Vargas, Olimpíadas e Sentimento Nacional Carol Proner* A era Vargas, relembrada nesta semana pelo cinqüentenário da morte de Getúlio Vargas (24/08/54), empresta lembranças importantes ao momento em que vive a política externa brasileira. O período do nacional-desenvolvimentismo divide opiniões e recebe críticas, especialmente daqueles que, a partir da década de 90, iniciaram a implantação de um modelo de desenvolvimento em bases amplamente liberalizantes; independentemente das críticas, no entanto, Getulio Vargas sempre será lembrado como sinônimo de nacionalismo. O “sorriso do velhinho” não apenas fez o país trabalhar, mas também inventou a auto-estima no plano político, conforme palavras de Carlos Lessa. Em anos de eleição, como o atual, torna-se natural uma revalorização do ambiente político. Mas não apenas a proximidade do “dia do voto” traz à tona o sentimento nacional. Desde que o atual governo teve início, qualquer linha de análise – oposição ou situação – está atenta aos passos administrativos de uma gestão que nunca havia governado em âmbito federal. Com o aumento do debate em todos os níveis, o povo brasileiro participa mais intensamente do ambiente político, exercendo seus direitos para além das urnas. E se a cada “vitória do Brasil” em âmbito internacional a nação com ele se identifica e vibra, sentindo-se cada vez mais vitoriosa e soberana; a cada derrota, o peso igualmente é sentido com mais intensidade. O contexto das olimpíadas da mesma forma incita à valorização nacional. A todo instante somos estimulados pela contagem de medalhas, vivendo a expectativa de uma nova vitória brasileira. O atleta venera a bandeira e anima o orgulho nacional. Mas, quanto se trata de relações internacionais, o sentimento nacional deve ser experimentando com cautela. Em tempos de economia globalizada, quando interesses se aglutinam em blocos no tabuleiro mundial, não há espaço para nacionalismos exacerbados. O Brasil disputa mercados e ganha posições quando atua em bloco. O país acerta quando interage com outras nações da América Latina buscando construir identidades e interesses comuns. Ganhamos com a valorização de outras nações, não apenas comercialmente, mas também social e culturalmente. Mas, definitivamente não ganhamos com a lembrança constantemente repetida pelos veículos de comunicação de que a Argentina segue atrás do Brasil no quadro de medalhas... * Professora de Direitos Humanos e Relações Internacionais da UNIBRASIL. [email protected]