ESTUDO DA REDUÇÃO DE CROMO HEXAVALENTE UTILIZANDO-SE FILMES DE POLIANILINA EMPREGANDO-SE A TÉCNICA DE PLANEJAMENTO FATORIAL BOX-BEHNKEN Luís A. M. Ruotolo1 e José C. Gubulin2 1,2 Universidade Federal de São Carlos – Departamento de Engenharia Química Caixa Postal 676, CEP: 13565-905 São Carlos – SP - Brasil 1 [email protected], [email protected] RESUMO – Resíduos industriais contendo cromo hexavalente geram efluentes altamente tóxicos e o tratamento dos mesmos se faz necessário devido a problemas ambientais e econômicos. Este estudo foi desenvolvido com o intuito de tratar estes efluentes através de um processo eletroquímico utilizando o polímero condutor polianilina (PANI), a qual foi depositada na forma de filme fino sobre substrato de carbono vítreo reticulado (CVR). Foram estudados o efeito de cinco variáveis simultaneamente: 1) velocidade superficial de escoamento; 2) densidade de corrente elétrica aplicada; 3) espessura do eletrodo; 4) porosidade do eletrodo e 5) concentração de Cr(VI) no eletrólito. Devido ao número de variáveis estudadas, foi utilizado um planejamento fatorial de experimentos do tipo Box-Behnken de maneira a reduzir o número de experimentos. O processo foi analisado em termos da distribuição de potencial no eletrodo, estabilidade do polímero, eficiência de corrente, consumo energético e rendimento espaço-tempo. PALAVRAS-CHAVE: polímeros condutores, Cr(VI), carbono vítreo reticulado, eletrocatálise. ABSTRACT – Industrial wastewater containing hexavalent chromium generates highly toxic effluents whose treatment is necessary due the environmental and economical problems. In order to treat these effluents, an electrochemical process using the conducting polymer polyaniline (PANI) was proposed. A high specific area substrate, named RVC (reticulated vitreous carbon) was used for the electrodeposition of thin films of polyaniline. The effect of five variables was simultaneously studied: 1) flow velocity; 2) current density; 3) electrode thickness; 4) electrode porosity and 5) Cr(VI) concentration. Due to the number of variables studied, a Box-Behnken fatorial design was used in order to reduce the number of experiments. The process was evaluated in terms of the potential distribution inside the electrode, polymer stability, current efficiency, energy consumption and space-time yield. 1. INTRODUÇÃO O cromo está presente na natureza comumente em dois estados de oxidação, Cr(III) e Cr(VI). O Cr(VI) é notoriamente móvel na natureza enquanto que o Cr(III) é prontamente precipitado ou adsorvido por uma variedade de superfícies orgânicas e inorgânicas próximas ao pH neutro. Portanto, a redução do cromo para o estado trivalente serve para imobilizá-lo e consequentemente facilitar o tratamento do efluente (Wei et al., 1993). Devido a seus efeitos tóxicos, como genotoxidade e carcinogenicidade, as concentrações de descarte dos resíduos contendo Cr(VI) são rigorosamente controlados (1,5 mg.L-1 para emissão em rede de esgoto segundo a CETESB, 1997). Existem várias fontes geradoras de efluentes contendo cromo hexavalente, tais como as indústrias de cromeação e couro, por exemplo. Produtos químicos, como SO2, FeSO4 ou metabissulfito de ferro são comumente utilizados para a redução do Cr(VI); contudo, estes produtos químicos são consumidos irreversivelmente no processo. Visando substituir a técnica convencional de redução do Cr(VI), surgiu então o processo eletroquímico que emprega filmes finos de polímeros condutores (Wei et al., 1993), os quais têm a capacidade de transferir elétrons espontaneamente para o Cr(VI) a partir de sua forma reduzida (Alatorre et al., 1998). Liao et al. (2003), em estudo comparativo da cinética de redução de Cr(VI) por polipirrol e polianilina em condições de circuito aberto e fechado (com a imposição de um potencial catódico), mostraram a inviabilidade da utilização do polipirrol em ambas as condições operacionais. Em circuito aberto a limitação se deveu principalmente à degradação e, em circuito fechado, a cinética de redução foi bastante inferior à observada para a polianilina. Diante do forte efeito eletrocatalisador da polianilina, sua estabilidade em condições de circuito fechado e da sua facilidade de síntese aliada ao baixo custo do monômero, optou-se então por sua utilização neste trabalho, no qual foram estudados o efeito de cinco variáveis, utilizando-se o método estatístico denominado planejamento fatorial de experimentos do tipo Box-Behnken. As variáveis estudadas foram: 1) velocidade de escoamento do eletrólito; 2) densidade de corrente aplicada; 3) espessura do eletrodo; 4) porosidade do eletrodo e 5) concentração de Cr(VI). As respostas analisadas foram a eficiência de corrente e o consumo energético, ambas relacionadas aos custos operacionais do processo. O rendimento espaço-tempo também foi calculado e está diretamente relacionado aos custos de investimento. Também foram obtidos perfis de sobrepotencial no interior do eletrodo poroso de maneira a se conhecer melhor seu comportamento eletroquímico. 2. EXPERIMENTAL 2.1. Preparação do Eletrodo de CVR/PANI O filme de polianilina foi eletrodepositado sobre uma matriz porosa de carbono vítreo reticulado (CVR) com dimensões de 1,27 x 4,0 x 7,0 cm e diferentes porosidades. A síntese foi feita em um reator de fluxo utilizando-se uma bomba peristáltica. O reator consistia de um alimentador de corrente, uma tela de separação e um contraeletrodo (semelhantes aos descritos na Figura 1). Um compartimento central com 1,27 cm de espessura alojava o substrato de CVR. O procedimento de eletrodeposição consistiu basicamente em se fazer circular o eletrólito (0,1 mol.L-1 de anilina em solução 1,0 mol.L-1 de H2SO4) pelo reator no qual estava inserido o substrato de CVR. A síntese ocorreu sob condições potenciodinâmicas, com intervalo de potenciais compreendido entre –0,1 e 0,8 V e velocidade de varredura de 50 mV.s-1. Todos os potenciais são com relação ao eletrodo de referência de Ag/AgCl em eletrólito 3,0 mol.L-1 de KCl. A eletrossíntese foi conduzida até que para cada eletrodo, com porosidade distintas, fosse atingida determinada de corrente de pico (sempre com referência ao primeiro pico anódico do voltamograma). As correntes de pico foram calculadas utilizando-se a área específica fornecida pelo fabricante e estipuladas de maneira que sempre se mantivesse a mesma densidade de corrente (660 mA.m-2). Procedendo-se desta forma, procurou-se manter constante a espessura do filme formado, reduzindo-se assim o efeito desta variável sobre os resultados experimentais. Uma vez preparado o filme de polianilina, este era então abundantemente lavado com H2SO4 1,0 mol.L-1 de maneira a eliminar resíduos de monômeros e possíveis oligômeros. O eletrodo era então inserido no reator para o processo de redução de Cr(VI). 2.2. Redução de Cr(VI) A Figura 1 mostra uma vista detalhada do reator utilizado para a redução de Cr(VI) e a Figura 2 mostra uma representação esquemática do sistema utilizado. O eletrólito consistiu de uma solução de Cr(VI) (tendo como fonte o K2Cr2O7), em meio de H2SO4 0,1 mol.L-1. O procedimento experimental consistiu basicamente em fazer-se circular o eletrólito pelo reator e aplicar-se uma densidade de corrente pré-determinada pelo planejamento de experimentos. A corrente elétrica foi fornecida por uma fonte de corrente constante (Minipa, modelo 3003 D). A concentração de Cr(VI) foi monitorada “on line” através da absorbância da solução ( λ = 350 nm ), medida utilizando-se um espectrofotômetro UV-Vis (Amershram Pharmacia, modelo Ultrospec 2100pro). Todos os experimentos foram feitos sob condições de corrente constante. A queda de tensão elétrica no reator foi medida através de um multímetro e utilizada para o cálculo do consumo energético. A espessura do eletrodo foi aumentada simplesmente justapondo dois ou três eletrodos de 1,27 cm e acrescentando placas intermediárias ao reator da Figura 1. 6 1 7 8 5 3 4 9 2 Figura 1 - Reator eletroquímico. 1) eletrodo de referência; 2) capilar de Luggin; 3) alimentador de corrente (Ti/RuO2 da DeNora); 4) cátodo poroso; 5) distribuidor de fluxo; 6) tela de poliamida; 7) tela de polietileno; 8) contra-eletrodo (placa de Ti/RuO2 da DeNora); 9) entrada e saída do eletrólito. 2.3. Respostas Eletroquímicas do Filme Foram obtidas as respostas eletroquímicas do filme de polianilina em meio de H2SO4 0,5 mol.L-1, antes e após a reação com Cr(VI). Os limites de potencial utilizados foram –0,1 e 0,8 V e velocidade de varredura de 50 mV.s-1. A comparação dos voltamogramas obtidos permitiu uma análise da estabilidade do polímero frente ao processo de redução. linha hidráulica linha do potenciostato linha da fonte de corrente medida de queda de tensão elétrica medida de concentração 10 9 8 12 11 6 7 4 1 13 5 3 2 Figura 2 - Representação esquemática do sistema utilizado para obtenção de dados de redução de Cr(VI) e de potenciais. 1) tanque de eletrólito; 2) bomba centrífuga; 3) medidor digital de vazão; 4) válvula diafragma; 5) multímetro; 6) reator eletroquímico; 7) fonte de corrente; 8) potenciostato; 9) computador; 10) espectrofotômetro UVVis; 11) bomba peristáltica; 12) válvula esfera do “bye-pass”; 13) válvula esfera da linha de esgotamento. 2.4. Medidas de Potencial de Eletrodo O primeiro passo nestes experimentos foi a determinação do potencial de equilíbrio (potencial de corrente nula). Para tanto, foram feitos experimentos de redução de Cr(VI) aplicando-se uma corrente de 4,60 A, porém, quando se atingia a concentração desejada, a fonte de corrente era desligada por alguns instantes (~10 s) e o valor do potencial de equilíbrio era registrado no potenciostato (EcoChemie, PGSTAT30) acoplado ao sistema mostrado na Figura 2. Este procedimento foi realizado para várias concentrações e repetido diversas vezes. Os valores de potencial de equilíbrio foram bastante reprodutíveis. A medida do potencial elétrico foi realizada utilizando-se o sistema de capilar de Luggin móvel mostrado na Figura 1 (item 2). O capilar de Luggin estava acoplado a um sistema porca/parafuso que permitia o movimento do capilar no interior do eletrodo em posições perfeitamente conhecidas e ditadas pelo passo do parafuso (1,5 mm). O procedimento consistiu em, primeiramente, estipular uma velocidade de escoamento. Acionava-se a fonte de corrente com uma corrente elétrica pré-ajustada e o processo era iniciado. Quando atingia-se a concentração desejada (a qual podia ser verificada “on line” através do espectrofotômetro), acionava-se o potenciostato no modo de cronopotenciometria em circuito aberto e começava-se então a mover o capilar de Luggin enquanto o potencial era medido no potenciostato. Foram realizadas medidas em dez posições diferentes, sendo que a posição x/L = 0 correspondia ao alimentador de corrente e a posição x/L=1 correspondia à tela de separação. Os perfis foram expressos em termos de sobrepotencial de eletrodo, calculados pela subtração do potencial de eletrodo e o potencial de equilíbrio, ambos na mesma concentração. Os perfis foram obtidos apenas para uma porosidade de eletrodo (60 ppi) e para a espessura de 1,27 cm. 2.5. Planejamento Box-Behnken O planejamento Box-Behnken (Box e Behnken, 1960) foi escolhido por permitir a redução do número de experimentos que seria requerido por um planejamento fatorial completo (no caso, 243 experimentos!) e também por permitir o uso de condições experimentais (níveis das variáveis) que seriam impraticáveis em um planejamento composto central, por exemplo. Desta forma, o número de experimentos necessários, para o estudo das cinco variáveis de interesse, diminuiu para 46. Por serem os experimentos bastante reprodutíveis, não foram feitas réplicas. Os níveis assumidos pelas cinco variáveis, assim como seus valores codificados, estão mostrados na Tabela 1. As respostas obtidas nos experimentos foram a eficiência de corrente (Equação 1), o consumo energético (Equação 2) rendimento espaço-tempo (Equação 3). EC = e 100 ⋅ z ⋅ F ⋅ V ⎛ dC ⎞ ⋅ ⎜− ⎟ M⋅I ⎝ dt ⎠ o (1) EC é eficiência de corrente (em %), dC/dt a variação da concentração no intervalo de tempo dt (g.s-1); z o número de elétrons envolvidos na reação eletroquímica (z = 3 para a redução de Cr(VI) a Cr(III); F a constante de Faraday (96487 A.s.mol-1); I a corrente elétrica aplicada (A) e M a massa molar do íon (52,996 g.mol-1, para o cromo). CE = 2,78 x 10 -2 ⋅ z ⋅ F ⋅ ∆U EC ⋅ M (2) CE é o consumo energético no instante t (kWh.kg-1) e ∆U a queda de tensão elétrica na célula (V). A constante 2,78 x 10-2 tem unidade de h s-1. Ye− t = EC ⋅ i ⋅ A ⋅ M (3) 10 5 ⋅ z ⋅ F ⋅ VR Ye-t é o rendimento espaço-tempo (kg. s1 .m-3), A área superficial do eletrodo (m2); i a densidade de corrente elétrica aplicada à célula (A.m-2) e VR o volume do reator (m3). Tabela 1 - Valores assumidos pelas variáveis no planejamento Box-Behnken. variável não codificada v – velocidade de escoamento / m.s-1 i – densidade de corrente /A.m-2 L – espessura do eletrodo / cm ε - porosidade do eletrodo / ppi C – concentração de Cr(VI) / mg.L-1 valores codificados -1 0 +1 0,09 0,12 0,15 14,8 22,2 29,6 1,27 2,54 3,81 30 45 60 10 55 100 Observação: o sobreíndice c indica o valor da variável na forma codificada. Os resultados experimentais obtidos foram curvas de concentração normalizada e de queda de tensão elétrica em função do tempo. Através destas curvas foram calculadas as eficiências de corrente, consumo energético e rendimento espaço-tempo para cada condição exigida pelo planejamento de experimentos. As equações de ajuste das respostas, obtidas pelo método dos mínimos quadrados, são mostradas abaixo. EC = 57 ,15 − 30,92 ⋅ i c − 42,63 ⋅ Lc − 20,57⋅ ∈c (4) − 2,72 ⋅ (∈c ) 2 + 45,47 ⋅ C c + 18,97 ⋅ (C c ) 2 − 18,64 ⋅ Lc ⋅ C c Ye − t = 6,23 + 1,29 ⋅ i c − 5,09 ⋅ Lc − 0,66 ⋅ ( Lc ) 2 + 3,10⋅ ∈c +4,89 ⋅ C c + 1,89 ⋅ (C c ) 2 − 2,15 ⋅ i c ⋅ Lc − 2,30 ⋅ Lc ⋅ ∈c −2,12 ⋅ Lc ⋅ C c (5) CE = 27,82 + 22,81 ⋅ i c + 38,78 ⋅ Lc − 7,03⋅ ∈c + 7,95 ⋅ (∈c ) 2 − 34,04 ⋅ C c - 14,17 ⋅ (C c ) 2 (6) + 19,86 ⋅ i c ⋅ Lc − 15,71 ⋅ i c ⋅ C c − 20,08 ⋅ Lc ⋅ C c Os valores do coeficiente de correlação múltipla (R2) para EC, Ye-t e CE foram, respectivamente, 0,90011; 0,92339 e 0,91623. A análise do quadro de variância (ANOVA) permitiu concluir que os ajustes obtidos – Equações 4, 5 e 6 – são de boa qualidade. Já, a análise dos gráficos de resíduos mostrou que estes são suficientemente aleatórios, ou seja, não apresentam nenhuma tendência que justifique uma transformação de variáveis. Apenas analisando as Equações 4, 5 e 6 é possível notar a ausência da variável velocidade de escoamento das mesmas. O aumento da velocidade de escoamento, quando analisada separadamente tem um efeito no sentido de proporcionar um pequeno aumento na eficiência de corrente; contudo, quando comparado ao efeito das demais variáveis, o efeito da velocidade de escoamento torna-se insignificante, indicando que o aumento do coeficiente de transporte de massa dentro da pequena faixa de velocidades estudado pouco se faz sentir sobre as variáveis do processo. Para uma análise do efeito das demais variáveis estudadas sobre cada uma das respostas do processo foram traçadas algumas superfícies de resposta. 3.1. Eficiência de Corrente Na Figura 3 pode-se observar que EC diminui com o aumento da corrente aplicada, sendo que o aumento da espessura do eletrodo faz com que estes valores tornem-se cada vez menores. Essa diminuição em função da corrente é um comportamento esperado para processos eletroquímicos, pois com o aumento da corrente, o surgimento de potenciais em que reações paralelas podem ocorrer é cada vez mais favorecido. No caso específico, o aumento da corrente elétrica faz com que a reação de desprendimento de hidrogênio apareça, fazendo com que a eficiência de corrente diminua. Considerando-se agora a espessura do leito fixo, seu aumento faz com que o processo passe a operar com cada vez menos eficiência de corrente. Atribui-se este fato à existência de um perfil de potencial no interior do eletrodo na direção do campo elétrico que será melhor explorado adiante. A porosidade do eletrodo aparentemente não exerce um efeito expressivo na eficiência de corrente, pois apenas um pequeno aumento de EC com a diminuição de ∈ foi observado. EC (%) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ic Lc Figura 3 - EC em função de ic e Lc. vc = 0, ∈c = 0, Cc = 0. A concentração de Cr(VI) no eletrólito tem um efeito determinante na eficiência de corrente do processo, como observado na Figura 4. Quando se trabalha no modo galvanostático, a diminuição da concentração ao longo do processo faz com que a eficiência de corrente também diminua, uma vez que o Figura 4 - EC em função de ic e Cc . vc = 0, Lc = 0, ∈c = 0. 3.2. Rendimento espaço-tempo O rendimento espaço-tempo foi particularmente útil para a avaliação do efeito da espessura de eletrodo porque permite uma análise da taxa de reação (kg.s-1) por unidade de volume do eletrodo (m3). Numa primeira abordagem, foi considerada apenas a taxa de reação e observou-se que o aumento da espessura do eletrodo, mantendo-se uma mesma densidade de corrente, proporcionava realmente um aumento da taxa de reação, o que era esperado, pois mais corrente era fornecida ao sistema para manter-se a mesma densidade de corrente. Porém, observou-se que ao dobrar-se a espessura do leito a taxa de reação não dobrava; ao contrário, ficava inferior ao esperado. Diante disto, a fim de se avaliar adequadamente a eficácia de um eventual aumento da espessura do eletrodo no sentido de melhorar o processo, utilizou-se então o rendimento espaço-tempo. A Figura 5 mostra que o aumento da espessura do eletrodo leva a um menor rendimento, enquanto o aumento da densidade de corrente, como esperado, provoca um aumento do rendimento uma vez que a Ye-t x 10-3 / kg.m-3.s-1 ic Lc ic Figura 5 - Ye-t em função de ic e Lc . vc = 0, ∈c = 0, Cc = 0. Ye-t x 10-3 / kg.m-3.s-1 Cc quantidade de reagente, ou seja, de elétrons, fornecida, é aumentada. Na Figura 6a observa-se que o aumento de ∈ provoca um aumento significativo do rendimento devido ao aumento da área superficial disponível para reação. Porém, à medida que se aumenta a espessura do eletrodo os efeitos da densidade de corrente e da porosidade em aumentar o rendimento tornam-se cada vez menores, sendo que para o eletrodo de 3,81 cm, Figura 6b, Ye-t é quase constante, pouco dependendo da porosidade e da densidade de corrente aplicada. ∈c ic (a) Ye-t x 10-3 / kg.m-3.s-1 EC (%) transporte de massa à superfície do eletrodo em que a reação ocorre passa a ser o fator controlador da reação. Em não havendo quantidade suficiente de íons Cr(VI) para reagir, uma parcela cada vez maior da carga elétrica (corrente) fornecida passa a ser utilizada então para a reação paralela de desprendimento de hidrogênio. ∈c ic (b) Uma vez que no cálculo de Ye-t considera-se a corrente efetivamente utilizada para a reação de interesse, ou seja, considerase o produto i⋅EC, o comportamento das superfícies da Figura 6 pode ser explicado através deste termo da Equação 3. Quando se aumenta ∈ e i, aumenta-se também a corrente elétrica fornecida ao processo, porém, ao mesmo tempo, ocorre diminuição da EC do mesmo. Para pequenas espessuras de eletrodo, o produto i⋅EC aumenta como conseqüência do aumento da corrente elétrica; porém, quando se aumenta a espessura do eletrodo a EC decresce rapidamente, fazendo com que Ye-t também diminua. Para L = 3,81 cm (Lc = +1), EC diminui praticamente na mesma proporção em que a corrente elétrica aumenta, estando explicado, portanto, o comportamento quase que constante de Ye-t mostrado na Figura 6b. Quanto ao efeito da concentração sobre o rendimento, esta variável apresenta o mesmo comportamento mostrado na Figura 4, para a EC. Como Ye-t é diretamente proporcional à EC do processo, à medida que esta diminui em função da concentração, o mesmo também ocorre com o rendimento. 3.3. Consumo Energético Uma vez que CE é função de EC e da queda de tensão elétrica no reator (Equação 2), quando se aumenta a espessura do eletrodo ocorre uma diminuição brusca de EC e um aumento considerável da queda de tensão elétrica do reator, levando o processo a apresentar elevados valores de CE que inviabilizam totalmente sua aplicação em determinadas condições operacionais. Para o eletrodo de pequena espessura (Lc = -1), o aumento da densidade de corrente altera pouco CE em virtude de que EC não é significativamente afetada nestas condições; portanto, para eletrodos de pequena espessura, a queda de tensão elétrica no reator tem um peso maior no valor final do consumo energético. O aumento da porosidade do eletrodo (em ppi) provoca um pequeno aumento do consumo energético, o qual pode estar sendo ocasionado por uma ligeira diminuição da condutividade elétrica efetiva da solução, decorrente da maior tortuosidade dos eletrodos com maior número de poros. Quanto ao efeito da concentração, constatou-se que, além de sua diminuição provocar a diminuição de EC, há também um aumento na queda de tensão no reator que contribui para um aumento de CE. Com a finalidade de se entender melhor alguns resultados obtidos no estudo estatístico, são apresentadas nas Figuras 7 e 8 os resultados de perfis de sobrepotencial obtidos para o eletrodo CVR/PANI. Uma análise geral destas curvas permite constatar que o eletrodo poroso apresenta uma atividade eletroquímica desigual ao longo do campo elétrico, mostrando que mesmo o fato da polianilina doar elétrons espontaneamente para a redução do Cr(VI) não interfere positivamente no sentido de eliminar zonas de baixas taxas de reação (η menos negativos). A porção mais ativa do eletrodo se concentra apenas em 40% de sua espessura na região próxima ao contraeletrodo (x/L=1); portanto, eletrodos de 5 mm de espessura otimizariam simultaneamente as variáveis taxa de reação e custo com eletrodo. 0,5 0,0 η / V vs. Ag/AgCl Figura 6 - Ye-t em função de ic e ∈c . vc = 0 e Cc = 0. (a) Lc = -1; (b) Lc = +1. -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -1 C = 100 mg.L , L = 1,27 cm, -1 v = 0,15 m.s -2 33,5 A.m -2 28,0 A.m -2 22,5 A.m -2 17,0 A.m -2 11,5 A.m -2,5 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 x/L Figura 7 - Perfis de sobrepotencial. Parâmetro i. desprendimento de hidrogênio torna-se cada vez mais intensa à medida que os sobrepotenciais tornam-se mais negativos e isto também ocorre na região próxima ao contra eletrodo. -0,2 -0,4 -0,6 η / V vs. Ag/AgCl -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6 -1,8 -2,0 -2,2 -2,4 -2,6 -2 I = 22,5 A.m , -1 L = 1,27 cm, v = 0,15 m.s -1 100 mg.L -1 75 mg.L -1 50 mg.L -1 30 mg.L -1 10 mg.L 0,0 0,2 4. CONCLUSÕES 0,4 0,6 0,8 1,0 x/L Figura 8 - Perfis de sobrepotencial. Parâmetro C. Quanto ao efeito da corrente elétrica aplicada sobre os perfis de sobrepotencial, Figura 7, verifica-se que um aumento no valor desta variável proporciona sobrepotenciais cada vez mais negativos, os quais, por sua vez, causam um aumento da taxa de reação, porém limitada pelo efeito do surgimento de reações paralelas que causam a diminuição de EC. O fato dos sobrepotenciais mais negativos se concentrarem numa pequena espessura do eletrodo ajuda a entender porque um aumento da espessura do mesmo para 2,54 cm e 3,81 cm provoca uma queda brusca na eficiência de corrente. Para manter-se a mesma densidade de corrente quando se aumenta a espessura do eletrodo é necessário um aumento da corrente elétrica que por sua vez se concentrará nesta estreita faixa de espessura. Uma vez que a quantidade de carga elétrica disponível não será utilizada para a reação de redução do Cr(VI) em virtude de limitações impostas pela cinética intrínseca do processo, uma grande quantidade desta carga será desviada para a reação de desprendimento de hidrogênio, que é favorecida pelos potenciais extremamente negativos que existirão nesta região próxima ao contraeletrodo, fazendo desta maneira com que a eficiência de corrente diminua sensivelmente. Quanto ao efeito da concentração sobre as respostas estudadas, uma análise das curvas da Figura 8 revela que à medida que a concentração diminui o sobrepotencial tornase cada vez mais negativo, favorecendo então o surgimento da reação de desprendimento de hidrogênio, que por sua vez fará com que EC e Ye-t diminuam e, conseqüentemente, o consumo energético aumente. A reação de O aumento da espessura do eletrodo não leva o processo a apresentar nenhuma melhoria; pelo contrário, causa apenas efeitos indesejáveis, como a diminuição da EC e Ye-t bem como aumento expressivo de CE. Do estudo da atividade eletroquímica no interior do eletrodo poroso conclui-se que um eletrodo de 5 mm de espessura seria o mais adequado. O aumento da densidade de corrente aplicada, dentro da faixa de valores estudados e para o eletrodo de menor espessura, apesar de provocar um aumento do rendimento, provoca concomitantemente uma diminuição de EC acompanhada de um aumento de CE. Conclui-se, portanto, que existem condições ótimas de corrente em que se consegue aliar 100% de EC com baixos valores de CE e, conseqüentemente, com Ye-t otimizado. Quanto à concentração de Cr(VI), fica patente sua importância na otimização de um reator eletroquímico com relação à densidade de corrente elétrica que deve ser aplicada. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio financeiro da FAPESP, processo No. 99/10.822-9. BIBLIOGRAFIA ALATORRE, M.A.; GUTIÉRREZ, S.; PÁRAMO, U.; IBAÑEZ, J.G. (1998). Reduction of Cr(VI) by polypyrrole deposited on different carbon substrates. J. of Appl. Electrochem. 28, 551-557. BOX, G.E.P.; BEHNKEN, D.W. (1960). Some new 3 level designs for the study of quantitative variables. Technometrics, 2, 4. LIAO, A.A.; RUOTOLO L.A.M.; GUBULIN J.C (2003). Estudo comparativo da cinética de redução de Cr(VI) utilizando-se