VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Estimativa do coeficiente de escoamento superficial “c” da unidade hidrográfica do lago Paranoá, utilizando imagem de média resolução espacial (ALOS). Daniela Cappellesso Mangoni, Marianne da Silva Santos, Ricardo Novaes Rodrigues da Silva, Edilson de Souza Bias, Felipe Lima Ramos. Instituições: Universidade Católica de Brasília, Universidade de Brasília Email dos Autores: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Introdução O presente estudo é realizado na Unidade Hidrográfica do Lago Paranoá, em função de sua notável relevância para o Distrito Federal, tendo como objetivo realizar a Estimativa do Coeficiente de Escoamento Superficial “C”, com o auxílio de classificação do uso do solo a partir de imagem de média resolução ALOS e do método de classificação SAM (Spectral Angle Mapper). O escoamento superficial (runoff, subsuperficial) é representado pelo transporte da água na superfície da Terra. Quando a água da chuva atinge o solo, parte infiltra e quando a taxa de infiltração é excedida, tem início o escoamento superficial. Pode-se definir 3 fases no escoamento superficial: na fase 1 o solo está seco e estão baixas as reservas de água; na fase 2, começa a precipitação e acontece a infiltração e o escoamento superficial; na 3ª fase, depois da precipitação o sistema volta ao estado normal (UFBA, 2009). O Coeficiente de Escoamento Superficial “C” varia à medida que a bacia se torna urbanizada, sendo de grande importância na avaliação da capacidade de sistemas de drenagens (MORAES et. al., 2007). A Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá localiza-se totalmente no Distrito Federal, constando as Regiões Administrativas – RAs: Lago Sul, Lago Norte, Brasília (Asa Sul e Asa Norte), Paranoá, Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal, Figura 1. 1 Tema 4- Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios Figura 1 – Mapa de Localização da Unidade Hidrográfica do Lago Paranoá As técnicas de sensoriamento remoto apresentam diversos métodos de classificação a partir de uma imagem orbital. Os métodos de classificação são procedimentos para separar as diferentes respostas espectrais ou objetos de uma determinada cena, esses métodos se dividem em duas categorias, supervisionadas e não-supervisionadas (SULSOFT, 2005). O método utilizado para a classificação da imagem no presente estudo foi o SAM (Spectral Angle Mapper). Esse método de classificação utiliza o ângulo entre as amostras de treinamento no espaço de n-dimensões para determinar os pixels para uma classe determinada. (SULSOFT, 2005). A imagem ALOS (Advanced Land Observing Satellite) foi utilizada para efetuar a classificação da área de estudo. A cena utilizada foi obtida como o módulo AVNIR-2, dotada de uma resolução espacial de 10m, possuindo 4 bandas espectrais (visível e infravermelho próximo), que é utilizado para observação de regiões terrestres e costeira (BRASIL, 2009). 2 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Métodos A Unidade Hidrográfica foi selecionada pelos limites oficiais estabelecidos no Mapa das Unidades Hidrográficas do Distrito Federal. Inicialmente foi realizada a classificação do uso do solo da Unidade Hidrográfica do Lago Paranoá pelo método SAM (Spectral Angle Mapper). Para essa classificação, os dados foram preparados com a utilização das ferramentas Minimum Noise Fraction (MNF) e do Pixel Purity Index (PPI). Para construção do MNF foram utilizadas as 4 bandas da Imagem ALOS (visível e infravermelho). Posteriormente foi realizado o PPI com o objetivo de determinar os pixels puros (quantidade de vezes que o pixel foi considerado na classificação). Para cada classe foi construída uma máscara a partir da qual foi novamente processado o PPI para as duas classes. Na classe 1 foi verificada a presença de pixels puros de água, vegetação e solo exposto. Na Classe 2 verificou-se a presença de pixels puros de concreto e feições urbanas. As classificações (com o MNF e com a imagem bruta) foram transformadas para formato vetorial e exportadas para o ArcGIS, onde foi realizada a união das diferentes classes (água, vegetação, área urbana, solo exposto e campo). Posteriormente foi obtida a área de cada classe para realização dos cálculos de escoamento superficial. Feita a classificação, foi realizada uma verificação in-loco (na Unidade Hidrográfica do Lago Paranoá) para confirmação de alguns pontos que apresentaram divergência, em função de mistura espectral. O levantamento em campo foi realizado para 80 pontos distribuídos pela área da Unidade Hidrográfica, visando diferenciar as misturas espectrais identificadas na classificação. Após a verificação in-loco foi realizada a união das classes definidas como área urbana. Além da união dessas quatro classes, uniu-se ainda as duas classes de solo exposto e a união das duas primeiras classes de vegetação com a classe de campo (que caracterizam vegetação baixa) e das outras duas classes de vegetação (que caracterizam vegetação alta). Essa união ocorreu para se trabalhar com mais objetividade dentro de quatro classes (área urbana, vegetação alta, vegetação baixa e solo exposto) com características definidas e escoamento superficial diferenciado entre elas, Figura 2. 3 Tema 4- Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios Figura 2 – Classificação final após validação de campo Para o cálculo de “C” foi considerada a equação: C Cp . Ap Ci . Ai EQ. 1 At No cálculo de Cp e Ci a variável S representa o armazenamento, que está relacionado com o parâmetro que caracteriza a superfície (CN) e é dado pela equação: S 25400 254 EQ. 2 CN Os valores do parâmetro CN são valores tabelados que variam de acordo com o tipo de solo e usos e ocupação do solo. O tipo de solo que caracteriza a Unidade Hidrográfica do Lago Paranoá é o tipo D (Solos contendo argilas expansivas e pouco profundos com muito baixa capacidade de infiltração, gerando a maior proporção de escoamento superficial. ( TUCCI, 2004) , pois a área é coberta em sua maioria por solos do tipo Latossolo. Os valores destacados 4 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 para o tipo D de solo foram considerados respectivamente para as classes de Vegetação Baixa, Vegetação Alta, Área Urbana e Solo Exposto. Resultados e Discussão A classificação final e as respectivas áreas das classes são apresentadas na Tabela 1, assim como a porcentagem que cada uma delas representa em relação à área total da Unidade Hidrográfica do Lago Paranoá. Tabela 1 – Classes e Respectivas áreas Classe Área (Km2) Área Urbana (áreas de telhado, concreto, asfalto, paralelepípedos) 60,3487 Vegetação Baixa 125,7167 Vegetação Alta 14,1939 Solo Exposto 18,6096 Área Não Classificada 60,3499 Área Total da Bacia 279,2188 % 21,61 45,02 5,08 6,66 21,61 100 Para ser utilizada no cálculo da Precipitação (P), a Intensidade (I) foi calculada utilizando as máximas de cada mês do ano entre os meses de outubro de 1978 e junho de 2007, que resultou na Intensidade (I) de 3,96 mm/dia. Para o cálculo de Tc, a área considerada foi a Área Total da Unidade Hidrográfica A=279,22 km2. O Comprimento do Lago foi representado por L= 44,02 km. A altura média da área da bacia (H) foi 1085 m. O tempo de concentração resultou em 18,43 horas. E a precipitação resultou em P=72,91 mm. Os resultados para o cálculo de S e os valores de CN ficaram iguais aos que são apresentados na Erro! A origem da referência não foi encontrada.. Figura 2 – Valores de CN para cada tipo diferente de classe. Os resultados obtidos do cálculo de Cp e Ci são mostrados a seguir. 5 Tema 4- Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios 72 , 91 Ci 0 , 2 5 ,18 72 , 91 Ci Cp Cp Cp Cp Cp Cp 0 , 8 5 ,18 2 1 EQ. 5 72 , 91 0 , 92 72 , 91 vegbaixa vegbaixa 72 , 91 vegalta 0 , 8 52 , 02 0 , 2 75 , 87 72 , 91 EQ. 6 72 , 91 2 1 0 , 8 75 , 87 EQ. 7 72 , 91 0 , 34 72 , 91 solo exp osto solo exp osto 1 0 , 47 72 , 91 vegalta 2 0 , 2 52 , 02 72 , 91 2 0 , 2 31 , 39 0 , 8 31 , 39 1 EQ. 8 72 , 91 0 , 62 Para o cálculo de C foi feito o somatório do produto entre Cp de cada classe impermeável e suas respectivas áreas, somou-se com o produto entre Ci e Ai. A diferença entre a área total da Unidade Hidrográfica e a área não-classificada foi considerada em At. Sendo assim, o resultado de C para a Unidade Hidrográfica é apresentado a seguir: C (125 , 7167 0 , 47 14 ,1939 0 , 34 18 , 6096 0 , 62 ) ( 60 , 3487 0 , 92 ) EQ. 2 218 , 8689 C 0 , 60 6 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 A Tabela encontrado. sintetiza os dados necessários para o cálculo de C e o resultado Tabela 2 – Síntese dos dados para o cálculo de C e o resultado. P I Tc H L P Classe Área Urbana Vegetação Baixa Vegetação Alta Solo Exposto 3,96 mm/h 18,43 h 1085 m 44,02 km 72,91 mm Área Urbana (áreas de telhado, concreto, asfalto, paralelepípedos) Vegetação Baixa Vegetação Alta Solo Exposto CN 98 83 77 89 S 5,18 52,02 75,87 31,39 Ai Ci 60,3487 0,92 Ap 125,7167 14,1939 18,6096 Cp 0,47 0,34 0,62 At Área Não Classificada Área Total da Unidade Hidrográfica At= Área Total da Unidade Hidrográfica - Área Não Classificada 60,3499 279,2188 218,8689 C C 0,6 Os mesmos cálculos foram feitos para as áreas que envolvem as RAs: Brasília (Asas Sul e Norte), Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal, Figura 3. 7 Tema 4- Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios Figura 3 - Área que envolve as RAs: Brasília (Asas Sul e Norte), Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal As áreas para as diferentes classes são apresentadas na Tabela . Tabela 3 – Classes e respectivas áreas referentes à classificação feita com Áreas envolvendo as RAs: Brasília (Asas Sul e Norte), Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal. Classe Área Urbana (áreas de telhado, concreto, asfalto, paralelepípedos) Vegetação Baixa Vegetação Alta Solo Exposto Área Não Classificada Área Total envolvendo as RAs: Brasília (Asas Sul e Norte), Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal Área (km2) % 36,5715 36,95 40,6939 2,4279 7,7921 11,4942 41,11 2,45 7,87 11,61 98,9797 100,00 8 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Os cálculos foram feitos diferenciando apenas as áreas. Os resultados são apresentados na Tabela . Tabela 4 – Resultados para Áreas envolvendo as RAs: Brasília (Asas Sul e Norte), Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal. P I Tc H L P Classe Área Urbana Vegetação Baixa Vegetação Alta Solo Exposto Área Urbana (áreas de telhado, concreto, asfalto, paralelepípedos) Vegetação Baixa Vegetação Alta Solo Exposto 3,96 mm/h 7,14 h 1087m 23,63km 28,24 mm CN 98 83 77 89 Ai 36,5715 S 5,18 52,02 75,87 31,39 Ci 0,81 Ap 40,6939 2,4279 7,7921 At Cp 0,16 0,07 0,32 Área Não Classificada Área Total envolvendo as RAs: Brasília (Asas Sul e Norte), Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal. At= Área Total envolvendo as RAs: Brasília (Asas Sul e Norte), Cruzeiro e Sudoeste/Octogonal menos a Área Não Classificada C C 11,4942 98,9797 87,4854 0,4 9 Tema 4- Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios Conclusões A metodologia desenvolvida possibilitou o cálculo efetivo do escoamento superficial na Unidade Hidrográfica do Lago. Quanto à metodologia, ela se mostrou bastante eficaz, porém seria mais bem aproveitada em regiões de menores áreas. O uso da imagem ALOS apresentou vantagens pela boa resolução espacial o que faz com que haja compensação na classificação. Dificuldades foram encontradas na adequação dos valores de CN (que são tabelados) para as classes desejadas, já que aborda de maneira genérica os tipos de superfícies. REFERÊNCIAS BRASIL; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Imagens do Satélite ALOS. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/alos>. Acesso em: 2/11/2009. 18/09/2009. FLIZIKOWSKI, C. L.; PELEGRINO, C. F. E.; MAIA, G. A.; Análise Comparativa entre Equações de Tempo de Concentração na Bacia Hidrográfica do Arroio dos Pereiras. Disponível em: <http://www.unicentro.br/graduacao/deamb/semana_estudos/pdf_08/AN%C1LISE %20DE%20EQUA%C7%D5ES%20NA%20BACIA%20HIDROGR%C1FICA%20DO%20ARR OIO%20DOS%20PEREIRAS.pdf>. Acesso em: 20/10/2009. MORAES, G. A., et. al.; Estimativa do coeficiente de escoamento superficial "C" utilizando sensoriamento remoto em imagem de alta resolução. In: 24º Congresso SULSOFT; Guia do Envi. 2005. Disponível em: <http://www.sulsoft.com.br/arearestrita/main.php>. Acesso em: 15/09/2009. TUCCI, C. E. M.; Coeficiente de escoamento e vazão máxima de bacias urbanas. Instituto de Pesquisas Hidráulicas – UFRGS/2000. Disponível em: <http://www.iph.ufrgs.br/corpodocente/tucci/publicacoes/CESC.pdf>.Acesso em: 11/08/2009. 10 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA); Apostila de hidrologia. Capítulo 6. Escoamento Superficial. Departamento de Hidráulica e Saneamento. Grupo de Recursos Hídricos. Disponível em: <http://www.hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/HidrologiaAplicada/Semestre20081/Apos tilaCap6.pdf>>. Acesso em: 15/08/2009 11