CDB0282 – Formas, Estados e Processos da Cultura na Atualidade Aluno: Arthur Martinez Pires Nº USP: 7628416 Professor: Martin Grossmann Relato Crítico #1 Visto em sala no dia 12/03/2015, o filme Her, de Spike Jonze, retrata a experiência de um homem (Theodore) recém separado que adquire um sistema operacional capaz de interagir de forma supostamente humana com o usuário. A relação entre os dois (protagonista e sistema operacional) se desenvolve a ponto de Theodore sentir-se envolvido amorosamente com o programa, chegando até a sentir ciúmes do aparelho. No fim, os sistemas operacionais passam a interagir e também a desenvolver relações “pessoais” entre si, e acabam optando por se separar do contato com humanos. Para uma análise do filme, é necessário primeiro uma abordagem mais técnica sobre as diferentes classificações de sistemas computadorizados, para melhor compreender a complexidade do programa apresentado no filme. Hardware é o conjunto de equipamentos e peças físicas de um computador, seja ele usado para processamento ou na interface com o usuário. Processador é um hardware composto por um circuito de cálculo e decisão. Software é um conjunto de informações definido em uma linguagem própria para leitura do hardware, que define os cálculos a serem realizados pelo processador. Por fim, um sistema operacional é o software responsável pelo controle da interface entre os demais softwares e o hardware, e da priorização dos cálculos a serem efetuados. O filme passa-se em um período futuro adjacente ao atual, e muito do cotidiano, das tecnologias e da forma de vida se assemelham às correntes. A maior diferença está na existência dos referidos sistemas operacionais capazes de reagir como seres humanos. O contexto é pós modernista e representa uma face do período no qual o produto em si deixa de ser o centro das criações para dar lugar ao usuário. A grande diferença do sistema operacional apresentado no filme está na solução de uma necessidade básica do ser humano que até então não era sanada senão por outro ser humano: o afeto. Junto com o filme, foi apresentado em aula um vídeo de animação com uma recriação da Torre de Babel com um ser humano no topo, que se pergunta qual o próximo passo a ser tomado no caminho da evolução. A trilha sonora foi de “Also sprach Zarathustra”, música de introdução do filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço” que foi inspirado em um livro de Nietzsche. Neste livro, existe uma corrente filosófica que entende o homem como a transição entre animais e o “superhomem”, um indivíduo que atingiu plenos poderes. Essas ideias se cruzam com o filme no sentido de identificar a existência de máquinas capazes de entender e reproduzir o comportamento do ser humano como mais uma forma de evolução da espécie. Por fim, é necessário compreender a diferença entre a reprodução de um comportamento e a genuína composição de uma figura humana. É fato que um computador pode, através de algoritmos exatos ou heurísticos, aprender com eventos passados e modificar novas saídas sem necessidade de reprogramação do software previamente instalado. Argumenta-se também que seres humanos, por mais complexa que suas decisões possam parecer, estão limitados a seu material genético, o precursor de toda e qualquer forma de adaptação comportamental. Mas existe uma linha que gera distinção entre os comportamentos de seres humanos e o de máquinas como hoje as conhecemos, a ideia expressa por Descartes como “Penso, logo existo”. Essa frase revela que o homem não só é capaz de alterar seu comportamento de forma racional e interpretativa, como também tem consciência da própria existência. 1 CDB0282 – Formas, Estados e Processos da Cultura na Atualidade Aluno: Arthur Martinez Pires Nº USP: 7628416 Professor: Martin Grossmann Boa parte do comportamento dos sistemas operacionais apresentados no filme podem ser interpretados como um mero algoritmo capaz de interpretar os signos (significados) do ambiente no qual está inserido, executar a decisão correta segundo a análise computacional e registrar os eventos para consulta e adaptação futura. Mas o fato de esses programas questionarem a própria existência e buscarem um futuro coletivo revela características humanas e de um corpo coletivo social. Outra interpretação a ser dada para opção dos sistemas operacionais pela separação dos humanos consiste no fato de esses softwares serem programados exclusivamente para a criação e manutenção de relacionamentos, enquanto que diversos outros interesses permeiam a vida de seres humanos. 2