ANPOCS 2011 GT27 - Pensamento social no Brasil Autora: Julia

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ANPOCS 2011
GT27 - Pensamento social no Brasil
Autora: Julia Polessa Maçaira (FE/UFRJ)
Título: A Sociologia na Escola Secundária Brasileira: Ciências Sociais e Realidade
Nacional (1940-1950)
Resumo Expandido:
A trajetória da sociologia como disciplina escolar no Brasil é antiga e data do
fim do século XIX, muito embora sua presença não tenha sido constante na grade
curricular da educação básica, especificamente no nível secundário (atual ensino
médio). A história da intermitência da sociologia é consoante com a organização do
sistema educacional brasileiro e praticamente a cada reforma educacional empreendida
a situação da disciplina era alterada. Sendo assim, tornou-se corrente a (necessária)
justificação da validade ou relevância desta disciplina seja nos textos que defendiam o
retorno da sociologia ao currículo escolar (cf. COSTA PINTO, 1949; FERNANDES,
1954) seja no material didático para uso de professores alunos, nos períodos em que a
disciplina tinha respaldo legal para figurar no currículo.
Nos manuais didáticos de sociologia do início do século XX, voltados para o
público do nível secundário, a concepção de ensino ali presente esteve fortemente
relacionada aos projetos de nação, sendo a sociologia entendida como instrumento para
a compreensão da realidade brasileira, vinculada às noções de civismo, civilidade e
patriotismo (FERNANDES, 1976; MEUCCI, 2000 e 2007). A partir do exame dos
primeiros manuais didáticos publicados no Brasil nos anos de 1930-1940 e da formação
intelectual de seus autores1, Meucci (2000) buscou compreender o significado da
sociologia durante o momento de sua institucionalização no Brasil. O aparecimento dos
manuais que substituíram os compêndios estrangeiros faz parte do fenômeno de
mobilização para a rotinização do conhecimento sociológico no Brasil e a autora aponta
uma série de indicadores para este impulso ter se dado entre 1931 e 1945, dentre os
quais destacam-se: a inclusão da sociologia no sistema escolar, a formação de um
mercado editorial nacional, a criação dos primeiros cursos superiores de Ciências
Sociais, a publicação de algumas obras seminais da sociologia brasileira - Gilberto
Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda. Meucci entende o processo de
rotinização no sentido weberiano, como o fenômeno de formação de uma comunidade
científica e de um quadro institucional que possibilita a produção de uma nova ciência
sobre bases duráveis.
Após 1942, há uma diminuição na produção de livros e manuais didáticos. Não
por acaso, a reforma Capanema acabara de retirar a sociologia dos cursos secundários e
o mercado editorial nacional que procurava se erguer entra em decadência, logo a
disciplina fica restrita aos cursos de graduação e perde penetração social. Em 1954,
Florestan Fernandes propôs uma análise sociológica sobre as possibilidades da
introdução da sociologia no ensino secundário brasileiro, partindo da avaliação da
posição deste nível de ensino no sistema educacional mais amplo, considerando este
sistema em relação às condições socioculturais que o suportam para, por fim, analisar os
1
Dentre os autores destacam-se: Alceu Amoroso Lima, Gilberto Freyre, Donald Pierson, Carlos Delgado
de Carvalho, Fernando de Azevedo, Antonio Carneiro Leão, Afro do Amaral Fontoura, Djacir Menezes e
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda.
1
efeitos da introdução de uma nova disciplina neste contexto. O ensino secundário
brasileiro dos anos 1950 é por ele definido como um tipo de educação estática que visa
unicamente a conservação da ordem social, impossibilitado de “tornar-se um
instrumento consciente de progresso social”, i.e., de uma educação dinâmica
(FERNANDES, 1976: 112-113). Para ele, naquela época, no sistema educacional do
tipo estático, as Ciências Sociais não podem exercer nenhum papel, fato que o autor
lamenta levando em consideração as condições de formação da sociedade brasileira, o
processo de democratização do ensino com a ampliação do acesso à escola, a
desagregação da ordem escravocrata, a instauração da democracia, a formação das
classes sociais e dos partidos políticos. Em face de todas essas mudanças sociais, à
escola não foi dado nenhum papel construtivo na “formação da consciência cívica dos
cidadãos” e Florestan Fernandes defende a legitimidade do ensino de sociologia na
escola secundária contribuindo justamente para a “formação de atitudes cívicas e para a
constituição de uma consciência política definida em torno da compreensão dos
direitos e dos deveres dos cidadãos” (FERNANDES, 1976: 117).
Outros intelectuais da época dedicaram-se a pensar o ensino da sociologia no
curso secundário como forma de divulgação dos conhecimentos sociológicos,
ressaltando diferentes aspectos, como Antonio Candido, Emilio Willems e Costa Pinto
que debruçaram-se sobre suas funções. Costa Pinto reforça a posição objetiva diante dos
fenômenos sociais à qual a sociologia pode contribuir oferecendo um conjunto de
noções básicas e operativas, ensinando técnicas, suscitando atitudes mentais, o espírito
crítico e a vigilância intelectual (COSTA PINTO, 1949). É necessário contextualizar as
percepções dos autores e apontar que a escola pública da década de 1950 era uma escola
para poucos, voltada principalmente para a formação da elite intelectual e dirigente do
país. Daí a defesa do ensino para a formação cívica e para a construção de um espírito
patriota imbuído de brasilidade e nacionalismo, realidade bem diferente da escola atual,
das massas, com a universalização do acesso à educação, com um público amplo e
extremamente heterogêneo.
Proponho articular os temas e questões dominantes na sociologia na metade do
século XX - tais como mudança social, a atuação dos cientistas sociais e as relações
entre sociologia e realidade nacional - com a preocupação relativa ao ensino de
sociologia na escola secundária expressa pelos intelectuais das Ciências Sociais no
Brasil neste mesmo período.
Referências Bibliográficas:
COSTA PINTO, L.A. Ensino de Sociologia nas Escolas Normais. In: Sociologia –
Revista Didática e Científica. São Paulo: Escola Livre de Sociologia e Política da USP,
vol.XI, nº 3, pp. 290-308, setembro de 1949.
FERNANDES, F. O ensino de Sociologia na Escola Secundária Brasileira. In:
FERNANDES, F. A sociologia no Brasil: contribuição para o estudo de sua formação e
desenvolvimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 1976 [1954], pp. 105-120.
MEUCCI, S. A Institucionalização da Sociologia no Brasil: os primeiros manuais e
cursos. Dissertação de Mestrado. Campinas-SP, IFCH-UNICAMP, 2000.
_______. Sobre a rotinização da sociologia no Brasil: os primeiros manuais didáticos,
seus autores, suas expectativas. Revista Mediações (UEL), v. 12, p. 31-66, 2007.
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