PADRÃO DE FLORAÇÃO DE GENÓTIPOS DE ALGODOEIRO COM DIFERENTES CARACTERES MORFOLÓGICOS PARA FORMA DA FOLHA E DA BRÁCTEA E COR DA PLANTA1 F. DAS. C. VIDAL NETO2; F.P. DA SILVA3; F.I.O. MELO3; F.A.A. SOUSA4 RESUMO A utilização de caracteres mutantes morfológicos relacionados com a forma da folha, o tipo de bráctea e a cor da planta, como fonte de resistência a pragas, do algodoeiro ( Gossypium hirsutum L. latifolium Hutch.) tem sido limitada pelo irregular desempenho agronômico das plantas portadoras. Os estudos realizados nesta área não foram conclusivos para a obtenção de variedades comercialmente viáveis e poucos têm avaliado o comportamento de genótipos com mais de um caráter. O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos da forma e cor da folha, do tipo de bráctea e suas associações, no padrão florístico e retenção de frutos, em algodoeiro herbáceo. Os genótipos utilizados neste trabalho constaram de populações quase isogênicas, representados por todas as combinações dos caracteres folha “okra”, bráctea “frego” e planta vermelha, além de uma testemunha representada pela variedade comercial BRS 187 - 8H. O experimento foi conduzido em campo e avaliado em relação à precocidade e taxa de floração e retenção de frutos. Os resultados revelaram que o período de floração iniciou-se aos 45 dias após a emergência das plantas, nos genótipos de folha “okra” e bráctea normal, além da testemunha. A presença da bráctea “frego” retardou o início da floração. O caráter folha “okra” está associado a maior produção de flores e menor retenção de frutos, em relação ao contraparte normal. Constatou-se ainda a presença de interações significativas, entre os caracteres, para o total de flores e retenção de frutos. INTRODUÇÃO Caracteres mutantes morfológicos como “planta com folhagem vermelha” folha “okra” e bráctea “frego” herdados de modo simples em algodoeiro (Jones et al., 1986) têm sido bastante estudadas visando sua utilização no MIP como fontes de resistência ao bicudo (Anthonomus grandis Boheman) e à lagarta rosada (Pectinophora gossypiella Sanders) (Jenkins & Parrott, 1971; Wilson, 1986). Contudo, a utilização destes caracteres em cultivares comerciais de algodoeiro tem sido limitada pelo desempenho agronômico irregular dos materiais portadores, influenciado pelo ambiente, pela base genética e mesmo pelo método de melhoramento empregado no desenvolvimento da cultivar. Karami & Weaver Jr. (1972), observaram a maior iniciação de botões florais, maturação mais precoce e maior produção diária de flores em algodoeiros de folha “okra” relativamente aos de folhas normais. Nenhum efeito foi constatado em relação à característica folhagem vermelha. Segundo Heitholt & Meredith (1998), a produção total de flores na estação e a taxa de retenção de frutos são fatores determinantes do número de frutos e, consequentemente da produção. Heitholt (1993) observou que cultivares altamente produtivas produziram 16% mais flores e apresentaram uma taxa de retenção de frutos 6% superior a linhagens experimentais de baixa produtividade. A Correlação positiva entre o número de flores produzidas e a produção final, encontrada por Heitholt & Meredith Jr. (1998), é explicada por estes como sendo devida à maior capacidade de produção de botões florais ou flores, que oferecem um maior potencial para produção de frutos e uma maior capacidade de compensação das perdas causadas por pragas. Segundo Landivar et al. (1983), estudos de Kerby & Buxton (1976) indicaram que os algodões de folha “okra” apresentaram uma maior iniciação de frutos e que, altas taxas de floração estavam associadas a altas taxas de abortamento de frutos jovens, verificadas nestes materiais. Dada a importância do tema, o objetivo deste trabalho foi estudar a influência da forma e cor da folha, do tipo de bráctea e suas associações, no padrão florístico e retenção de frutos, em algodoeiro herbáceo. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido em área experimental Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias-UFC, em Fortaleza-CE, em maio de 2000. Os genótipos para a realização deste trabalho 1 2 3 4 Apoio financeiro: CNPq Estudante de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] Professor da Universidade Federal do Ceará, C.P. 12.168, 60.451.970, Fortaleza, Ceará, e-mail: [email protected]; [email protected] Estudante de graduação bolsista do PIBIC/UFC foram obtidos através da introgressão dos caracteres morfológicos estudados em um fundo genético comum (REBA), por retrocruzamentos sucessivos e obtenção das linhagens quase-isogênicas representando todas as combinações entre eles. O experimento foi conduzido sob irrigação por aspersão, no delineamento de blocos ao acaso com 4 repetições, em fatorial 23+1 tratamento adicional (testemunha): • Testemunha – BRS 187 – 8H • Fator A (forma da folha) – níveis: A = mutante (okra); a = normal • Fator B (tipo de bráctea) – níveis: B = normal; b = mutante (frego) • Fator D (cor da planta) – níveis: D = mutante (vermelha); d = normal (verde) As parcelas constaram de apenas 2 fileiras de 6m de comprimento espaçadas de 0,80m, com 5 plantas/m de fileira, devido à pequena quantidade de sementes, disponível. O registro da floração foi realizado diariamente, a partir da ocorrência das primeiras flores, durante sete semanas, até a realização da 1a colheita. A taxa de retenção de frutos foi calculada pôr meio da relação entre o número de frutos (maçãs com mais de 21 dias e capulhos) e o número de flores, em 10 plantas por parcela. RESULTADOS E DISCUSSÃO O período de floração iniciou-se aos 45 dias após a emergência, com a emissão de flores nos genótipos de folha okra e bráctea normal, além da testemunha, enquanto que aqueles com bráctea “frego” iniciaram a floração mais tardiamente, indicando que a presença deste tipo de bráctea retardou o início da floração. Percival & Kohel (1978), observaram um retardamento de 1 a 2 dias na iniciação da floração associado à bractea “frego”, que atribuíram a um efeito pleiotrópico ou forte efeito de ligação. Embora possa parecer agrnomicamente irrelevante, este efeitos foram visualmente aparentes na maturação. O comportamento do padrão florístico foi determinado pelas respectivas curvas de regressão, que possibilitaram a estimativa do número máximo de flores e do período de máxima floração para cada genótipo (Tabela 1). O pico de floração dos genótipos BRS 187 – 8H, ABD, ABd, aBd e abD, foi atingido na 4a semana e os demais, na 5 a semana de floração. Todos os genótipos com folha “okra” apresentaram uma maior produção máxima de flores, em relação aos respectivos, de folha normal. TABELA 1. Curvas de floração, período para a máxima floração (PMF) e número máximo de flores por dia (NMFD), de genótipos mutantes morfológicos de algodoeiro herbáceo. Fortaleza, CE, 2001. Genótipos equações Coef. de PMF = X NMFD = y determinação (dias) (flores) BRS 187 – 8H Y=-4,3095X2+33,012X-19 0,9106* 71,81 6,32 ABD Y=1,2235X4-19,229X3+94,104X2-145,8X+79,75 0,9958** 72,86 10,31 ABd Y=1,4236X3-25,039X2+118,13X-84,071 0,9593* 67,33 12,03 AbD Y=-7,0536X2+58,786X-51,821 0,9345** 74,19 10,09 Abd Y=-9,122X2+77,735X-67,964 0,9318** 74,82 13,96 aBD Y=-5,095X2+42,333X-31,607 0,9561** 74,05 8,05 aBd Y=-5,6577X2+44,807X-28,393 0,9270** 72,30 8,42 abD Y=0,6667X3-15,071X2+82,815X-65,429 0,9613* 70,27 9,78 abd Y=-67577X2+52,539X-48,607 0,9534** 74,89 9,06 (*) significativo a 5% e (**) significativo a 1%. Os resultados da análise de variância do número total de flores e da porcentagem de retenção de frutos (Tabela 2) revelam uma vantagem significativa de 25% na produção de flores em favor da característica folha "okra" sobre a normal, de 8,48% em favor da bráctea "frego" sobre a normal e de 17,85% da planta de cor vermelha sobre a de cor verde. A significância das interações duplas e tripla indica a existência de uma dependência entre os efeitos dos fatores: forma da folha x cor da planta; tipo de bráctea x cor da planta e : forma da folha x ; tipo de bráctea x cor da planta, quando juntos no mesmo genótipo. Os genótipos de folha "okra" produziram significativamente mais flores quando associados a plantas de cor verde, independentemente do tipo de bráctea. A maior proporção de flores ocorreu no genótipo Abd (“okra”“frego”-verde), que superou o genótipo normal para estas características em 61% e a testemunha (BRS 187 – 8H), em 126%. A maior retenção de frutos foi alcançada pela cultivar BRS 187 – 8H (53,51%), enquanto que a menor taxa foi registrada no genótipo que produziu mais flores Abd (22,56%). O tipo de bráctea e a cor da planta não influenciaram significativamente na taxa de retenção de frutos, quando isoladamente. Entretanto, as interações significativas AxD e BxD, revelaram que: os genótipos de folha “okra”-cor verde, retiveram mais frutos que o seu relativo vermelho e a planta verde-folha normal, mais que seu relativo folha “okra” na presença da bráctea “frego”, a planta vermelha reteve mais. Vários autores verificaram que os algodões de folha “okra” iniciam muito mais frutos de que os de folha normal e que altas taxas de floração estão associadas a altas taxas de abortamento de frutos jovens (Andries et al., 1969; Heitholt, 1993). Pegelow et al. (1977) propôs que as altas taxas de abcisão observadas em algodões de folha “okra” podem ser devidas à inadequada disponibilidade de nitrogênio na planta, resultante da sua reduzida área foliar. Segundo Heitholt e Meredith Jr. (1998), Kerby & Buxton (1976) atribuem a maior queda de estruturas frutíferas nas plantas com folha “okra”, ao aumento da competição por fotossintatos disponíveis, resultante das variações nas relações suprimento-demanda pôr carboidratos. TABELA 2. Valores do teste F para produção total de flores e taxa de retenção de frutos, em genótipos mutantes morfológicos de algodoeiro herbáceo. Fortaleza, CE, 2001. Causas de variação No total de flores Taxa de retenção de frutos (%) Forma da folha (A) 37,56** 9,42** Tipo de bráctea (B) 5,04* 0,04 Cor da planta (D) 20,40** 2,25 AxB 0,89 0,54 AxD 17,19** 4,33* BxD 5,62* 6,11* AxBxD 10,13** 0,18 CV (%) 10,26 20,08 (*) significativo a 5% e (**) significativo a 1%. CONCLUSÕES Os resultados obtidos revelaram que o caráter folha “okra” está associado a uma floração mais cedo, uma maior produção de flores e menor retenção de frutos do que o contraparte de folha normal. O mutante bráctea “frego” contribuiu para o retardamento do início da floração e, assim como a cor da planta, não influenciaram significativamente a retenção de frutos. A presença das interações duplas e tripla indica a modificação nos efeitos individuais dos caracteres estudados, quando em algumas combinações. É provável que o uso de apenas duas fileiras posa ter favorecido ou desfavorecido algum caráter ou combinação destes. BIBLIOGRAFIA ANDRIES, J.A.; JONES, J.E.; SLOANE, L.W.; MARSHAL, J.G. Effects of okra leaf shape on boll rot, yeld, and other important characters of upland cotton, Gossypium hirsutum L. Crop Science, v.9, p.705-710. 1969. HEITHOLT, J.J. Cotton boll retention and its relationship to lint yeld. Crop Science, v.33, p.486-490. 1993. 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