido que todo o processo migratório que envolve
grupos de nacionalidades distintas apresenta-se, em
sua primeira fase, sob a forma predominante de
conflito, ainda mais se estas distinções estendem-se
também ao campo étnico e religioso. Tanto o grupo
imigrante, nesse caso, quanto o grupo nativo, vão
tentar impor, um ao outro, seus respectivos padrões
culturais. Após esse período inicial de desajuste,
ambos tendem a ingressar em uma fase de
acomodação, em que as respectivas atitudes
continuarão sendo de hostilidade, mas já existindo de
permeio a compreensão mais ou menos consciente da
necessidade de ajustamento recíproco. Nessa fase, a
convivência se processa com um mínimo de conflito e
já há uma aceitação passiva dos respectivos modos
de agir e de pensar finalmente – e isso quase sempre
ocorre quando a primeira geração de imigrantes deu
lugar a seus filhos na sociedade acolhedora –, a
assimilação revela-se pela modificação substancial,
íntima, não só na conduta como na própria atitude e
mentalidade dos indivíduos que constituem os dois
grupos. Isto é, as partes originariamente antagônicas
fundiram-se, por assim dizer, e novas formas culturais
vieram substituir as antigas, pois é uma característica
da assimilação o intercâmbio de influências.
A esta altura de seu processo de interação, tanto os
imigrantes quanto os naturais do país, viram alteradas
suas respectivas culturas: novos traços surgiram e se
impuseram a ambos, como decorrência da convivência
não mais em termos conflitantes, mas de acomodação
e assimilação.
As ciências sociais podem fornecer a esse processo
de mútuo ajustamento um precioso auxílio, facilitando
os contatos, ensinando como podem ser evitados os
conflitos mais ásperos, oferecendo à ação política
muitos subsídios no sentido de esclarecer, pelo
processo educativo e pela propaganda, quais os
melhores meios de se atingir rapidamente e com o
mínimo de malefícios possível, o ajustamento dos
grupos imigrantes à nova sociedade.
O exemplo da imigração japonesa no Brasil retrata
bem todas as fases do processo social que acabamos
de descrever. Desde os conflitos iniciais, não apenas
entre os grupos, mas, principalmente, intragrupos (na
medida em que os japoneses mais radicais pretendiam
continuar atados cultural e politicamente à pátria de
origem), até a assimilação que atualmente podemos
testemunhar e cuja prova mais evidente é a presença
numerosa nos estados de migração nipônica, do
“nissei”, isto é, do filho de pais japoneses nascido no
Brasil ou mesmo filho de japonês com brasileira ou
vice-versa.
Aliás, em todo o mundo, a assimilação sempre tem
encontrado um poderoso elemento catalisador no
casamento e nas ligações intersexuais, em geral.
Exercícios
Chegou a hora de você refletir um pouco sobre o que estudou nesta unidade.
1- Analise o texto abaixo e responda: Qual o papel da escola na sociedade atual?
DEBAIXO DAS RODAS
Hermann Hesse
Muitos que hoje são cidadãos respeitados por suas atividades construtivas ter-se-iam tornado, sem os
esforços da escola, meros inovadores impetuosos, desregrados, estéreis, sonhando com obras que jamais
poderiam realizar sem a escola, haveria sempre neles algo de selvagem, inculto, perverso, disposto a atear
um incêndio, mas sem saber como extingui-lo. O homem, tal como a natureza o cria, é algo imprevisto, opaco,
perigoso. É o rio que irrompe caudaloso, do seio de uma montanha e, se não lhe for traçado um curso, se não
lhe impuserem represas, alagará campos férteis, destruirá casas e vidas, acabará se perdendo, cego e
extenuado, antes de atingir o mar. É a floresta virgem que tem de ser clareada e limpa, a quem tem de ser
traçados limites para que não invada as terras de cultivo e abertos caminhos para que quem a penetre não
se perca na desordem, nos charcos traiçoeiros e na crescente podridão. Assim é a escola, tem de quebrar,
vencer, subjugar e restringir as cegas energias do homem natural; é seu dever convertê-la em membro útil da
sociedade, segundo os princípios consagrados pelas autoridades, e despertar no jovem a seu cuidado as
qualidades cívicas cuja instrução é coroada pela disciplina da caserna.
2- Dos processos sociais básicos estudados escolha um e explique.
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UNIDADE IV
VALORES SOCIAIS E O INDIVÍDUO
4.1
4.1- Atitudes, Interesses e Valores
a) A motivação do indivíduo aparece no mundo social
quando se fixa em determinado objeto ou numa
categoria de objetos. Fala-se, então, da atitude de uma
pessoa em relação a esse objeto, ou seja, da sua
disposição interior para agir em relação a ele, de certa
maneira. O desejo de possuir dispõe a pessoa para se
esforçar (isolada, competitiva ou cooperativamente)
pela obtenção de alimento, dinheiro ou afeto; o amor
impele para o estabelecimento de relações íntimas; a
repulsa indispõe contra as pessoas ou objetos, enfim,
desagradáveis. Pode-se falar então, em atitudes
positivas e negativas. As atitudes são indefinidamente
variáveis, tanto quanto o são as pessoas e os objetos.
b) Tendo atitude em relação a um objeto, a pessoa
atribui-lhe valor, que como a atitude, pode ser positivo
ou negativo. Os objetos das atitudes hostis são
portadores de valor negativo e os de atitudes
favoráveis, de valor positivo.
c) Interesse é a relação existente entre um objeto
valorizado e a pessoa que, para com ele tenha atitude.
O interesse está entre a pessoa e o objeto; não
pertence diretamente nem a um nem a outro, é algo
puramente abstrato.
4.2 - Atitudes, Interesses e Valores Sociais
a) Toda vida mental se processa em função da
sociedade em que está inserida e, naturalmente, a
formação de atitudes resulta, em última análise, também
da reelaboração de padrões sociais. Nesse sentido
toda atitude é social. A atitude é social ainda num
sentido especial: é uma disposição específica para agir
de maneira bastante definida em relação a um objeto
ou a uma categoria de objetos, caracterizados por um
estereótipo social, é padrão usual numa determinada
sociedade.
b) Os interesses são sociais no mesmo sentido em
que o são as atitudes de que decorrem, mas ainda,
numa outra perspectiva, podem ser considerados
sociais ou não, no que concerne à sua tendência a
promover a associação das pessoas. Podemos dizer
que interesses convergentes podem dar origem a
interesses comuns (ação conjugada organizada) e os
interesses paralelos poderão transformar-se em
competitivos e contrários à associação.
c) Valores sociais são aqueles para os quais se voltam
interesses convergentes ou comuns.
Todos os grupos sociais e todas as sociedades são
voltadas para os valores sociais, mais numerosos ou
menos considerados, muito importantes ou pouco,
quando comparados entre si e aos valores individuais.
4.3 - Desejos Fundamentais do Homem
a) A motivação humana é complexa. O sociólogo
americano W. I. Thomas faz um esquema sobre
motivação humana, destacando quatro tipos
fundamentais de desejos que buscam satisfação na
sociedade:
- o de correspondência afetiva;
- o de merecer consideração;
- o de segurança física e psíquica;
- o de novas experiências.
b) Estes quatro tipos de desejos seriam
independentes um do outro e a satisfação de um
deixaria insatisfeitos os demais. Eles motivariam todas
as pessoas, mas com intensidade diferente, sendo uma
personalidade mais dominada por um deles, outra por
algum outro. Na interação humana, a pessoa estaria
sempre procurando manter um equilíbrio pessoal de
satisfações. Compreenderíamos a maior parte do
comportamento individual se verificássemos qual dos
quatro desejos está, em determinada situação,
impelindo precipuamente as ações. Os desejos mais
específicos poderiam ser substitutivamente satisfeitos
dentro de cada uma das quatro categorias. Assim, por
exemplo, uma pessoa frustrada em sua necessidade
de correspondência afetiva no grupo a que pertence
poderia manter o seu equilíbrio mediante
compensação em outro grupo, mas não conquistando
mais consideração ou novas experiências.
c) Esta teoria serviu para Thomas explicar
desajustamentos sociais de pessoas, mas ela ilumina,
também inversamente, a fonte dos interesses e a
função dos valores sociais como expressões de
importantes necessidades de muitos indivíduos e como
meios promotores de sua organização em grupos.
Exercícios
1- Reflita sobre a bondade e a felicidade, em seguida, responda às questões que se encontram no final dos
textos.
TEXTO 1
A QUESTÃO DA BONDADE
Leandro Konder
O Globo 20/08/94
Qual é o lugar da bondade no mundo atualmente? Que apreço merecem, de fato, as pessoas consideradas
boas?
Há indícios de que ser bom, nas condições em que vivemos não é uma das características mais altamente
apreciadas.
Em outras épocas, as criaturas que se notabilizavam pela bondade eram objeto de autêntica veneração.
Algumas foram beatificadas, mereceram o título de santos.
Hoje, os seres humanos ainda são aconselhados a ser bons, porém aprendem depressa que existem outras
qualidades mais importantes, tais como a eficiência e a competitividade.
A bondade acaba por ser vista como um mérito menor, que costuma ser alcançado por indivíduos não multo
inteligentes.
O que as pessoas entendem quando ouvem dizer de um cidadão que a sua maior qualidade consiste em ser
generoso? A impressão que elas têm é a de que se trata de um perdulário, “mão aberta”, “coração mole”; um
crédulo que se deixa facilmente explorar pelos outros. Alguém a quem falta “esperteza” Em suma, um tolo.
Mesmo quando não é considerada uma tolice, a generosidade é vista como um fator de diminuição da
eficácia. Na novela “Pátria Minha”, por exemplo, o personagem Evandro é mais simpático que o prepotente
Raul Pelegrini, porém o implacável realismo de Gilberto Braga deixa claro que é o empresário duro de
coração que consegue construir um império, enquanto o outro passa por “sentimental” e “paternalista”.
Bertold Brecht, na peça “A alma boa de Se-Tsuan”, já tinha abordado o tema. Três deuses descem à Terra em
busca de um ser humano integralmente bom e só encontram um exemplar de bondade absoluta: a suave
prostituta Chen-Tê. Dão-lhe, então, a ordem de continuar a ser boa e, ao mesmo tempo, assegurar sua
própria sobrevivência, para servir de modelo aos homens.
Chen-Tê constata que a dupla tarefa não podia ser cumprida. Se pautasse sua conduta pela generosidade,
não conseguiria sobreviver: seria destruída, reduzida à miséria pelos parasitas e necessitados que a cercavam.
Então, para preservar sua pequena empresa, a moça se disfarça e inventa um personagem, seu primo ChuiTa, que impõe critérios “racionais” ao funcionamento do negócio e o salva da falência. Sem ceder à “tentação
da bondade”.
No final da peça, Chen-Tê discute com os deuses e Brecht se dirige aos espectadores, dizendo-lhes que o
espetáculo não tem uma conclusão, porque cabe ao público concluir por conta própria.
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46
Em que condições os seres humanos poderiam cultivar a bondade com a desejável desenvoltura?
Como poderíamos organizar a nossa vida de modo a permitir que as crianças sejam realmente boas sem
ficarem expostas à destruição por parte da avidez dos demais?
Brecht procurou uma resposta para essa pergunta e chegou a acreditar que a solução para o problema
passava por uma reorganização radical da sociedade, uma revolução do tipo daquela que Lenin tinha
liderado na Rússia.
Nas circunstâncias atuais, depois do fim da União Soviética, a opção do poeta e dramaturgo alemão se
mostra, obviamente, ultrapassada. A questão com que ele se defrontou, entretanto, continua de pé.
Basta olharmos em volta para percebemos que os valores pragmáticos e utilitários da mentalidade
calculadora e do espírito competitivo vêm se expandindo, em detrimento da importância da bondade.
Estamos nos tornando, ao que tudo indica, mais eficazes. Mas estaremos nos tornando humanamente
melhores?
TEXTO 2
O QUE É A FELICIDADE
Fernando Bastos de Ávila
O Globo 20108/94
A felicidade sempre foi o objeto supremo do homem, felicidade como uma luminosa plenitude sem ocaso.
Parece ser este o sentido de nossa história íntima, pessoal, bem como o da história profunda da Humanidade.
Duas dimensões talvez indissociáveis, como ficou ruidosamente evidente em dois momentos críticos da
História do Ocidente.
A Revolução Francesa, demolindo o Antigo Regime da Monarquia como direito divino, vinha oferecer ao
povo a felicidade garantindo a todos a liberdade, na Democracia “O máximo de felicidade para o maior
número de pessoas é o fundamento da moral e da lei”, dizia Bentham. “A felicidade é um conceito novo na
Europa”, proclamava Saint-Just.
Mas a liberdade, como penhor da felicidade, resultou num instrumento de opressão do proletariado
emergente pela Burguesia. Nunca tantos tinham sofrido tanto para o enriquecimento de tão poucos.
A Revolução de 1917, eliminando uma opressão autocrática, também oferecia felicidade, garantindo a
todos a igualdade sob a ditadura provisória do proletariado, até que o Estado se transformasse “do governo
das pessoas na mera administração das coisas”(Karl Marx). Essa idéia foi denunciada pelo filósofo Popper,
quando escreveu. “De todos os ideais políticos, o de tornar as pessoas é o mais perigoso.” (Curiosamente,
este ideal está inscrito na Constituição americana, que não há muito tempo comemorava os seus 200 anos).
A felicidade prometida como garantia da igualdade de todos resultou, como se viu, numa nova opressão
do povo pela ditadura do Partido, opressão que só com a queda do Muro de Berlim começou a revelar-se em
todas as suas dimensões.
O ideal da felicidade é apresentado hoje sob um outro signo, já sem referências doutrinárias ou ideológicas.
Ela é identificada com o que poderíamos chamar paradoxalmente de hedonismo estóico: gozar ao máximo
a vida e assumir com dignidade o sofrimento e a morte. “Coronemus nos rosis, eras enim moriemur” (coroemonos de rosas, pois amanhã morreremos), dizia o poeta. Visão absolutamente imanentista da felicidade.
“A Igreja sempre se sentiu desafiada pela interrogação moderna a respeito da felicidade”.
A Igreja Católica, convencida de ser ela a portadora da Boa Nova (que é o que quer dizer Evangelho),
sempre se sentiu desafiada pela interrogação moderna a respeito da felicidade. Entendendo sempre a
felicidade como uma plenitude sem ocaso, convencida de que a aspiração humana se rebela contra a idéia
de uma felicidade confinada aos breves anos de uma vida, a Igreja tem sido fiel a mais radical originalidade
de sua mensagem: a felicidade presente, longe de excluí-Ia, prefigura a plenitude da felicidade além da
morte. Como escreveu o padre Henrique de Lima Vaz, “a proclamação da Boa Nova como uma fonte de
felicidade tem pouca possibilidade de ser ouvida pelo homem moderno, a menos que ele não comece a pôr em
discussão os pressupostos de uma felicidade puramente humana, radicada numa forma fechada de imanência”.
A Igreja resolveu abrir essa discussão. Depois de uma pesquisa que durou três anos, consultando pensadores
de todos os quadrantes e de todas as tendências doutrinais e ideológicas, ela promoveu em Roma (março de
1991) uma assembléia do Conselho para o Diálogo com os Não-Crentes precisamente sobre o tema “Fé
cristã e busca da felicidade”. Os resultados dessa pesquisa e da assembléia foram apresentados pelo Cardeal
Paul Poupard em seu livro “Felicidade e Fé Cristã”, agora traduzido no Brasil e publicado pelo Instituto de
Desenvolvimento Cultural.
O tema da felicidade talvez seja, hoje, o grande caminho para o diálogo com os não-crentes, diálogo franco,
fraterno, cordial. No discurso em que saudava os participantes da mencionada assembléia, João Paulo II
lembrou que 1991 coincidia com o bicentenário da morte de Mozart, e observou: “A comemoração do
bicentenário da morte de Mozart chama a nossa atenção para a mensagem de alegria traduzida por sua
obra. Nela, divisamos um sentimento de felicidade, como uma experiência simultânea de morte e ressurreição.
O diálogo que, às vezes, se torna ácido na troca de idéias, pode encontrar uma inspiração privilegiada ao
maravilhar-se diante da beleza artística, reflexo da eterna e indizível beleza de Deus.”
Que nosso diálogo não se reduza a uma “árida troca de idéias”, mas seja uma partilha sincera de nossa ânsia
pela felicidade perfeita.
2- O que é “ser feliz” para você?
3- Comente a afirmativa: “Todos os grupos sociais, todas as sociedades são voltadas para valores sociais”.
47
48
Se você:
1)
2)
3)
4)
concluiu o estudo deste guia;
participou dos encontros;
fez contato com seu tutor;
realizou as atividades previstas;
Então, você está preparado para as
avaliações.
Parabéns!
Glossário
Antropomorfismo – forma de pensamento que atribui formas ou características humanas a Deus, deuses, ou
quaisquer outros entes naturais ou sobrenaturais.
Astúcia – lábia; habilidade em enganar.
Burguesia – indivíduos que se estabeleceram nos burgos e posteriormente nas cidades medievais, onde
estes se transformaram, e se caracterizavam pelas suas atividades lucrativas e por não exercerem trabalho braçal
ou artesanal.
Coercitividade – qualidade de coercitivo; reprimir ; controlar.
Corporificação – ato ou efeito de corporificar ; reunir em um corpo; tomar corpo.
Epistemológico – relativo à epsitemologia; conjunto de conhecimentos que tem por objeto o conhecimento
científico, visando explicar seus condicionantes, sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos e
avaliar os seus resultados e aplicações.
Fenomenologia – estudo descritivo de um fenômeno ou de um conjunto de fenômenos em que estes se
definem quer por oposição às leis abstratas e fixas que o ordenam, quer por oposição às realidades de que
seriam a manifestação.
Laico ou leigo – que não é clérico ; laiciasmo – doutrina que proclama a laicidade absoluta das instituições
sociopolíticas e da cultura, ou pelo menos reclama para estas autonomia em face da religião; ensino não
religioso.
Liberalismo – conjunto de idéias e doutrinas que visam a assegurar a liberdade individual no campo da
política, da moral, da religião, etc., dentro da sociedade.
Ostracismo – afastamento imposto ou voluntário das funções políticas; exclusão; repúdio.
Positivismo – também chamada de Comtismo. Doutrina de Auguste Comte, caracterizada, sobretudo, pela
orientação antimetafísica e antiteológica que pretendia imprimir à filosofia, e por preconizar como válida
unicamente a admissão de conhecimentos baseados em fatos e dados da experiência.
Provérbio – máxima ou sentença de caráter prático e popular, comum a todo um grupo social, expressa de
forma sucinta e geralmente rica em imagens; ditado; adágio.
Racionalismo – método de observar as coisas baseado exclusivamente na razão.
Renascimento – renascença; ato ou efeito de renascer; movimento artístico e científico dos séculos XV e XVI
que pretendia ser um retorno à Antiguidade Clássica.
Sedimentação – consolidação; sedimentar; tornar estável.
Subjetividade – qualidade ou caráter de subjetivo. Domínio do que é subjetivo (relativo a sujeito).
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Gabarito
Unidade I
11.1 - A Sociologia é caracterizada como uma ciência social devido às múltiplas pesquisas sociológicas, a que
analisam aspectos precisos da vida social. Ela vem se preocupando com as regras que organizam a vida social.
1.2 - Renascimento, há uma exaltação da natureza e dos prazeres da Terra. O poder sai da mão da Igreja Católica.
Com o surgimento da burguesia, o poder não está mais centrado na legitimidade do sangue e da linhagem, e
sim na capacidade pessoal do governante e sua sabedoria.
1.3 - Ao analisar a Sociologia Clássica, temos que ressaltar Comte (pai da Sociologia) e Durkeim (grande
teórico). Também devemos ressaltar o positivismo, uma corrente que concebia a sociedade como um organismo
constituído de partes integradas e coesas que funcionam harmonicamente.
Segundo a visão da Sociologia Alemã, , os conhecimentos não são apenas vividos, mas pensados.
Marx analisa a relação trabalhador e meios de produção e diz que o homem só pode recuperar sua condição
humana através da crítica radical.
Com Gramsci, o pensador, o político prático e o intelectual fundem-se numa só unidade.
Habernas procura elucidar a relação teoria e prática numa perspectiva político-cultural, ambas integradas
numa teoria de competência comunicativa.
Essa evolução do pensamento sociológico trouxe conceitos importantes: alienação, força de trabalho, valor,
mais-valia.
1.4 - Idéias Centrais:
Texto 1: Surge, com o pensamento crítico, a sentença moral, a subjetividade.
Texto 2: Discorre sobre a investigação sociológica dos fenômenos sociais.
Unidade II
22.1 -Socialização: é um processo cumulativo em que novas aquisições não apagam as anteriores, mas se
integram no sistema pessoal já existente.
Comunidade: conjunto de pessoas que encontra numa determinada área geográfica, onde convive, satisfação
de quase todas as suas necessidades sociais.
Sociedade: aproxima-se do conceito de comunidade, significa um conjunto de pessoas que convive em
determinado território.
2.2 - Família: instituição social básica na maioria dos tipos de sociedade.
Escola: agência encarregada da educação formal
Igreja: prega a salvação individual do homem na dimensão pós-morte e a crença na sobrevivência do espírito
humano.
Estado: refere-se a um agrupamento de indivíduos com cultura semelhante e antepassados comuns. Estado é
uma nação politicamente organizada.
2.3 - Interação social: é uma ação consciente, implicando não apenas em modificação de comportamento,
como também em autoconhecimento desta modificação.
Controle social: é a soma de processos de que a sociedade lança mão para obter dos indivíduos e grupos que
a constituem uma conduta enquadrada nas expectativas gerais de comportamento.
Unidade III
1 - Tornar o indivíduo uma pessoa, um cidadão.
2 - a) Competição e rivalidade.
b) Conflito e acomodação.
c) Cooperação e assimilação.
Unidade IV
Os comentários dos textos são subjetivos.
3 - São os valores sociais de uma sociedade que orientam as atitudes de uma pessoa em relação a um objeto.
A educação, por exemplo, aparece nas sociedades humanas com a função social de evitar a contradição existente
entre os interesses pessoais e os sociais.
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