847 A equação de Dirac aplicada ao Grafeno Márcio de Moura Cunha1 ; Carlos Alberto de Lima Ribeiro2 1.Bolsista de Iniciação Científica do CNPQ, Graduando em Bacharelado em Física. 2.Orientador, Departamento de Física, Universidade Estadual de Feira de Santana. PALAVRAS-CHAVE: Equação de Dirac, Grafeno, Defeitos topológicos. INTRODUÇÃO No mundo atual, a busca por inovação e aperfeiçoamento tecnológico tem sido de grande motivação na busca por novos materiais. A física da matéria condensada (KITTEL1986), por exemplo, estuda diversos materiais sob o ponto de vista de suas propriedades físicas, bem como possíveis aplicações. Neste cenário, um caso particular é o material conhecido como grafeno, sintetizado pela primeira vez em 2004 (NOVOSELOV,2004) e muito interessante sob diversos aspectos. Nesse trabalho, estudamos como aplicar a equação de Dirac, uma equação de onda relativística para o elétron (SAKURAI,1967), na descrição dos portadores de carga neste material. Para isso, inicialmente nos preocuparemos com os pilares da teoria quântica relativística, para então prosseguir na aplicação ao referido material. DEDUÇÃO DA EQUAÇÃO DE DIRAC E ALGUNS ASPECTOS FORMAIS A mecânica quântica desenvolvida no início de século XX, descreve com precisão a dinâmica de partículas na escala subatômica. No entanto, a equação de Schrödinger (GRIFFITHS,1995), sua principal ferramenta, não se mantém invariante sob transformações de Lorentz, e portanto, não está de acordo com a Teoria da Relatividade Especial (TRE) de Einstein (WALECKA,2007). Deste modo, começou-se uma busca por uma teoria relativística para partículas de spin ½ , como o elétron. A primeira tentativa veio com a equação de Klein-Gordon , mas sem sucesso. A mecânica quântica utiliza uma interpretação estatística para a função de onda, conhecida como interpretação de Born. Assim, a medida dos grandezas físicas são feitas por meio de operadores, conhecidos como observáveis, que aplicados à função de onda, nos retornam tais valores. Portanto, a noção de probabilidade deve estar bem definida, isto é, esta deve ser positiva. A equação de Klein-Gordon apresentou problemas em relação à definição de probabilidade. A equação de Klein-Gordon é de segunda ordem na derivada temporal. Isto implica que a probabilidade definida nesta teoria, pode ser negativa. Com isso, se concentrou um esforço na obtenção de uma outra equação. O físico Paul Dirac, particularmente , ao analisar este problema, se deu conta de que a equação 848 procurada deveria ser de primeira ordem na derivada temporal, assim como a equação de Schrödinger. Assim, ele partiu da relação para energia relativística e obteve a seguinte equação: Esta equação já corresponde a equação de Dirac. Agora, veremos como aplicá-la ao grafeno. APLICAÇÕES AO GRAFENO O grafeno (KATSNELSON, 2007) consiste essencialmente de uma única camada de átomos de carbono arranjados de forma hexagonal, como mostra a figura a seguir: Fig1: Uma folha de átomos de carbono arranjados de forma hexagonal. O grafeno apresenta uma relação de dispersão linear, isto é, a energia depende linearmente do vetor de onda. A figura abaixo ilustra isto: Fig.2: Estrutura de bandas do grafeno. Em vermelho, tem-se a banda de condução, em abaixo, em azul, a banda de valência. Elas se tocam nos pontos K e K’, conhecidos como pontos de Dirac. Também se percebe o caráter linear da relação de dispersão próximo à estes pontos. Quando uma partícula (elétron) migra da banda de valência para a de condução, surge um “buraco” na banda de valência, que se comporta como uma partícula positiva (anti-partícula). Dito isto, podemos ver como estabelecer a ponte entre a equação de Dirac e o grafeno. Esta equação admite soluções para partícula livre, do tipo onda plana, que 849 admitem soluções para partícula (elétron) e anti-partícula (pósitron), com o seguinte valor (em módulo) de energia: Portanto, se tomarmos a massa nula na expressão acima, também teremos uma relação de dispersão linear. É exatamente isto que é feito na descrição dos portadores de carga no grafeno. Estes se comportam como partículas e anti-partículas de Dirac, mas com a massa nula. Isto é bem estabelecido teoricamente e experimentalmente. Dito isto, é nosso interesse estudar a aplicação da equação em outra situação, isto é,além de usar a equação de Dirac para estudar o grafeno “usual”, é possível ainda estudar a aplicação desta ao grafeno na presença de defeitos topológicos. Tais defeitos estão associados com algum tipo de quebra de simetria, e são muito importantes em matéria condensada, porque a presença destes acarreta novas propriedades físicas. É também nosso objetivo investigar estes aspectos. Anteriormente, escrevemos a equação de Dirac no espaço plano. No entanto, é possível escrevê-la de maneira mais geral, para um espaço arbitrário. Com o a idéia de formas diferenciais (CARMO,1994), pode-se chegar a tal equação. No nosso trabalho, seguindo o procedimento adotado em (FURTADO,2008), escrevemos a equação de Dirac para o grafeno na presença de uma desclinação, que corresponde a uma quebra de simetria rotacional. Assim, usamos o elemento de linha Escrevemos a equação de Dirac para o grafeno da seguinte maneira, já considerando a massa nula: O termo É conhecido como derivada covariante, que é um tipo de derivada que, além da derivada usual, carrega um termo de conexão, que serve como uma correção para o espaço curvo. Doravante, os índices gregos representarão espaço curvo, enquanto os latinos, o espaço plano. Assim, as matrizes gama nos dois espaços se relacionam por: Assim, as um-formas servem para conectar os dois sistemas de coordenadas. Deste modo, após algumas manipulações podemos escrever a equação de Dirac modificada para um meio com desclinação como 850 Se tomarmos alfa igual a 1, teremos o caso da equação de Dirac em coordenadas polares. CONCLUSÕES Neste trabalho, estudamos alguns aspectos referentes a formulação e aplicação da equação de Dirac. Esta surge como uma busca de uma teoria relativística para o mundo quântico. Vimos como pode ser feita uma analogia entre partículas sem massa e os portadores de carga no grafeno, devido a expressão parecida para a energia. Diante disto, verifica-se a importância do trabalho de Dirac para a Física contemporânea, no sentido que sua equação de onda proporcionou uma imenso avanço nas concepções acerca do mundo quântico, sendo que esta equação e, nos dias atuais, peça-chave para o estudo de diversas áreas da Física, como em Teoria de Campos, sistemas da Matéria Condensada, etc. Além disso, proporciona a investigação de sistemas em espaços curvos, o que pode nos ajudar num possível caminho para um diálogo mais próximo entre a Mecânica Quântica e a Relatividade Geral, por exemplo. Temos como perspectiva continuar nosso estudo sobre a equação de Dirac, buscando uma maneira de inserir outros tipos de defeitos topológicos para o grafeno, como deslocações, por exemplo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KITTEL, C., Introduction to Solid State Physics, John Willey & Sons, (1986). NOVOSELOV, K.S., et al., Eletric Field E_ect in Atomically Thin Carbons Films, Science v.306 666 (2004). SAKURAI, J. J. (Juan John). Advanced quantum mechanics. Reading, Mass: Addison-Wesley, 1967. 336p (Addison-Wesley series in advanced physics ) ISBN 0201-06710-2 (broch.) GRIFFITHS, D. J., Introduction to quantum mechanics, Prentice Hall, New Jersey,( 1995). WALECKA, J. D., Introduction to General Relativity, World Scienti_c, 2007. KATSNELSON,MIKHAIL. , Graphene: Carbons in two dimensions, Materials Today, vol.10, No. 1-2 (2007). CARMO, Manfredo Perdigao do. Di_erential forms and applications. Berlin: Springer-Verlag, c1994.. 118p. ((Universitext)) ISBN 3-540-57618-5 : (Broch.) FURTADO, C ; MORAES, F ; CARVALHO, A. M. D., Geometric phases in graphitic cones. Physics Letters A, p. 5368, 2008.