Artigo INCA Outubro Rosa 2016

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CÂNCER DE MAMA: O QUE A MULHER PRECISA SABER? *
Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA
Mônica de Assis, sanitarista do INCA
Ao longo do mês de outubro, as mulheres receberam um grande volume de
informações sobre o câncer de mama e algumas orientações-chave precisam ficar
mais claras.
O investimento na divulgação do tema se justifica. Além de ser o câncer que mais
afeta as mulheres no Brasil e no mundo – depois do câncer de pele – o câncer de
mama é passível de detecção precoce e tem boa perspectiva de tratamento, na
maior parte dos casos. De quebra, figura ainda entre os cânceres com margem de
prevenção. Estudos atuais acompanhados pelo INCA/Ministério da Saúde estimam
que cerca de 28% dos casos de câncer de mama poderiam ser evitados por meio da
alimentação saudável, controle do peso corporal e atividade física regular.
Então, a primeira orientação para mulher é que ela saiba que existe possibilidade
de reduzir o risco da doença por meio de práticas saudáveis. Por ser uma doença
multifatorial e também ligada a fatores hormonais, genéticos e relacionados à vida
reprodutiva, até há pouco tempo não se reconhecia essa possibilidade.
A segunda orientação é que as mulheres conheçam as suas mamas e fiquem
atentas aos sinais e sintomas suspeitos. Estamos falando de “autoexame das
mamas”?
Não
exatamente.
O
autoexame
das
mamas
foi
propagado
internacionalmente como um método de detecção precoce, nos anos 80, e
propunha o treinamento da mulher para avaliar suas mamas segundo uma técnica
específica e em determinado período do mês.
A recomendação do autoexame foi substituída pela noção de Breast Awareness,
que pode ser traduzida como "estar atenta às próprias mamas". A mudança veio
após estudos comprovarem a pouca efetividade do autoexame na redução da
mortalidade pelo câncer de mama. As pesquisas também apontaram que as
mulheres descobriam seus tumores de forma casual, em situações cotidianas, e
não pela rotina regular e padronizada do autoexame.
É este o fundamento da mensagem "Fique atenta às suas mamas", parte da
estratégia de diagnóstico precoce do Ministério da Saúde. A diferença é sutil, mas
deve ser conhecida. Observar, sentir e palpar as próprias mamas continuam sendo
importantes armas para reconhecer um tumor ainda pequeno, mas isso pode ser
feito ao trocar o sutiã, na hora do banho, na intimidade com o parceiro, enfim, da
forma mais adequada à rotina das mulheres. O fundamental é que as mulheres se
familiarizem com as características únicas de suas mamas e saibam reconhecer os
sinais e sintomas de alerta.
Nódulos, em geral fixos e endurecidos, são a principal forma de apresentação da
doença, estando presentes em cerca de 90% dos casos. Outras alterações podem
ocorrer na pele ou no formato da mama, como vermelhidão, enrugamento,
abaulamento ou retração. Também podem ocorrer alterações no mamilo e saída
espontânea de líquidos, bem como nódulos no pescoço ou axilas. Esses sinais e
sintomas podem não ser câncer, mas devem ser o quanto antes investigados.
Então, a terceira mensagem para a mulher é que vale a pena procurar atenção
médica após notar uma alteração suspeita na mama. Muitas vezes o medo que
cerca ainda a palavra câncer pode impedir ou retardar a busca por ajuda. E não é
pelo fato de a mulher ter percebido o tumor que é tarde demais, pois hoje são
muitas as possibilidades de tratamento.
A descoberta do câncer de mama pela própria mulher é uma realidade mesmo em
países com amplo acesso à mamografia. A propósito, este exame, quando feito na
ausência de sintomas suspeitos ou histórico familiar de câncer de mama, é
recomendado para mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. É nesta faixa etária
e periodicidade que se tem o melhor equilíbrio entre o benefício de descobrir a
doença cedo e os possíveis riscos associados, tais como os resultados falsopositivos e falso-negativos, que geram excesso de exames ou falsa segurança, e
também o diagnóstico e tratamento de cânceres que não ameaçariam a vida.
O foco do Outubro Rosa não deveria ser a realização de mamografias, mas, sim, a
promoção do acesso à informação, que permita que a mulher seja protagonista na
prevenção e no diagnóstico precoce. A participação e a autonomia da mulher são
essenciais, ao lado da busca de garantia do direito fundamental à saúde, mediante
o acesso a serviços mais ágeis e com qualidade. O aperfeiçoamento da rede
assistencial depende do esforço coordenado dos governos federal, estaduais e
municipais e será decisivo para o melhor enfrentamento da doença.
* Artigo de Opinião publicado no Correio Braziliense em 31/10/2016, p.13.
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