BAIXAS VISUAIS CRÔNICAS CATARATA ADQUIRIDA 1 Jailton Vieira Silva 2 Bruno Fortaleza de Aquino Ferreira 2 Hugo Siquera Robert Pinto OBJETIVOS DE APRENDIZADO Compreender a i mportâ nci a do cri s ta l i no pa ra a vi s ã o; Conhecer os pri nci pa i s fa tores de ri s co; As s oci a r os ti pos de ca ta ra ta s à s s ua s pri nci pa i s ca us a s ; Identi fi ca r a l tera ções ocul a res ; Entender os pri ncípi os do tra ta mento e s ua s compl i ca ções . RELEVÂNCIA Pequenas opacidades no cristalino são comuns e ra ramento i nterferem na vi s ã o . Em 2002, o número de pes s oa s com defi ciência vi sual ultrapassava 160 mi lhões, sendo a ca ta ra ta res pons á vel por 47,8% (OMS/2002), excl uída s a s a metropi a s . A preva lência em adultos é de 10%, a umentando a partir dos 50 a nos e alcançando 75% de prevalência em maiores de 75 a nos . Nos próxi mos 20 a nos , es ti ma -s e que a i nci dênci a de ca ta ra ta i rá dupl i ca r. INFORMAÇÕES GERAIS Ca ta ra ta é definida como qua l quer opa ci da de no cri s talino que afete a AV (OMS/1990). Cerca de um terço do poder refrativo do olho é proveniente do cri stalino, pode ndo va ri a r de 20D a 30D pel o meca ni s mo de a comoda çã o. O cri s ta l i no é ci rcunda do por l i ga mentos s us pensores, ligados a o músculo cilia r e res pons á vei s pel a a comoda çã o. O comprometi mento des s e s i s tema ca us a pres biopia. Anatomo-hi s tol ogi ca mente, pode -s e di vi di r o cri s talino em cápsula (formada por fibras colágenas), epitél i o s ubcapsular (produz as fibras do cri stalino), córtex (contém as fi bras do crista l i no) e núcl eo (fi bra s cri s ta l i na s a nti ga s ). Sã o a s proteína s cri s ta l i ni a na s que conferem tra ns parência a o cristalino. O estresse oxidativo degenera a s fi bras, resultando, incia l mente no a umento da s ua fra çã o a quosa do cri s ta l i no (ma i or poder de refra çã o) e, com a progressão da doença, desidratação e déficit vi sual (ca tarata). col oração amarelada do cri stalino central. Es tá a s s oci a do à mi opia i nicial por hidratação e à perda da di ferenci a çã o de cores (perda de contra s te). Cortical. Há opacidades ra di a i s peri féri ca s que s e expa ndem e envol vem o cri s ta l i no. Frequentemente é a s s i ntomá ti ca a té que ha ja a cometi mento nucl ea r, entreta nto pode ca us a r ofus ca mento (glare). Apres enta menor reduçã o da AV. Subcapsular posterior. Pa ci entes s ã o prejudi ca dos por condição que causa miose. Ocorre classicamente a ba i xo dos 50 a nos, associada a diabetes mellitus, tra uma, ra di a çã o e es teroides . Ca ra cteri za -s e por opa ci da de em forma de pl a ca, mais bem visual i za da por retroi l umi na çã o contra o refl exo vermelho. Ocorre adjacente à cá psula posteri or. Te m progressão rá pida e o paciente pode a presenta r quei xa s de ofus ca mento l umi nos o ou s ens i bi l i da de à l uz. Fibras do cristalino Catarata subcapsular anterior As fibras do cristalino são produzidas durante o período embrionário e envelhecem com o olho, sem que haja renovação. São, portanto, as célu las do corpo mais suscetíveis à degeneração. Forma subcapsualar anterior é rara e geralmente compromete pouco a visão. Medidas preventivas Acredita-se que o uso de óculos com proteção UV, antioxidantes, abstinência ao tabaco e estrógeno (em mulheres pós menopausa) podem retardar o aparecimento de catarata. CLASSIFICAÇÃO Nuclear. É a forma mai s frequente de ca ta ra ta . Há 1. PROFESSOR DA DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 2. ACADÊMICO DE MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ TEXTO REVISADO EM 18/02/2013. DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ QUADRO 1. FATORES DE RISCO PARA CATARATA. QUADRO 2. CAUSAS DE CATARATA. Fator de risco Comentário Causas Comentário Idade avançada Principal fator de risco pelo acúmulo de exposição a outros fatores e pelo declínio de antioxidantes. Senil É a mais comum. Traumática Uso de corticoides Associado à catarata pré-senil e ao tipo subcapsular posterior. Pode ser por contusão, perfuração, choque elétrico e radiação ionizante. Pressenil Miopia Associada à catarata nuclear (aumento inicial no índice de refração). Acredita-se que haja associação entre a subcapsular posterior e miopia axial. Principalmente por dermatite atópica. Medicamentosa Principalmente por esteroides, mióticos, antipsicóticos. Radiação UV Associa-se aos tipos cortical e nuclear. Secundária Uveite anterior crônica, tumor, doenças oculares degenerativas. Diabetes mellitus Associa-se à catarata pressenil e ao tipo nuclear. Associa-se à catarata nuclear. Endócrina/ metabólica Hipocalcemia, doença de Wilson, Sd. de Down, diabetes. Tabagismo diabetes, distrofia miotônica, glaucoma agudo, ABORDAGEM AO PACIENTE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os pontos ma i s i mporta ntes na a va l i a çã o de um pa ci ente com catarata são a interferência da baixa vi s ua l na qua l i da de de vi da do pa ci ente e a i denti fi ca çã o de comorbi dades ocul a res , a fi m de determi na r o qua nto a ca ta ra ta é responsável pela baixa vi sual. Seus efeitos na visão dependem do s eu gra u e da s ua morfol ogi a . Borramento visual. O a cometi mento gera l mente é bi l ateral, ocorrendo borramento visual progressivo, i ndolor e a s s i métri co. Ofuscamento (glare). Ma i s comumente encontra do na ca ta ra ta s ubca ps ul a r pos teri or. Perda de contraste. Pa ci entes podem a pres enta r di ficuldade de enxergar em a mbientes pouco i luminados por conta da reduçã o na s ens i bi l i da de de contra s te. Alterações de cores. É ma i s obs erva do na ca ta ra ta nucl ea r, cujo núcl eo s e torna progres s i va mente ma i s a ma relado, a bsorvendo a l uz azul . Entreta nto , como é uma modi fi ca çã o l enta , nã o há percepçã o a té a ci rurgi a . Miopia. Al tera ções nucleares induzem modi fi ca çã o no índice de refra çã o. Inci a l mente, pode ocorre mel hora vi s ual para perto com borramento pa ra l onge (mi opi a por hi dra ta çã o do cri s ta l i no). Diplopia. Opa ci da des corti ca i s podem ca us a r a l terações refrativas loca l i za da s , res ul ta ndo em di pl opi a monocul a r. EXAME CLÍNICO Acuidade visual. Nã o s e pode a va l i a r a AV i s oladamente para considerar o efeito funcional da ca ta ra ta no pa ciente. A a valiação deve ser feita sempre com a mel hor vi s ã o corrigida , uma vez que, na s fa s es i nci a i s , a BAV da ca ta ra ta pode s er mel hora da com ócul os . TRV. A pres ença de ca ta ra ta pode s er vi s ta como turbi dez ou pontos enegrecidos, s endo o TRV cons i dera do a norma l e devendo-s e enca mi nha r a o ofta l mol ogi s ta . Fundoscopia. Na ca tarata i nicial, ainda é pos s ível s e fa zer o exame de fundo de olho. Contudo, com o a va nça r da doença, torna-se difícil a prática do exame, sendo necessári a a rea l i za çã o de outros métodos . Biomicroscopia É o melhor exame para avaliar o cristalino. Permite diagnóstico e classificação da catarata de acordo com a opacidade: nuclear, cortical, SCA e SCP. É comum dois ou mais tipos estarem presentes concomitantemente. Essa classificação tem impôrtancia clínica uma vez que cada tipo está mais associado a determinadas causas. Ultrassonografia ocular Na impossibilidade de se realizar a fundoscopia, pode-se fazer ultrassonografia ocular para detectar doença do segmento posterior. DIAGNÓSTICO Todo pa ci ente com ma i s de 50 a nos com mi opi a recente ou perda da AV corri gida , di a béti co ou us uá ri o de corti coi de deve s er avaliado periodicamente pa ra ca ta ra ta . Na a va l i a çã o, podem s er uti l i za dos a ta bel a de Snel l en, tes te de Pel l i -Robs on (contra s te) e tes te de s ensibilidade a o brilho. A l âmpada de fenda é funda menta l , uma vez que permite estabelecer o diagnóstico, revelar o tipo de ca ta ra ta e rea l i za r s eu es ta di a mento. QUADRO 3. CLASSIFICAÇÃO DA CATARATA QUANTO À MATURAÇÃO. Fator de risco Comentário Imatura O cristalino está turvo, contudo há reflexo vermelho. Clinicamente, pode haver perda parcial da AV. Madura Define-se por alterações densas o suficiente para obscurecer o segmento posterior do olho. A pupila e embranquecida (leucocoria). O paciente apresenta grande déficit visual. Hipermadura O córtex liquefaz-se e vaza para fora do cristalino, enrugando a capsula anterior. Pode haver desenvolvimento de glaucoma facolítico. Morganiana O córtex torna-se totalmente liquefeito, com núcleo solto dentro da cápsula. CONDUTA O tra ta mento é ci rúrgico e de ca ráter eletivo, através de fa cectomia e implante de lente intraocular. Deve s er fei ta qua ndo o paciente julgar que há limitação de suas a tividades. CATARATA ADQUIRIDA| 22 DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Entreta nto, em pacientes que pre ci s a m fa zer fundos copi a s eri a da , a ci rurgi a é recomenda da . QUADRO 4. INDICAÇÕES DE FACECTOMIA Pacientes com incapacidade visual sintomática; A compl i ca çã o ma i s comum é a opa ci fi ca çã o da cá ps ula posterior (até 50%), preserva da pa ra a l oja r a nova l ente. A ma is gra ve, embora rara (0,12%), é a e ndofta l mi te. Terapia cirúrgica de comorbidade ocular (uveite, glaucoma); Tratamento e monitoramento de comorbidade ocular (GPAA, RD). REFERÊNCIAS 1. KANSKI, J. J. Oftalmologia clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 2. REY, L. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde . Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 3. SCHOR, P.; CHAMON, W.; BELFORT-JUNIOR, R. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. Barueri: Manole, 2004. 4. EHLERS, J. P.; SHAH, C. P. Manual de Doenças oculares do Wills Eye Hospital: diagnóstico e tratamento no consultório e na emergência. Porto Alegre: Artmed, 2009. 5. WEVILL, M. Epidemiology, pathophysiology, causes, morphology and visual effects of cataract. In: MYRON, Y.; DUKER, J. S. Ophthalmology. Saint Louis: Elsevier, 2009. CATARATA ADQUIRIDA| 23