Movimento das mulheres pescadoras

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MOVIMENTO DAS MULHERES PESCADORAS:
GÊNERO,EDUCAÇÃO E SERVIÇO SOCIAL1
Patrícia da Costa OLIVEIRA2
Christian MULEKAMWEWA3
RESUMO: O presente artigo tem por finalidade abordar as perspectivas de ações do Movimento das Mulheres
Pescadoras existente na cidade de Laguna/SC. A pesquisa é continuidade do desenvolvimento do Trabalho de
Conclusão da graduação da autora e é parte de uma pesquisa mais ampla financiada pelo CNPq (2013-2014). Por
conseguinte, relaciona-se frente ao empoderamento das mulheres nas relações com ás comunidades locais, como
forma de promover o incentivo à educação em contextos não-escolares pelos grupos de mulheres possibilitando
o acesso destas aos direitos sociais e a ampliação da cidadania. A educação é entendida como direito social
inerente ao cidadão brasileiro e desta forma tem a função formativa do indivíduo intervindo diretamente na
constituição da sua identidade. Neste sentido, salientamos ainda como os movimentos sociais, fruto das
construções históricas de lutas da sociedade, configuram-se de maneira inovadora na contemporaneidade e
relaciona as práticas pedagógicas como sendo objeto de trabalho das assistentes sociais.
PALAVRAS-CHAVE: pescadoras; gênero; empoderamento; movimentos sociais e educação.
Introdução
O presente artigo tem por finalidade abordar as perspectivas de ações do Movimento
das Mulheres Pescadoras existente na cidade de Laguna/SC composto por residentes na região
peninsular do município. A pesquisa é continuidade do Trabalho de Conclusão da graduação
da autora, onde a mesma objetivava compreender a ação do serviço social sobre a realidade
das famílias das mulheres pescadoras na região peninsular de Laguna-SC, visando a
potencialização para a geração de renda e da análise das alternativas socioeconômicas, como
por exemplo, economia solidária, cooperativismo solidário e inclusão produtiva que poderiam
ser protagonizadas pelas mulheres pescadoras beneficiárias do programa bolsa família desta
comunidade. O trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla financiada pelo CNPq (20132014). Por conseguinte,sua interface relaciona-se frente ao empoderamento das mulheres nas
relações com ás comunidades locais, como forma de promover o incentivo à educação em
contextos não-escolares pelos grupos de mulheres possibilitando o acesso destas aos direitos
sociais e a ampliação da cidadania.Desta forma, relaciona as práticas pedagógicas como sendo
objeto de trabalho das assistentes sociais e salientando a importância destas para os
movimentos sociais.
Propomos uma discussão da questão entre os Movimentos Sociais e a Educação, como
estes se complementam nas práticas pedagógicas em contextos não-escolares contribuindo, no
caso das mulheres pescadoras, para o empoderamento social e o protagonismo feminino.
Fundamenta-se que a assistente social4 é por principio uma educadora social que deverá na
1
Este artigo é continuidade da pesquisa iniciada no TCC e fundamentou-se a partir das aulas de “Educação
Popular e Movimentos Sociais” no curso de serviço social no segundo semestre de 2012
2
Mestranda no Programa de Pós-graduação da Universidade do Sul de Santa Catarina.email:[email protected]
3
Doutor em Educação pela universidade Federal de Santa Catarina, professor no Programa de Pós-graduação da
Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail: [email protected]
4
O curso de Serviço Social forma na sua imensa maioria profissionais do sexo feminino. Sendo assim, neste
ensaio nos referiremos ao profissional formado por curso no gênero feminino para fazer juz à equidade de
1
sua práxis se apoderar de conhecimentos pedagógicos, com o intuito de praticar ações
socioeducativas que elevem à qualidade de vida dos indivíduos e possibilitem uma ampliação
do conhecimento inerente à qualidade de cidadão brasileiro.
A educação é entendida como direito social inerente ao cidadão brasileiro e desta
forma tem a função formativa do indivíduo intervindo diretamente na constituição da sua
identidade. Neste sentido, salientamos ainda no decorrer do artigo como os movimentos
sociais, fruto das construções históricas de lutas da sociedade, configuram-se de maneira
inovadora na contemporaneidade. Um movimento social surge a partir de uma necessidade
causando sobre ela um impacto positivo ou negativo, porém de fortalecimento de bases e
experiências que se vivenciam empiricamente, aos quais possibilitam a interação de sujeitos e
a organização da sociedade civil.
Um movimento social parece distante, mas uma vez que vamos compreendendo seus
conceitos/dimensões e conseguimos identificá-lo nas nossas redes sociais e que vemos o
quanto estão mais perto do que nosso senso comum permite perceber.
Neste artigo abordaremos o Movimento das Mulheres Pescadoras proposto como
articulador do possível empoderamento social às mulheres pescadoras da região. Atualmente
o trabalho movimento das mulheres pescadoras, empenha-se na articulação com a pastoral dos
pescadores para a promoção da cidadania às mulheres que se unem ao movimento
voluntariamente.
Sendo assim, entendemos que as ações coletivas dentro da sociedade civil tornam-se
produto de trabalho da assistente social, pois estas mediam as tensões dos grupos sociais por
meio do trabalho educativo e interventivo como prática inovadora de ação.
Educação e os Movimentos Sociais
Para fundamentar este tópico iremos utilizar contribuições de Maria da Glória Gohn
em seu artigo “Movimentos Sociais na Contemporaneidade”, texto que a autora procura
relacionar o debate conceitual dos movimentos sociais e como estes se relacionam atualmente
com a educação. Para ela os movimentos sociais podem ser encarados como “[...] ações
sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a
população se organizar e expressar suas demandas [...]”(GOHN,2011,p.335), ou seja, os
movimentos sociais são atitudes sociais frente às tensões ou pressões que determinados
grupos vivenciam na sociedade. Possuem algumas características básicas que os define, como
o fato de possuírem uma identidade, conceito que o define, ter um opositor e articulam ou
projetam uma proposta de ação. No caso dos Movimentos das mulheres pescadoras em
Laguna, sua identidade é a classe pesqueira reconhecida pela figura da mulher neste
movimento e posicionam-se contra o enfraquecimento da classe e a necessidade de
fortalecimento do trabalho como aspecto cultural das comunidades.
Conforme Silva et al, no artigo “A concepção onto-marxista do ser social: elementos
de compreensão”, as autoras objetivam discutir a constituição do homem enquanto ser social
sobre o prisma da ontologia marxista. As autoras desenvolvem o artigo em um constante
diálogo com teóricos clássicos e contemporâneos, trazendo reflexões que o fundamentam
sobre a perspectiva da materialidade marxista que os indivíduos produzem seus meios de
vida, ou seja o trabalho é a forma de diferenciação dos animais. Conforme estudo, o trabalho é
formado por posições teleológicas que objetivam e sustentam sentido a produção das
atividades humanas. Essa é a premissa básica da ontologia marxiana em que o materialismo, a
práxis-social não existem por existir, estes atos são conscientes e idealizados e pontuam as
gênero. Se o discurso Forma, então atualizemos o nosso. Claro que não negamos a presença masculina neste
ambiente, porém é sabido que esta presença é muito reduzida.
2
nossas decisões. Sendo assim, o homem pode ser considerado um ser social que seus sentidos
são posicionados através do trabalho. (SILVA et AL, 2010 p. 53) Esta relação forma na sua
totalidade o caráter do individuo fortalecendo a consciência crítica e reflexiva das suas
realidades.
Ainda posso dizer que os movimentos sociais educam e socializam os sujeitos sociais
por meio de uma educação em contextos não-escolares, baseada nas experiências empíricas
vivenciadas. (GOHN,2011,p.336)
[...] a educação nos movimentos sociais existe a partir de ações práticas ocorrendo
de duas formas: na interação dos movimentos em contato com as instituições
educacionais e no interior do próprio movimento social, dado ao caráter educativo
das ações [...] (Gohn, 2011,p.334)
A construção dos conhecimentos pode ser vivenciada em diversos espaços, não se
restringindo à escola como instituição única de formação, muito pelo contrário, as relações
sociais com os diferentes meios contribuem, negativamente ou positivamente, para a
formação educativa dos indivíduos.
O aprendizado dos direitos pode ser destacado como uma dimensão educativa. Os
movimentos sociais colocam a luta pela escola no campo dos direitos. Na fronteira
de uma pluralidade dos direitos: a saúde, a moradia, a terra, o teto, a segurança, a
proteção da infância, a cidade. (ARROYO,2003,p.30)
Ao longo dos tempos o movimento pela educação permitiu que esta fosse vista como
um direito se desfazendo dos antigos preceitos paternalistas. A luta pela educação amplia o
acesso à cidadania e democratiza os saberes como possibilidade de desalienação da
população, prevê então [...] a educação como um processo de humanização dos sujeitos
coletivos diversos [...] (ARROYO,2003,p.34).
Pablo Gentili em seu artigo “O direito à educação e as dinâmicas de exclusão na
América Latina”(2009,p.1072) onde este analisa o processo de exclusão e desigualdades na
inclusão educacional. Ela ainda utiliza a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948
que reconhece que a educação é um direito humano, “um bem público e social”, que nos
ajuda a nos reconhecermos como seres humanos livres e iguais e direitos e a lutar como toda
forma de exclusão, [...] A educação protege-nos e é a defesa de nossa identidade [...], Gentili
ainda explica nesta afirmação que a educação protege e molda a identidade do indivíduo
projetando novas possibilidades e perspectivas.
Além disto, transversalizam os conhecimentos e envolvem questões como direitos
humanos, culturais, civis, políticos, gênero, etnia, nacionalidade, religiões, enfim temas que
conscientizarão de forma crítica para o agir e pensar os atores sociais. (GOHN, 2011,p.347)
Movimento das Mulheres Pescadoras e o Contexto social no município de Laguna/SC
A assistência social assume o papel de política pública como direito do cidadão e de
responsabilidade do Estado. Transita, portanto, para o campo da universalização dos acessos
em contradição ao antigo caráter filantrópico assistencialista que marcou historicamente a
questão da assistência social em nosso país. A filantropia não reconhecia a assistência social
como política pública e suas ações eram dispensadas e concebidas, coordenadas e financiadas
de maneira pontual e centralizada. A efetivação das políticas públicas, no Brasil, fundamenta-
3
se como uma porta para a inclusão social da população. A trajetória histórica5 da questão da
assistência social no município de Laguna é marcada por diversas transformações.
Atualmente está adequada às normas vigentes estruturantes da Política Nacional da
Assistência Social (PNAS). Conforme o Plano Municipal de Assistência Social do município,
o trabalho do Serviço Social está articulado com outras políticas públicas, como por exemplo,
à educação, ao trabalho e renda, à cultura e lazer e à saúde, e aos conselhos municipais,
devido à necessidade de um planejamento estratégico para identificar as fragilidades e
necessidades do município.
A figura da mulher historicamente sofreu e ainda sofre discriminações nas várias
dimensões sociais. Contudo, se observa um tímido avanço no decorrer dos séculos. Os
direitos femininos conquistados estão sendo alcançados e as políticas sociais estão sendo
elaboradas especificamente para o público feminino. Para exemplificar este fato, ressaltamos
as políticas de proteção, de inserção e de promoção da cidadania materializadas no Plano
Nacional de Políticas para as Mulheres, na Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006, Maria da
Penha, a qual dispõe de mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher. O desafio maior é tornar essas políticas e legislações presentes na sociedade, sendo
realmente efetivadas como direitos, até mesmo porque estas são muito recentes na história da
legislação brasileira.
Atualmente, existe um desconhecimento de uma legislação específica que proteja as
mulheres pescadoras nas suas possibilidades e limitações socioculturais ou econômicas na
qualidade de trabalhadoras.
As mulheres que vivem da pesca em sistema de economia familiar, ou são pescadoras
por conta própria, têm o direito de contribuir para o regime previdenciário em nível de
igualdade com os homens ou qualquer outro trabalhador com registro da sua atividade
profissional na carteira. Ambos, homens ou mulheres, quando comprovada a atividade
pesqueira, contribuem para a previdência social por intermédio da Colônia de Pescadores. O
registro da pesca é obrigatório para se exercer a profissão, tanto para os homens como para as
mulheres, tendo em vista que durante os períodos de Defeso6 dos pescados como: camarão,
anchova e bagre, os pescadores recebem um rendimento mensal correspondente ao período
em que a pesca está proibida chamado seguro da pesca, ou auxílio-defeso.
Segundo o diagnóstico social do município de Laguna retirado do Plano Municipal de
Assistência Social (2010-1013), a herança cultural da cidade salienta-se pela colonização
local da região que foi predominantemente portuguesa. Essa herança pode ser percebida no
paisagismo da cidade e nos modos de produção e hábitos alimentares, como ponto forte para a
pesca, criação de gados, agricultura familiar e pequenas plantações, aspectos predominantes
devido à localização geográfica costeira e interiorana. Todo esse legado de costumes conduz a
população aos hábitos simples que influenciam diretamente na educação das gerações futuras.
Essas influências se manifestam nas escolhas das mesmas profissões dos pais pelos filhos que
iniciam a vida profissional quando adolescentes em regime de economia familiar ou
atividades braçais e cargos com pouca remuneração. A questão não seria problema relativo,
caso essas famílias não acabassem se tornando dependentes do sistema social do município.
5
6
Nossa intenção não é realizar um estudo historiográfico e sim abordar alguns fatos históricos para compor e
reforçar o nosso argumento.
Defeso compreende o período em que a pesca de algum tipo de pescado é proibida, no caso da região de
Laguna o camarão, bagre e anchova. O período de defeso do camarão é de julho a novembro, o do bagre é de
novembro a janeiro e o da anchova é de novembro a fevereiro. Estes são os períodos de reprodução das
espécies, durante esta época os pescadores artesanais recebem um rendimento mensal oferecido pelo governo
federal que varia conforme a renda do pescador cadastrado no Ministério da Pesca. (BRASIL,2012).
4
O município possui nas suas extensões uma região peninsular, contando com oito
bairros comunitários, entre eles: Ponta da Barra, Passagem da Barra, Campos Verdes, Santa
Marta e Santa Marta Pequena, Canto da Lagoa, Cigana e Farol de Santa Marta, totalizando
1.299 famílias, conforme relatório da Secretaria da Saúde, SIAAB, acessado em 21/09/2011.
A região é considerada rural, tendo como atividade econômica predominante a pesca como
forma de subsistência de grande parte da população. A grande dificuldade desta porção da
população lagunense quanto à viabilização do acesso aos serviços sociais municipais são as
vias de acesso, pois a estrada rural de ligação do município não possui asfaltamento, ligandose com a região central por intermédio de uma Balsa. Porém o governo do Estado está
asfaltando a estrada de ligação das comunidades, no qual irá trazer um bem-estar para a
comunidade tendo grande apoio de todos.
A realidade local atesta que grande parte das famílias sobrevive da produção pesqueira
de maneira artesanal e isolada da comunidade. Cada família pesca os seus produtos como
peixe, camarão e siri e os vende a baixo custo para as peixarias locais. O regime de produção
é basicamente familiar, sendo que o marido ou os filhos mais velhos pescam e as mulheres
limpam o pescado, e desfiam o siri para a venda. A figura da mulher é importante para a
economia da família, uma vez que ela complementa o trabalho do homem de forma
interligada, no entanto, segue como uma figura secundária, pois neste caso não é ela quem
pesca.
As comunidades pesqueiras do município de Laguna estão associadas por intermédio
da Pastoral dos Pescadores, a qual desenvolve ações para a potencialização e defesa dos
direitos dos trabalhadores da Pesca, juntamente com a Associação dos Pescadores e o
Movimento das Mulheres Pescadoras. Essas entidades trabalham na região propondo projetos
e reuniões que ampliam o acesso dos pescadores aos seus direitos e serviços ofertados pela
rede socioassistencial do município.
As mulheres pescadoras, organizadas pelo Movimento das Mulheres Pescadoras
inferem na sociedade atuando em medidas educativas, como por exemplo, campanhas de
sensibilização da saúde da mulher, esclarecimentos a respeito dos direitos da mulher quando
vítimas de violência doméstica, promoção de palestras que proporcionam o acesso ao crédito
direto aos agricultores.7
As mulheres pescadoras já possuem um ofício, porém o grande desafio dos órgãos
públicos é compreender a dinâmica das famílias e proporcionar estratégias que venham a
viabilizar o seu crescimento.
O Conselho Municipal de Assistência Social pode ser um órgão mediador entre a
implantação das políticas públicas e a efetivação dos direitos sociais, atendendo as
necessidades e articulando-se com as comunidades representadas paritariamente. O núcleo
representado pela classe de pescadores deve se articular no desenvolvimento de ações em prol
das comunidades.A constituição Federal de 1988 define em seu artigo 204 o seguinte:
“Art.204 – As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas
com recursos do orçamento da seguridade social, previsto no art.195, e além de
outras fontes [...]
[...] II –participação da população por meio de organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. [...] “(BRASIL,
1988)
7
No final do ano passado foi ofertado na região um curso pelo IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) na
modalidade EaD sobre “Manipulação e Higienização dos Pescados”, cerca de 10 mulheres pescadoras
participantes do Movimento realizaram o curso e algumas já encontram-se empregadas pelas fábricas
pesqueiras de Laguna.
5
Ainda mais, conforme a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS/93, no art. 16,
preconiza que as instâncias deliberativas de caráter paritário entre entidades governamentais e
a sociedade civil são: O Conselho Nacional de Assistência Social, Conselhos Estaduais de
Assistência Social, Conselho de Assistência Social do Distrito Feral e Conselhos Municipais
de Assistência Social. A composição dos Conselhos nas três esferas (municipal, estadual e
nacional) deve ser paritariamente composta por segmentos governamentais e da sociedade
civil, divididas entre entidades de assistência social, entidades de representação dos
trabalhadores do SUAS e usuários. Conforme a nova NOB/SUAS atualizada em 2012 (Norma
Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social) no artigo 119, §3º: “[...] no
exercício de suas funções os conselhos normatizam, disciplinam, acompanham, avaliam e
fiscalizam a gestão e execução dos serviços, programas, projetos e benefícios da assistência
social prestados pela rede socioassistencial.” A sociedade civil deve impor seu direito
constitucional de se representar. Os municípios tem a missão de fomentar estratégias para este
empoderamento.
Por isso, o artigo destaca a importância das famílias pescadoras para a economia do
município de Laguna, e mais ainda o papel da mulher pescadora diante da economia familiar.
A superação da pobreza cooperativada de forma sustentável será possível se ocorrer o
fomento de novas dinâmicas econômicas e sociais dentro das comunidades. O processo de
inclusão social produtiva para as mulheres pescadoras deve se fundamentar em ações
socioeducativas que potencializam sua condição de cidadã de direitos diante da conquista de
uma autonomia econômica e neste sentido o Movimento das Mulheres Pescadoras é de suma
importância para a superação deste conceito.
A ação socioeducativa e seu desenvolvimento, visa atender ás necessidades endógenas
das comunidades e no caso das comunidades pesqueiras, pode ser uma das formas de auxiliar
as famílias no descobrimento de novas potencialidades ou habilidades. O poder local deve
implementar programas que potencializem a inclusão produtiva nas comunidades,
promovendo a conscientização da importância do desenvolvimento de alternativas
socioeconômicas como maneira de complementar a renda das famílias pescadoras
Inovação e Movimentos Sociais
Pensar em educação popular tem uma característica forte de ter os sujeitos como seu
ponto de partida, com seus significados e culturas para não só ensinar, mas compreender.
Entendemos que as questões identitárias são inseparáveis das questões econômicas. A cultura
tem motivado comportamentos e condutas resistentes. Análises diversas têm destacado que os
novos movimentos sociais partilham um campo cultural comum, assim tensões sociais e
orientações culturais são inseparáveis. Ser contrário a esses movimentos é negar uma
sociedade mais democrática e mais justa.
Um dos pontos principais dos movimentos sociais contemporâneos é que estes unem
suas forças para atender uma dada necessidade e de certa forma transpõem suas fronteiras
atuando em âmbitos locais, regionais, nacionais ou até mesmo internacionais. Ampliam suas
fronteiras e inovam em suas práticas possibilitam um alcance maior pelo trabalho em redes.
Luís Paulo Bignetti (2011) em seu artigo “As inovações sociais: uma incursão por
ideias, tendências e focos de pesquisa” entende basicamente que o termo inovação, advém da
ideia de novidade, particularidade que quando relacionado ao lado social nos remete à
transformação ou impacto. Sendo assim entendemos que inovação social deve ser tudo aquilo
que exista de novo em prol de uma transformação na sociedade, que gere um impacto positivo
sobre os problemas sociais dos indivíduos.
Para o autor inovação social pode ser explicada como uma alternativa viável que
supere no futuro necessidades preeminentes. Essa alternativa gera soluções novas através de
6
participação e ação cooperada por meio dos indivíduos envolvidos, ou seja , grupos sociais,
comunidades ou a sociedade em geral. (BIGNETTI,2011,p.4-5)
Pensando nisso percebemos que o foco do conceito de inovação social permite se
relacionar com o objeto do trabalho da assistente social, entendida aqui como a profissional
habilitada para trabalhar diretamente com as expressões da questão social. No seu cotidiano,
essa profissão deve manter um olhar holístico sobre a realidade para visualizar novas
perspectivas de ações e distanciar de práticas funcionalistas que condicionem para um
trabalho burocrático ou até mesmo emergencial. A assistente social deve manter seu papel de
mediadora nas realidades dos grupos sociais ou comunidades.
Neste sentido, percebemos que os movimentos sociais almejam inovações sociais, ou
seja, [...] soluções novas para necessidades e aspirações sociais [...]”(BIGNETTI,2011,14).
Por meio da internet, os grupos atualizam-se e expõe suas ideias com o intuito de ampliar seus
horizonte e atingir todos os níveis da população democraticamente. Pelas articulações em
redes os diferentes grupos interligam-se em torno de afinidades e características que se
expressam coletivamente em concomitância de objetivos.
Serviço Social e os Movimentos Sociais: considerações conclusivas
Para a relação do Serviço Social com os movimentos sociais devemos compreender
que esta provém de um processo interativo da contribuição de vários agentes econômicos e
sociais, dependendo de atores internos e externos à organização, dispostos a compartilhar
informações que contribuam para a construção de novos conhecimentos.
Revela-se no atual cenário político social brasileiro a extrema importância de se pensar
em uma educação popular que massifique em um movimento de conscientização crítica da
população. Os movimentos sociais foram historicamente fundamentais para a consolidação
dos direitos e promulgação da atual Constituição Federal de 1988, porém o que se percebe é
que vicemos uma ilusão social, uma vez que por já termos alcançados nosso direitos,
sociais,civis e políticos não nos preocupamos em vê-los consolidados no nosso cotidiano.
Durante décadas o Serviço Social tem tentado demonstrar para todos, que não é uma
profissão estática, e sim altamente dialética e dinâmica, não possui moldes e nem forma
própria podendo se efetivar nas mais diversas áreas e como diversas estratégias diferentes,
levando em consideração aspectos regionais, demandas e necessidades sociais nos territórios
de atuação. Com seu caráter sociopolítico, crítico e interventivo, tem ampliado a ação em
todos os espaços em que se transfiguram as desigualdades sociais que se originam do
antagonismo entre a socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho.
Trabalha essencialmente as relações sociais por meio de uma ação global de cunho
socioeducativo e de prestação de serviços. O seu fazer profissional exige um conhecimento
amplo sobre a realidade na sua complexidade e em criar meios para transformá-la na direção
do seu projeto político-profissional. (PIANA,2009,p.186)
A assistente social ocupa um lugar de privilegiado no mercado de trabalho, na medida
em que ela atua sobre produções bibliográficas, produzindo novos conhecimentos através de
uma atuação direta no cotidiano dos usuários. Esse é o principal instrumento de trabalho, a
visão e dimensão real dos valores e possibilidade de intervenção. (IAMAMOTO, 2004).
Portanto, o Serviço Social tem por principio básico a busca pela ampliação dos direitos
fundamentais dos cidadãos brasileiros e deve preservar, participar e mediar as relações de
tensões entre os movimentos sociais e os opositores que se estabelecem.
Este movimento de conscientização crítica não deve atuar de forma isolada, mas em
redes locais, regionais, nacionais e/ou globalizadas que vise à transposição de fronteiras, para
que as articulações possam se inovar rompendo as práticas conservadoras.
7
Os movimentos sociais tem um caráter educativo, o fazer com que a academia se
repense.Repensar que a construção dos saberes pode se estabelecer em diversos
contextos,escolares ou não-escolares, que podem se articular para um melhor
desenvolvimento dos sujeitos sociais.
Portanto, para que este propósito se efetive é imprescindível à capacitação técnica dos
atores sociais para a possibilidade do desenvolvimento socioeducativo dos diversos
movimentos sociais. A assistente social configura-se como uma profissional habilitada para o
tralho social em sindicatos, grupos associativistas,conselhos de direitos, movimentos
mobilizadores de conquistas de efetivação de direitos, mobilização em Ongs, entre outros
espaços que cada vez mais se ampliam no cenário brasileiro.
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