VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 A Cartografia na Formação do Geógrafo Brasileiro: Uma reflexão sobre os conteúdos acadêmicos e as perspectivas de atuação profissional Maria Isabel Castreghini de Freitas Universidade Estadual Paulista – UNESP Departamento de Planejamento - DEPLAN e-mail: [email protected] Introdução A Cartografia na formação do Geógrafo e do Licenciado em Geografia é considerada disciplina básica, inicial, sobre a qual são construídas e expressas as bases das demais disciplinas desta área do conhecimento. Nenhum outro profissional tem relação tão estreita com a Cartografia, com exceção do Engenheiro Cartógrafo, ou do Engenheiro Geógrafo, como se denomina em Portugal. O Geógrafo é acima de tudo investigador. Precisa ter os olhos e a mente abertos ao novo, ao não explicito, ao que é percebido por manifestações muitas vezes indiretamente associadas ou derivadas do seu objeto primeiro de pesquisa, que pode estar relacionado com fenômenos físicos, socioeconômicos ou das suas correlações. É na sua capacidade de observação, interpretação e análise que está o diferencial entre este profissional e os demais. Para a realização de muitas dessas tarefas é fundamental o domínio da cartografia e de disciplinas a ela associadas, as relativas às Geotecnologias como, por exemplo, o Sensoriamento Remoto e os Sistemas de Informação Geográfica. Ao Geógrafo cabe o papel de integrar conhecimentos de áreas relativas ao ambiente e às ações do homem, muitas vezes searas de diferentes especialistas como Geólogos, Agrônomos, Cientistas Sociais, Economistas, Arquitetos, dentre outros. O geógrafo traz nas suas atribuições a responsabilidade por uma abordagem holística e integrada do conhecimento e, para tanto, é imprescindível uma base sólida de disciplinas que são alicerce de sua formação, sendo as das áreas de Cartografia e Geotecnologias peças fundamentais. O curso de Bacharelado possibilita o credenciamento do graduado junto ao CREA 1, que assegura o registro profissional e a participação no mercado de trabalho como geógrafo, apto a desenvolver atividades de consultoria, pesquisa e projetos. Na maioria das Universidades brasileiras, para a obtenção do título de Bacharel em 1 CREA – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. 1 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Geografia, é necessária a apresentação de uma monografia denominada trabalho de conclusão de curso ou trabalho de graduação individual. O curso de licenciatura em Geografia, ofertado na grande maioria das Universidades Brasileiras, habilita o estudante graduado a exercer a profissão de professor de Geografia para o ensino básico (Ensino Fundamental e Médio), através do registro profissional, obtido junto ao MEC. A Cartografia presente nos cursos universitários deve estar comprometida com as novas correntes do pensamento geográfico. Segundo BRASIL (1998, p.77) [...] Atualmente, comprometida com as novas correntes do pensamento de uma Geografia da percepção e fenomenológica, o aluno passou a ser orientado a desenvolver uma consciência crítica em relação ao mapeamento que estará realizando em sala de aula. Isso significa dizer que existe sempre uma perspectiva subjetiva na escolha do fato a ser cartografado, marcado por um juízo de valor. O aluno deixou de ser visto como um mapeador mecânico para ser um mapeador consciente, de um leitor passivo para um leitor crítico dos mapas. Na formação do Licenciado alguns cuidados devem ser tomados, levando-se em conta as especificidades da educação escolar, que segundo Santos e Kulaif (2009) deve ser um dos instrumentos que participe da promoção do ser humano a indivíduo livre e consciente. Os autores consideram que, para a geografia escolar ser eficaz na formação de um aluno consciente da sua realidade espacial é necessária a atuação do professor no sentido de integrar, em suas aulas, a lógica espacial local com a lógica espacial global. Ou seja, não há sentido no ensinamento da parte, desconsiderando-se o todo. A cartografia, e suas disciplinas associadas, são fundamentais na formação do licenciado. Os mesmos autores salientam em A cartografia enquanto linguagem visual é um poderoso auxílio na construção de uma geografia escolar mais dinâmica no ensino fundamental e médio (SANTOS E KULAIF, 2007 p.6). È neste sentido que se devem valorizar as disciplinas destinadas á formação do Licenciado com a mesma ênfase que se valorizam as disciplinas especificas para a formação do Bacharel em Geografia. Este estudo, de caráter prospectivo, visa detectar como estão sendo conduzidas as disciplinas cartográficas e geotecnológicas nas Universidades Brasileiras, em termos de carga horária e conteúdo ofertado para a formação do Bacharel e do Licenciado em Geografia. De acordo com Freitas e Yokoro (2009), acredita-se que a formação do professor em caráter efetivo, definitivo e permanente, só ocorrerá quando este tiver consciência 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 de que é o principal responsável pela sua formação e o detentor de conhecimentos e experiências decorrentes de suas práticas didáticas, que devem ser compartilhadas e aprimoradas para a consolidação do saber junto com seus alunos. Objetivo Este trabalho tem o objetivo de apresentar uma análise da disciplina Cartografia nos Curso de Graduação em Geografia das Universidades Públicas Brasileiras, destacando aspectos relativos à grade curricular, carga horária e ao conteúdo programático apresentado atualmente e suas interfaces com as demais áreas que compõem as geotecnologias. Numa primeira etapa realizou-se a análise das Grades Curriculares dos Cursos buscando a classificação das disciplinas nas Áreas Cartográficas e Geotecnológicas aqui definidas. Numa segunda etapa realizou-se a análise dos conteúdos dos programas disponíveis, buscando-se analisar como a ciência cartográfica e as geotecnologias vêm sendo abordadas nos Cursos de Graduação em Geografia do Brasil. Metodologia Para alcançar os objetivos aqui propostos, realizou-se um levantamento bibliográfico, seguido de coleta de dados e de análise dedutiva e comparativa dos documentos relativos às grades curriculares e programas selecionados dos Cursos de Graduação em Geografia, modalidades Licenciatura (L), Bacharelado (B) e Licenciatura e Bacharelado (L/B). Justifica-se a escolha das Universidades Públicas devido a sua à tradição na formação de Bacharéis e Licenciados em Geografia, desde as primeiras unidades universitárias instaladas no país, o que as torna referência para os demais cursos implantados nesta área. Além disso, a grande maioria mantém uma estrutura departamental, com professores contratados em Regime de Dedicação Exclusiva a Docência e a Pesquisa (RDIDP), o que permite um significativo investimento em pesquisa e em atividades de extensão, possibilitando o desenvolvimento científico da área geográfica brasileira e sua disseminação por toda a nossa sociedade. Outro fato importante, que é característica das Universidades Públicas, corresponde à capilaridade da sua distribuição pelo território nacional, o que possibilita detectar as tendências e particularidades regionais dos cursos universitários de Geografia. Foram pesquisadas as universidades públicas brasileiras, definindo-se uma amostra por Região Político-Administrativa. A amostra foi aleatória e teve como base: 3 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Garantir um número mínimo de 3 Universidades Públicas por região brasileira; Acesso ao material publicado pelas Universidades em portais e páginas na internet; Consulta a professores universitários de Geografia por meio de contato pessoal, via correio eletrônico visando o acesso a programas de disciplinas que, em muitos casos, não se encontram disponíveis nos portais e páginas. Para a organização dos dados coletados e, levando-se em conta a variação na nomenclatura de disciplinas adotadas para os cursos de graduação consultados, consideraram-se algumas categorias, visando sua uniformização para posterior análise comparativa. Neste sentido, dividiram-se as disciplinas de Cartografia e Geotecnologias em Áreas, denominadas aqui de Áreas Cartográficas e Geotecnológicas: CARTOGRAFIA (CART): Engloba as disciplinas de cartografia básica ou sistemática. Dentre as disciplinas consideradas estão: Cartografia, Cartografia geral, Cartografia Sistemática, Introdução à Cartografia, Introdução à Cartografia para Geografia, Interpretação de Cartas Topográficas, Representação Espacial, Topografia, Topografia I e II, GPS, Astronomia, Leitura de Cartas, Cartografia Geral e Temática, dentre outras; CARTOGRAFIA TEMÁTICA (TEM): Considera as disciplinas de cartografia temática e disciplinas associadas relativas ao Ensino de Geografia, dentre as quais se destacam: Cartografia Temática, , Geocartografia, Cartografia e Ensino de Geografia, Cartografia Ambiental, Concepção e Elaboração Material Didático de Cartografia, Prática de Ensino em Cartografia e Cartografia Escolar; CARTOGRAFIA DIGITAL E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG): Engloba disciplinas que usam tecnologia computacional em cartografia e SIG como: Computação em Geografia, Sistema de Informação Geográfica, Geoprocessamento, Georeferenciamento, Cartografia Digital, Tecnologias da Geoinformação, Introdução a Ciência da Computação , Geoprocessamento e Interpretação de Imagens, Processamento de dados, dentre outras; SENSORIAMENTO REMOTO (SR): Considera as disciplinas de geotecnologias apoiadas em sensoriamento remoto como: Sensoriamento Remoto, Sensoriamento Remoto e Interpretação de Imagens, Aerofotogeografia, Fotointerpretação, Aerofotogrametria e fotointerpretação, Interpretação de Fotografias Aéreas e Imagens Orbitais, Processamento Digital de Imagens, dentre outras. 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Observação: quando nomes de disciplinas contemplavam duas áreas aqui definidas, optou-se por consultar o programa da disciplina e adotar a disciplina predominante. No caso do programa não se encontrar disponível, optou-se por incluir a disciplina na área correspondente ao seu primeiro nome. Assim, por exemplo, a disciplina Geoprocessamento e Interpretação de Imagens foi incluída na Área SIG, levando-se em conta o primeiro nome – Geoprocessamento. Após a definição das Áreas, procedeu-se à busca pelas informações das Universidades, incluindo o ANO do início do curso de graduação em Geografia em sua Instituição, bem como se o curso era de Licenciatura (L) ou Licenciatura e Bacharelado (L/B). Por meio de leitura dos documentos relativos à Grade Curricular procedeu-se a classificação das disciplinas nas Áreas aqui estabelecidas, tendo-se como referência a Carga Horária (h). Entre as Universidades consultadas não existe um padrão de carga horária para a Grade Curricular, podendo estar organizada em disciplinas de 32, 60, 64, 75 e 120 horas. A Universidade pode adotar um padrão único ou fazer uso de diferentes cargas horárias para disciplinas do seu curso. Como o objetivo desta etapa do trabalho era a análise comparativa da quantidade de carga horária dos cursos de Geografia dedicadas às disciplinas de Cartografia e Geotecnologias, optou-se por somar a carga horária oferecida para Licenciatura (especificas ou optativas exclusivas da Licenciatura), Bacharelado (especificas ou optativas exclusivas do Bacharelado) e Licenciatura e Bacharelado (núcleo comum). Muitas vezes os cursos são organizados de forma que o Bacharelado possa ser feito na modalidade Regular (sem ênfase) ou com ênfases, que formam profissional Geógrafo com Ênfase em alguma especialidade. É o caso, por exemplo, da UNESP – Rio Claro, que apresenta as seguintes ênfases: “Análise Ambiental e Geoprocessamento” e “Análise Socio-Espacial e Planejamento Territorial”. Nesse estudo realizou-se a soma das disciplinas ofertadas e, no caso de haver a mesma disciplina ofertada para bacharelado com ênfase e bacharelado regular, optouse por contar a disciplina uma única vez na soma da carga horária. Isto foi feito buscando-se uma padronização dos dados. Todas as iniciativas aqui tomadas visaram facilitar e sistematizar a análise, colocando-se um único padrão para toda a amostra, procurando assim tratar as todas as informações coletadas com o mesmo critério. 5 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes A Amostra de Cursos de Geografia das Universidades Públicas Para que este trabalho mantivesse seu rigor cientifico, optou-se por coletar dados de cursos de Geografia das Universidades Públicas por Região do Brasil. A maioria das consultas foi feita por meio da página na internet da Instituição, sendo que as 27 Universidades que compõe a amostra são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1: Amostra das Universidades Públicas Brasileiras que possuem Curso de Geografia REGIÃO Estado Universidade / sede REGIÃO Esta Universidade / sede 1 SP UNESP / Rio Claro 1 SP UNESP / Ourinhos 1 SP UNESP / P.Prudente 1 SP USP / São Paulo 2 RJ UERJ/Rio de Janeiro 2 MG UFJF/Juiz de Fora 2 MG UFSJ/S João Del Rei 2 ES UFES / Vitória 2 PR UEM / Maringá 2 PR UFPR / Curitiba 2 SC UFSC / Florianópolis 2 RS UFRGS / Porto Alegre do 1 MT UFMT/Cuiabá 6 2 MS UFMS/Campo Grande? 7 3 GO UFG/Catalão 8 4 5 TO PA UFT/Araguaína UFPA / Belém Sudeste 9 0 6 Norte AM UFAM / Manaus 1 7 RR UFRR / Boa Vista 2 3 8 BA UEFS / F. de Santana 4 9 BA UFBA / Salvador 5 1 AL UFAL / Maceió 0 1 Nordes PE 6 UFPE / Recife 1 te Sul 7 1 CE UFC / Fortaleza 1 RN UERN / Natal 1 MA UEMA / São Luis 1 SE UFSE / Aracajú 2 3 4 5 Lista das Universidades pesquisadas: 1. Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT – Cuiabá (MT) 2. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS – Campo Grande (MS) 3. Universidade Federal do Goiás – UFG – Catalão (GO) 4. Universidade Federal do Tocantins – UFT – Araguaína (TO) 5. Universidade Federal do Pará – UFPA – Belém (PA) 6. Universidade Federal do Amazonas – UFAM – Manaus (AM) 7. Universidade Federal de Roraima – UFRR – Boa Vista (RR) 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 8. Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS – Feira de Santana (BA) 9. Universidade Federal da Bahia - UFBA – Salvador (BA) 10. Universidade Federal de Alagoas - UFAL – Maceió (AL) 11. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE – Recife (PE) 12. Universidade Federal do Ceará UFC – Fortaleza (CE) 13. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN – Natal (RN) 14. Universidade Estadual do Maranhão – UEMA – São Luis do Maranhão (MA) 15. Universidade Federal do Sergipe – UFSE – Aracajú (SE) 16. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP – Rio Claro (SP) 17. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP – Presidente Prudente (SP) 18. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP – Ourinhos (SP) 19. Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP) 20. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – Rio de Janeiro (RJ) 21. Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF – Juiz de Fora (MG) 22. Universidade Federal de São João Del Rei = UFSJ – São João Del Rei (MG) 23. Universidade Federal do Espírito Santo – UFES – Vitória (ES) 24. Universidade Estadual de Maringá – UEM – Maringá (PR) 25. Universidade Federal do Paraná – UFPR – Curitiba (PR) 26. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC – Florianópolis (SC) 27. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS) As Disciplinas Cartográficas e Geotecnológicas nos Cursos de Geografia das Universidades Públicas do Brasil Quando da quantificação dos dados acerca da carga horária ofertada pelas Universidade pesquisadas, consideraram-se as Áreas Cartográficas e Geotecnológicas, agrupando-se as disciplinas de acordo com as 4 áreas: Cartografia (CART), Cartografia Temática (TEM), Cartografia Digital e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e Sensoriamento Remoto (SR), cujos resultados são apresentados na Tabela 2. 7 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Tabela 2: Carga horária das disciplinas das Áreas Cartográficas e Geotecnológicas Universidades Públicas por Região Brasileira e Ano do início do curso de Geografia REGIÃO EST M T CO M S G O B A B A A L P NE E C E R N M A S E P A A N M R R T O S P SE S P S Mo dalidad e LIC/ BAC Universidade / sede ANO* UFMT/Cuiabá 1966 L UFMS/Campo Grande 19(?) L/B 1986 L/B UFG/Catalão UEFS Santana / F. de 1980 (?) Áreas Cartográficas e Geotecnológicas Carga Horária (h) C TE SI S TOT ART M G R AL 18 12 12 1 540 0 0 0 20 27 68 340 2 22 12 12 2 736 4 8 8 56 L UFBA / Salvador 1944 L/B UFAL / Maceió 1988 L/B 60 - 13 5 60 14 60 5 22 0 12 0 12 0 UFC / Fortaleza 1963 L/B UERN / Natal 1957 L UEMA / São Luis 2000 L UFSE / Aracajú 1951 L/B UFPA / Belém 1965 L/B 68 UFAM / Manaus 1981 L 60 UFRR Boa Vista 1989 L* 90 - 60 UFT/Araguaína 1985 L 60 60 - UNESP / Rio Claro 1959 L/B 60 60 UNESP / Ourinhos 2003 L/B 60 60 1959 L/B 60 12 / 12 - 8 12 60 - 18 80 0 1 92 60 6 0 12 0 12 13 68 6 13 75 5 1 20 60 0 1 20 6 8 6 0 6 0 6 0 12 0 1 80 12 0 6 0 60 106 0 1 32 60 0 0 0 535 3 80 L/B UNESP 60 1 12 1950 180 95 34 UFPE / Recife 0 6 0 1 480 640 300 300 480 340 330 210 180 420 240 480 8 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 P P.Prudente S P R J M G M G E S P R P S R S 0 USP / São Paulo 1934 L/B UERJ/Rio de Janeiro 1942 L/B UFJF/Juiz de Fora 1948 L/B UFSJ/S João Del Rei 2009 L UFES / Vitória 1953 L/B UEM / Maringá 1967 L/B UFPR / Curitiba 1938 L/B 1954 L/B 1943 L/B UFSC Florianópolis R UFRGS / S Alegre / C Porto 24 0 45 0 15 0 31 5 90 12 10 5 18 20 4 0 19 5 52 2 18 1 660 2 714 04 24 0 1 645 35 10 3 96 12 0 216 80 8 90 600 - 13 10 8 6 12 6 75 360 0 0 0 17 114 0 9 - 4 0 2 10 30 14 18 0 24 0 0 72 0 80 3 90 113 4 780 (?) Dado não confirmado * Embora ofereça Licenciatura e Bacharelado, só disponibilizou no site a grade curricular da Licenciatura Observa-se que predominam os cursos nas duas modalidades Licenciatura e Bacharelado na maioria das Universidades estudadas, cujo curso mais antigo é o da USP – São Paulo, datado de 1934 e o mais recente da UFSJ de São João Del Rei (2009). De acordo com a amostra coletada, a maior freqüência de criação de cursos foi na década de 1950 (7 cursos), seguida da década de 1980 (6 cursos), que correspondem à instalação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras visando ampliar o ensino universitário na década de 1950 e à expansão das Universidades Federais pelo país na década de 1980, respectivamente. No que concerne às disciplinas das áreas de Cartografia e Geotecnologias, observase em linhas gerais, uma maior concentração de carga horária nas disciplinas básicas vinculadas à Cartografia Sistemática e uma menor concentração na área de Cartografia Temática. Esta última, em algumas universidades não se apresenta como disciplina isolada, sendo seu conteúdo ministrado dentro da disciplina Cartografia. Observa-se ainda a grande concentração de carga horária nas Geotecnologias, seja em termos de Cartografia Digital e SIG quanto em Sensoriamento Remoto, que são contempladas com uma disciplina no mínimo, sendo raros os casos de inexistência da 9 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes matéria (3 cursos). Em alguns casos, os conteúdos referentes a estas áreas são apresentados na disciplina básica de Cartografia. O que se observa na referida tabela é a importância das áreas na formação dos bacharéis e licenciados em Geografia, somando-se o elenco de obrigatórias e optativas disponíveis, que acumula carga horária de mais de 1000 horas (média de 19 disciplinas de 60h), como é o caso da USP – São Paulo (SP), UFSC – Florianópolis e UFAL – Maceió (AL). A maioria dos cursos apresenta carga horária total de cerca de 500 horas (cerca de 8 disciplinas de 60h), com um mínimo de 180h (média de 3 disciplinas de 60h) em alguns cursos de Licenciatura, como é o caso da UEFS – Feira de Santana (BA) e UFTAraguaína (TO). A Tabela 3 apresenta a média de carga horária oferecida por Região do Brasil. Tabela 3: Média de carga horária oferecida por Região do Brasil. Carga Horária Média por Área de Disciplinas Cartográficas dos Cursos de Geografia das Universidades Públicas Brasileiras (h) Uni Tot Região do Brasil CART TEM SIG SR 3 CENTRO-OESTE 225 83 105 125 539 8 NORDESTE 128 63 142 163 497 4 NORTE 70 83 51 62 265 8 SUDESTE 142 145 107 120 514 4 SUL 275 111 151 281 818 27 Média Brasileira 160 97 109 147 514 v. al Considerando-se os aspectos regionais, observa-se que a maior média de carga horária está concentrada nas Universidades do Sul do Brasil (818h), seguida do Sudeste (514h) e do Centro-Oeste (539h). A região Nordeste vem na seqüência com 497h, seguida da região Norte com média de 265h. A média brasileira ficou em 514h. A tabela permite que se observe ainda, em termos de áreas das disciplinas, que as médias da área de Cartografia são superiores às de Cartografia Temática (exceto para o Sudeste) e que as médias de Sensoriamento Remoto superam às de Cartografia Digital e SIG (exceto para Nordeste). É interessante notar que, mesmo com as diferenças regionais, existe um equilíbrio entre a carga horária oferecida nas áreas de Cartografia e Temática, quando comparadas com SIG e Sensoriamento Remoto. No entanto, deve-se destacar que a 10 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 maior parte das disciplinas vinculadas às Geotecnologias é oferecida, na maioria das Universidades, na formação do Bacharel em Geografia, sendo consideradas optativas na grade curricular. No que se refere a esse aspecto, deve-se salientar que poucas são as disciplinas das áreas Cartográficas e Geotecnológicas ofertadas especificamente para a Licenciatura. Em algumas Universidades avanços são registrados neste sentido, sendo encontradas disciplinas especificas para a formação dos Licenciados com as seguintes nomenclaturas: Prática de Ensino em Cartografia (obrigatória para a Licenciatura na UFJF); Cartografia Escolar (obrigatória na UFSC e optativa nas UFES, UEM e UFSE); Metodologia de Ensino de Cartografia (obrigatória na UFSJ); Concepção e Elaboração de Material Didático em Geografia (obrigatória para a Licenciatura na UERJ); Aprendizagem Mediadora por Computador (UFC) e Cartografia aplicada ao Ensino (UFPA e UFAM). Os Conteúdos das Disciplinas das Geotecnológicas dos Cursos de Geografia Áreas Cartográficas e No intuito de permitir uma análise dos diferentes conteúdos desenvolvidos nas disciplinas Cartográficas e Geotecnológicas dos cursos de Geografia, foram selecionados algumas ementas e programas disponíveis nas páginas das Universidades, que foram comparados com outros programas obtidos diretamente dos docentes responsáveis pelas disciplinas. Deve-se considerar que parte significativa das Universidades não disponibiliza ementas nem programas completos na internet e, quando os disponibiliza, desatualizações podem ocorrer entre o apresentado e o efetivamente trabalhado em sala de aula pelo professor. Vale destacar que, mesmo considerando que variações e ajustes serão necessários para uma análise mais aprofundada, se apresentam alguns exemplos de temas abordados, que não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas possibilitar a ampliação do debate em torno do tema. Neste sentido, destacam-se alguns temas, aqui colocados em ordem alfabética, que ilustram as Áreas Cartográficas e Geotecnológicas, que foram extraídos de ementas e programas de disciplinas consultadas. Temas selecionados de Disciplinas da Área de Cartografia Os conteúdos consultados das disciplinas que compõem a cartografia sistemática se assemelham muito nos diversos programas consultados. Dentre eles destacam-se: A representação tridimensional; A utilização de mapas e gráficos; Altimetria; Avaliação 11 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes de áreas e volumes; Cartografia Digital; Cartografia Sistemática; Cartogramas e diagramas; Classificação de produtos cartográficos; Conceitos, evolução, objeto e objetivo da Cartografia; Configurações e caracterização geométrica da Terra; Convenções cartográficas; Coordenadas geográficas, geodésicas e astronômicas; Fusos horários; Declinação, norte geográfico, verdadeiro e da quadrícula; Definição e histórico; Desenhos topográficos; Elementos normativos e legais; Elementos técnicos: Escalas, orientação; Coordenadas UTM; projeções cartográficas; Esboço histórico; Estudo de planta topográfica; Formas e dimensão da Terra; Fundamentos de SIG; Gráficos: sistema cartesiano, de Cartas Topográficas e topográficos; Introdução à Introdução à representação polar e triangular; História da Cartografia; Interpretação Cartas Temáticas: Modelos Utilizados; Instrumentos leitura de imagens de satélite e fotografias aéreas; gráfica e às técnicas quantitativas; Leis da Mecânica celeste; Leitura e análise de gráficos; Leitura e interpretação de cartas topográficas; Levantamentos Subterrâneos; Manuseio de instrumentos cartográficos; Medição de ângulo; Medição de distancia; Movimentos da Terra; Nivelamento; Papel e importância da Cartografia na Geografia; Planejamento e desenho de mapas; Planimetria; Projeções cartográficas; Representação Cartográfica; Simbolismo cartográfico (convenções cartográficas); Sistema Cartográfico Nacional; Teoria Astronômica das Estações; Topografia; Traçado de poligonais; dentre outros. Temas selecionados de Disciplinas da Área de Cartografia Temática A representação gráfica; Aquisição de habilidades de observação, abstração, correlação, leitura e interpretação, associadas à Cartografia escolar; Avaliação e análise da informação geográfica; Cartas de declividade; Classificação das cartas temáticas; Compilação e generalização cartográfica; Construção de Mapas e Cartogramas Temáticos; Construção e interpretação de materiais cartográficos no âmbito do ensino de Geografia na educação básica; construções de isolinhas e isopletas; Conteúdo plano-altimétrico; curvas de nível; Definição da Cartografia Sistemática e suas relações com a Geografia; Definição da Cartografia Temática e suas relações com a Geografia; Elaboração de cartogramas; Elaboração de mapa temático em meio digital; Elementos da Cartografia Temática; Escala e generalização cartográfica aplicada à leitura de cartas; Execução, leitura, análise e interpretação de Cartas Temáticas; Formas de representação da Cartografia Temática nas implantações pontual, linear e zonal, considerando os fenômenos qualitativos, quantitativos, estáticos e dinâmicos; Fundamentos da Cartografia Temática; Gráficos e Diagramas: 12 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Construção e Interpretação; métodos isarítimos e suas aplicações; O papel das Imagens Orbitais e das Fotografias Aéreas na Cartografia Temática; O simbolismo cartográfico; perfis; Planejamento cartográfico; Principais tipos de cartas temáticas; Processo de mapeamento; Produção de material didático; Representação gráfica; Simbolização de Dados Quantitativos em uma Base Cartográfica; Síntese e Modelagem Cartográfica Temática; Técnicas de elaboração das cartas qualitativas e quantitativas; dentre outros. Temas selecionados de Disciplinas da Área de Sensoriamento Remoto O que é Sensoriamento Remoto; Classificação dos satélites; Comportamento espectral de alvos; Conceito, origem e evolução do Sensoriamento Remoto.; Conceituação; Diferenças e aplicações de imagens de satélites e fotografias aéreas; Elementos de fotointerpretação; Estudo sobre câmaras, filmes e filtros; Exemplos de Imagens; Formas fisiográficas; Fotografias aéreas; Fotointerpretação da hidrología; Elaboração de mapas a partir de fotos aéreas; Análise de imagens orbitais com vistas ao mapeamento temático; Histórico; Fotointerpretação da vegetação e do uso da terra; Fotointerpretação do relevo; Histórico e evolução da fotografía; Imagens de radar; Interação da energia eletromagnética com os alvos; Interpretação de imagens meteorológicas; Interpretação visual de imagens analógicas. Imagens multiespectrais e fotografias aéreas; Interpretação visual e automática das imagens nos estudos geográficos; Introdução à fotogrametria; Introdução ao processamento digital de imagens orbitais; Introdução ao Sensoriamento Remoto; Metodologia de interpretação de dados; O espectro eletromagnético; Princípios físicos do Sensoriamento Remoto; Resolução espectral e espacial dos sistemas; Sistemas de informações geográficas; Sistemas de sensores; Tipos de satélites: LANDSAT, SPOT, SMS/GOES, NOAA, SCD1, e outros; Tratamento de imagem digital; Utilização de imagens de sensoriamento remoto para análise do uso e ocupação do solo. Temas selecionados da Área de Cartografia Digital e SIG Álgebra com mapas matriciais; Análise Espacial Computadorizada; Análise Espacial no modelo Matricial; Análise Espacial no modelo Vetorial; Aplicações de Sistemas de Informações Geográficas; Arquitetura de banco de dados para Sistemas de Informações Geográficas; Bases de Dados Espaciais; Cálculo da Menor Distância: Rotas; Captura de Dados para SIG (digitalização, vetor/raster; raster/vetor e interpolação); 13 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Características Gerais de Dados Geográficos; Coleta de Dados para SIG. Combinação de Métodos; Conceitos Básicos de Sistema de Informações Geográficas; Detecção de Erros; Validação; Estruturas de Dados em SIG: Vetorial e Matricial; Fundamentos de Análise Espacial em SIG; Geocodificação e Malas Diretas; Geoprocessamento e Sistemas de Informações Geográficas (SIG); Geração Automática de Polígonos por Agregação; Geração de Bandas e Áreas de Concentração (buffers); Montagem de Projeto de Integração de Dados em SIG; Operações com mapas vetoriais; Operações com Sistemas de informações geográficas; Operações de Dados Geo-Referenciados; Principais Classes de Dados Geográficos: Mapas Temáticos, Mapas Cadastrais, Redes, Modelos Numéricos de Terreno e Imagens; Principais programas de operacionalização de um SIG; Sobreposição de Polígonos (overlay) e Tendências Futuras em SIG; dentro outros. Como se pode observar pelos exemplos de temas aqui apresentados, embora as áreas mantenham uma coerência dentre os assuntos tratados, existem sobreposições e interferências de uma área na outra, principalmente devido à situação de grande variabilidade na carga horária, que se for menor, possibilitará uma visão mais abrangente e geral do conteúdo e, se for maior, permitirá o seu detalhamento e aprofundamento. Os conteúdos aqui apresentados apontam a predominância da forte formação cartográfica dos geógrafos brasileiros, que tem valorizado as bases teóricas da cartografia, mas também o domínio das ferramentas dos sistemas computacionais para realizar análises e intervenções no meio urbano e rural, em conformidade com as demandas atuais do mercado. Considerações Finais Diante das informações e questões apresentadas neste artigo, relativas aos aspectos da grade curricular dos cursos de Geografia de 27 Universidades Públicas Brasileiras, no que tange à carga horária e conteúdos das Áreas Cartográficas e Geotecnológicas, foi possível concluir que: Existe um equilíbrio entre as cargas horárias das disciplinas básicas referentes à Cartografia e Cartografia Temática e as disciplinas apoiadas em Geotecnologias – Sensoriamento Remoto, Cartografia Digital e SIG, na maioria das Universidades Brasileiras estudadas; 14 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 A disciplina cartografia, em especial a cartografia sistemática, é elementar para a formação do Bacharel e do Licenciado em Geografia brasileiro e, em muitos casos, superou a carga horária dedicada à Cartografia Temática; Considerando-se os aspectos regionais, observa-se que as maiores médias de carga horária estão concentradas nas Universidades do Sul do Brasil, seguida do Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, sendo a média brasileira de 514h. As disciplinas referentes às Geotecnologias mostraram-se bastante valorizadas na grande maioria dos cursos de Geografia analisados, sendo que em 27 Universidades, somente 2 Licenciaturas não contemplam disciplinas relativas à Cartografia Digital e SIG e também 2 não contemplam o Sensoriamento Remoto, com disciplinas especificas. Provavelmente, esses conteúdos são trabalhados, de maneira mais superficial, nas disciplinas Cartográficas Básicas; As disciplinas Geotecnologicas são apresentadas como optativas, e na maioria dos casos exclusivas para a formação do Bacharel em Geografia; Na maioria dos cursos forma-se o licenciado e o bacharel com um núcleo comum de disciplinas, que não possuem tratamento diferenciado entre um público e outro. Existem casos bastante positivos de conjuntos de disciplinas da área de Cartografia e Geotecnologias, ofertadas exclusivamente para a formação do licenciado, mas isso ainda é exceção, quando se observa o quadro nacional; Observou-se uma tendência, em alguns dos cursos estudados, em ofertar disciplinas cartográficas e geotecnológicas específicas para o Licenciado em Geografia, principalmente em temas voltados para o Ensino de Cartografia, Cartografia Escolar e elaboração de material didático, o que é fundamental para a melhora do desempenho do professor em sala de aula. AGRADECIMENTOS A autora agradece o apoio da FUNDUNESP para a apresentação deste trabalho e a todos os colegas professores dos Cursos de Geografia das Universidades Públicas Brasileiras, que atenderam ao chamado para contribuírem com ementas e programas de cursos, para que se pudesse elaborar este trabalho. A eles meus sinceros agradecimentos por terem colaborado para que se efetivasse esta pesquisa. 15 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes REFERÊNCIAS SANTOS, C.; KULAIF, Y. A participação dos docentes de cartografia na formação de professores de geografia: Caminhos e (Des)caminhos. In: I SIMPÓSIO DE PESQUISA EM ENSINO E HISTÓRIA DE CIÊNCIAS DA TERRA e III SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE ENSINO DE GEOLOGIA NO BRASIL, 2007. Campinas: UNICAMP, p. 407-414. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Geografia. (5ª a 8ª series). Brasília, MEC, 1998. 156p. FREITAS, M.I.C.; YOKORO, C.M. A Cartografia na Formação Continuada de Professores: Mitos, Medos e Experiências Vividas. In: 12 ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 2009, Montevidéu - Uruguai. Montevidéu - Uruguai : Universidad de La República, 2009. v. 1. 16