as transformaçöes da avenida rio branco e a

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XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
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MODULO 1
AS TRANSFORMAÇÖES DA AVENIDA RIO BRANCO E A PRESERVAÇÄO DA ARQUITETURA
ECLÉTICA DO RIO DE JANEIRO
J. S. Pavan (1), R. T. M. Ribeiro (2)
Programa de Pós Graduação em Arquitetura. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Campus Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, Brasil.
[email protected]
(1)
[email protected]
(2)
RESUMO
No início do século XX a cidade do Rio de Janeiro, ainda
capital da república, passou por um processo de
remodelação urbana de intenção higienista e plástica,
denominada “Embelezamento e Saneamento da Cidade”.
Esta reforma, administrada pelo prefeito Francisco Pereira
Passos, alterou profundamente a conformação urbana e
arquitetônica do centro e de outras regiões da cidade, pela
necessidade de combater a insalubridade e em razão de
expressar a importância do Brasil no contexto internacional,
renegando o passado de colônia portuguesa. A proposta
de Passos foi transformar a capital de acordo com a
modernidade europeia do século que se iniciava, com
inspiração principalmente na Belle Époque Parisiense,
utilizando a arquitetura eclética para marcar este novo
período da Capital carioca.
Diversas foram às intervenções na cidade, porém, a mais
importante em termos de transformação da forma urbana
foi, sem dúvida, a abertura da Avenida Central, hoje
Avenida Rio Branco. A Av. Central não era apenas uma via
de circulação da cidade, tornou-se um lugar de passeio e
cultura gerando um novo estilo de vida moldado nos
costumes franceses, simbolizando a Belle Époque Carioca.
Localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro, a Av.
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
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MODULO 1
Rio Branco conecta dois extremos do centro da cidade: o
porto da cidade (Praça Mauá), e a Avenida Beira Mar
(Praça Cinelândia). Desde sua inauguração a Avenida é
uma das vias mais importantes da cidade, nela estão
construídos os edifícios que movimentam o setor
econômico. Sua importância não é resumida à economia,
mas também pela arquitetura, cultura e história.
A Avenida preserva os mais representativos exemplares da
arquitetura eclética do país (como o Teatro Municipal, o
Museu de Belas Artes e a Biblioteca Nacional). Porém, teve
sua configuração arquitetônica original muito alterada
nesses mais de 100 anos de história: dos mais de setenta
edifícios ecléticos que a constituíam inicialmente, hoje
restam apenas dez. A arquitetura eclética da cidade do Rio
de Janeiro, e principalmente da Avenida Rio Branco,
simboliza uma importante parte da história do Brasil, época
que a arquitetura e a reurbanização da capital foram
pensadas com o intuito de representar a modernidade do
‘novo’ país Republicano e sua importância no contexto
internacional.
A história e a identidade da população carioca - e brasileira
- necessitam da valorização de seus exemplares
arquitetônicos e de acordo com Ruskin [25], a arquitetura do
passado nos permite relacionar as edificações com o
processo de desenvolvimento cultural da sociedade, e essa
herança, que possui enorme carga de valor histórico e
cultural, transfere ao espaço construído os sentimentos de
pertencimento e de memória.
PALAVRAS CHAVE: Preservação; Ecletismo; Avenida Rio
Branco.
INTRODUÇÃO
O Rio de Janeiro, no século XIX, era uma cidade com
características coloniais, limitada pelos morros do Castelo,
de São Bento, de Santo Antônio e da Conceição, e muito
insalubre. A vinda da Família Real Portuguesa (1808), junto
com uma classe social praticamente inexistente até então,
e o desempenho das atividades econômicas, políticas, e
ideológicas que a cidade passou a exercer, contribuíram
para que ocorressem diversas modificações urbanas e de
infraestrutura, mas não o suficiente para atender a
demanda de uma capital.
[25] J. Ruskin, “A lâmpada da memória”, Trad. Maria Lucia Bressan
Pinheiro, Cotia – SP, Ateliê Editorial, 2008.
225
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
Desde a segunda metade do século XIX os governantes
tinham a ideia de formular uma ação urbanística para a
cidade, a fim de solucionar os problemas de circulação e,
principalmente, saneamento, que assolavam a capital
devido às inúmeras epidemias geradas pela insalubridade.
Diversos planos foram formulados para ordenar a
ocupação do solo urbano da capital, porém, apesar das
tentativas durante o Governo Imperial não houve um real
interesse em investir grandes capitais em áreas urbanas da
cidade. Após a Proclamação da República, em 15 de
novembro de 1889, e somente no governo de Rodrigues
Alves (1903-1907), foi implantada uma reforma
modernizadora na Capital da República dos Estados
Unidos do Brasil.
A primeira década do século XX foi marcada pelas grandes
transformações ocorridas, motivadas pela necessidade de
adequar a forma urbana aos interesses econômicos e
político-ideológicos da República Brasileira e integrar o
país no contexto capitalista internacional. O presidente da
República Rodrigues Alves indicou o engenheiro Francisco
Pereira Passos para o cargo de prefeito do Distrito Federal,
que comandou a maior transformação urbana no Rio de
Janeiro, até então, para tentar resolver as contradições que
a cidade apresentava: capital de um país capitalista ainda
com características coloniais.
Era preciso criar uma nova capital que simbolizasse o
progresso e a importância do país como principal produtor
e exportador de café e, para isso, Pereira Passos
implantou a reforma urbana denominada “Embelezamento
e Saneamento da Cidade”. Os planos de reurbanização
apresentados por Passos inspiravam-se na reforma de
Paris, realizada pelo barão Georges Eugène Haussmann,
na época do imperador Napoleão III (entre 1850 e 1860).
Diversas intervenções ocorreram em toda a cidade: a
reforma do porto, o alargamento e a abertura de ruas e
avenidas, a criação e reforma de praças, desmonte de
parte do Morro do Castelo, etc. A reforma modificou
radicalmente a cidade, porém, a obra mais importante e
com maior visibilidade foi, sem dúvidas, a abertura da
Avenida Central.
Este artigo tem como objetivo principal refletir sobre a
introdução da arquitetura eclética no país, em especial no
Rio de Janeiro, e a necessidade de preservação desta
tipologia, significativa de um período da história do Brasil,
utilizando a área da Avenida Rio Branco como foco de
estudo.
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
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MODULO 1
1.ABERTURA
DA
AVENIDA
ARQUITETURA ECLÉTICA
CENTRAL
E
A
As obras da Avenida Central foram iniciadas em 1904, com
a proposta de ligar dois extremos do centro da cidade (Fig.
1), que também sofreram intervenções: o novo Porto da
cidade (Praça Mauá) até a Avenida Beira Mar (Praça
Ferreira Viana, atual Floriano Peixoto - Cinelândia). Com
33 metros de largura e 1.800 metros de comprimento, a
Avenida exigiu para sua abertura a demolição de mais de
500 prédios do centro da cidade, ação que ficou conhecida
como “bota-abaixo”.
Grande parte da população ficou sem moradia, já que
pouquíssimas foram as habitações populares construídas
pelo Estado, em substituição às que foram destruídas. É a
partir daí que os morros situados no centro da cidade
passam a ser rapidamente ocupados, dando origem à
favela.
As fachadas para os novos edifícios da Avenida foram
escolhidas em concurso criado pela Comissão Construtora
da Avenida Central, cujas normas estabeleciam que os
projetos tivessem um mínimo de três pavimentos, o térreo
destinado a lojas comerciais, e fachadas de 10, 15, 20, 25
e até 35m de largura.
A comissão não fez restrições em relação ao estilo
arquitetônico das novas fachadas, porém, o estilo que
predominou na construção da Avenida foi o ecletismo. As
novas edificações utilizavam técnicas modernas à época
como: estruturas metálicas, clarabóias, elevadores, entre
outros equipamentos construtivos.
Utilizavam também novos e variados materiais de
acabamento, em grande parte importados, como: papéis de
parede, mármores, ladrilhos, vidros, espelhos, maçanetas,
torneiras, etc..
Pereira Passos conseguiu concluir a construção da
Avenida em vinte meses, fez instalações de esgoto, água e
eletricidade (que foi inaugurada na cidade), além do uso de
asfalto na via pública, calçamento em mosaico de pedras
portuguesas e o canteiro central, que dividia a avenida em
duas mãos, enfeitado por árvores de pau-brasil. Na sua
inauguração (15 de novembro de 1905) existiam poucos
prédios prontos, a maioria ainda em construção e raros
lotes à venda que, segundo Kok [26], representaram ótimos
negócios para as empresas imobiliárias que participaram
[26] G. Kok, “Rio de Janeiro na época da Av. Central”, São Paulo, Bei
Comunicação, 2005.
227
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
de sua abertura na construção dos novos prédios.
Em oposição ao lucro gerado, a reforma afetou inúmeros
proprietários de cortiços, pequenos comerciantes e famílias
pobres, já que todos foram expulsos do centro da cidade.
Após a sua inauguração, inúmeros prédios de grande
beleza arquitetônica foram surgindo ao longo da avenida
(Fig. 2), edifícios governamentais, teatros, biblioteca,
hotéis, sedes de empresas, jornais, clubes, etc.
Fig. 1 - Proposta de Abertura da Avenida Central, ligando
a Praça Ferreira Viana ao novo porto da Cidade. [27]
Fig.2 – Avenida Central já concluída, vista para a Avenida
Beira Mar, 1910. Foto de Marc Ferrez. [28]
[27] E. F. W. Lima, “Arquitetura do Espetáculo. Teatros e cinemas na
formação da Praça Tiradentes e da Cinelândia”, Rio de Janeiro, Editora
UFRJ, 2000.
[28] Vários, “O Brasil de Marc Ferrez”, São Paulo, Instituto Moreira
Salles, 2005.
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
228
MODULO 1
Um dos extremos da Avenida, a Praça Mauá, era o ponto
de partida da Avenida Central: lugar de chegada dos
produtos vindos da Europa que “abasteciam” as novas
necessidades dos cariocas. O antigo Cais do Porto, que se
desenvolvia em um trecho do litoral do centro da cidade a
partir da Praça Mauá, também foi foco da reforma de
Pereira Passos. As obras do porto, a cargo do engenheiro
Francisco Bicalho, previam a construção de um cais
acostável desde a Praça Mauá até o canal do Mangue
(3.500m).
O aterro do porto foi feito com terras do morro do Senado
(completamente arrasado), parte do morro do Castelo
(desmonte parcial para a abertura da Avenida) e entulho
das casas derrubadas para a abertura da Avenida. A
inauguração oficial do novo porto ocorreu em julho de
1910, no governo do presidente Afonso Penna.
A Reforma e, principalmente, a Avenida Central
simbolizaram o início da Belle Époque Carioca,
modificando os hábitos dos moradores, que passaram a
frequentar intensamente as ruas do centro da cidade, suas
lojas de artigos de luxo importados, restaurantes, cafés,
bonboniéres, etc., trazendo o estilo de vida Europeu para a
Capital do Brasil. Outra opção de lazer muito característica
deste período foram os diversos cinematógrafos
inaugurados a partir de 1907, como o Parisiense, o Pathé,
entre outros na própria Avenida e nas redondezas.
Em 1917, o espanhol Francisco Serrador comprou o
terreno onde se localizava o antigo Convento da Ajuda na
Praça Floriano, localizado em uma das extremidades da
Avenida Rio Branco (A Avenida Central passou a se
chamar Avenida Rio Branco em 12 de fevereiro de 1912,
para glorificar o chanceler falecido dois dias antes),
imaginando construir um centro de lazer no local, com
cinemas, teatros e artes em geral.
Graças a Serrador, a década de 1920 foi marcada pela
construção de inúmeros cinemas nos primeiros “arranhacéus” da cidade, sendo a maior parte dos edifícios de uso
misto, comercial e residencial, localizados na Praça
Floriano (conhecida, a partir da década de 1930, como
Praça Cinelândia, devido a concentração de cinemas) e em
suas redondezas [29].
[29] J. S. Pavan, R. T. M. Ribeiro. Cinelândia: preservação e história. In:
“III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e
Restauração de Edifícios”, Rio de Janeiro, III CIRMRE, 2010.
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XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
2. DEMOLIÇÕES NA AVENIDA RIO BRANCO
A arquitetura eclética, representativa da Capital da Primeira
República Brasileira ou República Velha (1989-1930), foi
inicialmente relegada a segundo plano pelos criadores do
SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, atual IPHAN, órgão responsável pela
preservação do patrimônio cultural brasileiro), a partir de
sua criação em 1937. Os arquitetos e técnicos
responsáveis pela direção do SPHAN, que faziam parte do
movimento modernista, indicaram a arquitetura colonial
como símbolo de uma arquitetura genuinamente brasileira,
desprezando a arquitetura eclética.
Desta forma, as edificações ecléticas não foram
inicialmente
preservadas
e
sofreram
grandes
transformações ao longo de sua existência, ou foram
demolidas. Infelizmente, o descaso pela história da
Avenida e de sua arquitetura eclética foi igual ao que
aconteceu em toda a cidade: a partir da década de 1930
diversos edifícios ecléticos foram demolidos.
Entre as décadas de 1930 e 40 diversos prédios ecléticos
foram substituídos por prédios comerciais com até 18
andares, destoando com o restante das edificações
originais da Avenida, que tinham gabaritos mais baixos e
de estilo arquitetônico diferente.
Um exemplo de demolição desta época foi o edifício
eclético de influência italiana, o número 2 da Avenida, que
foi o primeiro prédio na Avenida a ficar pronto (Fig. 3) e
pertencia à associação de Eduardo Palassin Guinle. Foi
demolido no final da década de 1940 e substituído por um
edifício de 18 andares de inspiração art déco (Fig. 4), estilo
bastante utilizado nas novas construções da Avenida desta
época.
Fig. 3 e 4 –
Edifício número
2, original (foto
de 1915) e o
atual (foto de
[
30
]
2005).
[30] E. Bueno, “Avenida Rio Branco, um século em movimento”, Porto
Alegre, Buenas Idéias, 2005.
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
230
MODULO 1
Outro exemplo deste período foi o edifício eclético número
22 (Fig. 5), sede das empresas Percival Farguhar, que em
1937 foi demolido e substituído por um edifício de
influência também art déco, batizado de Edifício Unidos
(Fig. 6).
Fig. 5 e 6
Edifício número
22, original (foto
de 1910) [31], e o
atual (foto de
2005). [32]
O período entre o final da década de 1940 e o final da
década de 1970, foi marcado pela substituição do
ecletismo por uma arquitetura moderna. Um dos casos foi o
luxuoso Palace Hotel (Fig. 7), número 185, que pertencia a
família Guinle, demolido e substituído em 1952 pelo edifício
[31] M. Ferrez, "O álbum da Avenida Central: um documento fotográfico
da construção da Av. Rio Branco, RJ (1903-1906)”, São Paulo, Ex
Libris Ltda, 1983.
[32] E. Bueno, op. cit.
Marquês de Herval (Fig. 8), edificação modernista
projetada pelo escritório MMM Roberto. Apesar de ter sido
o motivo da demolição do antigo hotel, sua qualidade
arquitetônica incontestável foi o motivo de seu tombamento
em 2002, porém, atualmente está muito modificado: os
brise-soleis, por exemplo, característicos de sua fachada
foram retirados. Outro caso de demolição deste período foi
o antigo Hotel Avenida (Fig. 9), número 156, inaugurado
em 1908, era o maior estabelecimento hoteleiro da época e
primeiro prédio com elevador da cidade.
Em seu térreo funcionava uma estação dos bondes que
ligavam o centro à zona sul da cidade (as antigas linhas de
bonde que conectavam a cidade não existem mais). Foi
demolido em 1957 e em 1961 foi inaugurado o primeiro e
maior prédio em estrutura metálica (Fig. 10) feito na
América do Sul à época, possui 34 andares e foi projetado
por Henrique Mindlin. Essas edificações e seus gabaritos
ainda maiores que o período citado anteriormente,
modificou completamente a avenida e, principalmente,
retirou o efeito suntuoso que as edificações originais
tinham. As edificações ecléticas que conseguiram
sobreviver a este período de demolições tinham sua
relação com o entorno e o contexto completamente
modificada devido à escala dos novos edifícios que
aumentava a cada nova construção.
231
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
Fig. 7 e 8 – Edifício número 185, original (foto de 1910)
[33]
e o atual (foto de 2007) [34].
[33] Fonte das Fig. 7 e 9: sítio eletrônico: www.almacarioca.com.br,
acesso em: abril de 2007.
[34] Fonte das Fig. 8 e 10: Foto da autora, 2007.
Fig. 9 e 10 – Edifício número 156, original (foto de 1910)
e o atual (foto de 2007).
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
232
MODULO 1
A terceira fase de novas construções iniciou-se na
década de 1980, com as grandes torres pós-modernas.
Um exemplo é o edifício número 1 da Avenida, a antiga
Casa Mauá, edifício eclético com influência neogótica
projetado por Gastão Bahiana, foi o primeiro edifício
exclusivamente comercial da cidade (Fig. 11).
Fig. 11 e 12 – Edifício número 1, original (foto de 1980) e
o atual (foto de 2005).
Demolido na década de 1980, foi construído em seu lugar
o edifício RB1, inaugurado em 1990, com fachadas em
vidro, 32 pavimentos e mais de 71 mil m2 de área total (Fig.
12). Atualmente a Avenida Rio Branco (Fig. 14) está muito
diferente da original (Fig. 13), com seus novos prédios
modernos e altos, quase não conseguimos enxergar a
beleza e suntuosidade da antiga Avenida Central.
Fig. 13 e 14 – Avenida Central (foto de 1910) e a
Avenida Rio Branco atual (foto de 2005). [35]
[35] Fonte das Fig. 11 a 14: E. Bueno, op. cit.
233
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
Existem, atualmente, somente dez prédios originais da
construção da Avenida, sendo quatro deles presentes no
reduto da Cinelândia, que junto com outros prédios
ecléticos da Praça Floriano Peixoto (o Palácio Pedro
Ernesto e os prédios ecléticos dos antigos cinemas),
preservam ainda um pouco o espírito da antiga Boulevard
da Belle Époque Carioca.
No restante da Avenida, as antigas edificações ecléticas
parecem estar perdidas em meio às altas edificações que
interferem na paisagem e no antigo contexto local. Apesar
de atualmente a Avenida Rio Branco estar muito diferente
da sua configuração original, as dez edificações
remanescentes de sua inauguração são preservadas por
tombamentos (de esfera federal, estadual e/ou municipal).
São eles [36]:
Fig. 15 - Hotel São Bento (nº19)
Fig. 16 - Caixa de Amortização (atual Banco Central - nº28)
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
234
MODULO 1
Fig. 17
Fig. 18
Fig. 17 - Companhia Docas (atual sede do IPHAN - nº 44)
Fig. 18 - Casa Simpatia (nº88)
Fig. 19 - Edifício número 155.
Fig. 20 - Clube Naval (nº180)
Fig. 21 - Escola de Belas-Artes (atual Museu B.A. nº199)
Fig. 19
Fig. 20
Fig. 21
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MODULO 1
Fig. 22 - Biblioteca Nacional (nº 219)
Fig. 23 - Supremo tribunal Federal
(atual Centro Cultural – nº241)
CONCLUSÕES
Durante anos a desvalorização da arquitetura eclética fez
com que a cidade do Rio de Janeiro perdesse diversos
exemplares arquitetônicos do período da Primeira
República Brasileira, e assim, uma parte da memória e
história do Brasil.
Apesar das drásticas perdas e transformações ocorridas
nesses mais de cem anos de história, a Avenida Rio
Branco ainda preserva importantes exemplares da
arquitetura eclética brasileira, sendo a Praça Cinelândia o
principal reduto deste estilo arquitetônica da cidade.
Fig. 24 - Teatro Municipal (s/ número)
A importância da Avenida Rio Branco para a cidade do Rio
de Janeiro, e para o Brasil, não se resume às
características arquitetônicas, a Avenida foi palco de
importantes manifestações políticas, sociais e culturais. A
década de 1960 foi marcada por diversas passeatas e,
talvez, a mais famosa de todas tenha sido a "Passeata dos
Cem mil", no dia 26 de junho de 1968, envolvendo artistas,
intelectuais, estudantes e trabalhadores numa grande
manifestação contra a violência do governo, pedindo o fim
da censura e a liberdade de expressão. A cultura também
sempre esteve presente, com seus cinemas, teatros,
museus, blocos e desfiles de carnaval.
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
236
MODULO 1
REFERÊNCIAS
O patrimônio cultural de uma nação engloba elementos
materiais e imateriais que são reconhecidos como símbolos
de identidade atuais, ou herdados do passado. O
patrimônio cultural herdado serve como fonte da memória
coletiva que junto da história apresenta-se sob forma de
documentos e monumentos [37].
A arquitetura do passado nos permite relacionar a
edificação com o processo de desenvolvimento cultural da
sociedade, e essa herança, que possui enorme carga de
valor histórico e cultural, transfere ao espaço construído os
sentimentos de pertencimento e de memória.
Concluímos que a arquitetura eclética, e em especial os
exemplares da Avenida Rio Branco, são testemunhos do
nosso passado e símbolos da identidade cultural carioca, e
também, brasileira. Torna-se então necessário manter
‘vivos’ os testemunhos do passado e passarmos a valorizálos.
[ 1 ] J. Le Goff, “História e Memória”, Campinas, Ed.
Unicamp; 1992.
[1] J. Ruskin, “A lâmpada da memória”, Cotia – SP, Ateliê
Editorial, 2008.
[1] J. Le Goff, op. cit.
[1] C. Brandi, “Teoria da Restauração”, Cotia – SP, Ateliê
Editorial, 2004.
[ 1 ] A. Riegl, “O Culto Moderno dos Monumentos: sua
essência e sua gênese”, Goiás, Ed. Universidade de Goiás,
2006.
[1] C. Brandi, op. cit.
[1] B. M. Kühl, “Preservação do Patrimônio Arquitetônico da
Industrialização: Problemas teóricos de restauro”, São
Paulo, Ateliê Editorial, 2008, p. 209.
[ 1 ] Carta de Restauração. In: C. Brandi, “Teoria da
Restauração”, Cotia – SP, Ateliê Editorial, 2004.
[ 1 ] F. Choay, “A alegoria do patrimônio”, São Paulo,
Estação Liberdade: UNESP, 2006, p. 221.
[ 1 ] I. Cury, (org. e trad.), Cartas Patrimoniais, Rio de
Janeiro, IPHAN/ministério da Cultura, 2000.
[1] F. Choay, op. cit., p. 211.
[1] J. Le Goff, op. cit.
[1] B. M. Kühl, op. cit., p. 217.
237
XI CONGRESO INTERNACIONAL DE REHABILITACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO Y EDIFICACIÓN
MODULO 1
[1] D. Alcantara, “Abordagem Experiencial e Revitalização
de Centros Históricos: Os casos do Corredor Cultural do
Rio de Janeiro e do Gaslamp Quarter em San Diego”, Tese
(Doutorado em Arquitetura), Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2008.
[1] S/A, “Como recuperar, reformar ou construir seu imóvel
no Corredor Cultural” Rio de Janeiro, RIOARTE/IPLANRIO,
1985.
[1] Fonte das figuras 1 e 2: G. Kok, “Rio de Janeiro na
época da Av. Central”, São Paulo, Bei Comunicação, 2005.
[ 1 ] Fonte das figuras 3 e 4: sítio eletrônico:
http://www.inepac.rj.gov.br/, acesso em: abril de 2011.
[1] J. Sampaio, “The Persistent Underutilization of Brazilian
City Centers With special reference to the Cultural Corridor
of Rio de Janeiro”, Thesis (DPhil in Architecture), The
University of York. Department of Archaeology, Heslington,
York, UK, 2002.
[1] J. Ruskin, “A lâmpada da memória”, Trad. Maria Lucia
Bressan Pinheiro, Cotia – SP, Ateliê Editorial, 2008.
[1] G. Kok, “Rio de Janeiro na época da Av. Central”, São
Paulo, Bei Comunicação, 2005.
[1] E. F. W. Lima, “Arquitetura do Espetáculo. Teatros e
cinemas na formação da Praça Tiradentes e da Cinelândia”,
Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2000.
[1] Vários, “O Brasil de Marc Ferrez”, São Paulo, Instituto
Moreira Salles, 2005.
[1] J. S. Pavan, R. T. M. Ribeiro. Cinelândia: preservação e
história. In: “III Congresso Internacional na Recuperação,
Manutenção e Restauração de Edifícios”, Rio de Janeiro, III
CIRMRE, 2010.
[ 1 ] E. Bueno, “Avenida Rio Branco, um século em
movimento”, Porto Alegre, Buenas Idéias, 2005.
[1] M. Ferrez, "O álbum da Avenida Central: um documento
fotográfico da construção da Av. Rio Branco, RJ (19031906)”, São Paulo, Ex Libris Ltda, 1983.
[1] E. Bueno, op. cit.
[ 1 ] Fonte das Fig. 7 e 9: sítio eletrônico:
www.almacarioca.com.br, acesso em: abril de 2007.
[1] Fonte das Fig. 8 e 10: Foto da autora, 2007.
[1] Fonte das Fig. 11 a 14: E. Bueno, op. cit.
[1] Fonte das Fig. 15 a 24: Foto da autora, 2007.
[ 1 ] J. Le Goff, “História e Memória”, Campinas, Ed.
Unicamp; 1992.
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