OS PASSEIOS ALEATÓRIOS DA CARLINHA Irene Mauricio Cazorla Verônica Yumi Kataoka Camila Macedo Lima Nagamine O s Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática recomendam que o ensino de Probabilidade deve ter como meta para o Ensino Fundamental I (BRASIL, 1997), fazer com que o aluno compreenda que as noções de acaso e incerteza se manifestam intuitivamente em situações nas quais o aluno realize experimentos e observe eventos (em espaços equiprováveis). No Ensino Fundamental II, uma das metas é fazer com que o aluno represente (tabelas, diagrama de árvore) e conte os casos possíveis em situações combinatórias; construa o espaço amostral em várias situações, indicando a possibilidade de sucesso de um evento pelo uso de uma razão (BRASIL, 1998) . Já o aluno do Ensino Médio deve compreender que a probabilidade é uma medida de incerteza, que os modelos são úteis para simular eventos, para estimar probabilidades, e que algumas intuições são incorretas e podem levar a uma conclusão equivocada no que se refere à probabilidade e à chance (BRASIL, 2006). Nessa perspectiva, a sequência de ensino “Passeios Aleatórios da Carlinha” está adequada a essas recomendações curriculares, já que o objetivo principal é apresentar conceitos básicos de probabilidade utilizando a experimentação aleatória. Utilizaremos no ambiente papel e lápis a versão com a Turma da Mônica e para o ambiente virtual do AVALE a turma da Carlinha, fazendo a analogia da turma da Mônica para a turma da Carlinha é: Mônica – Carlinha; Horácio – Luiz; Cebolinha – Felipe; Magali – Fernanda; Cascão – Alex e Bidu – Paula. Objetivos específicos • Trabalhar as noções elementares da teoria de probabilidades: eventos, espaço amostral, probabilidade de eventos simples. • Construir tabelas simples e gráficos de barras. 48 A Estatística vai à Escola • Discutir as diferenças entre experimento determinístico e aleatório. • Estimar probabilidades por meio da frequência relativa. • Calcular a probabilidade teórica a partir da árvore de possibilidades. • Analisar padrões observados e esperados. Conteúdos • Experimento determinístico e aleatório. • Análise combinatória. • Probabilidades clássica e frequentista. • Gráficos de barras e tabelas simples e de dupla entrada. Tempo estimado: 6 horas-aula. Materiais • Folhas separadas contendo a atividade de cada sessão. • Folha de transparência (com a malha pronta para o desenho dos gráficos de barras). • Moeda e canetas coloridas (marcador para CD). • Laboratório de informática. Etapas de desenvolvimento no ambiente papel e lápis Professor, no ambiente papel e lápis essa atividade pode ser desenvolvida em quatro sessões, em três encontros de duas horas (no primeiro encontro trabalhar sessões I e II). Na primeira sessão os alunos devem ler a seguinte estória: A Mônica e seus amigos moram no mesmo bairro. A distância da casa da Mônica para a casa de Horácio, Cebolinha, Magali, Cascão e Bidu é de quatro quarteirões (Figura 1). A Mônica costumava visitar seus amigos durante os dias da sema- 49 Figura 1. Mapa dos passeios aleatórios da Mônica. Coleção UESC-Escola consCiência na em uma ordem pré-estabelecida: segunda-feira, Horácio; terçafeira, Cebolinha; quarta-feira, Magali; quinta-feira, Cascão e sextafeira, Bidu. Para tornar mais emocionantes os encontros, a turma combinou que o acaso escolhesse o amigo a ser visitado pela Mônica. Para isso, na saída de sua casa e a cada cruzamento, Mônica deve jogar uma moeda; se sair cara (C), andará um quarteirão para o Norte, se sair coroa (X), um quarteirão para o Leste. Cada jogada representa um quarteirão de percurso. Mônica deve jogar a moeda quatro vezes para poder chegar à casa dos amigos. Sessão 1: Contextualizando a situação-problema: a estória, explorando o conceito de probabilidade. Lendo apenas a estória, sem jogar a moeda, responda: 1)Qual é a diferença entre a forma antiga da Mônica visitar seus amigos e a nova forma?______________________________________________ 2) Quais são os possíveis resultados ao lançar uma moeda: ________ 3) Qual é a chance de sair cara: ___________ e de sair coroa:__________ Por que vocês acham isso: ___________________________________________ 4) Todos os amigos têm a mesma chance de serem visitados? ( ) Não. Quais são as chances: ______________________________________ ( ) Sim. Qual é a chance: ____________________________________________ Por que vocês acham isso: _______________________________________ 5) Imagine que vocês jogaram 4 vezes a moeda; como vocês anotariam esse resultado imaginário?______________________________________ Professor, nessa sessão deve ser discutido com os alunos, por exemplo as diferenças entre um experimento determinístico (antiga forma de visita) e um experimento aleatório (nova forma de visita); o espaço amostral no lançamento de uma moeda (Cara ou Coroa); a honestidade de uma moeda (ela não ser viciada). Na sessão seguinte, os alunos devem replicar 32 vezes o experimento aleatório e estimar as probabilidades de visita de cada amigo, utilizando a frequência relativa. 50 A Estatística vai à Escola Sessão 2: A experimentação aleatória Para Mônica visitar um amigo, os alunos têm que lançar a moeda quatro vezes, que denominamos de experimento. Se sair cara (C), Mônica andará um quarteirão para o Norte, se sair coroa (X), um quarteirão para o Leste. Repetição Sequência Amigo visitado Repetição 1. Sequência Amigo visitado 17. 2. 18. 3. 19. 4. 20. 5. 21. 6. 22. 7. 23. 8. 24. 9. 25. 10. 26. 11. 27. 12. 28. 13. 29. 14. 30. 15. 31 16. 32. 6) Quem tem mais chance de ser visitado(a), Magali ou Horácio?___________ Por quê? __________________________________________ 7) Existe a chance da Mônica não visitar algum amigo? ( ) Não ( ) Sim. Por quê? __________________________________________ 8) Após a experimentação responda: Todos os amigos têm a mesma chance de serem visitados? ( ) Não. Porque: __________________________________________________ ( ) Sim. Porque: ___________________________________________________ 9) Sistematizem os resultados do Quadro 1 na Tabela 1, chamada de Tabela de Distribuição de Frequência – TDF. 51 Coleção UESC-Escola consCiência Tabela 1. Distribuição do número de visitas que cada amigo recebeu da Mônica Amigo Nº de vezes que foi visitado (n) Frequência relativa (f) Porcentagem f(%) Bidu Cascão Magali Cebolinha Horácio Total 32 1,00 100,00 Em que f = n/32, representa uma estimativa da probabilidade. 1 10) Vocês estão recebendo um papel de transparência com duas grades para construir gráficos, bem como canetas de transparência. Na grade de cima representem os dados da frequência relativa, constante da Tabela 1. Comparem seus resultados com os dos seus colegas. Esses são iguais? ( )Sim ( ) Não. O que vocês acham disso?_________________________________________________________________ Professor, nessa fase os alunos devem perceber que cada dupla poderá apresentar um resultado diferente. Você pode aproveitar para discutir o conceito de amostragem, uma vez que estes resultados são frutos de um experimento, de uma amostra. Em seguida você pode questionar se existe uma outra forma de determinar o número de vezes que cada amigo será visitado. Sendo então a próxima etapa da atividade a construção da árvore de possibilidades. Na terceira sessão eles constroem a árvore de possibilidades e calculam as probabilidades teóricas. Sessão 3: A modelagem matemática (a árvore de possibilidades) Completem a árvore de possibilidades, (Figura 2) indicando a sequência sorteada, o número de caras e o amigo visitado. 1 Essa grade está disponível no site do AVALE - EB (http://www.iat.educacao.ba.gov.br/avaleeb). 52 A Estatística vai à Escola Ponto de partida Primeiro sorteio Segundo sorteio Terceiro sorteio Quarto sorteio X X Sequência sorteada Nº de caras XXXX Amigo visitado 0 Bidu C X C X C Mônica C Figura 2. Árvore de possibilidades. Professor, ressalte que o uso da árvore de possibilidades pode ser substituído por 5 croquis, um para cada amigo, no qual o aluno deve desenhar os possíveis caminhos para cada um deles, anotando as sequências de cara e/ ou coroa, bem como o número de caras, como ilustrado na Figura 3. Horácio Cebolinha ccxx Magali cxcx Cascão cxxc xxcc xccx Bidu Mônica Figura 3. Todos os caminhos que levam Mônica à casa da Magali 11) Quantos caminhos existem ao todo? _________________________________________________________ 53 Coleção UESC-Escola consCiência 12) Descubram se existe uma relação comum a todos os caminhos que levam à casa de cada um dos amigos: Bidu __________________________________________________________________ Cascão _______________________________________________________________ Magali _______________________________________________________________ Cebolinha ____________________________________________________________ Horácio ______________________________________________________________ 13) Após a construção da árvore de possibilidades, responda: Todos os amigos têm a mesma chance de serem visitados? ( ) Não, porque: _____________________________________________________ ( ) Sim, porque: ______________________________________________________ 14) Sistematizando os resultados da árvore de possibilidades, preencham a Tabela 2: Tabela 2. Distribuição de probabilidade da visita da Mônica a seus amigos Amigo Nº de caminhos Nº de caminhos/total de caminhos (fração) Probabilidade (p)* Bidu Cascão Magali Cebolinha Horácio Total (*) Efetuar a divisão para expressar na forma decimal. 15) Na transparência, na grade de baixo, construam um gráfico de barras com os dados da probabilidade (p) constante na Tabela 2. Comparem seus resultados com os dos seus colegas. Esses são iguais? ( )Sim ( )Não. O que vocês podem concluir? _______________ _________________________________ Analisando o diagrama da árvore verifica-se que existem 16 caminhos, mutuamente excludentes, ou seja, a Mônica não pode percorrer 54 A Estatística vai à Escola simultaneamente dois ou mais caminhos. Como a moeda é honesta, então os 16 caminhos são equiprováveis, consequentemente, a probabilidade igual a 1/16. Professor, reforce que o fato de que cada caminho tem a mesma probabilidade (1/16) não implica que todos os amigos têm a mesma probabilidade de serem visitados pela Mônica. Como cada caminho tem 1/16 de probabilidade de ser escolhido, então a probabilidade de Mônica visitar Horácio seria 1/16 (pois existe apenas um caminho que leva à sua casa), ocorrendo o mesmo fenômeno com Bidu. Já a probabilidade de Cebolinha ser visitado seria 4/16, pois existem quatro caminhos, o mesmo acontece com a probabilidade de Cascão ser visitado. A Magali teria a maior chance de ser visitada, pois, para a casa dela, existem seis caminhos, logo essa probabilidade seria 6/16. Quanto à pergunta sobre se todos os amigos têm a mesma de chance de ser visitado, nessa fase, você pode discutir com os alunos em que momento da atividade eles mudaram de opinião. As nossas experiências em sala de aula têm mostrado que a maioria deles responde que sim no início, mudando de opinião após a realização da experimentação aleatória ou após análise da árvore de possibilidades. Na quarta sessão, os alunos devem comparar as estimativas com as probabilidades teóricas, e entre os experimentos aleatórios e determinísticos. Sessão 4: Comparando as duas formas de atribuir probabilidades 16) Preencham a Tabela 3 com os resultados das Tabelas 1 e 2: Tabela 3. Quadro comparativo da atribuição de probabilidades Amigo Frequência relativa (fi) Bidu Cascão Magali Cebolinha Horácio 55 Probabilidade (pi) Coleção UESC-Escola consCiência 17) Qual é a diferença entre essas duas formas de atribuir probabilidade? _____________________________________________________________ 18) Analisando os resultados, para vocês, qual dessas duas maneiras de atribuir probabilidades é mais adequada? ( ) frequentista ( ) árvore de possibilidades. Por que? __________________________________ 19) Vocês acham justa a nova distribuição de probabilidades da visita da Mônica? ______________________________________________________ 20) Caso vocês achem injusta essa distribuição, vocês poderiam indicar outra forma de sortear o amigo a ser visitado pela Mônica? _______________________________________________________________________ Professor, os alunos podem achar que a forma como a Mônica escolhe o amigo a ser visitado é injusta com os amigos que moram mais longe do ponto central, em favor dos que moram mais perto. Por esta razão, seria interessante explorar mudanças na disposição dos amigos. Para indicar outra forma de sortear o amigo a ser visitado pela Mônica, o aluno pode, ao invés de sortear o caminho a ser percorrido, sortear diretamente o amigo a ser visitado. Para isso, cada criança deve anotar o nome dos cinco amigos em papeizinhos do mesmo tamanho, dobrar, colocar numa sacola, chacoalhar e escolher o amigo a ser visitado pela Mônica, sendo que a probabilidade de ser escolhido é igual a 1/5, ou 20% das vezes. Deve-se observar ainda que, embora a probabilidade do amigo ser visitado seja igual, é diferente do critério adotado deterministicamente que também divide o número de visitas entre os cinco amigos. A diferença do critério aleatório para o determinístico é que no aleatório não se sabe, a priori, quem será visitado naquele dia, enquanto que no determinístico, sim. Além disso, o número de visitas que cada amigo vai receber não necessariamente vai ser um quinto das vezes, vai depender dos sorteios, apenas pode-se esperar que todos sejam igualmente visitados. 56 A Estatística vai à Escola Etapas de desenvolvimento no ambiente virtual AVALE No AVALE (http://avale.uesc.br), os alunos podem potencializar a análise dos resultados, sendo necessário um laboratório de informática com acesso à internet, e um tempo estimado de 2 horas. 1ª Etapa – Cadastro do aluno Cada dupla de alunos deve cadastrar um login e uma senha, e em seguida acessar a atividade com essas informações (Figura 4). Figura 4. Telas de cadastro do usuário e entrada. 2ª Etapa – Geração do banco de dados Cada dupla deve cadastrar os resultados da experimentação aleatória e enviá-los. Em seguida, a dupla poderá acessar o banco de dados da turma completa, já que a geração ocorrerá em tempo real (Figura 5). Figura 5. Fragmento da tela de entrada dos dados. 3ª Etapa – Análise dos resultados Diferentes resultados podem ser gerados no AVALE, a saber: TDF por dupla e para a turma; gráficos de barras comparando os resultados de duas duplas; tabelas e gráficos de barras comparando a frequência 57 Coleção UESC-Escola consCiência relativa com a probabilidade teórica, tanto por dupla, como para a turma completa, bem como para as simulações (Figura 6). Professor, no AVALE estão disponíveis dois tipos de simulação representando 12.000 experimentos. Uma simulação fixa em que os resultados da tabela e do gráfico já foram previamente gerados e armazenados. A outra simulação, denominada dinâmica, em que o gráfico e a tabela são gerados em tempo real. Figura 6. Exemplos de tabela e gráficos gerados. 58