Filosofia da Educação Jussara 2016 1 Sumário 1 – 1º texto: Primeira classe. -------------------------------------------------------------------------------5 2 – 2º texto: Educação primitiva---------------------------------------------------------------------------6 2.1 - A educação na comunidade primitiva -----------------------------------------------------------6 3 – Educação clássica. -------------------------------------------------------------------------------------7 3.1 - Esparta e Atenas: dois modelos educativos. ---------------------------------------------------8 3.2 - Paidéia: o seu nascimento---------------------------------------------------------------------------9 4 - A Filosofia Educacional de Platão -------------------------------------------------------------------13 5 - 4º Texto: Educação cristã reformada----------------------------------------------------------------13 5.1 - A Reforma Protestante e sua contribuição para a educação moderna------------------14 6 - 5º Texto: Educação humanista------------------------------------------------------------------------15 7 - 6º Texto: Sobre a Educação Comunista Informe pronunciado na Assembleia do Ativo do Partido da Cidade de Moscou-------------------------------------------------------------------------19 8 - 7º Texto: Métodos de ensino--------------------------------------------------------------------------20 8.1 – Métodos de ensino x teoria pedagógica--------------------------------------------------------29 9 – 8º texto: Educação básica ainda está na metade do século XX-----------------------------30 10 – 9º texto: O que os jovens querem da educação brasileira?--------------------------------31 2 1º Texto – Abertura Texto para debate. O que é educação? Quais são seus pontos positivos e negativos? Qual a diferença entre educação e treinamento? Qual o papel da educação na formação do ser humano? PRIMEIRA CLASSE Marcus Nascimento Coelho Não sabia, mas comecei a ser professor com 14 anos e a minha primeira classe foram 22 bezerros e bezerras que meu pai me deu para amansar. Amansar, treinar, domesticar são os verbos que usávamos para os animais, mas estes verbos não ficam bem em pessoas, principalmente nos tempos politicamente corretos de agora. Hoje, usamos sociabilizar, especializar e educar. Mas, sabem de uma coisa? Tudo não passa de um palavreado inútil, querem ver? “Amansar” o gênio, o individualismo inerente a cada um, para que se volte para um processo de “sociabilização” tão cara à nossa comunidade. Treinar não é estabelecer prioridades pedagógicas e objetivos claros que levem a um aprimoramento das potencialidades individuais tornando-o um especialista? Domesticar: tornar doméstico ao convívio urbano e humano. Não é o que se faz primordialmente em uma escola quando se “educam crianças para que não seja preciso castigar homens”? Sofismas vernaculares que aprendi mais tarde. Naquele momento minha classe era composta de bezerros e bezerras que tinham que ser amansados para a exposição, isto é, tinham que se comportar como era desejado para que passassem no vestibular e ganhar a medalha de ouro. Deixem-me descrever o processo e qualquer semelhança não é mera coincidência. No primeiro dia os colocávamos em fila em um brete, que é um corredor de madeira onde cada um ficava atrás do outro, colocávamos o “uniforme” que era um cabresto, que não machucava, com uma corda bem grande que arrastava no chão, e aí eles uniformizados e já separados das mães iam brincar, mas qualquer corrida mais rápida, qualquer pinote mais brusco pisavam na corda e sofriam um puxão no pescoço. Perceberam o requinte pedagógico? Quando pisavam errado, tomavam um puxão e quando faziam tudo direitinho não! À tarde eram “desuniformizados” e iam passar a noite com suas mães. Isto durava uma semana mais ou menos, durante o dia, lhes dávamos água e comida e, como a fome era muita, eles começavam a chegar mais perto dos tratadores, ninguém gritava ou batia, isto era proibido! E era mesmo! Depois de uma semana já conseguíamos segurar o cabresto e puxá-los, a lembrança da dor no pescoço fazia com que nos acompanhassem. Assim que isto acontecia começávamos a dar banho. Todo o animal, de duas ou de quatro patas, gosta de ser bem tratado e tomar banho é uma delícia. Com uma mangueira dávamos banho em cada um deles e em pouco tempo a maioria nos seguia por onde fossemos, era proibido falar alto, bater e quem fizesse isto não servia para treinador. Melhor que muitas escolas que depois conheci. 3 Mas havia as exceções, os inquebrantáveis, indomesticados, espíritos libertários que não se dobravam ou não aprendiam a necessidade de se dobrar. Um dos mistérios da vida. Houve dois. O primeiro não teve nem tempo de batizá-lo. Nada o fazia parar, não conseguia colocar a mão no cabresto, os dias se passavam e era a mesma fúria. Um dia tentei algo dramático, consegui amarrar o cabo do seu cabresto na última tábua do curral. Iria passar a noite ali, com a cabeça puxada para baixo com água e pasto a vontade. A idéia era que o cansaço o quebrasse. Quebrou. Por fim, consegui passar a mão em seu pelo. Morto. Morreu com a cabeça encostada no tronco como que em uma última arremetida de ódio, as cordas estavam frouxas, não tinha bebido e comido nada, se alimentou à noite talvez de fúria e ódio de quem tivesse lhe colocado o cabresto. Deve ter ido para um lugar onde não havia cabrestos, currais, ou regras, um lugar só dele que não era aqui e nem agora. O segundo foi Adorno, filho de pais puríssimos, ele próprio um adorno da raça, talvez por isto indomável, pequeno investia contra minha mão, eu me desviava e ele voltava, nunca consegui passar a mão em seu lombo, o mais longe que atingi foi que ele me seguisse com o cabresto a uma distância segura, foi também o responsável por ter mandado um empregado embora, quando vi o tal, um dia, lhe bater com uma vara, em um dos seus costumeiros emburros, porque Adorno tinha uma personalidade muito específica, alguns dias sociável outras intratável, sempre Adorno. Foi uma das poucas vezes que perdi a cabeça e se não me tirassem de cima teria batido seriamente, no empregado. Não se pode agredir alguém ou alguma coisa por ser ela mesma. Já naquela época intuía esta verdade. O tempo rodou, Adorno cresceu, virou um boi imenso e foi vendido. E um belo dia, tive que ir a tal fazenda recuperá-lo. O dono tinha comprado outros três machos, e não pagou nenhum dos quatro. Quando cheguei notei os animais mal tratados, assustados, presos em um cercado que podia machucá-los a qualquer instante. A questão era embarcá-los em um caminhão os fazendo subir em uma rampa sem outra coisa para guiá-los do que a ponta da corda na minha mão. Os três primeiros foram fáceis, foi só chamá-los pelo nome e colocar-lhes o cabresto e, apesar de serem animais com 800 quilos, ainda confiavam em mim. Faltava Adorno. Era impossível lhe colocar o cabresto, pedi que todos saíssem do curral e se escondessem. Ficamos só nós dois. Entre meu peito e sua cabeça só minha mão estendida. Como há anos atrás ele investiu na mão, dei-lhe um tapa no focinho como fazia sempre e fui lhe colocando o cabresto. Agora era sair do curral e entrar no caminhão. Oitocentos quilos de boi saíram do curral a toda, pulando pelo pasto, ainda bem que tinha colocado um cabresto bem longo. Deu uns quatro saltos e parou me olhando, como se estivesse me dizendo: “Você sabe quem manda aqui, não é mesmo!”. Eu sabia, mas também sabia que era hora de irmos embora daquele lugar horrível. Dei-lhe as costas e comecei a chamá-lo para subir no caminhão, só parou um momento quando eu estava no alto da rampa e ele no meio. 4 Parou. Entendi sua dúvida. Entrei na gaiola com ele respirando pesadamente nas minhas costas, desconfiado, mas sabendo que ia para casa. E fomos. 2º Texto Educação primitiva Embora não existam provas, historiadores inferem que a educação entre os grupos primitivos ocorria de forma espontânea, ou seja, as crianças ou jovens aprendiam por imitação, ao observarem os maiores em suas atividades elementares, que eram a pesca, a caça, a agricultura, etc. A observação de fenômenos meteorológicos, alguns rituais sagrados e a preparação para a guerra, com o passar dos séculos, passaram a fazer parte da educação dos jovens, que para isso precisavam ser treinados. A educação na comunidade primitiva Para entender a educação na comunidade primitiva, é preciso entender como era a "sociedade" nesse período, não é mesmo? Em primeiro lugar, é importante dizer que a comunidade primitiva tinha uma coletividade pequena, era assentada sobre a propriedade comum da terra, na qual os indivíduos eram livres e com direitos iguais. Tudo o que era produzido (em comum) era dividido entre todos e imediatamente consumido. A pequena produção, ou seja, a produção apenas do que era necessário, se deu devido ao pequeno desenvolvimento dos instrumentos de trabalho e impediu a acumulação de bens. A divisão do trabalho, por sua vez, se dava com as diferenças entre os sexos, porém não existia a "inferioridade" por parte das mulheres. Na comunidade primitiva, a igualdade entre homens e mulheres estava presente. O mesmo acontecia com as crianças. Até os sete anos de idade, elas acompanhavam os adultos em todos os seus trabalhos e recebiam como recompensa a sua porção de alimentos como qualquer outro membro da comunidade. A partir dos sete anos já deviam começar a viver as suas próprias expensas. A sua educação não estava ligada a ninguém em especial, e sim à vigilância difusa do ambiente. A criança adquiria a sua PRIMEIRA educação sem que ninguém a dirigisse expressamente. Quando necessário, os adultos explicavam às crianças como elas deveriam comportar-se diante algumas circunstâncias. É importante dizer que, nessas comunidades, o ensino era PARA A VIDA e POR MEIO DA VIDA, ou seja, para poder aprender, era preciso praticar (exemplo: para aprender a manejar o arco, era preciso caçar). "(...) a educação na comunidade primitiva era uma função espontânea da sociedade em conjunto, da mesma forma que a linguagem e a moral". (PONCE, A. Educação e luta de classes, pp. 19). Para concluir o período de uma sociedade SEM CLASSES, podemos afirmar que os fins educativos identificam-se com os interesses DO GRUPO e se realizam IGUALITARIAMENTE em todos os seus membros, de forma espontânea (não existia nenhuma instituição responsável pelo ensino) e integral (cada membro da comunidade incorporava - mais ou menos- bem tudo o que era possível receber e elaborar na tribo). Porém, a sociedade muda, surgindo então as classes. E com elas, uma série de coisas sofrem mudanças. E com a educação não é diferente. Surgem nas tribos as relações de dominância e submissão. 5 "A educação sistemática, organizada e violenta, surge no momento em que a educação perde o seu primitivo caráter homogêneo e integral" (PONCE,A. Educação e luta de classes, pp. 28). A educação que era imposta pelos nobres (uma das classes -altas- que surgiram) reforçavam esse privilégio. Quanto mais educação, mais conservado esta o status quo. De acordo com Tupaque Iupanqui, não era lícito ensinar às crianças plebeias as ciências que pertencem aos nobres, a fim de evitar que essa classe se eleve. Com a mudança da sociedade, surge também o Estado, instituição que legitimava a nascente divisão de classes e a exploração dos que nada possuíam. Portanto, vemos que a educação sofreu transformações devido ao surgimento de classes e que ainda haverá muitas mudanças nos próximos períodos. http://historiadaeducacaounicamp.blogspot.com.br/2011/06/educacao-nacomunidade-primitiva_13.html (cap in 29/03/14) 3º Texto Educação clássica Desenvolvida entre os séculos V a. C. e V d. C., diz respeito a educação ocidental, e compreende Roma e Grécia. A educação grega teve quatro períodos: heróica (poemas homéricos); cívica (Atenas e Esparta); clássica/humanista (Sócrates, Platão e Aristóteles) e helenística/enciclopédica (cultura Alexandrina). Cada período tem características próprias. A educação romana teve três principais períodos: heróico-patricia (V – III a. C.); de influência helênica (III – I a. C.); e Imperial (I a. C. – V d. C.). Embora sejam bastante parecidas, cultura e educação grega e romana possuíam pontos de divergência significativos. Neste período as crianças viviam a primeira infância em família, assistidas pelas mulheres e submetidas à autoridade do pai, que poderia reconhecê-las ou abandoná-las, que escolhia seu papel social e era seu tutor legal. A infância não era valorizada em toda a cultura antiga: era uma idade de passagem, ameaçada por doenças, incerta nos seus sucessos; sobre ela, portanto, se fazia um mínimo investimento afetivo. A criança crescia em casa, controlada pelo “medo do pai”, atemorizada por figuras míticas semelhantes às bruxas, gratificada com brinquedos (bonecas) e entretida com jogos (bolas, aros, armas rudimentares), mas sempre era colocada à margem da vida social. Ou então, era submetida à violência, a estupro, a trabalho, até a sacrifícios rituais. O menino – em toda a Antigüidade e na Grécia também – era um “marginal” e como tal era violentado e explorado sob vários aspectos, mesmo se gradualmente – a partir dos sete anos, em geral – era inserido em instituições públicas e sociais que lhe concediam uma identidade e lhe indicavam uma função. A menina não recebia qualquer educação formal, mas aprendia os ofícios domésticos e os trabalhos manuais com a mãe. A educação grega era centrada na formação integral do indivíduo. Quando não existia a escrita, a educação era ministrada pela própria família, conforme a tradição religiosa. A transmissão da cultura grega se dava também, através das inúmeras atividades coletivas (festivais, banquetes, reuniões). A escola ainda permanecia elitizada, atendendo aos jovens de famílias tradicionais da antiga nobreza ou dos comerciantes enriquecidos. O ensino das letras e dos cálculos demorou um pouco mais para se difundir, já que nas escolas a formação era mais esportiva que intelectual. 6 Esparta e Atenas: dois modelos educativos Esparta e Atenas deram vida a dois ideais de educação: um baseado no conformismo e no estatismo, outro na concepção, outro na concepção de Paidéia, de formação humana livre e nutrida de experiências diversas, sociais, alimentaram durante séculos o debate pedagógico, sublinhando a riqueza e fecundidade ora de um, ora de outro modelo. Foi o mítico Licurgo quem ditou as regras políticas de Esparta e delineou seu sistema educativo, conforme o testemunho de Plutarco. As crianças do sexo masculino, a partir dos sete anos, eram retiradas da família e inseridas em escolas-ginásios onde recebiam, até os 16 anos, uma formação de tipo militar, que devia favorecer a aquisição da força e da coragem. O cidadão-guerreiro é formado pelo adestramento no uso das armas, reunido em equipes sob o controle de jovens guerreiros e, depois, de um superintendente geral (paidonomos). Levava-se uma vida comum, favoreciam-se os vínculos de amizade, valorizava-se em particular a obediência. Quanto à cultura – ler, escrever -, pouco espaço era dado a ela na formação do espartano – “o estritamente necessário”, diz Plutarco -, embora fizessem aprender de memória Homero e Hesíodo ou o poeta Tirteo. Já em Atenas, após a adoção do alfabeto iônico, totalmente fonético, que se tornou comum a toda Grécia, teve um esplêndido florescimento em todos os campos: da poesia ao teatro, da história à filosofia. No século V, Atenas exercia um influxo sobre toda a Grécia: tinha necessidade de uma burocracia culta, que conhecesse a escrita. Esta se difundiu a todo o povo e os cidadãos livres adquiriram o hábito de dedicar-se à oratória, à filosofia, à literatura, desprezando o trabalho manual e comercial. Todo o povo escrevia como atesta a prática do ostracismo. Afirmou-se um ideal de formação mais culto e civil, ligado à eloquência e à beleza, desinteressado e universal, capaz de atingir os aspectos mais próprios e profundos da humanidade de cada indivíduo e destinados a educar justamente este aspecto de humanidade, que em particular a filosofia e as letras conseguem nele fazer emergir e amadurecer. Assim, a educação assumia em Atenas um papel-chave e complexo, tornava-se matéria de debate, tendia a universalizar-se, superando os limites da polis. Numa primeira etapa, a educação era dada aos rapazes que frequentavam a escola e a palestra, onde eram instruídos através da leitura, da escrita, da música e da educação física, sob a direção de três instrutores: o grammatistes (mestre), o kitharistes (professor de música), o paidotribes (professor de gramática). O rapaz era depois acompanhado por um escravo que o controlava e guiava: o paidagogos. Depois de aprender o alfabeto e a escrita, usando tabuinhas de madeira cobertas de cera, liam-se versos ricos de ensinamentos, narrativas, discursos, elogios de homens famosos, depois os poetas líricos” que eram cantados. O cuidado com o corpo era muito valorizado, para torná-lo sadio, forte e belo, realizado no gymnasia. Aos 18 anos, o jovem era “efebo” *no auge da adolescência), inscrevia-se no próprio demo (ou circunscrição), com uma cerimônia entrava na vida de cidadão e depois prestava serviço militar por dois anos. A particularidade da educação ateniense é indicada pela ideia harmônica de formação que inspira ao processo educativo e o lugar que nela ocupa a cultura literária e musical, desprovida de valor prático, mas de grande importância espiritual, ligada ao crescimento da personalidade e humanidade do jovem. Paidéia: o seu nascimento A partir do século V a. C., exige-se algo mais da educação. Para além de formar o homem, a educação deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada na ginástica, na música e na gramática deixa de ser suficiente. Surge então o modelo ideal de educação grega, que aparece como Paidéia*, que tem 7 como objetivo geral construir o homem como homem e cidadão. Platão define Paidéia da seguinte maneira “(...) a essência de toda a verdadeira educação ou Paidéia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento”. A noção de Paidéia se afirma de modo orgânico e independente na época dos sofistas e de Sócrates e assinala a passagem explícita – da educação para a Pedagogia, de uma dimensão teórica, que se delineia segundo as características universais e necessárias da filosofia. Nasce a Pedagogia como saber autônomo, sistemático, rigoroso; nasce o pensamento da educação como episteme*, e não mais como éthos* e como práxis* apenas. *Paidéia: nas suas origens e na sua acepção comum, indica o tipo de formação da criança (pais), mais idôneo a fazê-lo crescer e tornar-se homem, assume pouco a pouco nos filósofos o significado de formação, de perfeição espiritual, ou seja, de formação do homem no seu mais alto valor. Portanto, podemos dizer que a Paidéia, entendida ao modo grego, é a formação da perfeição humana. * Episteme: conhecimento verdadeiro, de natureza científica, em oposição à opinião infundada ou irrefletida. * Éthos: conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento e da cultura, característicos de uma determinada época ou região. * Práxis: prática. A Filosofia Educacional de Platão A filosofia educacional de Platão foi baseada em sua visão da República ideal, onde o indivíduo era melhor servido ao ser subordinado a uma sociedade justa. Ele defende remover as crianças dos cuidados de suas mães e cuidar delas através do Estado, com grande cuidado para diferenciar as crianças adequadas para as várias castas, a maior delas recebendo a melhor educação, para que elas possam agir como guardiões da cidade e cuidar dos menos aptos. A educação seria holística, incluindo fatos, habilidades, disciplinas físicas, e música e arte, que ele considerava a maior forma de esforço. Platão acreditava que o talento não era distribuído geneticamente e portanto deveria ser encontrado em crianças de qualquer classe social. Ele desenvolveu isso ao insistir que aqueles considerados aptos deveriam ser treinados pelo Estado para que fossem qualificados para assumir o papel de uma classe dominante. Isso estabelece, essencialmente, um sistema de educação pública seletiva baseada na premissa que uma minoria educada da população é, por virtude da sua educação, suficiente para uma governança sadia. Os escritos de Platão contém algumas das seguintes ideias: A educação elementar deveria ser confinada para a classe guardiã até a idade de 18 anos, seguido de dois anos de treinamento militar compulsório e depois ensino superior para aqueles que estiverem qualificados. Enquanto que o ensino elementar moldava a alma para responder ao ambiente, o ensino superior ajudava a alma a procurar pela verdade que a ilumina. Tanto os meninos como as meninas recebiam o mesmo tipo de educação. Educação elementar consistia de música e ginástica visando treinar e misturar qualidades gentis e fortes nos indivíduos e criar uma pessoa harmoniosa. 8 Ao chegar aos 20 anos, é feita uma seleção. Os melhores receberiam um curso avançado em matemática, geometria, astronomia e harmônica. O primeiro curso na área de ensino superior duraria dez anos. Esse curso seria para aqueles que estão mais aptos para a ciência. Aos 30 anos seria feita uma nova seleção; os qualificados estudariam dialética e metafísica, lógica e filosofia pelos próximos cinco anos. Eles estudariam a ideia do bem e os primeiros princípios dos seres. Depois de aceitar uma posição júnior nas forças armadas por quinze anos, a pessoa teria completado sua educação teórica e prática aos cinquenta anos. O QUE É EDUCAÇÃO CLÁSSICA? Escrito por Lucas Mafaldo Segunda, 09 de Fevereiro de 2009 00:00 Educação clássica é uma filosofia da educação apoiada em práticas de ensino acumuladas ao longo de vários séculos; é uma tradição que se inicia na Grécia antiga e atravessa todo o período medieval, renascentista e moderno até chegar ao século XX, nos Estados Unidos, sendo sistematizada e divulgada com o nome de liberal education. No sentido mais abrangente do termo, educação clássica é uma ideia geral de educação que passou por diferentes manifestações particulares ao longo história. Cada uma destas manifestações possui suas características peculiares, no entanto, todas elas participam dos mesmos traços essenciais. O objetivo deste artigo é expor quais são estes traços essenciais. 1) O conhecimento como fim e não como meio A educação clássica visa uma formação integral e não apenas uma formação técnica. No ensino utilitarista, o conhecimento não tem valor em si próprio, mas apenas na medida em que serve para um fim externo: é a educação para formar técnicos aptos a exercer certos papéis na sociedade. Este tipo de ensino certamente é necessário para a vida em sociedade, e não faz o menor sentido querer prescindir dele. No entanto, não podemos colocá-lo como a única finalidade do processo educativo porque o ser humano possui vários aspectos que transcendem a sua ocupação profissional. A educação clássica tem como objetivo cultivar no homem estes aspectos que, embora transcendam sua profissão, continuam fazendo parte de sua personalidade. Por isto, se trata de uma filosofia integral de ensino: ela não se limita a transmitir conhecimentos técnicos, mas procura cultivar a sensibilidade, a cultura e os valores. 2) Formação ao invés de mera informação. Uma segunda característica da educação clássica é que ela não se limita à transmissão de informações, mas procura desenvolver no aluno o senso de proporcionalidade e hierarquia no conhecimento. Informações são apenas dados pontuais, pedaços de conhecimento dispersos. As informações são importantes, mas fazem poucos sentidos sem os quadros conceituais que tornam estas informações inteligíveis. Por isso, o foco da educação clássica, ao contrário do ensino oficial brasileiro, não é transmitir informações, mas sim, em ensinar o aluno a organizar o seu conhecimento; ou seja, de analisar e sintetizar as informações recebidas, criando uma concepção integrada e hierarquizada do quê se está estudando. Esta proposta é preferível porque uma vez que o aluno tenha aprendido a organizar o seu conhecimento, ele pode facilmente encontrar as informações faltantes. No entanto, o aluno que recebe apenas informações e não aprende a lidar com conceitos, terá sempre um entendimento limitado de qualquer 9 assunto 3) A que defesa da consciência estude. individual contra a massificação. Uma terceira característica essencial é que ela é centrada na formação da consciência individual e, por isso, é o único modelo realmente não ideológico de formação intelectual. O papel da educação é ensinar ao aluno como pensar, e não o quê pensar; o professor mostra o caminho e os instrumentos, e cabe ao aluno continuar o processo. Na educação clássica, os alunos, ao invés de serem convidados a adotar uma visão de mundo uniformizada, aprendem a cultivar sua própria mente, formando opiniões próprias e bem fundamentadas sobre os assuntos que discutem. 4) O conhecimento, embora seja uma elaboração individual, almeja alcançar uma verdade objetiva A educação clássica não segue os teóricos que pregam a abolição da noção de verdade objetiva. Embora ela saiba que todo conhecimento envolve uma elaboração individual, este trabalho subjetivo é feito em cima de dados objetivos. Ou seja, as noções de objetividade e subjetividade não são vistas como sendo contraditórias: embora o conhecimento nasça da consciência individual, esta consciência não está separada do mundo por um abismo solipisista. A consciência do indivíduo cresce ao se alimentar dos dados objetivos que recebe da realidade. 5) Transcendência das limitações da época e da cultura imediata É incorreto dizer que a educação clássica é contra a cultura popular, como querem alguns de seus críticos. Não faz parte de seu programa excluir nenhum tipo de manifestação cultural. No entanto, este erro ocorre porque, embora respeite cada cultura local, a educação clássica procurar levar o sujeito a conhecer diferentes culturas, de diferentes épocas e locais, especialmente a que foi produzida pelos grandes gênios de cada época. Mas não se trata de rejeitar uma em nome da outra: trata-se de oferecer, a cada indivíduo, a possibilidade de escolher o que lhe parece mais adequado dentro de tudo que já foi produzido pelo espírito humano. A crença básica da educação clássica é que o espírito do aluno sai engrandecido - e não diminuído - pelo contato direto com diferentes visões de mundo. O fato dele conhecer uma visão de mundo diferente não significa que ele irá abandonar a sua cultura local; significa apenas que ele terá um universo maior de escolhas possíveis - e entre estas escolhas, evidentemente, está tanto a possibilidade de rejeitar o novo conhecimento em nome do antigo, como também de fundir os dois campos culturais e produzir algo ainda mais interessante do que existia anteriormente. Os inimigos da alta cultura, portanto, fazem um desserviço aos que pretendem ajudar. No fundo, estão apenas limitando as escolhas dos alunos e empobrecendo o seu universo cultural. A educação clássica tem como objetivo reverter o mal que estes falsos amigos os fazem e oferecer aos indivíduos o leque cultural mais amplo possível. 6) Os grandes livros: os clássicos do pensamento ocidental A sexta e última característica da educação clássica é que ela é sempre feita através dos 10 "grandes livros", que é como Adler chamava os clássicos do pensamento ocidental. Hoje em dia, os alunos, mesmo no nível universitário, não estão mais acostumados a ler os grandes clássicos. Consideram a leitura difícil, enfadonha e estão sempre "ocupados demais" para este tipo de dedicação. Isto acontece porque eles foram habituados a estudar exclusivamente a partir de manuais acadêmicos - quando não apenas a partir de trechos soltos de alguns destes manuais. O problema com os manuais é que eles sempre estão muito abaixo do nível intelectual dos grandes livros de uma disciplina. Em qualquer tema de estudo foram escritos alguns clássicos que definiram o curso do pensamento, ao quê se seguiram vários artigos e livros menores discutindo o assunto. Os manuais nascem no final desta cadeia, procurando simplificar e resumir toda a discussão anterior. Certamente o intuito com que são escritos é louvável: introduzir o aluno em discussão complexa. No entanto, eles só servem como degrau inicial para a formação do aluno, pois eles nunca mantêm o mesmo rigor intelectual com que foram escritos os clássicos da disciplina. Isto ocorre, em primeiro lugar, porque os autores dos manuais visam o aluno médio e, por isso, excluem do texto todos os aspectos mais complicados do tema. Os clássicos, ao contrário, foram escritos para os homens mais inteligentes do seu tempo e, por isso, trazem justamente as questões mais elevadas. Além disso, os autores dos clássicos foram os grandes gênios da humanidade, enquanto os autores de manuais costumam ser professores medianos que, embora tenham um domínio razoável da disciplina, não foram capazes de produzir uma contribuição original para o conhecimento. Os manuais, portanto, são excelentes para introduzir o aluno em uma discussão, mas jamais serão suficientes para habilitá-lo a discutir as grandes questões do seu campo de estudo. Para formar estudantes de altíssimo nível, capazes de levar o conhecimento que receberam a um novo patamar, o único caminho é através da leitura direta dos clássicos. Caso um ensino se baseie quase exclusivamente em manuais - como no caso do nosso ensino nacional - iremos formar apenas alunos medianos. Mas, se fizer um ensino baseado nos clássicos, iremos formar uma geração de alunos familiarizada com a história das grandes idéias de sua disciplina e, portanto, habilitada a discutir as questões mais elevadas. Ou seja, capaz de participar daquilo que Adler chama de "grande conversação". Resumindo Com isso, acredito, podemos ter uma boa idéia do que seja a essência de uma educação liberal: 1. Ela é uma educação não-profissionalizante, que busca uma formação integral do homem; 2. Ela não tem como objetivo a aquisição de informações pontuais, mas sim, de desenvolver a capacidade do aluno em raciocinar e organizar de forma independente as informações que recebe; 3. Ela não se volta para a formação em massa, para a difusão de uma visão de mundo, mas para que cada aluno cultive a própria consciência individual; 4. A educação liberal é o exato oposto do subjetivismo que ameaça fechar cada sujeito 11 em si mesmo, pois seu objetivo é abrir a alma do aluno às influências universais; 5. A educação liberal resgata o sujeito do imediatismo e permite que ele julgue a sua própria cultura a partir das aquisições culturais de outras épocas; 6. O aluno que recebe uma educação liberal se torna um espectador consciente da história das ideias, discutindo com as grandes mentes que moldaram o pensamento ocidental. Conclusão Podemos perceber claramente que no Brasil jamais existiu de forma consistente e continuada um esforço em promover a educação clássica. O ensino brasileiro é, na melhor das hipóteses, meramente profissionalizante, quando não recai simplesmente na doutrinação ideológica rasteira. Acredito que quem tiver acompanhado esta exposição, concordará que não há tarefa mais urgente e importante para o nosso país do que criar em nossa sociedade focos de educação clássica para revitalizar os nossos debates intelectuais - uma tarefa que talvez seja tão difícil quanto necessária; e, por isso mesmo, digna de nossos melhores esforços. http://www.pedagogia.com.br/historia/grego3.php 4º Texto Educação cristã reformada Resultado da Renascença, no século XVI surge a reforma religiosa, e como resultado, uma educação cristã reformada, tanto católica, como protestante. A educação católica pós renascença, foi marcada por um movimento conhecido por Contra-reforma. A Companhia de Jesus, organização criada por Inácio de Loyola, foi a mais poderosa arma contra os protestantes. As ordens religiosas, das quais se destaca a dos jesuítas, foram as responsáveis por disseminar o cristianismo por meio da educação durante séculos. O Ratio Studiorum era o “currículo” dos jesuítas, que ministravam uma educação inspirada nas escolas humanistas. A Reforma Protestante e sua contribuição para a educação moderna. No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero fixou nas portas da Igreja de Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra a venda de indulgências. A data marca o início da Reforma Protestante e de um novo momento na história da humanidade. “Nenhum aspecto da vida humana ficou intacto, pois abrangeu transformações políticas, econômicas, religiosas, morais, filosóficas, literárias e nas instituições. Foi, de fato, uma revolta e uma reconstrução do norte”, afirma o escritor Eby Frederick. Na educação, os impactos foram determinantes. Na Idade Média, a igreja era a única responsável pela organização e manutenção da educação escolar. A partir do século 16, surgiram as nações-estados, que se opuseram ao poderio universal do papa e formou-se a classe média. 12 O historiador e professor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, Rev. José Carlos de Souza, explica que o comércio, a atividade pública e as próprias igrejas, entre muitos outros setores, possuíam demandas que requeriam cuidadoso preparo. Toda mudança social traz novos desafios. “Certamente, por essa razão, Lutero sentiu-se impelido para falar e se pronunciou de modo enfático sobre a necessidade das autoridades civis investirem na educação”, avalia o professor. Neste contexto, os movimentos da Renascença e da Reforma são precursores de profundas mudanças na concepção de ensino. “A educação começa a visar de modo claro e definido à formação integral do homem, o seu desenvolvimento intelectual, moral e físico”, conta o professor Ruy Afonso da Costa Nunes. Cidadania - Martinho Lutero também estimula a criação de escolas para toda a população. Houve forte ênfase ao ensino para suprir as demandas da recém chegada sociedade moderna, com dimensões geográficas, políticas, econômicas, intelectuais e religiosas em transformação. A contribuição da Reforma no contexto educacional é tamanha que, de acordo com o educador espanhol Lorenzo Luzuriaga, a educação pública teve origem nesta época. O movimento já estimulava a educação pública, universal e gratuita, para quem não poderia custeá-la. “A educação pública, isto é, a educação criada, organizada e mantida pelas autoridades oficiais – municípios, províncias, estados – começa com o movimento da Reforma religiosa”, afirma Luzuriaga. Em Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha, para que criem e mantenham escolas cristãs, publicado em 1524, Martinho Lutero desafia a sociedade a promover uma educação integral. “Lutero queria todos os cidadãos bem preparados, para todas as tarefas na sociedade. Propôs uma escola cristã que visasse não uma abstração intelectual, mas a uma educação voltada para o dia-a-dia da vida”, explica o professor Alvori Ahlert. O pastor luterano Walter Altmann comenta a referência de Lutero para o desenvolvimento da educação. “Rompeu com o ensino repressivo, introduzindo o lúdico na aprendizagem. Amarrou o estudo das disciplinas a um aprendizado prático. Também lutou por boas bibliotecas, dentro de sua ótica cristocêntrica”, revela Altmann no livro Lutero e a Libertação. “Pela graça de Deus, está tudo preparado para que as crianças possam estudar línguas, outras disciplinas e história, com prazer e brincando. As escolas já não são mais o inferno e o purgatório de nosso tempo, quando éramos torturados com declinações e conjugações. Não aprendemos simplesmente nada por causa de tantas palmadas, medo, pavor e sofrimento”, escreveu Martinho Lutero. A aprendizagem construiria cidadãos capacitados, honestos e responsáveis. Era exatamente esta a necessidade do novo modelo de sociedade que surgia na época. De acordo com o pesquisador Evaldo Luis Pauly a rápida divulgação de ideias e concepções por meio da imprensa descoberta por Gutemberg, também contribuiu para que as iniciativas de estímulo educacional crescessem. 13 Universidades - As mudanças e ênfases da Reforma estimularam o surgimento das instituições de ensino. “A história das universidades nos estados alemães durante os séculos 16 e 17 foi determinada pelo progresso da religião e é quase idêntica a do desenvolvimento da teologia protestante”, declara Paul Monroe no livro História da Educação. Nestor Beck diz que a Universidade de Wittenberg atraiu um número crescente de novos alunos, pela fama que passou a ter, entre os anos de 1517 a 1520. A Reforma Protestante deixou a concepção de que a ignorância é o grande mal para a verdadeira religião, por isso, superá-la é uma responsabilidade de todos. “O melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados”, dizia Martinho Lutero. 5º Texto Educação humanista Após o século XV, período da Renascença, é criada a educação humanista, uma nova versão do conhecimento greco-romano. A disciplina e autoridade até então predominantes deixam espaço ao desenvolvimento do pensamento livre e crítico. As matérias cientificas retornam ao currículo, embora ainda em segundo plano. Surge o colégio humanista (escola secundária), onde são estudados o latim e o grego. Os exercícios físicos são valorizados. O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI. Foi um período da história européia marcado por um renovado interesse pelo passado greco-romano clássico, especialmente pela sua arte. Para se lançar ao conhecimento do mundo e às coisas do homem, o movimento renascentista elegia a razão como a principal forma pela qual o conhecimento seria alcançado. O renascimento deu grande privilégio à matemática e às ciências da natureza. A exatidão do cálculo chegou até mesmo a influenciar o projeto estético dos artistas desse período. Desenvolvendo novas técnicas de proporção e perspectiva, a pintura e a escultura renascentista pretendiam se aproximar ao máximo da realidade. Em conseqüência disso, a riqueza de detalhes e a reprodução fiel do corpo humano formavam alguns dos elementos correntes nas obras do Renascimento. O Humanismo* representou tendência semelhante no campo da ciência. O renascimento confrontou importantes conceitos elaborados pelo pensamento medieval. No campo da astronomia, a teoria heliocêntrica, onde o Sol ocupa o centro do Universo, se contrapunha à antiga idéia cristã que defendia que a Terra se encontrava no centro do cosmos. Novos estudos de anatomia também ampliaram as noções do saber médico dessa época. Os humanistas eram homens letrados profissionais, normalmente provenientes da burguesia ou do clero que, por meio de suas obras, exerceram grande influência sobre toda a sociedade; rejeitavam os valores e a maneira de ser da Idade Média e foram responsáveis por conduzir modificações nos métodos de ensino, desenvolvendo a análise e a crítica na investigação científica. 14 *Humanismo: O Humanismo é um movimento filosófico surgido no século XV dentro das transformações culturais, sociais, políticas, religiosas e econômicas desencadeadas pelo Renascimento. 6º Texto Sobre a Educação Comunista Informe pronunciado na Assembleia do Ativo do Partido da Cidade de Moscou M. I. Kalinin 2 de Outubro de 1940 Camaradas: Há 20 anos, precisamente a 2 de outubro de 1920, Lênin pronunciou um discurso sobre a educação comunista no III Congresso da União das Juventudes Comunistas da Rússia. Dirigindo-se ao Komsomol, Lênin disse que era pouco provável que nossa geração, educada na sociedade capitalista, pudesse levar a cabo a edificação da sociedade comunista. Essa tarefa deveria tocar à juventude. Pois bem: Hoje, quando aplaudíeis, recordei involuntariamente essas palavras e me ocorreu pensar que diante de mim encontram-se esses antigos jovens do Komsomol, essa geração a que se dirigia Lênin. E que esses jovens, já convertidos em adultos e com uma experiência da vida, participam ativamente da edificação socialista. E uno meus aplausos aos vossos para louvar precisamente a vós, os edificadores do socialismo. Em nosso país se presta muita atenção à educação comunista. Não é em vão que a palavra “educação” se destaca nas colunas de nossa imprensa. Não obstante, se pretendemos dar uma definição relativamente clara e concisa do que é em geral a educação, tropeçamos com dificuldades consideráveis. Não poucas vezes se confunde a educação com o ensino. É claro que a educação tem muita semelhança com o ensino, mas de modo nenhum são sinônimos. Certos pedagogos autorizados consideram que a educação é um conceito muito mais amplo que a instrução. A educação tem suas particularidades. Em meu entender, a educação consiste em exercer uma ação determinada, sistemática e com um objetivo definido sobre a psicologia do educando, com o fim de inculcar-lhe as qualidades desejadas pelo educador. Parece-me que esta definição (que naturalmente não é obrigatória para ninguém) abarca em termos gerais tudo o que entendemos por educação, a saber: inculcar uma determinada concepção do mundo, uma determinada moral e certas normas de convivência humana, forjar determinados traços do caráter e da vontade, criar certos hábitos e certos gostos, desenvolver determinadas qualidades físicas, etc. A educação constitui uma das tarefas mais difíceis. Os melhores pedagogos a consideram tanto uma ciência como uma arte. Referem-se à educação escolar, que, está claro, é relativamente limitada. Mas, além desta, existe a escola da vida, na qual se verifica um processo ininterrupto de educação das massas, onde o educador é a própria vida, o Estado e o Partido, e o educando, milhões de pessoas adultas, diferentes umas das outras por sua experiência política. Essa educação é muito mais complicada. 15 Vou falar hoje precisamente dessa educação, da educação das massas. Em seu livro “Anti-Dühring”, Engels diz: “... os homens, seja consciente ou inconscientemente, tiram suas ideias morais, em última instância, das condições práticas em que se baseia sua situação de classe: das relações econômicas em que produzem e trocam seus produtos... A moral tem sido sempre uma moral de classe; ou justificava a dominação e os interesses da classe dominante, ou representava, quando a classe oprimida se tornava bastante poderosa, a rebelião contra essa dominação e defendia os interesses do futuro dos oprimidos”. Assim pois, na sociedade de classes nunca existiu nem pode existir uma educação que esteja à margem ou por cima das classes. Na sociedade burguesa, está impregnada até à medula da hipocrisia e dos interesses egoístas das classes dominantes e tem um caráter profundamente contraditório, que reflete os antagonismos da sociedade capitalista. O ideal dos capitalistas é que os operários e os camponeses sejam uns servos submissos que suportem sem protestar o jugo da exploração. Partindo dessas considerações, os capitalistas não quiseram desenvolver nos operários e camponeses o valor e a intrepidez, não quiseram dar-lhes a menor instrução, pois é mais fácil dominar gente atrasada e embrutecida. Mas com essa gente não se pode alcançar a vitória nas guerras de conquista, e esse mesmo povo, sem conhecimentos elementares, não pode trabalhar nas máquinas. A concorrência entre os capitalistas, nas condições do progresso técnico, a corrida armamentista, etc., por um lado, e por outro a luta dos operários e camponeses por sua instrução, obrigam a burguesia a proporcionar aos trabalhadores pelo menos algumas migalhas de conhecimentos; e as guerras de rapina a obrigam a inculcar-lhes valor, firmeza e outras qualidades perigosas para a burguesia. Nenhum sistema de educação burguesa pode fugir a essas contradições. Pois bem; apesar dessas contradições que, como já disse, residem na própria natureza da sociedade burguesa, as classes dominantes levam a cabo uma luta desesperada para subjugar as massas populares, utilizando para isso todos os meios, desde a repressão aberta até ao engano sutil. Na sociedade burguesa, o trabalhador encontra-se, desde o berço até à sepultura, submetido à influência constante das ideias, sentimentos e hábitos que convêm á classe dominante. Essa influência se exerce por inúmeros canais e adquire às vezes formas mal perceptíveis. A igreja, a escola, a arte a imprensa, o cinema, o teatro e diversas organizações, tudo isso serve de instrumento para levar à consciência das massas a ideologia burguesa, sua moral, seus hábitos, etc.. Tomemos, por exemplo, o cinema. Referindo-se às películas norte-americanas, um diretor cinematográfico burguês escreve: “Muitas das películas modernas constituem uma espécie de narcóticas destinadas a pessoas que se acham tão fatigadas que só desejam sentar-se numa fofa poltrona e serem alimentadas a colheradinhas”. Tal é a essência da educação burguesa. 16 A essa educação, elaborada durante séculos e destinada a fortalecer a posição da classe capitalista dominante e a conseguir que os oprimidos se resignem à sua situação, o Partido Comunista — o destacamento de vanguarda do proletariado — opõe seus princípios educativos dirigidos em primeiro lugar contra o domínio da burguesia e a favor da ditadura do proletariado. II A educação comunista difere radicalmente da educação burguesa não só no que diz respeito a seus objetivos, o que se compreende sem necessidade de demonstração, mas também por seus métodos. A educação comunista está indissoluvelmente ligada ao desenvolvimento da consciência política e da cultura geral e à elevação do nível intelectual das massas. Este é o objetivo visado por todos os partidos comunistas. Apesar de o objetivo final de todos os partidos comunistas ser o mesmo, apesar disso, e sendo a situação da classe operária na União Soviética diferente da situação dos trabalhadores nos países capitalistas, a educação em nosso país deve corresponder precisamente a essas condições diversas. A classe operária é em nosso país a força dominante e dirigente tanto no aspecto material como no espiritual. Marx e Engels diziam: “A classe que dispõe dos meios de produção material, dispõe também, em virtude disso mesmo, dos meios de produção intelectual. “Os indivíduos que formam a classe dominante possuem, ademais, uma consciência e, em virtude disso, pensam; e como exercem seu domínio precisamente como classe e determinam toda uma época histórica dada, torna-se evidente que exercem esse domínio em todas as esferas, isto é, que dominam também como seres pensantes, como produtores de ideias, regulam a produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e isto significa que suas ideias são as ideias dominantes da época”. Não se pode dizer o mesmo da classe operária de fora da União Soviética. Para nós a educação comunista se concebe sempre dum modo concreto. Em nossas condições, ela deve estar subordinada às tarefas que se apresentam ao Partido e ao Estado soviético. O objetivo principal e fundamental da educação comunista é proporcionar a máxima ajuda à nossa luta de classes. Vejo que isto vos causa um pouco de estranheza, que quereis perceber o sentido da tese: educar no povo o afã de prestar a máxima ajuda à luta de classes em nosso país, em um país onde as classes exploradoras foram liquidadas. A meu ver, neste caso não se requer esclarecimentos especiais. Bastará recordar-vos a magnífica resposta dada pelo camarada Stálin ao Komsomol Ivanov. “... Uma vez que não vivemos numa ilha — escrevia o camarada Stálin —, mas “em um sistema de Estados”, grande parte dos quais mantém atitude hostil para com o País do Socialismo, com o consequente perigo duma intervenção e duma restauração, nós proclamamos franca e honradamente que a vitória do socialismo em nosso país ainda não é definitiva”. Os acontecimentos deste último ano confirmaram praticamente, com fatos concretos, as ideias expostas na resposta do camarada Stálin. 17 É verdade que nossa luta de classes tem formas diferentes da luta de classes que se desenvolve fora da URSS. Eu diria que é uma luta de classes que se elevou a um grau superior, que seus resultados positivos são mais eficazes. Mas, naturalmente, também é muito mais complexa. A tese de Marx e Engels de que “as ideias da classe dominante são as ideias dominantes”, no que se refere à classe operária da União Soviética obriga-nos a muito. Não podemos limitar-nos simplesmente a uma crítica do regime burguês. O fundamental agora é a luta pelas realizações práticas em todos os aspectos da política, da economia, da cultura, da ciência, da arte, etc. Está claro também que a educação comunista deve desenvolver-se em nosso país nesse sentido. A cultura é um fator que aumenta a fecundidade de qualquer trabalho positivo. Quanto mais complexo e qualificado é determinado trabalho, maior cultura se requer. A cultura nos é tão necessária como o ar, necessitamo-la em toda a sua amplitude, isto é, desde a cultura elementar, literalmente indispensável a cada homem, até a chamada grande cultura. Diz-se com efeito: um homem de grande cultura. A cultura constitui certo índice do grau de desenvolvimento da pessoa. E como as pessoas desenvolvidas são objeto de uma atenção preferente, alguns se dedicam a copiar os aspectos externos da cultura. Dessa gente costumava-se dizer: - esse enfeitase com penas de pavão. Não obstante, minha opinião é que esse juízo é errado e prejudicial ao desenvolvimento da cultura. É claro que, em sua grande maioria, os homens se apropriam primeiro dos aspectos externos. Mas na medida em que o homem trata de adquirir os aspectos externos da cultura, estes contribuem por sua vez para elevar o nível geral de sua cultura. Por que experimentamos, agora, com particular agudeza, a necessidade de elevar o nível cultural geral? Nestes vinte e três anos de existência do regime soviético nossa economia fez consideráveis progressos. Subiu muito o nível técnico da produção, as máquinas se tornaram mais complicadas e reclamam um trato mais atento, mais esmerado. Se passarmos em revista, um após outro, os diversos ramos da indústria, em todas as partes ouviremos o mesmo clamor: necessitamos de trabalhadores mais bem preparados. Paralelamente compreende-se que também nos escritórios as exigências tenham crescido em igual medida. O campo kolkhoziano, por sua vez, apresenta uma procura colossal de homens de elevado nível cultural. O tratorista, o condutor da máquina combinada, o mecânico, o agrônomo, o zootécnico, além dos conhecimentos de sua especialidade, devem possuir pelo menos uma cultura elementar. Tomemos outras especialidades, mesmo que seja a de moco de estrebaria. Um camponês não terá grandes dificuldades para ser palafreneiro quando se tratar de um ou dois cavalos. Mas quando na cavalariça há 20 ou 40 cavalos, então já se requer uma certa experiência organizativa e certa cultura. O mesmo ocorre nos demais ramos da economia kolkhoziana. A cultura é indispensável para continuar avançando. Não será demais recordar também as necessidades da defesa do país. Neste caso as necessidades culturais não crescem dia a dia, mas de hora em hora. Além de tudo o que foi indicado, é também cultura o esmero na produção e na maneira de viver. Imaginai, camaradas, um engenheiro, um bom engenheiro. É uma pessoa instruída e que estudou muito. Dirige uma fábrica e se considera um trabalhador valioso. Mas se 18 passardes pelas oficinas de sua fábrica vos exporeis a quebrar a cabeça a cada passo! (Risos). Pode-se chamar a isso de cultura? Se um engenheiro desse tipo não presta atenção a tais coisas, quer dizer que ainda lhe falta a cultura mais elementar, quer dizer que ainda não tem o apego devido à sua produção nem à sua fábrica. Entendo a luta pela cultura no sentido mais amplo dessa expressão, incluindo, por exemplo, a preocupação para que as torneiras não gotejem, para que em Moscou haja menos percevejos, nas casas, etc. Pois os percevejos são algo intolerável, são uma vergonha, e enquanto isso ocorre tanta gente pergunta: como deve ser o homem da época do comunismo, quais deverão ser as suas qualidades distintivas? (Risos). Há quem se dedique a falar pelos cotovelos sobre a educação da infância, porém que em suas casas organize autênticos viveiros de percevejos. Mas, que é isso? Como dizer que tais pessoas são cultas? Trata-se duns amolecidos aristocratas, restos da antiga sociedade russa. (Risos). 7º Texto Métodos de ensino Contrastando com a educação tradicional, as novas tendências pedagógicas visam proporcionar espaços mais descontraídos, opondo-se como investigação livre, à educação ensinada. Os novos métodos de ensino visam à autoeducação e a aprendizagem surge de um processo ativo. Método de ensino x teoria pedagógica Método de ensino é a maneira pela qual o professor organiza as atividades de ensino para atingir os objetivos de ensino / aprendizagem, compreendendo as estratégias, ações e procedimentos adotados que estão vinculados a reflexão, compreensão e transformação da realidade. Teorias pedagógicas são construções determinadas pelas circunstâncias históricas, que relacionam-se aos ideais defendidos pelos teóricos em função dos problemas vividos e cada etapa de desenvolvimento da sociedade. Por uma questão didática fazem-se classificações, porém se misturam e transformam-se ao longo da história. São produtos dos seres humanos e estes, ao serem sempre dinâmicos, devido a interações com as condições e circunstâncias cotidianas, também históricas, têm suas lógicas (culturalmente internalizadas) enredadas com lógicas da sobrevivência. Principais métodos de ensino Pedagogia Tradicional Sua origem data do século XVIII, nas escolas públicas francesas, a partir do Iluminismo. O objetivo principal era universalizar o acesso do indivíduo ao conhecimento. Possui um modelo firmado e certa resistência em aceitar inovações, e por isso foi considerada ultrapassada nas décadas de 60 e 70. 19 A formação de um aluno crítico e criativo depende justamente da bagagem de informação adquirida e do domínio dos conhecimentos consolidados. Não há lugar para o aluno atuar, agir ou reagir de forma individual. Não existem atividades práticas que permitem aos alunos participar. Geralmente, as aulas são expositivas, com muita teoria e exercícios sistematizados para a memorização. O professor é o guia do processo educativo e exerce uma espécie de “poder”. Tem como função transmitir conhecimento e informações, mantendo certa distância dos alunos. As avaliações são periódicas, por meio de provas, e medem a quantidade de informação que o aluno conseguiu absorver. As escolas que adotam o método de ensino tradicional preparam seus alunos para o vestibular desde o início do currículo escolar e enfatizam que não há como formar um aluno questionador sem uma base sólida, rígida e normativa de informação. Destaca-se nesta metodologia a importância que o conhecimento continua tendo na vida atual como meio de transformação do homem. No entanto, cabem algumas considerações feitas por estudiosos da área: Não existem verdades absolutas e todo o conhecimento do passado deve ser contextualizado na realidade atual, pois este será sempre dinâmico e provisório (ARAGÃO, 1993); Memorização e repetição não devem ser entendidos como sinônimo de aprendizagem, visto que memorizar conceitos ou fórmulas não é aprender. Aprender passa pela memória, mas não se reduz à memória. Memorizar não provoca relações entre os diversos conhecimentos em processo e os já estruturados. É necessário reformular a visão enciclopedista. Aprender não é acumular conhecimentos, apesar de passar pelas informações, não se resume a elas. Somente transmitir conhecimentos não garante a aprendizagem. Aprendizagem pressupõe análise, comparação, associação com o já conhecido, predisposição à negociação e a interação com o novo. Deve-se mudar a metodologia favorecendo a interação dos alunos com os conhecimentos acerca da temática em questão, articulando os diversos conhecimentos, aplicando o Princípio da Transdisciplinaridade, conforme Nicolescu, 1999. Há a crença na neutralidade do professor e do conhecimento, no entanto a construção do conhecimento é subjetiva, pois a pessoa que recebe tal conhecimento o transforma e o adequa à sua estrutura mental. O ser humano é uma articulação da razão com a emoção (Damásio, 1996). Pedagogia Progressista 20 Entre as tendências que compõem esta pedagogia, destacam-se a Pedagogia Libertadora de Paulo Freire e a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. Esta última conta com um grande número de seguidores e, atualmente, as orientações dessa pedagogia têm-se revelado muito uteis na produção de pesquisas na área educacional. Pretende, em última instância, a transformação social. Pontuamos a seguir algumas de suas características: Reivindica ensino público, gratuito, democrático e de qualidade, assim como um relacionamento democrático entre alunos e professor sem abrir mão da diretividade. Não descuida da relação da Educação com o social, com o político e com a filosofia. A prática pedagógica deve estar, sempre que possível, inserida na prática social. Também não descuida da relação Objetivos Educacionais, Conteúdos e Métodos, incentivando a análise crítica da estrutura social e sua ideologia dominante. Essa pedagogia sempre denunciou a consciência ingênua que dá lugar à “dicotomia” teoria e prática. Ainda hoje, mesmo nas universidades, os professores acreditam que adotar meios didáticos que dinamizam as aulas é fazer mudança de paradigma. Esses professores estao apenas mudando os metodos. Vê os alunos como agentes de transformação da sociedade e privilegia meios didáticos que mais favorecem sua participação ativa, tendo em vista uma sociedade igualitária e democrática. Pretende proporcionar aos alunos domínio de conteúdos científicos e de métodos científicos de raciocinar, a fim de alcançar a consciência crítica da realidade social na qual estão inseridos. Na perspectiva dessa Pedagogia, as pesquisas proporcionam uma multiplicidade de temas: “Ideologia, poder, alienação, conscientização, reprodução, contestação, classes sociais, emancipação, resistência, relação teoria-prática, educação como prática social, o educador como agente de transformação, articulação do processo educativo com a realidade” (CANDAU, 2000). As produções científicas sob essa orientação parecem oferecer muitos elementos para articulação e sistematização de um quadro referencial, segundo os princípios do Pensamento Complexo, compartilhando com ela a utopia de uma sociedade justa onde caibam as diferenças individuais, culturais e religiosas. Pedagogia Renovada O movimento chamado Escola Nova, como é conhecido no Brasil, teve início na década de 1920, inspirado em 'John Dewey'. Na época, o mundo vivia um momento de crescimento industrial e de expansão urbana e, nesse contexto, um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidade de preparar o país para acompanhar esse desenvolvimento. A educação era por eles percebida como o elemento-chave para promover a remodelação requerida. Inspirados nas idéias político21 filosóficas de igualdade entre os homens e do direito de todos à educação, esses intelectuais viam num sistema estatal de ensino público, livre e aberto, o único meio efetivo de combate às desigualdades sociais da nação. O movimento ganhou impulso na década de 1930, após a divulgação do Manifesto da Escola Nova (1932). Nesse documento, defendia-se a universalização da escola pública e gratuita. Entre os seus signatários, destacavam-se os nomes de: Anisio Teixeira - futuro mentor de duas universidades no país - a Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, desmembrada pelo Estado Novo de Getúlio Vargas - e a Universidade de Brasília, da qual era reitor, quando do Golpe Militar de 1964. Além dessas realizações, Anísio foi o fundador da Escola Parque, em Salvador (1950), instituição que posteriormente inspiraria o modelo dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, no Rio de Janeiro, na década de 1980. Fernando de Azevedo (1894-1974) - que aplicou a Sociologia da Educação e reformou o ensino em São Paulo na década de 1930 Lourenço Filho (1897-1970) - professor Cecília Meireles (1901-1964) - professora e escritora A atuação destes pioneiros se estendeu pelas décadas seguintes sob fortes críticas dos defensores do ensino privado e religioso. As suas idéias e práticas influenciaram uma nova geração de educadores como: Darcy Ribeiro (1922-1997); e Florestan Fernandes (1920-1995). A constituição da Escola Nova se contrapôs aos conservadores (Pedagogia Tradicional) que mantinham a hegemonia no controle da educação com objetivos voltados para a manutenção do sistema econômico anterior à industrialização. Os chamados progressistas (escolanovistas), imbuídos do espírito otimista do início da era industrial e do ideário de sociedade democrática apontado por John Dewey, preconizavam a transformação da sociedade através da Educação. Hoje, não mais se absolutiza o papel da Educação como nos termos colocados por essa pedagogia. Nas décadas de sua influência, essa pedagogia introduziu muitos elementos positivos que, ainda hoje, constituem a bandeira de luta dos educadores. No entanto, deve-se contextualizá-los novamente, atualizando e redimensionando as idéias aí contidas. Os lemas “aprender a aprender” e “aprender fazendo”, na concepção dos filósofosmentores da Escola Nova, tinham o propósito de chamar a atenção para a nova modalidade de aprendizagem e a mudança metodológica na construção do conhecimento, reconhecendo a autonomia e liberdade de expressão e pensamento da criança no seu diálogo com o conhecimento, valorizando a criatividade e a socialização, sem perder de vista o ideário educacional embutido na organização das 22 atividades metodológicas. No entanto, na prática de muitos professores prevaleceu o reducionismo, restando apenas o “como” aplicar o método ativo. E assim, a forma (fórmula) predominou sobre o conteúdo. Os conteúdos que ainda eram repassados através desses métodos eram direcionados para a preservação da “verdade” que mantinha o sistema tradicional juntamente com seus valores. Os lemas “aprender a aprender” e “aprender fazendo”, anos depois, com a introdução do tecnicismo nos anos da ditadura militar, foram interpretados e direcionados para a aprendizagem de conhecimentos úteis ao mercado de trabalho. O objetivo dos escolanovistas visava a formação de sujeitos ativos com espírito investigativo, senso crítico, situados na sociedade em transição. Com o tecnicismo, esse objetivo foi redirecionado para o instrumentalismo. Acreditando que as atividades escolares fossem significativas para o aluno (centralidade no aprender, portanto no aluno) e transformando o conhecer numa aventura e jogo, essa pedagogia incentivou a construção de dinâmicas de grupo e uma variedade de técnicas didáticas (trabalho em grupo, atividades cooperativas, pesquisas, projetos, experimentações, métodos de descobrir conhecimentos) que devem ser resgatas e refundamentadas, mas como um dos elementos do agir pedagógico, sem absolutizar nem as técnicas didáticas (como fizeram os tecnicistas), nem dar a centralidade exclusiva no aluno. A Educação deve manter a diretividade. Os objetivos educacionais devem ser resultados de uma filosofia social e não se resumir à aplicação da lista elaborada por MEC, que também não deixa de ser uma simplificação. Filosofia, objetivos educacionais, metodologia e técnicas didáticas devem manter coerência entre si. Ao ser fragmentado, o agir pedagógico passa a se pautar pela pedagogia tradicional-tecnicista. A centralidade no aluno, portanto, no aprender, é retomada pelas teorias, denominadas por Libâneo, de Cognitivistas. Nessa linha, houve ampla divulgação de trabalhos de Emilia Ferreiro (1986) e Ana Teberosky (1989) como iniciadoras de pesquisas sobre a língua escrita, mostrando o conhecimento e a evolução da criança sobre a escrita antes de entrar na escola. Essa linha de pesquisa, hoje chamada de construtivista, tem acrescentado conhecimentos de grande valia, como também as pesquisas cognitivistas em geral. A herança desta Pedagogia é valiosa e significativa, repercutindo até os dias atuais. Os conceitos dessa pedagogia devem ser reescritos, atualizados e reorganizados. O foco dado à criança e à aprendizagem foi muito importante. A ênfase em atividades, dando lugar à construção de uma diversidade de métodos de ensino, merece ser retomado e repensado, isto é, colocando os dois elementos enfatizados por essa Pedagogia (aluno/técnicas didáticas) no mesmo nível de igualdade com o outro elemento enfatizado pela Pedagogia Tradicional (conhecimento). O três elementos são igualmente importantes no agir pedagógico. 23 Pedagogia Tecnicista A Pedagogia Tecnicista surgiu nos Estados Unidos na segunda metade do século XX e foi introduzida no Brasil entre 1960 e 1970. Nessa concepção, o homem é considerado um produto do meio. É uma conseqüência das forças existentes em seu ambiente. A consciência do homem é formada nas relações acidentais que ele estabelece com o meio ou controlada cientificamente através da educação. Reestruturando sua base filosófica de adaptação do homem ao sistema para a de transformação do homem, essa Pedagogia tem mostrado o potencial das técnicas utilizadas na educação para dinamizá-la, porém, não se deve acreditar que as técnicas didáticas e tecnologias educacionais solucionam os problemas da sala de aula e nem deve-se perder de vista a importância do conhecimento na formação dos jovens. As técnicas didáticas não são apenas para mantê-los interessados. Através do instrumental metodológico e tecnológico mobilizam-se todos os sentidos e dimensões do ser humano na percepção, aprofundamento e construção do conhecimento, a fim de que cada um possa se situar no mundo contemporâneo. Seu conceito de aprendizagem se fundamenta na teoria behaviorista. Aponta somente para a mudança de comportamento. Educar é adaptar o indivíduo ao meio social. Hoje, ela tem sua utilidade na internalização de hábitos mecânicos, como por exemplo dirigir um carro, e constitui uma linha de terapia que é recomendada para tratamento de fobias em geral. Pressupõe que a filosofia já está dada pelo sistema sócio-econômico dominante. Pode-se dizer que se pautam pela multidisciplinaridade que é uma superposição de conhecimentos, assim como toda a estruturação da grade curricular dos cursos hoje em vigor. Vao se sobrepondo disciplinas do mais geral para o mais específico. As relações existentes entre os diversos conhecimentos ficam a cargo de cada um dos alunos, mas em geral, quando muito, estes alunos terminam com “uma cabeça bem cheia” ao invés de uma “cabeça bem feita” (MORIN, 2001). Busca a racionalização e objetivação do ensino. Acredita na objetividade e neutralidade da Ciência e na impessoalidade do professor. A Relação professor/alunos é intermediada (neutralizada) pelas técnicas para minimizar relações pessoais e afetivas que “denigrem” a objetividade do processo. Por trás dessas idéias está a crença da objetividade do conhecimento, em detrimento da subjetividade. O papel reservado ao professor e também aos alunos e o de não pensar. Pois, o contexto geral já estava dado, ao professor cabe executar o programa instrutivo. O seu pensamento já estava delimitado pela chamada razão instrumental (Habermas,1988). As técnicas didáticas são sistematizações formuladas segundo o conceitual teórico daquele que as utiliza, portanto, elas embutem em si o fundamento ideológico que as determina. A essência das técnicas está em nossa maneira de ver (SANTOS, 1999). 24 Preocupação exclusiva com a formação técnico-profissional. Enfatiza a técnica, o saber-fazer suficiente para uma determinada profissão sem maiores questionamentos nem aprofundamentos no conhecimento. Essas atividades estavam diretamente relacionadas com a orientação ideológica da época. A preocupação com a formação técnico-profissional deve estar presente, mas não com exclusividade. Em primeiro lugar está o homem e o desenvolvimento das suas potencialidades para situar-se neste mundo (nas palavras de Paulo Freire: tornar-se sujeito), aperfeiçoando o seu instrumental teórico de interpretação e acompanhamento da dinâmica social. A dicotomia teoria-prática se dá quando as autoridades, concluindo que os professores não são capazes de formular suas próprias filosofias, ou intencionalmente pretendem controlá-los retirando as discussões teóricas, elaboram os objetivos educacionais ou as “competências” a serem alcançadas. No Tecnicismo, ao professor compete fazer a contextualização imediata e não a contextualização filosófica. Ao longo da história, a educação sempre foi atrelada aos interesses ideológicos/filosóficos. A ascensão ou declínio das teorias pedagógicas é resultado dos embates políticos nos níveis nacional e internacional. A dominação dos homens em função do macrossocial, sempre tem encontrado resistência no microssocial (professor/aluno). A sua capacidade auto-eco-organizador (MORIN, 1991) prevalece. A autonomia do homem é um fenômeno surpreendente. Ela se sobrepõe e sobrevive ao ambiente mais desfavorável. O aprofundamento do especialista através do conhecimento deve se articular com a contextualização. O macro e o micro estão vinculados atraves da relação todo/partes, destacando a necessidade de uma visão global superando as fragmentações a que estamos sujeitos, trazendo desdobramentos conceituais como o conceito de conhecimento como uma rede de relações (CAPRA,1999). Contrapondo-se à representação usual do conhecimento como uma árvore com suas diversas ramificações, desenvolvendo-se linearmente e sem conexões entre os ramos, a atual tendência é substituir tal representação por uma raiz rizomática (interconectada). Pedagogia Montessoriana Criada pela pedagoga italiana Maria Montessori (1870-1952), a linha montessoriana valoriza a educação pelos sentidos e pelo movimento para estimular a concentração e as percepções sensório-motoras da criança. O método parte da ideia de que a criança é dotada de infinitas potencialidades. Individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases da teoria, com ênfase para o conceito de indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto do ensino. Maria Montessori acreditava que nem a educação nem a vida deveriam se limitar às conquistas materiais. Os objetivos individuais mais importantes seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante e nutrir paz e densidade interiores para ter a capacidade de amar. 25 As escolas montessorianas incentivam seus alunos a desenvolver um senso de responsabilidade pelo próprio aprendizado e adquirir autoconfiança. As instituições levam em conta a personalidade de cada criança, enfatizando experiências e manuseios de materiais para obter a concentração individual e o aprendizado. Os alunos são expostos a trabalhos, jogos e atividades lúdicas, que os aproximem da ciência, da arte e da música. A divisão das turmas segue um modelo diferente do convencional: as crianças de idades diferentes são agrupadas numa mesma turma. Nessas classes, alunos de 5 e 6 anos estudam na mesma sala e seguem um programa único. Posteriormente eles passam para as turmas de 7 e 8, em seguida para as de 9 e 10, e, finalmente alcançam o último estágio, que agrega jovens de 11,12,13 e 14 anos. Até os 10 anos, os alunos têm aulas com um único professor polivalente, enquanto nas salas de 11 a 14, esse professor ganha a companhia de docentes específicos para cada disciplina. Os professores dessa linha de ensino são guias que removem obstáculos da aprendizagem, localizando e trabalhando as dificuldades de cada aluno. Sugerem e orientam as atividades, deixando que o próprio aluno se corrija, adquirindo assim maior autoconfiança. A avaliação é realizada para todas as tarefas, portanto, não existem provas formais. A disposição circular da sala de aula, prateleiras com jogos pedagógicos acessíveis aos alunos, cubos lógicos de madeira para o ensino de matemática são algumas das inovações do método montessoriano usadas até hoje nas escolas. Pedagogia Construtivista Inspirado nas ideias do suíço Jean Piaget (1896-1980), o método procura instigar a curiosidade, já que o aluno é levado a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua interação com a realidade e com os colegas. Uma aluna de Piaget, Emília Ferrero, ampliou a teoria para o campo da leitura e da escrita e concluiu que a criança pode se alfabetizar sozinha, desde que esteja em ambiente que estimule o contato com letras e textos. O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estimulo a dúvida e o desenvolvimento do raciocínio, entre outros procedimentos. A partir de sua ação, vai estabelecendo as propriedades dos objetos e construindo as características do mundo. Para Piaget, a inteligência lógica tem um mecanismo autorregulador evolutivo, noções como proporção, quantidade, causalidade, volume e outras, surgem da própria interação da criança com o meio em que vive. Vão sendo formados esquemas que lhe permitem agir sobre a realidade de um modo muito mais complexo do que podia fazer com seus reflexos iniciais, e sua conduta vai enriquecendo-se constantemente. Assim, constrói um 26 mundo de objetos e de pessoas onde começa a ser capaz de fazer antecipações sobre o que irá acontecer. O método enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem. A teoria condena a rigidez nos procedimentos de ensino, as avaliações padronizadas e a utilização de material didático demasiadamente estranho ao universo pessoal do aluno. As disciplinas estão voltadas para a reflexão e auto avaliação, portanto a escola não é considerada rígida. As ideias de Piaget mostram aos psicólogos que havia um mecanismo natural de aprendizagem e que a escola deveria acompanhar a curiosidade da criança, propondo atividades com temas que a interessassem naquele momento, sem se prender a um currículo rígido. O russo Lev Vygotsky, contemporâneo de Piaget, desenvolveu uma psicologia também chamada construtivista, mas considerando as atividades interpessoais da criança e a história social. Existem várias escolas utilizando este método. Mais do que uma linha pedagógica, o construtivismo é uma teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do individuo no decorrer de sua vida. Pedagogia Waldorf (Antroposofia) A Pedagogia Waldorf se baseia na Antroposofia (gr.: antropos = ser humano; sofia = sabedoria), ciência elaborada por Rudolf Steiner, que estuda o ser humano em seus três aspectos: o físico, a alma e o espírito, de acordo com as características de cada um e da sua faixa etária, buscando-se uma perfeita integração do corpo, da alma e do espírito, ou seja, entre o pensar, o sentir e o querer. Surgiu em 1919, na Alemanha, e está presente no mundo inteiro. O ensino teórico é sempre acompanhado pelo prático, com grande enfoque nas atividades corporais, artísticas e artesanais, de acordo com a idade dos estudantes. O foco principal da Pedagogia Waldorf é o de desenvolver seres humanos capazes de, por eles próprios, dar sentido e direção às suas vidas. Tanto o aprimoramento cognitivo como o amadurecimento emocional e a capacidade volitiva recebe igual atenção no dia a dia da escola. Nessa concepção predomina o exercício e desenvolvimento de habilidades e não de mero acúmulo de informações, cultivando a ciência, a arte e os valores morais e espirituais necessárias ao ser humano. O currículo, que se orientam pela lei básica da biografia humana, os septênios – ciclos de sete anos- (0-7/ 7-14/ 14-21), e oferece ricas vivências, alternando as matérias do conhecimento com aquelas que se direcionam ao sentir e agir. Não há repetência, justamente para que as etapas de aprendizagem possam estar em sintonia com o ritmo biológico próprio de cada idade. No primeiro ciclo (0-7), a ênfase é no desenvolvimento psicomotor, essa fase é dedicada principalmente às atividades lúdicas, ela não inclui o processo de alfabetização. O 27 segundo ciclo (7-14), que corresponde ao ensino fundamental, compreende a alfabetização e a educação dos sentimentos, para que os alunos adquiram maturidade emocional. Nesta fase, não existe professores específicos para cada disciplina, mas sim um tutor responsável por todas as matérias, que acompanha a mesma turma durante os sete anos. O tutor é uma referência de comportamento e disciplina para que o aluno possa se espelhar. Já no terceiro ciclo, equivalente ao ensino médio (14-21), o estudante está pronto para exercitar o pensamento e fazer uma análise crítica do mundo. As disciplinas são dividas por épocas, em vez de ter aulas de diversas disciplinas ao longo do dia ou da semana, o estudante passa quatro semanas vendo uma única matéria. Nessa fase entram os professores especialistas, mas as classes continuam com um tutor. A avaliação dos alunos é baseada nas atividades diárias, que resultam em boletins descritivos. O progresso dos alunos é exposto detalhadamente em boletins manuscritos, nos quais são mencionadas as habilidades sociais e virtudes como perseverança, interesse, automotivação e força de vontade. Como consequência, o jovem aluno tem grandes chances de se tornar um adulto saudável e equilibrado capaz de agir com segurança no mundo. Pedagogia Pragmática Elaborado no início do século pelo educador norte-americano John Dewey (1859-1952), o pragmatismo ou instrumentalismo baseia-se na ideia de que a inteligência é um instrumento. Privilegia a resolução de problemas e a ciência aplicada. É um modelo de educação que se opõe ao ensino europeu clássico, mais abstrato e concentrado nas humanidades e na filosofia. Na década de 20, influenciou o movimento da Escola Nova, que, no Brasil, tentou a reforma do ensino introduzindo métodos ativos de participação dos alunos na sala de aula. 8º Texto Especialistas debatem quatro mitos e fatos da educação brasileira Educação básica ainda está na metade do século XX, diz cientista político. Valorizar o professor é essencial, destaca o economista Ricardo Henriques. Que valor o brasileiro dá ao conhecimento? Professores mais bem pagos produzem uma educação melhor? Escola pública é para os menos favorecidos? Há aluno que não aprende de jeito nenhum? Para debater estes quatro mitos da educação no Brasil, o seminário da parceria Globo Educação e GloboNews convidou quatro especialistas: Cleuza Rodrigues Repulho, secretária de Educação de São Bernardo do Campo (SP) e presidente nacional da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime); Fernando Abrúcio, cientista político, professor da FGV e comentarista da rádio CBN; Luiz Felipe Pondé, doutor em Filosofia, professor da PUC-SP e da Faap; e Ricardo Henriques, economista, superintendente executivo do Instituto Unibanco e professor da UFF. Mito ou fato: o brasileiro dá valor à educação? 28 Para Ricardo Henriques, a geração que não foi escolarizada busca a mobilidade social colocando seus filhos na escola. “No entanto, tem a memória ainda, dada a sua baixa escolarização, que rebate na não valorização da educação. Por outro lado, a gente tem outro grande desafio: a elite brasileira ainda não reconhece o conhecimento como uma variável crucial para a mudança do país”, aponta. Segundo Fernando Abrúcio, é preciso aproximar o conhecimento transmitido na escola do cotidiano dos jovens. “Se a gente não conseguir mostrar a relação entre a educação e a vida das pessoas, é muito difícil que as pessoas deem valor à educação”, avalia. Mito ou fato: se os professores recebem melhores salários, a educação vai melhorar? O economista Ricardo Henriques acredita que o salário do professor é importante, mas é apenas uma dimensão da educação. “Se a gente tiver em mente que a principal tecnologia da educação é a pedagogia, é evidente que o papel do professor é a unidade vital para fazer com que essa máquina funcione. Valorizar o professor é essencial”, destaca. Diante da baixa remuneração, muitos professores acabam desistindo das salas de aula. “Não pode ser penalidade ficar na sala de aula. Às vezes, você vê redes públicas que tem tanta gratificação para quem fica fora da sala e nada para quem fica na sala”, diz Cleuza Rodrigues Repulho. Ela ressalta que as universidades públicas, que recebem a maior parte dos investimentos, devolvem poucos profissionais para a base. Mito ou fato: escola pública é escola de pobre? “Escola pública deveria ser uma escola a que você tem acesso porque paga imposto. Do ponto de vista concreto, a percepção que a maior parte da população tem é de que é escola de pobre”, diz Luiz Felipe Pondé. De acordo com Ricardo Henriques, o país perdeu, nos anos 70, a oportunidade de massificar a educação com qualidade. “A gente perdeu o momento histórico, que tinha demografia favorável, taxas da economia muito fortes e capacidade de dar conta de massificar e financiar a escola pública. Provavelmente, isso mudaria a qualidade do país. Educação de qualidade é uma frase elegante, mas frágil em todos os seus elementos”, afirma. Mito ou fato: tem aluno que não tem jeito, não aprende? Para Luiz Felipe Pondé, são dois os mitos. “De um lado, esse mito negativo de que tem aluno que não aprende e, do outro, que todos são iguais, tão negativo quanto. A educação sofre muitas vezes com os mitos de perfeição que a própria teoria da educação produziu sobre o ser humano”, acredita. Segundo Fernando Abrúcio, a escola não tem acompanhado as mudanças na sociedade. “A juventude, com esse mundo digital, tem um modo de vida que a educação não acompanhou. Nossa educação básica ainda está na metade do século XX, se eu for muito otimista, enquanto a sociedade já avançou”, diz. Confira o debate completo no vídeo. Saiba mais e veja os comentários que o site da GloboNews recebeu sobre o tema. 9º Texto O que os jovens querem da educação brasileira 24/09/13 // Escola // Espaço Público // Universidade // Internacional da redação 29 Recentemente, uma pesquisa feita pela consultoria McKinsey mostrou que jovens instituições de ensino e universidades não falam a mesma língua. Outra, feita numa parceria entre a Fundação Telefônica e o jornal Finantial Times, mostrou as maiores preocupações dos jovens de todo o mundo e como a chamada geração dos “milleniuns” está conectada com a tecnologia. Uma terceira, feita pela Cia de Talentos, tentou avaliar como é a empresa dos sonhos das pessoas que estão ingressando no mercado de trabalho. Em comum, todas essas pesquisas trazem dados sobre educação. Mas como além dessas, muitas outras pesquisas, levantamentos e estudos vêm trazendo informações interessantes separadamente, o Porvir resolveu dar uma mãozinha. Compilamos dados de uma série de estudos que apontam caminhos sobre os anseios dos jovens hoje e trazemos algumas das principais tendências no universo educacional que, de alguma forma, estejam propondo formas de responder a esses desejos. Por exemplo: parte dos jovens brasileiros acha que o que aprendem na escola não lhes é útil na vida. Diante desse desafio, algumas escolas vêm procurando meios de tornar o ensino mais personalizado às demandas do aluno. Isso pode ocorrer pela adoção de tecnologia, quando o aluno usa ambientes virtuais de aprendizado para estudar da forma que lhe é mais eficaz (por vídeo, fórum, game ou outras possibilidades). Pode também ser por meio analógico, quando os alunos recebem uma espécie de tutoria, em que o tutor ajuda os alunos a desenvolverem habilidade nos temas por que se interessam. Ou ainda pela junção das duas formas. Ficou curioso? Veja a seguir as oito vontades dos jovens, os dados que as sustentam e a tendência que emerge como resposta ao desafio. 30 31 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ARANHA, M.L. Arruda Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 1996; CHAUÍ, Marilena Convite à Filosofia. São Paulo: Ática 2006; LUCKESI, Cipriano Carlos, Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994; SEVERIANO, Antonio Joaquim. Filosofia da Educação: Construindo a Cidadania. São Paulo: FTD, 1994; BIBLIOGRAFIA BÁSICA MARCONDES, Danilo Iniciação à Historia da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.Rio de Janeiro: Zahar,2006; FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2005 SARUP, Madan. Marxismo e Educação. Rio de Janeiro: Guanabara, 1980 Referências bibliográficas http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/guia_para_pais-metodos.shtml http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Nova http://www.pedagogia.com.br ARAGÃO, R.M.R. Reflexões sobre Ensino, Aprendizagem, Conhecimento. In: Revista Ciência & Tecnologia, n.3. 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