UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA SAMYA DUARTE NOSSABEIN TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR E RELATO DE CASO-CONJUNTIVITE E ÚLCERA DE CÓRNEA EM BABUÍNO-SAGRADO CURITIBA 2015 SAMYA DUARTE NOSSABEIN TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR E RELATO DE CASO-CONJUNTIVITE E ÚLCERA DE CÓRNEA EM BABUÍNO-SAGRADO Trabalho de conclusão de curso apresentado Curso de Medicina Veterinária da Faculdade Ciências Biológicas da Universidade Tuiuti Paraná, como requisito parcial para a obtenção Grau de Medica Veterinária. ao de do do Orientador (a) Acadêmico (a): M.V. Prof. Lucyenne Giselle Popp Brasil Queiroz. CURITIBA 2015 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ REITOR Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Carlos Eduardo Rangel Santos PRÓ-REITORA ACADÊMICA Prof. Dra. Carmen Luiza da Silva DIRETOR DE GRADUAÇÃO Prof. Dr. João Henrique Faryniuk COORDENADOR DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Prof. Dr. Welington Hartmann COORDENADOR DE ESTÁGIO CURRICULAR Prof. Dr. Welington Hartmann CAMPUS BARIGUI Rua Sydnei A Rangel Santos 238 - Santo Inácio CEP 82.010-330 – Curitiba - PR FONE: (41) 3331-7700 TERMO DE APROVAÇÃO SAMYA DUARTE NOSSABEIN CONJUNTIVITE E ÚLCERA DE CÓRNE A EM BABUÍNO-S AGRADO Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Médico (a) Veterinário (a) pela Comissão Examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Comissão Examinadora: Presidente: Prof. Lucyenne Giselle Popp Brasil Queiroz Prof. Diogo da Motta Ferreira Prof. Elza Maria Galvão Ciffoni Arns Curitiba, 02 de Dezembro de 2015 De d ico e st e r e la t ór io aos me us p a is qu e fi ze r a m de t u d o pa ra ver esse mo m en t o che g ar. A os m e us c o mp a nh e ir os fe l inos S uky e B il ly . AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus que me proporcionou a oportunidade de realizar o meu maior sonho. A Ele todo o agradecimento, pelas oportunidades e ensinamentos durante todos os anos de minha vida. A meus pais que mesmo diante de todas as dificuldades conseguiram forças para continuar realizando o meu sonho mesmo que isso signifique sacrificar os deles. Graças a eles cheguei até aqui e no que depender continuarei subindo cada vez mais os degraus da vida. Agradeço eternamente tudo que me proporcionaram durante toda a minha vida, amo vocês. Ao meu noivo Anderson que sempre esteve ao meu lado me apoiando e torcendo sempre pelo meu crescimento, obrigada por ser esse companheiro maravilhoso. Aos meus amigos felinos Suky e Billy pelos três anos de companheirismo. Aos amigos que estiveram sempre comigo. Em especial a Karla, que me apoiou e me ajudou muito no desenvolvimento do meu trabalho, uma alma tão especial e fundamental para minha vida. A minha amiga Thaissa por ser uma pessoa tão pura e especial, nunca vi ninguém assim na minha vida, obrigada por tudo. Agradeço a minha mais nova amiga Ana, por ter se dedicado muito em me ajudar, pelas longas conversas e desabafos. A Grazielle por ter me escutado muito e me apoiado nos momentos dif íceis e proporcionado muitas risadas. A Izabelle parceira de anos de sofrimento, brigas, risadas, principalmente vitórias e amadurecimento. Agradeço também a equipe do Zoológico de Curitiba que me receberam muito bem, me proporcionaram grandes ensinamentos, risadas e momentos inesquecíveis, obrigada por me tornarem mais uma amante de animais selvagens. Agradeço a minha orientadora Lu Popp por ter tido paciência com as minhas indecisões e ataques de desespero, agradeço pelos puxões de orelha e estimulado o desenvolver desse trabalho. Ao professor Eros por ter me ajudado a conseguir os exames que precisei para concluir meu trabalho com toda boa vontade do mundo. RESUMO A conjuntivite é uma afecção que afeta a conjuntiva ocular caracterizado por uma inflamação inespecífica da mucosa. A úlcera de córnea é uma enfermidade responsável pela descontinuidade da espessura total ou parcial do epitélio corneal, e são consideradas as enfermidades mais frequentes na oftalmologia veterinária. O presente trabalho tem como objetivo geral descrever as atividades do estágio curricular e um relato de caso sobre conjuntivite e manifestação secundária de úlcera de córnea superficial em um babuíno-sagrado (Papio hammadryas). O caso ocorreu durante o estágio, recorreu-se a uma especialista em oftalmologia veterinária, que instituiu o tratamento baseado em clinica medica de pequenos animais, obtendo-se um resultado favorável. Palavras chaves: babuíno sagrado, conjuntivite, úlcera de córnea. ABSTRACT Conjunctivitis is an infection that affects the conjunctiva characterized by nonspecific inflammation of the mucosa. A corneal ulcer is a disease responsible for the discontinuation of the total thickness or partial corneal epithelium,and considered the most frequent diseases in veterinary ophthalmology. The currently work has as general objective describe the curriculum stage activities and a report of a case about conjunctivitis and manifestation of secundary superficial corneal ulcer in a baboon-sacred (Papio hammadryas). The case occurred during the stage, we resort to a specialist in veterinary ophthalmology, establishing treatment based on medical clinic for small animals, obtaining a favorable result. Keywords: baboon-sacred, conjunctivitis, corneal ulcer. LISTA DE ABREVIATURAS AINE- Antiinflamatório não esteroide mg/kg- Miligramas por quilo ml- Mililitros PR- Paraná VO- Via oral LISTA DE TABELAS TABELA 1- Casuística nos casos acompanhados no Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. ..................................................................................................... 28 TABELA 2- Casuística nos casos acompanhados no Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. ......................................................................................................................... 29 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1- Porcentagem de quantos animais por espécies foram atendidos no Zoológico Municipal de Curitiba, no período de 10 de agosto de 2015 a 28 de outubro de 2015. ....................................................................................................... 29 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Fachada da Entrada do Passeio Público .................................................... 17 Figura 2 Vista externa da administração do Passeio Público de Curitiba- PR, 2015. .................................................................................................................................. 18 Figura 3 Ambulatório do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. .............................. 18 Figura 4 Sala de Hospedagem 1 do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. ............ 19 Figura 5 Sala de Hospedagem 2 do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. ............ 19 Figura 6 Sala de Hospedagem 3 do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. ............ 20 Figura 7 Laboratório do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. ............................... 20 Figura 8 Sala de criação de ratos, animais de reprodução, do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. ..................................................................................................... 21 Figura 9 Sala de criação de ratos, animais para consumo, do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. ..................................................................................................... 22 Figura 10 Cozinha do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. .................................. 22 Figura 11 Fachada da Entrada do Zoológico de Curitiba. ......................................... 23 Figura 12 Ambulatório do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. ...................... 24 Figura 13 Sala de necropsia do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. ............. 24 Figura 14 Oficina do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. .............................. 25 Figura 15 Cozinha do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. ............................ 25 Figura 16 Setor de reprodução de animais em extinção do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. ..................................................................................................... 26 Figura 17 Características da face do babuíno-sagrado (Papio hammadryas). ......... 32 Figura 18 Características dos membros pélvicos e disposição dos dígitos do babuíno-sagrado (Papio hammadryas). .................................................................... 33 Figura 19 Anatomia da conjuntiva ocular .................................................................. 35 Figura 20 Disposição dos músculos extraoculares ................................................... 36 Figura 21 As camadas da córnea.............................................................................. 36 Figura 22 Administração de meloxicam via retrobulbar em babuíno sagrado no Zoológico de Curitiba-PR, 2015. ............................................................................... 42 Figura 23 Abcesso presente na região infraorbitária em babuíno sagrado (papio hammadryas) no zoológico de Curitiba- PR, 2015. ................................................... 43 Figura 24 Resultado da cultura e antibiograma realizados em babuíno sagrado (Papio hammadryas) no Zoológico de Curitiba-PR, 2015. ........................................ 44 Figura 25 Resultado dos exames de hemograma e bioquímicos realizados em babuíno sagrado (Papio hammadryas) no Zoológico de Curitiba-PR, 2015. ............ 44 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 16 2 DESCRIÇÃO DA UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁGIO .................................. 17 2.1 PASSEIO PÚBLICO DE CURITIBA .................................................................... 17 2.2 ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA........................................................... 23 3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ........................................... 26 4 CASUÍSTICA ACOMPANHADA DURANTE O ESTÁGIO .................................... 28 4.1 CASUISTICA NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA .............................. 28 4.2 CASUÍSTICA NO PASSEIO PÚBLICO DE CURITIBA ....................................... 29 5 RELATO DE CASO ............................................................................................... 31 5.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 31 6. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 32 6.1 GENERO PAPIO ................................................................................................. 32 6.2 ANATOMIA OCULAR .......................................................................................... 34 6.3 CONJUNTIVITE .................................................................................................. 37 6.4 ÚLCERA DE CORNEA........................................................................................ 39 7 DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO ......................................................................... 41 8 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 45 9 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 47 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48 16 1 APRESENTAÇÃO O estágio supervisionado é necessário para que o aluno coloque em prática os aprendizados e complemente os conhecimentos que adquiriu durante a graduação, assim aperfeiçoar e aprender cada vez mais. O estágio também visa o contato do aluno com o mercado de trabalho, colocando o estagiário de frente a realidade profissional e ajudando o mesmo a escolher a área em que deseja atuar. O presente trabalho de conclusão de curso expõe o período de estágio curricular supervisionado realizado no Zoológico Municipal de Curitiba e Passeio Público de Curitiba, sob a orientação profissional e supervisão do M.V. Manoel Lucas Javorouski e orientação acadêmica da M.V. Prof. Lucyenne Giselle Popp Brasil Queiroz. No estágio em questão, foram acompanhadas as áreas de clinica médica, cirúrgica, terapêutica e nutrição de animais selvagens. Outros procedimentos também foram acompanhados, como: contenção, manejo, necropsias, confecções de dardos e tratamento geral. O estágio foi realizado de segunda à sexta-feira, totalizando 8 horas diárias, com uma somatória final de 440 horas. O objetivo deste relatório é descrever a infraestrutura da unidade concedente do estágio, as atividades desenvolvidas, e abordar a casuística presenciada, apresentando em forma de gráfico e tabelas os casos atendidos. Além disso, será realizado um relato de caso sobre conjuntivite e úlcera de córnea em Papio hammadryas, e uma revisão de literatura sobre o mesmo. 17 2 DESCRIÇÃO DA UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁG IO 2.1 PASSEIO PÚBLICO DE CURITIBA O Passeio Público localiza-se no Centro de Curitiba entre as ruas Carlos Cavalcanti, Avenida João Gualberto e Presidente Faria. Figura 1 Fachada da Entrada do Passeio Público Fonte: Em: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/zoologico-e-p-publico-zoologico-e- passeio-publico-smma/331. Acesso em: 29 de agosto de 2015. O Passeio Público foi inaugurado em 1886 e foi o primeiro zoológico da cidade de Curitiba, ocupa uma área de 69.285m2, e abriga atualmente animais de pequeno porte (Em: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/zoologico-e-p-publico- zoologico-e-passeio-publico-smma/331. Acesso em: 29 de agosto de 2015), como aves, primatas e répteis. Possui um setor técnico com ambulátorio, salas de hospedagem dos animais, laboratório, criação administração. de ratos, cozinha e uma 18 Figura 2 Vista externa da administração do Passeio Público de Curitiba – PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. No ambulatório, localizado no setor técnico, são realizados os atendimentos clínicos de animais residentes ou de vida livre, quando levados ao Passeio Público por pessoas que encontram esses animais na rua. Figura 3 Ambulatório do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. 19 Nas salas de internamento (figuras 4, 5 e 6) onde se encontram os animais excedentes e/ou em tratamento. Figura 4 Sala de tratamento 1 do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. Figura 5 Sala de tratamento 2 do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. 20 Figura 6 Sala de tratamento 3 do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. No laboratório (figura 7) são realizados alguns exames, principalmente coproparasitológicos e esterilização dos materiais utilizados em procedimentos cirúrgicos e de rotina. Figura 7 Laboratório do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. 21 Na sala de criação de ratos (figuras 8 e 9) é realizado reprodução de mini mouse, camundongos e ratazanas para a alimentação dos animais residentes do Passeio Público e Zoológico, o manejo é realizado duas vezes por semana, consiste na troca da cama (cepilho), de caixas (abrigos) e na separação dos animais que irão para o consumo ou para reprodução. A atividade de criação é relativamente recente, antes os animais de consumo eram doados por outras instituições que tinham excedente de produção, isso causava alguns problemas, pois, em alguns momentos, não ocorria uma produção excedente, faltando alimento para os animais do acervo. Assim, se desenvolveu a atividade de criação de ratos, garantindo a quantidade necessária todos os dias do ano. 2015. Figura 8 Sala de criação de ratos, animais de reprodução, do Passeio Público de Curitiba-PR, FONTE: Acervo pessoal. 22 2015. Figura 9 Sala de criação de ratos, animais para consumo, do Passeio Público de Curitiba-PR, FONTE: Acervo pessoal. A cozinha (figura 10) é responsável pela alimentação de todos os animais do Passeio Público. Diariamente, são separados os alimentos de acordo com as particularidades de cada espécie incluindo frutas, carnes, verduras, entre outros, que podem ser fornecidas inteiras, picadas ou cozidas, depende da necessidade do animal. Figura 10 Cozinha do Passeio Público de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. 23 2.2 ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA O Zoológico Municipal de Curitiba localiza-se na Rua João Miqueletto, s/n, no bairro Alto do Boqueirão, no município de Curitiba, estado do Paraná. Figura 11 Fachada da Entrada do Zoológico de Curitiba. Fonte: Em: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/zoologico-e-p-publico-zoologico-e- passeio-publico-smma/331. Acesso em: 29 de agosto de 2015. O Zoológico Municipal de Curitiba, inaugurado em 1982, ocupa uma área de 589.000m2 (Em: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/zoologico-e-p-publico- zoologico-e-passeio-publico-smma/331. Acesso em: 29 de agosto de 2015). Os objetivos do Zoológico são a conservação de espécies em extinção, o desenvolvimento de pesquisa para ampliar o conhecimento a respeito da natureza, educação ambiental realizada através do contato com os animais do acervo, lazer e bem estar-animal (JAVOROUSKI; BISCAIA, 2007). O zoológico possui ambulatório, sala de necropsia, oficina e cozinha. No ambulatório do Zoológico (figura 12), semelhante ao Passeio Público, realiza atendimentos clínicos apenas dos animais residentes e aqueles de vida livre levados por visitantes. 24 Figura 12 Ambulatório do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. Na sala de necropsia (figura13), são realizados exames pos mortem dos animais do acervo e esta também possui um freezer para conservação dos corpos. Figura 13 Sala de necropsia do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. O Zoológico possui uma oficina (figura 14) onde são realizados serviços de concertos e produção de materiais necessários para os recintos. 25 Figura 14 Oficina do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. Na cozinha do Zoológico (figura 15), é realizado o cálculo da quantidade de alimento que cada animal irá receber, qual a alimentação ideal e a forma como este será oferecido aos animais, de acordo com cada espécie. Figura 15 Cozinha do Zoológico Municipal de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. 26 O Zoológico de Curitiba tem um programa de reprodução de psitacídeos nativos com risco de extinção (figura 16), com objetivo de possíveis solturas, programas de reintrodução e transferência para outros zoológicos. Figura 16 Setor de reprodução de animais em extinção do Zoológico Municipal de CuritibaPR, 2015. FONTE: Acervo pessoal. 3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS O estágio curricular obrigatório foi realizado no Passeio Público de Curitiba e no Zoológico Municipal de Curitiba, durante o período de 10 de agosto de 2015 a 28 de outubro de 2015, das 8h00min às 12h00min e das 13h00min às 17h00min, totalizando 440 horas, sob a supervisão profissional do M.V. Manoel Lucas Javorouski e orientação acadêmica da M.V. Prof. Lucyenne Giselle Popp Brasil Queiroz. O estagiário acompanha todos os procedimentos clínicos possíveis, realizados pelos Médicos Veterinários, desde contenção a administração de medicamentos, ajuda no preenchimento das fichas clínicas e anestésicas, e acompanha os procedimentos de necropsia. Tanto no Passeio Público como no Zoológico são realizadas diariamente, por 27 Médicos Veterinários acompanhados pelos estagiários, vistorias de todos os recintos, com objetivo de identificar problemas, desde à saúde dos animais até problemas estruturais nos recintos. Participar da rotina da cozinha também faz parte do papel do estagiário dentro do Zoológico e do Passeio Público, que auxilia no preparo dos alimentos e aprende qual é a alimentação ideal para cada espécie, a quantidade e a forma como esta pode ser fornecida. Em seguida é feito o acompanhamento da rotina dos tratadores na distribuição dos alimentos. O enriquecimento ambiental é uma atividade realizada com os animais e tem como objetivos estimular o comportamento natural da espécie e interação com o meio em que vive, propiciar aumento do bem-estar e diminuição do estresse gerado em animais de cativeiro. Durante o período de estágio foi possível acompanhar diversas atividades de enriquecimento ambiental realizada diariamente pelos técnicos responsáveis. Cada semana é aplicada um tipo diferente de enriquecimento ambiental, que pode ser do tipo social, alimentar, físico, sensorial e ocupacional, e cada dia é realizado com uma espécie diferente. No Passeio Público há produção de ratos, na qual o estagiário auxilia o responsável técnico na limpeza, com a troca das camas (cepilho), e separação de animais prontos para o consumo e na troca de reprodutores. Ocasionalmente é necessário encaminhar algum animal para realização de exames como tomografia, raio-x, ultrassom ou cirurgias. Nestes casos, o mesmo é encaminhado para uma instituição parceira pra proceder com os exames, e o estagiário pode acompanhar tais procedimentos junto ao Médico Veterinário responsável. Sempre que possível há uma discussão de caso entre os Médicos Veterinários e os estagiários. 28 4 CASUÍSTICA ACOMPANHADA DURANTE O ESTÁGIO 4.1 CASUISTICA NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA Apresentado em forma de tabela (tabela 1) à casuística dos casos acompanhados no Zoológico Municipal de Curitiba durante o período de estágio curricular de 10 de agosto de 2015 a 28 de outubro de 2015, divididos por tipo dos atendimentos acompanhados. PR, 2015. TABELA 1- Casuística nos casos acompanhados no Zoológico Municipal de Curitiba- Procedimentos Número Porcentagem Óbitos 17 11% 11 7% Desverminados Nascimentos Microchipagem Trauma Necrópsia Outros Animais entregues pelo público 75 15 9 49% 10% 6% 9 6% 4 3% 6 4% Úlcera de córnea 2 1% Procedimento odontológico 1 1% Miíase Doença renal crônica TOTAL 2 1 152 1% 1% 100% Dentro das espécies atendidas (gráfico 1), totalizaram 115 animais, sendo 44 aves (38%), 71 mamíferos (62%). 29 GRÁFICO 1- Porcentagem de quantos animais foram atendidos no Zoológico Municipal de Curitiba, no período de 10 de agosto de 2015 a 28 de outubro de 2015. Espécies atendidas Aves Mamíferos n= 115 0% 38% 62% 4.2 CASUÍSTICA NO PASSEIO PÚBLICO DE CURITIBA Apresentado em forma de tabela à casuística dos casos acompanhados no Passeio Público de Curitiba durante o período de estágio curricular de 10 de agosto de 2015 a 28 de outubro de 2015, divididos por tipo dos atendimentos acompanhados. 2015. TABELA 2- Casuística nos casos acompanhados no Passeio Público de Curitiba-PR, Procedimentos Número Porcentagem Trauma 5 29% Necrópsia 2 Animais entregue pelo público Óbito Arrancamento de pena TOTAL 6 35% 3 18% 1 6% 17 12% 100% 30 No Passeio Publico o acervo de aves é muito maior do que os mamíferos, répteis e peixes, e como não houve problemas com os demais grupos, a casuística se resumiu as aves (17 casos). 31 5 RELATO DE CASO 5.1 INTRODUÇÃO Os primatas não humanos são muito importantes tanto na biodiversidade no reino animal como no mundo cientifico devido a sua grande semelhança com os seres humanos, sendo essas comportamentais e anatômicas. Mostraram-se de grande interesse em estudos oftalmológicos como modelos experimentais de algumas espécies exóticas de primatas não humanos. Assim, podem ser utilizados para compreender melhor o funcionamento da visão e doenças que possam acometer o olho humano (MONTIANI-FERREIRA, 2007). A grande expansão do mercado da fauna exótica e os cuidados dos Médicos Veterinários voltados aos animais ameaçados de extinção, nos zoológicos, e animais selvagens voltados para o mercado pet, demonstram a necessidade dos profissionais da Medicina Veterinária ampliarem habilidade de diagnosticar e tratar especificamente os olhos dos animais selvagens (MONTIANI-FERREIRA, 2007). A pesquisa oftalmológica nesses animais tem grande interesse para poder adquirir conhecimentos úteis para o entendimento de processos evolutivos (LANGE, 2012). É muito escassa a literatura cientifica que diz respeito aos animais selvagens, o que o torna responsável pela grande dificuldade que há nos avanços clínicos e cirúrgicos na área devido a informações insuficientes para ter um padrão de valores de referência (LANGE, 2012). Ao procurar estudos e artigos que fale sobre conjuntivite e úlcera de córnea em primatas não humanos, nota-se escassez de literatura, ficando patente a necessidade de se ampliar o estudo sobre o tema. 32 6. REVISÃO DE LITERATURA 6.1 GENERO PAPIO Os primatas da Família CERCOPHITECIDAE, possuem nariz e palato estreitos, voltados para frente e bolsas nas bochechas para armazenamento de comida (NUNES & CATÃO-DIAS, 2006). Figura 17 Características da face do babuíno-sagrado (Papio hammadryas). FONTE: Google imagens, 2015. Possuem membros pélvicos maiores do que os torácicos, não possuem cauda preênsil e dispõem de cinco dígitos nas mãos e nos pés, seus polegares são adaptados para agarrar (NUNES & CATÃO-DIAS, 2006). 33 Figura 18 Características dos membros pélvicos e disposição dos dígitos do babuíno-sagrado (Papio hammadryas). FONTE: Google imagens,2015. O gênero Papio possui cinco espécies sendo eles o Papio hamadryas, Papio anubis, Papio papio, Papio cynocephalus e Papio ursinus (ANDRADE et al., 2010). Primatas do velho mundo são animais de vida longa, a longevidade do gênero Papio é de 40 anos. Costumam ser animais de hábitos diurnos e terrestres, e se alimentam principalmente de frutas, plantas, sementes, verduras, insetos e flores (NUNES & CATÃO-DIAS, 2006). Possui sistema digestório simples, que apresenta variações em sua forma e extensão que provem da sua dieta: grande quantidade de folhas pode resultar em intestino grosso maior para facilitar a ingestão de celulose e fibras (NUNES & CATÃO-DIAS, 2006). São animais que formam haréns e possuem uma cria por ano. O macho entra na puberdade com 73 meses e a fêmea com 51 meses, o período de gestação é de 175 dias, e o desmame ocorre com 17 meses (NUNES & CATÃO-DIAS, 2006). 34 Procedimentos e tratamentos da medicina humana também são aplicados em primatas não humanos, considerando que os princípios da farmacologia e as enfermidades se assemelham entre as espécies (NUNES & CATÃO-DIAS, 2006). 6.2 ANATOMIA OCULAR Os olhos são órgãos sensitivos, protegidos por estrutura óssea, muscular e cutânea (CUNHA, 2008). A órbita é a fossa óssea que separa o olho da cavidade craniana (TUNER, 2010) e formada pelos ossos frontal, lacrimal, esfenoide, zigomático, palatino e maxilar (CUNHA, 2008). A função da órbita é de circundar e proteger o bulbo do olho e fornecer rotas para os vasos e nervos terem acesso ao olho (TUNER, 2010). A parede dorsolateral da órbita é constituída pelo ligamento orbitário (CUNHA, 2008). Em humanos, os ossos que compõem a orbita são completos, o que proporciona excelente proteção ao bulbo do olho em todas as direções. Já nos carnívoros há áreas onde nenhum osso circunda o olho, apenas tecido mole, são áreas localizadas normalmente ventrais ao olho (TUNER, 2010). Já as pálpebras, superior e inferior, e no caso de cães e gatos há também a terceira pálpebra, são projeções móveis e delgadas da pele que cobrem os olhos com função de proteção (CUNHA, 2008), supressão vascular e nervosa, devido há quantidade de músculos lisos e estriados, e propulsão das lágrimas (TUNER, 2010). A conjuntiva palpebral e bulbar (figura 19) é uma membrana mucosa que envolve as porções internas das pálpebras, nos dois lados da terceira pálpebra e a porção anterior do bulbo (CUNHA, 2008). A conjuntiva palpebral é a região que reveste a superfície posterior da pálpebra, já a conjuntiva bulbar é a parte fixada a superfície do bulbo até a córnea periférica no limbo (ZACHARY & MCGAVIN 2013). A mucosa conjuntival é altamente vascularizada o que proporciona movimentos que funcionam como barreira física e imunológica (CUNHA, 2008), previne o ressecamento corneal (TUNER, 2010), protege a conjuntiva de lesões, funciona como tecido de sustentação e proteção mecânica passiva (ZACHARY & MCGAVIN, 35 2013; LAUS, 2009). É uma estrutura similar a outras membranas mucosas, portanto tem predisposição as mesmas lesões físicas e químicas que as afetam. Na conjuntiva há um mecanismo de defesa bem desenvolvido para que haja uma rápida resposta a estímulos lesivos. Feridas na conjuntiva que são simples e descomplicadas tem uma cicatrização rápida, a cicatrização clínica ocorre em 24 a 48 horas (SLATTER, 2005). Figura 19 Anatomia da conjuntiva ocular FONTE: Google imagens,2015. A função do aparelho lacrimal é de produzir e remover as lágrimas. As maiores responsáveis pela produção de lágrimas são as glândulas lacrimais (CUNHA, 2008). Há seis músculos extraoculares (figura 20), compreendidos por quatro músculos retos divididos em medial, lateral, inferior e superior, que tracionam o olho em suas respectivas direções, e dois músculos oblíquos, sendo o obliquo dorsal responsável por tracionar o olho no sentido dorsolateral, e o ventral, que traciona o olho no sentido mediodorsal (TUNER, 2010). 36 Figura 20 Disposição dos músculos extraoculares FONTE: Google imagens,2015. O bulbo é formado por três camadas, a externa composta pela córnea e a esclera, a média que é a túnica vascular e a interna que é a túnica nervosa (CUNHA, 2008). A córnea é a estrutura transparente no revestimento fibroso do olho e, possui cinco camadas, membrana de Bowman, o epitélio, o estroma, a membrana de Descemet e o endotélio (figura 21). A esclera é a continuação posterior do revestimento externo fibroso do bulbo. Como função a córnea tem o papel na refração e transmissão da luz (CUNHA, 2008). Figura 21 As camadas da córnea. FONTE: Google imagens,2015. As características da córnea que garantem sua transparência são a ausência de vasos sanguíneos e pigmentos, a superfície óptica lisa e a disposição 37 das fibrilas de colágeno (CUNHA, 2008). A transparência da córnea é essencial para o seu funcionamento normal (TUNER, 2010). A íris é formada por vasos sanguíneos, tecido conjuntivo, fibras musculares e nervos. Tem o epitélio pigmentado com melanina e possui musculatura lisa que é responsável pela dilatação da pupila, o que controla a passagem de luz. Já a pupila que se encontra localizada na região central da íris é responsável pela passagem de luz (CUNHA, 2008). A retina é composta por 10 camadas, na qual nove formam a retina neurosensorial, e a décima, a mais externa, é o epitélio pigmentado da retina (TUNER, 2010). A lente é uma estrutura biconvexa, transparente e refrativa, localizada atrás da íris, durante seu desenvolvimento é nutrida por uma rede de vasos sanguíneo localizado anterior e posterior à lente, no adulto não possui suplemento vascular e, sua nutrição é realizada pelo humor aquoso. É uma das responsáveis pela propagação da luz (TUNER, 2010). 6.3 CONJUNTIVITE A conjuntivite diz respeito a uma inflamação inespecífica da mucosa ocular e é a causa mais comum de “olho vermelho” em animais (MOORE, 2008). São as afecções mais comuns na oftalmologia veterinária (LAUS, 2009). Há varias causas de conjuntivite como: infecciosas, deficiência do filme lacrimal, corpos estranhos, traumatismo, iatrogênico, imunomediada e outras doenças oculares (MOORE, 2008). Costuma ser uma afecção bilateral, quando é unilateral, normalmente é por causa traumática (LAUS, 2009). Os sinais clínicos são hiperemia, secreção ocular, quemose, dor, proliferação tecidual, epífora, secreção purulenta, blefaroespasmo, fotofobia e, por vezes, petéquias e hematomas (MOORE, 2008; LAUS, 2009). 38 De acordo com SLATTER (2005) a conjuntiva atende por surtos agudos que é caracterizada por hiperemia, exsudatos celulares e quemose, no caso de insultos crônicos responde com hiperemia, pigmentação, formação folicular e exsudação. As conjuntivites traumáticas podem ter como causa, anomalias de conformação, ou causas externas como poeira, agentes irritantes ou brigas. É comum nesse tipo de enfermidade a ocorrência de petéquias e hematomas conjuntivais. Quando a ferida é pequena não há necessidade de sutura devido à rápida reparação da conjuntiva. Os anti-inflamatórios não esteroides são indicados para o tratamento (LAUS, 2009). A grande maioria das conjuntivites bacterianas são secundárias ao trauma, olho seco, alergia e corpo estranho, sendo as bactérias Gram-positivas as mais comuns (LAUS, 2009). De acordo com MONTIANI-FERREIRA e colaboradores. (2008), a flora bacteriana da conjuntiva tem sido estudada em varias espécies de mamíferos silvestres, na maioria desses estudos as bactérias Gram-positivas foram os isolados mais frequentes. O diagnóstico pode ser feito através do histórico, como doenças sistêmicas, ambiente, hábitos, exposição a microrganismos e produtos químicos, trauma, doenças oculares e uso de medicamentos. Realizar o exame físico, cultura bacteriana e antibiograma são indicados para definir diagnóstico e tratamento (MOORE, 2008). De acordo com SLATTER (2005), o diagnóstico é realizado através dos sinais clínicos e, na realização de exames como a cultura bacteriana, raspados conjuntivais e biópsia conjuntival. Deve ser realizada uma avaliação da conjuntiva quanto à congestão capilar, quemose, trauma, hemorragias, secreções, presença de corpos estranhos e alteração folicular. Quando houver secreção ou massas, deve ser solicitado exames complementares como cultura e antibiograma, citologia e biopsia conjuntival (CUNHA, 2008). 39 De acordo com LAUS (2009), o tratamento para qualquer conjuntivite consiste em primeiro lugar realizar a limpeza do olho, indicado realizar essa limpeza com chá de camomila, que possui propriedades anti-inflamatórias para a conjuntiva, administrar antibiótico de amplo espectro e colírios antibióticos são indicados. O tratamento para conjuntivite consiste em aplicação de antibióticos de amplo espectro, remoção de crostas e exsudatos, antibioticoterapia sistêmica em casos graves e crônicos, preservação contra automutilação, solução de lágrima artificial se houver queda na produção lacrimal pela conjuntivite crônica (SLATTER, 2005). 6.4 ÚLCERA DE CORNEA A úlcera de córnea é quando ocorre uma perda de espessura total ou parcial do epitélio da córnea (COURTNEY, 2013). A córnea não apresenta vascularização, quando presente é uma resposta à injúria (LAUS; et al, 1999). É uma enfermidade considerada urgência oftalmológica, pois podem progredir para descemetocele ou até uma perfuração de córnea o que pode necessitar de intervenção cirúrgica, na pior das hipóteses o animal pode vir a perder a visão 14(LAUS, 2009). A córnea apresenta grande capacidade de regeneração. Após a lesão, a área afetada é recoberta em 4 a 7 dias ou ate menos, isso ocorre por deslizamento de células circunjacentes cobrindo a área da ulcera (SLATTER, 2005). Há uma grande variedade de causas, mas a traumática é considerada a mais comum, principalmente em cães e gatos (LAUS, 1999). Independente da origem da úlcera, todas tem progressão potencial para endoftalmite, caso não seja tratada (SLATTER, 2005). De acordo com COURTNEY (2013), em primatas as causas mais comuns para essa enfermidade são os traumas, como briga entre os animais do recinto, resquícios de sabão ou outros produtos químicos nos recintos, manejo e infecciosos, já que são animais com poucos hábitos de higiene. 40 Úlceras corneais superficiais têm como característica lesões com perda epitelial corneal, com ou sem envolvimento do estroma anterior. Causam grande desconforto, fotofobia intensa e blefaroespasmo. Quando a lesão é crônica, estas são menos dolorosas (LAUS, 2009). Nas úlceras profundas há o envolvimento de mais da metade da córnea, que pode ser decorrente de traumas ou por evolução de úlceras superficiais (LAUS, 2009). Os sinais clínicos são blefarosespasmos, eritema periorbital, epifora, hiperemia conjuntival, aparenta estar com o olho dolorido, é observado o animal esfregando o olho e olhos vermelhos (COURTNEY, 2013). Para o diagnóstico é necessário à utilização do corante de fluoresceína e em seguida avaliar a córnea com uma luz azul cobalto, o local onde a fluoresceína manchar indicará o tamanho e a localização da úlcera, deve-se nesse momento, avaliar se há objetos estranhos na área da úlcera de córnea (COURTNEY, 2013). Para o tratamento de úlceras indolentes é indicado o debridamento ou a ceratotomia em grade e aplicação anestésica de proparacaína gotas (COURTNEY, 2013). No caso de animais que esfregam muito o olho, indica-se a realização da tarsorrafia temporária para proteger a córnea durante a cicatrização (COURTNEY, 2013). A aplicação de antibiótico com apresentação de pomada oftálmica a cada 6 horas. A atropina 1% a cada 6 ou 12 horas, dose única pode ser o suficiente (COURTNEY, 2013). Aplicação subconjuntival de atropina e antibiótico são indicados quando o tratamento tópico é difícil de ser realizado. Anti-inflamatório sistêmico é indicado como terapia adjuvante para controle de inflamação. Verificar o olho afetado a cada 3 ou 5 dias. Úlceras superficiais devem ser curadas dentro de poucos dias, já as úlceras profundas podem exigir cirurgia (COURTNEY, 2013). Swabs e raspados conjuntivais devem ser realizados para identificação de possíveis contaminantes (LAUS, et al., 1999). 41 7 DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO Um babuíno-sagrado (Papio hammadryas), macho, com quatro anos de idade, contactante de mais três animais da própria espécie, sendo duas fêmeas e um macho. No dia 29 de setembro de 2015, foi observado pelo tratador responsável pelo setor dos babuínos, uma alteração no olho esquerdo do macho jovem. Os veterinários foram ao recinto avaliar, e foi realizado o exame à distância, sem uso de contenção. Os sinais clínicos apresentados foram edema e eritema na pálpebra superior, o animal também aparentava sentir dor, manteve o olho fechado todo o tempo, e fazia movimentos de esfregar o olho. No dia 30 de setembro de 2015 não foi observada nenhuma melhora, administrou-se, então, através de dardo, amoxicilina na dose de 1 ml por via intramuscular. Dia 02 de outubro de 2015 observou que não teve nenhuma alteração dos sinais clínicos. Realizada a anestesia com tiletamina + zolazepam, foi levado para o ambulatório do Zoológico e lá pode ser realizado o exame clínico. Foi observada a presença de secreção purulenta intensa, indicando uma infecção. Foi realizada a limpeza com solução fisiológica, facilitando a visualização, e pode ser constatada uma quemose acentuada. O paciente foi medicado com tramadol 1 ml intramuscular, associação antibiótica de benzipenicilina benzatina + benzilpenicilina procaína + benzilpenicilina potássica + diidroestreptomicina base + estreptomicina base um frasco intramuscular, e meloxicam 0,2% 0,5 ml via retrobulbar (figura 22). Com o auxilio de swab, foi coletado material da conjuntiva para realização de cultura bacteriana e antibiograma e coleta de sangue para hemograma e bioquímicos. 42 Logo após os procedimentos, o paciente foi colocado em uma caixa de transporte e observado o retorno anestésico. O animal foi mantido isolado dos demais do bando para facilitar o manejo. Foi prescrito administração de azitromicina 10mg/kg VO, por seis dias. Figura 22 Administração de meloxicam via retrobulbar em babuíno sagrado no Zoológico de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Ana Flávia Figueiredo Basto, 2015. No dia 06 de outubro de 2015 foi convidada até o Zoológico uma Médica Veterinária oftalmologista para realizar uma avaliação mais especifica. Observou no recinto que o animal estava com o olho semicerrado, após a realização da anestesia feita com tiletamina + zolazepam e anestesia local com proparacaína gotas. Foi realizada uma avaliação oftalmológica, limpeza do olho com solução fisiológica e confirmado conjuntivite severa. A seguir foi feito o teste de fluoresceína, que confirmou uma úlcera superficial, havia persistência da infecção, com formação de um abcesso localizado na região infraorbitária (figura 23). 43 Figura 23 Abcesso presente na região infraorbitária em babuíno sagrado (Papio hammadryas) no zoológico de Curitiba- PR, 2015. FONTE: Ana Flávia Figueiredo Basto, 2015. O tratamento foi feito com associação antibiótica de vancomicina e ceftazidima via subconjuntival, dose única, e o abcesso foi drenado. Em três dias houve melhora, não havia mais prurido, olho completamente aberto e diminuição do eritema e recuperação total do quadro clinico em poucos dias. No dia 15 de outubro de 2015 saiu o resultado da cultura e antibiograma, que deu positivo para Streptococcus sp. e resistência bacteriana a quase todos os antibióticos (figura 24). 44 Figura 24 Resultado da cultura e antibiograma realizados em babuíno sagrado (Papio hammadryas) no Zoológico de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Eros Luís de Sousa, 2015. O resultado do hemograma e exames bioquímico não apresentaram alterações (figura 25). Figura 25 Resultado dos exames de hemograma e bioquímicos realizados em babuíno sagrado (Papio hammadryas) no Zoológico de Curitiba-PR, 2015. FONTE: Eros Luís de Sousa, 2015. 45 8 DISCUSSÃO De acordo com COURTNEY (2013) pode ser realizado na úlcera de córnea a tarsorrafia temporária para proteger a córnea de animais que tendem a esfregar os olhos, no caso apresentado, o babuíno apresentava prurido no olho e, mesmo sem a realização da tarsorrafia, o animal se recuperou sem complicações. Segundo COURTNEY (2013) a verificação do olho afetado durante o tratamento deve ser realizado a cada três ou cinco dias. No caso relatado a melhora veio dentro de três dias, o que não dispensa a verificação diária da situação em que o animal se encontra pra ter certeza que não houve recidiva do quadro clínico. O animal em questão foi tratado com associação antibiótica não relatada na literatura encontrada, para tal enfermidade, porém surtiu o efeito desejado, já que a vancomicina é usada contra microrganismos gram-positivos, e a ceftazidima, é uma cefalosporina de terceira geração, usada na suspeita de Pseudomonas e eficientes para bactérias gram-negativas, assim essa associação de antibióticos tem uma chance maior de atingir o objetivo (VERAS et al., [20--]) De acordo com a cultura bacteriana realizada no babuíno-sagrado citado no caso clínico, o resultado foi positivo para Streptococcus sp., como relatado por LAUS (2007), e MONTIANI-FERREIRA, e colaboradores, (2008), as bactérias mais comuns são gram-positivas, como é o caso do Streptococcus sp. Os sinais clínicos apresentados pelo babuíno-sagrado foram os mesmos descritos em todas as literaturas citadas anteriormente. A indicação de atropina 1% induz a dilatação da pupila para realizar avaliação do fundo de olho e da lente, e cicloplegia para redução da dor causada pelo espasmo ciliar associado à uveíte e ceratite ulcerativa, possui como efeito colateral a redução da produção de lágrima (LAUS, 2009) o autor COURTNEY (2013), recomenda o uso de atropina 1% no caso de úlceras, no caso clínico relatado, o mesmo não foi utilizado, uma vez que usado o meloxicam, que é um AINE, também tem efeito analgésico. 46 Segundo SLATTER, (2005) e LAUS, (2009), a administração de medicamentos por via retrobulbar é indicado para enfermidades do segmento posterior do bulbo ocular. Permite que o fármaco se propague rapidamente pela órbita. Administração de antibiótico por via subconjuntival mostrou eficiência no segmento anterior do olho. Comparado à via tópica, esse mostrou que pode atingir alta concentração do medicamento na córnea de até oito horas, esse nível terapêutico se assemelha a aplicação tópica de hora em hora (LAUS, 2009). No caso descrito foi usada aplicação subconjuntival de associação antibiótica. O tratamento com antibióticos de amplo espectro foi eficiente, não houve tratamento para a úlcera de córnea superficial, já que a córnea tem alta capacidade de regeneração quando não tem infecção. 47 9 CONCLUSÃO A conjuntivite traumática e a úlcera de córnea são afecções comuns em primatas não humanos, contudo a literatura sobre o assunto é escasso em animais silvestres, ficando assim patente a necessidade de se ampliar sobre o assunto. O prognóstico normalmente é favorável para conjuntivite traumática e para úlcera de córnea superficial desde que o diagnóstico seja precoce. O diagnóstico é simples e não invasivo, sendo apenas visual e avaliação do histórico no caso da conjuntivite. No caso da úlcera de córnea o diagnóstico é um pouco mais complexo, pois o profissional necessita de conhecimento da anatomia do olho e das afecções que o afetam. O tratamento tem uma resposta rápida devido à capacidade de regeneração da córnea e conjuntiva, em torno de três a sete dias ou até menos. O tratamento em animais selvagens exige uma boa contenção, geralmente química para poder realizar uma avaliação adequada. Posteriormente se faz necessário à utilização de medicamentos de longa duração e amplo espectro para manipular esses animais o mínimo possível. 48 REFERÊNCIAS ANDRADE, A.; ANDRADE. M. C. R.; MARINHO. A. M.; FILHO. J.F. Biologia, manejo e medicina de primatas não-humanos na pesquisa biomédica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010. COURTNEY, A. Pocket handbook of nonhuman primate clinical medicine. Florida: CRC Press, 2013. CUNHA, O. Manual de oftalmologia veterinária. Palotina; Universidade federal do Paraná- campus Palotina. 2008. JAVOROUSKI, M. L.; BISCAIA, S.A. 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American College of veterinary ophthalmologists. v. 11, n. 3, 2008. 49 MOORE, C. P. Doenças da conjuntiva. In: BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual saunders-Clínica de pequenos animais. São Paulo: ROCA, 2008. p. 13651367. NUNES, A.L.V.; CATÃO-DIAS, J.L. Primates – Primatas do velho mundo. In: CUBAS, Z.S; SILVA, J.C.R; CATÃO-DIAS J.L. Tratado de Animais Selvagens – Medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2006. p. 378-381. Portal da prefeitura de Curitiba- Secretaria municipal do meio ambiente. Disponivel em: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/zoologico-e-p-publico-zoologico-e- passeio-publico-smma/331. Acesso em 29 de agosto de 2015 SLATTER, D. Fundamentos de oftalmologia veterinária. ed 3.São Paulo: ROCA, 2005. TUNER, S.M. Série clínica veterinária na prática- Oftalmologia em pequenos animais. Rio de Janeiro: Saunders Elsevier, 2010. VERAS, K. N.; ALEXANDRIA. F. E. D.; DANTAS, A. L. E. Manual de antibioticoterapia – Comissão de controle de infecção hospitalar - CCIH. 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