CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DA CAMADA SINCICIAL DO VITELO (CSV) EM Brycon amazonicus. Lima, F. P.1; Branco, G. S. 1; Siqueira-Silva, D. H. 1; Costa, R. S. 1; VeríssimoSilveira, R 1.,Ninhaus-Silveira, A. 1 1 LINEO – Laboratório de Ictiologia Neotropical, Dep. Biologia e Zootecnia, FE/Unesp-Ilha Solteira. Introdução A espécie, Brycon amazonicus, vem se destacando na piscicultura nacional, e é popularmente conhecido como matrinxã, este peixe habita a bacia amazônica onde é importante na pesca comercial. Este tem sido considerado um promissor candidato para a aquicultura devido ao seu elevado valor de mercado (ROMAGOSA et al., 2000), qualidade da sua carne, boa adaptação ao cativeiro, crescimento rápido, e hábito alimentar onívoro (WERDER & SAINT-PAUL, 1978; REIMER, 1982; ECKMANN, 1984; SAINT-PAUL, 1986.). A criopreservação de células reprodutivas e embriões fazem parte de uma ciência que possui um considerável conteúdo teórico. Desde a descoberta dos efeitos crioprotetores do glicerol (POLGE et al, 1949), muitas experiências sobre a congelação e descongelação de uma grande variedade de células e tecidos têm sido acumuladas (WATSON & HOLT, 2001). Em estudos de criopreservação de embriões, o periblasto ou camada sincicial do vitelo tem sido considerado como uma das principais barreiras para a permeabilidade da água e de crioprotetores (ZANG & RAWSON, 1998; HAGEDORN et al, 1997) e para o sucesso do desenvolvimento de técnicas de criogenia para embriões de peixes (NINHAUS-SILVEIRA et al. 2006) A camada sincicial do vitelo (CSV) é um sincício citoplasmático, localizado entre a blastoderme e o vitelo, que ao final do estágio de gástrula envolverá completamente a vesícula vitelínica. Sendo responsável por disponibilizar o vitelo para as células do embrião, regulando a entrada e saída de substâncias do saco vitelino (TRINKAUS, 1951; DEVILLERS, 1961; TRINKAUS, 1993 ; NINHAUS-SILVEIRA, 2004). Considerando a importância do conhecimento das características da CSV para o desenvolvimento de técnicas de criopreservação de embriões de peixes e que para a espécie em questão não existe nenhum estudo pormenorizado sobre o assunto, este trabalho visou à análise das características estruturais da CSV. Material e Métodos Para obtenção dos embriões, foram utilizados exemplares adultos e maduros de Brycon amazonicus, reprodutores pertencentes ao plantel existente no Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais – CEPTA/ICMBIO, em Pirassununga - SP. As fêmeas foram induzidas hormonalmente a ovocitação com solução bruta de hipófise de carpa, receberam duas aplicações nas dosagens de 0,5 mg e 5 mg/Kg de peso vivo, respectivamente, com intervalos de 10 horas. Após aproximadamente 10 horas da ultima dosagem indutora, foi efetuada a extrusão dos ovócitos e a retirada do sêmen através de massagens abdominais. Para a fertilização foi utilizado o método “a seco” e os ovos incubados em incubadora vertical à temperatura de 26º C. Para analise da (CSV), foram coletadas amostras de embriões em diferentes períodos da embriogênese. As primeiras coletas foram realizadas em intervalos de 15 minutos até as primeiras 2 horas iniciais do desenvolvimento embrionário, após em intervalos de uma hora até momento da eclosão das larvas. Os embriões foram fixados em solução de Karnovsky modificada, por um período de 24 horas, e em seguida, foram colocadas em álcool 70%. O material foi posteriormente incluído em historesina (Histotec) e submetido à microtomia. Após a montagem das lâminas histológicas o material foi analisado no Laboratório de Ictiologia Neotropical (LINEO), do Departamento de Biologia e Zootecnia da FE/ UNESP de Ilha Solteira. Resultados A camada sincicial do vitelo (CSV) em Brycon amazonicus começou a ser formada ao final do estágio de clivagem (mórula) e início do estágio de blástula. A princípio, a CSV é uma camada citoplasmática (CC) que envolve toda a vesícula vitelina. A partir da fase de mórula as células com clivagem incompleta que estão em contato com a CC liberam para o seu interior seus núcleos e organelas. Com o prosseguimento do processo de embriogênese estes vão se replicando e formando uma camada sincicial a CSV. No estágio de gástrula com o estabelecimento dos movimentos morfogenéticos, principalmente o de epibolia, está vai se expandido, junto com o crescimento da blastoderme, até percorrer o perímetro do vitelo fechando o blastóporo e formando o tampão vitelínico. A camada sincicial do vitelo no matrinxã foi observada na fase de blástula formando às margens do blastoderme uma configuração de um anel ao seu redor e que seus núcleos ficavam mais nítidos ao longo do desenvolvimento da gástrula. A análise feita sob microscopia de luz não permite evidenciar a existência de membranas que a separam da blastoderme e do vitelo, mas são observados glóbulos de vitelo fragmentados no seu citoplasma. Não foi possível observar a passagem dos glóbulos para os blastômeros, mas o vitelo é observado dentro das células embrionárias. Discussão As características da camada sincicial do vitelo da espécie em estudo apresentou características semelhantes às descritas para Prochilodus lineatus (NINHAUS-SILVEIRA, 2006) e Brycon orbignyanus (GANECO et al, 2003). KIMMEL et al. (1995) afirmou que a camada sincicial é um órgão único de teleósteos, compondo uma estrutura extra-embrionária, portanto, não relacionados com a formação do corpo do embrião. Essa camada de células, também chamado periblasto, se diferencia das outras células da blastoderme por apresentar uma maior afinidade basofílica (BALINSKY, 1970 citado por GANECO et al, 2003). O fato de o núcleo tornar-se mais nítido com o desenvolvimento foi atribuído ao metabolismo celular ser menos intenso do que no estágio de clivagem no qual as divisões celulares são muito intensas e rápidas. As características morfológicas observadas para a CSV de B. amazonicus, corroboram as observações de TRINKAUS, 1993 e NINHAUS-SILVEIRA et al., 2007 que consideram que esta camada é a responsável pelo controle e disponibilização de nutrientes do vitelo para as células do embrião. Referências: DEVILLERS Ch., 1961: Structural and dynamic aspects of the development of the teleostean egg. Advances in Morfogenesis, vol. 1, Academic Press, New York London. ECKMANN, R. Induced reproduction in Brycon cf. Erythropterus. Aquaculture, Amsterdam, v.38, p. 379–382, 1984. GANECO, L. N.; VICENTINI, I. B. F.; NAKAGHI, L.S.O. Análise dos ovos de piracanjuba Brycon orbignyanus (Valenciennes, 1849), durante a fertilização e o desenvolvimento embrionário, sob condições de reprodção induzida. In: VI reunião do centro de aquicultura da UNESP e I encontro de pós graduandos do CAUNESP, 2003, Jaboticabal. Encontro… Resumos, 2003. HAGEDORN, M.; KLEINHANS, F. W.; WILDT, D. E.; RALL, W. F. Chilling sensitivity and cryoprotectant penneability of dechorionated zebrafish embryos, Brachidanio rerio. Cryobiology, v.34, p. 251-263, 1997. KIMMEL, C. B., BALLARD, W. W., KIMMEL, S. R., ULLMANN, B. AND SCHILLING, T. F. (1995). Stages of embryonic development of the zebrafish. Dev. Dyn 203, 253-310. NINHAUS-SILVEIRA, A. Desenvolvimento embrionário e preservação criogênica de embriões do curimbatá, Prochilodus lineatus (Valencinnes, 1836) (Teleostei; Prochilodontidae). 2004.Tese (Doutorado em Ciências Biológicas – Zoologia) – Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2004. NINHAUS-SILVEIRA, A.; FORESTI, F.; AZEVEDO, A. Structural and ultrastructural analysis of embryonic development of Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) (Characiforme, Prochilodontidae). Zygote, v.14, p.217-229, 2006. NINHAUS-SILVEIRA, A., FORESTI F., AZEVEDO, A., AGOSTINHO, C. A., and R. VerissimoSilveira. 2007. Structural and ultrastructural characteristics of the yolk syncytial layer in Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) (Teleostei; Prochilodontidae). Zygote 15:267–271. POLGE, C; SMITH, A. U.; PARKERS, A. S. Revival of spermatozoa after vitrification and dehydration at low temperatures. Nature, London, v.164, p.666, 1949. ROMAGOSA, E; NARAHARA, M. Y.; AYROZA, L. M. S.; BORELLA, M. I.; FENERICH-VERANI, N. Reproductive cycle of male matrinxã, Brycon cephalus (GÜNTHER, 1869) (TELEOSTEI: CHARACIDAE). Brazilian Journal of Morphological Sciences, São Paulo, v.17, n.2, p. 101105, 2000. REIMER, G. The influence of diet on the digestive enzymes of the Amazon fish matrinchã, Brycon cf. melanopterus. Journal of Fish Biology, v.21, n.6, p.637–642, 1982. SAINT-PAUL, U. Potential for aquaculture of South American fresh water fishes: a review. Aquaculture, Baton Rouge, v.54, p.205-240, 1986. TRINKAUS, J. P. A study of mechanism of epiboly in the egg of Fundulus heteroclitus. Journal of Experimental Zoology, v.118, p.269-320, 1951. TRINKAUS, J. P. (1993). The yolk syncytial layer of Fundulus. Its origin and history and its significance for early embryogenesis. J. E\p. Zool (in press) WATSON, P. F.; HOLT, W. V. Cryobanking the genetic resource. Wildlife conservation for the future London: Taylor & Francis; 2001. 463p. WERDER, U.; SAINT-PAUL, U. Feeding trials with herbivorous and omnivorous Amazonian fishes. Aquaculture, v.15, p.175–177, 1978. ZANG,T.T.; RAWSON, D. M. Permeability of the viteline member of 1-cel and 6-somite stage of zebrafish (Brachydanio rerio) embryos to water and methanol. Cryobiology, v.37, p.13-21, 1998.