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Ebenaceae Vent. do Estado do Rio de Janeiro*
Rosana Conrado Lopes1
RESUMO
O presente trabalho trata do estudo taxonômico das espécies de Diospyros Dalech. ex L.,
pertencente a família Ebenaceae, ocorrentes no Estado do Rio de Janeiro. Estas espécies são aqui
redescritas, ilustradas e ordenadas em chave analítica que facilita sua identificação. É feito um
estudo comparativo dos padrões de nervação das folhas, dos tipos de inflorescências e da morfologia
dos frutos. É apresentada uma tabela de épocas de floração e frutificação, além de informações
referentes ao habitat, nome vulgar e utilidade de cada espécie, bem como uma lista dos nomes dos
coletores e mapas de distribuição geográfica.
Palavras-chave: Ebenaceae, Diospyros, Rio de Janeiro.
ABSTRACT
The present work consist of a taxonomic study of species of Diospyros Dalech. ex L. belong
of the Ebenaceae family that occur in the state of Rio de Janeiro. These species are here redescribed
and illustrated, and ordered in an analytic key, making their identification easier. A comparative
study of leaves veineing patterns, kinds of inflorescence and fruit morphology was made. The work
include a table of floration and frutification time, besides information concerning their habitat, common
name, utility, collector’s names and geographical distribution maps.
Keywords: Ebenaceae, Diospyros, Rio de Janeiro.
INTRODUÇÃO
A ordem Ebenales consta de cinco
famílias: Ebenaceae, Sapotaceae, Styracaceae,
Symplocaceae e Lissocarpaceae, distribuídas
principalmente, nos trópicos, e todas com
representantes na flora do Brasil (Cronquist
1981).
A família Ebenaceae Vent. possui cerca
de 450 espécies subordinadas a 5 gêneros.
Diospyros tem ampla distribuição nas regiões
tropicais e subtropicais, enquanto Euclea,
Rhaphidanthe e Royena, são provenientes da
África e Tetraclis endêmica de Madagascar
(Cronquist 1981).
O gênero numericamente mais
significativo da família é Diospyros que
apresenta cerca de 400 espécies, distribuídas
em 15 seções. Está representado no Brasil
por aproximadamente 35 espécies (Barroso
1978) compreendidas em 6 seções: Danzleria,
Paralia, Ermellinus, Rospidios, Cavanillea e
Patonia.
No estado do Rio de Janeiro o gênero
Diospyros é o único representante da família.
Possui 3 espécies: D. ebenaster Retz., D.
inconstans Jacq. e D. janeirensis Sandwith.
A pesquisa reuniu informações que
possibilitaram descrições completas dos táxons
tratados. Os autores (Linnaeus 1754, Jacquin
1753, Aublet 1775, Gaertner 1788, Rafinesque
1838, A. De Candolle 1844, Miquel 1856,
Bentham & Hooker 1873, Gürke 1891,
Cavalcante 1963) que anteriormente
pesquisaram o gênero, fizeram descrições
incompletas das espécies.
Neste trabalho, procurou-se aprofundar
os conhecimentos das características de
nervação das folhas, dos tipos de
*Dissertação de mestrado apresentada ao curso de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Botânica) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro/ Museu Nacional no ano de 1996, orientada pela Dra. Graziela Maciel Barroso, sob o título
Diospyros Dalech. ex L. (Ebenaceae) do estado do Rio de Janeiro.
1
Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de ensino superior - CAPES
86
inflorescências e da morfologia das flores e
dos frutos, visando facilitar o reconhecimento
de espécimes em estado vegetativo e
reprodutivo.
As espécies ocorrem na Floresta
Atlântica e Restinga, tendo sido observadas
tanto em formações primárias como em
degradadas.
HISTÓRICO
Linnaeus (1754), em sua obra Genera
Plantarum, apresentou o gênero Diospyros que
já havia sido descrito por Dalechamp em 1587
(apud Linnaeus, 1754). Este gênero foi criado
a partir da espécie Diospyros lotus L. O nome
Diospyros significa “fruto dos deuses”.
Jacquin (1763) descreveu e ilustrou a
espécie Diospyros inconstans.
Aublet (1775) classificou o gênero
Paralea baseado na flor masculina de Paralea
guianensis, que foi descrita e ilustrada em sua
obra Plantas da Guiana Francesa.
Gaertner (1788) fez a classificação do
gênero Embryopteris onde descreveu e
ilustrou o fruto, a semente e o embrião da
espécie Embryopteris peregrina.
Rafinesque (1838), ao estudar as árvores
e arbustos da América do Norte, classificou 2
gêneros: Mabola e Persimon. Fez as novas
combinações Mabola edulis e Persimon
virginiana, baseadas em Diospyros Mabola
e Diospyros virginiana, respectivamente.
Justificou a criação dos gêneros devido ao
“extraordinário número e diferente posição das
anteras” de Diospyros Mabola à Diospyros
virginiana que apresentava 16 estames em 2
séries, o que as diferenciava de Diospyros
lotus que possuía 8 estames em 1 série.
A. De Candolle (1844) apresentou um
trabalho detalhado em Prodromus onde tratou
a família Ebenaceae com 8 gêneros: Royena,
Euclea,
Gunisanthus,
Rospidios,
Macreightia, Diospyros, Maba e Cargillia.
Manteve os gêneros Royena e Euclea, criados
por Linnaeus (1754). Considerou Dalechamp
autor do gênero Diospyros. Sinonimizou o
gênero Paralea criado por Aublet (1775) com
Lopes, R. C.
Diospyros, e o colocou na secção
EuDiospyros, visto que sua morfologia se
assemelhava à dessas espécies. Considerou
também como pertencente ao gênero
Diospyros a espécie Embryopteris peregrina,
criada por Gaertner (1788). Manteve o gênero
Cargillia, criado por Robert Browm em 1810
(apud De Candolle 1844). Não considerou
as modificações feitas por Rafinesque (1838).
Manteve o gênero Maba Fort. Criou os
gêneros Gunisanthus e Rospidios, utilizando
como basiônimo Diospyros pilosula e Diospyros
vaccinoides, respectivamente, tendo como
novas combinações Gunisanthus pilosulus e
Rospidios vaccinoides.
Descreveu
Macreightia nessa ocasião, composto por 7
novas espécies. Dividiu o gênero Diospyros
em 4 seções: TetraDiospyros, Otogyne,
EuDiospyros e Amuxis. Esse trabalho constou
somente de descrições, não contendo
ilustrações das espécies.
Miquel (1856), na Flora Brasiliensis de
Martius, incluiu em Diospyros os gêneros
Guajacana,
Hebenaster,
Paralea,
Cavanillea e Embryopteris. Adotou
Dalechamp como autor de Diospyros e do
gênero Macreightia de De Candolle. Fez a
apresentação de mais 3 gêneros:
Diclidanthera, Moutabea e Hornschuchia.
Elaborou pela primeira vez uma chave analítica
para os gêneros austro-americanos da família
Ebenaceae, baseado somente no número de
verticilos protetores.
Bentham & Hooker (1873) consideraram
6 gêneros:
Royena, Euclea, Maba,
Diospyros, Tetraclis e Brachynema.
Excluíram Moutabea e Hornschuchia que
pertenciam às famílias Polygalaceae e
Annonaceae, respectivamente. Incluíram
Macreightia em Maba. Apresentaram
Diospyros com 15 seções: Melonia, Ebenus,
Noltia, Gunisanthus, Guaiacana, Cunalonea,
Ermellinus, Patonia, Leucoxylum, Danzleria,
Paralea, Cargillia, Rospidios, Cavanillea,
Amuxis, anteriormente tratados como gêneros.
Gürke (1891) tratou a família Ebenaceae
com 5 gêneros Royena, Euclea, Maba,
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
Diospyros e Tetraclis.
Considerou
Dalechamp autor de Diospyros. Sinonimizou
os gêneros Cargillia, Leucoxylum, Noltia,
Gunisanthus e Rospidios com Diospyros.
Manteve as 15 seções de Bentham & Hooker
(1873). Apresentou 2 gêneros duvidosos para
Ebenaceae: Brachynema e Raphidanthe.
Elaborou uma chave analítica de gênero,
baseada em vários caracteres. Pela primeira
vez, foi feita uma chave analítica das seções
do gênero Diospyros.
Angely (1917), na flora do estado de São
Paulo, tratou o gênero Diospyros como de
autoria de Linnaeus, e considerou Maba um
gênero distinto.
Irmão Augusto (1946), ao fazer a flora
do Rio Grande do Sul, elaborou uma chave de
gênero baseada no número de verticilos
protetores e de lóculos do ovário.
Sandwith (1949), ao estudar a coleção de
Ducke de Diospyros da Amazônia, não
reconheceu Maba como um gênero distinto,
considerando-o sinônimo de Diospyros.
Descreveu a espécie Diospyros janeirensis,
baseado na coleta de J. G. Kuhlmann nº 507,
do Morro Mundo Novo, cujos exemplares tipo
encontram-se depositados nos herbários de
Kew e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Neste trabalho não fez ilustrações, nem chave
analítica.
Howard (1961) e Howard & Norlindh
(1962) resolveram problemas nomenclaturais
que envolviam a espécie Diospyros ebenaster.
No primeiro trabalho fez uma revisão das
publicações para esta espécie, citou as espécies
próximas com suas sinonímias, apresentou
fotografias de material tipo. Na segunda
publicação diferenciam Diospyros ebenum de
Diospyros ebenaster, apresentam fotografias
de manuscritos e material tipo.
Cavalcante (1962) apresentou a família
com 5 gêneros: Royena, Euclea, Maba,
Diospyros e Tetraclis. Adotou o autor
Dalechamp para o gênero Diospyros. Citou
a tendência de redução a 4 gêneros, pela
inclusão de Maba em Diospyros, segundo
estudos de Mild-Braed & Brink (apud
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
87
Cavalcante 1962) e Sandwith (1949). Elaborou
uma chave analítica para as seções do gênero
Diospyros baseada na forma e número de
lobos da corola; pilosidade e número de lóculos
do ovário; pilosidade e número de estames e
nas nervuras laterais; além de apresentar uma
chave analítica para as espécies ocorrentes na
Amazônia.
Engler (1964) considerou 4 gêneros:
Royena, Euclea, Diospyros, Tetraclis. Incluiu
Maba em Diospyros. Elaborou chave
analítica para as famílias da ordem Ebenales.
Harley & Mayo (1980) fizeram uma
listagem das espécies ocorrentes na Bahia e
consideraram Linnaeus como o criador do
gênero.
Cronquist (1981) apresentou a família
Ebenaceae com 5 gêneros: Diospyros, Euclea,
Rhaphidanthe, Royena e Tetraclis. Elaborou
chave analítica para as famílias da ordem
Ebenales.
Reitz (1988), ao tratar da família
Ebenaceae na Flora de Santa Catarina,
considerou Linnaeus autor do gênero
Diospyros, manteve o gênero Maba como
sinônimo de Diospyros, apresentou descrição
e ilustrações detalhadas de Diospyros
inconstans. Tratou também da espécie
cultivada Diospyros kaki que foi descrita e
ilustrada com pouco detalhamento.
No decorrer deste trabalho foi possível
perceber que alguns pesquisadores
consideraram Dalechamp autor do gênero
Diospyros (De Candolle 1844, Gürke 1891,
Irmão Augusto 1946, Cavalcante 1962) e outros
consideraram Linnaeus (Bentham & Hooker
1873, Angely 1917, Harley & Mayo 1980, Reitz
1988). De posse das publicações ficou
constatado que segundo às normas atuais de
nomenclatura, a maneira correta de citar o
autor seria Dalechamp ex Linnaeus.
Dalechamp foi o primeiro a descrever o gênero
em 1587, data que invalidaria a sua publicação,
porém Linnaeus (1754) em sua obra Genera
Plantarum redescreve o gênero e cita
Dalechamp como autor.
Lopes, R. C.
88
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho constou inicialmente de
levantamento bibliográfico, principalmente nas
bibliotecas do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, Museu Nacional e Biblioteca Nacional.
Paralelamente foram consultados os seguintes
herbários: Departamento de Botânica do
Museu Nacional do Rio de Janeiro (R), Jardim
Botânico do Rio de Janeiro (RB), Herbário
“Alberto Castellanos” - FEEMA (GUA),
Herbarium Bradeanum (HB), Universidade
Santa Úrsula (RUSU) e Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (RBR). Os herbários
consultados apresentavam coleções pequenas
e pouco representativas, sendo que o
Herbarium Bradeanum (HB), a Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (RBR) e a
Universidade Santa Úrsula (RUSU), não
possuíam coletas do Rio de Janeiro. As
coleções referentes à família foram analisadas
e os materiais referentes ao Estado do Rio de
Janeiro selecionados. Além do material
herborizado, foi utilizado material fresco e
fixado em álcool a 50% ou a 70%. Todo
material foi observado em laboratório e
comparado com as referentes diagnoses. No
Jardim Botânico do Rio de Janeiro os projetos
Restinga, Flora do Estado do Rio de Janeiro e
Mata Atlântica, auxiliaram bastante na
ampliação das coleções do gênero do acervo
desta Instituição. A pesquisa abrangeu
excursões ao campo no estado do Rio de
Janeiro para coleta e observação das espécies,
além de registros fotográficos.
Foi elaborada uma chave para
identificação das espécies ocorrentes no
Estado do Rio de Janeiro, baseada nos
caracteres vegetativos e reprodutivos. Os
termos morfológicos foram baseados em
Stearn (1966), e as formações vegetais em
Rizzini (1979). Além da descrição do gênero
e das 3 espécies este trabalho abrangeu o
levantamento dos nomes vulgares, utilidades,
épocas de floração e frutificação, habitat, dados
ecológicos e citação de material examinado,
de cada entidade, através de pesquisa
bibliográfica e de material de herbário. Para
cada espécie foi feito também um estudo
comparativo dos padrões de venação das
folhas, dos tipos de inflorescências e da
morfologia das flores e frutos. Todas as
espécies foram plotadas em um mapa do estado
do Rio de Janeiro.
Para observações da organização da rede
de nervuras, folhas inteiras foram diafanizadas
e coradas pela safranina (Strittmater 1973).
O padrão de venação foi identificado segundo
Hickey (1973). As denominações referentes
às inflorescências basearam-se em Troll
(1969). O tipo de fruto foi classificado de
acordo com a proposta de Barroso et al.
(Inédito).
Foram organizadas tabelas de épocas de
floração e frutificação das espécies, baseadas
nas informações retiradas das etiquetas de
herbários, e também uma listagem dos
coletores, seus números e espécies
correspondentes.
Para a espécie cultivada, estudada
separadamente, foram abordados os seguintes
aspectos: origem, nome vulgar, época de
floração e frutificação, utilidade, descrição da
espécie e citação do material examinado.
As obras e periódicos foram citados
segundo Stafleu (1967) e Lawrence et al
(1968), e as abreviaturas dos nomes dos
autores seguiram Brummit & Powell (1992).
As abreviaturas utilizadas no texto
significam: fl. (flor), fr. (fruto), ms.m.(metros
sobre a superfície do mar), compr.
(comprimento), larg. (largura), cm (centímetro),
s/nº (sem número de coleta), g (grama), mg
(miligrama), mcg (micrograma) e UI (Unidade
Internacional).
RESULTADOS
MORFOLOGIA
Folhas
Todas as espécies possuem folhas
alternas, simples, pecioladas. A lâmina é
oblonga ou lanceolada em D. ebenaster (Fig.
1a), obovada em D. inconstans (Fig.1b) e
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
lanceolada em D. janeirensis (Fig.1c). A
margem apresenta-se inteira nas 3 espécies,
com ápice obtuso em D. ebenaster (Fig. 1a),
obtuso, emarginado ou truncado em D.
inconstans (Fig. 1b) e agudo em D.
janeirensis (Fig. 1c) e base curtamente
atenuada em D. ebenaster (Fig. 1a), cuneada
em D. inconstans (Fig. 1b) e aguda em D.
janeirensis (Fig. 1c). Caracteriza-se por
apresentar uma nervura principal mais espessa
que as demais nervuras. Da nervura principal,
partem obliquamente, nervuras mais tênues que
formam grandes arcos na lateral das folhas.
Acima destes arcos inicia-se a formação de
arcos menores. As nervuras terciárias são
anastomosadas formando retículos. Este
padrão de venação chama-se camptobroquidódromo, sendo encontrado nas 3
espécies estudadas.
Inflorescências
Este trabalho classificou a inflorescência
de Diospyros como derivada de um tirsóide
múltiplo, no qual a zona de enriquecimento
sofreu uma redução pelo encurtamento de nós
e entrenós e perda de flores nos paracládios.
A inflorescência de Diospyros pode
terminar por uma flor (monotrióide) ou perder
a flor terminal por truncamento. Os paracládios
com flores dispostas em cincínios localizamse nas axilas de brácteas foliares, e são
denominados frondosos.
A inflorescência perfeita de D. ebenaster
apresenta eixo glabro de 15,0-25,0 cm de
compr., terminando em gema pilosa de 0,2 cm
de compr., os ferofilos são alternos, lanceolados
ou oblongos de 12,0-19,0 cm de compr. X 3,08,0 cm de larg., base curtamente atenuada,
ápice obtuso-acuminado, face adaxial glabra,
lâmina lúcida, face abaxial glabra (Fig. 2a). Na
axila de cada ferofilo encontra-se o paracládio
de 1,0-2,0 cm de compr. com 4 flores de 1,52,0 cm de compr. formando um cincínio (Fig.
2b). Cada flor apresenta 2 bractéolas
laminares.
A inflorescência estaminada de D.
inconstans, apresenta eixo de 10,0-15,0 cm
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
89
de compr., terminando em gema pilosa de 0,3
cm de compr., ferofilos são alternos, obovados
de 4,0-11,0 cm de compr. X 3,0-7,0 cm de larg.,
base cuneada, ápice obtuso, emarginado ou
truncado, face adaxial com lâmina lúcida
densamente pontuada, com pouca pilosidade,
pêlos longos simples e híspidos, face abaxial
pilosa com pêlos simples híspidos (Fig. 2c). Na
axila de cada ferofilo encontra-se o paracládio
de 1,0-1,5 cm de compr. com uma tríade de
flores de 0,7 a 1,0 cm de compr. (Fig. 2d). A
inflorescência pistilada é lenticelada, pilosa nos
ramos jovens, de 12-25 cm de compr.
terminando em gema pilosa de 0,2-0,4 cm de
compr., ferofilos são alternos, obovados de 5,08,0 cm de compr. X 3,0-5,0 cm de larg., base
cuneada, ápice obtuso, emarginado ou
truncado, face adaxial com lâmina lúcida
densamente pontuada, pouco pilosa, pêlos
longos, simples e híspidos, face abaxial pilosa
com pêlos simples, híspidos (Fig. 2e). Na axila
de cada ferofilo encontra-se um paracládio de
0,8-1,0 cm de compr. com uma única flor (Fig.
2f) apresentando 2 bractéolas laminares.
A inflorescência estaminada de D.
janeirensis, apresenta eixo piloso de 10,0-22,0
cm de compr., terminando em uma gema pilosa
de 0,3 cm de compr., ferofilos lanceolados de
7,0-12,0 cm de compr. X 2,5-3,5 cm de larg.,
base e ápice agudas, face adaxial com pêlos
híspidos simples, e abaxial com densos pêlos
híspidos simples na nervura central e na
margem e esparsos pêlos na lâmina (Fig. 2g).
Na axila de cada ferofilo encontra-se o
paracládio de 0,5-0,8 cm de compr. com 5 flores
pilosas. Cada flor apresenta de 0,5-1,0 cm de
compr. Da redução da zona de enriquecimento
resultou um paracládio de segunda ordem,
formando 2 cincínios e terminando em uma flor
(Fig. 2h). Na base de cada flor existem 2
bractéolas conchiformes. A inflorescência
pistilada é pilosa, de 15,0-20,0 cm de compr.
terminando em gema pilosa de 0,2 de compr.
Os ferofilos são alternos, lanceolados de 6-8
cm de compr. X 1,5-2,0 de larg. com base e
ápice agudos, face adaxial possui pêlos híspidos
simples na nervura central e a abaxial apresenta
Lopes, R. C.
90
Figura 1: Venação das folhas. a)D. ebenaster; b)D. inconstans; c)D. janeirensis.
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
91
Figura 2: D. ebenaster, a)Esquema da inflorescência perfeita, b)Paracládio com 4 flores formando 1 cincínio;
D. inconstans, c)Esquema da inflorescência estaminada, d) Paracládio estaminado constituído de 1 tríade,
e)Esquema da inflorescência pistilada, f)Paracládio pistilado monotrióide; D. janeirensis, g)Esquema da
inflorescência estaminada, h)Paracládio estaminado constituído de 2 cincínios, i)Esquema da inflorescência
pistilada, j)Paracládio pistilado constituído de 1 cincínio.
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
92
pêlos na lâmina e pêlos híspidos simples na
nervura central e na margem (Fig. 2i). Na
axila de cada ferofilo encontra-se o paracládio
de 1,0-1,7 cm de compr. com 3 flores bastante
pilosas de 1,0-1,7 cm de compr., formando um
cincínio (Fig. 2j). Cada flor apresenta 2
bractéolas conchiformes.
Flores
As inflorescências são pêndulas e
localizam-se abaixo das folhas o que dificulta,
à primeira vista, ao observador, perceber que
a planta está em época de floração. As flores
são trímeras em D. inconstans (Fig. 4b),
tetrâmeras em D. ebenaster (Fig. 3b) ou
pentâmeras em D. janeirensis (Fig. 5cd). Nas
espécies estudadas foi possível observar que
as flores são de 0,7-1,5 cm de compr.,
coloração alvo-esverdeadas, prefloração
torcida e pediceladas. Quanto a sexualidade,
as flores são monoclinas em D. ebenaster
(Fig. 3a) ou diclinas em D. inconstans (Fig.
4cd) e D. janeirensis (Fig. 5cd). Ocorrendo
estaminódios nas flores pistiladas e pistilóides
nas flores estaminadas. O androceu pode ser
formado por 6 estames epipétalos como em
D. ebenaster, 12 estames organizados em
duas séries como em D. inconstans (Fig. 4d)
ou mais de 100 estames como em D.
janeirensis (Fig. 5d). A antera é diteca,
tetraesporangiada, basifixa, rimosa, sendo
observada em algumas plantas de D.
inconstans, deiscência no botão. O gineceu
é sincárpico, podendo apresentar 8 lóculos em
D. ebenaster e 6 lóculos em D. inconstans e
D. janeirensis, contendo apenas 1 óvulo em
cada lóculo. O ovário é súpero e piloso, estilete
curto, e o estigma é variado, podendo
apresentar 4 regiões estigmáticas em D.
ebenaster (Fig. 3c), 5 regiões estigmáticas em
D. janeirensis (Fig. 50c), e 6 regiões
estigmáticas em D. inconstans (Fig. 4c).
Frutos
Os frutos foram classificados em bacóide
do tipo campomanesoídeo (Barroso, Inédito).
Apresenta cálice persistente e acrescente.
Lopes, R. C.
Pericarpo com diferenciação em
exocarpo, mesocarpo e endocarpo. O
exocarpo pode apresentar superfície lisa como
em D. ebenaster (Fig. 3e) e D. inconstans
(Fig. 4g) ou apresentar indumentos e
rugosidade como em D. janeirensis (Fig. 5f).
Mesocarpo pouco desenvolvido em D.
inconstans e D. janeirensis ou bem
desenvolvido em D. ebenaster. Endocarpo
pouco definido nas 3 espécies. A porção
central do fruto, onde se situam os lóculos, é
preenchida por tecido carnoso, uniforme e
compacto. Os lóculos apresentam-se com 1
semente cada, bem delimitados, dispostos
radialmente. Semente com testa lisa, rafe
dorsal, forma achatada, com placentação axial.
Em ovários de D. ebenaster encontrouse 8 lóculos e 8 óvulos, porém nos frutos foi
visto que o número de sementes é variável
entre 1 e 8, pois alguns óvulos não se
desenvolvem. D. janeirensis possui 6 lóculos
e 6 óvulos e em alguns frutos, pode ser
observado que algumas sementes iniciam um
desenvolvimento, porém ficam reduzidas em
relação às outras. Em D. inconstans não foi
notada redução no número, nem no tamanho
das sementes. Nas 3 espécies o endosperma
é esbranquiçado, porém foi observado em D.
inconstans que o contato deste com o ar o
torna amarelado. As espécies estudadas
apresentam o embrião reto e o cotilédone
foliáceo.
TRATAMENTO TAXONÔMICO
Diospyros Dalech. ex L. Gen. Pl. I. 143. 1754.
Dactylus Forssk. Fl. Aegypt. Arab. p. 36. 1775
(apud Cavalcante, 1962)
Paralea Aubl. Pl. Gui. 1:576. t.231. 1775
Embryopteris Gaertn. Fruct. 1:145. t.29. 1788
Cavanillea Desr. in Lam. Encyc. 3:663. 1789
(apud Cavalcante, 1962)
Cargillia R. Br. Prod. 526. 1810 (apud De
Candolle, 1844)
Leucoxylum Blume. Bijdr. 1169. 1826 (apud
De Candolle, 1844)
Noltia Schummel in Danske. Selsk. Afh. 3.
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
1827 (apud De Candolle, 1844)
Patonia Wight Illustr. 1:19. 1838 (apud De
Candolle, 1844)
Mabola Raf. Sylva. Tellur. 11. 1838
Persimon Raf. Sylva. Tellur. 164. 1838
Gunisanthus A. DC. in DC. Prod. 8:219. 1844
Rospidios A. DC. in DC. Prod. 8:220. 1844
Danzleria Bert. ex A. DC. in DC. Prod. 8:224.
1844
Árvores de pequeno a grande porte ou
arbustos. Folhas alternas, simples; pecíolo de
até 2,5 cm de compr.; lâmina geralmente de
margem inteira e pilosa na face abaxial,
campto-broquidódromo. Inflorescência
botrióide bracteoso, que pode terminar por uma
flor ou perder a flor terminal, sendo
considerado um ramo truncado; os paracládios
na axila de um ferofilo, constituem um cincínio,
uma tríade ou um monotrióide. Flores diclinas
em plantas dióicas, raro monoclinas,
93
esverdeadas ou alvas; cálice persistente,
acrescente, 3-7 lobado; corola simpétala,
tubulosa, urceolada, campanulada ou rotada,
3-7 lobada, geralmente pilosa na face externa;
androceu constituído de 4 a mais de 100
estames, filetes conatos na base, anteras
tetrasporangiada linear ou linear-lanceolada,
diteca, deiscência longitudinal, raro poro apical.
Presença de pistilóide nas flores estaminadas;
gineceu sincárpico, ovário súpero globoso ou
subgloboso, geralmente piloso, 6-8 lóculos, raro
10, 1 óvulo por lóculo; estilete terminal curto,
estigma ramificado ou lobado. Presença de
estaminódios nas flores pistiladas. Fruto
bacóide globoso, subgloboso, glabro ou
pubescente tipo campomanesoídeo; semente
1-8, oblonga, achatada, testa lisa, rafe dorsal
evidente; endosperma esbranquiçado às vezes
ruminado, com reserva de hemicelulose e óleo;
embrião reto ou curvo, cotilédones foliáceos.
CHAVE ANALÍTICA PARA RECONHECIMENTO DAS ESPÉCIES DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO
1 - Plantas monoclinas com flores tetrâmeras, androceu com 6 estames, gineceu com ovário
octa-locular; folha oblonga ou lanceolada...............................................Diospyros ebenaster
1'- Plantas sem este conjunto de características.
2 - Inflorescência estaminada com 3 flores (tríade), e pistilada com 1 flor (monotrióide); flores
trímeras, androceu com 12 estames; folha obovada................Diospyros inconstans
2'- Inflorescência estaminada com 5 flores (2 cincínios), e pistilada com 3 flores (1 cincínio);
flores pentâmeras, androceu com mais de 20 estames; folha lanceolada
..........................................................................................................Diospyros janeirensis
DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES
1- Diospyros ebenaster Retz.Lund Physiogr.
Salsk. Handl. 1:176. 1781 (apud Howard 1962);
Retz. Obs. Bot. 5:31. 1789 (apud Howard
1962).
D. ebenum Lfil. Suppl. Pl. Syst. Veg. 440. 1781.
(apud Howard 1962)
D. glaberrima Rottb, Nye Saml. Kong.
Dansk. Vidensk. Selsk. Skr. 2:540. pl.5. 1783.
(apud Howard 1962)
D. brasiliensis Mart. Fl. Bras. 7:5. t.2. fig.2.
1856.
Figs. 3abcdefg, 6a e 7.
Árvore ou arvoreta de 6 a 12 m. de altura;
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
tronco com casca lisa, córtex verdeamarelado; ramo cilíndrico, verde, estriado e
glabro; gema de 0,2 cm de compr., pilosa.
Folha com pecíolo de 1,0-1,5 cm de compr.;
lâmina de 12,5-21,0 cm de compr. X 5,0-8,5
cm de larg., oblonga ou lanceolada coriácea
ou subcoriácea, discolor; base curtamente
atenuada; ápice obtuso; margem inteira;
nervuras salientes na face abaxial, nervação
campto-broquidódromo. Inflorescência
perfeita, com paracládios de 4 flores, formando
um cincínio. Flores de 1,0-1,5 cm de compr.,
tetrâmeras, esverdeadas. Cálice de 0,4-0,6 cm
de compr., com 4 lobos apiculados. Corola de
94
Lopes, R. C.
Figura 3: D. ebenaster (L.C.Giordano 1648 e 1822 - RB);. a)Inflorescência perfeita, b)Flor perfeita, c)Gineceu,
d)Corte transversal do fruto, e)Fruto, f)Semente, aspecto do hilo e rafe dorsal, g)Corte longitudinal da semente,
aspecto do embrião.
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
0,8-1,0 cm de compr., tubulosa, 4 lobada.
Androceu com 6 estames epipétalos, filetes
achatados, antera lanceolada. Gineceu com
pêlos amarelos, 8 lóculos, placentação apical;
4 regiões estigmáticas. Fruto globoso, de 1,01,5 cm de diâmetro, imaturos esverdeados e
maduros nigrescentes, exsudato vinosonigrescente. Sementes de 1-8, de 2 cm de
compr.; testa castanha, embrião reto.
FLORAÇÃO E FRUTIFICAÇÃO
Floresce no mês de maio e novembro e
frutifica em fevereiro, de abril a junho e
novembro.
HABITAT
Floresta Atlântica. Ocorrendo em floresta
pluvial baixo montana e floresta pluvial ripária.
DADOS ECOLÓGICOS
Encontrada de 50 a 300 ms.m.; espécie
ciófila, semi-ciófila, heliófila, semi-heliófila,
ocorrendo em afloramentos rochosos, em
ambientes úmidos e áreas degradadas.
COMENTÁRIOS
O epíteto ebenaster do latim flor preta,
está relacionado ao fato das flores esverdeadas
tornarem-se pretas no material herborizado. É
conhecida popularmente pelo nome de Sapotapreta. Quanto à utilidade, foi constatado num
estudo referente à atividade antimicrobiana de
plantas vasculares, que esta espécie em extrato
de etanol, possui atividade para Mycobacteria,
nas folhas e frutos. (Nickell 1959)
MATERIAL EXAMINADO
Rio de Janeiro: Município de Angra dos
Reis, Ilha Grande, Reserva Biológica Estadual
da Praia do Sul, caminho para Simão Dias, D.
S. D. Araújo 6123 (fr.), 16.02.1984 (GUA);
ibidem, idem, Praia do Sul, D. S. Pedrosa 1118
et H. Q. B. Fernandes 926 (fr.), 13.06.1984
(GUA); ibidem, idem, morro atrás do costão ,
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
95
D. S. D. Araújo 6687, et al (fr.), 26.11.1985
(GUA); Município de Paraty, Morro do
Corisco, R. Marquete 967 et al. (fr.),
20.04.1993 (RB); ibidem, Praia dos Antigos,
APA-Cairuçu, R. Marquete 1610 (fr.),
13.04.1994 (RB); ibidem, Laranjeiras, Caminho
da Praia do Sono, APA-Cairuçu, R. Reis 128
et al (fl., fr.), 12.05.1994 (RB); ibidem, Ponte
do Rio dos Meros, APA-Cairuçu, L. C.
Giordano 1648 et al (fr.), 11.06.1994 (RB);
ibidem, Rio dos Meros, APA-Cairuçu, L. C.
Giordano 1822 et al (fl.), 29.11.1994 (RB);
ibidem, idem, L. C. Giordano 2091 et al. (fl.),
05.12.1995 (RB); Município do Rio de Janeiro,
cultivada, A. Ducke s/ nº (fl.),11.1928 (RB);
Município de Silva Jardim, Rebio Poço das
Antas, D. S. Farias 311 et al (fr.), 01.09.1994
(RB).
2- Diospyros inconstans Jacq. Enum. Syst.
Plant. Insul. Caribaeis 34. 1760; Select. Stirp.
American. Hist. 276, lâm. 174. fig. 67. 1763;
Burkart, Flora Il. Entre Rios 5:27-31, figs. 8-9.
1979; Reitz, Klein & Reis, Sellowia 28-30:23.
1978; Reitz, Klein & Reis, Sellowia 34-35:31.
1983.
Macreightia inconstans (Jacq.) A. DC.,
Prodr. Syst. Nat. 8:221. 1844.
Maba inconstans (Jacq.) Griseb., Fl.
Brit. West Indian Islands 404. 1864.
Figs. 4abcdefghi, 6b e 7.
Árvore ou arbusto decumbente ou semiescandente, de 2 a 10 m. de altura; tronco
acinzentado, estriado; ramo piloso quando
jovem e glabro quando adulto, cilíndrico com
lenticelas; gema de 0,3 cm de compr., pilosa.
Folhas com pecíolo de 0,3-0,8 cm de compr.;
lâmina de 5,0-11,0 cm de compr. X 3,0-7,0 cm
de larg., obovada, subcoriácea, discolor,
lustrosa na face adaxial e glabra a pubescente
na face abaxial, base cuneada, ápice obtuso,
emarginado ou truncado; nervuras salientes na
face abaxial. Inflorescência estaminada com
paracládios contituídos por uma tríade de flores.
Inflorescência pistilada com paracládios com
uma flor (monotrióide). Flores trímeras,
96
Lopes, R. C.
Figura 4: D. inconstans, (R.C.Lopes 70 e 71- RUSU); a)Inflorescência pistilada, b)Flor pistilada, c)Gineceu,
d)Corte longitudinal da flor estaminada, e)Estame, f)Corte transversal do fruto, g)Fruto, h)Semente, aspecto
da rafe dorsal, i)Corte longitudinal da semente, aspecto do embrião .
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
diclinas, em plantas dióicas, pêndulas. Flores
estaminadas de 0,8-1,3 cm de compr.,
esverdeadas, pilosa na face externa, pêlos
brancos brilhosos, amarelados quando secas;
pedicelo de 0,2-0,3 cm de compr. Cálice de
0,3-0,4 cm de compr., com 3 lobos. Corola de
0,8-1,0 cm de compr., tubulosa, 3 lobada.
Androceu com 12 estames, heterodínamos,
organizados em 2 séries, os menores mais
próximos ao pistilóide, os maiores mais
próximos a fauce, filetes conatos na base 2 a
2; antera com grão de pólen alvo luzidio. Flores
pistiladas de 1,0-1,5 cm de compr.,
esverdeadas, pilosas na face externa. Cálice
de 0,5-0,7 cm de compr. Corola de 0,5-1,0 cm
de compr. Gineceu com ovário de 6 lóculos,
placentação apical; 6 regiões estigmáticas.
Fruto de 0,5-1,0 cm de compr., globoso, glabro,
indeiscente, imaturo verde, passando por
vináceo, tornando-se negro quando maduro.
Semente 6 de 0,8-1,5 cm de compr.; testa
castanha; embrião reto.
FLORAÇÃO E FRUTIFICAÇÃO
Floresce nos meses de fevereiro, outubro
e novembro, frutifica de janeiro a março, maio,
julho e agosto.
HABITAT
Restinga. Ocorrendo em dunas fixas.
DADOS ECOLÓGICOS
Espécie heliófila, podendo também ser
ciófila, ocorrendo em matas de restinga, mesmo
quando estas encontram-se degradadas, ou em
áreas de restinga arbustiva aberta e fechada.
Visitada por formigas, que ocorrem em todas
as partes da planta.
COMENTÁRIOS
O epíteto inconstans do latim inconstante,
variável, está relacionado às diferentes formas
que a lâmina das folhas desta espécie pode
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
97
apresentar, variando desde obovada a elíptica
com ápice obtuso, emarginado ou truncado. É
conhecida popularmente pelos nomes fruta-dejacu-macho, fruta-de-jacu-do-mato, mariapreta, cerejeira-do-mato, cinzeiro. A madeira
é utilizada como lenha, e também na confecção
de cabos de ferramentas e fueiros, estaca que
serve para amparar a carga do carro de bois
(Reitz 1988). Os frutos são comestíveis,
adocicados, com pouca polpa, sendo por isto
especialmente procurados pelas aves como
jacus e aracuãs (Reitz 1988). Possui um
potencial ornamental, devido a forma da copa,
larga e arredondada, e a coloração dos frutos
nos seus diferentes estágios de
desenvolvimento, que dura de 9-10 meses,
tornando-a muito apropriada para a
arborização urbana nos logradouros públicos
(Reitz 1988, Sanchotene 1985).
MATERIAL EXAMINADO
Rio de Janeiro: Município de Cabo Frio,
9 Km ao norte do Rio Una, D. S. D. Araújo
6655 et al (fr.), 14.02.1985 (GUA); ibidem, Cia.
Salinas Perynas, orla, D. S. D. Araújo 8732
(fr.), 22.02.1989 (GUA); ibidem, idem, próxima
à praia do Sudoeste, C. Farney 2273 (fr.),
18.03.1989 (RB); Município de Casimiro de
Abreu, Praia Brava, D. S. D. Araújo 7508 et
al(fr.), 28.05.1986 (GUA); Município de
Macaé, Lagoa Carapebus, D. S. D. Araújo
8453 (fr.), 21.01.1988 (GUA); ibidem, Ilha de
Santana, no final da praia, D. S. D. Araújo
8659 et al (fl.), 16.11.1988 (GUA); ibidem,
Lagomar, próximo a rodovia, D. S. D. Araújo
10189 (fl.), 30.11.1994 (GUA); Município de
Maricá, Praia de Itacoatiara, J. G. da Silva s/
nº (fl.), 21.10.1982 (R); ibidem, Barra de
Maricá, D. S. D. Araújo 5387 et al. (fr.),
13.01.1983 (GUA); ibidem, Restinga de
Maricá, Alfonse s/nº et al. (fr.), 03.1989 (R);
ibidem, Restinga da praia de Itaipuaçu, R. C.
Lopes 69 et al. (fl., fr.), 25.02.1995 (RB);
ibidem, idem, R. C. Lopes 70 et al. (fl.),
25.02.1995 (RB); ibidem, idem, R. C. Lopes
71 et al. (fl., fr.) 25.02.1995 (RB); ibidem,
Lopes, R. C.
98
idem, R. C. Lopes 72 et al. (fl.) 25.02.1995
(RB); Município de Saquarema, Restinga de
Massambaba, próximo à praia de Itaúna, C.
Farney 1139 et al.(fr.), 05.08.1986 (RB,
GUA); ibidem, Comorros da Lagoa Vermelha,
orla, D. S. D. Araújo 9298 (fr.), 26.03.1991
(GUA); ibidem, próximo ao Sambaqui da
Beirada, D. S. D. Araújo 9316 (fr.), 27.03.1991
(GUA); ibidem, Reserva Ecológica Estadual
de Jacarepiá, C. Farney 2781 et al. (fl.),
29.10.1991 (RB); Município de São João da
Barra, Grussai, D. S. D. Araújo 8831 (fr.),
16.05.1989 (GUA); ibidem, Praia Samambaia,
próximo ao pasto, D. S. D. Araújo 10059 et
al. (fr.), 19.05.1994 (GUA); Município de São
Pedro da Aldeia, Morro da Farinha, à Margem
da Lagoa de Araruama, D. S. D. Araújo 8984
et al. (est.), 01.06.1989 (GUA); Município de
Teresópolis, Santa Rita, Smo Tato s/nº (fr.),
04,07.1945 (RB).
lanceolados. Corola de 0,3-0,8 cm de compr.,
tubulosa, lobos ovado-oblongo, externamente
glabrescente na porção sub-mediana, pêlos
amarelados. Androceu com mais de 100
estames, filete variavelmente coato de 0,1 cm
de compr., antera de 0,3-0,5 cm de compr.,
pilosa. Flores pistiladas de 1,0-1,3 cm de
compr., pedicelo de até 0,8 cm de compr.,
presença de 2 bractéolas conchiformes pilosas
de 0,2 cm de compr. Cálice de 0,5-1,0 cm de
compr., com pêlos amarelos, 5 lobos triangularlanceolados. Corola de 0,5-1,0 cm de compr.,
tubulosa com faixas medianas de pêlos
amarelos nos lobos. Gineceu com ovário piloso,
6 lóculos; 5 regiões estigmáticas. Fruto
bacóide, de 1,5-4,0 cm de diâmetro, globoso,
com pêlos amarelos e rugosidade. Sementes
de até 1,5 cm de compr.; embrião de 0,6 cm
de compr., reto.
FLORAÇÃO E FRUTIFICAÇÃO
3- Diospyros janeirensis Sandwith Kew.
Bull. 4: 487.1949.
Figs. 5abcdefghi, 6c e 7.
Árvore ou arvoreta de 5 a 8 m. de altura;
ramo cilíndrico, glabro quando adulto e com
pêlo amarelado quando jovem; gema de 0,1
cm de compr., pilosa. Folhas com pecíolo de
0,5-0,8 cm de compr.; lâmina de 7,0-12,0 cm
de compr. X 2,5-3,5 cm de larg., lanceolada,
cartácea, discolor, lustrosa na face adaxial, com
pêlos híspidos na nervura central e pilosa na
face abaxial com adensamento de pêlos
híspidos simples, na nervura central e na
margem; base e ápice agudos, às vezes com
presença de acúmen no ápice; nervura pouco
nítida. Inflorescência estaminada com
paracládios de 5 flores, formando 2 cincínios
terminados em uma flor. Inflorescência
pistilada com paracládios de 3 flores, formando
um cincínio. Flores diclinas, em plantas dióicas.
Flores estaminadas de 0,8-1,0 cm de compr.,
esverdeadas, pedicelos de até 0,5 cm de
compr.; com 2 bractéolas conchiformes pilosas
de 0,1-0,5 cm de compr. Cálice de 0,3-0,4 cm
de compr., piloso, 5 lobos triangulares-
Floresce de outubro a janeiro, frutifica em
outubro e de janeiro a abril.
HABITAT
Floresta Atlântica, ocorrendo em floresta
pluvial baixo montana e Restinga, ocorrendo
em dunas fixas.
DADOS ECOLÓGICOS
Ocorre em mata de encosta, e nas
restingas, em mata baixa e arbustiva fechada.
COMENTÁRIOS
O epíteto janeirensis se deve ao fato de
ser uma planta coletada somente no estado do
Rio de Janeiro.
MATERIAL EXAMINADO
Rio de Janeiro: Município de Macaé,
Restinga de Cabiúnas, D. S. D. Araújo 5931
et al. (fr.), 19.01.1984 (GUA); Município de
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
99
Figura 5: D. janeirensis (J.G.Kuhlman 507- RB e C.Farney 3141 - RB); a)Inflorescência pistilada, b)Inflorescência
estaminada, c)Flor pistilada, d)Flor estaminada, e)Estames, f)Fruto, g)Corte transversal do fruto, h)Semente,
aspecto do hilo e rafe dorsal; i)Corte longitudinal da semente, aspecto do embrião.
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
Figura 6: Distribuição geográfica: a)D. ebenaster, b)D. inconstans, c)D. janeirensis.
100
Lopes, R. C.
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
101
Maricá, Barra de Maricá, D. S. D. Araújo 6995
et al (fl., fr.), 23.10.1985 (GUA); ibidem, Área
de Proteção Ambiental, à leste do Morro do
Mololo, D. S. D. Araújo 7404 et al. (fr.),
25.04.1986 (GUA); ibidem, idem, Restinga, D.
S. D. Araújo 9092 et al. (fr.), 01.03.1990
(GUA); Município do Rio de Janeiro, Morro
Mundo Novo, Botafogo, J. G. Kuhlmann 507
(fl.), 13.01.1920 (RB); ibidem, idem, J. G.
Kuhlmann s/nº (fl.), 21.12.1920 (RB); ibidem,
idem, J. G. Kuhlmann s/nº(fl.), 11.11.1921
(RB); ibidem, Dois Irmãos, A. Duarte 328
(veget.), 26.09.1946 (RB); ibidem, Matas da
Vista Chinesa, C. de Almeida s/nº (fr.),
14.02.1954 (RB); Município de Saquarema,
Reserva Ecológica Estadual de Jacarepiá,
Restinga de Ipitangas, C. Farney 3141 et al.
(fr.), 25.04.1992 (RB).
4- ESPÉCIE CULTIVADA
Diospyros kaki Lfil
Fig. 8abcd.
No Rio de Janeiro encontra-se
Diospyros kaki em extensas áreas de cultivo,
nas regiões do Grande Rio e regiões serranas.
Trata-se de uma planta exótica originária da
China, Coréia e do Japão (Reitz 1988).
Árvore frutífera muito cultivada no Brasil,
onde um grande número de variedades foram
introduzidas do Japão, constituindo sua cultura,
em larga escala, principalmente nos Estados
do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais,
até o Rio Grande do Sul (Corrêa 1984).
É conhecida popularmente pelos nomes:
caqui, caquieiro, caquizeiro, caqui-do-japão,
kaki-do-japão, kakieiro, kakizeiro (Pio Corrêa
1984). O nome Caqui em japonês significa
amarelo-escuro, e está relacionado à cor do
fruto (Balbach 1957).
Floresce nos meses de setembro e
outubro, e possui frutos maduros de março a
abril (Reitz 1988).
O fruto é comestível e medicinal, sendo
o caqui imaturo adstringente e o maduro
laxativo (Balbach 1957).
A composição química de 100 g de caqui
apresentou: 65,80 g de água, 31,60 g de hidrato
de carbono, 0,70 g de proteínas, 0,70 g de
gorduras, 1,20 g de sais, 2750 UI de vitamina
A, 50,00 mcg de vitamina B1 (Tiamina), 45,00
mcg de Vitamina B2 (Riboflavina) e 17,10 mg
de vitamina C (Ácido Ascórbico). (Balbach
1957).
Figura 7: Época de floração e frutificação das espécies de Diospyros, no
estado do Rio de Janeiro. 0 - Floração; X - Frutificação
Meses \ Espécies
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
D.ebenaster
D.incostans
D.janeirensis
X
X
0X
X
X
0X
X
0X
X
X
X
X
X
X
0X
0
0
0X
0
0
102
Lopes, R. C.
Figura 8: D.kaki (A. Duarte s/n - R), a)Inflorescência estaminada, b)Flor estaminada, c)Androceu, d)Gineceu.
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
Testes para dosagem de cálcio resultaram
que este fruto é pobre em cálcio, pois atividades
antimicrobianas, os testes desta espécie foram
negativos para vários tipos de bactérias, fungos,
protozoários e vírus (Nickell 1959).
Árvore com copa arredondada; ramos
cilíndricos, glabros com lenticelas; gema glabra
de 0,3 cm de compr.. Folhas com pecíolo
canaliculado de 1,0-1,5 cm de compr., lâmina
ovada raro elíptica de 9,0-12,0 cm de compr.
X 4,5-9,5 cm de larg., cartácea, discolor, face
adaxial com pêlos esparsos nas nervuras, e
face abaxial com pêlos esparsos na lâmina e
adensamento de pêlos nas nervuras, base
truncada ou curtamente-atenuada, ápice agudo.
Flores diclinas. Flores estaminadas tetrâmeras,
organizadas em inflorescências pêndulas;
cálice campanulado; corola tubulosa; 10-15
estames, antera basifixa, linear. Flores
pistiladas tetrâmeras; cálice campanulado;
corola tubulosa; ovário com 6 lóculos e 6
óvulos, 3 regiões estigmáticas. Fruto globoso,
carnoso; sementes de 1-8; embrião reto.
MATERIAL EXAMINADO
Rio de Janeiro: Município do Rio de
Janeiro, Horto do Museu Nacional, cultivada,
A. Duarte s/nº (fl), 14.09.1971 (R); ibidem, Av.
Edson Passos, curvas das águas férreas, Alto
da Boa Vista, cultivada, C. A. L. Oliveira nº
35 et al (fr.), 27.03.1984 (GUA); Município de
Valença, Vila de Pentagna, perto do Rio Bonito,
cultivada (fr.), 01.11.1967 (GUA).
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
A criação do gênero Embryopteris por
Gaertner (1788), não era pertinente, pois
analisando a figura que consta em sua obra,
foi possível observar que o fruto é
característico de Diospyros, apresentando
cálice persistente e lobado. É um fruto bacóide
do tipo campomanesoídeo, globoso, com
semente de endosperma ruminado e embrião
com cotilédones foliáceos. A figura só não
permite observar a rafe dorsal que é muito
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
103
característica e foi citada pela primeira vez em
Corner (1976).
A justificativa utilizada por Rafinesque
(1838) para criação de Mabola e Persimon,
é considerada irrelevante visto que estudos do
gênero mostraram que existem espécies com
um número de estames muito acima daquele
citado pelo autor, como é o caso de D.
janeirensis.
Apesar de conter bastante detalhamento,
a obra de De Candolle (1844) não apresentou
ilustrações de nenhuma das espécies, o que
facilitaria muito o trabalho de identificação.
Miquel (1856), ao estudar as espécies
brasileiras, fez descrições incompletas e
elaborou uma chave analítica de gênero
baseada somente nos verticilos protetores.
Cavalcante (1962, 1963) também trabalhou
com as espécies do Brasil, fez descrições,
muitas delas incompletas, devido a falta de
material coletado. No entanto, elaborou uma
chave analítica somente para as espécies
ocorrentes na Amazônia. Angely (1917) citou
as espécies ocorrentes no estado de São
Paulo. Harley & Mayo (1980) listaram as
espécies ocorrentes na Bahia. Reitz (1988)
descreveu e elaborou uma chave para as
espécies ocorrentes no estado de Santa
Catarina; e neste trabalho foram feitas
descrições e chave analítica para as espécies
ocorrentes no estado do Rio de Janeiro. Sendo
assim, ainda se faz necessário um estudo mais
aprofundado das espécies brasileiras, para
complementação de suas descrições e
posterior elaboração de uma chave analítica.
Com o estudo das espécies do Rio de
Janeiro foi possível perceber que as folhas
apresentam formas variáveis, o que facilita a
sua identificação, mesmo quando encontradas
estéreis em seus habitats. O estudo da
organização da rede de nervuras baseado em
Strittmater (1973) e Hickey (1973) ampliaram
o conhecimento neste assunto, pois ainda não
havia sido feito, para estas espécies, nenhum
trabalho anterior. Este trabalho pode vir a
subsidiar pesquisas na área da paleobotânica
e, como demonstraram Carr et al (1986) na
104
sistemática, facilitando identificações a nível
genérico.
A inflorescência de Diospyros, foi tratada
como sendo pauciflora, axilar, às vezes reduzida
a uma flor (De Candolle 1844, Miquel 1856,
Bentham & Hooker 1873, Gürke 1890,
Cavalcante 1962, Engler 1964, Cronquist 1981).
O estudo das inflorescências baseado em Troll
(1969) apontou que estas deveriam ser
consideradas do tipo botrióide, resultantes da
redução de um tirsóide.
Nas descrições originais das espécies
estudadas, o fruto, foi uma estrutura cuja
morfologia foi pouco explorada ou em alguns
casos não foi observada devido a falta de
material. Dos frutos estudados, somente para
D. inconstans. havia um tratamento mais
detalhado em Reitz (1988), e todas as
estruturas encontravam-se desenhadas. Nos
trabalhos de Jacquin (1760, 1763), De Candolle
(1844), Grisebach (1864) e Burkart (1979) a
espécie foi descrita, porém sem detalhamento
desta estrutura. O fruto de D. janeirensis foi
descrito por Sandwith (1949) a partir de um
único exemplar, não havendo detalhamento das
estruturas, e também das ilustrações.
Posteriormente, foi tratado por Cavalcante
(1963), que nada acrescentou. D. ebenaster
nos trabalhos de Retz (1781, 1789 apud Howard,
1961) e Howard (1961), Howard e Norlindh
(1962) não apresentava detalhamento das
estruturas, nem ilustrações, sendo que em
Miquel (1856) o fruto não foi considerado.
Este trabalho vem suprimir as lacunas
deixadas ao longo do tempo, apresentando
descrições detalhadas das 3 espécies, bem
como ilustrações de todas as estruturas dos
frutos.
A pesquisa apontou que a espécie D.
ebenaster encontra-se pouco representada no
Estado do Rio de Janeiro. Do indivíduo
encontrado em Paraty, com amostras coletadas
por L. C. Giordano, foi feito um
acompanhamento, que delimitou a época de
floração e frutificação da espécie.
Jacquin (1763) descreveu D. inconstans
como sendo uma espécie hermafrodita, que
possuía flores férteis e estéreis. A estampa
Lopes, R. C.
apresentada no trabalho pouco auxilia no
processo de identificação. Observando
materiais coletados desta espécie foi possível
perceber que as flores ditas férteis são as
pistiladas que possuem estaminódios, e as
estéreis são as estaminadas com os pistilóides.
D. inconstans foi tratada anteriormente por
Jacq (1760, 1763), como hermafrodita fértil e
hermafrodita estéril. Estudos posteriores
apresentados por De Candolle (1844),
Grisebach (1864) e Reitz (1978, 1983, 1988)
já apontavam a espécie como diclina, de flores
estaminadas e pistiladas. Neste trabalho estas
estruturas puderam ser observadas
detalhadamente, descritas e ilustradas, o que
em parte, não ocorreu em alguns dos trabalhos
anteriores.
D. janeirensis em sua descrição original
(Sandwith, 1949), não apresentava boas
informações sobre o fruto, devido a falta de
material disponível. No presente trabalho esta
questão foi resolvida. Também foi apresentada
pela primeira vez ilustração da espécie
mostrando aspectos do ramo, flor estaminada
e pistilada, fruto, semente e embrião. Devido
a sua distribuição geográfica restrita,
provavelmente trata-se de uma espécie
endêmica do estado do Rio de Janeiro.
D. inconstans e D. janeirensis ocorrem
tanto em áreas litorâneas, nas restingas e
matas, como no interior, atingindo as matas das
regiões serranas; e D. ebenaster aparece
apenas em áreas de mata litorânea.
D. inconstans apresenta um grande
número de material coletado depositado em
herbários, quando comparado com D.
janeirensis e D. ebenaster.
Levando-se em consideração que no
estado do Rio de Janeiro existem 81 municípios
e, analisando o material coletado foi possível
perceber que D. inconstans encontra-se
distribuído em 8 Municípios: Cabo Frio,
Casimiro de Abreu, Macaé, Maricá,
Saquarema, São João da Barra, São Pedro da
Aldeia e Teresópolis. D. janeirensis com
distribuição mais restrita encontra-se em 4
municípios: Macaé, Maricá, Rio de Janeiro e
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
EBENACEAE Vent. do Estado do Rio de Janeiro
Saquarema. D. ebenaster distribui-se em 3
municípios: Angra dos Reis, Paraty e Rio de
Janeiro.
O melhor período para ir ao campo e
encontrar espécies em floração é entre os
meses de outubro a janeiro; e para encontrar
espécies em frutificação, entre os meses de
janeiro a setembro (Fig. 7).
A espécie D. kaki foi tratada
separadamente, pois encontra-se cultivada em
extensas áreas do estado.
ÍNDICE DOS COLETORES, SEUS
NÚMEROS E ESPÉCIES
CORRESPONDENTES
ALFONSE - s/nº (D. inconstans).
ALMEIDA, C. - s/nº (D. janeirensis).
ARAÚJO, D. S. D. - 6123, 6687 (D.
ebenaster); 5387, 6655, 7508, 8453, 8659,
8732, 8831, 8984, 9298, 9316, 10059, 10184 (D.
inconstans); 5931, 6995, 7404, 9092 (D.
janeirensis).
CARAUTA, J. P. P. - 473 (D. kaki).
DUARTE, AP. - 328 (D. janeirensis); s/nº
(D. kaki).
DUCKE, A. - s/nº (D. ebenaster).
FARIAS, D. S. - 311 (D. ebenaster).
FARNEY, C. - 1139, 2273, 2781 (D. incontans);
3141 (D. janeirensis).
FERNANDES, H. Q. B. - 926 (D.
ebenaster).
GIORDANO, L. C. - 1648, s/º, 1822, 2091 (D.
ebenaster).
KUHLMAN, J. G. - s/nº (D. janeirensis).
LOPES, R. C. - 69, 70, 71, 72 (D. inconstans).
MARQUETE, R. - 967, 1610 (D. ebenaster).
OLIVEIRA, A. L. - 35 (D. kaki).
PEDROSA, D. S. - 1118 (D. ebenaster).
REIS, R. - 128 (D. ebenaster).
SILVA, J. G. - s/nº (D. inconstans).
TATO, S. - s/nº (D. inconstans).
AGRADECIMENTOS
À Dra. Graziela Maciel Barroso por sua
orientação neste trabalho. A UFRJ/Museu
Nacional pelo apoio Institucional. Aos
Curadores dos herbários consultados. Á
Rodriguésia 50(76/77): 85-107. 1999
105
Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino
Superior - Capes, pela bolsa concedida. A
todos que direta ou indiretamente, ajudaram
na realização deste trabalho.
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