geotecnologia aplicada ao diagnóstico do uso e cobertura da terra

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REVISTA DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO IFAM
GEOTECNOLOGIA APLICADA AO DIAGNÓSTICO DO USO E COBERTURA DA
TERRA NO TRECHO INICIAL DA RODOVIA TRANSAMAZÔNICA (BR-230) NO
MUNICÍPIO DE LÁBREA – AM
Paulo Victor de Albuquerque Maia1; Joiada Moreira da Silva Linhares2;
Deborah Pereira Linhares da Silva3; José Omar da Silva4; Wanderley Rodrigues Bastos5
INTRODUÇÃO
As transformações ocorridas nas últimas décadas na paisagem natural da
microbacia do rio Paciá, zona rural do município de Lábrea - AM é resultado do
modelo de desenvolvimento econômico implantado pelo governo militar no sul do
Amazonas a partir de 1960. E de forma mais marcante nas décadas de 1970 e 1980
o Estado brasileiro realizou diversos investimentos em obras infraestruturais na região. Como exemplo, a construção da rodovia Transamazônica (BR-230), pavimentação da BR-319 (desativada desde o final da década de 1990), implantação de colônias agrícolas e construção de aeroporto municipal. A realização destes tinha como
objetivo realizar a integração da região sul amazônica a economia nacional através
da expansão de capital destinado a produção de matéria-prima (animal, vegetal e
mineral) para as indústrias do Centro-Sul do País (RIBEIRO e LEOPOLDO, 2003).
O plano de reconstrução e pavimentação da rodovia BR-319 (abandonada
desde 1988), que interligará as cidades de Manaus - AM e Porto Velho - RO, cortando o interflúvio Purus - Madeira, está em fase de liberação da Licença Ambiental
pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA. Assim como as obras de recuperação da
rodovia Transamazônica, com objetivo de tornar transitável durante todo ano, mesmo no período chuvoso, o trecho da BR-230 que liga Lábrea - AM / Humaitá - AM
que corta de leste para noroeste a microbacia do rio Paciá, é um processo inevitável.
Por conseguinte, o prognóstico apresentado nas pesquisas de Soares-filho et al.,
(2005) sobre o crescimento acelerado do desmatamento na região sul amazônica e
a consolidação dessas obras infraestruturais, torna-se uma realidade possível.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM Campus Lábrea – AM. E-mail: [email protected]
2
Mestre, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Amazonas - IFAM Campus Lábrea – AM. E-mail:
[email protected]
3
Mestre. Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Wolfgang C. Pfeiffer da Fundação Universidade Federal de
Rondônia – Porto Velho, Rondônia, Brasil. E-mail: [email protected]
4
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM Campus Lábrea – AM
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Doutor, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM Campus Lábrea – AM. E-mail: [email protected]
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Na microbacia do rio Paciá, sobretudo a área que está sob o domínio político-administrativo do município de Lábrea-AM, é uma das principais área contempladas pelo programa de monitoramento de desflorestamento e queimadas
(PRO-ARCO). E tem sido foco das atenções de organizações de fiscalização nacionais e estaduais quanto a perda do revestimento de floresta tropical. As implicações (efeitos) desse processo são várias, mas destacam-se a perda de habitats, biodiversidade, assoreamento dos rios, erosão e degradação do solo devido a perda da
cobertura vegetal (CENAMO, et al, 2011). Neste contexto, o estudo visa analisar as
causas e consequências ambientais da conversão da floresta em áreas de lavoura, e
, sobretudo, pastagem para criação extensiva de gado de corte na área da microbacia hidrográfica situada no meio rural do município de Lábrea-AM.
MÉTODO OU FORMALISMO
A proposição metodológica de execução e análise deste estudo foi desenvolvida em etapas, detalhadas a seguir:
Para o registro das imagens foi elaborada uma base cartográfica a partir de
cartas topográficas digitais, da Divisão do Serviço Geográfico do Exército – DSG, a
partir de dois temas vetoriais: rede de drenagem e rodovias, escala de 1/100.000.
Posteriormente foram selecionadas duas imagens do sistema LANDSAT 5/TM:
233/65 – Lábrea, com resolução espacial (pixel) de 30 metros. Estas foram geoprocessadas no SPRING 5.0 (MOREIRA, 2001), com uso da composição de imagem colorida RGB (vermelha, verde e azul) para determinação das formas e padrões espaciais
de uso e cobertura da terra e atualização e delimitação da rede hidrológica.
Após o georreferenciamento as imagens realizou-se a pré-interpretação
através do método de classificação “supervisionada” através do método verossimilhança, em que foram consideradas em três classes de uso da terra: 1) área desmatada; 2) área de floresta nativa; 2) área edificada (infra-estrutura). Com base nestas
informações obteve-se o mapa temático exploratório de uso, ocupação e cobertura
da terra.
Os dados sobre uso da terra por propriedades foram obtidas através da aplicação de questionários. A seleção dos imóveis seguiu a técnica estatística de amostragem “casual ou aleatória simples” (YAMAMOTO; ARAMINE; 1998).
A aplicação do método adotado na pesquisa consistiu na interpretação
(Modelagem Numérica de Terreno – MNT) das informações de uso atual da terra,
classificação da cobertura vegetal e das características geoambientais (solo, relevo,
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vegetal, geologia, etc.,) através SIG/SPRING. A partir dessas variáveis foram desenvolvidos mapas temáticos seguindo a proposta de representação cartográfica de
Martinelli (2003). As variáveis não espaciais foram submetidas a tratamentos estatísticos no software ‘Estat D+’ (YAMAMOTO e AKANIME, 1998).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com base nos dados levantamento de campo e carta imagens exploratório
foram identificadas até o momento seis (06) classes de uso e cobertura da terra:
áreas florestais, pecuária extensiva, solo exposto, agricultura temporária e permanente, campos naturais e lagos naturais. Dentre as classes definidas, verificou-se a
predominância de áreas de florestas naturais (91,2%) cuja atividade de exploração
madeireira com baixo uso de tecnologia e insumos, associada a extrativismo vegetal (coleta de castanha do Brasil, açaí e látex) são praticados em regime familiar
pelos colonos dos assentamentos P. A Umari e P. A Paciá, bem com pela população
autóctones (Apurinã, Jamamadi e Paumari) que habitam na Terra Indígena Caititu.
No sentido amplo, a terras destinadas a atividades agrárias, ou seja, as classes antrópicas agrícolas foram definidas como terra utilizada para a produção de
alimentos. Também se encontram inserida nesta categoria as lavouras temporárias,
lavouras permanentes, pastagens plantadas e silvicultura. Estas correspondem a
7,4% da área estudada. Desse total a pastagem destinada preferencialmente para
criação extensiva de gado de corte ocupa 25,7%. Entretanto, este valor pode está
subestimado, pois dos 51,88 Km² (51,02%) de área com cobertura vegetal sem identificação e solo exposto são antigas pastagens plantadas que estão sendo reformadas para serem utilizadas na atividade de criação de gado de corte, pecuária
extensiva (Figura 1).
Figura 1: (A) percentual de áreas das classes antrópicas agrícola na bacia hidrográfica do rio Paciá.
(B) Área de pastagem reformada mapeada pelo sensor TM 5 do satélite LANDSAT e classificada
como vegetação natural sem identificação (solo exposto)
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Nos últimos anos desde século a pecuária extensiva tem apresentado um
crescimento exponencial, principalmente na alocação de pastos para aumentar o
rebanho bovino. Duas frentes de expansão do rebanho bovino (bovinocultura) são
observadas no município de Lábrea - Amazonas:
i) A primeira, motivada pelo surgimento de novas propriedades rurais em áreas de
assentamento espontâneos, situados no sul do município, cujo acesso as propriedades rurais (terras) vêm ocorrendo através de abertura de estradas secundárias ou
clandestinas, que partem da rodovia BR 364, que liga as capitais Porto Velho (RO) e
Rio Branco (AC).
ii) E a segunda está relacionada a mudança da estrutura organizacional fundiária,
no qual antigas propriedades rurais existentes no trecho inicial da rodovia transamazônica (BR - 230) estão sendo transformadas em empresas rurais, cujas matrizes
destas e os proprietários são oriundos principalmente da região sul do Brasil. E a
existência de terras sem uso definido no meio rural do município de Lábrea, assim
como os novos padrões de ocupação das terras vêm contribuindo para o aumento
dos desmatamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados, é possível perceber que dentre as classes de uso da
terra, já identificadas na área de estudo, a pecuária extensiva, a exemplo de outras
regiões do Brasil, está em crescimento no norte e sul de Lábrea. Embora a classe
floresta com exploração madeireira e extrativismo vegetal represente mais de 90%.
Na sequência deste projeto estão sendo processados (tabulados, analisados) os dados ambientais que já foram coletados, afim de que se cumpra as demais metas do
projeto. Bem como a apresentação dos resultados esperados.
AGRADECIMENTOS
Às instituições financiadoras (FAPEAM e IFAM) deste estudo, o grupo de pesquisa Gestão Agroambiental da Amazônia Ocidental (IFRO) e o Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Wolfgang C. Pheiffer (UNIR).
REFERÊNCIAS
CENAMO, M. C.; CARRERO, G. C.; SOARES, P. G. Reduções de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+): Estudos de oportunidades para a região Sul
do Amazonas. (Relatório Técnico, vol. 1). Manaus: IDESAM, 2011. 56p.
MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. São Paulo: Contexto,
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2003. 111p.
MOREIRA, M. A. Fundamentos do sensoriamento remoto: e metodologias de aplicação. São José dos Campos: INPE, 2001. 250p.
RIBEIRO, U. F.; LEOPOLDO, P. R. Colonização ao Longo da Transamazônica: trecho KM
930 - 1035. Agronomia, v 2, n. 3. p. 1 – 21, junho - 2003.
SOARES-FILHO, B. S.; NEPSTAD, D. C.; GARCIA, R. C.; RAMOS, C. A.; VOLL, E.; MCDONALD, A.; LEFEBVRE, P. S.; MCGRATH, D. Cenário de desmatamento para a Amazônia.
Estudos Avançados, v 19, n. 54 p. 137-152, 2005.
YAMAMOTO, K. R; AKANIME, C. T. Estudos dirigidos de estatística descritiva. São Paulo: Érica, 1998. 280p.
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