Infinitivo pessoal, que complicação é essa? http://veja.abril.com.br “Li a seguinte frase em uma revista: ‘Para mantermos o casamento, começamos a fazer terapia’. Isso está certo? Sempre achei que fosse ‘Para manter o casamento, começamos a fazer terapia’. O ‘manter’ vai para o plural ou não vai?” (Giovanna Ferreira da Silva) Com sua consulta, Giovanna abre um dos baús sem fundo do português, o do infinitivo pessoal. A resposta à sua dúvida é simples: tanto faz, as duas formas estão corretas. Mas isso está longe de esgotar o assunto, algo que seria impossível nos limites desta coluna. O infinitivo pessoal dá um livro. Vamos falar aqui de algumas linhas gerais. Quando se iniciou no estudo de português em Budapeste, anos antes de se refugiar no Brasil, fugindo do nazismo, o erudito Paulo Rónai ficou mordido de ciúme. “A descoberta do infinitivo pessoal foi uma surpresa e abalou-me bastante o orgulho patriótico, pois julgava-o uma riqueza exclusiva do húngaro”, anotou ele num artigo de 1948, reproduzido no livro “Como aprendi o português”. Trata-se de uma riqueza compartilhada. O infinitivo pessoal é uma peculiaridade linguística (chamada tecnicamente idiomatismo: termo ou expressão de uma língua, que não tem correspondente em outra) que só existe no húngaro, no português e, dizem, em alguns dialetos italianos. Há quem o encare com mau humor, considerando-o uma complicação maluca: caramba, se é infinitivo, isto é, o “ponto morto” do verbo, como pode ser pessoal, ou seja, flexionado – não existe uma contradição aí? Existe. Eis a beleza da coisa. Muitas “leis” já foram formuladas pelos gramáticos sobre o assunto, mas umas não batem bem com as outras e a maioria comporta exceções. Em vez de leis, é melhor falar em “tendências”, para usar uma palavra do gramático Celso Cunha. Uma dessas tendências é a de flexionar o infinitivo quando, regido de preposição, ele aparece antes da oração principal – justamente o caso apontado por Giovanna. “Para mantermos, fizemos…”. A construção está perfeita, mas vale notar que também estaria correta se o verbo não fosse flexionado: “Para manter, fizemos…”. No primeiro caso o verbo “manter” tem um sujeito desinibido; no segundo, o praticante da ação (“nós”) é o mesmo no plano lógico, mas se refugia atrás da impessoalidade, como se relutasse em se comprometer sintaticamente. Antes de prosseguir, convém lembrar que a flexão do infinitivo não se aplica nem à primeira nem à terceira pessoa do singular, eu e ele. Dizemos “para eu fazer” e “para ele/ela fazer”. No singular, apenas a segunda pessoa, tu, pode flexionar o infinitivo, como ocorre na bela canção “O quereres”, de Caetano Veloso, que usa o infinitivo substantivado, aquele precedido de artigo: “O quereres e o estares sempre a fim/ Do que em mim é de mim tão desigual…”. Apesar da insistência quase didática do compositor baiano, há quem afirme equivocadamente que o infinitivo pessoal só ocorre no plural. O erro, se não chega a ser perdoável, é compreensível. A brasileiríssima substituição de tu por você – pronome que leva o verbo para a terceira pessoa do singular – faz com que na língua do dia a dia o infinitivo pessoal costume se restringir mesmo ao plural. Na quase totalidade dos casos, a nós e eles. Costuma ser boa política dar prioridade ao infinitivo não flexionado e só usar a flexão quando ela for útil à clareza e, digamos, à “lógica” da frase. Isso ocorre nos casos em que seu sujeito não for o mesmo da oração principal: “Viu televisão até seus olhos doerem”; “Desistiu da viagem por serem precárias as condições da estrada”; “O forasteiro se admirou de vivermos nessas condições”. Quando o sujeito do infinitivo é o mesmo da oração principal, a flexão costuma soar excessiva. Deve-se evitar uma construção como “Estudamos para aprendermos”. Por incrível que pareça, alguns gramáticos a defendem quando a ideia é enfatizar a ação de aprender e quem a pratica. Não me parece um bom motivo para abrirmos mão da elegância, simplicidade e eufonia da forma consagrada: “Estudamos para aprender”. Uma ressalva a tal tendência é justamente aquela mencionada acima, a propósito da consulta de Giovanna: a do infinitivo que antecede a oração principal. As locuções verbais são uma prova de que o ouvido é bom juiz. Quando o infinitivo vem acompanhado de um verbo auxiliar, soa mal demais a flexão. Diz-se “Nós vamos ficar em casa, mas eles vão sair”, e nunca “Nós vamos ficarmos em casa, mas eles vão saírem”. Existem na literatura alguns exemplos de flexão em tais casos, quando o verbo principal vem muito afastado do auxiliar e o autor a julga necessária à clareza. Mas são exceções. Eis algumas “tendências”. Há outras. O que acho importante destacar é a relativa liberdade que o infinitivo pessoal nos concede. Considerações sobre a flexão do infinitivo http://www.paulohernandes.pro.br Este tema não é dos mais simples entre os fatos gramaticais da língua portuguesa. O infinitivo é forma nominal do verbo e pode apresentar-se nas modalidades flexionada e não flexionada. Alguns autores adotam, para essas formas, a nomenclatura de infinitivo pessoal e impessoal. O prof. Hermínio de Campos Mello contesta esse uso alegando que tanto o infinitivo flexionado como o não flexionado são pessoais, ou seja, referem-se a alguma pessoa gramatical. O mestre parece ter razão quando se empregam flexões como "Vou caminhar amanhã", "Ela vai caminhar amanhã" ou "Todos vão caminhar amanhã". Nestes exemplos, embora em sua forma não flexionada, ou seja, "impessoal", o infinitivo relaciona-se sempre a uma das pessoas gramaticais. O infinitivo flexionado é idiomatismo da língua portuguesa, ou seja, é fenômeno característico, típico de nossa língua, embora não seja exclusivo dela. Tudo indica que se originou do imperfeito do subjuntivo latino (hipótese de José Maria Rodrigues) e já aparece no primeiro documento conhecido escrito em língua portuguesa, a "Cantiga da Ribeirinha”. O infinitivo pode, pois, flexionar-se em todas as pessoas gramaticais: amar (eu), amares (tu), amar (ele), amarmos (nós), amardes (vós), amarem (eles). Morficamente, o infinitivo flexionado é idêntico ao futuro simples do subjuntivo nas conjugações verbais regulares. Distingue-se deste por encerrar significado declarativo (afirmativo ou negativo: "Quero que os alunos tenham mais aulas de Português para entenderem o infinitivo flexionado"), ao passo que o futuro do subjuntivo expressa hipótese condicional (se eles entenderem) ou temporal (quando eles entenderem). Outros exemplos de orações com o infinitivo flexionado: "Ao se aproximarem os professores, os alunos levantaram-se", "As andorinhas vinham chegando em revoada até pousarem todas sobre a figueira" e "Lembrou existirem emendas na ata da assembleia anterior". - Leia agora algumas observações sobre o infinitivo: 1) O infinitivo será ou não flexionado quando a clareza assim o exigir. Ex.: "D. Amélia sofria com aquela animosidade dentro de casa. Uma vez falou com o marido para sair, para procurar um lugar para morarem em casa que fosse deles" (José Lins do Rego). Se o infinitivo não se flexionasse, os sujeitos dos verbos assinalados seriam diferentes dos expressos nesses exemplos. 2) Certa ênfase de estilo pode justificar o emprego do infinitivo flexionado, como no exemplo: "As mulheres cochilando nos quartos, os homens a caçoar e a rir na sonolência, a se espreguiçarem do bom almoço pelas redes e cadeiras" (Dinah Silveira de Queiroz). 3) Cumpre não confundir o infinitivo flexionado com o futuro do subjuntivo. Assim, em "Se algum dia caírem estas linhas sob os olhos de alguém, rirão..." (Ciro dos Anjos), tem-se flexão do futuro do subjuntivo e não, do infinitivo. A flexão do infinitivo, quando correta, propicia clareza, elegância e concisão. Uso do infinitivo http://www.migalhas.com.br De acordo com Said Ali, a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da ação ou do intuito ou da necessidade de pormos em evidência o agente da ação: no primeiro caso, preferimos o infinitivo não flexionado; no segundo, o flexionado. Em lição similar, para Hêndricas Nadólskis e Outra, "muitas vezes, a opção entre a forma flexionada ou não flexionada é estilística e não gramatical. Quando mais importa a ação, prefere-se a forma não flexionada; quando se realça o agente da ação, usa-se a forma flexionada". Celso Cunha, que cita o primeiro autor, em complementação, diz tratar-se, em verdade, de um emprego seletivo, mais do terreno da Estilística do que, propriamente, da Gramática. Com a atenção voltada para tal advertência, parece mais acertado falar não de regras, mas de tendências que se observam no emprego de uma e de outra forma do infinitivo, muito embora, em determinadas situações, haja proibição ou obrigatoriedade de determinada construção. Com essas premissas, passa-se às ponderações seguintes: 1) Emprega-se o infinitivo impessoal nas locuções verbais, e nelas "não é lícito flexionar o infinitivo". Exs.: a) "Os magistrados não podem fazer sozinhos o trabalho de administrar a justiça" (correto); b) "Os magistrados não podem fazerem sozinhos o trabalho de administrar a justiça" (errado). 2) Erro muito comum é a utilização do infinitivo flexionado nesses casos, sobretudo quando, entre o verbo auxiliar e o verbo principal, existem outras palavras. Exs.: a) "Os magistrados não podem, sozinhos, sem a participação de todos os segmentos envolvidos, fazerem o trabalho de administrar a justiça" (errado); b) "Os magistrados não podem, sozinhos, sem a participação de todos os segmentos envolvidos, fazer o trabalho de administrar a justiça" (correto). - Reitere-se que, quando os verbos componentes da locução estão próximos e o auxiliar é normalmente flexionado, é menos corriqueiro o equívoco de flexão, sendo, assim, incomum um erro como "As certidões deverão acompanharem o traslado da escritura". Entretanto, quando os verbos da locução se distanciam, a possibilidade de erro se acentua intensamente, como se dá no seguinte emprego equivocado, modelo de outros tantos: "As certidões deverão, sob pena de invalidade do ato e impedimento para o registro, acompanharem o traslado da escritura" (corrija-se para: deverão... acompanhar). 3) O infinitivo pessoal é usado, se o infinitivo tiver sujeito diferente do sujeito da outra oração. Ex.: "O magistrado repreendeu os patronos, por não procederem com urbanidade na audiência". Essa, aliás, é a velha regra lembrada por Rui Barbosa, formulada de há muito por Jerônimo Soares Barbosa: ". A língua portuguesa usa do infinito pessoal, quando o sujeito do verbo infinito é diferente do do verbo finito, que determina a linguagem infinita". 4) Também se emprega o infinitivo pessoal como recurso para indeterminar o sujeito. Ex.: "Ouvi falarem inverdades por aí". Eis, um resumo de algumas regras para o uso do infinitivo, quer pessoal, quer impessoal: I) "Quando na frase o verbo principal e o verbo infinito tiverem o mesmo sujeito, o infinitivo deve ser impessoal". Ex.: "Queremos ser felizes". II) "Quando os dois verbos possuem sujeitos diferentes, usa-se o modo pessoal". Ex.: "Napoleão viu caírem as armas das mãos de seus soldados". III) Neste último caso, porém, "quando a frase do infinito serve de objeto direto ao verbo principal, podemos empregar o infinito impessoal ainda que ambos tenham sujeitos diferentes", opção essa que fica à escolha do usuário. Ex.: "Napoleão viu cair as armas das mãos de seus soldados". - Vale a pena também relembrar uma regra abrangente de elevado número de casos: "Usa-se o infinito pessoal quando tem ele sujeito próprio, diverso do de seu verbo regente; e o impessoal, quando os sujeitos são idênticos". E se remate com a observação de Pasquale Cipro Neto de que "o infinitivo constitui um dos casos mais discutidos da língua portuguesa", e "estabelecer regras para o uso de sua forma flexionada, por exemplo, é tarefa difícil", e, "em muitos casos, a opção é meramente estilística". Quando o infinitivo flexiona? http://kplus.cosmo.com.br M. T. Piacentini Para ir ou irem? Convém ir ou irmos? A chance de eles ganhar ou ganharem? Problemas a ser ou a serem resolvidos? Têm sido muitas as perguntas dos leitores sobre o infinitivo, que é uma das três formas nominais do verbo, junto com o gerúndio e o particípio. Por sua própria essência e natureza, o infinitivo é uma expressão verbal que não comporta flexão – é o chamado infinitivo impessoal, que não tem sujeito próprio e geralmente corresponde a um substantivo: Trabalhar é bom = o trabalho é bom; amar é sofrer = o amor é sofrimento. No entanto, a língua portuguesa tem a peculiaridade de poder (e às vezes dever) flexionar o infinitivo, que passa a ser chamado de infinitivo pessoal. Flexionar quer dizer conjugar em todas as pessoas, por exemplo: vender, venderes, vender, vendermos, venderem. Esse infinitivo pessoal, que apresenta um fato ou uma ação de modo geral, está ligado a uma preposição – para ir, vontade de sair, interesse em ficar – ou a frases do tipo "Convém / cumpre dizer; e é preciso / é bom / é necessário / é importante / é possível dizer... O infinitivo flexiona 1. Quando tem sujeito claramente expresso, ou seja, quando o pronome pessoal ou substantivo vem ao lado do infinitivo. É o único caso de flexão obrigatória: É melhor nós irmos embora já. Convém os idosos saírem em primeiro lugar. Não é interessante elas receberem tanta gorjeta. Farei o possível para as crianças aqui terem o conforto que tinham em casa. 2. Quando se refere a um sujeito não expresso que se quer dar a conhecer pela desinência verbal: Ficaremos mais satisfeitos a cada novo produto que fabricarmos. Mencionei a intenção de vendermos a casa. É melhor sair agora. Está na hora de irmos embora. - Observe que as mesmas frases, sem a flexão, não deixariam claro o sujeito: "mencionei a intenção de vender" poderia significar "eu vender"; "é melhor sair" e "está na hora de ir" pode se referir a eu, ele, ela, você. Flexão não obrigatória A flexão é desnecessária quando o sujeito do infinitivo é o mesmo que o sujeito ou objeto da oração principal. Tendo sido expresso na primeira oração, o sujeito já está claro quem é, não precisando figurar outra vez no mesmo período. Quando o sujeito não vem expresso ao lado do infinitivo, deve-se recorrer à flexão somente em caso de ambiguidade. Observe nas frases abaixo que é muito mais elegante a não flexão: A linguagem é o meio de que dispomos para exprimir nosso pensamento. Cometeram irregularidades só para agradar ao patrão. Convidou os colegas a participar do debate. Não temos interesse em adiar a decisão. O estudo ensinou os cientistas a proteger o algodão de pragas, a amadurecer tomates e a dobrar a produção de óleo de colza. De qualquer maneira, é bom que se repita que quando não há sujeito expresso (em outros termos: quando o substantivo ou o pronome pessoal vem antes da preposição) pode-se usar ou não o verbo no plural – a opção dependerá do redator: Os dados servem para guiar/guiarem a comunicação das empresas. Reuniram-se os escoteiros a fim de deliberar/deliberarem sobre o local do encontro. Todos discutiram uma forma de se proteger/protegerem dos abusos. O calendário obrigava os candidatos a se definir/definirem até 3 de julho. Grupo ajuda deficientes a superar/superarem seus limites. Estudantes auxiliam portadores de necessidades a ter/terem qualidade de vida. Empresas aéreas colaboram com a arte sem nada cobrar/cobrarem pelo transporte.