Evangelho segundo S. Mateus 7,1-5. – cf.par. Lc 6,13.37-38.41

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Evangelho segundo S. Mateus 7,1-5. – cf.par. Lc 6,13.37-38.41-42; cf. 11,9-13
«Não julgueis, para não serdes julgados; pois, conforme o juízo com que julgardes, assim
sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. Porque reparas no
argueiro que está na vista do teu irmão, e não vês a trave que está na tua vista? Como ousas
dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o argueiro da tua vista’, tendo tu uma trave na tua?
Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás melhor para tirar o argueiro da vista
do teu irmão.»
S. João Clímaco (c. 575-c. 650), monge do Monte Sinai
A Escada Santa, 10º degrau
"Porque olhas para a palha no olho do teu irmão?"
Ouvi alguns falarem mal do seu próximo e repreendi-os. Para se defenderem, esses operários
do mal replicaram: "É por caridade e por solicitude que falamos assim!" Mas eu respondilhes: "Deixai de praticar tal caridade, senão estaríeis chamando mentiroso ao que diz: 'Afasto
de mim quem denigre em segredo o seu próximo' (Sl 100,5). Se o amas como dizes, reza em
segredo por ele e não te rias dessa pessoa. É essa maneira de amar que agrada ao Senhor; não
percas isto de vista e esforçar-te-ás cuidadosamente por não julgar os pecadores. Judas
pertencia ao número dos apóstolos e o ladrão fazia parte dos malfeitores, mas que espantosa
mudança num só instante!...
Responde, pois, ao que diz mal do seu próximo: 'Pára, irmão! Eu próprio caio cada dia em
faltas mais graves; desse modo, como poderia eu condenar essa pessoa?' Obterás assim um
duplo proveito: curar-te-ás a ti mesmo e curarás o teu próximo. Não julgar é um atalho que
conduz ao perdão dos pecados, se é verdade a palavra que diz: 'Não julgueis e não sereis
julgados'... Alguns cometeram grandes faltas à vista de todos mas realizaram em segredo os
maiores actos de virtude. Assim, os seus acusadores enganaram-se dando atenção ao fumo
sem verem o sol...
Os críticos diligentes e severos caem nesta ilusão porque não guardam a memória nem a
preocupação dos seus próprios pecados... Julgar os outros é usurpar sem vergonha uma
prerrogartiva divina; condená-los é arruinar a nossa própria alma... Tal como um bom
vindimador come as uvas maduras e não colhe as uvas verdes, assim também um espírito
benevolente e sensato anota cuidadosamente todas as virtudes que vê nos outros; mas o
insensato perscruta as faltas e as deficiências."
A Imitação de Cristo, tratado espiritual do sec. XV
Livro II, cap.3
"Não julgueis para não serdes julgados"
Sabes bem desculpar e esconder as tuas faltas, mas não queres aceitar as desculpas dos outros.
Seria mais justo acusares-te a ti próprio e desculpares o teu irmão.
Se queres que te suportem, suporta também os outros.
Vê quanto ainda estás longe da verdadeira caridade e da humildade que nunca se irrita nem
indigna senão contra si própria.
Não significa grande coisa viver bem com pessoas boas e pacíficas, porque isso agrada
naturalmente a toda a gente: todos prezamos a paz e nos afeiçoamos àqueles que pensam
como nós.
Mas poder viver em paz com pessoas duras, más, indisciplinadas, que nos contrariam, é uma
grande graça, uma forma de viver louvável e corajosa...
Quem melhor souber gerir o sofrimento, possuirá uma maior paz. Esse é vencedor de si
mesmo e dono do mundo, amigo de Cristo e herdeiro do céu.
Doroteu de Gaza (c. 500-?), monge da Palestina
Carta 1
“Então verás claro”
Certas pessoas convertem em maus humores todos os alimentos que absorvem, mesmo que
sejam alimentos de boa qualidade. A responsabilidade não é dos alimentos, mas do
temperamento dessas pessoas, que altera os alimentos. Da mesma maneira, se a nossa alma
tiver uma disposição má, tudo lhe fará mal; até as coisas vantajosas serão por ela
transformadas em coisas prejudiciais. Não é verdade que, se deitarmos umas ervas amargas
num pote de mel, as ervas alteram todo o conteúdo do pote, tornando amargo o mel? É isso
que nós fazemos: espalhamos um pouco do nosso azedume e destruímos o bem do próximo,
olhando para ele a partir da nossa má disposição.
Outras pessoas têm um temperamento que transforma tudo em bons humores, incluindo os
alimentos nocivos. […] Os porcos têm uma excelente constituição. Comem cascas, caroços de
tâmaras e lixo. Contudo, transformam estes alimentos em viandas suculentas. Também nós, se
tivermos bons hábitos e um bom estado de alma, tudo poderemos aproveitar, in cluindo aquilo
que não é aproveitável. Muito bem diz o Livro dos Provérbios: “Quem olha com doçura
obterá misericórdia” (12, 13). Mas também: “Todas as coisas são contrárias ao homem
insensato” (14, 7).
Ouvi dizer de um irmão que, quando ia visitar outro irmão e encontrava a cela descuidada e
desordenada, pensava: “Que feliz que é este irmão, que está completamente desprendido das
coisas terrenas, elevando totalmente o seu espírito para o alto, de tal maneira que nem tem
tempo para arrumar a cela!” Quando ia visitar outro irmão e encontrava a cela arrumada e em
boa ordem, pensava: “A cela deste irmão está tão arrumada como a sua alma. Tal como a sua
alma, assim é a sua cela.” E nunca dizia de nenhum deles: “Este é desordenado.” Ou: “Este é
frívolo.” Graças ao seu excelente estado de alma, de tudo tirava proveito. Que Deus, na sua
bondade, nos dê, também a nós, um estado bom para que possamos tudo aproveitar, sem
nunca pensarmos mal do próximo. Se a nossa malícia nos inspirar j uízos e suspeitas,
transformemo-los rapidamente no pensamento. Pois não ver o mal do próximo engendra, com
a ajuda de Deus, a bondade.
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
“A medida que usares para julgar os outros servirá para vos julgar a vós”
Para cada doença, existem muitos medicamentos e tratamentos. Mas enquanto não se oferecer
uma mão doce pronta a servir e um coração generoso pronto a amar, não acredito que possam
jamais curar esta doença terrível que é a falta de amor.
Ninguém de entre nós tem o direito de condenar seja quem for. E isso, mesmo que vejamos
pessoas naufragar, sem compreender porquê. Não nos convida Jesus a não julgarmos? Talvez
tenhamos contribuído em tornar essas pessoas tal como são. Devemos compreender que são
nossos irmãos e irmãs. Este leproso, este bêbado, este doente, é nosso irmão porque também
foi criado por um grande amor. Não devemos esquecê-lo nunca. O próprio Jesus Cristo se
identificou com eles: “ o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim
mesmo o fizeste” (Mt 25,40). E pode ser que essas pessoas se reencontrem na rua,
desprovidas de todo o amor e de todo o cuidado, porque nós lhes recusámos a nossa
solicitude, a nossa afeição. Sejais doces, infinitamente doce s, na atenção para com o pobre
que sofre. Compreendemos muito pouco daquilo que ele atravessa. O mais difícil é não ser
aceite.
Imitação de Jesus Cristo
Tratado espiritual do séc. XV
«A trave que está no teu olho, tu não te apercebes dela?»
Quando um homem reconhece humildemente os seus defeitos, ele apazigua facilmente os
outros e facilmente acalma os que se encolerizam contra ele. Ao humilde, Deus protege-o e e
liberta-o; ao humilde, Deus ama-o e consola-o: sobre o homem que é humilde, inclina-se; ao
humilde, concede a Sua graça em abundância, retira-o da humilhação e eleva-o à glória. Ao
humilde Ele revela os seus segredos, atrai-o docemente a Si e incita-o. O humilde quando é
vítima de uma afronta não deixa de estar em paz porque põe a sua confiança em Deus e não
no mundo...
Começa por te conservar em paz, e então poderás transmiti-la aos outros. O homem pacífico é
de maior utilidade que o homem muito instruído. O homem dominado pela paixão converte o
bem em mal e supõe o mal. O homem bom e pacífico volta tudo para o bem.
Aquele que está em completa paz não desconfia de ninguém. Aquele que, pelo contrário, está
descontente, e na inquietação se debate com diversas suspeitas, ele próprio não está nada
tranquilo e não deixa que os outros vivam na tranquilidade; diz frequentemente o que não
deveria dizer e omite aquilo que mais lhe conviria fazer; tem em vista as obrigações dos
outros e negligencia as suas próprias obrigações.
Começa pois por exercer o teu zelo sobre ti próprio e então poderás usá-lo com justiça sobre o
teu próximo.
Evangelho segundo S. Mateus 7,7-12.
«Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois, quem pede,
recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir. Qual de vós, se o seu filho lhe
pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Ora bem, se
vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no
Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.» «Portanto, o que quiserdes que vos façam os
homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.»
S. Macário (? - 405), monge no Egipto
Homilias Espirituais n° 30, 3-4
«Pedi, procurai, batei»
Esforça-te por agradar ao Senhor, espera-o interiormente sem te cansares, procura-o por meio
dos teus pensamentos, exerce violência sobre a tua vontade e as suas decisões, domina-as para
que tendam continuamente para Ele. E verás como Ele vem junto de ti e aí estabelecerá a sua
morada (Jo 14,23) … Aí ficará, observando o teu raciocínio, os teus pensamentos, as tuas
reflexões, examinando a forma como o procuras, se é com toda a tua alma ou com moleza e
negligência. E, quando vir que o procuras com ardor, imediatamente se manifestará a ti, te
aparecerá, te concederá o seu auxílio, te dará a vitória e te livrará dos teus inimigos. Com
efeito, quando tiver visto como tu o procuras, como nele depositas continuamente toda a tua
esperança, então instruir-te-á, ensinar-te-á a verdadeira oração, dar-te-á essa caridade
verdadeira que é Ele mesmo. Tornar-se-á então tudo para ti: paraíso, árvore da vida, pérola
preciosa, coroa, arquitecto, cultivador, um ser sujeito ao sofrimento mas não abatido por ele,
homem, Deus, vinho, água viva, ovelha, esposo combatente, armadura, Cristo “tudo em
todos” (1 Co 15,28).
Tal como uma criança não pode alimentar-se nem cuidar de si mesma mas só pode olhar
chorando para sua mãe, até que seja tocada de compaixão e se ocupe dela, assim as almas
crentes esperam sempre em Cristo e lhe atribuem toda a justiça. Tal como o sarmento seca se
for separado da videira (Jo 15,6), assim faz aquele que quer ser justo sem Cristo. Tal como o
que é “um salteador e um ladrão que não entra pela porta mas passa por outro sítio” (Jo 10,1),
assim acontece com o que se quer tornar justo sem aquele que justifica.
Homilia anónima do século IV
Atribuida erradamente a S. João Crisóstomo
"Pedi e recebereis; batei e abrir-vos-ão a porta"
"Presta atenção às minhas palavras, Senhor!" (Sl 5,2). Tu vieste não só por piedade para com
o teu povo Israel, mas para salvar todas as nações..., não só para restaurar uma parte da terra,
mas para renovar o mundo inteiro. Por isso, "presta atenção às minhas palavras, Senhor!"...
Não rejeites a minha súplica como indigna; não recuses a minha oração. Eu não peço ouro
nem riquezas... É desejando o amor e o respeito por ti que clamo sem cessar: "Presta atenção
às minhas palavras, Senhor!"
Israel gozou dos teus bens; também eu farei a experiência dos teus benefícios. Conduziste-o
para fora do Egipto; retira-me a mim do erro. Resgataste-o do Faraó; liberta-me do autor do
mal. Conduziste-o através do Mar Vermelho; conduz-me através da água do baptismo.
Guiaste-o com a coluna de fogo; ilumina-me com o teu Espírito Santo. Israel comeu o pão dos
anjos no deserto; dá-me o teu Corpo santíssimo. Ele bebeu a água do rochedo; sacia-me com o
Sangue do teu lado. Israel recebeu as tábuas da Lei; grava o teu Evangelho no meu
coração...
"Presta atenção às minhas palavras, Senhor! Atende o meu grito!" Graças a esse grito, Moisés
tornou a criação aliada do teu povo [no Mar Vermelho]; graças a esse clamor, Josué travou o
curso do sol (Jos 10,12); graças a esse grito, Elias tornou estéreis as núvens do céu (1R 17,1);
foi graças a esse lamento que Ana deu à luz um filho, contra toda a esperança (1Sm 1,10s).
"Senhor, atende o meu grito!"
Eu proclamo o poder absoluto do Pai e a mediação do Filho, o seu envio ao mundo e a sua
obediência. O Pai preside desde toda a eternidade e tu "inclinaste os céus e desceste" (Sl
28,10; 17,10)... No Jordão, recebeste o seu testemunho. Chamando Lázaro para fora do
túmulo, deste graças a teu Pai...; multiplicando os pães no deserto, ergueste os olhos para o
céu e proferiste a bênção. Quando foste suspenso da cruz, foi Ele quem recebeu o teu espírito;
quando foste depositado no túmulo, foi Ele quem te ressuscitou ao terceiro dia. Tudo isso eu
clamo na minha oração; é isso que proclamo ao longo dos meus dias.
S. Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja
Opuscula omnia
"Peçam... Procurem... Batam..."
Quando rezamos, não devemos preocupar-nos em manifestar os nossos desejos ou as nossas
necessidades a Deus, que conhece tudo. Contudo, a oração é necessária ao homem para obter
uma graça de Deus: a oração a Deus torna-nos ela mesma familiares de Deus, uma vez que a
nossa alma se eleva para Ele, ocupa-se afectuosamente d'Ele, adora-O em espírito e verdade
(Jo 4,23). Esta intimidade adquirida na oração incita o homem a recomeçar a rezar com
confiança. Por isso se diz no salmo: "Gritei", quer dizer, rezei com confiança, "porque tu me
escutaste, meu Deus" (Sl 16,6). Recebido na intimidade de Deus numa primeira oração, o
salmista reza depois com confiança acrescida. Assim, na oração a Deus, a assiduidade ou
insistência no pedido não é importuna mas, pelo contrário, bem acolhida por Deus; "porque é
preciso rezar sempre, diz o Evangelho, sem nunca nos cansarmos" (Lc 18,1); e mais à frente o
Senhor convida-nos a pedir: "Pedi e recebereis, diz ele, batei e abrir-vos-ão".
Evangelho segundo S. Mateus 7,6.12-14.
«Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não
acontecer que as pisem aos pés e, acometendo-vos, vos despedacem.» «Portanto, o que
quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.»
«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à
perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o
caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!»
S. Bento (480-547), monge
A Regra, Prólogo
"Entrai pela porta estreita"
O Senhor, procurando um trabalhador na multidão a quem lança os seus apelos, diz: "Quem é
que quer a vida e deseja ver dias felizes?" (Sl 33,13) Se, ao ouvir isto, tu respondes: "Eu!",
Deus diz-te: "Se queres ter a vida, a vida verdadeira e eterna, guarda a tua língua do mal, que
os teus lábios não digam palavras enganadoras. Afasta-se do mal e realiza o bem, procura a
paz e não a abandones" (Sl 33, 14-15)... Que haverá mais doce para nós, caríssimos irmãos,
do que esta voz do Senhor que nos convida? Vê que, na sua bondade, o Senhor nos indica o
caminho da vida. Por isso, tendo cingido os nossos rins (Ef 6,14) da fé e da prática das boas
acções, conduzidos pelo Evangelho, avancemos pelo nosso caminho a fim de merecermos ver
Aquele que nos chamou para o seu Reino (1 Tes 2,12). Se queremos habitar nas tendas desse
Reino, se não for pelas boas acções nunca lá chegaremos. Com o profeta, interroguemos o
Senhor e digamos-lhe: "Senhor, quem habitará na tua tenda? Quem repousará na tua
montanha santa?" (Sl 14,1). Depois desta pergunta, irmãos, escutemos o Senhor respondernos mostrando o caminho...
Vamos, pois, organizar uma escola do serviço do Senhor, onde não esperamos introduzir nada
de rigoroso, nada de opressivo. Mas, se houvesse alguma coisa um pouco mais severa, exigida
por uma razão de justiça por causa da correcção dos vícios ou da manutenção da caridade, não
fujas logo, cheio de terror, do caminho da salvação, onde só podemos entrar por uma porta
estreita. Aliás, graças à caminhada da vida e da fé, com o coração dilatado na inefável doçura
do amor, percorremos o caminho dos mandamentos de Deus (Sl 118,32). Assim, não nos
afastando nunca dos seus ensinamentos e perseverando na sua doutrina até á morte,
participaremos pela paciência nos sofrimentos de Cristo (1 Pe 4,13) para que mereçamos
também ter parte no seu Reino.
São Vicente de Paula (1581-1660), fundador de comunidades religiosas
Conversa de 04.V.1659
“Tudo quanto quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também”
Qual é o primeiro acto da caridade? Que actividade tem um coração animado por ela? O que
sai desse coração, que é diferente do que sai do coração de um homem dela desprovido? Fazer
bem a todos como gostaríamos que nos fizessem a nós; é nisso que consiste o sumário da
caridade. Faço ao meu próximo o que desejo que ele me faça? Ah!, que grande exame a fazer.
[…]
Contemplemos o Filho de Deus: que coração de caridade, que chama de amor! Meu Jesus,
dizei-nos, por favor, o que foi que vos retirou do céu para virdes sofrer a maldição da terra,
tantas perseguições e tormentos que recebestes? Ó Salvador, ó fonte do amor, humilhado até
nós, até um suplício infame, que amastes mais o próximo do que a Vós mesmo. Viestes
expor-vos a todas as nossas misérias, tomar a forma de pecador, levar uma vida de dor e
sofrer uma morte vergonhosa por nós. Haverá amor semelhante? […] Nosso Senhor foi o
único que se apaixonou de tal maneira pelas criaturas, que abandonou o trono de seu Pai para
vir toma r um corpo sujeito às enfermidades.
E para quê? Para estabelecer entre nós, pelo seu exemplo e a sua palavra, a caridade ao
próximo. […] Oh meus amigos, se tivéssemos um pouco deste amor, ficaríamos de braços
cruzados? […] Oh não, a caridade não pode permanecer ociosa; ela incita-nos à salvação e à
consolação dos nossos irmãos.
João Paulo II
Discurso em Paris no dia 3 de Junho de 1980
"É estreita a porta e apertado o caminho que conduz á vida"
Vim encorajar-vos no caminho do Evangelho, um caminho certamente estreito, mas caminho
real, seguro, trilhado por gerações de cristãos, ensinado pelos santos. É o caminho pelo qual,
exactamente como vós, se esforçam por caminhar os vossos irmãos em toda a Igreja. Este
caminho não passa pela resignação, pelas renúncias ou pelos abandonos. Não se coaduna com
o enfraquecimento do sentido moral, e desejaria que a própria lei civil ajudasse a elevar o
homem. Não aspira a enterrar-se, a ficar inadvertido, mas antes exige a audácia jubilosa dos
apóstolos. Por isso, deita fora a pusilanimidade, mostrando-se absolutamente respeitosa para
com os que não partilham do mesmo ideal.
«Reconhece, ó cristão, a tua dignidade!», dizia o grande papa S. Leão. E eu, seu indigno
sucessor, vo-lo digo a vós, meus irmãos e minhas irmãs: Reconhecei a vossa dignidade! Sede
ciosos da vossa fé, do dom do Espírito que o Pai vos outorga. Vim para o meio de vós como
um pobre, com a única riqueza da fé, peregrino do Evangelho. Dai à Igreja e ao mundo o
exemplo da vossa fidelidade sem desfalecimento e do vosso zelo missionário. A minha visita
que ser um apelo a um novo impulso perante as numerosas tarefas que se vos oferecem.
João Paulo II
Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2002
«O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-o vós também»
Quem mata, com actos terroristas, cultiva sentimentos de desprezo pela humanidade,
manifestando desespero pela vida e pelo futuro: nesta perspectiva, tudo pode ser odiado e
destruído. O terrorista considera a verdade em que crê ou o sofrimento que padece tão
absolutos que legitimam a sua reacção de destruir inclusivamente vidas humanas inocentes…
A violência terrorista… é totalmente contrária à fé em Cristo Senhor, que ensinou os Seus
discípulos a rezar: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos
tem ofendido» ( Mt 6, l2)…
Na verdade, o perdão é primariamente uma decisão pessoal, uma opção do coração que vai de
encontro ao instinto espontâneo de pagar o mal com o mal. Tal opção tem o seu termo de
comparação no amor de Deus que nos acolhe apesar do nosso pecado, e o seu modelo
supremo no perdão de Cristo que do alto da Cruz rezou: «Perdoa-lhes, ó Pai porque não
sabem o que fazem» ( Luc 23, 34 ).
O perdão tem, pois, uma raiz e uma medida divinas. Isto, porém, não exclui que se possa
colher o seu valor também à luz de considerações humanas razoáveis. A primeira delas deriva
da experiência que o ser humano vive em si próprio quando comete o mal: ele apercebe-se
então da sua fragilidade e deseja que os outros sejam indulgentes para com ele. Deste modo,
porque não fazer aos outros aquilo que cada um espera que seja feito a si próprio? Cada ser
humano abriga dentro de si a esperança de poder retomar o percurso da vida, sem ficar para
sempre prisioneiro dos próprios erros e culpas. Sonha poder levantar de novo o olhar para o
futuro, para descobrir ainda perspectivas de confiança e empenho.
Evangelho segundo S. Mateus 7,15-20. – cf.par. Lc 6,43-44.46
«Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por
dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos, os conhecereis. Porventura podem colher-se uvas
dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá
maus frutos. A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. Toda a
árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Pelos frutos, pois, os conhecereis.»
Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir
Carta aos Efésios, 13-15
Seremos reconhecidos pelos nossos frutos
Esforçai-vos por vos reunirdes com mais frequência e por dardes acções de graças e louvores
a Deus. Pois, quando vos reunis com frequência, o poder de Satanás é abatido e as suas obras
de ruína destruídas pela unanimidade da vossa fé. Nada ultrapassa a paz, que triunfa de todos
os assaltos que nos fazem as potências celestiais e terrestres.
Nada disso vos está oculto, se dais a Jesus Cristo uma fé e um amor perfeitos, que são o
começo e o fim da vida: o começo é a fé e o fim a caridade. Deus é as duas reunidas. Todas as
outras virtudes que conduzem à perfeição decorrem destas duas primeiras. Ninguém peca se
professar a fé; ninguém odeia se professar a caridade. “As árvores conhecem-se pelos seus
frutos”; assim também, será pelas suas obras que se reconhecerão aqueles que fazem profissão
de ser de Cristo. Porque a obra que hoje se nos pede não é uma simples profissão de fé, mas a
prática da fé até ao fim.
Mais vale calar-se e ser do que falar sem ser. É bom ensinar, se aquele que ensina age. Temos
um único mestre, aquele que “disse e todas as coisas foram feitas” (Sl 32, 9); até as obras que
fez no silêncio são dignas de seu Pai. Aquele que compreende verdadeiramente a palavra de
Jesus também pode compreender o seu silêncio; e então será perfeito: agirá pela sua palavra e
dar-se-á a conhecer pelo seu silêncio. Nada está oculto ao Senhor; até os nossos segredos lhe
são conhecidos. Façamos, pois, tudo com o pensamento de que Ele permanece em nós;
seremos assim templos seus, e Ele será em nós o nosso Deus.
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo
Sermão 7
Dar bons frutos
Numa vinha, revolve-se a terra à volta das vides e mondam-se as ervas daninhas. Também o
homem se deve mondar a si próprio, e estar profundamente atento ao que mais poderá ainda
arrancar no fundo do seu ser, para que o Sol divino possa aproximar-se mais de si e em si
brilhar. Se deixares a força do alto fazer a sua obra [...], o sol tornar-se-á brilhante, dardejará
os seus quentes raios sobre os frutos e torná-los-á mais e mais transparentes. Maior doçura
terão, finíssimas se tornarão as suas finas cascas. Assim é também no domínio espiritual. Os
obstáculos de permeio tornam-se por fim tão ténues, que recebemos ininterruptamente os
toques divinos, de muito perto. E sempre que nos voltarmos para Ele, encontraremos no
interior o divino Sol a brilhar com muito mais intensidade que todos os sóis que alguma vez
brilharam no firmamento. E assim tudo no homem será deificado a tal ponto que ele já não
sentirá, não experimentará nem verdadeiramente conhecerá, com tão profundo conhecimento,
mais nada a não ser Deus, e tal conhecimento ultrapassará em muito o modo de conhecimento
da razão.
Arrancaremos por fim as folhas aos sarmentos, para que o sol possa bater nos frutos sem
encontrar obstáculo algum. Assim será com os homens: tudo o que estiver de permeio cairá e
tudo receberão de modo imediato. Cairão orações, representações de santos, práticas de
devoção, exercícios. Mas que o homem se livre de rejeitar estas práticas enquanto por si
próprias elas não caírem. Só então, atingido esse estádio, o fruto se há-de tornar tão doce, de
uma forma tão indescritível, que não haverá razão capaz de tal compreender [...] Seremos já
só um com a doçura divina, ainda que o Ser divino penetre completamente o nosso ser, e que
sejamos como uma gota num grande tonel de vinho [...]. Aqui, as boas intenções, a
humildade, são a mera simplicidade, um mistério tão essencialmente pacificador, que teremos,
até, dificuldade em tomar consciência disso.
Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Não há maior amor
Dar bons frutos
Se alguém sente que Deus lhe pede que se comprometa na reforma da sociedade, isso é um
assunto entre ele e o seu Deus. Todos nós temos o dever de servir Deus segundo o apelo que
sentimos. Eu sinto-me chamada ao serviço dos indivíduos, a amar cada ser humano. Nunca
penso em termos de massa, de grupo, mas sempre nas pessoas concretas. Se pensasse nas
multidões, nunca iniciaria nada; é a pessoa que conta; acredito nos encontros cara a cara.
A plenitude do nosso coração transparece nos nossos actos: a forma como me comporto com
os leprosos, com este ou aquele agonizante, com este ou aquele sem-abrigo. Por vezes, é mais
difícil trabalhar com os vagabundos do que com os moribundos dos nossos hospícios, porque
estes estão em paz, na expectativa, prontos a partir ao encontro de Deus. Mas, quando se trata
de um bêbado que refila, é mais difícil pensar que estamos frente a frente com Jesus
escondido nele. Como devem ser puras e amáveis as nossas mãos para manifestarem a
compaixão para com essas pessoas!
Ver Jesus na pessoa que está espiritualmente mais pobre exige um coração puro. Quanto mais
desfigurada estiver a imagem de Deus numa pessoa, tanto maiores devem ser a fé e a
veneração na nossa busca do rosto de Jesus e no nosso ministério de amor junto dela...
Façamo-lo com um sentimento de profundo reconhecimento e piedade. O amor e a alegria de
servir devem ser à medida do carácter repugnante da tarefa a realizar.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de Africa), doutor da Igreja
Sobre o Sermão do Senhor na montanha
"Conhecê-los-eis pelos frutos"
O apóstolo Paulo diz-nos os frutos pelos quais poderemos reconhecer a árvore má: «As obras
da carne estão à vista. São estas: fornicação, impureza, obscenidade, idolatria, feitiçaria,
inimizades, contenda, ciúme, fúrias, inveja, divisões, partidarismos, rivalidades, bebedeiras,
orgias e coisas semelhantes a estas. Sobre elas vos previno, como já preveni: os que
praticarem tais coisas não herdarão o Reino de Deus». Logo a seguir, o mesmo apóstolo
enuncia os frutos pelos quais se pode reconhecer a árvore boa: «amor, alegria, paz, paciência,
bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio» (Gl 5, 19-23).
Convém notar que a palavra «alegria» é aqui tomada no seu sentido próprio; as pessoas más,
em sentido próprio, ignoram a alegria, mas conhecem o prazer. O sentido próprio desta
palavra só o conhecem as pessoas boas: «Não existe alegria para os ímpios, diz o Senhor» (Is
48, 22). O mesmo se diga da fé verdadeira. As virtudes enumeradas podem ser dissimuladas
pelos maus e impostores, mas não enganam o olhar simples e puro capaz de discernimento.
Na enumeração dos frutos do Espírito, a palavra alegria é tomada no sentido mais forte; só os
justos podem experimentá-la, enquanto que aquela de que o ímpio goza não passa de uma
agitação do espírito.
Santa Teresa d’Ávila (1515-1582), carmelita descalça, doutora da Igreja
Castelo interior, 5ª moradas
«Pelos frutos os reconhecereis»
Como é fácil reconhecer aqueles que têm deveras o amor do próximo e os que não o têm com
esta perfeição! Se entendêsseis o que nos importa esta virtude, não faríeis outro estudo.
Quando vejo algumas pessoas muito diligentes em entender a oração que têm e muito
encapotadas quando estão nela (que parece não ousam bulir, nem menear o pensamento, para
que não se lhes vá um pouquito do gosto e devoção que tiveram), faz-me ver quão pouco
entendem do caminho por onde se alcança a união. E pensam que ali está todo o negócio.
Mas não… não; obras quer o Senhor. E se vês uma pessoa enferma a quem podes dar algum
alívio, não se te dê nada de perder essa devoção compadecendo-te dela; e se tem alguma dor,
te doa a ti também; e, se for necessário, jejua, para que ela coma. Não tanto por ela, mas
porque sabes que teu Senhor quer isso. Esta é a verdadeira união com Sua vontade.
Evangelho segundo S. Mateus 7,21.24-27.
«Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a
vontade de meu Pai que está no Céu. «Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe
em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva,
engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava
fundada sobre a rocha. Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em
prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva,
engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a
sua ruína.»
Origenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre S. Lucas
Fundado sobre o rochedo, Cristo
Quando enfrentais corajosamente as tentações, não é a tentação que vos torna fiéis e
constantes; ela apenas revela as virtudes de constância e coragem que já existiam em vós, mas
escondidas. «Pensas, diz o Senhor, que eu tinha outro objectivo, ao falar assim, para além de
tornar visível a tua justiça?» (Job 40,3 LXX) E diz noutro lugar: «Afligi-te e fiz-te sentir a
fome para manifestar aquilo que tinhas no coração» (Dt 8,3-5).
Da mesma maneira, a tempestade não torna sólido o edifício costruído sobre areia. Se queres
construir, que seja sobre pedra. Então, quando a tempestade se levantar, não derruba o que
estiver fundado sobre pedra; mas ao que vacila na areia ela mostra logo que as fundações não
valem nada. Por isso, antes que se levante a tempestade, que se soltem as rajadas de vento,
que transbordem as torrentes, enquanto tudo permanece ainda em silêncio, voltemos toda a
nossa atenção para as fundações do edifício, construamos a nossa casa com as pedras variadas
e sólidas dos Mandamentos de Deus. E quando se desencadear a perseguição e uma torrente
cruel se elevar contra os cristãos, poderemos mostrar que o nosso edifício está fundado sobre
a pedra, Jesus Cristo (1Cor 3,11).
S. Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja
Discurso 26; PG 35, 1238
Erigidos sobre a rocha
Certa noite, passeava eu à beira-mar; como diz a Escritura: «Soprando uma forte ventania, o
lago começou a agitar-se» (Jo 6,18). As ondas agitavam-se ao longe e galgavam a costa,
batendo nas rochas, desfazendo-se em espuma e gotículas. Pequenas pedras, algas e as
conchas mais pequenas eram arrastadas pelas águas e atiradas para a praia, mas as rochas ali
estavam, mantendo-se firmes e inabaláveis, como se tudo estivesse calmo, apesar dos açoites
que as fustigavam [...]
Tirei uma lição desse espectáculo. Não será esse mar a nossa vida e a própria condição
humana? Também nestas há muita amargura e instabilidade. E os ventos, não serão eles as
tentações que nos assaltam, e os golpes imprevistos da vida? Era isto, creio, aquilo em que
meditava David quando exclamou: «Salva-me, ó Deus, porque as águas quase me
submergem! [...] Entrei no abismo de águas sem fundo e a corrente está a arrastar-me» (Sl
68). Das pessoas que por tal prova passam, umas parecem objectos leves e sem vida que se
deixam levar sem opor a mínima resistência; nelas não há firmeza alguma; não têm o
contrapeso de uma razão sábia que lute contra as investidas. Outras parecem rochedos, dignas
do Rocha sobre a qual fomos erigidos e que adoramos; formadas pela razão da verdadeira
sabedoria, estas elevam-se acima da fraqueza comum e tudo suportam com uma constância
inabalável.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja
Sermões sobre S. João, nº 7
Construir na rocha
Será uma coisa surpreedente que o Senhor tenha mudado o nome de Simão, subtituindo-o por
Pedro? (Jo 1,24) «Pedro» significa «rocha»; o nome de Pedro é, pois, o símbolo da Igreja.
Quem está em segurança senão aquele que constrói sobre a rocha? E que diz o próprio
Senhor? «Todo o homem que escuta as minhas palavras e as põe em prática é comparável a
um homem avisado que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as torrentes,
sopraram os ventos e investiram contra essa casa e ela não desabou. É que estava assente
sobre a rocha...»
De que serve entrar na Igeja àquele que quer construir na areia? Esse escuta a palavra de
Deus, mas não a põe em prática; Ele constrói, mas na areia. Se não escutasse, não construiria;
Ele escuta, por isso contrói. Mas sobre que fundações? Se ouve a palavra de Deus e a põe em
prática, é sobre a rocha. Pode-se, pois, construir de dois modos muito diferentes... se te
contenta, ouvir sem pôr em prática, constróis uma ruina. Se, pelo contrário, não escutas, ficas
sem abrigo, e serás levado pelo torrente das tribulações... Tenham, pois a certeza, meus
irmãos: aquele que escuta a palavra sem agir em conformidade não costrói na rocha; não tem
nenhuma relação com o grande nome de Pedro ao qual o Senhor deu tanta importância.
Santo Afraate (?-c. 345), monge e bispo em Niínive, perto de Mossul, no actual Iraque
Exposições nº 1
«Porque ninguém pode pôr outro fundamento diferente do que foi posto, isto é, Jesus
Cristo» (1Co 3, 11)
Um rei não permanece numa casa que se encontra vazia de tudo. Um rei exige toda uma
ornamentação doméstica, por forma a que nada lhe falte. [...] O mesmo acontece ao homem
que se torna uma habitação para Cristo-Messias: provê a tudo quanto convém ao serviço do
Messias que nele habita, provê às coisas que Lhe agradam.
Com efeito, começa por construir o seu edifício sobre a rocha, que é o próprio Messias. Sobre
esta rocha faz assentar a fé, e é sobre a fé que se eleva todo o edifício. Para que a casa se torne
Sua morada, é-lhe exigido o puro jejum, estabelecido sobre a fé. É-lhe exigida a oração pura,
recebida na fé. É-lhe exigido o amor, montado sobre a fé. Tem igualmente necessidade de
esmolas, dadas com fé. Que peça a humildade, amada com fé. Que escolha para si a
virgindade, apreciada na fé. Que leve para sua casa a santidade, plantada sobre a fé. Que
medite igualmente na sabedoria, encontrada na fé. Que peça para si a condição de estrangeiro,
proveitosa na fé. Terá de ter simplicidade, combinada com a fé. Que peça igualmente
paciência, que é realizada por meio da fé. Que se torne perspicaz pela doçura, adquirida pela
fé. Que ame a penitência, que aparece à fé. Que peça ainda a pureza, guardada pela fé. [...] Eis
as obras exigidas pelo rei Messias, que habita nos homens que constroem por meio de tais
obras. Com efeito, a fé é composta por muitas coisas e adorna-se com muitas cores, porque é
semelhante a um edifício construído com diversos materiais, e o seu edifício eleva-se até aos
céus. [...]
O mesmo se passa com a nossa fé: o seu fundamento é a verdadeira rocha, Nosso Senhor
Jesus, o Messias. [...] Este fundamento é a base de todo o edifício. Se alguém acede à fé, está
firmado sobre a rocha, isto é, sobre Nosso Senhor Jesus, o Messias. E o seu edifício não será
abalado pelas torrentes, nem colocado em perigo pelos ventos, nem se abaterá nas
tempestades, porque o edifício foi construído sobre a rocha, que é o verdadeiro fundamento.
S. João da Cruz (1524-1591), carmelita, doutor da Igreja
Conselhos e Máximas (n° 307-319 in trad. Oeuvres spirituelles, Seuil 1947, p. 1226)
Escutar para pôr em prática
O Pai celeste disse uma única palavra: é o Seu Filho. Disse-a eternamente e num eterno
silêncio. É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir.
Falai pouco e não vos metais em assuntos sobre os quais não fostes interrogados.
Não vos queixeis de ninguém; não façais perguntas ou, se for absolutamente necessário, que
seja com poucas palavras.
Procurai não contradizer ninguém e não vos permitais uma palavra que não seja pura.
Quando falardes, que seja de modo a não ofender ninguém e não digais senão coisas que
possais dizer sem receio diante de toda a gente.
Tende sempre paz interior assim como uma atenção amorosa para com Deus e, quando for
necessário falar, que seja com a mesma calma e a mesma paz.
Guardai para vós o que Deus vos diz e lembrai-vos desta palavra da Escritura: "O meu
segredo é meu" (Is 24,16)...
Para avançar na virtude, é importante calar-se e agir, porque falando as pessoas distraem-se,
ao passo que, guardando o silêncio e trabalhando, as pessoas recolhem-se.
A partir do momento em que aprendemos com alguém o que é preciso para o avanço
espiritual, não é preciso pedir-lhe que diga mais nem que continue a falar, mas pôr mãos às
obras, com seriedade e em silêncio, com zelo e humildade, com caridade e desprezo de si
mesmo.
Antes de todas as coisas, é necessário e conveniente servir a Deus no silêncio das tendências
desordenadas, bem como da língua, a fim de só ouvir palavras de amor.
Santa Teresa-Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-patrona da
Europa
O presépio
"Não chega dizer-me: 'Senhor, Senhor'... mas é preciso fazer a vontade de meu Pai"
"Seja feita a tua vontade." Tomado em toda a sua plenitude, este acto de abandono deve ser a
regra da vida cristã. Deve reger o nosso dia, da manhã à noite, o curso do ano, a vida inteira.
Esta deve ser a única preocupação do cristão; todas as outras são entregues ao Senhor mas
essa será nossa até ao último dia. É um facto objectivo - nunca estamos definitivamente certos
de permanecer sempre nos caminhos do Senhor...
Na infância da vida espiritual, quando apenas começámos a deixar-nos conduzir por Deus,
sentimos forte e firme a sua mão que nos guia; vemos de forma evidente o que devemos fazer
e o que devemos abandonar. Mas não será sempre assim. Aquele que pertence a Cristo deve
viver toda a vida de Cristo. Deve amadurecer até atingir a idade adulta de Cristo e, um dia,
enveredar pelo caminho da cruz... Assim unido a Cristo, o cristão aguentar-se-á, mesmo na
noite escura... Por isso, mais uma vez, e precisamente no coração da noite mais escura, "seja
feita a tua vontade".
Evangelho segundo S. Mateus 7,21-29. – cf.par. Lc 6,47-49; 7,1
«Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a
vontade de meu Pai que está no Céu. Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não foi
em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que
fizemos muitos milagres?’ E, então, dir-lhes-ei: 'Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós
que praticais a iniquidade.’» «Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em
prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva,
engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava
fundada sobre a rocha. Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em
prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva,
engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a
sua ruína.» Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os
seus ensinamentos, porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os
doutores da Lei.
Filoxeno de Mabboug (? - cerca de 523), bispo na Síria
Homilia 1
"Acorda, tu que dormes" (Ef 5,14)
“Todo o homem que escuta o que Eu digo e o põe em prática é como o homem previdente que
constrói a sua casa sobre a rocha”. Por isso, é preciso, segundo o que diz o nosso Mestre, que
nos apliquemos não somente a escutar a Palavra de Deus, mas também a conformar a nossa
vida com essa mesma Palavra. Escutar a lei é uma boa regra, porque ela nos incita à prática
das virtudes. Nós temos razão para ler e meditar as Escrituras, pois é assim que nós
purificamos o fundo da nossa alma dos maus pensamentos.
Mas ler, escutar e meditar assiduamente a Palavra de Deus sem a pôr em prática é uma falta
que o Espírito de Deus já condenou antecipadamente. É mesmo interdito aos que se
encontram nestas disposições de pegar nos livros santos em suas mãos. Ao ímpio, Deus
declara: “que tens tu de recitar as minhas leis, guardar a minha aliança na boca, tu que não
amas as repreensões e rejeitas para longe as minhas palavras?” (Ps 49, 16-17). Aquele que lê
assiduamente as Escrituras sem as pôr em pratica, encontra a sua condenação na leitura; ganha
uma condenação tanto mais grave quanto ele despreza e desdenha em cada dia, o que ele
entende em cada dia. É como um morto, um cadáver sem alma. Milhares de trombetas podem
soar aos ouvidos dum morto que ele não ouvirá. Da mesma forma, a alma que está morta no
pecado, o coração que perdeu a lembrança de Deus, não entende o som nem os gritos da
Palavra divina e a trombeta das palavras espirituais não a impressiona; esta alma está
mergulhada no sono da morte.
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
O Caminho da Perfeição
"Não basta dizer 'Senhor, Senhor...'; é preciso fazer a vontade de meu Pai"
Parece muito fácil dizer que alguém entrega a sua vontade nas mãos de outro… Mas quando
chega a altura, compreende-se que nada é tão difícil como conformar-se a isso de uma forma
correcta. O Senhor sabe do que é capaz cada uma das Suas criaturas ; e, quando encontra uma
alma forte, não desiste até ter cumprido nela a Sua vontade.
Quero expor-vos ou recordar-vos qual é a Sua vontade. Não temais que Ele vos queira dar
riquezas, prazeres, honras, ou todos os outros bens da terra. Ama-vos demasiado para fazer tal
coisa e aprecia muito os vossos presentes: é por isso que quer recompensar-vos dignamente e
dar-vos o Seu reino, ainda nesta vida.
Vendo o que o Pai deu a Seu Filho, que amava acima de todas as coisas, percebeis qual é a
Sua vontade. Assim são os dons que Ele nos faz neste mundo. A medida deles é o Seu amor
por nós. Dá mais aos que ama mais e menos aos que ama menos. Regula-se também pela
coragem que descobre em cada um de nós e pelo amor que temos por Ele. Vê que som os
capazes de sofrer muito por Ele quando O amamos muito, mas de sofrer pouco quando O
amamos pouco ; e eu estou convencida de que a força para suportar uma grande ou uma
pequena cruz tem a mesma medida que o amor. Por isso, se este amor está em vós, tereis
cuidado, quando falardes a tão grande Senhor, para que as vossas palavras não sejam meros
cumprimentos... Se não abandonarmos completamente a nossa vontade nas mãos do Senhor,
para que Ele próprio tome conta dos nossos interesses, Ele nunca nos deixará beber na Sua
fonte de água vida.
Santa Teresa d’Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
Caminho de Perfeição, capítulo 32, in Obras Completas
“Não basta dizer “Senhor, Senhor…” é preciso fazer a vontade de Meu Pai”
Porque dizer que entregamos a nossa vontade a outrem parece muito fácil, até que, fazendo-se
a prova, se entende que é coisa mais custosa que se pode fazer, se se cumpre como se há-de
cumprir. O Senhor sabe o que pode sofrer cada um e, a quem vê com forças, não se detém em
cumprir nele a Sua Vontade.
Quero-vos, pois, dizer e recordar qual é a Sua vontade. Não tenhais medo que seja dar-vos
riquezas, nem deleites, nem honras, nem todas estas coisas de cá de terra. Não vos quer tão
pouco, e tem em muito o que lhe dais, e vo-lo quer pagar bem, pois ainda em vossa vida vos
dá o Seu reino.
Pois, vedes aqui, filhas, o que deu Àquele a quem mais amava, por onde se entende qual é a
Sua vontade. Assim dão estes os Seus dons neste mundo. Dá conforme ao amor que nos tem:
aos que mais ama, dá mais destes dons; àqueles que menos ama, dá menos, e conforme ao
ânimo que vê em cada um e o amor que têm a Sua Majestade. A quem O amar muito, verá
que pode padecer muito por Ele: ao que O amar pouco , pouco. Tenho para mim que a medida
de se poder levar cruz grande ou pequena, é a do amor. Assim, irmãs, se o tendes, procurai
que não sejam palavras de mero cumprimento.
Vida de S. Francisco de Assis, dita “de Pérouse” (século XIV)
§ 102
O homem previdente constrói a sua casa sobre a rocha
Desde o início da sua conversão que o bem-aventurado Francisco, sensato como era, quis
estabelecer solidamente, com a ajuda do Senhor, quer a si próprio, quer à sua casa, isto é, a
sua Ordem dos Frades Menores, sobre rocha sólida, a saber, sobre a grande humildade e a
grande pobreza do Filho de Deus.
Sobre uma profunda humildade: foi por isso que, desde o princípio, quando os irmãos
começaram a multiplicar-se, lhes prescreveu que permanecessem nos hospícios para servir os
leprosos. Assim, era comunicado a todos os postulantes, fossem nobres ou gente simples, que
teriam de servir os leprosos e residir nos respectivos hospitais.
Sobre uma grande pobreza: com efeito, diz na sua Regra que os irmãos devem habitar as suas
casas “como estrangeiros e peregrinos, e que nada devem desejar debaixo do céu”, a não ser a
santa pobreza, graças à qual o Senhor os alimentará neste mundo com alimentos corporais e
com virtudes, o que lhes valerá, na vida futura, a herança do céu.
Para si mesmo, escolheu Francisco este fundamento de uma humildade perfeita e de uma
pobreza perfeita; embora tenha sido uma personagem importante na Igreja de Deus, quis, por
livre decisão, ser colocado no último lugar, não somente na Igreja, mas também entre os seus
irmãos.
Pregador do Papa: Palavra de Deus, rocha eterna
Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do próximo domingo
ROMA, sexta-feira, 30 de maio de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, OFM Cap. – pregador da Casa Pontifícia – sobre a Liturgia da Palavra
do próximo domingo.
***
IX Domingo do Tempo Comum
Deuteronômio 11, 18.26-28; Romanos 3, 21-25a. 28; Mateus 7, 21-27
A casa na rocha
Todos sabiam, no tempo de Jesus, que é imprudente construir a casa sobre a areia, no fundo
dos vales, ao invés de fazê-lo no alto da rocha. Depois de cada chuva abundante se forma,
com efeito, quase de imediato, uma torrente que varre as casas que encontra à sua passagem.
Jesus se baseia nesta observação, que provavelmente havia feito em pessoa, para construir a
partir dela a parábola deste domingo sobre as duas casas, que é como uma dupla parábola.
«Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como um homem sensato,
que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram
contra a casa, mas a casa não desabou, porque estava construída sobre a rocha.»
Com simetria perfeita, variando só pouquíssimas palavras, Jesus apresenta a mesma cena na
negativa: «Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é como
um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as
enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e ela desabou, e grande foi a sua ruína».
Construir a própria casa sobre areia quer dizer voltar a pôr as próprias esperanças e certezas
em coisas instáveis e aleatórias que não se subtraem ao tempo e à sorte. Tais são: o dinheiro, o
êxito, a própria saúde. A experiência coloca isso diante dos nossos olhos cada dia: é muito
pouco o que basta – um pequeno coágulo no sangue, dizia o filósofo Pascal – para que tudo se
derrube.
Construir a casa sobre a rocha quer dizer, ao contrário, fundar a própria vida e as próprias
esperanças naquilo que «os ladrões não podem roubar nem a traça desfazer», sobre o que não
passa. «Os céus e a terra passarão – dizia Jesus –, mas minhas palavras não passarão».
Construir a casa na rocha significa, muito simplesmente, construir em Deus. Ele é a rocha.
Rocha é um dos símbolos preferidos da Bíblia para falar de Deus: «Nosso Deus é uma rocha
eterna» (Is 26, 4); «Ele é a rocha, perfeita é sua obra» (Dt 32, 4).
A casa construída sobre a rocha já existe; trata-se de entrar nela! É a Igreja. Não,
evidentemente, a que está feita à base de tijolos, mas a formada pelas «pedras vivas» que são
os crentes, edificados na «pedra angular» que é Cristo Jesus. A casa na rocha é aquela da qual
Jesus falava quando dizia a Simão: «Tu és Pedro e sobre esta pedra (literalmente ‘rocha’)»
edificarei a minha Igreja (Mt 16, 18).
Fundar a própria vida sobre a rocha significa, portanto, viver na Igreja; não ficar fora só
apontando o dedo contra as incoerências e os defeitos dos homens de Igreja. Do dilúvio
universal se salvaram só poucas almas, as que haviam entrado com Noé na arca; do dilúvio do
tempo, que tudo engole, só se salvam os que entram na arca nova que é a Igreja (cf. 1 P 3, 20).
Isso não quer dizer que todos os que estão fora dela não se salvam; existe uma pertença à
Igreja de outro tipo, «conhecida só a Deus», diz o Concílio Vaticano II com relação a quem,
sem conhecer a Cristo, atua segundo os ditados da própria consciência.
O tema da palavra de Deus, que está no centro das leituras deste domingo e sobre o que se
celebrará em outubro o próximo Sínodo me sugere uma aplicação prática. Deus se serviu da
palavra para comunicar-nos a vida e revelar-nos a verdade. Os seres humanos usam com
freqüência a palavra para dar morte e esconder a verdade! Na introdução a seu
famoso Dizionario delle opere e dei personaggi, Valentino Bompiani relata o seguinte
episódio. Em julho de 1938 aconteceu em Berlim o congresso internacional dos editores, do
qual ele também participou. A guerra se palpava já no ar e o governo nazista se mostrava
mestre na manipulação das palavras com fins de propaganda. No penúltimo dia, Goebbels,
que era ministro de Propaganda do Terceiro Reich, convidou os congressistas à sala do
Parlamento. Pediu-se aos delegados dos distintos países uma palavra de saudação. Quando
chegou a vez de um editor sueco, este subiu ao estrado e com voz grave pronunciou estas
palavras: «Senhor Deus, devo pronunciar um discurso em alemão. Careço de vocabulário e de
gramática, e sou um pobre homem perdido no gênero dos homens. Não sei se a amizade é
feminino ou se o ódio é masculino, ou se o horror, a lealdade e a paz são neutros. Assim que,
Senhor Deus, recobra as palavras e deixa-nos nossa humanidade. Talvez consigamos
compreender-nos e salvar-nos». Estourou um aplauso, enquanto Goebbels, que havia captado
a alusão, saía furioso da sala.
Um imperador chinês, interrogado sobre o que era o mais urgente para melhorar o mundo,
respondeu sem duvidar: reformar as palavras! Queria dizer: devolver às palavras seu
verdadeiro significado. Tinha razão. Há palavras que, pouco a pouco, foram esvaziadas
completamente de seu significado original e cumuladas de um significado diametralmente
oposto. Seu uso não pode mais que resultar prejudicial. É como pôr em uma garrafa de
arsênico a etiqueta «digestivo efervescente»: alguém se envenenará. Os Estados se dotaram de
leis severíssimas contra os falsificadores de moedas, mas de nenhuma contra a falsificação
das palavras. A nenhuma palavra ocorreu o mesmo que à pobre palavra «amor». Um homem
abusa de uma mulher e se justifica dizendo que o fez por amor. A expressão «fazer por amor»
freqüentemente representa o ato mais vulgar de egoísmo, no qual cada um pensa em sua
satisfação, ignorando totalmente o outro e reduzindo-o a simples objeto.
A reflexão sobre a palavra de Deus nos pode ajudar, como se vê, também a reformar e
resgatar do vazio a palavra dos homens.
[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri]
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