Escola Básica e Secundária de Velas O NOVO COMPORTAMENTO DEMOGRÁFICO DOS EUROPEUS: UMA CONSEQUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO Colocada no topo da evolução demográfica mundial, a Europa evidenciou, ao longo do século XIX, comportamentos demográficos diferenciados e ritmos de crescimento muito irregulares entre as suas regiões. Aproximadamente até 1840, a maior parte deste continente continuava a apresentar características demográficas semelhantes às do século XVIII: natalidade e mortalidade elevadas; esperança média de vida curta; populações jovens; e comportamentos demográficos em estreita dependência das crises de subsistência e dos cataclismos naturais. Só após aquela data (1840 em diante) é possível detectar alterações significativas ao modelo demográfico descrito. Estas registaram-se primeiro nos países de maior desenvolvimento industrial e cultural, como a Inglaterra, a Holanda e a Bélgica, seguidas de perto pela França e Alemanha, o que nos permite estabelecer relações de causa e efeito entre estes dois fenómenos do século XIX: a explosão demográfica e a crescente industrialização. Numa 1ª fase, registou-se um alto índice de crescimento populacional, causado pelo recuo da mortalidade, enquanto a fecundidade e a natalidade permaneciam elevadas. A diminuição da mortalidade é explicada, fundamentalmente, pela melhoria geral das condições de vida, resultante dos seguintes factores (características): 1- do desenvolvimento económico produzido pela Revolução Industrial e suas implicações na produção agrícola, na revolução dos transportes e no alargamento dos mercados nacionais e internacionais. Esse desenvolvimento trouxe consigo a abastança financeira e de bens de consumo, o que permitiu pôr fim às crises de subsistência do Antigo Regime; 2- da melhoria das dietas alimentares, o que fortaleceu o organismo humano permitindo-lhe reagir com maior sucesso às doenças e às epidemias, ainda frequentes; 3- do desenvolvimento científico-técnico então vivido, que permitiu o avanço da Medicina, com notáveis progressos na química biológica, na microbiologia, na bacteriologia, na farmacologia, parasitologia. A utilização de análises clínicas facilitou o diagnóstico clínico; a prática de anestesia e o melhor apetrechamento dos hospitais desenvolveram a medicina operatória; o aparecimento das vacinas (contra a varíoloa, raiva, tétano, tifo e difteria) permitiu o combate mais eficaz às doenças endémicas altamente mortais; a prática de assepsia salvou inúmeras vidas, principalmente em obstetrícia e em pediatria, reduzindo substancialmente as taxas de mortalidade infanto-juvenil; 4- do melhor apetrechamento social dos Estados, que, gradualmente, foram assumindo responsabilidades para coma saúde pública e na assistência social, construindo mais escolas, asilos e hospitais; promulgando leis de protecção sanitária para as fábricas; lançando o saneamento público …; 5- das melhores condições de trabalho, de habitação, de vestuário…; 6- e dos progressos na higiene individual e colectiva. 1 Numa 2ª fase, o facto mais significativo do novo comportamento demográfico do século XIX, na Europa e nalgumas regiões abrangidas pela sua diáspora, foi a redução da taxa de natalidade que foi, contudo, uma tendência de implantação progressiva, atingindo primeiro os países mais industrializados (Inglaterra, Alemanha, Suécia, Dinamarca e França) e os meios burgueses e urbanos. Na última década do século XIX, tornou-se visível, também nos países menos desenvolvidos como os do Sul Mediterrânico ou do Império russo. No final do século penetrou nos meios operários e só no século XX se começou a registar entre os camponeses. Como factores desta baixa natalidade, podemos referir: • O decréscimo da mortalidade infantil e juvenil e, consequentemente, o aumento da esperança de vida para os recém-nascidos; • A atenuação dos estímulos natalistas por parte dos Estados (Teoria de Thomas Malthus); • A redução do fervor religioso de algumas populações, fruto do avanço do pensamento laico; • O emprego maciço das mulheres afastou as mães dos lares, impedindo-as de tomar conta dos filhos pequenos e aumentando as despesas da criação com o pagamento às amas; • A aceitação da “procriação responsável” aumentou as obrigações dos pais quanto ao futuro dos filhos, através da sua educação e formação pessoal e profissional. Estes factores actuaram como um poderoso estímulo à redução da fecundidade legítima dos casais, pela limitação voluntária das concepções. Este comportamento, pela sua novidade, só é totalmente compreensível face à pressão das conjunturas económicas e às grandes transformações socioculturais entretanto ocorridas. Resumindo, foram o recuo da mortalidade e a diminuição da natalidade os factores determinantes do novo regime demográfico evidenciado pelos europeus, ao iniciar-se o século XX. Este caracteriza-se por: - registar as mais baixas taxas de natalidade e de mortalidade até aí havidas; - apresentar a esperança de vida mais alargada do planeta e, simultaneamente, um alto índice de crescimento; - ser notória a tendência para o envelhecimento global das suas populações, causado pela maior proporção de adultos no conjunto demográfico; - ter aumentado, significativamente, a sua população activa; - e o fortalecimento fisiológico dos povos ser uma realidade. Conjugado como outros factores de ordem estrutural (maior mobilidade profissional e geográfica, maiores oportunidades de sucesso individual, transformações na mentalidade…), o crescimento demográfico do século XIX exerceu um importante papel no progresso da vida no mundo ocidental. A abundância dos homens e sobrepovoamento nalgumas regiões incentivaram, a vários níveis, o comportamento humano: estimularam o desenvolvimento técnico e científico, accionaram o crescimento económico, despoletaram grandes movimentos migratórios à escala mundial e favoreceram a aglomeração urbana. Adaptado in, Vários, História 12, Tempos, Espaços e Protagonistas, v. 1, Porto Editora 2