Valeska Mariano de Castro1 Frederico Jorge Ferreira Costa2

Propaganda
Valeska Mariano de Castro1
Frederico Jorge Ferreira Costa2
Resumo
Esta pesquisa tem o intuito de esclarecer as contribuições de Max Weber e seus estudos
para o desenvolvimento da sociologia do século XX. Nesse sentido sustentamos nossa
discussão através das leituras das obras de Weber: Economia e Sociedade (1999), Ética
protestante e o espírito do capitalismo (2004) e Ciência como vocação (2004). Tentamos
compreender o pensamento sociológico deste autor, utilizando o recurso metodológico da
leitura imanente e,dentro da ótica da crítica ao capital. Nossa fundamentação esta balizada
na obra de Karl Marx, que por meio do materialismo histórico-dialético estabeleceu uma
ontologia do ser social.
Palavras-chaves: sociologia; materialismo histórico-dialético; Marx
Max Weber detinha uma reação conservadora às revoluções proletárias que
foram ecos de ação do pensamento socialista, após 1870-71, sendo intensificados com a I
Guerra Mundial (1914-1918), Revolução Russa (1917), e ao surgimento da teoria social
marxiana. De fato, há no autor, certa apologia à democracia liberal burguesa, dando
continuidade ao projeto da Alemanha imperialista que insiste ao nascimento da fase
monopolista do capital. Neste sentido, ele estuda a relação de dependência entre as formas
econômicas e as religiões, recusando o materialismo histórico, que entendemos como:
(...) construto de uma ciência do proletariado, classe social emprenhada na
superação da sociedade de classes e instauração da sociedade socialista; que as
concepções do pluralismo ou ecletismo metodológico representam apenas uma
variação ou uma das expressões das perspectivas metafísicas. (FRIGOTTO,
1994, p. 84-85)
Weber tratava a sociologia como ciência geral do espírito através da
interpretação idealista e espiritualista da história. Em seu livro Economia e Sociedade o
autor, apagou do seu pensamento o irracionalismo clássico e julgou necessário a expansão
do capitalismo imperialista: “a reanimação universal do capitalismo imperialista, que desde
sempre constitui a forma normal que a política reage aos interesses capitalistas, e junto
com ele a forte tendência à expansão política”. (1999, p.70). Desde sempre, a normalidade
das relações entre política e economia capitalista é o imperialismo e, assim é fácil concluir
que “para o futuro previsível cabe prognosticar-lhe um desenvolvimento favorável”
(WEBER, idem, p.170).
1
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade de Fortaleza- UNIFOR (1998), Especialista em
Administração pela Universidade Estadual Vale do Acaraú- Ce (2007). Mestranda do Programa de Pós
Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará- (PPGE/UECE), Membro do Instituto de
Estudos e Pesquisas do Movimento Operário (IMO/UECE). Atualmente é professora da Educação Básica da
Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE), professora assistente da Faculdade Ateneu
(FATE/CE) e professora colaboradora do Instituto de Formação Teológica- FACEDI e Instituto de Educação
Teológica Metropolitano- INTEM. E-mail: [email protected]
2
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (1996), Mestre em Educação Brasileira pela
Universidade Federal do Ceará (2000) e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (2007).
Atualmente é professor adjunto da Faculdade de Educação de Itapipoca da Universidade Estadual do CearáFACEDI/UECE, professor do Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Estadual do
Ceará-PPGE/UECE, professor do Mestrado Acadêmico em Serviço Social, Trabalho e Questão Social da
Universidade Estadual do Ceará-MASS/ UECE. E-mail:[email protected]
Segundo Carli, para Weber, não é necessário reviver a ação estudada; basta lhe
imputar uma conexão de causa e efeito que seja coerente em si mesma e que, enquanto
construto lógico, dê sentido ao agir do ator social. (CARLI, 2013. p. 82)
O mesmo autor explica que o problema essencial da sociologia alemã no
imperialismo pré-guerra seria encontrar uma teoria acerca da gênese e da essência do
capitalismo e através de uma concepção teórica própria, pudesse “superar” o materialismo
histórico. Assim, a concepção de Weber era a mais aceita para aquele momento exercendo
maior influência. Ele se esforça para entender a natureza especifica do capitalismo
moderno e relacionar o seu nascimento na Europa, com a diferença da evolução éticoreligiosa no Oriente e Ocidente.
Neste sentido, a essência do capitalismo é deseconomizada e espiritualizada,
apresentada por ele em seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo (2004),
onde não deixa de conferir ao protestantismo a causa primária do capitalismo moderno.
Como diz, o autor:
Os profetas de confissão protestante romperam com as normas sagradas de
tradição. As profecias cabem o mérito de haver rompido o encanto mágico do
mundo, criando o fundamento para a nossa ciência moderna, para a técnica e, por
fim, para o capitalismo. (WEBER, 2004. p.76)
O pensamento da sociologia weberiana alemã apregoa que para o entendimento
da essência do capitalismo não se faz necessário o enfrentamento dos problemas
econômicos, ou seja, prevalece à separação entre trabalhadores e meios de produção. Os
ideólogos burgueses weberianos tinham o interesse de instalar uma nova economia vulgar
subjetivista, onde não podia conhecer e entender a economia marxista. Como já citava
Marx, as relações sociais estão intimamente ligadas às relações de produção. Nas palavras
do autor de O Capital,
As relações sociais em que os indivíduos produzem, mudam, transforma-se,
quando não se modificam e desenvolvem os meios matérias e as força
produtivas. No seu conjunto, as relações de produção foram aquilo a que se
chamam as relações, a sociedade, e em especial uma sociedade com determinado
grau de desenvolvimento histórico, uma sociedade burguês, são exemplos de
conjuntos de relações de produção, em que cada um deles caracteriza ao mesmo
tempo uma etapa especifica de desenvolvimento na história da humanidade
(MARX, 2013, p. 28)
Segundo Weber, as relações sociais devem fugir das decisões individuais
pondo-se a favor das circunstâncias postas. Ou seja, suas teorias estão interligadas por um
determinismo incondicional da estagnação da dominação e da liberdade burguesa como
cita Hegel a liberdade dos bourgeois. Como Weber expõe na obra Economia e sociedade:
Atualmente a ordem econômica capitalista é um imenso cosmos em que o
individuo já nasce dentro (...) e que para ele, ao menos enquanto individuo, se dá
como um fato, uma crosta que ele pode alterar e dentro da qual tem que viver.
Esse cosmos impõe ao individuo, preso nas redes de mercado, as normas de ação
econômica. (WEBER, 2004, p. 47,48)
Por fim, Weber emprega uma sociologia compreensiva, que atribui o máximo
de racionalidade à conduta social construindo assim um conceito de tipo-ideal que é
aprofundado na obra Ciência como Vocação. Este tipo-ideal não condiz com a
efetividade do real mais serve de compreensão sociológica de certos comportamentos
sociais, ou seja, é uma exacerbação dos traços da realidade efetiva que serve apenas como
parâmetro de análise compreensiva da ação social. Conforme o autor,
Qual é, em face disso, a significação desses conceitos de tipo ideal para uma
ciência empírica, tal como nós pretendemos praticá-la? Queremos sublinhar
desde logo a necessidade de que os quadros de pensamento que aqui tratamos,
“ideais” em sentido puramente lógico, sejam rigorosamente separados da noção
do dever ser, do “exemplar”. Trata-se da construção de relações que parecem
suficientemente motivadas para a nossa imaginação e, consequentemente,
objetivamente possíveis, e que parecem adequadas ao nosso saber
nomológico.(WEBER, 2004, p. 107).
Vemos claramente, a negativa relação de Weber para com a sociologia
emancipatória e a favor da burguesia, onde as obras citadas ao longo do texto mostram a
sua recusa ao apresentar a sociologia, como um saber social singularizado quando tem a
pretensão de estuda - lá como um objeto específico autônomo.
As obras weberianas apresentadas estão vocacionadas para a não possibilidade
do agente humano, intervir no processo sócio-histórico fomentando uma práxis cuja
teleologia não seja elevada ao nível de consciência. Contudo, a ciência social reencontra
sua real existência em Lukács, com o princípio ontológico, onde tendemos a interpreta-lá
para além de distinções determinadas por uma divisão do trabalho intelectual deformadora
e alienante, onde sua “matrização originária, de gnose unitária da história, viabiliza um alto
conhecimento humano, e se instrumentaliza como componente fundamental na práxis onde
o homem se instaura como autor de sua livre sociabilidade” (NETTO, 1981, p. 23)
Referências
CARLI, Ranieri. György Lukács e as raízes históricas da sociologia em Max Weber.
Rio de Janeiro, Lumes Juris, 2013.
MARX, Karl. O capital. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.
NETTO, José Paulo. Capitalismo e Reificação. São Paulo: Ciências Humanas, 1981.
WEBER, Max. Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva.
Vol. 1. Brasília: EdUNB, 1999
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Cortez, 2004
WEBER, Max. Ciência como vocação. Martins Fontes, 2004.
Download