CÂNCER DE MAMA: O QUE A MULHER PRECISA SABER? * Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA Mônica de Assis, sanitarista do INCA Ao longo do mês de outubro, as mulheres receberam um grande volume de informações sobre o câncer de mama e algumas orientações-chave precisam ficar mais claras. O investimento na divulgação do tema se justifica. Além de ser o câncer que mais afeta as mulheres no Brasil e no mundo – depois do câncer de pele – o câncer de mama é passível de detecção precoce e tem boa perspectiva de tratamento, na maior parte dos casos. De quebra, figura ainda entre os cânceres com margem de prevenção. Estudos atuais acompanhados pelo INCA/Ministério da Saúde estimam que cerca de 28% dos casos de câncer de mama poderiam ser evitados por meio da alimentação saudável, controle do peso corporal e atividade física regular. Então, a primeira orientação para mulher é que ela saiba que existe possibilidade de reduzir o risco da doença por meio de práticas saudáveis. Por ser uma doença multifatorial e também ligada a fatores hormonais, genéticos e relacionados à vida reprodutiva, até há pouco tempo não se reconhecia essa possibilidade. A segunda orientação é que as mulheres conheçam as suas mamas e fiquem atentas aos sinais e sintomas suspeitos. Estamos falando de “autoexame das mamas”? Não exatamente. O autoexame das mamas foi propagado internacionalmente como um método de detecção precoce, nos anos 80, e propunha o treinamento da mulher para avaliar suas mamas segundo uma técnica específica e em determinado período do mês. A recomendação do autoexame foi substituída pela noção de Breast Awareness, que pode ser traduzida como "estar atenta às próprias mamas". A mudança veio após estudos comprovarem a pouca efetividade do autoexame na redução da mortalidade pelo câncer de mama. As pesquisas também apontaram que as mulheres descobriam seus tumores de forma casual, em situações cotidianas, e não pela rotina regular e padronizada do autoexame. É este o fundamento da mensagem "Fique atenta às suas mamas", parte da estratégia de diagnóstico precoce do Ministério da Saúde. A diferença é sutil, mas deve ser conhecida. Observar, sentir e palpar as próprias mamas continuam sendo importantes armas para reconhecer um tumor ainda pequeno, mas isso pode ser feito ao trocar o sutiã, na hora do banho, na intimidade com o parceiro, enfim, da forma mais adequada à rotina das mulheres. O fundamental é que as mulheres se familiarizem com as características únicas de suas mamas e saibam reconhecer os sinais e sintomas de alerta. Nódulos, em geral fixos e endurecidos, são a principal forma de apresentação da doença, estando presentes em cerca de 90% dos casos. Outras alterações podem ocorrer na pele ou no formato da mama, como vermelhidão, enrugamento, abaulamento ou retração. Também podem ocorrer alterações no mamilo e saída espontânea de líquidos, bem como nódulos no pescoço ou axilas. Esses sinais e sintomas podem não ser câncer, mas devem ser o quanto antes investigados. Então, a terceira mensagem para a mulher é que vale a pena procurar atenção médica após notar uma alteração suspeita na mama. Muitas vezes o medo que cerca ainda a palavra câncer pode impedir ou retardar a busca por ajuda. E não é pelo fato de a mulher ter percebido o tumor que é tarde demais, pois hoje são muitas as possibilidades de tratamento. A descoberta do câncer de mama pela própria mulher é uma realidade mesmo em países com amplo acesso à mamografia. A propósito, este exame, quando feito na ausência de sintomas suspeitos ou histórico familiar de câncer de mama, é recomendado para mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. É nesta faixa etária e periodicidade que se tem o melhor equilíbrio entre o benefício de descobrir a doença cedo e os possíveis riscos associados, tais como os resultados falsopositivos e falso-negativos, que geram excesso de exames ou falsa segurança, e também o diagnóstico e tratamento de cânceres que não ameaçariam a vida. O foco do Outubro Rosa não deveria ser a realização de mamografias, mas, sim, a promoção do acesso à informação, que permita que a mulher seja protagonista na prevenção e no diagnóstico precoce. A participação e a autonomia da mulher são essenciais, ao lado da busca de garantia do direito fundamental à saúde, mediante o acesso a serviços mais ágeis e com qualidade. O aperfeiçoamento da rede assistencial depende do esforço coordenado dos governos federal, estaduais e municipais e será decisivo para o melhor enfrentamento da doença. * Artigo de Opinião publicado no Correio Braziliense em 31/10/2016, p.13.