VARIABILIDADE MÉDIA MENSAL DE VARÁVEIS METEOROLÓGICAS EM CAXIUANÃ, ÁREA DE FLORESTA TROPICAL DA AMAZÔNIA 1 José de Paulo Rocha da Costa1 & Renata Silva de Loureiro2. Prof. Adjunto. Departamento de Meteorologia. 2Aluno do Curso de Graduação em Meteorologia. Universidade Federal do Pará. e-mail. [email protected]. Rua Augusto Corrêa s/n. CEP 66075-900.Belém-Pará ABSTRACT This work analyzes the monthly average variations of the maximum, average and minimum temperatures of the air. Precipitation, sunshine, piche evaporimeter, classe “A” evaporation pan and evapotranspirometer, in forest area, regarding a period of four years, from 1996 to 1999. The data were collected in a meteorological surface station, installed in Caxiuanã National Forest, West region of Pará state. The results showed that the concentration of the precipitation happened in the summer and autumn and, the temperature of the air was the climatic variable that presented smaller seasonal and annual variations. 1 - INTRODUÇÃO A forma irracional de exploração dos recursos naturais floresta Amazônica, tem despertado a preocupação de governantes e comunidade científica do mundo inteiro. Tal preocupação se justifica, por que nas últimas décadas, imensas áreas da floresta Amazônica têm sido desmatadas. Fearnside(1989), cita que a taxa anual de desmatamento na Amazônia brasileira tem variado de 25.000 a 50.000 km2 para as diversas formas de uso do solo. As florestas com as suas características climáticas próprias, abrigam diversas espécies de animais e plantas, que vivem num sistema de dependência e estes, dos ciclos sazonais dos fatores ambientais, formando um complexo sistema ecológico, funcionando em completo, porém frágil, equilíbrio e estabilidade. O desmatamento causa desequilíbrio no delicado sistema florestal, pela alteração da relação solo-vegetação com a atmosfera. A floresta tropical Amazônica atualmente é um dos mais importantes sistemas ecológicos da terra, onde acredita-se que a degradação desta imensa área verde acarretará certamente, alterações microclimáticas, que poderão causar mudanças irrevessíveis no clima regional e até global. Segundo Costa (1996), sempre que o homem interfere na natureza causa alteração nas condições ambientais e as conseqüências desta interferência afetam normalmente plantas e animais que habitam determinado local ou região. Nos últimos anos, tem sido realizadas muitas pesquisas com a finalidade de estabelecer os processos físicos, biológicos, fisiológicos e outras que interagem com a atmosfera e causam alteração no clima. Gash et al. (1996), cita inúmeros estudos realizados na Amazônia dentro do projeto ABRACOS . As condições climáticas invariavelmente condicionam a vida de animais e plantas na superfície terrestre. Por isso, torna-se evidente desenvolver um melhor entendimento da ação do homem no meio físico e suas conseqüências na manutenção da vida terrena. Tendo em vista, a importância do clima no desenvolvimento de diversas atividades humanas, no presente estudo são analisados os valores médios mensais dos principais elementos meteorológicos que caracterizam o tempo e o clima de um dado local ou região. 2. – MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 - Materiais 2.1.1 - Características e Localização da Área de Estudo A Reserva Nacional de Caxiuanã, segundo Lisboa(1997), compreende uma área de aproximadamente 33 mil hectares, da qual 80% corresponde à floresta de terra firme, 20% ocupada por várzeas e igapós, área pertencente ao município de Melgaço, região oeste do Estado do Pará. Os dados meteorológicos, foram medidos sobre superfície gramada da estação meteorológica de superfície com coordenadas geográficas: 010 44’ 35” S; 0510 27’ 22” W e altitude de 60 metros, instalada em área adjacente 2326 da Estação Científica “Ferreira Penna”(ECFPn), base física do Museu Paraense Emílio Goeldi, para apoio aos diversos estudos de pesquisas desenvolvidos na região. No aspecto climático, a região de Caxiuanã apresenta o tipo climático Am, segundo a classificação de Köeppen, ou seja, clima tropical quente, com curto período de estiagem. E o tipo B’1 W’A’a’, segundo a classificação de Thornthwaite. Isto é clima megatérmico, com moderada deficiência de precipitação na primavera. Na formação do clima local, os principais sistemas atmosféricos que influenciam na região de região de caxiuanã são: Zona de Convergência Intertropical (ITCZ), brisa gerada pelas proximidades da baia de Caxiuanã, convecção causada pelo aquecimento local e período de ocorrência do fenômeno “El-Niño”. Outros sistemas atmosféricos como: ondas de leste, linhas de instabilidade e sistemas frontais normalmente não influenciam de forma marcante no clima local. 2.1.2 – Dados Na elaboração deste estudo foram analisados os valores médios mensais das variáveis meteorológicas: temperaturas extremas (máxima e mínima), temperatura média, umidade relativa, precipitação pluviométrica, insolação, evaporação do tanque classe “A”, do evaporímetro de piche e evaportranspirômetro de drenagem (lisímetro), referente a um período de quatro anos (1996-1999). 2.2 - Metodologia A observação dos parâmetros climáticos foram sempre realizadas diariamente, às 09:00 horas local. Com os dados diários observados, foram organizados em tabelas, onde se calculou as médias diárias e mensais e, posteriormente elaborou-se os sumários médios e mensais e, através dos mesmos construiu-se a tabela média do período estudado e os gráficos, para fins de análise da variabilidade dos elementos meteorológico. 3. – RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 01 são mostrados os valores médios mensais da temperatura máxima (Tmax), Temperatura média (Tmed),Temperatura mínima (Tmin), Umidade relativa (Umed), Precipitação (Chuva), Evaporação do evaporímetro de Piche (Piche), Evaporação do Tanque Classe “A” (Tanque), Evaporação do Lisímetro (Lisímetro) e Insolação (Insol). Verifica-se que os valores das variáveis meteorológicas, temperatura máxima, média, mínima e Umidade relativa são elavados ao longo do ano e mostram pouca variação estacional. A variação média anual da precipitação, evidencia dois períodos bastante distintos: O primeiro, normalmente denominado de “período úmido ou chuvoso” , compreende os meses de janeiro, fevereiro e março e o segundo, normalmente chamado de “período seco”, compreende os meses de setembro, outubro e novembro. Em virtude do elevado estado de umidade do ar ao longo do ano, os parâmetros relativos a evaporação do Piche (poder evaporante do ar), Lisímetro (Evapotranspiração) e Tanque mostram pequena variação estacional. Podemos ainda destacar que os totais anuais dessas variáveis, representam respectivamente, cerca de 35%, 37% e 59% da precipitação total anual. A variação média de Insolação, mostra ser muito influenciada pelo conteúdo de umidade da atmosfera. Isto é, no período mais chuvoso (bastante nublado), a Insolação apresenta valores baixos. Enquanto que no período seco (pouca nebulosidade), os valores da insolação são bastante elevados. 2327 Mês Tabela 01 – Sumário climatológico médio mensal, referente ao período (1996 – 1999) Evaporação Tmax Tmin Tmed Umed Chuva Piche Tanque Lisímetro Insolação (0C) (0C) (0C) (%) (mm) (mm) (mm) (mm) (hs) 31,7 32,3 31,3 32,4 32,5 33,1 33,1 33,6 33,7 34,1 34,1 33,7 22,9 23,1 23,0 23,3 23,3 23,0 22,4 22,5 22,8 23,1 23,4 23,3 26,0 26,4 26,0 26,7 26,8 26,5 26,6 26,8 27,1 27,5 27,5 27,1 89,4 89,4 90,8 90,6 89,3 88,0 87,4 86,4 84,7 82,9 83,3 84,2 Total Média 32,9 Máximo 34,1 Mínimo 31,3 23,0 23,4 22,4 26,7 27,5 26,0 82,2 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 259,1 238,2 379,8 293,0 229,5 156,1 110,7 89,4 73,0 50,7 56,6 125,8 38,6 46,2 35,3 38,7 41,3 59,1 66,8 74,1 77,3 90,3 83,5 61,7 63,7 98,5 64,9 67,4 83,1 111,0 122,2 126,1 135,9 134,3 114,2 96,6 64,4 40,6 49,0 40,0 40,7 58,2 65,7 85,6 80,2 82,8 98,4 66,5 93,2 135,6 101,6 123,4 151,4 217,4 253,4 251,2 240,2 239,1 187,3 145,4 2.061,7 712,6 1.217,7 772,1 2.139,0 A figura (01), mostra a variação média mensal da temperatura máxima, média e mínima do ar. Para esta área da região tropical, a análise da temperatura mostra que as variações diárias são muito maiores do que as variações anuais. Observa-se também, que os menores valores da temperatura máxima e da média, ocorrem no mês de março. Isto ocorre porque março é o mês mais chuvoso na região tropical. A variação da temperatura mínima, mostra que os menores valores ocorrem nos messes de julho, agosto e setembro, coincidindo com o final do inverno e início da primavera no hemisfério sul. Verifica-se ainda, que os valores de temperatura mais baixos ocorrem no verão e os valores mais elevados ocorrem na primavera. 2328 Na figura (02) são mostrados a variação média mensal da evaporação do tanque classe “A”, lisímetro e do evaporímetro de piche. Verifica-se que existe uma boa correlação entre os valores médios da evaporação do piche e tanque classe “A”. Com relação a discrepância mostrada entre a variação do lisímetro e as demais curvas, ocorre porque, tanto a evaporação do piche quanto do tanque classe “A”, dependem apenas do gradiente de umidade do ar. Enquanto que o fenômeno evaporativo avaliado pelo lisímetro, resulta dos processos da evaporação do solo e transpiração da cobertura vegetal dos tanques do lisímetro. A figura (03) mostra a variação média mensal da umidade relativa e da insolação. Pode-se notar nesta figura que as variáveis insolação e umidade relativa apresentam uma relação inversa. Isto é, quando a insolação é baixa, a umidade relativa é elevada e vice-versa. Isto ocorre porque a nebulosidade exerce grande influencia na quantidade da radiação solar que chega na superfície terrestre. Portanto, no período úmido a baixa insolação esta associada com a elevada cobertura de nuvens e no período seco, a umidade relativa mais baixa está associado com a maior quantidade de radiação que atinge a superfície terrestre e eleva a temperatura do solo. Destaca-se ainda na figura (02) que a primeira metade do ano a cobertura de nuvem e mais elevada, portanto mais úmida e a segunda meta do ano é mais seca e portanto menor nebulosidade. 2329 4 - CONCLUSÕES Após análise dos dados integrantes deste estudo, chegou-se as seguintes conclusões: 1- A temperatura média anual determinada no período estudado foi de 26,70 C; da temperatura máxima e mínima foram de 32,70 C e 23,00 C respectivamente. Enquanto que a umidade relativa média foi de 87%. 2 – A variação temperatura do ar, mostra que os valores médios mensais são menores no verão e mais elevados na primavera. As variações média diárias de temperatura são maiores do que as variações sazonais e anuais. 3 – A análise da precipitação pluviométrica mostra o aparecimento de duas épocas bem marcantes. Uma, que se estende de dezembro a maio, com bastante chuva e outra, que vai de agosto até novembro com pouca incidência de precipitação. 4 - A precipitação pluviométrica mostrou a seguinte distribuição estacional : 10 % ocorre na primavera, no verão 38 %, outono 37 % e no inverno 15 %. 5 – A evaporação por ser um elemento climático muito influencia pela energia disponível para o processo, mostra que, no período mais chuvoso a evaporação baixa e no período seco a evaporação é elevada. 6 – A precipitação foi o elemento climático que apresentou maior variabilidade anual e a temperatura do ar, foi a variável meteorológica que apresentou menor amplitude estacional e anual. 7 – Os resultados encontrados nesta pesquisa, não representam um estudo climatológico da região, devem ser visto apenas como uma tendência de variação dos elementos meteorológicos estudados. 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Costa, J.P.R. & Martins, M. – Determinação de alteração microclimática causada por processo de ocupação urbana. IX Congresso Brasileiro de Meteorologia.Vol,2. P.1182-1184. Campos do Jordão-SP, 1986. Fearnside, P.M. – Deforestation in Brazilian Am,azonian. G.M. Woodwell (ed.) The earth in Transition: Patterns and procecesses of Biotic Improverishment. New York, Cambriddge University Press, 1989. 11 p Gash, J.H; Nobre, C.A; Roberts, J. M. & Victoria, R.L. – An overview of ABRACOS. In: An Amazonian Deforestation and climate.John Wiley & Sons Ltd. Londres. P. 01 -14. 1996. Lisboa, P.L.B.(Org.) – Caxiuanã. Museu Paraense Emílio Goeld.446.il. Belém-Pará.1977. 2330