EXISTE UM MÉTODO PARA O ENSINO? O IDEAL DE MÉTODO ÚNICO EM JAN AMOS COMENIUS E FRANCIS BACON COMO BASE PARA PENSAR DISCURSOS EDUCACIONAIS CONTEMPORÂNEOS Autor(es) RAFAEL APARECIDO CORRÊA Orientador(es) THIAGO BORGES DE AGUIAR Apoio Financeiro PIBIC/CNPq Resumo Simplificado Este projeto partiu de uma problematização elaborada pelo educador brasileiro José Mário Pires Azanha em sua obra Uma ideia de pesquisa educacional, na qual mostra que a crença em um método único na pesquisa educacional demanda de seus agentes um resultado necessariamente aplicável. De tal modo, embasados em sua hipótese de um “baconismo educacional” decorrente da transposição pedagógica de Comenius das ideias mestras de Francis Bacon no campo da ciência, partimos a problematizar, por meio de um pareamento bibliográfico entre o Novum Organum e a Didática Magna – respectivas obras de cada pensador –, a permanência/pertinência do conceito de método construído por cada autor, bem como, suas similitudes, divergências e implicações, a conjuntura histórica de seu aparecimento e os impactos sobre a educação do século XVII. Identificamos, a princípio, as proximidades conceituais entre a obra comeniana O labirinto do mundo e o paraíso do coração e o conceito de “ídolos” do Novum Organum. Entendemos que ambos os pensadores viam o mundo como um “labirinto” e suas hipóteses de saída eram o método ou a educação. Nas comparações diretas entre o Novum Organum e a Didática Magna, os dois pensadores argumentam sobre a facilidade/dificuldade acerca do entendimento e da aplicação de seus métodos. Problematizamos o termo “empirismo”, comumente associado a Bacon na História da Filosofia, e analisamos a influência do filósofo sobre o caráter empírico da educação inaugurado pela Didática Magna. Encontramos referências diretas a Bacon na obra comeniana Pampaedia e, percebemos uma oposição entre os conceitos comenianos e o ideal cético de acatalepsia, também criticado Bacon. Comparamos o trabalho do cientista e do educador explorando a metáfora do arquiteto comeniano: a sistematização, organização e execução dos trabalhos; o procedimento gradual dos métodos; a propostas de restauração da ciência e da educação desde seus fundamentos; o planejamento científico e educacional como elemento primário; a ideia de experiência ordenadamente realizada na ciência e na educação. E finalizamos apresentando dois quadros ilustrativos que interpretam os métodos baconiano e comeniano e suas diferenças. Abordamos as semelhanças e diferenças na noção de mente-espelho (intelecto) nas perspectivas de Bacon e Comenius e as explicações do pensador morávio sobre porque se deve educar a humanidade. Buscamos entender a visão baconiana do intelecto humano fundamentalmente corrompido desde sua origem, as propostas dos pensadores sobre a educação e a ciência como reparadoras da corrupção humana advinda do pecado original e suas finalidades para as conquistas do reino da natureza (por meio da ciência) e do reino dos céus (por meio da educação). Exploramos as concepções de ambos os pensadores de que as verdades são incutidas por Deus na natureza e devem ser investigadas e ensinadas a todo gênero humano. Problematizamos a importância das Sagradas Escrituras bem como a crítica comeniana sobre a filosofia e a crítica baconiana sobre a teologia e as tentativas de se fazer filosofia com as Sagradas Escrituras. O pareamento realizado revelou mais do que “uma transposição pedagógica das ideias mestras de Bacon”. Ele nos apresentou homens eruditos, “pansóficos”, de gênio universal, vivenciando conflitos de vários gêneros, mudanças caóticas, guerras político-religiosas, e que ainda sim buscaram e deixaram obras pensadas para o bem da humanidade.