Rev Panam Infectol 2010;12(2):76-77. CARTA AO EDITOR/CARTA AL EDITOR Uso de antiviral para gripe H1N1 - Parecer da Associação Gaúcha de Profissionais em Controle de Infecção Hospitalar (AGIH), RS, Brasil Antiviral therapy for pandemic influenza (H1N1) - Recommendations of the Associação Gaúcha de Profissionais em Controle de Infecção - AGIH - RS Ricardo Ariel Zimerman1 Teresa Cristina Teixeira Sukienniek2 Marcelo Carneiro3 Rodrigo Pires dos Santos4 Nadia Mora Kuplich5 Fabrizio Motta6 Infectologista. Vice-Presidente da AGIH. CCIH da Santa Casa de Porto Alegre, RS. 2 Infectologista. Membro da AGIH. CCIH da Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. 3 Infectologista. Secretário Científico da AGIH. CCIH do Hospital Santa Cruz, Santa Cruz do Sul, RS. Mestre em Microbiologia. 4 Infectologista. Membro da AGIH. CCIH do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. 5 Enfermeira. Presidente da AGIH. CCIH do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. Mestre em Epidemiologia. 6 Infectologista Pediátrico. Membro da AGIH. CCIH do Instituto de Cardiologia de Viamão, Porto Alegre, RS. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. 1 Rev Panam Infectol 2010;12(2):76-77. Conflicto de intereses: ninguno Recibido en 9/8/2009. Aceptado para publicación en 3/2/2010. 76 A pandemia de influenza anunciada há alguns anos e esperada pelas autoridades sanitárias se estabeleceu rapidamente no mundo. Diversas opiniões e guias foram divulgados pelos órgãos oficiais.(1-4) Apesar dos conhecimentos adquiridos é difícil estabelecer um perfil epidemiológico correto por vários motivos: (1) não é realizado exame etiológico em todos os casos suspeitos e falsos-negativos por coleta e transporte inadequados da amostra biológica; (2) muitos casos são tratados como sintomáticos e sem assistência médica; (3) demora dos laudos laboratoriais; (4) falta de notificação de todos os casos suspeitos, inclusive os leves; (5) estatísticas de mortalidade e letalidade são subestimadas pelos números não reais dos casos doentes, entre outras inúmeras causas. Indicações - Todos os pacientes com quadro clínico de febre (temperatura axilar acima de 38˚C) e tosse ou odinofagia devem ser considerados candidatos para o tratamento com antiviral específico, especialmente dentro das 48 horas de seu início, independente de fatores de risco ou de sinais/sintomas de gravidade; - Todos os pacientes que preencherem os critérios citados e que se apresentarem após as primeiras 48 horas caso, a critério do médico assistente, não esteja ocorrendo evolução favorável, isto é, persistência ou piora dos sinais e sintomas; - Todos os pacientes com infecção de vias aéreas (incluindo aqueles com temperatura menor que 38ºC) que necessitarem de internação e para todos os casos ambulatoriais onde existir síndrome gripal que apresentarem fatores de risco clássicos (grávidas, principalmente nos segundo e terceiro trimestres, portadores de imunossupressão, pneumopatias, cardiopatias [exceto se secundárias a hipertensão)], diabetes, obesidade, hemoglobinopatias, doenças neurológicas, hepatopatia crônica e doença renal em estágio terminal e aqueles maiores de 65 e menores de 2 anos). Estas recomendações são embasadas nos seguintes aspectos: Zimerman RA • Uso de antiviral para gripe H1N1... 1)Baixa prevalência de fatores de risco clássicos nos casos que evoluíram desfavoravelmente; 2)Alta prevalência pré-teste presumida de diagnóstico de infecção por Influenza em um contexto epidêmico; 3)Maior benefício clínico com o início precoce da medicação antes do desenvolvimento de quadro de doença respiratória aguda grave; 4)Impossibilidade de avaliarmos a real letalidade da epidemia em nosso meio, pela falta de coleta sistemática de exames e pelo atraso na divulgação de seus resultados; 5)Ausência de evidências de que o uso ampliado de antivirais favoreça o surgimento de resistência. Ao contrário, o tratamento mais generalizado poderia resultar em diminuição de surgimento de resistência e de eventuais recombinações entre diferentes vírus e/ ou mutações, à medida que reduz o risco de evolução e persistência/disseminação viral; 6) Embora não existam evidências sobre o impacto do uso de antivirais na redução de risco de mortalidade por Influenza em indivíduos jovens e sem fatores de risco, há dados demonstrando redução de mortalidade com o uso dos antivirais entre idosos com influenza sazonal. Na atual pandemia, contudo, a população mais jovem tem sido responsável pela grande maioria dos óbitos relacionados ao vírus. Além disso, os medicamentos antivirais já são benéficos em desfechos intermediários na população mais jovem. Cabe ressaltar ainda as experiências bem-sucedidas de países com o Chile e a Inglaterra, que decidiram incluir todos os casos de síndrome gripal, independente da faixa etária, de presença de fatores de risco ou de critérios de gravidade excessivamente tardios. Antivirais – Terapêutica Há a disponibilidade de dois antivirais inibidores da neuraminidase - oseltamivir ou zanamivir no tratamento de quadros gripais. A neuraminidase viral contribui para que as partículas virais replicadas sejam liberadas das células infectadas e facilitem o acesso do vírus através do muco para as superfícies das células epiteliais, infectando outras células em seguida. O oseltamivir está disponível em cápsulas e pós para suspensão oral (após reconstituição, a suspensão oral pode ser conservada abaixo de 25ºC por um período de 10 dias e sob refrigeração (entre 2º e 8ºC) por um período de 17 dias). O tratamento é de 5 dias, salvo em situações especiais. A dose recomendada para crianças com mais de 40 kg e adultos é de 75 mg via oral, 2 vezes ao dia. Para crianças menores a dose deve ser baseada no peso corpóreo (< 15 kg - 30 mg, 2 vezes ao dia; > 15 a 23 kg - 45 mg, 2 vezes ao dia; > 23 a 40 kg - 60 mg, 2 vezes ao dia). Uma alternativa de dose para menores de 1 ano é a seguinte: < 3 meses – 12 mg 12/12 h; 3 a 5 meses - 20 mg VO 12/12 h; 6 a 11 meses - 25 mg VO 12/12 h).(5) O zanamivir está disponível em pó através de um inalador. É uma alternativa de eficácia semelhante e, assim, poderia ser utilizado nos casos de infecção em pacientes com sete anos ou mais, em pacientes sem evidências de pneumonia viral já estabelecida, em pacientes não gestantes e não portadores de DPOC. O zanamivir deve ser utilizado na posologia de 10 mg de 12/12 h (duas inalações de 5 mg de 12/12 h) por cinco dias. Antivirais – Profilaxia A quimioprofilaxia com antiviral está indicada para contatos intradomiciliares ou intra-hospitalares de casos suspeitos/confirmados, se portadores de fatores de risco (grávidas, principalmente nos segundo e terceiro trimestres, imunossuprimidos, pneumopatas, cardiopatas [exceto HAS], portadores de DM, obesidade mórbida, hemoglobinopatias, doenças neurológicas, hepatopatia crônica e doença renal em estágio terminal e aqueles maiores de 65 anos e menores de 2 anos). Recomenda-se o oseltamivir (dose padronizada, mas apenas uma vez ao dia e por 10 dias) ou zanamivir (10 mg 1x ao dia - duas inalações de 5 mg, 1 x ao dia por dez dias).(1,2) Referências 1. Ministério da Saúde do Brasil. ESPII. Protocolo de Manejo Clínico e Vigilância Epidemiológica da Influenza (05/08/2009). 2. Governo do Chile. Divisão de Prevención y Control de Enfermedades. Guía Clínica para el Manejo de Casos Nueva Influenza Humana A (H1N1). Fase Pandêmica. (01-072009). 3. Jamieson DJ, Honein MA, Rasmussen SA, Williams JL, Swerdlow DL, Biggerstaff MS et al. The Novel Influenza A (H1N1) Pregnancy Working Group. H1N1 2009 influenza vírus infection during pregnancy in the USA. Lancet 2009;374 (9688):451-8. 4. Taylor J. Infectious diseases. Call of the wild. Health Serv J 2009;119 (6163):26-8. 5. FDA notifications. EUA issued for treating novel 2009 H1N1 flu. AIDS Alert 2009;24(6):60-70. 6. WHO. Clinical management of human infection with pandemic (H1N1) 2009: revised guidance. Correspondência: Dr. Marcelo Carneiro UNISC – Curso de Medicina. Av. Independência, 2.293 Bairro Universitário - CEP 96815900 - Santa Cruz do Sul, RS, Brasil. e-mail: [email protected] 77