ABORDAGEM ESTRUTURALISTA Jaime da Silva Lopes RESUMO Observando o percurso de Lévi-Strauss encaminhamos a interpretação estruturalista para o confronto funcional com Radcliffe-Brown. PALAVRAS-CHAVE antropologia social, etnografia, estruturalismo, oposição binária Num contexto marcado por múltiplas pesquisas etnográficas, após uma fase inicial da considerada Antropologia de gabinete, Claude Lévi-Strauss deu à Antropologia um enorme contributo através das experiências em áreas por explorar, dando atenção a novas esferas de abordagem − do parentesco às sociedades complexas. Criando o Laboratório de Antropologia Social impulsionou a realização de trabalhos em grande escala, de forma coletiva, fomentando a partilha de conhecimento, de modo a que as experiências etnográficas individuais fossem «um trunfo para tentar responder a questões gerais de ordem teórica». Defensor da interdependência entre o social e o cultural, tentando «compreender as propriedades formais da vida social fazendo variar os contextos», concetualizou a investigação sobre a diversidade humana, e as suas diferenças sistemáticas, que devem aliás ser procuradas, já que «todo o trabalho de inteligibilidade da vida social consiste em valorizar esse caráter sistemático da diferença das variações». 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 1 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected] ABORDAGEM ESTRUTURALISTA Assim, foi o precursor dos trabalhos sobre as sociedades complexas, impondo à Antropologia teórica a necessidade do trabalho etnográfico, também para a compreensão de realidades contemporâneas. Introduziu um método de conhecimento propenso à multiplicidade de abordagens, possibilitando perspetivas para lá da conceção sociológica, com a originalidade do trabalho sob a procura de fenómenos inconscientes. O método que aplicou, influenciado pela Linguística – onde o signo é o resultado do aspeto duplo da interpretação, do subentendido, do significado, com o significante, visível, empírico − incide sobre a estrutura subjacente que só se revela nos modelos que cria com esse trabalho etnográfico, a partir do observável, pelo método dedutivo, e não na realidade empírica: quando «a estrutura é atingida pela construção dedutiva de modelos abstratos». Os modelos devem considerar a dependência entre os seus elementos, por solidariedade, através dos quais se obtém grupos de modelos tipificados por transformações ordenadas. Não correspondendo à realidade empírica, que é uma fonte de revelação, para lá dos seus elementos, a estrutura emerge sobre estes para um desenho sistémico das transformações, contribuindo para a previsibilidade da reação do modelo, no caso de modificação dos elementos. Permite também evidenciar as estruturas inconscientes das instituições, procurando invariantes. Acrescento que, com o estruturalismo, a produção de pertinência para o lado das respostas eleva os meios de interpretação universal que a antropologia fita. A análise estrutural assenta em dualismos, com duas ordens de realidade: no sistema de parentesco, composta pelo sistema terminológico, os termos do tipo de relações familiares; e o sistema de atitudes, comportamental e subjacente, de respeito ou familiaridade, de direito ou dever, afeição ou hostilidade. Assim, «o sistema resulta da coerência de sistemas de oposições, do tipo binário» − 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 2 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected] ABORDAGEM ESTRUTURALISTA distanciando-se da ideia em que o sistema de atitudes é o reflexo do terminológico. Esta é a abordagem estruturalista de Radcliffe-Brown que enfatiza o papel funcional na realidade concreta. Este autor considera a estrutura na disposição ordenada dos seus elementos, os indivíduos nas suas inter-relações, vinculados às relações sociais. Contextualiza os indivíduos para um papel funcional na sociedade. Penso que, para Radcliffe-Brown, a rejeição cultural na investigação faz com que as invariantes sejam procuradas no estatuto social, nas relações interpessoais. Procura a forma estrutural das relações, independentemente do fator temporal e das alterações consequentes, como a morte e o nascimento. A observação comportamental e as formas de associação que existem entre seres humanos revelam a estrutura social. Defendia que «o primeiro fator determinante de um sistema de parentesco é fornecido pela extensão em que estas relações são efetivamente reconhecidas para fins sociais em todas as actividades». Contudo, não distingue estrutura social e relações sociais. Lembro que para Lévi-Strauss a estrutura não pode ser captada no concreto da realidade. A oposição binária é perceptível entre os Bororo, através do tipo de estrutura, diametral, com um sistema complexo de dualismos, sendo relevante a distinção entre elementos, geograficamente, na divisão espacial das casas entre as duas metades exogâmicas, subdivididas em clãs com diversas linhagens hierarquizadas com as oposições binárias mais/menos e maior/menor, na idade e na importância. Podemos interpretar o sistema de atitudes com o sistema terminológico, quando se conclui que pessoas do mesmo clã mas de linhagens diferentes não 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 3 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected] ABORDAGEM ESTRUTURALISTA podem viver na mesma casa – numa interpretação sobre a necessidade de encontrar modos de coexistência pacífica na vida social. Separando-se da natureza, contribuindo para institucionalizar o ‘casamento’ entre grupos, ou na dicotomia direitos e deveres para com as irmãs, de quem o homem fica incumbido, projetando-se então nos filhos destas, e permitindo assim compreender a necessidade da atitude; ou na oposição morte e vida, no ritual da vingança do morto, através do seu representante, sobre o bope, consagrando assim a vida na situação factual da morte – em que, com um registo de interpretações sobre as transformações, esta oposição alude à sobrevivência e renovação perante a condição humana. Deste modo, ficam identificados «os domínios de eleição da análise estrutural: o parentesco e a mitologia, com as hipóteses implícitas, da natureza dos factos sociais e do espírito humano». BIBLIOGRAFIA Referências bibliográficas omitidas – contacte o autor PUBLICAÇÃO DA SILVA LOPES, Jaime, Abordagem Estruturalista. Lisboa, 2010. 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 4 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected]