Teor de óleo volátil em acessos de hortelã-do

Propaganda
BOTREL PP; PINTO JEBP; ARAÚJO ACC; FIGUEIREDO FC; CHAGAS JH; BERTOLUCCI SKV. Teor de óleo
Teor de óleo volátil em acessos de hortelã-do-campo coletados
volátil em acessos de hortelã-do-campo coletados em diferentes localidades da região Sul de Minas Gerais. 2010.
em diferentes localidades do Sul de Minas Gerais.
Horticultura Brasileira 28: S3513-S3517.
Teor de óleo volátil em acessos de hortelã-do-campo coletados em diferentes
localidades do Sul de Minas Gerais.
Priscila Pereira Botrel1, José Eduardo Brasil Pereira Pinto1, Ana Clara Caxito de Araújo1, Felipe Campos Figueiredo2, Jorge Henrique Chagas1, Suzan Kelly Vilela Bertolucci1
1
Universidade Federal de Lavras, UFLA – DAG, Campus Universitário, Caixa Postal 3037, Lavras – MG, 37200000, [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected];
2
[email protected] Instituto Federal do Sul de Minas Gerais, Campus Muzambinho, IFSMG, Morro Preto, Caixa
Postal 2, Muzambinho – MG, [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O gênero Hyptis (Lamiaceae) inclui
cerca de 300 espécies, de ampla ocorrência
na América tropical. Este gênero apresenta
uma grande importância como fonte de
constituintes
bioativos,
possuindo
importantes efeitos biológicos. Estudos com
populações silvestres de plantas aromáticas
e medicinais, relacionando teor e composição
química com área de ocorrência destas
espécies, têm demonstrado a existência de
variação genética entre plantas de diferentes
populações. O objetivo do presente trabalho
foi avaliar o teor de óleo volátil em folhas e
inflorescências frescas de hortelã-do-campo
(Hyptis marrubioides), coletadas em
diferentes localidades do Sul de Minas
Gerais. O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado, perfazendo um
fatorial 3x2, com quatro repetições cada
totalizando 24 parcelas. O óleo essencial foi
extraído por hidrodestilação, em aparelho de
Clevenger. O local de coleta influenciou no
teor de óleo essencial de folhas e
inflorescências de hortelã-do-campo. O maior
teor de óleo essencial foi mensurado nas
folhas de H. marrubioides provenientes do
município de Luminárias (0,14%). Não houve
diferença significativa entre os locais de coleta
no teor de óleo essencial extraído das
inflorescências de H. marrubioides.
Content of volatile oils in accesses of
hortelã-do-campo harvested at
different county of the southern region
of Minas Gerais.
The genus Hyptis (Lamiaceae) includes
about 300 species of widespread occurrence in
the Tropical America. This genus presents a great
importance as a source of bioactive constituents
having important biological effects. Studies with
wild populations of aromatic and medicinal plants,
relating content and chemical composition with
the area of occurrence of these species, have
shown the existence of genetic variation among
plants from different populations. The objective of
the present work was to evaluate the content of
volatile oil both in fresh leaves and inflorescences
of hortelã-do-campo plants (Hyptis marrubioides)
collected at different county of the southern region
of Minas Gerais. The experimental design was
completely randomized at factorial 3x2 with four
replicates each totalizing 24 plots. The essential
oil was extracted by hydrodistillation in Clevenger
apparatus. The harvest local influenced the oil
content of leaves and inflorescence of hortelã do
campo. Higher content was found in leaves of H.
marrubioides from Luminária county (0,14%). No
difference significative was found in oil content from
inflorescence of H. marrubioides among harvest
local.
Palavras-chave: Hyptis marrubioides, Lamiaceae,
planta medicinal, população de plantas.
Keywords: Hyptis marrubioides, Lamiaceae,
medicinal plant, plant population.
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3513
Teor de óleo volátil em acessos de hortelã-do-campo coletados
em diferentes localidades do Sul de Minas Gerais.
O óleo essencial no gênero Hyptis tem importância como fonte de constituintes
bioativos, possuindo importantes efeitos biológicos, como atividades antimicrobianas,
citotóxicas e inseticidas (Kuhnt et al., 1995). Hyptis marrubioides Epl., conhecida popularmente
como hortelã-do-campo, é uma planta de uso medicinal com atividades contra infecções
gastrointestinais e dermatológicas, dores e câimbras (Corrêa, 1931).
Vários fatores têm que ser levados em consideração quando se deseja estudar o teor
e a produção de compostos químicos ativos. A variabilidade na produção e teor dos óleos
essenciais em Lamiaceae é conhecida por ser afetada por fatores ambientais tais como luz,
disponibilidade de nutrientes, estações do ano, período do dia, ciclo e parte da planta, como
também por fatores genéticos (Vieira, 2000).
A variabilidade genética das plantas é expressa através dos chamados quimiotipos
(QT) (Apel, 2001). Segundo alguns autores, QT é um termo aplicado a plantas de mesmo
gênero e espécie, com a mesma aparência externa, mas que diferem, às vezes
consideravelmente, em sua composição química. Esses QT usualmente ocorrem naturalmente
em plantas silvestres, e podem resultar de polinização cruzada (Simões & Spitzer, 2000;
Price & Price, 1999).
A constituição genética das plantas influencia a produção de determinados metabólitos,
e diferentes variedades de espécies de plantas medicinais podem conter diferentes teores
de óleo essencial. A hortelã, por exemplo, possui variedades que são mais ricas em óleo
essencial, contendo alto teor de mentol (Basso et al., 1998; Sharma et al., 1992).
Objetivou-se avaliar o teor de óleo volátil em folhas e inflorescências de H. marrubioides
coletadas em diferentes localidades do Sul de Minas Gerais.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na estação do outono no ano de 2010, onde todas as
populações estudadas se encontravam em pleno florescimento.
Folhas e inflorescências de H. marrubioides foram coletadas na parte da manhã por
volta das 8:00 h de populações nativas de Ijaci, Luminárias e Ribeirão Vermelho, todos
municípios Sul Mineiros localizados a uma distância de 14,2 Km, 55,4 Km e 10,1 Km,
respectivamente, do município de Lavras. Em todos os locais, as plantas se encontravam
próximas a rios que circundam a região.
Os óleos essenciais das folhas e inflorescências frescas de H. marrubioides
foram extraídos por hidrodestilação em aparelho de Clevenger por um período de
uma hora e meia. O óleo essencial foi purificado por partição líquido-líquido com
diclorometano. A fase orgânica foi reunida e tratada com 5 g de sulfato de magnésio
anidro durante 30 min. Após esse período a solução foi filtrada e o solvente evaporado
em temperatura ambiente, sob capela de exaustão de gases. O teor dos óleos
essenciais foi determinado pelas massas obtidas dos óleos, e expresso em g de óleo
por 100 g de matéria fresca (%).
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, compreendendo três locais
de coleta e duas partes da planta (folhas e inflorescências), perfazendo um fatorial 3x2, com
quatro repetições cada totalizando 24 parcelas.
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3514
Teor de óleo volátil em acessos de hortelã-do-campo coletados
em diferentes localidades do Sul de Minas Gerais.
Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente pela análise de variância e
as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade pelo programa
®
Sisvar , versão 5.0. (Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de regressão indicou interação significativa para os fatores locais de coleta
e partes da planta. Não houve diferença significativa entre os locais de coleta no teor de óleo
essencial extraído das inflorescências. Já nas folhas, o maior teor de óleo essencial de H.
marrubioides foi mensurado de plantas provenientes do município de Luminárias (0,142%)
(Tabela 1). Este fato pode ser devido às condições do local de coleta. A população de plantas
de H. marrubioides dessa localidade, assim como nas demais, encontrava-se próxima a um
rio. Porém, em Luminárias o solo parecia apresentar maior fertilidade, pois nas proximidades
dessa população havia restos culturais da cultura do milho, demonstrando que nesse local
pode ter havido influência do colúvio advindo da área adjacente acima que recebeu adubação
do solo. De acordo com Sales et al. (2009) a adubação orgânica proporcionou maiores
rendimentos de óleo essencial em plantas de H. marrubioides.
O rendimento de óleo essencial de três espécies de Piper (P. arboreum, P. dilatatum e
P. hispidum) coletadas na região do Distrito Federal (Cerrado) em comparação com óleos de
plantas procedentes da região de Paraty, RJ (Mata Atlântica) variou entre 0,3 e 0,4%
(Potzernheim et al., 2006). Nos três acessos de H. marrubioides do presente estudo observouse variação de 0,02 a 0,14% de óleo essencial extraído das folhas. Já nas inflorescências, a
variação foi de 0,08 a 0,13%. Botrel et al. (2009) estudando diferentes genótipos (plantas
com inflorescências roxa e branca) e partes da planta (folhas, caules e inflorescências) de
H. marrubioides observaram que a parte da planta que apresenta maior teor de óleo é a
inflorescência mas, independente da parte da planta, o genótipo roxo apresentou o maior
teor de óleo essencial.
Agostini et al. (2005) estudando o óleo essencial de Baccharis spp (Asteraceae),
conhecidas popularmente como carqueja do sul do Brasil concluíram que o melhor rendimento
de óleo essencial foi obtido de B. articulata com 0,5% p/v.
Estudos com populações silvestres de plantas aromáticas e medicinais relacionados
ao teor e a composição química e a área de ocorrência têm demonstrado a existência de
variação genética entre plantas de diferentes populações (Vieira; Simon, 2000).
De acordo com Sales et al. (2007), sesquiterpenos oxigenados (52,9-93,2%) são a
principal classe de constituintes químicos do óleo essencial de caules e folhas de populações
de H. marrubioides provenientes de Lavras e Tiradentes-MG.
O estudo da estrutura genética de populações naturais ou, em outras palavras, da
distribuição da variação genética entre e dentro de populações de uma espécie, é de
fundamental importância para delimitar as estratégias ótimas para a conservação, manejo e
melhoramento. É também fundamental o conhecimento do seu sistema reprodutivo, visto
que determina como os genes são recombinados e mantidos pela espécie para a perpetuação
de sua variabilidade genética natural, base do seu contínuo potencial evolutivo. Botrel et al.
(2009) identificaram diferenças genotípicas em relação á coloração das inflorescências de
H. marrubioides o que pode estar relacionado a produção de óleo essencial. Através de um
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3515
Teor de óleo volátil em acessos de hortelã-do-campo coletados
em diferentes localidades do Sul de Minas Gerais.
estudo de diferentes acessos de H. marrubioides poderiam ser obtidas populações com alto
rendimento de óleo essencial, o que pode ser atribuído á variação genética entre as
populações, ao ambiente ou á interação genótipo x ambiente.
Resultados mais conclusivos sobre as diferenças químicas dos óleos essenciais dos
três acessos (Ijaci, Luminárias e Ribeirão Vermelho) e das partes da planta de H. marrubioides
serão esclarecidos pelas análises por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de
massas que estão sendo realizadas. Até o presente conclui-se que o maior teor de óleo
essencial foi obtido de folhas provenientes de H. marrubioides coletadas em LumináriasMG.
AGRADECIMENTOS
À FAPEMIG, CAPES e CNPq pelo fornecimento da bolsa e apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
AGOSTINI F; SANTOS ACA; ROSSATO M; PANSERA MR; ZATTERA F; WASUM R;
SERAFINI LA. 2005. Estudo do óleo essencial de algumas espécies do gênero Baccharis
(Asteraceae) do sul do Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia 15: 215-220.
APEL MA. 2001. Óleos voláteis e espécies da Subtribo Eugeniinae (Myrtaceae): composição
química e antividades antimicrobiana e antiinflamatória. Porto Alegre: UFRGS. (Tese
Doutorado).
BASSO F; PISANTE M; BASSO B. 1998. Agronomical aspects of officinal plant cultivation.
Phytotherapy Research 12: 131-134.
BOTREL PP; PINTO JEBP; FIGUEIREDO FC; BERTOLUCCI SKV; FERRI PH. 2009. Teor
e composição química do óleo essencial de Hyptis marrubioides Epling (Lamiaceae) em
diferentes genótipos. Revista Brasileira de Plantas Medicinais 11: 164-169.
CORRÊA MP. 1931. Dicionário das plantas úteis e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional.
FERREIRA DF. 2000. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0.
In... REUNIÃO ANUAL DA REGIÃO BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE
BIOMETRIA, 45. Anais... São Carlos: UFSCar. p.255-258.
KUHNT TM; PROBSTLE A; RIMPLER H; BAUER R; HEINRICH M. 1995. Biological and
pharmacological activities and further constituints of Hyptis verticullata. Planta Medica 61: 227-232.
POTZERNHEIM MCL; BIZZO HR; VIEIRA RF. 2006. Análise dos óleos essenciais de três
espécies de Piper coletadas na região do Distrito Federal (Cerrado) e comparação com
óleos de plantas procedentes da região de Paraty, RJ (Mata Atlântica). Revista Brasileira de
Farmacognosia 16: 246-251.
PRICE S; PRICE L. 1999. Aromaterapy for health professionals. New York: Churchill
Livingstone.
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3516
Teor de óleo volátil em acessos de hortelã-do-campo coletados
em diferentes localidades do Sul de Minas Gerais.
SALES JF; PINTO JEBP; BOTREL PP; OLIVEIRA CBA; FERRI PH; PAULA JR; SERAPHIN
J C. 2007. Composition and chemical variability in the essential oil of Hyptis marrubioides
Epl. Journal of Essential Oil Research 19: 552-556.
SALES JF; PINTO JEBP; BOTREL PP; SILVA FG; CORRÊA RM; CARVALHO, JG. 2009.
Acúmulo de massa, teor foliar de nutrientes e rendimento de óleo essencial de hortelã do
campo (Hyptis marrubioides Epl.) cultivado sob adubação orgânica. Bioscience Journal 25:
60-68.
SHARMA S; TYAGI BR; NAQVI AA; THAKUR RS. 1992. Stability of essential oil yield and
quality characters in Japanese mint (Mentha arvensis L.) under varied environmental
conditions. Journal of Essential Oil Research 4: 411-416.
SIMÕES CMO; SPITZER V. 2000. Farmacognosia: da planta ao medicamento. Porto Alegre:
UFRGS.
VIEIRA RF; SIMON JE. 2000. Chemical characterization of basil (Ocimum spp.) germplasm
used in the markets and traditional medicine in Brazil. Economic Botany 54: 207-216.
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3517
Download